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Introdução a Filosofia

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FILOSOFIA 
Renan Costa Valle Scarano
A filosofia analítica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Listar os elementos filosóficos analíticos.
  Analisar questões por meio da filosofia.
  Definir validade e verdade para a filosofia.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar a filosofia analítica. Você vai conhecer o 
contexto filosófico em que surge tal movimento, os elementos da filosofia 
analítica e os seus principais filósofos.
A filosofia analítica é um movimento filosófico surgido no século XX 
no contexto anglo-saxão. Tal vertente utiliza a análise como principal 
ferramenta para estudos filosóficos. Nesse sentido, a filosofia analítica 
aborda os significados e os conceitos; portanto, a linguagem aparece 
como o foco central dessa vertente.
Elementos da filosofia analítica
D’Agostini (2003) caracteriza como árdua a tarefa de falar sobre a fi losofi a 
a partir do século XX. A autora aponta três pontos para fundamentar a sua 
afi rmação: em primeiro lugar, existem muitas fi losofi as; em segundo lugar, 
tem-se falado muito em fi losofi a aplicada, ou seja, fi losofi a política, fi losofi a 
da ciência, fi losofi a da lógica, fi losofi a da religião, etc.; e, em terceiro lugar, 
há a suspeita de que aquilo que se entende por fi losofi a seja um resíduo inútil 
da cultura ocidental, um tipo de discurso excêntrico.
Assim, como pontua D’Agostini (2003), o campo filosófico contemporâneo é 
um vasto espaço em que coexistem diversos saberes. Há, no cenário filosófico, 
sobretudo a partir dos anos 1960, uma pluralidade de filosofias e perspectivas 
teóricas. Nesse período, são publicadas algumas obras que evidenciam essa 
pluralidade no campo filosófico: Verdade e método (1960), de H. G. Gadamer; 
A estrutura das revoluções científicas (1962), de T. Kuhn; Palavra e objeto (1960), 
de W. Quine; Estruturas sintáticas (1957), de N. Chomsky; Como fazer coisas 
com as palavras (1960), de J. L. Austin; A caminho para a linguagem (1959), 
de M. Heidegger; História e crítica da opinião pública (1962), de J. Habermas; 
A ideia de ciência social e as suas relações com a filosofia (1958), de P. Winch.
Essa pluralidade de filosofias reflete as muitas tendências de se pensar o 
presente. Entre elas, pode-se destacar: a filosofia analítica, a hermenêutica, a 
teoria crítica, o pós-estruturalismo e a epistemologia pós-positivista em suas 
várias expressões. O ponto em comum entre essas abordagens é o primado da 
esfera prática sobre a teórica. Nessa perspectiva, a filosofia analítica é herdeira 
do neopositivismo, do pragmatismo e da tradição analítica inglesa. Portanto, ela 
aparece como um modo próprio de conceber a filosofia, uma práxis filosófica que 
busca uma filosofia científica fundamentada na lógica, nos resultados das ciên-
cias naturais e exatas (D’AGOSTINI, 2003). Nesse sentido, a filosofia analítica 
possui três características: ela vê a filosofia como uma análise, possui a lógica 
e a análise como conceitos pressupostos na linguagem e está ligada à tradição 
empirista anglo-saxônica (sobretudo àquela formada em Oxford e Cambridge).
Para Costa (1992), a filosofia analítica ou filosofia analítica da linguagem é 
uma denominação genérica de certa maneira de se fazer filosofia. A filosofia 
analítica, assim como a filosofia tradicional, também se pergunta sobre o 
conhecimento, a verdade, a existência, a liberdade e o bem. Trata-se de uma 
interrogação acerca das coisas, dos conceitos, das ideias.
Nessa perspectiva, é possível considerar Platão e seu interesse por buscar a 
hierarquia das ideias entre si; para ele, a ideia de bem encontrava-se no ápice. Já 
Aristóteles questionava as diferentes maneiras como o “ser” pode ser dito. Por 
sua vez, Descartes buscava saber que entidade seria aquela de cuja existência 
o indivíduo não pode duvidar; para ele, a certeza da existência de tal entidade 
forneceria um fundamento seguro para o edifício do conhecimento. Por fim, 
Kant questionava-se como o próprio conhecimento era possível (COSTA, 1992).
Contudo, a filosofia analítica possui um modo próprio de tratar desses 
problemas filosóficos:
A filosofia analítica possui um novo paradigma de clareza e de rigor me-
todológico, capaz de evitar certos erros por vezes cometidos pela filosofia 
tradicional. Este paradigma [...] se evidencia no modo de questionamento que 
coloca a linguagem no centro das atenções (COSTA, 1992, p. 14).
Desde a sua origem, na Grécia Antiga, a filosofia fez perguntas cujo ponto 
de partida eram questões substantivas fundamentais. O campo de possíveis 
A filosofia analítica2
questões filosóficas era centrado e organizado (TUGENDHAT, 1992). No 
campo da filosofia analítica, argumenta Tugendhat (1992), a questão subs-
tantiva não é considerada um ponto central para o filosofar. O autor sugere 
que a filosofia analítica da linguagem refere-se a um modo específico de se 
fazer filosofia, “[...] que inclui a crença de que todos os problemas de filosofia 
podem ser resolvidos, ou devam ser resolvidos, por meio de uma análise da 
linguagem” (TUGENDHAT, 1992, p. 16).
Portanto, para a filosofia analítica, a questão central não é “o que é”. 
Para ela, é necessário deter-se no significado ou na forma como são usadas 
as palavras. Os conceitos, nessa perspectiva, precisam ser clarificados, elu-
cidados e analisados; para isso, existem certas técnicas. Dessa maneira, em 
vez de perguntar-se o que é conhecimento, a filosofia analítica questiona: o 
que significa a palavra “conhecimento”? Como ela é usada? (COSTA, 1992).
