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Tema 4 - Negócio jurídico

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DESCRIÇÃO
A análise da categoria dos negócios jurídicos e seus planos de existência, validade e eficácia.
PROPÓSITO
Compreender a categoria dos negócios jurídicos, suas classificações, seus defeitos e, sobretudo, seus planos:
existência, validade e eficácia. Dentro destes últimos, observar suas modalidades e causas de nulidade e
anulabilidade.
PREPARAÇÃO
Antes de iniciar o conteúdo, tenha em mãos o Código Civil (Lei nº 10.406/2002).
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Identificar os fundamentos dos negócios jurídicos, seus elementos e suas principais classificações
MÓDULO 2
Identificar as modalidades e os defeitos dos negócios jurídicos
MÓDULO 3
Identificar as causas de inexistência, nulidade e anulabilidade dos negócios jurídicos
INTRODUÇÃO
Neste conteúdo, que compreende o estudo dos arts. 104 a 184 do Código Civil (CC), vamos enfrentar um assunto
que, apesar de tradicional, vem sendo revisitado pela doutrina especializada, sobretudo após o processo de
constitucionalização do Direito e, em especial, do Direito Civil.
É assim que vamos, em primeiro lugar, esmiuçar os fundamentos da categoria dos negócios jurídicos, revisando a
conceituação de fatos e atos, para, em seguida, nos aprofundar nos defeitos ou vícios dessa categoria, cuja
precisão teórica é fundamental. Por fim, vamos analisar a teoria da invalidade dos negócios jurídicos, que tem sido
a mais criticada na atualidade.
Os temas serão analisados isoladamente em módulos e tópicos próprios, mas ficam aqui desde já duas questões
importantes que devem ser objeto de reflexão:
Será que os chamados planos dos negócios jurídicos devem ser tidos como absolutos?
Qual a importância de uma análise funcionalizante em vez de uma perspectiva meramente estrutural?
MÓDULO 1
 Identificar os fundamentos dos negócios jurídicos, seus elementos e suas principais classificações
FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS
Iniciamos o estudo deste conteúdo buscando, em primeiro lugar, situar o objeto da nossa análise: o negócio
jurídico. Como veremos na chave classificatória mais adiante, ele é uma subespécie dos fatos jurídicos humanos
lícitos.
 
Imagem: Tepedino e Oliva (2021, p. 243).
 ATENÇÃO
Aqui, diferentemente do estudo de outras categorias como os bens, a classificação dos fatos jurídicos não foi feita
diretamente pelo CC, mas decorre de criação doutrinária. E não há unanimidade nessa classificação, de modo que
cada doutrinador acaba dando o seu toque pessoal. 
 
Seguiremos, no entanto, uma classificação bastante tradicional, reproduzida em seu manual pelo professor
Gustavo Tepedino, uma das maiores referências do Direito Civil brasileiro da atualidade.
Começamos, então, pelos fatos jurídicos lato sensu ou em sentido lato, que nada mais são do que um evento
qualquer que tem repercussão jurídica porque é disciplinado pelo Direito, isto é, porque sobre aquele fato incide
uma norma jurídica que lhe empresta consequências e que o disciplina.
FATO JURÍDICO EM SENTIDO AMPLO É, PORTANTO, TODO
ACONTECIMENTO DA VIDA QUE O ORDENAMENTO JURÍDICO
CONSIDERA RELEVANTE NO CAMPO DO DIREITO.
(GONÇALVES, 2013, p. 316, grifo no original)
Em razão disso, diz-se que os “fatos jurídicos são os eventos mediante os quais as relações jurídicas nascem, se
modificam e se extinguem” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 240).
 SAIBA MAIS
Fato jurídico é o nome que se dá a todo fato do mundo real sobre o qual incide norma jurídica. Quando acontece,
no mundo real, aquilo que estava previsto na norma, esta cai sobre o fato, qualificando-o como jurídico; tem ele,
então, existência jurídica.
A incidência da norma determina, como diz Pontes de Miranda (2012), sua entrada no mundo jurídico. O fato
jurídico entra no mundo jurídico para que aí produza efeitos jurídicos. Tem ele, portanto, eficácia jurídica.
Por isso mesmo, a maioria dos autores define o fato jurídico como o fato que produz efeitos no campo do Direito
(AZEVEDO, 2002, p. 23).
Dentro desses fatos jurídicos em sentido amplo, temos os fatos naturais ou fatos jurídicos stricto sensu/em
sentido estrito, precisamente aqueles que provêm da natureza, sem qualquer interferência humana – como o
surgimento de uma ilha. A doutrina ainda distingue, de acordo com Tepedino e Oliva (2021, p. 242), os fatos
naturais em:
Ordinários
O nascimento, a morte, o curso dos rios.
&
Extraordinários
Fortuitos, imprevisíveis ou inevitáveis.
Há, ainda, fatos que derivam da atuação do homem, os chamados fatos humanos, que se subdividem em: “fatos
lícitos (valorados positivamente pela ordem jurídica) e fatos ilícitos lato sensu (reprovados pelo Direito), que, a seu
turno, se distinguem em atos ilícitos (stricto sensu) e atos antijurídicos (contrários ao Direito, a exemplo do abuso
do direito)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 240). 
Por fim, “[o]s fatos lícitos, ou seja, atribuídos à atividade humana e não reprovados pelo Direito, compreendem os
negócios jurídicos, os atos jurídicos stricto sensu, também designados atos lícitos de conduta, e os chamados
atos-fatos, reconhecidos por parte da doutrina” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 240). 
Estes três últimos (negócio jurídico, ato-fato jurídico e ato jurídico stricto sensu) merecem uma análise própria.
Deixaremos os negócios jurídicos por último, porque eles se conectam com o nosso próximo tópico.
A diferença entre as espécies dependerá, basicamente, da valoração que o ordenamento dá à vontade dos
sujeitos envolvidos. Desse modo, no ato-fato jurídico, a vontade e o intuito de quem o pratica são indiferentes
para o Direito, uma vez que a consequência será a mesma. O ordenamento não leva em consideração a sua
vontade.
 EXEMPLO
Podemos pensar na criança absolutamente incapaz que planta uma árvore frutífera num terreno baldio: a lei não
leva em consideração a sua vontade, o que não impede, todavia, que o seu ato gere consequências, como a
possibilidade de a criança ser indenizada por aquilo. Isso ocorre porque “há certas ações humanas que a lei
encara como fatos, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do agente, [que
demandam] apenas o ato material” (GONÇALVES, 2013, p. 319).
Já no ato jurídico stricto sensu, a vontade é considerada pelo Direito, que a torna apta a produzir
consequências, mas disciplinadas pela lei, não pela autonomia das partes. O agente, ao praticar tais atos,
“submete-se às consequências jurídicas que lhe estão previamente reservadas” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p.
247).
O exemplo mais comum na doutrina é o do reconhecimento de paternidade: uma vez optando por fazê-lo, a
pessoa se submeterá integralmente ao regulamento legal, isto é, não poderá escolher quais efeitos da paternidade
irá assumir. Além disso, como a sua vontade é considerada (embora sem tanta força), alguém que não pode
exprimir validamente sua vontade não poderia praticar o ato. É assim que não se admitiria que um absolutamente
incapaz fizesse reconhecimento de paternidade.
 
Foto: Shutterstock.com.
Por último, mas não menos importante, vem a categoria dos negócios jurídicos, em que a autonomia das partes
é maior: aqui elas têm que querer praticar o ato, devem estar conscientes e têm discricionariedade, dentro de certo
limite legal, para estabelecer os efeitos que vão resultar dos seus atos.
Definimos, assim, o negócio jurídico como sendo “o regulamento de interesses estipulado pela autonomia privada,
ou autorregulamento ou ato jurídico apto a regular interesses” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 243).
Como exemplo mais claro, podemos citar o contrato, haja vista que as partes podem estabelecer a própria
regulamentação de interesses dentro da liberdade que é conferida pelo ordenamento. Ou seja, as partes são livres
para autodeterminar as condições dentro dos limites impostos pela lei. Assim, podemos conceber o negócio
jurídico como uma declaração de vontade voltada para a produção de determinados efeitos.
 
