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A DOGMÁTICA JURÍDICA Inicialmente, convém destacar, que a dogmática jurídica é o estudo das normas enquanto produtos de um processo legislativo ou interpretativo que resulta em verdades imutáveis para a construção de determinada tese jurídica. Nesse sentido, a dogmática e zetética, são as principais ferramenta do jurista na sua práxis encontra-se na construção de retóricas. Essa construção lógica pode ser baseada em premissas pré-constituídas e estanques, dadas pelos dogmas jurídicos, ou por uma construção dialética entre normas, princípios e tópicos estabelecidos pelo diálogo filosófico-científico. Nesse viés, pontua Ferraz Junior (1997, p. 88): As questões discursivas podem ser classificadas conforme a sua complexidade numérica, o grau de reflexividade e a complexidade qualitativa. Deixemos de lado a complexidade numérica e concentremo-nos nos dois outros critérios. Quanto à qualidade, em se tratando de um discurso dialógico, o discurso judicial, como já salientamos, tem por questão um dubium. Sendo, além disso, uma discussão-contra, esse dubium é também conflitivo. Quanto ao grau de reflexividade, as questões dialógicas são, em regra, infinitas (abertas, genéricas e abstratas), tendo a sua manifestação como problema, dilema e aporia. C02_Dogmatica_juridica.indd 1 27/03/2018 14:07:15 Dadas, entretanto, certas peculiaridades do discurso judicial, a reflexividade toma contornos especiais. Essas peculiaridades referem-se ao caráter normativo e interpretativo do discurso. A construção do dubium jurídico em relação a uma norma confere à discussão-contra judicial o caráter normativo. Mas a sua reflexividade nos permite distinguir, aí, dois momentos que estão, porém, intimamente ligados. No primeiro momento, podemos dizer que a norma decide conflitos. Mas a possibilidade de instaurar, reflexivamente, o dubium dentro da própria norma nos autoriza a vê-la, ela mesma, num segundo momento como um novo dubium que se constitui como tal em relação à outra norma. A zetética, portanto, ocorre quando o discurso jurídico depende de maior reflexão sobre opiniões externas à normativa, pondo em dúvida a solução tradicional e buscando uma solução a partir da dialética científica entre diversas fontes do Direito, como a doutrina, a jurisprudência e mesmo outros ramos da ciência. A dogmática, por outro lado, atém-se às possibilidades dadas por soluções normativas postas, tais como se encontram. No tocante a dogmática, A dogmática, por sua vez, compõe o caminho de entrada da discussão jurídica. Eis que as normas que são precursoras ao dubium jurídico são dogmas em sua origem; à sua vez, o dubium quanto à validade, existência e eficácia da norma, gera questões zetéticas que, por sua vez, criam produtos normativos ou dogmáticos para encerrar o ciclo de arguição de determinada causa. Em resumo, a dogmática é o ramo do discurso jurídico que é centrado em questões postas sem discutir a sua adequação aos fatos, mas a adequação dos fatos às predições normativas. Já a zetética é o ramo do discurso que se propõe a uma análise de verificação da adequação da própria norma aos fatos propostos, sendo o seu produto uma nova criação dogmática, enquanto objeto da própria ciência jurídica, “a norma”. A hermenêutica como problema zetético enquanto a hermenêutica é um ramo filosófico das ciências responsável pelo desenvolvimento dos métodos de aplicação das suas diferentes regras. No âmbito do Direito, a hermenêutica jurídica é responsável pelo desenvolvimento dos métodos pela Doutrina e a sua utilização pela práxis jurídica, representada pelos diferentes juristas de acordo com as suas posições dentro dos conflitos por eles administrados. Assim, o jurista, ao tratar do seu objeto de estudo, as normas, pode interpretá-las na sua literalidade, inserindo-se no campo da dogmática. No entanto, como visto, o aspecto semasiológico, que trata da semântica do vocábulo normativo e da sua aplicação no caso a partir do seu sentido técnico, correspondendo ou não ao sentido vulgar do vocábulo, depende de interpretação. Isso leva o jurista a uma discussão sobre o sentido da norma, e, portanto, resolvendo um dubium interno ao sistema jurídico pelos métodos interpretativos hermenêuticos. É a partir da abertura semântica da norma que é permitida essa infinidade de questionamentos, pela qual o jurista deve delimitar, segundo métodos inerentes à sua ciência, mesmo que se servindo de fontes de outras ciências, o sentido da norma no caso concreto em que ela deve ser aplicada. MÉTODOS E TIPOS DE DOGMÁTICOS DE INTERPRETAÇÃO: A hermenêutica é o ramo da ciência responsável pelo desenvolvimento da interpretação de conceitos. Esses conceitos, por sua vez, são interpretados no campo da investigação zetética a partir de métodos de dialética, entre diferentes conceitos e opiniões, para, no campo jurídico, formar um dever–ser dogmático. Essa chamada dogmática hermenêutica se serve de métodos e tipos de interpretação. Os primeiros são classificados por Ferraz Junior (2003) pela sua amplitude e ferramentais, como: • Interpretação gramatical, lógica e sistemática; • Interpretação histórica, sociológica e evolutiva; • Interpretação teleológica e axiológica. • Já os tipos de interpretação se referem ao grau de liberdade da dogmática hermenêutica, sendo eles: a interpretação especificadora; • A interpretação restritiva; • A interpretação extensiva; De suma relevância, igualmente citar as interpretações teleológica