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Hermenêutica Jurídica e Interpretação

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HERMENÊUTICA JURÍDICA E INTERPRETAÇÃO
Hermenêutica é um vocábulo derivado do grego hermeneuein, comumente tida como filosofia da interpretação. Muitos autores associam o termo a Hermes, o deus grego mensageiro, que trazia notícias. Hermes seria o deus, na mitologia grega, capaz de transformar tudo o que a mente humana não compreendesse a fim de que o significado das coisas pudesse ser alcançado. Hermes seria um "deus intérprete", na medida em que era a entidade sobrenatural dotada de capacidade de traduzir, decifrar o incompreensível.
O termo hermenêutica ingressou na teologia protestante substituindo a expressão latina ars interpretandi (= a arte da interpretação). Como doutrina da arte da interpretação, a hermenêutica se relacionava, na Antigüidade grega, à gramática, à retórica e à dialética e sobretudo com o método alegórico, para permitir a conciliação da tradição (os mitos) com a consciência filosoficamente esclarecida. Mais tarde, a arte da interpretação foi assumida por teólogos judeus, cristãos e islâmicos, além de ser aplicada a interpretação do Corpus iuris canonici na tradição da jurisprudência (1). Isso mostra que a hermenêutica, já entendida como a arte da interpretação, se tornava presente cada vez que a tradição entrava em crise, sobretudo na época da Reforma Protestante.
A hermenêutica é um dos temas polêmicos da filosofia contemporânea, uma vez que tradicionalmente a filosofia se ocupa com a descoberta das essências, entendendo-se aqui essência como verdade, como aquilo que pode ser cognoscível. Hans-Georg Gadamer, em sua obra Verdade e Método, assevera que a hermenêutica não é um método para se chegar à verdade e que o problema hermenêutico não é, por sua vez, um problema de método. Segundo Gadamer a hermenêutica não seria uma metodologia das ciências humanas, mas uma tentativa de compreender as ciências humanas. Em Verdade e Método Gadamer afirma que a compreensão das coisas e a correta interpretação não se restringe à ciência, mas à experiência humana, principalmente no que se refere ao fenômeno da linguagem como experiência humana de mundo. Assim, no que se refere à hermenêutica jurídica, Gadamer procurou descobrir a diferença entre o comportamento do historiador jurídico e do jurista diante de um texto. Seu interesse estava em saber se a diferença entre o interesse dogmático e o interesse histórico se constituía numa diferença unívoca. Conclui que há uma diferença:
"O jurista toma o sentido da lei a partir de e em virtude de um determinado caso dado. O historiador jurídico, pelo contrário, não tem nenhum caso de que partir, mas procura determinar o sentido da lei na medida em que coloca construtivamente a totalidade do âmbito de aplicação da lei diante dos olhos. Somente no conjunto dessas aplicações torna-se concreto o sentido de uma lei.(2).
Para o jurista, segundo Gadamer, a compreensão histórica é um meio para se chegar a um fim. Se o historiador do direito tem que enfrentar culturas jurídicas passadas no seu trabalho de interpretação da lei (sem ter diante de si nenhuma tarefa jurídica, pretendendo apenas averiguar o significado histórico da lei), o juiz, por sua vez, tem que adequar a lei transmitida às necessidades do presente, pois trata-se a aplicação da lei uma tarefa prática. Isso não significa que o juiz em nenhum momento não tenha que assumir a posição de historiador. Pelo contrário, ao interpretar a lei, para concretizá-la, o juiz tem que fazer uma tradução necessária da lei, mesmo que essa tradução seja nos moldes de uma mediação com o presente. Tanto no caso da hermenêutica teológica como na jurídica uma condição que torna possível a compreensão seria, segundo Gadamer, a pertença à tradição. "A pertença do intérprete ao seu texto é como a do ponto de vista na perspectiva que se dá num quadro" (3). Isso significa que para que seja possível uma hermenêutica jurídica os membros de uma comunidade jurídica têm que estar todos vinculados igualmente a essa comunidade. Poder-se-ia afirmar que o mesmo ocorre quando se espera que os membros de uma comunidade moral, para que compartilhem do mesmo ethos, tenham que estar necessariamente vinculados a essa comunidade, não pela lei, mas pelos sentimentos morais, que seriam a expressão desse ethos (modo de ser). Não significa que estarem vinculados às respectivas comunidades, os membros de uma comunidade jurídica e os membros de uma comunidade moral, estejam atrelados a uma dogmática jurídica ou moral. Significa que essa vinculação, ou seja, essa pertença, é o que possibilita uma hermenêutica jurídica no sentido de uma interpretação bem próxima daquilo que se concebe como consenso.
Para Gadamer, a interpretação da lei é simplesmente uma tarefa criativa. A compreensão, todavia, é a mola mestra da interpretação. Como afirma Lenio Luiz Streck, citando Fernandez-Lago, "(...) a hermenêutica jurídica é uma proposta de descrever as condições reais do intérprete e não uma oferta de critérios ou métodos científicos" (4).
Levando-se em conta que a Hermenêutica pode ser definida como a arte da interpretação, deduz-se, obviamente, que hermenêutica é compreensão. A Hermenêutica Jurídica seria então a compreensão que daria o sentido à norma. Isso quer dizer que na norma ou no texto jurídico há sempre um sentido que não está explicitamente demonstrado para que possa ser alcançado de forma essencialista. Poderíamos nos arriscar a dizer que isso se aproxima um pouco da idéia kantiana de fenômeno e coisa-em-si. A norma jurídica seria não o que Kant chamou de noumenon (coisa-em-si) que é incognoscível (5), mas o fenômeno, tendo em vista que a norma é algo que para ser conhecido, no sentido da interpretação, tem que haver, diríamos, uma construção desse conhecimento. Isso significa que o conhecimento da norma passa pela compreensão da mesma, não como um exercício de mera apreensão da dogmática jurídica, mas da interpretação criativa, crítica, onde o sujeito, determinado por sua cultura será capaz de dar conta da interpretação/hermenêutica como processo de compreensão do Direito.
Nesse sentido, podemos dizer que a hermenêutica jurídica, como arte da interpretação jurídica, é um processo de construção e re-construção. A relação sujeito-objeto na interpretação jurídica, portanto, não é uma relação meramente contemplativa, onde a dogmática jurídica se apresenta como verdade absoluta, quase como verdade revelada, mas uma atividade subjetiva, onde o sujeito tem papel ativo, mesmo se considerando que grande parte da interpretação só pode ser realizada a partir de conceitos previamente estabelecidos pela tradição na qual o sujeito está inserido, ou jogado, conforme diria Heidegger (6).
Deste modo, ao interpretar uma norma jurídica, o jurista (sujeito) terá a compreensão desse objeto, desse fenômeno jurídico, mediante um instrumento que irá proporcionar essa compreensão. Tal instrumento é a linguagem. Note-se, entretanto, que a linguagem, como instrumento para a compreensão e interpretação não é um terceiro elemento, um ente à parte nessa relação sujeito-objeto, mas condição de possibilidade de interpretação da norma jurídica.
À guisa de conclusão, pode-se dizer que a concepção da hermenêutica jurídica como interpretação, como processo de construção e re-construção, implica na luta pela criação de condições de possibilidade de um ensino jurídico de qualidade para a formação de uma verdadeira consciência ético-jurídica. É a única possibilidade de realização da função social do Direito.
HERMENÊUTICA JURÍDICA: 
Alguns aspectos relevantes da hermenêutica constitucional. 
SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. Hermenêutica Jurídica; 2.1. Distinção dos termos hermenêutica e interpretação; 2.2. Funções da interpretação; 2.3. (Im)Prescindibilidade da interpretação; 3. Hermenêutica constitucional; 4. Conclusão; 
1 INTRODUÇÃO 
A atividade hermenêutica permeia todo o exercício dos operados do direito, principalmente, a atuação do magistrado, que é o responsável pela função de “dizer o direito”, ou seja, de aplicar a norma jurídica ao caso concreto. 
O magistradodurante a sua atuação para encontrar a solução do conflito existente no mundo dos fatos, aplica a norma jurídica, mas para isso deve buscar o sentido das normas. Como afirma Tércio Sampaio Ferraz Júnior1, “a determinação do sentido das normas, o correto entendimento do significado dos seus textos e intenções, tendo em vista decibilidade de conflitos constitui a tarefa da dogmática hermenêutica”. 
Com isso verifica-se a relevância do tema relacionado à hermenêutica, principalmente, quando especificada em relação à hermenêutica constitucional.
Entretanto, antes da abordagem dos conteúdos especificamente relacionados à hermenêutica constitucional, é preciso verificar alguns assuntos que dizem respeito à hermenêutica jurídica: distinção entre interpretação e hermenêutica, funções da interpretação e imprescindibilidade da interpretação. 