Em suma, a filosofia analítica procura resolver os problemas filosóficos 
por meio de uma análise da linguagem. Analisar significa decompor em 
partes, dividir, desmembrar um conceito em outros conceitos ou caracte-
rísticas que o constituem (COSTA, 1992). Considere o exemplo do conceito 
de triângulo:
O triângulo é uma figura geométrica fechada, constituída de três linhas retas. 
O conceito de figura geométrica fechada e o conceito de linha reta são carac-
terísticas constitutivas do conceito de triângulo, sendo, em algum sentido, 
pensados quando pensamos este último (COSTA, 1992, p. 22).
O filósofo Wittgenstein (1889–1951), em sua obra Tractactus logico-phi-
losophicus (1961), inicia o seu filosofar da seguinte maneira:
  “O mundo é tudo o que ocorre [acontece]” — definição de mundo;
  “O que ocorre, o fato, é o subsistir dos estados de coisas” — definição 
de acontecimento.
Nesses termos, Wittgenstein explica alguns conceitos abstratos, como: fato, 
caso e estado de coisas. Tais conceitos são esclarecidos pelas conexões lógicas 
que têm entre si (COSTA, 1992). Conforme Oliveira (2001), os interesses de 
Wittgenstein, tanto em sua primeira fase como na fase que inicia a partir das 
Investigações, são a linguagem e o pensamento. Nesse sentido, cabe a questão: 
o que é linguagem? O que é pensar? Qual é a relação entre pensar e falar? Em 
que sentido um sinal expressa um pensamento? Essas são questões sobre as 
quais Wittgenstein se debruça.
3A filosofia analítica
A linguagem possui uma função a cumprir nas relações intersubjetivas. 
Para cumprir essa função, questiona Oliveira (2001), que estrutura devem ter 
o mundo e a linguagem? Entra em cena a função designativa, instrumentalista 
e comunicativa da linguagem. Para Wittgenstein, “[...] a linguagem figura o 
mundo sobre o qual ela fala e a respeito do qual nos informa” (OLIVEIRA, 
2001, p. 96). Wittgenstein defende que o mundo é a totalidade dos fatos, e 
não das coisas. Para ele, o sentido de uma frase é resultado da associação 
das significações de seus elementos. Ou seja, o elemento de uma frase só é 
elemento, ele não tem sentido fora da frase. A filosofia analítica concentra-se 
na análise da linguagem, uma análise que esmiúça e decompõe aquilo que se 
apresenta (D’AGOSTINI, 2003).
Questões de filosofia analítica
Se você buscar uma origem para o movimento analítico, vai se deparar com o 
positivismo lógico ou neopositivismo,no centro europeu dos anos 1910 a 1930. 
Também vai encontrar o trabalho dos primeiros analistas de Cambridge, que 
são Bertrand Russell (1872–1970) e George Edward Moore (1873–1958). O 
que dirige o trabalho dos fi lósofos analíticos é a linguagem e o pensamento. 
Adiciona-se a eles a relação dos fi lósofos com a lógica, com vários campos da 
linguística e com as ciências cognitivas (D’AGOSTINI, 2003).
Entre as análises realizadas na filosofia analítica, destacam-se: análises de 
orientação lógico-linguística; análises de prevalência psicológico-cognitiva; e 
análises aplicadas, “[...] que se ocupa[m] tanto de problemas lógicos ou psico-
lógicos quanto dos problemas da justiça, da política, da ética” (D’AGOSTINI, 
2003, p. 288). O empirismo britânico, a lógica formal, as ciências naturais e a 
matemática aparecem como as matrizes que impulsionam a filosofia analítica 
(SCHWARTZ, 2017). Ressaltando o enfoque filosófico sobre a linguagem, 
Marcondes (1997) pontua que ela ganha destaque na passagem do século XIX 
para o XX. Considere o seguinte:
É significativo, portanto, que a questão sobre a natureza da linguagem, sobre 
como a linguagem fala do real, sobre o sentido dos signos e proposições lin-
guísticas, emerja como um problema central na filosofia e em outras áreas 
do saber [...] em várias correntes teóricas que, embora apresentem diferentes 
formas de tratamento dessa questão, compartilham o ponto de partida comum 
na linguagem (MARCONDES, 1997, p. 285).
A filosofia analítica4
Marcondes (1997, p. 285) ainda destaca que uma das teorias que refletem 
esse enfoque na linguagem é a filosofia analítica:
Na Alemanha e posteriormente na Inglaterra, [há] o desenvolvimento da ló-
gica matemática, que se inspira em parte em Leibniz, e da filosofia analítica 
da linguagem, com Gottlob Frege (Conceitografia, 1879), Bertrand Russell 
(Princípios de matemática, 1903, e Principia mathematica, 1910, com A.N. 
Whitehead) e Ludwig Wittgenstein (Tractatus logico-philosophicus, 1921).
Nos Estados Unidos, Charles Peirce (1839–1914) aborda a semiótica em sua 
teoria geral dos signos, em que expõe a sua concepção pragmática de ciência. 
Em seu pensamento, o filósofo defende que as hipóteses verdadeiras são as 
que originam os melhores resultados (MARCONDES, 1997). Portanto, Peirce 
aponta para a questão pragmática da filosofia.
Há também o positivismo lógico do Círculo de Viena e a sua concepção de 
fundamentação do conhecimento científico na lógica das teorias científicas, 
com Rudolph Carnap (A estrutura lógica do mundo, 1928, e A sintaxe lógica da 
linguagem, 1934) e Moritz Schlick (com o artigo “Significado e verificação”, 
1936) (MARCONDES, 1997). De 1926 a 1930, na cidade de Viena, um grupo 
de professores e cientistas fundou uma sociedade cuja finalidade era o estudo 
do conhecimento científico e de seus métodos. Entre os principais membros 
desse grupo estão: Moritz Schlick, P. Franck, Otto Neurath e Rudolf Carnap 
(BUSSOLA, 2000).