Foto: Shutterstock.com.
É por isso que se diz que o negócio jurídico é, geralmente, fonte de relações jurídicas e estabelece direitos
subjetivospara as partes. Na definição de Alberto Trabucchi (1993, p. 124), negócio jurídico é a “manifestação de
vontade, dirigida a um escopo prático que consiste na constituição, modificação ou extinção de uma
situação juridicamente relevante”.
ELEMENTOS E CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS
A categoria do negócio jurídico sempre foi vista como máxima expressão da autonomia privada e do voluntarismo
liberal (SOUZA, 2017a, p. 95-96), embora não possua, “exatamente, os efeitos que o declarante quer que tenha;
ele terá os efeitos que o ordenamento admite que o que foi querido possa ter” (VELOSO, 2005, p. 13).
É assim que, inserido na categoria mais ampla dos fatos jurídicos, Antônio Junqueira de Azevedo (2002, p. 16)
definia os negócios jurídicos, em concreto, como sendo “todo fato jurídico consistente em declaração de vontade, a
que o ordenamento jurídico atribui os efeitos designados como queridos, respeitados os pressupostos de
existência, validade e eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”.
Tal declaração de vontade é, ainda, uma “manifestação de vontade qualificada, destinada a produzir efeitos
jurídicos” (VELOSO, 2005, p. 9), muito embora parte da doutrina defenda que a vontade não seja um elemento
necessário para a existência do negócio, isto é, ela só teria relevância para a sua validade e eficácia, de modo que
não se poderia admiti-la como o “elemento definidor ou caracterizador do negócio” (AZEVEDO, 2002, p. 9).
TODO NEGÓCIO JURÍDICO CRIA RELAÇÃO JURÍDICA,
CONSTITUINDO, OU MODIFICANDO, OU CONSTITUINDO
NEGATIVAMENTE (EXTINTIVIDADE) DIREITOS, PRETENSÕES,
AÇÕES OU EXCEÇÕES.
(PONTES DE MIRANDA, 2012a, p. 61)
A análise dos negócios jurídicos no Brasil tradicionalmente está atrelada a um exame em três planos, que se
convencionou chamar Escada ou Escala Ponteana, numa alusão ao clássico civilista.
Vejamos abaixo o que escreveram alguns teóricos a respeito dos planos dos negócios jurídicos:
EDUARDO NUNES DE SOUZA
FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA
GUSTAVO TEPEDINO E MILENA DONATO OLIVA
EDUARDO NUNES DE SOUZA
“Os negócios deveriam primeiramente ter averiguada sua existência (a apresentação de elementos constitutivos
essenciais) para que, em seguida, fosse possível analisar sua validade (aptidão para a produção de efeitos, pelo
preenchimento de requisitos que qualificam tais elementos) e, depois, sua eficácia (ausência de óbices externos
para a produção de efeitos)” (SOUZA, 2017b, p. 3).
FRANCISCO CAVALCANTI PONTES DE MIRANDA
“Para que algo valha é preciso que exista. Não tem sentido falar-se de validade ou de invalidade a respeito do que
não existe. A questão da existência é questão prévia. Somente depois de se afirmar que existe é possível pensar-
se em validade ou invalidade. Nem tudo que existe é suscetível de a seu respeito discutir-se se vale, ou se não
vale. Não se há de afirmar nem de negar que o nascimento, ou a morte, ou a avulsão, ou o pagamento valha. Não
tem sentido. Tampouco, a respeito do que não existe: se não houve ato jurídico, nada há que possa ser válido ou
inválido. Os conceitos de validade ou de invalidade só se referem a atos jurídicos, isto é, a atos humanos que
entraram (plano da existência) no mundo jurídico e se tornaram, assim, atos jurídicos.” (PONTES DE MIRANDA,
2012b, p. 66-67)
GUSTAVO TEPEDINO E MILENA DONATO OLIVA
“A doutrina separa a análise do negócio jurídico em três planos, de modo a verificar, em etapas sucessivas, os
pressupostos de existência (plano de existência), os requisitos de validade (plano de validade) e as condições para
produção de efeitos (plano de eficácia). Significa dizer que o negócio há de ser, antes de mais nada, existente, ou
seja, conter os pressupostos para o seu surgimento do mundo jurídico. Em seguida, uma vez estabelecida a
existência jurídica do negócio, examinam-se os seus requisitos de validade, isto é, os atributos considerados
essenciais, sem os quais o negócio será considerado nulo ou se sujeitará à anulação. Se os dois primeiros planos
forem superados pelo intérprete, ou seja, estabelecidas a existência e a validade do negócio, passa-se à última
etapa, a saber, investiga-se se o negócio, plenamente válido, mostra-se apto à produção de efeitos jurídicos.”
(TEPEDINO; OLINA, 2021, p. 251)
Ou seja, a ideia central é que o negócio jurídico tem que primeiro existir juridicamente, em segundo lugar valer
(não ter vícios) e, em terceiro lugar, ser apto a produzir efeitos. Um ato existente pode ser nulo ou anulável. Pode,
contudo, existir, ser válido, mas não produzir efeitos.
Vejamos as fases dos negócios jurídicos:
 
Imagem: Shutterstock.com.
Existência
Então, no plano da existência, o negócio precisa de elementos para existir.
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Imagem: Shutterstock.com.
Validade
No plano da validade, precisa de requisitos para ser válido.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Eficácia
No plano da eficácia, precisa do negócio de fatores de eficácia para ser eficaz.
Como a imagem a seguir representa, é preciso passar por cada uma dessas fases em sequência.
 
Imagem: Filipe Medon.
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Quanto aos seus elementos, mais uma vez não há consenso na doutrina. No entanto, podemos optar por uma
classificação simples, segundo a qual são elementos de existência do negócio jurídico:
A forma
O agente
A vontade
O objeto
 DICA
É o mnemônico do “FAVO”. O negócio tem que ter um agente (pessoa); uma vontade, que, por sua vez, tem que
ter um objeto (algo sobre o qual incide esta vontade); e, por fim, a exteriorização dessa vontade tem que ter uma
forma (verbal, escrita, gestual etc.). Dito diversamente: para existir, o negócio precisa ter, pelo menos, esses
quatro elementos. 
 
E, para esses negócios serem válidos, é preciso que observem, sobretudo, o que está disciplinado no art. 104 do
CC, segundo o qual “a validade do negócio jurídico requer: I - agente capaz; II - objeto lícito, possível, determinado
ou determinável; III - forma prescrita ou não defesa em lei”.
Vejamos o que diz a lei a respeito da forma e do agente:
FORMA
Quanto à forma, segundo o inciso III do art. 104 do CC, precisa ser prescrita (determinada pela lei, como no art.
108 do CC) ou não em defesa em lei, isto é, que não seja proibida pela lei.
AGENTE
Quanto ao agente, requer o art. 104, inciso I, que seja capaz (arts. 3º e 4º do CC). Além disso, em alguns casos,
exige-se também a legitimidade daquele agente, isto é, uma condição especial para a prática de determinado ato.
 EXEMPLO
Pensemos que, na compra e venda de ascendente a descendente, o pai precisa da anuência dos outros filhos e do
cônjuge para celebrar o negócio. Dito diversamente: o pai é capaz, mas lhe falta legitimidade para praticar aquele
ato naquelas circunstâncias (de ser para descendente). 
 
O art. 496 do CC diz que a não observância disso acarreta a invalidade do ato: “É anulável a venda de ascendente
a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido.
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Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da
separação obrigatória”.
Quanto à vontade, ela precisa ser livre, sem vícios ou erros. Não pode ser manipulada, nem ameaçada. (Veremos
no Módulo 2 os defeitos dos negócios jurídicos, onde esmiuçaremos cada uma das hipóteses.)
Por fim, segundo o art. 104, II, o objeto precisa ser:

Lícito
Contratar alguém para torturar outra pessoa não é lícito.

Possível
Não é possível negociar um empréstimo de uma estrela.

Determinado
A compra e venda de uma casa.

Determinável
Apesar de o objeto não ser imediatamente determinado, é possível que venha a ser determinado no futuro de
acordo com as especificações.
(Como elementos da eficácia, temos, por exemplo, a condição e o termo, que serão tratados no tópico seguinte
deste módulo.)
A doutrina ainda classifica os negócios jurídicos quanto a três espécies de elementos. Vejamos asdefinições de
acordo com Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 252-253, grifos no original):

Essenciais (essencialia negotti)
“São os elementos fundamentais para o ingresso do ato no mundo jurídico. Trata-se da vontade declarada, do
objeto, da forma e da causa do negócio.”

Naturais (naturalia negotti)
“São os elementos que, fixados supletivamente pela lei para o negócio, comporão o regulamento de interesses se
não forem afastados pela autonomia privada. Pense-se, por exemplo, no lugar do pagamento, quando não
convencionado (art. 327 do Código Civil).”

Acidentais (accidentalia negotti)
“São os elementos que podem figurar no negócio desde que expressamente previstos pelas partes. São
responsáveis por modificar apenas a eficácia do ato, como a condição e o termo. Embora a doutrina brasileira nem
sempre o admita, a causa é elemento essencial do negócio jurídico, ao lado dos elementos subjetivo, objetivo e
formal. Não se confunda causa com motivo, de natureza subjetiva ou psicológica. Do ponto de vista técnico, a
causa consiste na mínima unidade de efeitos essenciais que caracteriza determinado negócio, sua função jurídica,
diferenciando-o dos demais. Somente a identificação da causa pode determinar a qualificação contratual, a
invalidade ou ineficácia de certas relações jurídicas para as quais o exame dos demais elementos mostra-se
insuficiente. Bastaria lembrar os contratos, como a compra e venda de coisa futura e a empreitada, que se
diferenciam exclusivamente em virtude da função ou causa que lhes é peculiar; ou a compra e venda de objeto
lícito (uma arma, por exemplo), mas cuja invalidade decorre da ilicitude do motivo determinante no contexto causal
(a arma destinada à prática de certo crime)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 252-253, grifos no original).
 ATENÇÃO
Importante, ainda, observarmos que, segundo o art. 105 do CC, “[a] incapacidade relativa de uma das partes não
pode ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos cointeressados capazes, salvo se, neste
caso, for indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum”. 
 
Além disso, como prevê o artigo seguinte, “[a] impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for
relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado”. E, de acordo com o art. 107,
“[a] validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a
exigir”. 
 