2 HERMENÊUTICA JURÍDICA 
2.1 DISTINÇÃO DOS TERMOS HERMENÊUTICA E INTERPRETAÇÃO 
As expressões hermenêutica jurídica e interpretação jurídica não são sinônimas. A doutrina faz distinções em relação ao significado técnico de ambos os termos. Pedro dos Reis Nunes2 categoricamente faz a distinção entre as expressões, atribuindo à interpretação a noção de técnica, enquanto que à hermenêutica associa à idéia de ciência, no seu dizer, a “ciência de interpretação” das normas jurídicas. 
A interpretação é momento de contato direto do intérprete com a norma jurídica, ocorre quando o operador do direito procura encontrar, por meio de técnicas específicas, qual o real conteúdo e significado da norma jurídica. Por outro lado, a hermenêutica jurídica é a ciência formada pelo conjunto sistêmico de técnicas e métodos interpretativos. 
No mesmo sentido, posiciona-se Maria Helena Diniz3, que afirma tratar-se a hermenêutica da “teoria científica da arte de interpretar”. Ou seja, o conjunto de princípios e normas que norteiam a interpretação é uma ciência: a hermenêutica. 
Entretanto, a visão de que a hermenêutica é uma ciência não é pacífica na doutrina, já que o Ministro Eros Roberto Grau4 afirma que a interpretação das leis é, na verdade, uma “prudência”, é “o saber prático, a phrónesis, a que se refere Aristóteles”.
2.2 FUNÇÕES DA INTERPRETAÇÃO 
Também não existe unanimidade, na doutrina, em relação à definição das funções da interpretação das normas jurídicas. Para Maria Helena Diniz5, as funções da interpretação são as seguintes: 
a) conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram origem; 
b) estender o sentido da norma a relações novas, inéditas ao tempo de sua criação; 
c) temperar o alcance do preceito normativo, para fazê-lo corresponder às necessidades reais e atuais de caráter social, ou seja, aos seus fins sociais e aos valores que pretende garantir. 
Eros Roberto Grau6 entende que a interpretação do direito não pode ser dissociada da sua aplicação, afirma que interpretar é “dar concreção (= concretizar) ao direito”, reconhecendo para tanto, como único intérprete, verdadeiramente, autêntico o Juiz, que é o responsável pela construção da norma decisão. 
2.3 (IM)PRESCINDIBILIDADE DA INTERPRETAÇÃO 
De acordo com a clareza ou não do texto legal, pode-se discutir sobre a dispensabilidade ou não da interpretação, ou seja, sobre a aplicação do princípio “in claris cessat interpretatio”. 
Maria Helena Diniz7 afirma que a interpretação sempre é necessária, independentemente da clareza ou não da lei, afirmando que “tanto as leis claras como as ambíguas comportam interpretação”.
Nesse mesmo sentido, caminha Paulo Bonavides8, ao afirmar que “não há norma jurídica que dispense interpretação”, concluindo que o aforismo latino acima transcrito não pode prosperar. 
Verificados os aspectos gerais sobre a hermenêutica jurídica, principalmente, depois de verificada a imprescindibilidade da interpretação, pode-se avançar na análise de alguns dos aspectos mais relevantes da hermenêutica constitucional. 
3 HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL 
A interpretação da norma é influenciada pelo seu intérprete. Eros Roberto Grau9 traz faz uma interessante metáfora em relação à interferência do pesquisador no objeto pesquisado: metáfora da Vênus de Milo. A metáfora retrata a contratação de 03 artistas para produzirem cada um, uma estátua da Vênus de Milo. Como resultado, cada um produzirá uma estátua diferente, mesmo todos tendo o mesmo objeto. Não são três estátuas totalmente distintas umas da outras (afinal são todas Vênus de Milo), mas não são as mesmas estátuas. Esse também é o resultado da interpretação, sendo distinta de acordo com o seu intérprete. 
Além do intérprete, a realidade do mundo dos fatos também influencia diretamente a interpretação constitucional. Konrad Hesse10 afirma que “A norma constitucional não tem existência autônoma em face da realidade”. Pode-se concluir que a hermenêutica constitucional procura a concretização da norma constitucional, ou seja, a interpretação constitucional considera os fatos do mundo real além objeto do texto (relevância da realidade concreta do mundo). 
A tarefa de hermenêutica constitucional trará conseqüências para toda a sociedade. Em que pese a afirmação de controle abstrato de constitucionalidade, ainda assim, haverá o peso dos fatos sobre a interpretação, note-se que a Lei 9.886 trata da possibilidade de realização de perícia e de audiência pública, bem como, solicitação de informações aos juízos inferiores sobre as conseqüências fáticas de aplicação da norma. 
A importância dos fatos na tarefa de interpretação constitucional é reforçada pela existência do instituto da modelação dos efeitos da decisão que reconhece a inconstitucionalidade. O STF pode determinar em que momento no tempo a inconstitucionalidade começa a produzir efeitos. 
A interpretação deve alcançar o objetivo de atualização do texto constitucional. Quando o intérprete considera os fatos do mundo real, o texto constitucional vê-se com aplicação a casos diversos. Conforme afirma Paulo Bonavides11, “interpretar a constituição normativa é muito mais do que fazer-lhe claro o sentido: é sobretudo atualizá-la”. 
Conforme afirma Konrad Hesse12, é necessária a aplicação de uma “interpretação construtiva” para garantir a força normativa do texto constitucional, garantindo a “consolidação e preservação da força normativa da Constituição”. Entretanto, essa interpretação deve considerar os “fatos concretos da vida”, para o autor “a interpretação adequada é aquela que consegue concretizar, de forma excelente, o sentido (sinn) da proposição normativa dentro das condições reais dominantes numa determinada situação”. 
4 CONCLUSÃO 
Em decorrência desse poder que advém da interpretação da constituição, torna-se indispensável o estabelecimento de meios que evitem uma interpretação desarrazoada, capaz de provocar injustiças.
Com o objetivo de evitar uma interpretação sem fundamento, há o estabelecimento pela doutrina de regras, métodos e princípios de hermenêutica, que permitem um certo controle sobre a atividade interpretativa, garantindo uma certa uniformidade, ou seja, alguns pontos comuns estarão presentes na atividade interpretativa, para a busca do equilíbrio. 
A liberdade do operador existe (cada um é um escultor distinto), mas não é absoluta, já que se encontra limitada por determinadas regras (todos devem esculpir a Vênus de Milo). 
O QUE É HERMENÊUTICA JURÍDICA?
Hermenêutica é a ciência filosófica voltada para o meio de interpretação de um objeto. No caso do Direito, trata-se de técnica específica que visa compreender a aplicabilidade de um texto legal.
Em palavras mais simples: quando uma lei entra em vigor, assim como toda e qualquer literatura, se requer uma compreensão de seu conteúdo. Se não houvesse regras específicas para tal interpretação (e é disso que trata a hermenêutica jurídica), cada qual poderia (quer juízes, quer advogados) entender a lei da maneira que melhor lhe conviesse. Logo, a Hermenêutica traz para o mundo jurídico uma maior segurança no que diz respeito à aplicação da lei, e, ao mesmo tempo, assegura ao legislador uma antevisãode como será aplicado o texto legal, antes mesmo que entre em vigor.
Segundo Carlos Maximiliano, "É a hermenêutica que contém regras bem ordenadas que fixam os critérios e princípios que deverão nortear a interpretação. Hermenêutica é a teoria científica da arte de interpretar, mas não esgota o campo de interpretação jurídica por ser apenas um instrumento para sua realização."
Métodos de interpretação
· Autêntico: é aquela que provém do legislador que redigiu a regra a ser aplicada, de modo que demonstra no texto legal qual a mens legis que inspirou o dispositivo legal. 
· Doutrinário: é dada pela doutrina, ou seja, pelos cientistas jurídicos, estudiosos do Direito que inserem os dispositivos legais em contextos variados, tal como relação com outras normas, escopo histórico, entendimentos jurisprudenciais incidentes e demais complementos exaustivos de conhecimento das regras. 
· Jurisprudencial: produzida pelo conjunto de sentenças, acórdãos, súmulas e enunciados proferidos tendo por base discussão legal ou litígio em que incidam a regra da qual se busca exaurir o processo hermenêutico. 
· Literal: busca o sentido do texto normativo, com base nas regras comuns da língua, de modo a se extrair dos sentidos oferecidos pela linguagem ordinária os sentidos imediatos das palavras empregadas pelo legislador. 
· Histórico: busca o contexto fático da norma, recorrendo aos métodos da historiografia para retomar o meio em que a norma foi editada, os significados e aspirações daquele período passado, de modo a se poder compreender de maneira mais aperfeiçoada os significados da regra no passado e como isto se comunica com os dias de hoje. 
· Sistemático: considera em qual sistema se insere a norma, relacionando-a às outras normas pertinentes ao mesmo objeto, bem como aos princípios orientadores da matéria e demais elementos que venham a fortalecer a interpretação de modo integrado, e não isolado. 
· Teleológico: busca os fins sociais e bens comuns da norma, dando-lhe certa autonomia em relação ao tempo que ela foi feita. 