Reale e Antiseri (2006a) defendem que a filosofia analítica é um movimento 
surgido em Oxford e Cambridge. Em Cambridge, os autores apontam três fi-
lósofos como os grandes iniciadores, do ponto de vista teórico, do movimento. 
São eles: Russell, Moore e Wittgenstein. Os principais pontos das filosofias 
desses pensadores são: de Russell, suas abordagens a respeito da linguagem da 
ciência e da lógica; de Wittgenstein, o princípio de uso e a teoria dos jogos; de 
Moore, a base da filosofia analítica de Cambridge (REALE; ANTISERI, 2006a).
Gottlob Frege (1848–1925) e Russell despontam como os dois pilares desse 
movimento filosófico analítico. Russell, entre 1899 e 1900, adota em seu pensa-
mento a filosofia do atomismo lógico e a técnica de Peano na lógica matemática. 
Giussepe Peano (1858–1932) foi um matemático italiano que objetivava expressar 
toda a matemática em termos de um cálculo lógico. O sistema axiomático de Peano 
consta de cinco axiomas, “[...] formulados com a ajuda de três primitivos, que 
são: número, zero, sucessor imediato de” (REALE; ANTISER, 2006b, p. 100). 
A intenção de Peano era reduzir a aritmética comum a um puro simbolismo formal:
5A filosofia analítica
O atomismo lógico pretendia ser uma filosofia emergente da simbiose entre 
um empirismo radical e uma lógica perspicaz. A lógica oferece as formas-
-padrão do raciocínio correto e o empirismo oferece as premissas, que são 
proposições atômicas ou proposições complexas, construídas a partir das 
primeiras (REALE; ANTISERI, 2006a, p. 297).
De acordo com essa lógica, uma proposição atômica descreve um fato, 
afirma que determinada coisa possui uma qualidade ou que possui certa 
relação. O fato atômico é aquele que torna verdadeira ou falsa uma proposição 
atômica (REALE; ANTISERI, 2006a).
Outro dado importante sobre Russell é a publicação de sua obra Os prin-
cípios da matemática, de 1910, em que o filósofo pretende mostrar que toda 
matemática procede da lógica simbólica. Pode-se dizer também que há uma 
proximidade entre a lógica proposta por Russell e as ideias do matemático 
Frege. Em ambos, há uma sustentação do realismo platônico para os objetos da 
matemática; lê-se que os números, as classes e as relações possuem existência 
independente do sujeito e da experiência (REALE; ANTISERI, 2006a).
Russell realiza uma rigorosa análise da linguagem sob a óptica da lógica. 
Ele preocupou-se com a relação entre a linguagem e os fatos. Reale e Antiseri 
(2006a) ainda apontam para o fato de que Russell levantou duas acusações 
contra a filosofia analítica. A primeira é que ela pratica certo culto ao uso da 
linguagem; por outro lado, a filosofia analítica, em vez de buscar o sentido das 
coisas e da realidade, preocupa-se de modo estéril com o sentido das palavras.
Frege, também considerado um dos pilares da filosofia analítica, contrapõe 
a sua lógica simbólica ao silogismo de Aristóteles. Nesse sentido, os conceitos 
de sujeito e predicado são substituídos pelos de argumento e função. Esse 
empreendimento realizado por Frege busca também reduzir os axiomas da 
matemática à lógica simbólica (SCHWARTZ, 2017). Para Miguens (2007, p. 
84), a preocupação teórica de Frege é com o pensamento e com a verdade, e 
não com a linguagem ela própria e por si mesma:
Para Frege, a linguagem, e muito especialmente a linguagem natural, é ape-
nas um “meio” de expressão do pensamento, e um meio que frequentemente 
obscurece este. Frege admite no entanto que não há outra forma de aceder ao 
pensamento que não seja a linguagem.
Desse ponto de vista, Frege não se diferencia da filosofia tradicional de 
Platão, Aristóteles, Descartes ou Kant. Contudo, o que traz de novo “[...] é 
a ideia de concentrar as investigações filosóficas na linguagem e a ideia de 
usar meios lógicos para fazê-lo. Para além do mais, desenvolve ele próprio um 
A filosofia analítica6
sistema lógico para apoiar tais investigações” (MIGUENS, 2007, p. 84). Já o 
filósofo Moore desenvolve uma filosofia centrada na rejeição ao idealismo e 
na veracidade do senso comum. Moore escreveu, em 1903, Principia Ethica, 
em que combate a falácia naturalista que diz que o bem é uma qualidade 
observável nas coisas; para o filósofo, não há como definir o bem (REALE; 
ANTISERI, 2006a).
Outro filósofo que se destaca em Cambridge é Wittgenstein. Em 1921, 
escreve Tractatus logico-philosophicus, obra que influenciou os neopositivistas 
do círculo de Viena. Veja algumas ideias centrais do Tractatus:
1. O mundo é tudo o que ocorre. 1.1 O mundo é a totalidade dos fatos, não das 
coisas. 1.11 O mundo é determinado pelos fatos e por isto consiste em todos os 
fatos. [...] 3. Pensamento é a figuração lógica dos fatos [...] 3.01 A totalidade 
dos pensamentos verdadeiros é figuração do mundo. 3.02 O pensamento 
contém a possibilidade da situação que ele pensa. O que é pensável também 
é possível (WITTGENSTEIN, 1961, p. 61).
De acordo com Reale e Antiseri (2006a), o Tractatus defende que a teoria da 
realidade corresponde à teoria da linguagem, pois Wittgensteinfaz da linguagem 
uma representação projetiva da realidade. Para Wittgenstein, as pessoas fazem 
representações dos fatos; logo, se a representação é um modelo de realidade, 
o que a representação deve ter em comum com a realidade é a forma de sua 
representação (REALE; ANTISERI, 2006a). Há uma estrutura lógica nas propo-
sições que representam a realidade e, assim, cada elemento que constitui o real 
corresponde a um elemento no pensamento (REALE; ANTISERI, 2006a). Assim, 
a linguagem é, dessa óptica, formada por proposições complexas (moleculares), 
que podem ser divididas entre atômicas ou simples: “O nome significa o objeto. 