Por fim, no art. 108, como já vimos anteriormente, “[n]ão dispondo a lei em contrário, a escritura pública é
essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de
direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País”.
Passamos, então, às diversas classificações dos negócios jurídicos. Mais uma vez, precisamos destacar que cada
doutrinador acaba classificando conforme seu modo peculiar. Por isso, trataremos a seguir das mais comuns e
relevantes.
UNILATERAIS, BILATERAIS E PLURILATERAIS
O critério distintivo aqui é o número de partes necessário para que o negócio seja formado. Importante a
advertência de Tepedino e Oliva (2021, p. 263-264), de “que não se confunde pessoa com parte, uma vez que o
mesmo centro de interesses na relação negocial pode ser ocupado por vários indivíduos e, ainda assim,
representar uma única parte. Contam-se, assim, não propriamente os sujeitos que integram o negócio, mas o
número de centros de interesses”.
Vamos entender melhor sobre o número de partes necessário para que o negócio seja formado:
UNILATERAL
Será unilateral, por exemplo, o testamento, que se reputa válido pela simples declaração de vontade do testador,
observados os aspectos formais.
BILATERAL
Bilaterais serão, por exemplo, os contratos, porque “pressupõem a convergência de ao menos duas declarações
complementares de vontade para o seu nascimento, sendo compostos de pelo menos duas partes” (TEPEDINO;
OLIVA, 2021, p. 264).
PLURILATERAL
Por fim, de acordo com Tepedino e Oliva (2021, p. 264), os plurilaterais, dos quais o contrato de sociedade é um
exemplo, “se caracterizariam por um objetivo comum perseguido pelos diversos centros de interesses, com
repercussão tanto na formação do negócio como nos seus efeitos”.
TÍPICOS E ATÍPICOS
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Aqui, o critério dependerá de a sua estrutura elementar ter ou não sido prevista, “junto à respectiva disciplina, pelo
legislador” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 264).
 
Foto: Shutterstock.com.
Serão típicas, por exemplo, a compra e venda, a doação e a empreitada.
 
Foto: Shutterstock.com.
Quanto aos atípicos, trata-se, “não raro, de contratos complexos que combinam elementos de diversos tipos
legais. Ilustrativamente, tem-se o contrato celebrado entre o viajante e a agência de turismo, compreendendo a
prestação de serviços de transporte, hospedagem e diversos outros” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 264).
ONEROSOS E GRATUITOS
Vejamos sobre os negócios gratuitos e onerosos:
Gratuitos
São “gratuitos os negócios que impõem sacrifício patrimonial para apenas uma das partes, ao passo que onerosos
são os negócios que importam em sacrifício patrimonial para ambas.” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 265). Como
exemplo, temos o testamento (negócio jurídico unilateral e gratuito).

Onerosos
Nos negócios onerosos, para receber uma vantagem, é preciso ceder, suportar algum sacrifício. Como exemplo,
temos a compra e venda: para adquirir a propriedade, será preciso pagar por ela (sacrifício econômico).
INTER VIVOS E CAUSA MORTIS
Segundo a doutrina:
INTER VIVOS
São “inter vivos os negócios cuja eficácia pode ser plenamente atingida durante a vida das partes.” (TEPEDINO;
OLIVA, 2021, p. 266, grifo no original)
CAUSA MORTIS
“Causa mortis são os que têm sua eficácia dependente da morte do declarante, sendo o exemplo clássico o
testamento” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 266, grifo no original).
Além disso, de acordo com os autores Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva, “[o] negócio inter vivos pode
operar efeitos desde logo, ao passo que o causa mortis tem sua eficácia postergada para momento subsequente à
morte da parte” (2021, p. 266, grifo no original).
FORMAIS E INFORMAIS
Formais ou solenes
São formais ou solenes os contratos que precisam obedecer à determinada forma específica prevista em lei, como
é o caso da compra e venda de certos imóveis (art. 108 do CC).
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
Informais ou não solenes
Os contratos informais ou não solenes são aqueles para os quais a lei não impõe forma obrigatória.
CONSENSUAIS E REAIS
REAIS
Finalmente, são contratos reais aqueles que somente irão se aperfeiçoar com a entrega do bem. O empréstimo
gratuito de coisas infungíveis será real e é chamado de comodato, por sua vez, porque o art. 579 do CC
determina que o contrato só estará concluído com a entrega do bem. Segundo tal dispositivo, “o comodato é o
empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto”.
CONSENSUAIS
Os contratos consensuais se opõem aos reais, reputando-se perfeitos, prontos e acabados apenas com o
consenso (obtenção do consentimento) entre as partes. Exemplo de consensual é o mandato.
REPRESENTAÇÃO, CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO
Para finalizarmos este primeiro módulo, precisamos analisar, ainda, a representação, o termo e o encargo ou
modo. Começaremos, no entanto, com os três últimos, que são conhecidos como modalidades ou elementos
acidentais do negócio jurídico.
[A]S PARTES PODEM INTRODUZIR ELEMENTOS ACIDENTAIS AO
NEGÓCIO JURÍDICO, OS QUAIS SUBMETERÃO A PRODUÇÃO DE
EFEITOS DO NEGÓCIO (EXISTENTE E VÁLIDO) [À] CONDIÇÃO,
[AO] TERMO OU ENCARGO. TAIS EVENTOS, INSERIDOS PELA
AUTONOMIA PRIVADA NA DECLARAÇÃO DE VONTADE,
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javascript:void(0)
INCORPORAM-SE AO SEU CONTEÚDO, VINCULANDO O
NEGÓCIO, EM SEU PLANO DE EFICÁCIA, À SUA REALIZAÇÃO.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 298)
No entanto,apesar de denominarmos tais elementos como acidentais, uma vez estando eles “incorporados ao
negócio jurídico tornam-se essenciais para a concreta relação negocial. A acidentalidade, portanto, refere-se à
prescindibilidade desses elementos para a qualificação do tipo negocial abstratamente considerado, não já para,
no ajuste de interesses celebrado, reputá-los menos relevantes para o desempenho da função perseguida pelas
partes” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 298).
CONDIÇÃO
Segundo o art. 121, considera-se condição “a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes,
subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”.
 
Imagem: Shutterstock.com.
É, por exemplo, o caso “do comprador de um imóvel que se obriga a pagar pelo bem certo preço se e quando
restar comprovada a regularidade da construção ali erigida junto à prefeitura da cidade” (SCHREIBER, 2020, p.
347).
 
Imagem: Shutterstock.com.
Ou, ainda, o que subordina o negócio a eventual vitória de um time de futebol em determinado jogo. A vitória num
jogo é um evento futuro e incerto.
Como características, podemos ressaltar que a condição é um elemento acidental; decorre da autonomia das
partes; cria um direito expectativo e é inexa ao negócio jurídico – isto é, uma vez prevista pelas partes, ela passa
a integrar o conteúdo/corpo daquele negócio jurídico. Ela não está anexa, ao lado, mas se incorpora ao negócio de
tal modo que, se a condição for ilícita e acabar se materializando na prática, todo o negócio cairia, porque aquela
condição seria inexa a ele.
E quais são as espécies de condição?
A distinção mais importante diz respeito à clivagem entre condições suspensivas e resolutivas. A principal
diferença é que “[n]o primeiro caso, o início da produção de efeitos do negócio submete-se à ocorrência do evento
futuro e incerto. Já no segundo caso, ao revés, a extinção de efeitos subordina-se a tal acontecimento”
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 302). Ou seja: se o negócio se submeter à condição suspensiva, obsta-se a
produção de alguns efeitos até que o evento futuro e incerto ocorra.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Como consequência, “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não
verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa” (art. 125 do CC).
Haverá, nesse período, tão somente expectativa de direito/direito expectativo. Nada obstante, “ao titular do
direito eventual, nos casos de condição suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a
conservá-lo” (art. 130).
 ATENÇÃO
Conforme o art. 126, “se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto
àquela novas disposições, estas não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis”.
Por outro lado, entende-se como condição resolutiva “aquela cuja ocorrência extingue o direito, pondo fim à
produção dos efeitos do negócio jurídico que a ela se subordinavam. O negócio sujeito à condição resolutiva opera
todos os efeitos imediatamente, ao contrário daquele subordinado à condição suspensiva” (TEPEDINO; OLIVA,
2021, p. 303).
Ademais, caso esse tipo de condição se implemente, isso significará “a perda da eficácia do negócio jurídico antes
plenamente operante. Na condição resolutiva, a aquisição do direito é imediata – não há expectativa de direito ou
situação de pendência –, todavia com caráter resolúvel, e permanecerá no patrimônio do adquirente se e até
quando a condição ocorrer (CC, art. 127)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 303-304).
O art. 128 preceitua o seguinte:
SOBREVINDO A CONDIÇÃO RESOLUTIVA, EXTINGUE-SE, PARA
TODOS OS EFEITOS, O DIREITO A QUE ELA SE OPÕE; MAS, SE
APOSTA A UM NEGÓCIO DE EXECUÇÃO CONTINUADA OU
PERIÓDICA, A SUA REALIZAÇÃO, SALVO DISPOSIÇÃO EM
CONTRÁRIO, NÃO TEM EFICÁCIA QUANTO AOS ATOS JÁ
PRATICADOS, DESDE QUE COMPATÍVEIS COM A NATUREZA DA
CONDIÇÃO PENDENTE E CONFORME AOS DITAMES DE BOA-FÉ.
Segundo o art. 123 do CC, invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

As condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas (impossibilidade física, como abraçar o sol
ou jurídica, quando houver obstáculo legal).

As condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita (ex.: “se você torturar alguém”).