Tratando-se de hermenêutica jurídica, o termo significa a interpretação do Direito (seu objeto), que pode - e deve - passar por uma leitura constitucional e política.
· Vale ressaltar a interpretação sociológica - Que é a interpretação na visão do homem moderno, ou seja, aquela decorrente do aprimoramento das ciências sociais, de modo que a regra pode ser compreendida nos contextos de sua aplicação, quais sejam o das relações sociais, de modo que o jurista terá um elemento necessário a mais para considerar quando da apreciação dos casos concretos ante a norma. 
· E ainda, a Holística, que abarcaria o texto a luz de um mundo transdiciplinar (filosofia, história, sociologia...) interligado e abrangente. Inclusive, dando margem a desconsiderar certo texto em detrimento de uma justiça maior no caso concreto e não representada na norma entendida exclusivamente e desligada dos outros elementos da realidade que lhe dão sentido. 
Resultados decorrentes da interpretação
· Declarativo: há compatibilidade do texto da norma com o seu sentido. (in claris no interpretatio) 
· Restritivo: O texto da Lei (verba legis) é mais amplo que a intenção do legislador. 
· Extensivo: O texto da Lei é menos conclusivo que a sua intenção. Amplia-se o significado literal para a obtenção do efeito prático. (p. ex.: "os pais" devem ser entendidos como o pai e a mãe) 
HERMENÊUTICA JURÍDICA
1. Considerações Iniciais; 2. Considerações Acerca do Ponto de Vista Hermenêutico; 3. Hermenêutica Estrutural, Interpretação Teleológica-axiológica e Compreensão Atual do Problema Hermenêutico.
1.Considerações Iniciais:
O termo hermenêutica nasce e surge da mitologia grega, com Hermes, pois este tinha uma função intermediária entre os deuses e os homens, e assim, funcionava como um intérprete. Entretanto, a hermenêutica só realmente torna-se uma ciência e um meio legítimo de fundamentar o trabalho de sistematização da interpretação depois da Revolução Francesa, depois do Código Napoleônico e depois da percepção e necessidade de se estabelecer uma língua intermediária entre o fato social e a lei prevista nas constituições pelo legislador. Num primeiro momento, depois do Código Napoleônico, a lei adquiriu um caráter de inquestionabilidade e de irrefutabilidade, pois caracterizava-se como expressão da vontade geral do povo (princípio democrático rousseauniano) e deveria ser seguida fielmente pelo aplicador. Levando-se em conta este fato a curto prazo, pode até ser válido, como o foi em meados do século XIX, pois a lei feita para o fato social em questão, teoricamente, é válida, sendo seguida fielmente, até que as relações sociais mudem e os fatos sociais mudem, entretanto, quando isto (mudança da realidade social) acontece tem-se um impasse, pois a lei já não mais corresponde ao fato social previsto pelo legislador e é isso que acontece a longo prazo, ou então quando há fatos suficientemente fortes para a mudança da realidade.
É a partir deste ponto que entra a discussão acerca do problema hermenêutico: como deverá ser interpretada a lei quando está em questão a correspondência com o fato social? E quando está em questão a validade valorativa da lei e sua real funcão e fim social?
Estas são questões de suma importância e que não deixam de findar desde o começo da polêmica envolvendo os diferentes métodos interpretativos, uma ciência hermenêutica e a sua aplicabilidade relacionada ao seu uso e funcionabilidade.
É então que achamos ser necessário tentar alcançar uma visão de maior amplitude possível, procurando entender por todos os ângulos e diferentes visões a hermenêutica, tanto relacionada ao seu fundamento filosófico e sua validade legitimada (zetética), quanto a sua teoria dogmática posta em prática. 
2. Considerações Acerca do Ponto de Vista Hermenêutico.
Tendo em vista o saber dogmático aplicado ao direito, tem-se dois princípios que devem ser sempre considerados, o primeiro é o da inegabilidade dos pontos de partida, o segundo é a proibição do non liquet, isto é, o da compulsoriedade de uma decisão, pois esta é obrigatória. É então que temos desta compulsoriedade a necessidade de conferir ao saber dogmático suas condições de decidibilidade. 
É um postulado universal, que não há norma na ciência jurídica sem que haja uma interpretação, ou seja, todas as normas são passíveis de interpretação. O problema hermenêutico constitui-se, então, na criação de condições de decidibilidade, pois, existe a obrigação da interpretação e, portanto, deve haver uma interpretação que prepondere e ponha um fim prático às múltiplas possibilidades interpretativas.
O desenvolvimento do problema teórico da hermenêutica (que é interpretar e qual seu fundamento?) é relativamente recente, pois, apesar do problema técnico (como agir?) já ser questionado desde a jurisprudência romana e até na retórica grega, esse problema científico só foi surgir no século XIX.
Savigny, em obras anteriores a 1814, refere-se a interpretação como a necessidade de mostrar o que a lei diz, assim essa questão técnica lhe fez sugerir os seguintes procedimentos: interpretação gramatical (sentido vocabular), interpretação lógica (sentido proposicional), interpretação sistemática (sentido estrutural) e interpretação histórica (sentido genético).
3. Hermenêutica Estrutural, Interpretação Teleológica-axiológica e Compreensão 
Atual do Problema Hermenêutico.
Como diria Reale, contemporaneamente falando, interpretar uma lei importa, previamente, em compreendê-la na plenitude de seus "fins sociais", a fim de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada um de seus dispositivos. Com essa "Finalidade Social da Lei", no seu todo, busca-se atingir uma "correlação" coerente entre o "todo da lei" e suas "partes"(artigos e preceitos).
A Hermenêutica Estrutural consiste, basicamente, na captação dos valores das partes inseridas na estrutura da lei, esta inseparável da estrutura do sistema e do ordenamento; diferentemente do que pensavam os teóricos da interpretação antiga,a exemplo de outras ciências como a Psicologia antiga (idéias = associação de imagens), esta (hermenêutica estrutural) acredita que o sentido global da lei é obtido a partir da reunião das análises axiológicas de cada preceito, numa gradação de sentido bipolar das partes para o todo.
A compreensão finalística da lei parte do pressuposto de que é sempre possível atribuir-se um propósito às normas. Ela veio se firmando como teoria, principalmente, a partir da edição da obra intitulada O Fim no Direito de Rodolf Von Jhering. No entanto, hoje, o fim, que para Jhering era apenas uma forma de interesse, é antes visto como "o sentido do valor reconhecido racionalmente enquanto motivo determinante da ação."
O fim, essencial, "inclusive" para a anulação da carga emocional, é, doutrinariamente, sempre um valor, seja ele para que haja substituição, manutenção ou mesmo controle de um outro valor. O valor é, portanto, objeto de um "processo compreensivo" baseado, sobretudo, no recíproco e autoesclarecimento advindo do confronto das partes com o todo e vice-versa.
Conclui-se, portanto, que tão errôneo seria a análise e aplicação unitária e isolada de um artigo da lei quanto a dissertação de uma lei às escuras de seus preceitos.
O trabalho do intérprete contemporâneo, portanto, é um trabalho construtivo de natureza teleo-axiológica e de caráter criador, calcado no cortejo de enunciados lógicos e valorativos para atingir a real significação da lei mediante observações reais na dimensão dos fatos, em função dos quais se dão as valorações.
A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO 
 
Antes de tratarmos da interpretação do Direito, faz-se necessária uma prévia consideração sobre o sentido e a extensão do termo "hermenêutica jurídica". 
1)HERMENÊUTICA JURÍDICA 
1.1 - A palavra "hermenêutica" é de origem grega, significando interpretação; segundo alguns, a sua origem é o nome do deus da mitologia grega HERMES, a quem era atribuído o dom de interpretar a vontade divina. 
Hermenêutica, pois, no seu sentido mais geral, é a interpretação do sentido das palavras. 
1.2 - Quanto à "hermenêutica jurídica", o termo é usado com diferente extensão pelos autores. Com freqüência, é usado como sinônimo de interpretação da norma jurídica. MIGUEL REALE, por exemplo, fala em "hermenêutica ou interpretação do Direito", um suas Lições Preliminares de Direito. CARLOS MAXIMILIANO, por sua vez, distingue "hermenêutica" e "interpretação"; aquela seria a teoria científica da arte de interpretar; esta seria a aplicação da hermenêutica; em suma, a hermenêutica seria teórica e a interpretação seria de cunho prático, aplicando os ensinamentos da hermenêutica.
Outros, a quem seguimos, dão ao vocábulo um sentido mais amplo, que abrange a interpretação, a aplicação e a integração do Direito. Destarte, a Hermenêutica jurídica vem a ser a teoria Científica da arte de interpretar, aplicar e integrar o direito. 
De fato, há uma íntima correlação entre essas três operações, embora sejam três conceitos distintos. É assim que, se o Direito existe, existe para ser aplicado. Antes, porém, é preciso interpretá-lo; só aplica bem o Direito quem o interpreta bem. Por outro lado, como a lei pode apresentar lacunas, é necessário preencher tais vazios, a fim de que se possa dar sempre uma resposta jurídica, favorável ou contrária, a quem se encontra ao desamparo de lei expressa. Esse processo de preenchimento das lacunas legais chama-se integração do Direito. 