O objeto é seu significado” (REALE; ANTISERI, 2006a, p. 310).
Considere a seguinte frase: “Sócrates é ateniense”. Essa é uma proposição atômica, pois 
descreve o fato (atômico) de Sócrates ser ateniense. Mas a frase “Sócrates é ateniense 
e mestre de Platão” é uma proposição molecular. Portanto, a proposição atômica é a 
menor entidade linguística da qual se pode proclamar o verdadeiro ou o falso. É o fato 
atômico que torna verdadeira ou falsa uma proposição atômica. Já o fato molecular 
é uma combinação de fatos atômicos que torna verdadeira ou falsa uma proposição 
molecular (REALE; ANTISERI, 2006a).
7A filosofia analítica
Quando Wittgenstein retorna para dar aulas em Cambridge, em meados 
de 1929, a sua filosofia não é mais centrada nas ideias do Tractatus. O autor 
escreve uma série de obras que criticam as interpretações que veem a lingua-
gem como um conjunto de nomes que denominam ou designam os objetos. 
Nesse novo período, Wittgenstein trabalha com a ideia de que a linguagem é 
um conjunto de jogos, os chamados jogos de linguagem. Portanto, há uma 
significativa alteração do pensamento de Wittgenstein: no Tractatus, o filósofo 
aborda a forma geral da proposição, enquanto no período das Investigações 
filosóficas ele trata de jogos de linguagem.
Nesse seu segundo momento filosófico, Wittgenstein defende que o signi-
ficado de uma palavra é o seu uso. Por sua vez, o uso possui regras, e seguir 
uma regra equivale a seguir uma ordem. Portanto, ao dar uma ordem ou ao 
acatá-la, ao jogar uma partida de xadrez, as pessoas constroem usos, hábitos. 
As regras que as pessoas seguem para se comunicar são públicas (REALE; 
ANTISERI, 2006a). Wittgenstein traz uma questão para a filosofia analítica 
da linguagem: o cotidiano. Ele argumenta que a linguagem opera sobre o 
fundo das necessidades humanas. Daí que o significado de uma palavra seja 
o seu uso. “Não busqueis o significado, buscai o uso” (REALE; ANTISER, 
2006a, p. 314), dizia Wittgenstein, contrariando a própria tradição da filosofia 
analítica que buscava o significado da linguagem.
Outra universidade que se destaca na tradição da filosofia analítica anglo-
-saxã é Oxford. Nesse contexto, cabe destacar dois pensadores que criam 
as bases da filosofia analítica em Oxford: Gilbert Ryle (1900–1976) e John 
L. Austin (1911–1960). Também é necessário levar em conta Ferdinand de 
Saussure, linguista e filósofo suíço cuja obra é tida como marco inicial da 
ciência moderna da linguagem, a linguística. A sua doutrina concentra-se no 
Curso de linguística geral, publicado em 1916; a obra é resultado dos escritos 
de alunos que assistiam às aulas de Saussure.
Castim (2017, p. 85) comenta o seguinte sobre a contribuição de Saussure 
para os estudos da linguagem: “[...] o signo linguístico possui um lado mental 
e um lado social, visto que sempre forma um sistema inserido dentro de uma 
sociedade”. A primeira concepção sobre signo é que ele expressa uma ideia, 
um conceito, um significado de algo. Essa concepção está na mente de cada 
indivíduo de uma sociedade. Logo, a linguagem exterioriza algo interior; ou 
seja, o sujeito, quando menciona algo por meio da fala, já tem uma ideia (na 
mente) sobre aquilo que está nomeando. Portanto, há um uso social da lingua-
gem, há uma interação, visto que o sujeito que fala é compreendido pelo que 
ouve, pois ambos possuem a ideia daquilo que está sendo comunicado. Dessa 
A filosofia analítica8
maneira, pode-se concluir que os signos linguísticos pressupõem sempre os 
seus usuários e são constituídos por eles e para eles (CASTIM, 2017).
A partir dos anos 1940, com Wittgenstein e Austin, tem-se uma nova 
concepção sobre a linguagem. Nesse viés, a ciência é vista como uma das 
formas possíveis na relação com o real (CASTIM, 2017). A linguagem é 
encarada como uma prática social e, portanto, deve ser analisada em seu uso. 
Nessa perspectiva, há uma virada na forma como a linguagem é captada, 
da semântica à pragmática. Daí que Wittgenstein desenvolve a sua teoria 
sobre os jogos de linguagem e Austin propõe os atos de fala: “A linguagem 
tem, pois, segundo essa concepção, um caráter performativo, pois é por 
meio dela que realizamos uma série de atos, como prometer, ordenar, pedir, 
eleger, nomear — todos verbos performativos” (AUSTIN apud CASTIM, 
2017, documento on-line).
Para os pragmáticos da linguagem, isto é, para aqueles que pensam a 
linguagem por meio de seu uso, o significado da linguagem não decorre 
de objetos já com significados implícitos, mas deve decorrer do uso que é 
feito dela, das possibilidades ou regras que determinam a sua utilização. 
Nesse sentido, o significado é reconstituído no uso que é feito da linguagem 
(CASTIM, 2017). Os atos de fala realizam, pois, aquilo que está sendo feito; 
portanto, são pragmáticos.
Com relação à teoria dos atos de fala de Austin, Castim (2017) explica 
que dizer algo equivale a três atos simultâneos: ato locutório (baseado nos 
níveis fonético, sintático e referencial); ato ilocutório (aquele que possui força 
performativa, indica como o dizer é recebido em função da força com que 
é proferido) e ato perlocutório (equivale aos efeitos causados sobre o outro, 
como influenciar o outro, persuadi-lo, etc.). Austin também classifica os atos 
performativos em seis tipos, como você pode ver a seguir.