As condições incompreensíveis ou contraditórias (ex.: “se você for ou não for ao Japão”).
Além disso, de acordo com o art. 124, “têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as
de não fazer coisa impossível”.
Vedam-se também as chamadas condições puramente potestativas, isto é, que submetem o negócio ao
exclusivo arbítrio de um dos negociantes, a exemplo da cláusula que diz: “só se eu quiser”. Tal vedação está
prevista na parte final do art. 122 do CC, que dispõe que são lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à
lei, à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito
o negócio jurídico ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.
Finalmente, de acordo com o art. 129 do CC, reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo
implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não
verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu implemento.
 EXEMPLO
Podemos citar como exemplo da parte final do artigo o negócio subordinado à vitória de um time em uma partida
de futebol e, em seguida, o contratante faz uma negociata e paga para que o goleiro do time adversário leve gols e
o time perca, maliciosamente possibilitando que a condição seja implementada em seu benefício.
TERMO
Esta modalidade “difere da condição, justamente porque se trata de evento futuro e certo, ao qual se subordina a
eficácia do negócio jurídico. Daí ser comum a associação dos termos com datas futuras” (SCHREIBER, 2020, p.
350). 
Contudo, a rigor, “termo pode ser não apenas uma data, mas qualquer evento futuro cuja ocorrência seja
indubitável: a morte de determinada pessoa, por exemplo, configura tecnicamente um termo” (SCHREIBER, 2020,
p. 350). Ele também é inexo, isto é, integra o negócio jurídico, mas não existe termo ilícito. 
Importante ressaltar que “no termo o evento é sempre certo (certo que ocorrerá), ainda que nem sempre se tenha
certeza de quando ele ocorrerá (incerteza quanto ao momento). Distinguem-se, assim, o termo certo ou
determinado do termo incerto ou indeterminado” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 310).
 EXEMPLO
Como certo, pode-se citar uma data: 3/1/2031. Incerto, contudo, seria “quando fulana morrer” – é certo que ela
vai morrer, porque todos morrem, mas há incerteza no que diz respeito a quando isso irá acontecer. 
Já como termo impossível podemos citar o dia 31/2/2031, uma vez que o mês de fevereiro nunca terá 31 dias.
Fala-se, também, em negócios não atermáveis, ou seja, que não admitem termo, como o casamento e a adoção.
A classificação mais significativa aparta o termo inicial/suspensivo/dilatório do termo
final/resolutivo/peremptório. Vejamos:
Inicial/suspensivo/dilatório
“É o que marca o início de eficácia do negócio jurídico. Os romanos chamavam-no dies a quo, expressão que
ainda se emprega entre nós” (SCHREIBER, 2020, p. 350-351).

Final/resolutivo/peremptório
“É aquele que marca o momento de cessação da eficácia do negócio jurídico. É o que os romanos chamavam de
dies ad quem, caracterizando um negócio jurídico temporário ou ad tempus” (SCHREIBER, 2020, p. 350-351).
Vejamos exemplos de negócios a termo inicial e final:
 
Foto: Shutterstock.com.
Exemplo de negócio sujeito a termo inicial/suspensivo/dilatório é aquele em que o vendedor se obriga a entregar a
coisa no dia 3/1/2031.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Já “o jogador de futebol que se compromete a jogar por certo clube até o fim do ano de 2020 celebra negócio
jurídico sujeito a termo final. Os efeitos do negócio se produzem, nesse último exemplo, não com base em
determinado eventofuturo e certo, mas até a ocorrência de determinado evento futuro e certo” (SCHREIBER,
2020, p. 351).
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Diz o art. 131: “O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito”.
 ATENÇÃO
Diferença importante para a condição, então, é que o termo suspensivo/inicial não impede a aquisição do direito,
ao passo que a condição suspensiva impede a aquisição do direito e o seu exercício.
O direito a termo é um direito já adquirido, apenas não pode ser exercido. O fato de o termo ser suspensivo/inicial
interfere com o exercício do direito, mas não com a sua aquisição. Logo, um direito a termo é, para todos os
efeitos, considerado adquirido. Como consequência, o direito a termo, adquirido, pode ser transferido a terceiros.
ENCARGO OU MODO
O terceiro elemento acidental consiste num ônus imposto a uma liberalidade e, diferentemente do termo e da
condição, só existe em negócios jurídicos gratuitos, como a doação. Além disso, esse ônus não pode ser tão
grande que seja encarado como uma contraprestação, porque isso o desfiguraria.
Podemos dizer que o modo ou encargo “vincula o direito atribuído à realização do ônus estipulado pelo autor do
benefício. Restringe a vantagem criada pelo negócio jurídico ao estabelecer específica finalidade para o direito
adquirido, ou ao impor prestação a ser desempenhada pelo beneficiário, que pode inclusive ser em benefício de
terceiro” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 312-313).
São comuns, por exemplo, os legados feitos por testadores que impõem encargos como mandar celebrar missas
pela alma do falecido ou construir um mausoléu. Logo, o encargo pode ter natureza econômica ou não econômica.
Caso o encargo não seja cumprido, no caso da doação, há um mecanismo conhecido como revogação por
descumprimento do encargo.
 
Foto: Shutterstock.com.
 ATENÇÃO
Diferença significativa do encargo para a condição e o termo é que a condição suspensiva suspende, mas não
obriga. Já o encargo obriga, mas não suspende. Isso quer dizer que um direito sob encargo já está adquirido e já
pode ser exercido pelo devedor do encargo.
Vejamos:
CONDIÇÃO
Na condição não se adquire nem se pode exercer o direito.
TERMO
No termo, o direito já está adquirido, mas não pode ser exercido pelo credor.
ENCARGO
O encargo é coercitivo, obriga o exercício do direito, mas não o suspende em caso de descumprimento, a
princípio. Diferentemente do termo e da condição, ele é anexo, não inexo.
Daí decorre que se ele for impossível, mesmo que seja suspensivo ou ilícito, não inquinará o negócio jurídico, que
ficará de pé e o modo ficará tido como inexistente, pois não integra o negócio.

Artigo 137 
“Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade,
caso em que se invalida o negócio jurídico”.

Artigo 136 
“O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio
jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva”.
Vistos os elementos acidentais do negócio, falta falarmos da representação, que consiste, em síntese, na “técnica
jurídica de atuação em nome de outrem. A representação faz com que os efeitos de um ato ou negócio jurídico
recaiam não sobre quem o pratica, mas sobre a pessoa em nome de quem é praticado” (SCHREIBER, 2020, p.
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359). Ou seja: é o representante quem age, mas a sua ação repercutirá no patrimônio de outrem (representado),
que responderá por essa ação que o representante levou a efeito.
O negócio jurídico é o campo por excelência da representação, embora haja negócios jurídicos, como o
testamento, que não a admitam. Igualmente, para os atos jurídicos stricto sensu, em princípio, não há qualquer
empecilho. 
A chave da representação é que alguém atua em nome de outrem: é agir contemplatio domini, isto é, em
contemplação, vinculando o titular em cujo nome se age. Em outras palavras, a contemplatio é a “publicidade ou
exteriorização do fato de que a atuação se dá em nome de um representado” (SCHREIBER, 2020, p. 360).
Como exemplo, o advogado, ao agir no processo judicial, age em nome de seu cliente e dentro dos poderes que
lhe foram outorgados por este, que se vincula somente à atuação dentro dos limites dos poderes conferidos (art.
116 do CC).
É assim que, se o representante agir em nome próprio, tecnicamente, não haverá representação, de sorte que
quem acabará vinculado aos efeitos do negócio não será o representado, mas o representante (art. 118).
 
Foto: Shutterstock.com.
Quanto à sua natureza jurídica, a representação pode ser:
JUDICIAL
Quando há nomeação pelo juiz.
LEGAL
Como nos casos dos pais em relação aos filhos absolutamente incapazes.
VOLUNTÁRIA
Quando as partes o convencionam, o que se dá por meio de um negócio jurídico unilateral de outorga de
poderes a que a doutrina denomina procuração.
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 ATENÇÃO
Importante pontuar, portanto, que, “[t]ecnicamente, a representação, como agir em nome alheio, existe
independentemente de o representante ter, de fato, recebido o poder de agir em nome do representado”.
Para que ocorra a representação, “basta que um negócio jurídico tenha sido declaradamente celebrado em nome
de um terceiro com o fim de que sobre tal pessoa recaiam os seus efeitos” (SCHREIBER, 2020, p. 359).
Além disso, é importante diferenciar o contrato de mandato da outorga de poderes.
Mandato
É um contrato de prestação de serviços. Até pode conter uma procuração, mas com ela não se confunde.