No momento, nossa atenção se volta para a interpretação da norma jurídica. 
2. CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO 
2.1 - "Interpretar" é fixar o verdadeiro sentido e o alcance, de uma norma jurídica. 
Ou: "é apreender ou compreender os sentidos implícitos das normas jurídicas" (LUIS EDUARDO NIERTA ARTETA); “é indagar a vontade atual da norma e determinar seu campo de incidência” (JOÃO BAPTISTA HERKENHOFF); "interpretar a lei é revelar o pensamento que anima as suas palavras"(CLÓVIS BEVILAQUA). 
2.2 - Como todo objeto cultural, o direito encerra significados; interpretá-lo representa revelar o seu conteúdo e alcance. Temos, assim, três elementos que integram o conceito de interpretação: 
a) Revelar o seu sentido: isso não significa somente conhecer o significado das palavras, mas, sobretudo descobrir a finalidade da norma jurídica. 
Com outras palavras, interpretar é "compreender"; as normas jurídicas são parte do universo cultural e a cultura, como vimos, não se explica, se compreende em função do sentido que os objetos culturais encerram. E compreender é justamente conhecer o sentido, entender os fenômenos em razão dos fins para os quais foram produzidos. 
De grande significado é o pensamento de CELSO: "saber as leis não é conhecer-lhes as palavras, mas sim, conhecer a sua força e o seu poder" ("scire leges non hoc est verba earum tenere, sed vim ac potestatem" D.L. XXVI). Portanto, é sempre necessário ir além da superfície das palavras, a fim de conhecer a força e o poder que delas dimanam. Por exemplo, a lei que concede férias anuais ao trabalhador tem o significado de proteger e de beneficiar sua saúde física e mental. 
b) Fixar o seu alcance: significa delimitar o seu campo de incidência; é conhecer sobre que fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem aplicação. 
Por exemplo, as normas trabalhistas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) se aplicam apenas aos trabalhadores assalariados, isto é, que participam em uma relação de emprego; as normas contidas no Estatuto dos Funcionários Públicos da União têm o seu campo de incidência limitado a estes funcionários. 
c) Norma jurídica: falamos em "norma jurídica" como gênero, uma vez que não são apenas as leis, ou normas jurídicas legais que precisam ser interpretadas, embora sejam elas o objeto principal da interpretação. Assim, todas as normas jurídicas podem ser objeto de interpretação: as legais, as jurisdicionais (sentenças judiciais), as costumeiras e os negócios jurídicos. 
3. NECESSIDADE DA 1NTERPRETAÇÃ0 
3.1 - No passado, nem sempre a possibilidade de interpretação foi conferida ao intérprete. 0 Imperador JUSTINIANO determinara que "quem quer que seja que tenha a ousadia de aditar algum comentário a esta nossa coleção de leis... seja cientificado de que não só pelas leis seja considerado réu futuro de crime de falso, como também de que o que tenha escrito se apreenda e de todos os modos se destrua" (De confirmatione digestorum, in Corpus Juris Civilis, par. 21). 
Hoje, a possibilidade, e ainda mais, a necessidade de interpretação das normas jurídicas, precisam ser reconhecidas, mesmo em relação às normas tidas por claras. 
3.2 - "In claris cessat interpretatio". Alguns, é verdade, pretendem não haver necessidade de interpretação quando a norma é "clara". É o que diz o brocardo latino: "in claris cessat interpretatio" (dispensa-se a interpretação quanto o texto é claro), que, apesar de sua veste latina, não é de origem romana. Os Romanos, com a sua visão profunda em matéria jurídica, não desconheciam a permanente necessidade dos trabalhos exegéticos, ainda que simples fossem os textos legislativos; haja vista a afirmação de ULPIANO: “quamvis sit manifestissimum edictum praetoris, attamen non est negligenda interpretatio eius" (embora claríssimo o edito do pretor, contudo não se deve descurar da sua interpretação -Digesto, liv. 25, tit. 4, frag. 1. § 11). 
Na verdade, não é exato dizer que o trabalho do intérprete apenas é necessário quando as leis são obscuras. A interpretação sempre é necessária, sejam obscuras ou claras as palavras da lei ou de qualquer outra norma jurídica; e isso por três razões: 
1º) o conceito de clareza é muito relativo e subjetivo, ou seja, o que parece claro a alguém pode ser obscuro para outrem' 
2º) urna palavra pode ser clara segundo a linguagem comum e ter, entretanto, um significado próprio e técnico, diferente do seu sentido vulgar (p. ex., a "competência" do juiz); 
3º) a consagração legislativa dos princípios contidos no art. 5º da LICC significa uma repulsa ao referido brocardo,já que toda e qualquer aplicação das leis deverá conformar-se aos seus "fins sociais e às exigências do bem comum"; ora, se em todas as leis o intérprete não poderá deixar de considerar seus fins sociais e as exigências do bem comum, todas as leis necessitam de interpretação visando à descoberta dos mesmos. 
É claro que há situações normativas que exigem maior ou menor esforço do intérprete para descobrir seu sentido e alcance; mas sempre deve haver aquele trabalho interpretativo. 
4. ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO 
A interpretação pode ser classificada segundo diversos critérios: quanto à sua origem, sua natureza e seus resultados. 
4.1 - Quanto à origem ou fonte de que emana, a interpretação pode ser: 
a) Autêntica: quando emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e alcance ela declara. 
Há certos textos legais que, pela confusão que provocam no mundo jurídico, levam o próprio legislador a determinar melhor o seu conteúdo. Assim, p. ex., a Lei nº 5334/67 interpretou dispositivos da Lei nº 4484/64, no seu artigo 1º 
Dissemos que a interpretação autêntica emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e alcance ela declara; assim, p. ex., o Regulamento pode esclarecer o sentido da lei e completá-lo; mas não tem o valor de interpretação autêntica a oferecida por aquele, ou por qualquer outro ato ministerial como uma portaria, uma vez que não decorrem do mesmo poder. 
MIGUEL REALE tem que a interpretação autêntica é somente aquela que se opera através de outra lei; e quando uma lei é emanada para interpretar outra lei, a interpretação não retroage: disciplina a matéria tal como nela foi esclarecido, tão somente a partir de sua vigência. 
b) judicial: é a resultante das decisões prolatadas pela Justiça; vem a ser aquela que realizam os juízes ao sentenciar, encontrando-se nas Sentenças, nos Acórdãos e Súmulas dos Tribunais (formando a sua jurisprudência). 
c) Administrativa: aquela cuja fonte elaboradora é a própria Administração Pública, através de seus órgãos e mediante pareceres, despachos, decisões, circulares, portarias etc. 
Tal interpretação vincula as autoridades administrativas que estiverem no âmbito das regras interpretadas, mas não impede que os particulares adotem interpretações diversas. 
d) Doutrinária: vem a ser a realizada cientificamente pelos doutrinadores e juristas em suas obras e pareceres. Há livros especializados de Direito, que comentam artigo por artigo de uma lei, código ou consolidação, dando o sentido do texto comentado, com base em critérios científicos. 
4.2 –“Quanto à sua natureza”, a interpretação pode ser: 
a) Literal ou gramatical: toma como ponto de partida o exame do significado e alcance de cada uma das palavras da norma jurídica; ela se baseia na letra da norma jurídica. 
b) Lógico-sistemática: busca descobrir o sentido e alcance da norma, situando-a no conjunto do sistema jurídico; busca compreendê-la como parte integrante de um todo, em conexão com as demais normas jurídicas que com ela se articulam logicamente. 
c) Histórica: indaga das condições de meio e momento da elaboração da norma jurídica, bem como das causas pretéritas da solução dada pelo legislador ("origo legis" e "occasio legis"). 
d)Teleológica: busca o fim que a norma jurídica tenciona servir ou tutelar. 
4.3 - Quanto a seus efeitos ou resultados, a interpretação pode ser: 
a) Extensiva: quando o intérprete conclui que o alcance da norma é mais amplo do que indicam os seus termos. Nesse caso, diz-se que o legislador escreveu menos do que queria dizer (”minus scripsit quam voluit”), e o intérprete, alargando o campo de incidência da norma, aplica-la-á a determinadas situações não previstas expressamente em sua letra, mas que nela se encontram, virtualmente, incluídas. 
Às vezes, o legislador, ao exprimir seu pensamento, pode formular para um caso singular um conceito que deve valer para toda uma categoria ou usar um elemento que designa espécie, quando queria aludir ao gênero. 