  Os atos assertivos “[...] são aqueles que se usam para representar 
fatos ou situações que o interlocutor pode comprovar” (CASTIM, 
2017, documento on-line), por exemplo, “[...] as árvores florescem 
na primavera”.
  Os atos diretivos indicam como proceder em determinada situação e 
são expressos em frases interrogativas ou imperativas, por exemplo, 
“você sabe ler?” ou “escute essa música”.
  Os atos compromissivos são os que “[...] revelam um compromisso/
disposição ao enunciador em agir ou proceder em conformidade com o 
conteúdo proposicional da frase” (CASTIM, 2017, documento on-line). 
9A filosofia analítica
Esses atos são realizados no prejuízo ou pelo interesse do interlocutor 
(“amanhã eu lhe adianto o salário”) ou em forma de ameaça (“se você 
não terminar até amanhã, não lhe pagarei”).
  Os atos expressivos são os que expressam congratulações, condolências.
  Os atos declarativos são atos pelos quais é possível modificar um estado 
de coisas no mundo, por exemplo, as sentenças dos juízes.
  Os atos interjeitivos “[...] referem-se a palavras ou palavra (frase de 
situação), realizando típicos atos de fala diretivos ou expressivos” 
(CASTIM, 2017, documento on-line).
Ao lado de Austin, Gilbert Ryle também dominou a cena da filosofia 
analítica em Oxford. Ryle estudou os positivistas lógicos, entre eles o pri-
meiro Wittgenstein. Em sua obra Categorias, de 1937, Ryle sustenta que 
a tarefa do filósofo é debruçar-se sobre a linguagem para “[...] descobrir, 
corrigir e prevenir os erros lógicos, ou erros categoriais, que consistem em 
atribuir um conceito a uma categoria à qual ele efetivamente não pertence, 
mas que apresenta com ela unicamente afinidades gramaticais” (REALE; 
ANTISERI, 2006a, p. 325).
Ryle, em sua filosofia, distinguiu o uso da linguagem comum do uso 
comum da linguagem. Em sua obra Conceito de espírito (1949), ele analisou a 
noção de espírito e mostrou que, “[...] para entender e esclarecer as expressões 
da linguagem comum em que essa noção aparece, não há necessidade de 
afirmara realidade substancial da alma nem de admitir que a consciência 
constitui um acesso privilegiado a essa realidade” (ABBAGNANO, 2007, 
p. 329). Por meio da análise da linguagem comum, busca-se esclarecer 
situações recorrentes do cotidiano (portanto, comuns) em que toda pessoa 
pode se encontrar.
A definição de validade e verdade para 
a filosofia analítica
A fi losofi a tem tratado do tema da verdade desde os primeiros pensadores. 
Assim, a verdade tem entrado na discussão dos fi lósofos tanto no âmbito da 
metafísica quanto na esfera do conhecimento. Isso ocorre ao menos desde 
Parmênides, fi lósofo pré-socrático que falava da verdade enquanto aletheia, 
isto é, verdade desvelada. No poema intitulado Da Natureza, Parmênides 
narra que um jovem é conduzido à presença de uma deusa que o convida a 
trilhar um caminho. A divindade fala a Parmênides:
A filosofia analítica10
Vem, agora, vou dizer-te — e tu presta atenção às minhas palavras e guarda-
-as em ti mesmo — as duas únicas vias de procura que se podem conceber. 
A primeira, a saber, que o ser é e que é impossível para ele não ser, é a via na 
qual se deve confiar, pois segue a Verdade. A segunda, a saber, que o ser não 
é e que o não-ser é necessário, esta via, eu te digo, é um caminho onde não 
se encontra nada em que se possa confiar (BRUN, 1991, p. 62).
Platão, no mito da caverna, no livro 7 de A República, traz à tona o en-
tendimento de que os homens vivem sob as sombras e não enxergam a luz da 
verdade. Os homens que estão no interior da caverna tomam como sua realidade 
as sombras refletidas nas paredes. Assim, a luz do dia não é contemplada 
por eles. Enxergar a realidade das coisas, alcançar a ideia delas, é alcançar a 
verdade. O homem que se liberta dos grilhões e sai da caverna enxerga a luz 
do sol, a luz da verdade, que mostra como as coisas são. Ou seja, as coisas são 
desveladas; assim, novamente tem-se a ideia de verdade e desvelamento. No 
entanto, Platão soma à discussão sobre a verdade o tema da paideia (formação 
do homem grego) (COSTA, 2010). Nesse sentido, o homem que se liberta das 
trevas e dos grilhões que o mantinham preso na caverna sai, vê a luz do sol 
(verdade) e retorna para trazer esse conhecimento para os outros homens que 
não saíram das trevas e que continuaram a encarar as sombras do real como 
se fossem a própria realidade.
Tomás de Aquino (1225–1274), filósofo medieval, também discorreu sobre 
a questão da verdade. Para o filósofo cristão, a realidade é uma criação, ou 
seja, há um criador, um Ser, que o pensamento cristão designa pelo nome de 
Deus. O tema da verdade é discutido por Tomás em sua grande obra Suma 
Teológica, na parte intitulada “Questões discutidas sobre a Verdade”. A verdade 
se encontra presente na coisa ou no intelecto? Essa é a questão que Tomás 
tenta responder. Nesse sentido, ele não adota nenhuma postura que indique 
que a verdade está no intelecto ou na coisa. Tomás faz uma espécie de síntese, 
da seguinte maneira:
Chamamos verdade, diz ele [Tomás], aquilo a que tende o intelecto e o conhe-
cimento consiste em que o conhecido está naquele que conhece — cognitum 
in cognoscente, ao oposto do ato de desejar que termina naquilo que o atrai. 