Procuração
Não é um contrato, mas um negócio jurídico unilateral (lembramos: contratos são negócios jurídicos bilaterais), por
meio do qual alguém outorga poderes para que outrem aja em seu nome.
É por isso que pode ser que haja representação sem mandato, como no caso da representação legal, mas não
seria possível que houvesse mandato sem representação para alguns doutrinadores como Tepedino e Oliva
(2021, p. 281-282).
 COMENTÁRIO
Para doutrinadores como Farias e Rosenvald (2017, p. 628), isso seria possível, porque o CC, na segunda parte
do art. 663 teria, ainda que não expressamente, adotado a chamada teoria ou princípio da separação, de modo
que seria possível que eventualmente o mandatário atuasse em seu próprio nome, sem qualquer concessão de
poderes, o que seria designado de mandato sem representação ou mandato em causa própria.
Ressaltamos, também, que segundo a terminologia adotada por Pontes de Miranda (2012), quem integra uma
pessoa jurídica não a representa, mas sim a presenta, porque não há um mandato, não é um caso de
representação, porque não se trata de outra pessoa. Pensemos, por exemplo, que, num clube de futebol, a
presidência é um órgão daquela pessoa jurídica. Como o clube não existe palpavelmente, alguém tem que exercer
seus atos, então o presidente do clube passa a presentar o clube. Pode ser, contudo, que o clube designe um
mandatário.
 EXEMPLO
Na hipótese em que um vendedor determina que um terceiro celebre, em seu nome, uma venda, por um preço tal,
a procuração outorgaria o seguinte poder: “venda”. Já o mandato diria: “venda por tal preço”. A razão para isso é
que “[e]nquanto o representante age em nome do representado, o mandatário age em nome e no interesse do
mandante” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 284).
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon comenta sobre representação, condição, termo e encargo. Vamos
assistir!
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. ACERCA DA REPRESENTAÇÃO, É CORRETO AFIRMAR QUE ESTAMOS DIANTE DE
UM:
A) Negócio jurídico bilateral receptício.
B) Negócio jurídico unilateral receptício.
C) Negócio jurídico bilateral não receptício.
D) Técnica jurídica de atuação em nome de outrem.
E) Instrumento da procuração.
2. SÃO CONDIÇÕES PURAMENTE POTESTATIVAS:
A) Aquelas presentes em negócios que envolvam apenas direitos potestativos.
B) Algumas espécies de direitos potestativos.
C) Algumas espéciesde ônus jurídicos.
D) Aquelas que submetem a eficácia do negócio à terceira parte.
E) Aquelas que submetem o negócio ao exclusivo arbítrio de uma das partes.
GABARITO
1. Acerca da representação, é correto afirmar que estamos diante de um:
A alternativa "D " está correta.
 
Trata-se da conceituação clássica da representação, que é uma técnica e não um negócio jurídico como o
mandato ou a procuração.
2. São condições puramente potestativas:
A alternativa "E " está correta.
 
A alternativa indicada refere-se ao entendimento doutrinário sobre o tema, no sentido de que são potestativas as
condições que deixam o negócio ao arbítrio único de uma das partes.
MÓDULO 2
 Identificar as modalidades e os defeitos dos negócios jurídicos
DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
Os defeitos do negócio jurídico são aqueles “vícios que maculam a declaração de vontade do agente, deflagrando
a anulabilidade do negócio jurídico celebrado” (SCHREIBER, 2020, p. 366).
Segundo o Código Civil (CC), são eles:
VÍCIOS DO CONSENTIMENTO
Erro, dolo e coação.
VÍCIOS SOCIAIS
Lesão, estado de perigo e fraude contra credores.
A consequência prática é que, verificado qualquer um desses, o negócio se sujeita à anulabilidade. A simulação,
como veremos, foi retirada do campo dos defeitos pelo CC atual, tratando-se de causa de nulidade (SCHREIBER,
2020, p. 366).
ERRO
Consiste este defeito “em falsa representação da realidade que vicia a manifestação de vontade. A partir da
percepção equivocada de relevantes aspectos negociais, forma-se a vontade defeituosa, por haver divergência
entre a vontade declarada e a que seria declarada não fosse a errônea compreensão da realidade” (TEPEDINO;
OLIVA, 2021, p. 316).
No entanto, para que o erro tenha o condão de levar o negócio à anulabilidade, é preciso que ele seja substancial
e também cognoscível, o que está na parte final do art. 138 do CC:
SÃO ANULÁVEIS OS NEGÓCIOS JURÍDICOS, QUANDO AS
DECLARAÇÕES DE VONTADE EMANAREM DE ERRO
SUBSTANCIAL QUE PODERIA SER PERCEBIDO POR PESSOA DE
DILIGÊNCIA NORMAL, EM FACE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO
NEGÓCIO.
Nesse sentido, substancial é o erro determinante, isto é, se a parte não tivesse nele incorrido, ela não teria
celebrado o negócio. É o exemplo do colecionador de objetos históricos que compra um “anel de ouro de
Pompeia”, achando que se tratava da região italiana, mas, em verdade, o anel era da região com o mesmo nome
em São Paulo.
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Imagem: Agzam / Pixabay.
Segundo o art. 139 do CC, o erro é substancial quando:

ERRO SOBRE O OBJETO
I - Interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele
essenciais.

ERRO SOBRE A PESSOA
II - Concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde
que tenha influído nesta de modo relevante.

ERRO DE DIREITO
III - Sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
A isso se contrapõe o erro acidental: é aquele que diz respeito a qualidades secundárias do objeto do negócio, de
modo que o indivíduo até celebraria o negócio, mas não naquela circunstância. É o exemplo da pessoa que
compra o apartamento 201 pensando que está comprando o 202, onde bateria mais sol: a pessoa até compraria o
201, mas preferia o 202. O erro acidental não enseja anulabilidade, mas eventualmente apenas perdas e danos.
 
Imagem: Shutterstock.com.
Outro exemplo está no art. 142 do CC, que prevê que o erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a
declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar
a coisa ou pessoa cogitada. Além disso, “O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de
vontade” (art. 143). Ainda, “o falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão
determinante” (art. 140).
DOLO
Na definição de Clóvis Beviláqua (2001, p. 299), “é o artifício ou expediente astucioso, empregado para induzir
alguém à prática de um ato jurídico, que o prejudica, aproveitando ao autor do dolo ou a terceiro”. Todavia, para
que o dolo enseje a anulação do negócio, ele precisa “ser a sua causa (dolo essencial), isto é, razão determinante
da celebração do ajuste (CC, art. 145)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 321).
 
Foto: Shutterstock.com.
Contudo, o chamado dolo acidental, embora desperte para a vítima do ardil o direito ao ressarcimento pelas
perdas e danos experimentados:
NÃO ACARRETA A INVALIDAÇÃO DO NEGÓCIO, HAJA VISTA QUE
ESTE SERIA CELEBRADO A DESPEITO DO DOLO, EMBORA POR
OUTRO MODO (CC, ART. 146). O DOLO ESSENCIAL, A SEU
TURNO, ALÉM DA INVALIDAÇÃO DO NEGÓCIO, TAMBÉM SUJEITA
AQUELE QUE OPEROU MALICIOSAMENTE A INDENIZAR
EVENTUAIS DANOS SOFRIDOS PELA PARTE QUE MANIFESTOU A
VONTADE VICIADA.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 322)
A doutrina ainda diferencia o dolus maluss do dolus bonus:
DOLUS MALUS
Este seria o dolo tradicional, marcado pela intenção de iludir, com o fito de prejudicar a outra parte.
DOLUS BONUS
Está associado ao “conjunto de práticas usuais do comércio que não tem o escopo de iludir ou prejudicar, como a
ênfase nas qualidades do bem a ser vendido ou os exageros habitualmente utilizados na publicidade comercial. O
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dolus bonus não seria suficiente para atrair os efeitos jurídicos do dolo” (SCHREIBER, 2020, p. 377, grifo no
original). É o exemplo da confeitaria que diz que faz “o melhor doce do mundo”.
O dolo pode se dar por ação ou por omissão, como prevê o art. 147:
NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS BILATERAIS, O SILÊNCIO
INTENCIONAL DE UMA DAS PARTES A RESPEITO DE FATO OU
QUALIDADE QUE A OUTRA PARTE HAJA IGNORADO, CONSTITUI
OMISSÃO DOLOSA, PROVANDO-SE QUE SEM ELA O NEGÓCIO
NÃO SE TERIA CELEBRADO.
Pode ainda ser dolo recíproco, e, se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular
o negócio, ou reclamar indenização.
 
Foto: Shutterstock.com.
Vamos abordar agora outros dois tipos de dolo:
DOLO DE TERCEIRO
Ocorre se quem induz o declarante a erro for não a outra parte do negócio, mas um terceiro (art. 148 do CC).
Nessa hipótese, o negócio só será “anulável se o receptor da declaração dele tivesse ou devesse ter
conhecimento. Caso contrário, o negócio subsiste, mas o terceiro responde por todas as perdas e [os] danos
sofridos pela vítima do dolo” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 323).
DOLO DO REPRESENTANTE
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O art. 149 alude ao dolo do representante: “O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o
representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante
convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos”.
COAÇÃO
Nesta modalidade, incute-se no declarante (chamado de paciente) fundado temor de dano iminente e considerável
à sua pessoa, à sua família ou aos seus bens. Caso diga respeito a uma pessoa não pertencente à família do
paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. É o que afirmam o art. 151 do CC e seu
único parágrafo. Além disso, no apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela (art. 152).
Alude-se a dois tipos de violência:
Física
(vis absoluta)