Por exemplo, a lei diz "filho", quando na realidade queria dizer "descendente". Ou ainda, a Lei do Inquilinato dispõe que: "o proprietário tem direito de pedir o prédio para seu uso"; a interpretação que conclui por incluir o "usufrutuário" entre os que podem pedir o prédio para uso próprio, por entender que a intenção da lei é a de abranger também aquele que tem sobre o prédio um direito real de usufruto, é uma interpretação extensiva. 
b) Restritiva: quando o intérprete restringe o sentido da norma ou limita sua incidência, concluindo que o legislador escreveu mais do que realmente pretendia dizer (“plus scripsit quam voluit”), e assim o intérprete elimina a amplitude das palavras. 
Por exemplo, a lei diz "descendente", quando na realidade queria dizer "filho". A mesma norma da Lei do Inquilinato, acima mencionada, serve também para modelo de uma interpretação restritiva, no caso do "nu-proprietário", isto é, daquele que tem apenas a nua-propriedade, mas não o direito de uso e gozo do prédio; este não poderia pedir o mesmo para seu uso. 
c) Declarativa ou Especificadora: quando se limita a declarar ou especificar o pensamento expresso na norma jurídica, sem ter necessidade de estendê-la a casos não previstos ou restringi-Ia mediante a exclusão de casos inadmissíveis. Nela o intérprete chega à constatação de que as palavras expressam, com medida exata, o espírito da lei, cabendo-lhe apenas constatar esta coincidência. 
A interpretação declarativa corresponde à interpretação também denominada de "estrita"; nela, as normas “aplicam-se no sentido exato, não se dilatam, nem restringem os seus termos” segundo CARLOS MAXIMILIANO. A exegese aqui é "estrita, porém não restritiva; deve dar precisamente o que o texto exprime, porém tudo o que no mesmo se compreende; nada de mais, nem de menos" (idem). 
A interpretação estrita há de ser aplicada, por exemplo, quando se trata de leis que impõem penalidades, que cominam multas etc. 0 Código de Direito Canônico, exempli gratia, estabelece no seu cânone 18: "As leis que estabelecem pena ou limitam o livre exercício dos direitos ou contêm exceção à lei, devem ser interpretadas estritamente". 
Finalizando, eis como ALÍPIO SILVEIRA sintetiza a matéria: "É declarativa quando a letra se harmoniza com o significado obtido pelos outros métodos. É extensiva, se o significado obtido pelos outros métodos é mais amplo do que o literal; a final, é restritiva, quando o significado literal é mais amplo do que aquele obtido pelos outros métodos". 
NOÇÕES DE INTERPRETAÇÃO DA LEI E HERMENÊUTICA JURÍDICA 
I- CONCEITO 
Interpretar alei é desvendar os mistérios de uma norma jurídica. Revela o pensamento que anima suas palavras. 
II- CLASSIFICAÇÃO 
A) QUANTO À ORIGEM 
1- AUTÊNTICA OU LEGISLATIVA 
É quando uma lei interpreta outra lei, de sentido obscuro, duvidoso ou controvertido, isto é, obra do próprio legislador. 
2- DOUTRINÁRIA 
A interpretação doutrinária é aquela realizada cientificamente pelos doutrinadores, pelos juristas, pelos professores de direito e autores da ciência jurídica. Ex.: livros de direito. 
3- JUDICIAL OU JURISPRUDENCIAL 
É aquela resultante das decisões prolatadas pela justiça, ex.: súmula. A responsabili-dade contratual do transportador pelo acidente com o passageiro não é ilidida por culpa de terceiro, contra o qual tenha ação regressiva. 
4- ADMINISTRATIVA 
É aquela cuja fonte elaboradora é a própria administração pública, através de seus órgãos, mediante pareceres, portarias, despachos, decisões, etc. 
Dentre as espécies de interpretação quanto à origem de maior importância é a jurisprudencial - norteia os procedimentos da sociedade. 
B) QUANTO AO MÉTODO 
1- LITERAL OU GRAMATICAL 
É aquela voltada à investigação das palavras da lei, isto é, além da letra da lei. Apura-se o sentido da lei partindo do exame gramatical dos vocábulos que a constitui. 
2- LÓGICO OU RACIONAL 
Consiste na aplicação da lógica formal e da razão aos dispositivos da lei que se deseja 
interpretar. Atende ao espírito da lei - é um processo lógico, analítico; razão dalei - lógico jurídico. 
3- SISTEMÁTICO OU ORGÂNICO 
Interpreta a lei considerando-a como parte integrante de um todo (sistema jurídico). Nenhum dispositivo se interpreta isoladamente, sempre relacionado com os demais. 
4- HISTÓRICO 
Busca-se nos precedentes legislativos o verdadeiro sentido da lei a ser interpretada. As novas leis resultam de aperfeiçoamento de leis anteriores. 
5- SOCIOLÓGICO 
Dá a lei um sentido de atualidade. Deve-se em grande parte ao surgimento da sociologia jurídica e compensa as distorções que os outros métodos normalmente conduzem. 
6- TELEOLÓGICO 
Procura-se fazer uma interligação entre a lei, a causa e sua finalidade. Na verdade é a reunião dos demais métodos, buscando alcançar a finalística da lei. 
C) QUANTO AOS EFEITOS 
1- MODIFICATIVA 
Atribui à lei um sentido abrangente de fatos ou consequências além ou aquém dos que foram imaginados pelo legislador. Na realidade é o predomínio da objetividade da lei sobre a subjetividade do legislador. 
2- AB-ROGATIVA 
É a existência de duas ou mais leis conflitantes entre si, chegando a contradizer-se de modo que apenas uma dessas leis deva permanecer vigentes, revogando a outra lei. 
3- DECLARATIVA 
É aquela que conclua pela inexistência de modificação ou ab-rogação. Pode ser: 
A) COINCIDENTE - é quando a interpretação der a lei um sentido em idênticas e exatas proporções, às pretendidas pelo legislador, isto é, há uma equivalência entre as palavras da lei e sue espírito; 
B) RESTRITIVA - é quando a interpretação der à lei um sentido menos amplo do que aquele expresso pelo legislador no texto; 
C) EXTENSIVA - é quando a interpretação der à lei um sentido mais amplo do que aquele expresso pelo legislador no texto. 
III- HERMENÊUTICA JURÍDICA 
É a teoria que se efetiva o lado prático da interpretação. 
A INTERPRETAÇÃO DA NORMA JURÍDICA
(Constitucional e Infraconstitucional)
SUMÁRIO: 1. - Introdução. 2. - A Norma. A Norma Jurídica. 3.- A Norma Constitucional. 4. - A Norma Infraconstitucional. 5. - A Interpretação. 6. - A Interpretação das Normas Constitucionais. 7. - Conclusões. 
1-INTRODUÇÃO 
   A interpretação da norma jurídica é a atividade mental desenvolvida pelo jurista, mirando traçar uma ligação entre o texto normativo abstrato, inerte, e o fato que se apresenta cru, à espera de uma roupagem produzida nos lindes da Ciência do Direito. Não raro a via da subsunção tem mão dupla, e quão mais delicado e questionável for o percurso pelo seu leito, mais apurada e dotada de cientificidade há que ser a missão do operador.
   Valer-se adequadamente dos processos de interpretação que lhe são postos à mão pela ciência jurídica, não guardando escrúpulos de adentrar com profundidade na investigação e na confecção de novas técnicas, sempre objetivando o aclaramento e a vivificação das normas jurídicas, é o papel reservado ao exegeta na seara do Direito. Da sua sensibilidade dependerá o sucesso perseguido na arte de interpretar as normas de natureza jurídica. 
2- A NORMA. A NORMA JURÍDICA 
   Ensina Miguel Reale1 que a regra ou a norma é o resultado da tomada de posição de uma lei cultural, perante a realidade, “implicando o reconhecimento da obrigatoriedade de um comportamento”.
   A dito conselho chegou o respeitável doutrinador, após dissecar as leis, para ele dicotomizadas em leis físico-matemáticas (ou naturais) e leis culturais. Nestas últimas, agrupa a norma, sob suas variadas manifestações (moral, política, religiosa, jurídica, etc).
   Vê-se assim, forte influência kelseniana na formulação conceptual do professor paulista, quando destaca a obrigatoriedade do comportamento como nuclear para a eclosão (ou o fabrico) de uma norma. E não está sozinho, vez que incontáveis bastiões da jusfilosofia destacam a coercibilidade (ou a coercitividade) como o elemento identificador da norma, quiçá da proposição jurídica.
   Para Rudolf Von Jering, arauto do ativismo dogmático, em sua fabulosa obra Zweck im Recht (5ª edição, 1916, p. 256), citado por Tércio Ferraz Jr. (Teoria da Norma Jurídica, Forense, p. 36), norma é regra, já que o seu conteúdo é apenas a orientação do que ela contém. Segundo Pedro Lessa, seu crítico mais ácido dentre os nacionais, Jering chegou a afirmar que “sem a coação não haveria direito, não haveria Estado” (Estudos de Philosophia do Direito, Livraria Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1916, pp. 422 e 423).