A consequência: o bem está na coisa que se deseja, enquanto o verdadeiro 
está no intelecto, na medida em que se conforma com a coisa conhecida 
(CAMELLO, 2009, documento on-line).
Desse modo, a verdade, para Tomás de Aquino, é uma adequação do 
intelecto à coisa. Já na Modernidade, Descartes também traz a questão da 
verdade como elemento-chave do pensamento filosófico. Descartes constrói 
11A filosofia analítica
seus argumentos a partir de uma verdade indubitável, trata-se do “penso, logo 
existo”. Com isso, o pensador francês fundamenta que a verdade se inicia na 
mente, e não na natureza das coisas. No livro quarto do Discurso do Método, 
Descartes afirma que o seu desejo na investigação filosófica é “[...] dedicar-me 
apenas à pesquisa da verdade” (DESCARTES, 2004, p. 61). A verdade, para 
ele, é resultante da razão, a razão é evidente: “A razão não sugere que tudo 
quanto vemos ou imaginamos seja verdadeiro, mas nos sugere realmente que 
todas as nossas ideias ou noções devem conter algum fundamento de verdade” 
(DESCARTES, 2004, p. 68).
Em Kant (1724–1804), a questão da verdade também “[...] não tem mais 
seu fundamento nas coisas, com referência às quais um juízo da inteli-
gência se estabelece na divisão ou composição, mas é uma pura relação 
imanente da inteligência” (CAMELLO, 2009, documento on-line). Assim, 
explica Camello (2009, documento on-line), na Lógica, Kant define “[...] 
a verdade formal como a concordância do conhecimento consigo mesmo 
e, na Crítica da Razão Pura, entende a verdade como a concordância do 
conhecimento com seu objeto, ou, melhor dizendo, o acordo do juízo com 
as leis imanentes da razão”.
A verdade está na coisa ou está no intelecto? Como você viu, alguns filósofos se 
debruçaram sobre a questão da verdade, seja no âmbito metafísico ou no âmbito do 
conhecimento. Entretanto, a filosofia analítica não considera essas duas perspectivas 
como fatores decisivos.
O pragmatismo não tem como preocupação a discussão da verdade na 
esfera teórica ou abstrata, ou seja, não se interessa em responder a questões 
sobre o que é a verdade. No entanto, tal perspectiva adota como horizonte 
relevante para toda discussão filosófica a questão da prática. “No pragmatismo, 
[...] a ênfase recai sobre a experiência que decidirá sobre a funcionalidade de 
uma teoria e, portanto, sobre sua verdade” (CAMELLO, 2009, documento 
on-line). Assim, o enfoque está na funcionalidade; não importa conhecer um 
conceito se ele não tem uma funcionalidade prática. O que importa de um 
conhecimento é se ele pode ser utilizado como condutor da vida, favorecendo 
as finalidades práticas.
A filosofia analítica12
Reale e Antiseri (2006b) mencionam alguns princípios elencados pelos filó-
sofos neopositivistas na esteira da filosofia pragmática, acentuando o aspecto 
empírico da filosofia. Em relação aos filósofos neopositivistas, vale destacar as 
suas contribuições à filosofia da ciência, “[...] entendida hoje como disciplina 
autônoma que visa à explicitação consciente e sistemática do método e das 
condições de validade das afirmações assumidas pelos cientistas” (REALE; 
ANTISERI, 2006b, p. 116, grifo nosso). Entre os princípios defendidos pelos 
neopositivistas, Reale e Antinseri (2006b, p. 116) destacam:
O princípio de verificação constitui o critério de distinção entre proposições 
sensatas e proposições insensatas, de modo que tal princípio se configura 
como critério de significância que delimita a esfera da linguagem sensata da 
linguagem sem sentido, que leva à expressão o mundo das nossas emoções 
e dos nossos medos.
O segundo princípio destacado por Reale e Antiseri (2006b, p. 116) afirma, 
com base no primeiro princípio, que “[...] só têm sentido as proposições pas-
síveis de verificação empírica ou factual, ou seja, as afirmações das ciências 
empíricas”. O terceiro princípio diz que “[...] a matemática e a 1ógica cons-
tituem somente conjuntos de tautologias, convencionalmente estipuladas e 
incapazes de dizer algo sobre o mundo” (REALE; ANTISERI, 2006b, p. 116). 
O que se segue nas afirmações constitui o quarto princípio, que afirma que 
a metafisica, a ética e a religião, “[...] não sendo constituídas por conceitos e 
proposições factualmente verificáveis, são um conjunto de questões aparentes, 
que se baseiam em pseudoconceitos” (REALE; ANTISERI, 2006b, p. 116). 
No quinto princípio, os filósofos neopositivistas afirmam que o trabalho que 
resta ao filósofo sério é sintetizado: na análise da semântica, ou seja, no esta-
belecimento da relação entre a linguagem e a realidade à qual a linguagem se 
refere; na análise da sintaxe, que são as relações dos sinais de uma linguagem 
entre si; e, por fim, na noção de que o único discurso significante é o discurso 
científico (REALE; ANTISERI, 2006b).
Por fim, osfilósofos neopositivistas concluem que a filosofia não é uma 
doutrina, mas uma atividade que tem por objetivo clarificar a realidade. Nessa 
perspectiva, eles lançam ataques à filosofia, sobretudo à metafísica. De acordo 
com Carnap (apud REALE; ANTISER, 2006b), a filosofia tem trazido con-
ceitos que não possuem referentes na experiência, como, na metafisica, os 
conceitos de “absoluto”, “coisa em si”, “incondicionado”, etc. Por meio deles, 
se constroem frases que pretendem, sem podê-lo, falar da realidade para as 
pessoas (REALE; ANTISER, 2006b).
