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Consignação em pagamento

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Consignação em Pagamento 
 
 
A consignação é um meio previsto na lei civil colocado à disposição do 
devedor para se desonerar, efetuando o pagamento em determinadas 
situações. 
As hipóteses em que se pode intentar a ação de consignação em 
pagamento estão dispostas no art. 335 do Código Civil. São elas: 
- Recusa do credor em receber ou dar quitação; 
- Impossibilidade do credor receber, por ser este incapaz, desconhecido, 
declarado ausente ou por residir em local incerto, de difícil acesso, ou perigoso; 
- Existir dúvida a respeito de quem deva legitimamente receber; 
- Existir litígio sobre o objeto o pagamento. 
Perceba que, no caso previsto nesta ação, a palavra “pagamento” deve 
ser entendida em sentido amplo, como sendo o adimplemento de uma 
obrigação de dar. Assim sendo, muito embora esta ação seja usada para 
consignar pagamentos em dinheiro, ela pode ser utilizada em quaisquer 
obrigações de dar em que esteja presente qualquer situação das acima 
descritas. É possível, por exemplo, a consignação das chaves a serem 
entregues na devolução de um imóvel locado. 
O procedimento de consignação em pagamento é trazido no novo CPC 
em seus artigos 539 a 549, os quais traremos ao final da exposição. 
Passemos ao exame de algumas questões importantes. 
Primeiramente, é necessário ressaltar que a consignação é possível até 
mesmo nos casos em que o devedor esteja em mora. Para tanto, ao ajuizar a 
ação, deve ele depositar o valor do crédito principal, acrescido de multa, juros e 
correção monetária, da forma pactuada quando firmada a obrigação. 
A consignação também se presta a discutir a legalidade ou validade das 
cláusulas contratuais. Muito embora o objeto da ação seja a quitação da 
obrigação, é admitido, de forma incidental, a discussão dos valores. 
É possível, também, a consignação de prestações periódicas. É comum 
nos casos de consignação de tributos (ISS, ICMS) ou de aluguéis (previsão 
expressa no art. 67 da lei do inquilinato – lei 8.245/91). Nos casos acima 
citados, em que se trata de obrigações com prestações de trato sucessivo, é 
permitido o depósito de cada uma das parcelas da obrigação, desde que 
realizado em até cinco dias contados da data do vencimento. 
Outra possibilidade é o depósito extrajudicial do pagamento. Para tal, é 
necessário o depósito do valor em estabelecimento bancário situado no lugar 
onde o pagamento deveria ocorrer, e cientificar o credor por meio de carta AR 
ou outro meio. Uma vez cientificado, o credor terá 10 (dez) dias para manifestar 
sua recusa, que deve ser fundamentada. e, no caso de recusa, o credor terá 30 
dias para intentar a ação. 
Por fim, cumpre-se falar do procedimento. 
O autor instruirá a petição inicial informando a quantia, indicando como 
chegou a tal valor, com os encargos, o tempo, o modo e as condições de 
pagamento. O autor poderá desde já realizar o depósito do valor, ou aguardar o 
recebimento da petição inicial pelo juiz que, estando tudo em ordem, concederá 
o prazo de 5 (cinco) dias para a efetivação do depósito o que, se não for 
efetivado, importará na extinção da ação. 
Uma vez efetivado o depósito, será promovida a citação do réu. Uma 
vez citado, o réu terá quinze dias para resposta. O ré poderá aceitar o depósito, 
caso em que será decretada a quitação da obrigação e a extinção do processo, 
ou poderá contestar a ação, alegando as seguintes questões: 
- não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; 
- foi justa a recusa; 
- o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; 
- o depósito não é integral. 
Este rol previsto no art. 544 do CPC, não é taxativo. É admitido também 
a reconvenção ou as exceções cabíveis. No caso de levantada a insuficiência 
do depósito, o credor deverá indicar, na peça de defesa, o valor que entende 
devido. 
Por fim, caso a ação seja julgada procedente, a sentença terá natureza 
declaratória, limitando-se a declarar a quitação da obrigação, ou a extinção 
parcial do débito (no caso de insuficiência do depósito). 