   O lógico finlandês Von Wright2 bem estudou a obra do notável comentarista americano John Austin, que via a norma jurídica como uma ordem, passada pelo soberano aos seus súditos, respaldada por ameaças. Em havendo descumprimento da ordem, o súdito seria punido. Estudando tal construção, Von Wright teve por certo hexapartila em caráter, condições de aplicação, autoridade, sujeito, promulgação e sanção.
   Inúmeros enfoques foram desenvolvidos na tentativa de uma conceituação precisa do que é norma e mais especificamente do que é norma jurídica. De todos, alcançou particular repercussão o oferecido por Carlos Cóssio, discípulo e depois enfrentador de Kelsen, que inverteu a idéia do professor vienense, transmudando a norma primária (a sanção) em perinorma e elegendo a norma secundária da teoria kelseniana (a instrumental) em endonorma. Para Cóssio, o privilégio seria do aspecto orientador e pedagógico da norma, secundado pela coercibilidade da regra.
   O embate científico entre Kelsen e Cóssio é bem estudado pelo Prof. Paulo Lopo Saraiva3, que utilizou a técnica de subsumi-lo a uma decisão judicial (Acórdão do ex-TFR, 1ª Turma, Ap. Civ. n. 37.391-RS, Rel. Mm. Márcio Ribeiro, julgada em 3-6-77). Mestre e Dr. em Direito Constitucional, de declarada integração ao jussociologismo, Lopo Saraiva resume a contenda dos sábios vendo que a “norma primária de Kelsen passa a ser a perinorma (peri=periferia) de Cóssio (se a União não reparar o dano causado a terceiro que o funcionário praticou, deve ser condenada) e a norma secundária de Kelsen passa a ser a endonorma (endo=cerne, núcleo) de Cóssio (se o funcionário da União der causa a dano contra terceiro, a União deve reparar)”. E continua dizendo que enquanto Kelsen “valoriza o ilícito e sua consequência jurídica - a sanção -, Cóssio, sem excluí-la, inclui também, o lícito, na estrutura normativa, o que propicia apresentar as duas situações do comportamento humano frente à regra: o comportamento aceito, contido na endonorma e o não aceito, existente na perinorma”.
   Em conclusão, sine embargo dos entendimentos contrários, tenho a norma jurídica como um ser lógico, que independentemente de ser positivada, traça pauta de comportamento dos súditos do Estado ou da entidade que a proclama, para esses prevendo uma sanção em caso de desobediência (ainda que principiológica). Mesmo na hipótese de configuração das ditas “normas programáticas”, o elemento coercitivo se fará presente na cadeia normativa imprescindível, mais precisamente no elo denominado de “norma complementar” ou “executing law”. 
3- A NORMA CONSTITUCIONAL 
   Foi visto que a norma jurídica é a pauta da convivência social mediante a coerção, aí sendo incluído o relacionamento Estado-Cidadão. A norma jurídica, que serve inclusive para balizar a relação entre o Estado e os seus súditos, se presta também para arcabouçar a entidade estatal, definindo a organização desta, com regime político e direitos fundamentais da pessoa humana, segundo análise de José Afonso da Silva, anotando Carl Schimitt4. Assim, a norma jurídica constitucional, mesmo que não esteja positivada, é lastro para todo o ordenamento jurídico subsequente, que não pode prescindir daquela norma fundamental, como preconizou Kelsen em sua fase de amadurecimento filosofal.
   É palpável a preocupação dos doutores em distinguir, no campo jurídico, o que é matéria constitucional, para daí ser exibido o que é norma constitucional. Dito enxergamento está registrado já na Constituição do Império do Brasil, que em seu art. 178 “definia como constitucional só o que dissesse respeito aos limites e atribuições respectivas dos poderes políticos e aosdireitos políticos e individuais dos cidadãos. Não se consideravam constitucionais as demais normas nela inseridas que não tratassem daquela matéria”.5 Invertendo o vetor do tempo, alcançaremos ainda mais remotamente, na antiguidade grega, a distinção entre normas constitucionais e normas ordinárias, sendo aquelas as estruturadoras do Estado e estas as criadas pelo governo. As primeiras superiores às segundas, conforme entendia Aristóteles, citado pelo Prof. Manoel Gonçalves Ferreira Filho6. Dita linha de entendimento até hoje se faz presente, onde são tidas por constitucionais todas as normas estruturais de uma sociedade politicamente organizada, tendo ainda a função de regular a produção das normas chamadas infraconstitucionais7. 
4- A NORMA INFRACONSTITUCIONAL 
   Se ficou assentada a existência de uma norma superior, privilegiada, norteadora do Estado e do ordenamento jurídico por este e neste produzida, lógico é que existem normas jurídicas “inferiores” àquela. A “inferioridade” aqui destacada não desdenha a validez e a utilidade dessas normas, mas apenas registra a submissão de tais editos aos limites impostos pelo diploma fundamental, advindo de um poder constituinte, embora às vezes puramente formal, como acontece nos casos em que a ordem constitucional é alterada ex vi tomada violenta do poder por parcela minoritária da nação.
   A norma jurídica infraconstitucional abrange todo o ordenamento “inferior” positivo do Estado, indo das leis complementares aos expedientes ordinativos de feição mais burocrática (portarias, circulares, etc), passando pelos convênios, pelas convenções coletivas de trabalho, etc. Entretanto, nos limites deste trabalho, é suficiente a breve análise da norma legal, tendo-se que a lei, “no sentido técnico desta palavra, só existe quando a norma escrita é constitutiva de direito, ou esclarecendo melhor, quando ela introduz algo de novo em caráter obrigatório no sistema jurídico em vigor, disciplinando comportamentos individuais ou atividades públicas”8. Segundo Clóvis Beviláqua, a lei é uma regra geral que, emanando de autoridade competente, é imposta coativamente à obediência de todos. Ouso discordar do ilustrado jurista apenas no que tange à generalidade da lei, vez que em casos tais como a isenção tributária, a exclusão do crédito normalmente ocorre via “lei que especifique as condições e os requisitos exigidos para a sua concessão, os tributos a que se aplica e, sendo caso, o prazo de duração” (CTN, art. 176). Não é genérico o que é específico! 
5- A INTERPRETAÇÃO 
   A norma jurídica, quer tenha sido fabricada intencionalmente (a lei em sentido formal e em sentido material), quer tenha sido apurada pelos cultores e aplicadores do Direito (a jurisprudência, os tratados, as convenções, etc), exige uma fase de burilamento e adequação ao momento histórico e social da sua aplicação. Enquanto texto frio e latente, espelha tão-só o instante da sua confecção ou do seu incorporamento ao conjunto normativo. Cabe ao intérprete vivificá-la e dar-lhe a destinação adequada às exigências sócio-culturais dos seus súditos, assim entendidos pela submissão gerada pela coercibilidade das normas. Destacando a missão do exegeta, diz Caio Mário da Silva Pereira que “só o esforço hermenêutico pode dar vida ao nosso Código Comercial, publicado em 1850, diante da complexidade da vida mercantil de nossos dias; só pela atualização do trabalho do intérprete é possível conceber-se o vigor do Código de Napoleão, que vem de 1804, ou a sobrevivência dos cânones da Constituição americana, que é de 1787” 9.
   Aqui abro um parênteses para registrar o meu descontentamento com a repetida sinonímia que é atribuída aos vocábulos hermenêutica e interpretação das normas jurídicas. Com efeito, a interpretação é a tarefa desenvolvida pelos estudiosos, mirando alcançar o exato sentido da norma, perquirindo, inclusive a mens Iegislatoris e outros dados que sirvam à correta subsunção do fato à regra. Já a hermenêutica “é a teoria da interpretação das leis. A hermenêutica é que fornece os elementos ou os métodos para a interpretação”.’10 A hermenêutica instrumentaliza o exegeta, para que este proceda a interpretação.
   Volvendo ao tema mater, é sabido que várias são as espécies de interpretação classificadas pelos doutrinadores, também chamados de processos de interpretação. E clássica a enumeração de Tito Fulgêncio11, ordenando ditos processos quanto à origem e quanto aos elementos.
   Quanto à origem, a interpretação pode ser:
   a) Autêntica, quando operada por intermédio de um novo diploma, editado posteriormente ao texto obscuro, ao qual visa dar a clareza originariamente omitida, vezes por despreparo intelectual do confeccionador da norma. Nessas hipóteses, lembra Caio Mário da impossibilidade da explicação ser dada por um diploma hierarquicamente inferior à norma explicada.12 b) Judicial, quando proferida por órgão judicante, independentemente de nível, assim sendo entendida tanto a manifestação de um Juízo monocrático como o decisum de um Tribunal. A adequação do caso sub judice à norma eleita como a ele aplicável (ou a operação inversa), finda por exigir do julgador a demonstração do entendimento que este hauriu da norma aplicada. Mais das vezes tal exigência é imperativo legal, inarredável, como é o caso brasileiro (CPC, art. 458, incs. II e III e art. 131; CPP, art. 381, incs. III e IV). João Franzen de Lima chama este método de interpretação judiciária, ressaltando que “as decisões da justiça só se impõem às pessoas que forem parte na demanda; mas a interpretação reiterada da lei num mesmo sentido constitui a jurisprudência, que tem relevante valor para a decisão de casos análogos” 13.
   e) Doutrinária ou doutrinal, desde que feita pelos doutores do direito, ou seja, os jurisconsultos, em seus escritos e opinamentos, detalhando o texto da norma em conjugação com os conceitos que inspiraram a edição desta.