13A filosofia analítica
Moritz Schlick (1882–1936), em sua obra Positivismo e realismo, afirma 
que a “[...] função específica da filosofia é a de pesquisar e esclarecer o sentido 
das afirmações e das questões” (SCHLICK apud REALE; ANTISERI, 2006b, 
p. 118). Prossegue o autor: “O sentido de uma proposição consiste unicamente 
no fato de que a proposição expressa determinado estado de coisas, que é ne-
cessário mostrar, portanto, se quisermos indicar o sentido de uma proposição” 
(SCHLICK apud REALE; ANTISERI, 2006b, p. 118). Assim, quando se quer 
encontrar o sentido de uma proposição, deve-se transformá-la por meio da 
introdução de definições sucessivas:
[...] até que, por fim, nos encontremos diante de palavras que não possam ser 
ulteriormente definidas com palavras, isto é, cujo significado só poderá ser 
demonstrado diretamente. O critério para a veracidade ou falsidade de uma 
proposição, portanto, consiste no fato de que, sob determinadas condições, 
alguns acontecimentos se dão ou não (SCHLICK apud REALE; ANTISERI, 
2006b, p. 118).
A teoria da correspondência é a mais antiga na tradição filosófica. Ela 
remete a Platão e Aristóteles. Em sua obra Metafísica, Aristóteles afirma que 
“[...] dizer do que é que não é e do que não é que é, é dizer o falso; dizer do 
que é que é e do que não é que não é, é dizer o verdadeiro” (ARISTÓTELES 
apud COSTA, 2011). As teorias coerenciais também tratam da verdade. De 
acordo com essas teorias, uma proposição é verdadeira quando é coerente 
com o conjunto de proposições constitutivas de um sistema de crenças. Assim, 
Costa (2011) expõe dois exemplos de frases. A primeira frase diz “Ontem à 
noite, estava frio” e a segunda frase diz “Ontem à noite, vi um fantasma”. A 
primeira frase é verdadeira não pelo fato de que pode ser confirmada enquanto 
a segunda não, mas pelo fato de que, de acordo com o sistema de crenças, há 
coerência na primeira frase, enquanto na segunda, não.
Uma terceira teoria da verdade é a pragmática, cuja tradição aponta para 
a filosofia norte-americana. William James (1842–1910), filósofo e psicólogo 
norte-americano, desenvolveu a sua teoria da verdade baseada no pragmatismo. 
Para ele, uma proposição é verdadeira se houver vantagem prática em sustentá-
-la. Diante da afirmação “Deus existe”, o pragmatismo diz que se trata de 
uma afirmação verdadeira, pois é vantajoso crer em Deus (COSTA, 2011). No 
entanto, há muitas proposições teóricas que são reconhecidas como verdadeiras, 
mas que são inúteis, como a afirmação de que existe uma galáxia 0402+379 
que, em seu centro, possui um par binário de buracos negros supermassivos.
Nesses casos, a teoria pragmática ressalta que, além de possuir uma van-
tagem prática, é preciso que uma proposição tenha uma vantagem teórico-
A filosofia analítica14
-cognitiva (COSTA, 2011). Um dos problemas da teoria pragmática é sua 
consequência relativista, pois se algo pode ser verdadeiro para alguns, de acordo 
com sua vantagem, para outros não possui vantagem. A teoria pragmática não 
oferece uma decisão racional para esses conflitos.
A quarta teoria abordada por Costa (2011) é a teoria da redundância 
(deflacionárias). Em O pensamento, Frege expõe a teoria da redundância, em 
que explica que o predicado nada acrescenta de conteúdo a uma afirmação. 
Asserções do tipo “R é verdadeiro” podem ser substituídas por “R” e nada se 
perderá. Por exemplo, em vez de se dizer “Hoje faz sol”, pode-se dizer “Com 
efeito faz sol”. Costa (2011) sugere duas sentenças: “Afirmo que Colombo 
descobriu a América” e “Colombo descobriu a América”. Ambas afirmam a 
mesma proposição, no entanto apenas na primeira a asserção é explicitada de 
forma verbal. Isso não significa que a verdade será comprometida, ou seja, 
a atribuição de verdade a uma proposição não é supérflua, mas ela pode ser 
substituída por uma proposição judicada ou asserida. Judicar uma proposição 
significa pensar que ela é verdadeira, explica Costa (2011).
A filosofia analítica possui uma maneira de fazer filosofia que se detém 
na linguagem. Nessa perspectiva, o interesse na análise da linguagem se dá 
em referência ao problema das sentenças que parecem expressar sempre ver-
dades ou falsidades. Nesse viés, pensa-se que por meio da análise é possível 
alcançar o valor de verdade das proposições. Braida (2009) sugere que a noção 
de verdade analítica tem sido utilizada, desde Leibnitz e Kant, em relação às 
noções de conhecimento a priori, ou seja, conhecimento não empírico. Nesse 
sentido, as análises são a forma de se alcançar a verdade de uma proposição.
Ainda no pensamento moderno, a concepção de analiticidade é uma relação 
entre determinadas representações ou conceitos. A definição de Kant pensa 
a verdade analítica como um juízo cujo conceito-predicado está incluso no 
conceito-sujeito. Essa relação é possível de dois modos, de acordo com a 
Crítica da Razão Pura:
Ou o predicado B pertence ao sujeito A como algo contido (ocultamente) 
nesse conceito A, ou B jaz completamente fora do conceito A, embora esteja 
em conexão com o mesmo. No primeiro caso denomino o juízo analítico, no 
outro sintético. Juízos analíticos (os afirmativos) são, portanto, aqueles em que 
a conexão do predicado com o sujeito for pensada por identidades; aqueles, 
porém, em que essa conexão for pensada sem identidade devem denominar-se 
juízos sintéticos (KANT apud BRAIDA, 2009, documento on-line).