Moral
(vis compulsiva)
A coação a que se referiu o Código seria somente a moral, pois a física excluiria “por completo a vontade do
agente, reduzido a instrumento passivo do ato, implicando ausência total de consentimento. Aqui não há vício
porque não há sequer vontade, elemento essencial à própria formação do negócio jurídico” (TEPEDINO; OLIVA,
2021, p. 325).
NA COAÇÃO SE VERIFICA O RECURSO À VIOLÊNCIA MORAL
POR ALGUÉM (COATOR OU AUTOR DA COAÇÃO) PARA
COMPELIR OUTREM (PACIENTE OU COACTO) A CELEBRAR
NEGÓCIO JURÍDICO. TRATA-SE DE PRESSÃO OU VIOLÊNCIA
MORAL IRRESISTÍVELCONTRA QUEM DECLARA A VONTADE,
TORNANDO-A DEFEITUOSA.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 325)
Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial (art. 153
do CC).
No entanto, vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a
parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos (art. 154).
Outra é a solução se a coação decorrer de terceiro sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter
conhecimento. Nesse caso, subsistirá o negócio jurídico, mas o autor da coação responderá por todos os danos e
perdas que houver causado ao coacto (art. 155).
VÍCIOS SOCIAIS: ESTADO DE PERIGO, LESÃO E
FRAUDE
ESTADO DE PERIGO
Segundo o art. 156 do CC, “configura-se estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se,
ou a uma pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente
onerosa. Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá segundo
as circunstâncias”.
 EXEMPLO
O pai que, vendo seu filho à beira da morte, aceita pagar um valor desproporcional para que ele receba um
tratamento no hospital.
Conforme Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 328), três são os requisitos necessários para a
caracterização do estado de perigo:
(i) Assunção de obrigação excessivamente onerosa.
(ii) Dolo de aproveitamento, consistente no ânimo de se aproveitar do estado de necessidade de outrem.
(iii) Vulnerabilidade daquele que assume a prestação excessivamente onerosa, oriunda da necessidade de salvar a
si ou a pessoa de sua família.
O PERIGO NÃO PRECISA SER REAL PARA VICIAR A FORMAÇÃO
DA VONTADE; BASTA A CRENÇA DO DECLARANTE DE QUE A
GRAVE SITUAÇÃO DE PERIGO EXISTE, ALIADA AO
APROVEITAMENTO DESTE ESTADO PSICOLÓGICO PELA
CONTRAPARTE.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 328)
LESÃO
Segundo o art. 157 do CC, ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,
se obriga à prestação de realizar um negócio jurídico com alguma pessoa, manifestamente desproporcional ao
valor da prestação oposta.
De acordo com Gustavo Tepedino e Milena Donato Oliva (2021, p. 330), são requisitos da lesão:
A desproporção manifesta entre as prestações estabelecidas no contrato no momento da realização do negócio
(requisito objetivo).

Inexperiência do lesado ou ter este agido premido por necessidade (requisito subjetivo).
Aqui, diferentemente do estado de perigo, o legislador não exige o dolo de aproveitamento. Com efeito, a parte que
se beneficia da lesão:
NÃO PRECISA AGIR COM O INTUITO DE SE APROVEITAR DA
INEXPERIÊNCIA OU DA NECESSIDADE DA CONTRAPARTE, NÃO
EXISTINDO, QUANTO A ELA, QUALQUER REQUISITO SUBJETIVO.
NA LESÃO É NECESSÁRIA, DE OUTRA PARTE, A INEXPERIÊNCIA
OU A NECESSIDADE DO LESADO (REQUISITO SUBJETIVO),
DETERMINANTES PARA A CELEBRAÇÃO DO NEGÓCIO
NAQUELAS CONDIÇÕES. EM UMA PALAVRA, EXIGE-SE O
APROVEITAMENTO (OBJETIVO) DA SITUAÇÃO DE
INEXPERIÊNCIA OU DE NECESSIDADE, MAS NÃO O DOLO DE
APROVEITAMENTO.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 331-332)
FRAUDE CONTRA CREDORES
Segundo o art. 158 do CC, os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o
devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos
credores quirografários, como lesivos dos seus direitos. A intenção do legislador aqui foi a proteção dos credores
quirografários – isto é, aqueles “que têm como garantia o patrimônio geral do devedor, sem qualquer privilégio ou
garantia real, bem como aqueles cuja garantia se torne insuficiente (CC, art. 158, § 1º) – de negócios praticados
pelo devedor em prejuízo da garantia patrimonial geral” (TEPEDINO; OLIVA, p. 334).
 ATENÇÃO
O ato só poderá ser qualificado como fraudulento “se efetivamente comprometer a capacidade do devedor de
honrar suas obrigações, reduzindo-o à insolvência – que se caracteriza pela circunstância de o passivo patrimonial
superar o ativo – ou agravando este quadro (eventus damni). Sem esse pressuposto objetivo não há de se cogitar
de fraude contra credores” (TEPEDINO; OLIVA, p. 334).
Tradicionalmente, a doutrina aponta, portanto, dois elementos como caracterizadores da fraude contra credores
(SCHREIBER, 2020, p. 390):

EVENTUS DAMNI
É o prejuízo objetivamente causado ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter agravado ainda mais seu
estado de insolvência.

CONSILIUM FRAUDIS
É definida como a intenção do devedor ou do devedor aliado com terceiro de ilidir os efeitos da cobrança pelos
credores.
 ATENÇÃO
Nada obstante, o consilium fraudis “tem passado por progressiva relativização, dispensando-se a tormentosa prova
da intenção de prejudicar, quer nas transmissões gratuitas, quer nas onerosas”, de modo que não se tem exigido
do devedor a intenção deliberada de causar prejuízo (animus nocendi), bastando que haja a consciência de
produzir o dano (SCHREIBER, 2020, p. 390-391).
Há diferença entre negócios gratuitos e onerosos:
[N]O PRIMEIRO CASO, BASTA A DEMONSTRAÇÃO DE QUE O ATO
ENSEJOU A INSOLVÊNCIA OU DE QUE, À ÉPOCA DE SUA
CELEBRAÇÃO, O DEVEDOR JÁ ESTAVA INSOLVENTE (CC, ART.
158, CAPUT). EM SE TRATANDO DE NEGÓCIO ONEROSO, É
NECESSÁRIO, AINDA, DEMONSTRAR QUE (I) A CONTRAPARTE
SABIA – OU TINHA MEIOS PARA SABER – DA INSOLVÊNCIA DO
DEVEDOR; OU (II) A INSOLVÊNCIA ERA NOTÓRIA (CC, ART. 159).
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 334)
Por fim, os autores esclarecem:
O NEGÓCIO CONSIDERADO FRAUDULENTO PODERÁ SER
ANULADO PELOS CREDORES PREJUDICADOS. EXISTE INTENSO
DEBATE DOUTRINÁRIO ACERCA DA SOLUÇÃO LEGAL PARA O
NEGÓCIO PRATICADO EM FRAUDE CONTRA CREDORES:
ANULAÇÃO OU INEFICÁCIA DO ATO. AO DELIBERADAMENTE
OPTAR PELA CONSEQUÊNCIA DA ANULAÇÃO, QUIS O
LEGISLADOR PROTEGER OS CREDORES QUIROGRAFÁRIOS
COMO UM TODO COM O RETORNO DO BEM AO PATRIMÔNIO DO
DEVEDOR, NÃO JÁ APENAS O CREDOR QUE INTENTOU A AÇÃO.
POR ISSO, INCLUSIVE, A DISPOSIÇÃO EXPRESSA DO ART. 165
DO CÓDIGO CIVIL DE QUE, HAVENDO CONCURSO INSTAURADO,
O BEM DEVE RETORNAR AO ACERVO EM RELAÇÃO AO QUAL
OS CREDORES IRÃO SATISFAZER O SEU CRÉDITO. A AÇÃO A
SER MOVIDA PELO CREDOR FRAUDADO PARA BUSCAR A
ANULAÇÃO DO NEGÓCIO JURÍDICO É DENOMINADA AÇÃO
PAULIANA OU AÇÃO REVOCATÓRIA.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 335)
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon comenta sobre as semelhanças e diferenças entre estado de perigo,
lesão e fraude. Vamos assistir!
SIMULAÇÃO
Para finalizarmos este módulo, falaremos da simulação, que consiste em causa de nulidade do negócio jurídico,
segundo o caput do art. 167, que prevê que é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.
Em verdade, “[o] negócio simulado não passa de mera aparência: as partes não querem o negócio celebrado, seja
porque não desejam negócio algum (simulação absoluta), seja porque pretendem negócio diverso (simulação
relativa)” (TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 353).
Os autores esclarecem, ainda, que, para a doutrina, na simulação:
HÁ DIVERGÊNCIA INTENCIONAL ENTRE O DECLARADO E O
EFETIVAMENTE REALIZADO, DIFERENCIANDO-SE A SIMULAÇÃO
ABSOLUTA DA RELATIVA PELA INEXISTÊNCIA, NA PRIMEIRA, DE
NEGÓCIO JURÍDICO SUBJACENTE (NEGÓCIO DISSIMULADO),
QUE É O VERDADEIRO ACORDO ALMEJADO PELAS PARTES NA
SIMULAÇÃO RELATIVA. O NEGÓCIO DISSIMULADO PODE
SUBSISTIR, CONSOANTE SE DEPREENDE DO ART. 167 DO
CÓDIGO CIVIL, CASO APRESENTE OS REQUISITOS DE VALIDADE
QUE LHE SÃO PRÓPRIOS.
(TEPEDINO; OLIVA, 2021, p. 353)
Conforme Anderson Schreiber (2020, p. 400), ela pressupõe a confluência de três elementos:
A divergência entre o negócio jurídico celebrado e os efeitos perseguidos pelos declarantes.
Um acordo simulatório entre os declarantes.
O intuito de enganar terceiros.
Em seu § 1º, o art. 167 dispõe que haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - Aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou
transmitem.II - Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira.
III - Os instrumentos particulares forem antedatados ou pós-datados.
Já o § 2º ressalva os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico simulado.
Por fim, apesar de ambas conduzirem ao mesmo resultado (a nulidade do negócio), aparta-se a simulação
maliciosa da inocente.
O INTUITO DE ENGANAR TERCEIRO NÃO IMPLICA
NECESSARIAMENTE INTUITO DE CAUSAR DANO OU VIOLAR A
LEI. SE ESSE OCORRER TAMBÉM, REPUTA-SE MALICIOSA A
SIMULAÇÃO. É O CASO DE UMA VENDA EM QUE SE SIMULA UM
PREÇO MAIOR QUE O EFETIVAMENTE PAGO PARA PREJUDICAR
O TITULAR DE DIREITO DE PREFERÊNCIA, OU UM PREÇO
MENOR PARA PREJUDICAR O FISCO. SE AS PARTES, AO
CONTRÁRIO, ESTIVEREM DE BOA-FÉ, A SIMULAÇÃO É
CHAMADA INOCENTE, COMO NO EXEMPLO DO COMODANTE
QUE OPTA POR UM COMODATO POR PRAZO INDETERMINADO,
DISFARÇANDO UMA DOAÇÃO QUE DESEJA E NÃO CELEBRA
ABERTAMENTE PARA NÃO MAGOAR O TERCEIRO QUE LHE
PRESENTOU COM O BEM.
(SCHREIBER, 2020, p. 400-401)
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SOBRE OS DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.
A) São vícios do consentimento o dolo, a coação e a fraude contra credores.
B) São vícios sociais a lesão, o estado de perigo e o erro.
C) Todos os defeitos do negócio jurídico acarretam a nulidade do negócio jurídico.
D) São vícios sociais a lesão, o estado de perigo e a fraude contra credores.
E) Erro, lesão e fraude contra credores levam à anulabilidade do negócio jurídico, enquanto dolo, estado de perigo
e dolo conduzem à nulidade.
2. DE QUAL DEFEITO DO NEGÓCIO ESTAMOS FALANDO QUANDO UMA PESSOA, SOB
PREMENTE NECESSIDADE, OU POR INEXPERIÊNCIA, SE OBRIGA A PRESTAÇÃO
MANIFESTAMENTE DESPROPORCIONAL AO VALOR DA PRESTAÇÃO OPOSTA?
A) Estado de perigo.
B) Dolo.
C) Coação.
D) Erro.
E) Lesão.
GABARITO
1. Sobre os defeitos do negócio jurídico, assinale a alternativa correta.
A alternativa "D " está correta.
 