   Quanto aos elementos, a interpretação é considerada:
   a) Gramatical, em razão do intérprete recorrer a elementos puramente filológicos do texto analisado, deste extraindo o sentido após acurada apreciação do emprego das palavras, da significação dos vocábulos. Exemplifica Amoldo Wald que “quando se declara na lei que todos os homens têm capacidade jurídica e o intérprete quer saber se o texto estabelecido visa não apenas ao homem, mas também à mulher, vamos estudar qual o sentido da palavra homem utilizado pelo legislador... Veremos, assim, que a intenção do legislador, ao empregar a palavra todo homem era de usar o masculino, abrangendo tanto o masculino como o feminino, quer dizer, dando a capacidade jurídica não só ao homem como também à mulher” 14.
   A interpretação gramatical é também denominada literal, farisáica e especiosa e foi introduzida na ciência jurídica pelos adeptos da Escola de Exegese, movimento cultural contemporâneo do Código Napoleônico de 1804, e cujo fundamento-mor era a desnecessidade de analisar o diploma sob outros prismas, já que segundo Demolombe, a lei era tudo, competindo ao intérprete apenas “extrair o sentido pleno dos textos, para apreender-lhes o significado, ordenar as conclusões parciais, e, afinal, atingir as grandes sistematizações.15
   Pelos filiados à Escola de Exegese, algumas regras foram erigidas a princípio para a aplicação do método gramatical, a saber:
   1 - As palavras devem ser analisadas em articulação com os outros vocábulos do texto.
   II - Se uma palavra tem um sentido técnico ao lado de um sentido vulgar, deve o intérprete optar pelo sentido técnico.
   III - O sentido comum da palavra, entretanto, não deverá ser desprezado, desde que não contenha inexatidões, impropriedades ou equivocidades.
   IV - O processo gramatical deve ser considerado como o início da atividade interpretativa do Direito, estando sujeito, pois, às falhas e às imperfeições factíveis na atividade humana.
   Críticas são disparadas contra a interpretação gramatical, pelos mais representativos cultores do Direito. Tanto que, em reação às Escolasde estrito legalismo (a de Exegese e a Pandectista, esta última elevando a norma legal ao patamar de dogma), surgiram a Escola Histórica-Dogmática (o elemento sistemático deveria ser utilizado, reconstruindo o sistema orgânico do Direito, do qual mostrava apenas uma face); a Escola Atualizadora do Direito (a lei com vida própria e o Direito acompanhando as evoluções sociais); e a Escola Teleológica (o caráter finalista do Direito).
   É preciosa a observação do Prof. Ruy Barbosa Nogueira, para quem a interpretação gramatical “dentro do Direito é assim chamada, brevitatis causa, porque na verdade, no campo jurídico, ela contém um plus, tem que ser uma interpretação gramatical - jurisdicizada, isto é, uma interpretação jurídico-gramatical, para ser válida’ 16
   b) Lógica 17 consistindo na ênfase oferecida à analise do texto da norma, em lugar das palavras que compõem o mesmo. Busca descobrir o sentido e o alcance da lei independentemente do auxílio de elementos exteriores, aplicando ao dispositivo regras tradicionais e precisas, tomadas de empréstimo à lógica geral. Pode ser fracionada em três subespécies: analítica, sistemática e jurídica.
   A interpretação analítica é lógica por excelência, contradizendo a interpretação gramatical, afirmando o espírito do texto sobre as palavras do texto. Para os seus defensores, cabe ao intérprete analisar a obra em si, e não a intenção de quem a fez.
   Na interpretação sistemática, todas as normas devem ser analisadas tendo em conta as suas inter-relações com outras normas do ordenamento.
   Já a interpretação jurídica, para efeito didático, é desdobrada em três campos de perquirição: a ratio legis (qual a razão da existência da norma); a vis legis (qual o grau de vigor da norma. Se é de jus cogens ou não, etc.); e o ocasio legis (a conjuntura sócio-histórico-cultural que serviu de contorno à criação da norma).
   Em notas passadas em sala de aula, explanando sobre o tema em comento, durante o Curso de Especialização em Direito Civil da UFRN, no dia 12-3-91, o Prof. Paulo Lopo Saraiva elencou os seguintes métodos de interpretação:
   1 - Legal. Considera a obscuridade ou a dubiedade do texto da lei, outra norma é editada para aclarar o(s) aspecto(s) controvertido (s). E a interpretação autêntica, à qual nos referimos parágrafos acima.
   II - Doutrinária. Também chamada doutrinal, flui da opinião dos jurisconsultores. Já foi reportada neste trabalho.
   III - Jurisprudencial. Descende da interpretação judicial. É por demais dinâmica, já que é oferecida a casos concretos postos ao julgamento do poder competente, muito embora passível de cristalização, v.g. as súmulas dos Tribunais brasileiros e os precedentes da common law.
   IV - Inventiva. Bem ao gosto dos adeptos do jus faciendi, ao preconizar que ao intérprete é facultado compor as lacunas da norma jurídica, adequando-a ao caso sub studio, demonstra ser muito mais uma técnica de integração da norma de que um meio de interpretação desta.
   V - Estruturante. Busca vivificar a norma de conformidade com o contexto onde a mesma está inserida. Assemelha-se à interpretação sistemática.
   VI - Sociológica. Mira adaptar a norma às reais necessidades sociais e econômicas, contemporâneas à aplicação da lei.
   VII - Do refazimento da norma. Bem assemelhada à inventiva. A interpretação tem o condão de praticamente refazer, recriar a norma, de acordo com o instante sócio-político-econômico da aplicação.
   VIII - Restritiva. Método ou processo de interpretação visto na hermenêutica pelo ângulo do resultado. Segundo Carlos Maximiliano18, o exegeta extrai do texto menos do que a letra da lei - à primeira vista - traduz. Ou seja, “o legislador disse mais do que queria (dixit plus quam voluit) e, então, obriga o intérprete a restringir o sentido da lei”.19
    IX - Ampliativa. Outra que é considerada quanto ao resultado advindo da exegese. E também conhecida como extensiva, ampla, lata, liberal e generosa. Ainda segundo Carlos Maximiliano (ob. op. cit.), extrai do texto mais do que ditam as palavras (dixit minus quam voluit).
   Além dos métodos acima comentados, há outras formas de interpretação contempladas na doutrina, conforme destaque a seguir.
   A interpretação histórica é aquela que toma por base os antecedentes normativos do texto em análise. Cuida o exegeta de estudar, em caso de lei, a exposição de motivos, os debates parlamentares, as disposições internacionais sobre o assunto etc. Presente, passado e futuro, como circunstâncias de tempo, são encaradas pelo intérprete no desenvolvimento do processo cognitivo da norma. Por isso, “difícil seria entender o inteiro significado da lei sem consultar elementos históricos, circunstâncias sociológicas e, ainda, os fatores políticos”, como opina Antônio de Queiroz Filho20. Entretanto, Caio Mario da Silva Pereira diz que não existe esta modalidade de interpretação, havendo sim, “o elemento histórico para coadjuvar o trabalho do intérprete”21, que mesmo sendo de grande valia, não tem autonomia suficiente para figurar como espécie de interpretação.
   É declarativa22 ou declaratória23 a interpretação mais singela, limitada a dizer timidamente o sentido da lei, sem maior aprofundamento do intérprete. E mais invocada para obstar as outras espécies de interpretação, sob o argumento de que o texto da norma já é suficientemente claro. Nesse diapasão, o velho aforismo in claris non fit interpretatio soa mais como “não complique o óbvio”.
   Progressiva é a exegese que catapulta para o futuro o conteúdo da norma. E como explica Eduardo Couture: “o certo é que a lei, uma vez nascida, segue vivendo ao longo do tempo e muito além da significação originária que lhe emprestou o legislador: os atos de responsabilidade, por prejuízos causados pelos automóveis, não estavam na idéia de Portalís; continuamos, entretanto, a nos guiar pelos princípios do Código Napoleônico na determinação dessa responsabilidade”24 .
   A interpretação teleológica, afirmada por Rudolf Von Jering em sua obra O Fim do Direito25, como não poderia ser diferente; mira a compreensão finalística da norma.
   A interpretação ab-rogatória é usada quando presente um conflito entre dispositivos legais. Haverá uma opção do exegeta, conforme veremos oportunamente.
   Posto o inexaurido elenco de métodos, técnicas, processos ou simplesmente elementos de interpretação das normas jurídicas, notadamente as legais, está claro que os exegetas dispõem de um vasto leque de opções para analisar e aflorar o entendimento das ditas regras. Para selecionar, dentre tantos, qual o caminho mais adequado ao desbravamento do real objetivo do texto, é mister que sejam adotados alguns critérios orientadores da opção acertada. Vejamos.