Legislação pertinente: 
1) CPC 
Art. 539. Nos casos previstos em lei, poderá o devedor ou terceiro 
requerer, com efeito de pagamento, a consignação da quantia ou da coisa 
devida. 
§ 1o Tratando-se de obrigação em dinheiro, poderá o valor ser 
depositado em estabelecimento bancário, oficial onde houver, situado no lugar 
do pagamento, cientificando-se o credor por carta com aviso de recebimento, 
assinado o prazo de 10 (dez) dias para a manifestação de recusa. 
§ 2o Decorrido o prazo do § 1o, contado do retorno do aviso de 
recebimento, sem a manifestação de recusa, considerar-se-á o devedor 
liberado da obrigação, ficando à disposição do credor a quantia depositada. 
§ 3o Ocorrendo a recusa, manifestada por escrito ao estabelecimento 
bancário, poderá ser proposta, dentro de 1 (um) mês, a ação de consignação, 
instruindo-se a inicial com a prova do depósito e da recusa. 
§ 4o Não proposta a ação no prazo do § 3o, ficará sem efeito o depósito, 
podendo levantá-lo o depositante. 
Art. 540. Requerer-se-á a consignação no lugar do pagamento, 
cessando para o devedor, à data do depósito, os juros e os riscos, salvo se a 
demanda for julgada improcedente. 
Art. 541. Tratando-se de prestações sucessivas, consignada uma delas, 
pode o devedor continuar a depositar, no mesmo processo e sem mais 
formalidades, as que se forem vencendo, desde que o faça em até 5 (cinco) 
dias contados da data do respectivo vencimento. 
Art. 542. Na petição inicial, o autor requererá: 
I - o depósito da quantia ou da coisa devida, a ser efetivado no prazo de 
5 (cinco) dias contados do deferimento, ressalvada a hipótese do art. 539, § 3o; 
II - a citação do réu para levantar o depósito ou oferecer contestação. 
Parágrafo único. Não realizado o depósito no prazo do inciso I, o 
processo será extinto sem resolução do mérito. 
Art. 543. Se o objeto da prestação for coisa indeterminada e a escolha 
couber ao credor, será este citado para exercer o direito dentro de 5 (cinco) 
dias, se outro prazo não constar de lei ou do contrato, ou para aceitar que o 
devedor a faça, devendo o juiz, ao despachar a petição inicial, fixar lugar, dia e 
hora em que se fará a entrega, sob pena de depósito. 
Art. 544. Na contestação, o réu poderá alegar que: 
I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou a coisa devida; 
II - foi justa a recusa; 
III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do pagamento; 
IV - o depósito não é integral. 
Parágrafo único. No caso do inciso IV, a alegação somente será 
admissível se o réu indicar o montante que entende devido. 
Art. 545. Alegada a insuficiência do depósito, é lícito ao autor completá-
lo, em 10 (dez) dias, salvo se corresponder a prestação cujo inadimplemento 
acarrete a rescisão do contrato. 
§ 1o No caso do caput, poderá o réu levantar, desde logo, a quantia ou a 
coisa depositada, com a consequente liberação parcial do autor, prosseguindo 
o processo quanto à parcela controvertida. 
§ 2o A sentença que concluir pela insuficiência do depósito determinará, 
sempre que possível, o montante devido e valerá como título executivo, 
facultado ao credor promover-lhe o cumprimento nos mesmos autos, após 
liquidação, se necessária. 
Art. 546. Julgado procedente o pedido, o juiz declarará extinta a 
obrigação e condenará o réu ao pagamento de custas e honorários 
advocatícios. 
Parágrafo único. Proceder-se-á do mesmo modo se o credor receber e 
der quitação. 
Art. 547. Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o 
pagamento, o autor requererá o depósito e a citação dos possíveis titulares do 
crédito para provarem o seu direito. 
Art. 548.No caso do art. 547: 
I - não comparecendo pretendente algum, converter-se-á o depósito em 
arrecadação de coisas vagas; 
II - comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano; 
III - comparecendo mais de um, o juiz declarará efetuado o depósito e 
extinta a obrigação, continuando o processo a correr unicamente entre os 
presuntivos credores, observado o procedimento comum. 
Art. 549. Aplica-se o procedimento estabelecido neste Capítulo, no que 
couber, ao resgate do aforamento. 
 