São defeitos do negócio jurídico o erro, o dolo, a coação, a lesão, o estado de perigo e a fraude contra credores,
sendo os três primeiros considerados vícios do consentimento e os três últimos vícios sociais.
2. De qual defeito do negócio estamos falando quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta?
A alternativa "E " está correta.
 
Trata-se da redação do art. 157 do Código Civil: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”.
MÓDULO 3
 Identificar as causas de inexistência, nulidade e anulabilidade dos negócios jurídicos
INVALIDADE DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Como vimos ao longo deste estudo, cada vez mais a doutrina tem adotado uma perspectiva funcionalizante dos
institutos. Em vez de analisar somente a estrutura, procura-se enxergar a função dos institutos.
Isso parece ocorrer também com o estudo dos planos do negócio jurídico e ao que se convencionou designar
Escada Ponteana em referência ao autor Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda.
Como pudemos analisar, são três os planos:
 
Imagem: Shutterstock.com.
EXISTÊNCIA
 
Imagem: Shutterstock.com.
VALIDADE
 
Imagem: Shutterstock.com.
EFICÁCIA
Ou seja: o negócio precisa incialmente existir (são elementos de existência: a forma, o agente, a vontade e o
objeto) e, uma vez existente na ordem jurídica, precisa ele ser válido, isto é, precisa observar uma série de regras,
como aquela constante do art. 104 do Código Civil (CC).
A validade do negócio jurídico requer:
Agente capaz
Objeto lícito, possível, determinado ou determinável
Forma prescrita ou não defesa em lei
Finalmente, existente e válido, passa-se a avaliar se aquele negócio produzirá seus efeitos na ordem jurídica.
INEXISTÊNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Como afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2017, p. 619), no plano da existência do negócio
jurídico, não se discute a sua validade/invalidade ou eficácia. A análise recai exclusivamente sobre:
O SER, ISTO É, O PREENCHIMENTO DAS CONDIÇÕES MÍNIMAS
PARA QUE POSSA PRODUZIR EFEITOS. O NEGÓCIO JURÍDICO
INEXISTENTE É O QUE NÃO POSSUI OS ELEMENTOS FÁTICOS
QUE A SUA NATUREZA SUPÕE E EXIGE COMO CONDIÇÃO
EXISTENCIAL, CONDUZINDO A SUA FALTA À IMPOSSIBILIDADE
DE SUA FORMAÇÃO. [DESSE MODO,] FRUSTRADOS OS
ELEMENTOS DE EXISTÊNCIA, NÃO EXISTE NA ÓRBITA JURÍDICA,
NÃO PODENDO PRODUZIR, POR CONSEGUINTE, QUALQUER
EFEITO JURÍDICO. É O NÃO ATO.
(FARIAS; ROSENVALD, 2017)
Como vimos, a doutrina diverge com relação a quais seriam esses pressupostos de existência. No entanto,
optamos em nosso estudo por aceitar como elementos os seguintes: a forma, o agente, a vontade e o objeto.
 EXEMPLO
Uma mulher (agente) faz, em pleno gozo de suas faculdades mentais (vontade), testamento público (forma) para
dispor sobre seu patrimônio disponível (objeto).
Merece menção o entendimento de Azevedo (2002, p. 117), para quem são elementos constitutivos do negócio
jurídico o objeto, a forma e as circunstâncias negociais. Estas seriam compreendidas “como aquelas circunstâncias
que fazem com que a manifestação de vontade seja vista socialmente como dirigida à produção de efeitos
jurídicos. As circunstâncias negociais são aquilo que permitiria distinguir, por exemplo, uma promessa de contratar
de um mero convite para comparecer a um evento social” (SCHREIBER, 2020, p. 339).
Por último, Anderson Schreiber (2020, p. 417) traz crítica feita por parte da doutrina à teoria da inexistência:
PARTE DA DOUTRINA CRITICA A TEORIA DA INEXISTÊNCIA POR
DIFERENTES RAZÕES. PRIMEIRO, A PRÓPRIA EXPRESSÃO ‘ATO
INEXISTENTE OU NEGÓCIO INEXISTENTE’ ENCERRARIA UMA
CONTRADIÇÃO NOS PRÓPRIOS TERMOS: OU O NEGÓCIO
JURÍDICO SE FORMA, OU NÃO SE FORMA, NÃO HAVENDO
RAZÃO PARA SE ALUDIR A UMA TEORIA DA INEXISTÊNCIA DOS
NEGÓCIOS JURÍDICOS – OU, PELO MENOS, NÃO HAVENDO
MAIOR RAZÃO PARA TANTO DO QUE HAVERIA PARA ALUDIR A
UMA TEORIA DA INEXISTÊNCIA DE CADA UM DOS INSTITUTOS
JURÍDICOS. A TEORIA DA INEXISTÊNCIA É CONSIDERADA,
AINDA, UMA TEORIA INEXATA, POIS A AFIRMAÇÃO DE QUE O
NEGÓCIO JURÍDICO INEXISTENTE DISPENSARIA PROVIMENTO
JURISDICIONAL É FALACIOSA. A RIGOR, SE A ‘APARÊNCIA’ DE
NEGÓCIO JURÍDICO FOI CONSIDERADA SUFICIENTE PARA QUE
SE QUALIFIQUE O NEGÓCIO COMO INEXISTENTE É PORQUE JÁ
HAVERÁ FUNDADA DÚVIDA SOBRE A SUA EXISTÊNCIA OU
INEXISTÊNCIA, DÚVIDA QUE SOMENTE PODERÁ SER AFASTADA
POR UM PROVIMENTO JURISDICIONAL NUM SENTIDO OU
NOUTRO. A TEORIA DA INEXISTÊNCIA SERIA, ADEMAIS, INÚTIL,
PORQUE SERIA SUBSTITUÍDA COM VANTAGENS PELA
NULIDADE – A QUAL JÁ AFASTA A PRESCRIÇÃO E JÁ SUPRIME
RETROATIVAMENTE OS EFEITOS DO NEGÓCIO. SERIA, ALÉM
DISSO, INCONVENIENTE POR PRIVAR AS PARTES DAS
GARANTIAS DE DEFESA QUE LHES CABERIAM EM PROCESSO
VOLTADO AO RECONHECIMENTO OU DECRETAÇÃO DE
INVALIDADE.
NULIDADES DO NEGÓCIO JURÍDICO
Segundo Clóvis Beviláqua (2001, p. 345), a nulidade “é a declaração legal de que a determinados atos jurídicos
não se prendem os efeitos ordinariamente produzidos pelos atos semelhantes. Como a pena, em relação ao crime,
é a decretação da nulidade uma reação do organismo social para manter ou restabelecer o equilíbrio da ordem
jurídica”.
E essa reação pode se operar de forma mais ou menos violenta, de acordo com os interesses feridos pela
ilegalidade daquele determinado ato. É por isso que, classicamente, trata-se do regime de invalidades dos
negócios jurídicos partindo-se da distinção entre as suas duas espécies:
Nulidade
Afronta a interesses de ordem pública, cuja lesão repercutiria em toda a sociedade.