No entanto, defende Braida (2009), a noção clássica de verdade analítica 
começa a ser modificada pelo matemático e filósofo Bernard Bolzano 
15A filosofia analítica
(1781–1848), que reconceitua a noção de proposição. Para Bolzano, as 
proposições analíticas são importantes porque as suas verdades “[...] não 
dependem das representações ou conceitos nelas articulados, de tal modo 
que essas representações poderiam ser permutadas, sob a condição de se 
manter a objetividade da inteira proposição” (BRAIDA, 2009, documento 
on-line). O que Bolzano afirma é que o conteúdo de uma proposição é 
indiferente para se determinar a verdade dela. A propriedade essencial 
de uma proposição, para que seja verdadeira, depende de sua forma. Essa 
forma deve assegurar o seu valor de verdade, apesar da permuta das repre-
sentações articuladas (BRAIDA, 2009). Portanto, a forma responsável pela 
verdade ou falsidade de uma proposição, sua articulação, é que determina 
a verdade ou não.
A definição fregeana de verdade analítica — verdade fundada nas leis 
lógicas gerais e em definições — prossegue a transformação operada por 
Bolzano e também modifica tal noção (BRAIDA, 2009). No desenvolvimento 
de sua teoria da significação, o matemático, lógico e filósofo Frege trata do 
sentido de uma frase. Para ele, a teoria da significação está baseada numa 
distinção entre o significado e a referência (COSTA, 1992).
A teoria da significação é apresentada em dois artigos de Frege, ambos 
de 1892: “Sobre o sentido e denotação” e “Sobre conceito e objeto”. O ponto 
de partida de Frege é a perspectiva tradicional da analítica, que afirma que 
nomes próprios significam objetos. Mas, pensa Frege, a substituição de nomes 
próprios por outros de igual significação pode mudar a significação de uma 
frase. Assim, ele sustenta que o nome próprio possui duas funções semânticas: 
denota o objeto e também exprime um sentido. A distinção entre sentido e 
denotação é o cerne da filosofia de Frege (OLIVEIRA, 2001).
Na filosofia de Frege, a linguagem humanaé explicada por meio de 
três dimensões: ela possui uma dimensão significativa, ou seja, ela é uma 
expressão linguística, possui sinais linguísticos; possui uma dimensão ob-
jetiva, têm um objeto designado; e possui uma dimensão significativa, uma 
dimensão do sentido (OLIVEIRA, 2001). O valor de verdade de uma frase, 
para Frege, é a circunstância de que tal frase é verdadeira ou falsa. As afir-
mações sobre verdade ou falsidade, em Frege, dizem respeito ao sentido de 
uma frase ou ao pensamento que ela expressa. “O pensamento é o portador 
da verdade ou da falsidade”, explica Costa (1992, p. 39). Nesse sentido, o 
que é verdadeiro não é a coisa em si mesma ou os signos não interpretados. 
Frege busca no sentido da frase aquilo que o pensamento expressa; nisso 
está a verdade de uma frase.
A filosofia analítica16
“A referência de uma frase é considerada por Frege como sendo a circunstância de ela 
ser verdadeira ou falsa” (COSTA, 1992, p. 39). Nessa perspectiva, Costa (1992) explica que 
há duas referências de frases: o verdadeiro e o falso. Assim, todas as frases verdadeiras 
têm apenas um referente, que é verdadeiro, enquanto todas as frases falsas possuem 
apenas um referente, que é o falso. Nesse viés, tanto verdade quanto falsidade não 
podem ter margens para outras interpretações, pois o resultado de uma análise só 
pode ser verdade ou não.
Em Bolzano e em Frege, a noção analítica de verdade é pensada em termos 
semânticos. Tal noção ainda é relativa a uma linguagem, aponta Braida (2009). 
O mesmo autor pontua que a circunscrição da noção de analiticidade para a 
esfera do linguístico é apresentada em Wittgenstein, para quem o que importa 
são as regras de linguagem. Assim, a proposição analítica apresenta uma 
estrutura, uma relação. A verdade analítica está relacionada na estrutura, ou 
seja, numa relação entre representações, sejam elas conceitos ou significações, 
ou como uma propriedade de uma forma (BRAIDA, 2009).
A preocupação da filosofia da linguagem analítica é a cientificidade. Nesse 
sentido, o fator empírico prevalece nessa forma de fazer filosofia. A filosofia 
é um campo do saber em que a discussão, os argumentos e o raciocínio são as 
formas de se criarem os conceitos que servem como instrumentos para a relação 
do ser humano com o mundo e a realidade. Nesse sentido é que o discurso 
filosófico pode ser caracterizado como um sistema de termos e proposições 
que expressam sentido e que são reflexos de determinado pensamento. Assim, 
um discurso possui sentido quando exprime um pensamento coerente que 
transparece determinada relação com a realidade. Desse modo, toda sentença 
é válida quando é verdadeira. Mas, na lógica, o significado de validade é mais 
restrito, pois o que é analisado não é a sentença, e sim os argumentos. Validade 
e invalidade somente podem ser aplicadas a argumentos.
A validade de um argumento depende de sua forma, e não do conteúdo. 
Portanto, os conceitos de verdade e falsidade são aplicados a sentenças, en-
quanto validade e invalidade são aplicadas a argumentos. A validade no campo 
da lógica requer que as premissas e a conclusão sejam verdadeiras, ou que as 
premissas não sejam verdadeiras e a sua conclusão também não o seja. Assim, 
um argumento em que as premissas são todas verdadeiras e a conclusão é falsa 
é uma sentença inválida. Em suma, não importa o conteúdo, mas apenas a 
17A filosofia analítica
forma como um argumento é construído. Ele será válido se as suas premissas 
e a sua conclusão forem verdadeiras, ou será válido se as suas premissas forem 
falsas e a sua conclusão também o for. Ou seja, um raciocínio é válido devido 
à forma, à estrutura, independentemente do conteúdo.
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Leitura recomendada
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19A filosofia analítica

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