   1 - A interpretação extensiva não se aplica em casos de:
   a)  Normas punitivas, em respeito ao princípio da legalidade, servido do direito natural para o patamar dos princípios constitucionais, exigindo expressa disposição de lei para a configuração delitiva e a respectiva sanção (v.g. CF, art. 50, XXXIX e CP, art. 1º);
   b) Normas de caráter fiscal, notadamente no que diz respeito à suspensão ou à exclusão do crédito tributário; à outorga de isenção; e à dispensa do cumprimento de obrigações tributárias acessórias (CTN, art. 111). Justifica Pontes de Miranda: “o método de fontes e de interpretação das leis tributárias não é precisamente o mesmo método de fontes e interpretação das leis comuns; e a fonte é uma só: a lei. Não há tributo sem lei que o haja estabelecido, respeitados os princípios constitucionais. Não se pode, por meio de analogia, ou de argumentos lógicos, estender o que se editou nas leis. O entendimento é rígido e estreito. A lei tributária limita direitos, impõe deveres. Por outro lado, é da natureza das leis tributárias a precisão, pela taxatividade e pelos elementos matemáticos de que se tem de lançar mão para atingir o patrimônio das pessoas que não são sujeitas às regras jurídicas tributárias”;26
   c)  Normas de caráter excepcional, quais aquelas geradasem momento de crise política ou institucional, bem assim as que excetuam determinados indivíduos ou entidades da órbita da sua abrangência. Também são assim havidas aquelas normas carregadas de especificidade tal, que são imprestáveis à tutela de outros casos que não aqueles norteadores da criação da regra. Exemplo: o decreto de utilidade pública de certo bem, para fins de desapropriação.
        Os romanos resumiam as orientações suso analisadas nas expressões odiosa restringenda efavorabilia amplianda: as normas que criam obrigações devem ser interpretadas restritivamente e as normas que criam faculdades devem ser interpretadas amplamente.
   II - A interpretação extensiva é sugerida nos casos de:
   a) Normas que assegurem direitos, garantias e prerrogativas;
   b) Normas que estabeleçam prazos;
   c)    Normas que favoreçam o poder público, entendido este como autêntico representante dos interesses sociais;
   d)  Normas que têm por objetivo eliminar formalidades, simplificando procedimentos rotineiros; e
   e) Normas que objetivam corrigir defeitos de normas anteriores. São chamadas de corretoras.
   III - A interpretação deve ser estrita:
   a) Para as normas punitivas. “Só o legislador, não o Juiz, pode ampliar o catálogo de crimes inseridos no Código e em leis posteriores”, conforme ensina Carlos Maximiliano27. Ainda segundo este saudoso doutrinador, a vedação da exegese lata em caso de normas punitivas, também é aplicável às disposições apenadoras encartadas no Direito Privado28
   b) Nas normas de caráter fiscal, encaradas sob ângulo da instrumentalização do Estado para arrecadar meios de manutenção das suas outras atividades específicas. Para Carlos Maximiliano29, as normas de natureza fiscal “se aproximam das penais, quanto à exegese; porque encerram prescrições de ordem pública, imperativas ou proibitivas, e afetam o livre exercício dos direitos patrimoniais”. Registre-se, mesmo despiciendo, que a interpretação estrita não se aplica a todas as normas de Direito Tributário, mas somente aquelas impregnadas de inconteste fiscalidade. É a exceção, vez que a regra é a interpretação pós-lógica, também chamada de interpretação moderna por Adilson Gurgel e Carlos Gomes: “aquela interpretação que adota um sistema misto - um somatório de outros métodos, desde o apriorístico - in dubio pro Iege ou in dubio pro jure - o literal (em determinados assuntos) até o teleológico ou finalístico, que se verifica o alcance da norma segundo os fins a que se destina e os benefícios do bem comum - mens Iegis. Essa forma interpretativa atende ao que se convencionou chamar de processo econômico de interpretação
- o intérprete deve levar em conta os efeitos econômicos do ato e não a sua forma jurídica (LICC, art. 5º)”30.
   c) Nas normas de Direito Excepcional, ou seja, de subsunção específica, ao contrário da generalidade da norma, que é a regra.
   IV- Há que ser manejada com reservas a interpretação modificativa, ensejadora da primazia da investigação social do fato e da norma ele adequável, em face do risco que o exegeta impõe ao seu trabalho e ao resultado deste, dando base, não raro, a considerável desvirtuamento da norma.
   V - E comum a interpretação ficar revestida de autêntica função ab-rogatória, guinando o exegeta para uma opção entre normas em conflito. Posto frente ao dilema, poderá o intérprete valer-se das seguintes regras:
   a) Dar prioridade ao dispositvo hierarquicamente superior;
   b) Se as normas conflutantes forem da mesma hierarquia, opta-se pela norma primária. Ex: dar preferência ao caput do artigo, em detrimento dos parágrafos, incisos ou alíneas deste;
   c) Entre uma norma de jus cogens e outra de jus dispositium, prevalece o jus cogens;
   d) Se uma norma é inequívoca e a outra é imprecisa, opta-se pela primeira;
   e) Falhos os critérios anteriores, opte o intérprete pela norma dotada de maior alcance social. 
6- A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
   Linhas acima foi esboçada uma definição de norma constitucional, sendo esta aferível - dentre outros indicadores - pela maior dificuldade que se impõe à sua modificação, em contraponto à relativa facilidade com que são modificados e até mesmo extintas as normas de caráter ordinário.
   Voltada à sustentação do edifício estatal, sem descurar, aí, o enxerto do elemento humano, a norma constitucional requer do exegeta cuidados especiais no seu entendimento. Por isso, opina José Alfredo de Oliveira Baracho31: “os diversos conceitos de Constituição, a natureza específica das disposições fundamentais que estabelecem regras de conduta de caráter supremo e que servem de fundamento e base para as outras normas de ordenamento jurídico, contribuem para as diferenças entre a interpretação jurídica ordinária e a constitucional”. Também é assim o opinamento do Prof. José Augusto Delgado32: “uma metodologia própria deve ser empregada para bem aplicar a norma constitucional, a fim de que se destaque o aspecto de dinamismo criador que ela encerra, na busca de procurar atender ao objeto do Direito Constitucional materializado, positivado, na Lei Maior”.
   Sem descurar do enfoque político-institucional que o intérprete deve fazer valer em seu mister, a exegese constitucional deve mirar, sobremodo, a eficácia social encartada na norma. Afinal, a Constituição é meio e fim, em concomitância, do Estado e da cidadania.
   Para lograr sucesso no haurimento do comando regrador, cumpre ao exegeta, como providência exordial, destacar quais as normas eleitas, no seio do sistema, como principiológicas. Vencida essa fase, há que montar uma malha de indicadores, a nível de princípios, através do qual possam ser pinçadas as normas sub examem (programáticas, de feição ordinária, transitórias, etc), sem provocar ranhuras no arcabouço-mor.
   Vê-se, destarte, a impossibilidade de eleição de um só processo de exegese, quando se cuida de matéria constitucional. Pela largueza nela própria encerrada, e considerando a sua natureza publicística, aplica-se ao tema a lição de Kelsen33, para quem”... a interpretação jurídica científica tem de evitar, com máximo cuidado, a ficção de que uma norma jurídica apenas permite, sempre e em todos os casos, uma só interpretação, a interpretação correta”. 
7- CONCLUSÕES 
   1 - A sensibilidade do exegeta é primordial para a firmação de um liame entre o fato concreto e a norma, esta quase sempre abstrata.
   II - A norma jurídica é um ser lógico, que traça a pauta de comportamento dos súditos do Estado ou da entidade que a proclama, sempre dotada de coercibilidade, quiçá de coercitividade.
   III - A norma jurídica de caráter constitucional, mercê de arcabouçar o Estado, liga este ao Cidadão, servindo ainda de lastro e referencial ao ordenamento jurídico infraconstitucional.
   IV - São normas constitucionais aquelas que estruturam uma sociedade politicamente organizada.
   V - Dentre as normas infraconstitucionais, neste trabalho éenfocada a lei, que existe como norma escrita, originária de poder competente, introdutora de algo novo no sistema jurídico, dotada de obrigatoriedade e coercibilidade.
   VI - A interpretação é a vivificação da norma jurídica.
   VII - A interpretação da norma jurídica pode ser analisada:
   a) quanto à origem; e b) quanto aos elementos.
   VIII - Sine embargo, há outros métodos de interpretação admitidos na hermenêutica.
   IX - Dentre o arsenal de métodos, técnicas, processos ou elementos de exegese, o intérprete deve usar critérios definidos para selecionar o caminho que melhor resultado traga ao seu mister.
   X - Na interpretação das normas constitucionais, deve o exegeta utilizar o processo que aflore a maior utilidade social da norma, sem descurar da natureza político-institucional do comando. 
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