Anulabilidade
Casos em que seja ferido apenas o interesse das partes.
Ou seja, os casos de nulidade seriam mais graves e, portanto, ensejariam uma reprimenda mais intensa do
ordenamento se comparada àquela conferida aos atos sujeitos à anulabilidade.
Vejamos a respeito do decreto e dos efeitos de ambas:
QUANTO À DECRETAÇÃO
QUANTO AOS EFEITOS
QUANTO À DECRETAÇÃO
Como consequência, a nulidade deveriaser pronunciada de oficio pelo juiz a qualquer tempo, podendo ser
invocada tanto pelas partes como pelo Ministério Público (art. 168 do CC), ao passo que a anulabilidade, para ser
decretada, deveria ser alegada por uma das partes, seguindo um critério de aproveitamento (art. 177 do CC).
QUANTO AOS EFEITOS
Quanto aos efeitos, diz-se que a nulidade provoca efeitos retroativamente (ex tunc), enquanto a anulabilidade
produziria efeitos não retroativos (ex nunc). Além disso, por ser um vício absoluto, cujos efeitos se operam de
pleno direito (pleno iure), a nulidade não admitira convalescimento, sendo considerada, ainda, imprescritível por
parte considerável da doutrina. O mesmo não sucederia com a anulabilidade, que estaria submetida a prazos
decadenciais mais curtos, podendo ser suprida pelas partes de maneira expressa ou tácita (arts. 172 a 175 do CC)
(SCHREIBER, 2020, p. 397-398).
De acordo com o rol não taxativo do art. 166, é nulo o negócio jurídico quando:
Celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
O seu objeto for ilícito, impossível ou indeterminável.
O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito.
Não revestir a forma prescrita em lei.
For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade.
Tiver por objetivo fraudar lei imperativa.
A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.
Tratar-se de negócio jurídico simulado, embora subsista o que se dissimulou, se válido for na substância e na
forma.
Contudo, na esteira do art. 171, são causas de anulabilidade dos negócios jurídicos, além dos casos
expressamente declarados na lei:

A incapacidade relativa do agente.

Os vícios resultantes de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.
Quebrando a lógica tradicional, hoje vemos que muitos atos nulos podem ser eficazes, sobretudo quando se
analisam também os efeitos que, embora não pretendidos pelas partes, acabaram se operando. Eduardo Souza
(2017b, p. 27) traz alguns desses exemplos no âmbito do Direito Civil a seguir.
UMA DAÇÃO EM PAGAMENTO NULA PODE IMPORTAR
CONFISSÃO DE DÍVIDA PARA FINS DE INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO (ART. 202, VI DO CÓDIGO CIVIL). O ATO
TRANSLATÍCIO DO DOMÍNIO, AINDA QUE NULO, SERVE COMO
CAUSA JUSTIFICADORA DA POSSE. SUBSISTEM OS DEVERES
ANEXOS DE PROTEÇÃO A DESPEITO DA NULIDADE
CONTRATUAL. O CASAMENTO NULO FAZ PROVA DA FILIAÇÃO
(ART. 1.617 DO CÓDIGO CIVIL). O CASAMENTO PUTATIVO
PRODUZ SEUS EFEITOS EM PROL DOS FILHOS E DOS
CÔNJUGES DE BOA-FÉ (ART. 1.561 DO CÓDIGO CIVIL). O ATO
NULO PODE, AINDA, CRIAR O DEVER DE INDENIZAR, SE
VERIFICADOS OS REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL
(APENAS IMPROPRIAMENTE ALUDE O ART. 182 DO CÓDIGO
CIVIL À ‘INDENIZAÇÃO’ COMO EFEITO NORMAL DA
INVALIDAÇÃO).
Importa ressaltar, ainda, que o CC brasileiro dispensou “o critério do prejuízo para a configuração da nulidade,
rejeitando o velho adágio francês segundo o qual pas de nullité sans grief (não há nulidade sem prejuízo). Assim,
os negócios jurídicos podem ser declarados nulos independentemente de haver configuração de prejuízo para
qualquer das partes ou terceiros” (SCHREIBER, 2020, p. 398, grifo no original).
A lógica do legislador é a de que tais negócios deveriam ser extirpados da ordem jurídica na medida em que a
ofendem por si só, pois a sua manutenção estimularia um ambiente negocial nocivo. É basilar, assim, “o princípio
do respeito à ordem pública, assentando as regras definidoras da nulidade na infração de leis que têm este caráter
cogente” (PEREIRA, 2017, p. 508).
Cada vez mais, portanto, se busca evitar a invalidação total dos atos e negócios do ordenamento, dadas as
consequências traumáticas geradas por toda invalidação, embora as razões que as justifiquem sejam, usualmente,
interesses tão sensíveis que não se admite que uma violação a eles produza efeitos em benefício de quem os deu
causa.
 COMENTÁRIO
Nada obstante, a própria ideia do princípio do aproveitamento dos atos, com a consequente conversão dos
negócios jurídicos, ao lado da busca por um controle funcional e valorativo das invalidades, revela uma tendência
crescente de se revisitar as velhas construções dogmáticas em matéria de invalidades para se construir, no caso
concreto, um resultado mais consentâneo com a axiologia constitucional.
Finalmente, cabe a leitura dos arts. 169 e 170 para compreender o procedimento da conversão do negócio
jurídico, previsto neste último artigo:
ARTIGO 169
“O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem convalesce pelo decurso do tempo.”
ARTIGO 170
“Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as
partes permitir supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.”
É, de fato, um mecanismo “por meio do qual o intérprete, perante um negócio jurídico a que falte um elemento
inderrogável, qualifica-o em outro tipo, mediante o aproveitamento dos elementos presentes. Trata-se de uma
aplicação do brocardo segundo o qual utile per inutile non vitiatur (o útil não se vicia pelo inútil)” (SCHREIBER,
2020, p. 406, grifo no original).
 ATENÇÃO
Importante notar ainda que a conversão “não modifica a vontade das partes. O que se converte não é a declaração
de vontade em sua substância, mas o negócio jurídico em que se qualifica” (SCHREIBER, 2020, p. 406).
No vídeo a seguir, o professor Filipe Medon faz uma análise da nulidade dos negócios jurídicos, suas
características e seus requisitos. Vamos assistir!
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. SÃO CAUSAS DE NULIDADE DO NEGÓCIO JURÍDICO, EXCETO:
A) A ilicitude do seu objeto.
B) A não observância de forma prescrita em lei.
C) A preterição de solenidade que a lei considere essencial para sua validade.
D) A relativa incapacidade do agente.
E) A impossibilidade do seu objeto.
2. INEXISTENTE É O NEGÓCIO JURÍDICO:
A) Cujos efeitos só se produzem mediante termo resolutivo.
B) Cujo objeto seja ilícito.
C) Praticado por agente absolutamente incapaz.
D) Que não observa a forma prescrita em lei.
E) Que não possui os elementos fáticos que a sua natureza supõe e exige como condição existencial.
GABARITO
1. São causas de nulidade do negócio jurídico, exceto:
A alternativa "D " está correta.
 
A incapacidade relativa do agente é causa de anulabilidade do negócio jurídico por força do art. 171, inciso I, do
Código Civil.
2. Inexistente é o negócio jurídico:
A alternativa "E " está correta.
 
A falta dos elementos necessários como condição de existência torna um negócio inexistente. Note-se que as
demais alternativas não têm a ver com a existência do negócio jurídico.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como vimos, por mais clássica que seja, a categoria dos negócios jurídicos merece constante revisita e
atualização, sobretudo para receber os influxos da metodologia do Direito Civil-Constitucional, que, fundada na
constitucionalização do Direito, propõe a releitura funcional do ordenamento e de seus institutos à luz da axiologia
da matriz unificadora da Constituição.
São exemplos dessa nova abordagem a releitura da teoria dos planos do negócio jurídico, em especial das
invalidades e da produção de efeitos.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, A. J. Negócio jurídico: existência, validade e eficácia. 4. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil
(Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002). São Paulo: Saraiva, 2002.
BEVILÁQUA, C. Teoria geral do Direito Civil. Campinas: Red Livros, 2001.
FARIAS, C. C.; ROSENVALD, N. Curso de Direito Civil: parte geral e LINDB. 15. ed. Salvador: Juspodivm, 2017.
GONÇALVES, C. R. Direito Civil brasileiro: parte geral. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
PEREIRA, C. M. S. Instituições de Direito Civil. 30. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2017. v. I.
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de Direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012a, tomo III.
PONTES DE MIRANDA, F. C. Tratado de Direito privado. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2012b, tomo IV.
SCHREIBER, A. Manual de Direito Civil contemporâneo. 3. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
SOUZA, E. N. Teoria geral das invalidades do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade no Direito Civil
contemporâneo. São Paulo: Almedina, 2017a.
SOUZA, E. N. Uma releitura funcional das invalidades do negócio jurídico: proposta de modulação dos efeitos
de atos nulos e anuláveis. Civilistica.com, Rio de Janeiro, ano 6, n. 1, 2017b. Consultado em meio eletrônico em:
13 abr. 2019.
TEPEDINO, G.; OLIVA, M. D. Fundamentos do Direito Civil. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2021. v. 1.
TRABUCCHI, A. Istituzioni di diritto civile. Padova: CEDAM, 1993.
VELOSO, Z. Invalidade do negócio jurídico: nulidade e anulabilidade. 2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2005.
EXPLORE+
Acesse o canal GEN no YouTube e assista a Milena Donato Oliva, que comenta os casos do capítulo XII,
volume I, do livro Fundamentos do Direito Civil: teoria geral do Direito Civil, sobre representação, e do
capítulo XIII, sobre modalidades do negócio jurídico: condição, termo e encargo.
CONTEUDISTA
Filipe Medon
 CURRÍCULO LATTES
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