2) Lei do Inquilinato 
 
Da Ação de Consignação de Aluguel e Acessórios da Locação 
 Art. 67. Na ação que objetivar o pagamento dos aluguéis e 
acessórios da locação mediante consignação, será observado o seguinte: 
 I - a petição inicial, além dos requisitos exigidos pelo art. 282 do 
Código de Processo Civil, deverá especificar os aluguéis e acessórios da locação 
com indicação dos respectivos valores; 
 II - determinada a citação do réu, o autor será intimado a, no prazo 
de vinte e quatro horas, efetuar o depósito judicial da importância indicada na 
petição inicial, sob pena de ser extinto o processo; 
 III - o pedido envolverá a quitação das obrigações que vencerem 
durante a tramitação do feito e até ser prolatada a sentença de primeira 
instância, devendo o autor promover os depósitos nos respectivos 
vencimentos; 
 IV - não sendo oferecida a contestação, ou se o locador receber os 
valores depositados, o juiz acolherá o pedido, declarando quitadas as 
obrigações, condenando o réu ao pagamento das custas e honorários de vinte 
por cento do valor dos depósitos; 
 V - a contestação do locador, além da defesa de direito que possa 
caber, ficará adstrita, quanto à matéria de fato, a: 
 a) não ter havido recusa ou mora em receber a quantia devida; 
 b) ter sido justa a recusa; 
 c) não ter sido efetuado o depósito no prazo ou no lugar do 
pagamento; 
 d} não ter sido o depósito integral; 
 VI - além de contestar, o réu poderá, em reconvenção, pedir o 
despejo e a cobrança dos valores objeto da consignatória ou da diferença do 
depósito inicial, na hipótese de ter sido alegado não ser o mesmo integral; 
 VII - o autor poderá complementar o depósito inicial, no prazo de 
cinco dias contados da ciência do oferecimento da resposta, com acréscimo de 
dez por cento sobre o valor da diferença. Se tal ocorrer, o juiz declarará 
quitadas as obrigações, elidindo a rescisão da locação, mas imporá ao autor-
reconvindo a responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios de vinte 
por cento sobre o valor dos depósitos; 
 VIII - havendo, na reconvenção, cumulação dos pedidos de 
rescisão da locação e cobrança dos valores objeto da consignatória, a 
execução desta somente poderá ter início após obtida a desocupação do 
imóvel, caso ambos tenham sido acolhidos. 
 Parágrafo único. O réu poderá levantar a qualquer momento as 
importâncias depositadas sobre as quais não penda controvérsia. 
 
3) Código Civil 
Do Pagamento em Consignação 
Art. 334. Considera-se pagamento, e extingue a obrigação, o depósito 
judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, nos casos e forma 
legais. 
Art. 335. A consignação tem lugar: 
I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o 
pagamento, ou dar quitação na devida forma; 
II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e 
condição devidos; 
III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado 
ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; 
IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto 
do pagamento; 
V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 
Art. 336. Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister 
concorram, em relação às pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os 
requisitos sem os quais não é válido o pagamento. 
Art. 337. O depósito requerer-se-á no lugar do pagamento, cessando, 
tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos, salvo se 
for julgado improcedente. 
Art. 338. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o 
impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas 
despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito. 
Art. 339. Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá 
levantá-lo, embora o credor consinta, senão de acordo com os outros 
devedores e fiadores. 
Art. 340. O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, 
aquiescer no levantamento, perderá a preferência e a garantia que lhe 
competiam com respeito à coisa consignada, ficando para logo desobrigados 
os co-devedores e fiadores que não tenham anuído. 
Art. 341. Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser 
entregue no mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir 
ou mandar recebê-la, sob pena de ser depositada. 
Art. 342. Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será 
ele citado para esse fim, sob cominação de perder o direito e de ser depositada 
a coisa que o devedor escolher; feita a escolha pelo devedor, proceder-se-á 
como no artigo antecedente. 
Art. 343. As despesas com o depósito, quando julgado procedente, 
correrão à conta do credor, e, no caso contrário, à conta do devedor. 
Art. 344. O devedor de obrigação litigiosa exonerar-se-á mediante 
consignação, mas, se pagar a qualquer dos pretendidos credores, tendo 
conhecimento do litígio, assumirá o risco do pagamento. 
Art. 345. Se a dívida se vencer, pendendo litígio entre credores que se 
pretendem mutuamente excluir, poderá qualquer deles requerer a consignação.

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