a axiológica, portanto, buscam na previsibilidade das consequências em um legislador histórico quanto à norma para que a finalidade hipotética ou clara da norma expressa ou implícita no sistema normativo possa qualificar a sua interpretação em um sentido coeso, diferenciando-se da interpretação sistemática pela possibilidade de verificação da finalidade da norma em relação ao caso concreto (considerando que a primeira é restrita ao conjunto de normas enquanto um sistema fechado em si mesmo. No tocante aos tipos de interpretação, o autor apresenta três conceitos: *a interpretação especificadora; *a interpretação restritiva; * a interpretação extensiva. Quanto à interpretação especificadora, Ferraz Junior (2003, p. 294) explica que: Uma interpretação especificadora parte do pressuposto de que o sentido da norma cabe na letra de seu enunciado. Tendo em vista a criação de condições para que os conflitos sejam definíveis com um mínimo de perturbação social (questão da decidibilidade), a hermenêutica vê-se pragmaticamente dominada por um princípio de economia de pensamento. Postula, assim, que para elucidar o conteúdo da norma, não é necessário sempre ir até o fim das suas possibilidades significativas, mas até o ponto em que os problemas pareçam razoavelmente decidíveis. Era esse, provavelmente, o propósito de um famoso aforismo jurídico, hoje menos citado, segundo o qual “in clariscessatinterpretatio”. A norma, nesse tipo interpretativo, é suficiente nela mesma, isso quando ela é suficientemente clara para extrair o seu sentido, estando em sua literalidade todos os elementos necessários para se extrair a solução do problema. É o caso, por exemplo, dos tipos penais, nos quais a restrição do sistema à interpretação os leva a uma clareza maior do que em outros ramos do Direito. Por exemplo, o art. 121 do Código Penal (BRASIL, 1940): “Matar alguém — Pena: reclusão, de seis a 20 anos”. A Lei é clara sobre quem pode ser recluso de seis a 20 anos, não sendo necessários outros métodos interpretativos ou, como resgata o autor. (FERRAZ JUNIOR, 2003, p. 294). A interpretação restritiva, no mesmo sentido, porém por diferentes motivos: [...] ocorre toda vez que se limita o sentido da norma, não obstante aamplitude da sua expressão literal. Em geral, o intérprete vale-se de considerações teleológicas e axiológicas para fundar o raciocínio. Supõe, assim, que a mera interpretação especificadora não atinge os objetivos da norma, pois lhe confere uma amplitude No primeiro caso, o telos protegido é postulado como de tal importância para a ordem jurídica na sua totalidade que, se limitado por lei, esta deve conter, em seu espírito (mens legis), antes o objetivo de assegurar o bem-estar geral sem nunca ferir o direito fundamental que a Constituição agasalha. No segundo, argumenta-se que uma exceção é, por si, uma restrição que só deve valer para os casos excepcionais. Ir além é contrariar a sua natureza (FERRAZ JUNIOR, 2003, p. 296). Essa restrição normalmente se dá no âmbito do Direito Público, Administrativo ou Penal, a fim de restringir a própria ação do Estado em relação aos seus súditos. No entanto, é pouco verificada no âmbito Civil, no qual as partes normalmente devem criar seu próprio direito. Por fim, temos a interpretação extensiva, que é capaz de alargar os efeitos de determinada norma para irradiar seu conteúdo em outros sistemas normativos, pois [...] trata-se de um modo de interpretação que amplia o sentido da norma para além do contido em sua letra. Isso significa que o intérprete toma a mensagem codificada num código forte e a decodifica conforme um código fraco. Argumenta-se, não obstante, que desse modo estará respeitada a ratio legis, pois o legislador (obviamente, o legislador racional) não poderia deixar de prever casos que, aparentemente, por uma interpretação meramente especificadora, não seriam alcançados. Assim, se a mensagem normativa contém denotações e conotações limitadas, o trabalho do intérprete será o de torná-las vagas e ambíguas (ou mais vagas e ambíguas do que são em geral, em face da imprecisão da língua natural de que se vale o legislador) (FERRAZ JUNIOR, 2003, p. 297). Um exemplo moderno de interpretação extensiva é frequentemente observado na aplicação do Código de Defesa do Consumidor (CDC) em relações civis, por ele ser considerado um “microssistema” de proteção de direitos coletivos, como é o caso do Direito Ambiental, Direitos das Minorias e Classes a partir da objetivação da responsabilidade civil, inversão do ônus probatório e outras especificidades da norma, alargadas a casos análogos à proteção do consumidor. Os diferentes métodos e tipos de interpretação da dogmática hermenêutica possuem formas distintas de compreender o sistema normativo, que devem ser utilizadas de acordo com as especificidades do sistema jurídico em questão (público ou privado, forte ou fraco) e de acordo com a estratégia do jurista perante a tese construída. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto-lei nº. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Brasília, DF, 1940. Disponível em: Acesso em: 13 mar. 2018. FERRAZ JUNIOR, T. S. Direito, retórica e comunicação: subsídios para uma pragmática do discurso jurídico. 2. Ed. São Paulo: Saraiva 1997. ______________, T. S. Introdução ao estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. 4. Ed. São Paulo: Atlas, 2003. KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
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