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1 APOSTILA DE ESTUDOS – PSICOLOGIA SOCIAL – PRIMEIRO BIMESTRE. Profa. Jéssica Lira. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA SOCIAL • O QUE É? PSICOLOGIA + SOCIAL PSICO + LOGIA Psiquê: Logos: Anima = ALMA Logia: Lógica = “Aquilo que nos “discurso, narrativa, dá vida”. Pensamento, estudo” 1. Concernente a uma comunidade, a uma sociedade humana, ao relacionamento entre indivíduos, etc. 2. Propenso a viver em sociedade; sociável, gregário. 3. Concernente à sociedade ou próprio dela. Latim: sociãlis. Latim: que pertence à uma companhia; uma associação; relacionado a sociedade; do que é dividido, compartilhado, relacionado. Segundo a maioria dos autores da Psicologia Social, o objeto específico de estudo da Psicologia Social é a interação entre o social e o sujeito, como se eles fossem dicotomizados. Todavia, Freud (1921), nos diz: “A oposição entre psicologia individual e psicologia social ou das massas, que à primeira vista pode nos parecer muito significativa, perde muito de sua nitidez ao ser examinada mais a fundo. É verdade que a psicologia individual está orientada para o ser humano singular e investiga os caminhos pelos quais ele busca alcançar a satisfação de suas moções de impulso, só que ao fazê-lo, apenas raramente, sob determinadas condições excepcionais, ela desconsidera as relações desse indivíduo com outros. Na vida psíquica do indivíduo, o outro entra em consideração de maneira bem regular como modelo, objeto, ajudante e adversário, e, por isso, desde o princípio, a psicologia individual também é ao mesmo tempo psicologia social nesse sentido ampliado, porém inteiramente legítimo.” (PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANÁLISE DO EU) Meyers (2000): “(...) (Psicologia Social) trata-se do estudo científico da maneira como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam umas com as outras”. A Psicologia Social nasce da indagação, da dúvida que paira sobre a interação humana. - Por que nos afiliamos a um determinado grupo? - Por que temos uma necessidade grupal? - Conseguiríamos viver sem o social? 2 WILLIAM MCDOUGALL + EDWARD ALSWORTH (Psicólogo) (Sociólogo) ▪ GUSTAVE LEBON “Psychologie des foules”: conceitos fundamentais da Psicologia Social. As características individuais são secundárias quando os sujeitos estão inseridos em uma massa. Influenciou Freud em “Psicologia das massas e análise do Eu”. ▪ KURT LEWIN “Teoria de Campo”: não é a realidade em si o que importa, mas o que o sujeito interpreta desta realidade. “Teoria da dinâmica de Grupo”: tensão entre interdependência e influência mútua entre as pessoas e os grupos. Foi o precursor das dinâmicas grupais. Tal técnica fez muito sucesso no âmbito organizacional/empresarial. Temáticas abordadas: - Coesão dos grupos (condições necessárias para sua manutenção); - Pressões e padrão do grupo (manter a fidelidade); - Motivos individuais e objetivos do grupo (o que, de fato, garante a fidelidade); - Liderança e realização do grupo (carisma e força de convencimento); - Propriedades estruturais dos grupos (padrões de comunicação, desempenho de papéis, relações de poder, etc). PSICOLOGIA SOCIAL NO BRASIL - O homem não pode ser fragmentado; tem que ser visto como ser completo. - Influências de Darwin e Galton. - A questão da sugestão de Gabriel Tarde; - Juntamente com McDougall, foi um dos primeiros a usar o termo “Psicologia Social”, em 1908. 3 - Meio universitário brasileiro: responsável pela disseminação da Psicologia Social. Intermédio de: R. Briquet (1935): privilegia os fatores psicológicos que motivaram o comportamento social. + A. Ramos (1936) + F. J. de Oliveira Viana (1942). MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DA PSICOLOGIA SOCIAL E SUAS MATRIZES: - Método de observação; - Método correlacional: mede-se o fenômeno pela relação. Ex: crianças violentas podem ter relação com o número de imagens violentas que as mesmas consumem. - Método experimental; - Métodos não-ortodoxos: • Pesquisa-ação: atua-se dentro da pesquisa; • Análise da linguagem ordinária: como introjetamos e lidamos com as palavras comuns e seus respectivos significados subjetivos. Indaga-se o sentido das palavras como “justiça”, “democracia”, “personalidade”, etc. O EU SOCIAL EM GRUPOS, PROCESSOS GRUPAIS E RELAÇÕES INTERNACIONAIS. • Grupos: fundante da Psicologia Social. • Primeiros estudos: final do séc. XIX – Psicologia da Massas/Psicologia das Multidões (Gustave Le Bon – Psychologie des Foules) • Revolução Francesa: responsável pelos questionamentos sobre as massas. (O que teria sido capaz de mobilizar tamanha quantidade de pessoas?) • “Qual fenômeno psicológico possibilitaria a coesão das massas?” • Na sociologia, um grupo é um sistema de relações sociais, de interações recorrentes entre pessoas. Também pode ser definido como uma coleção de várias pessoas que compartilham certas características, interajam uns com os outros, 4 aceitem direitos e obrigações como sócios do grupo e compartilhem uma identidade comum – para haver um grupo social, é preciso que os indivíduos se percebam de alguma forma afiliados ao grupo (GALLIANO, 1981). • “O alicerce de toda sociedade é constituído por um agregado de indivíduos, que constitui a matéria-prima de que a sociedade, como tal, poderá surgir.” • Participação em um grupo: contágio das emoções e intensificação. Emoções circulam pela multidão. Sujeitos que fazem parte de grupos têm suas sensações e emoções mais aguçadas. Estes sujeitos se comportam de maneira diferente quando estão em grupos. • Para que os grupos funcionem, é necessário que o acordo de um sistema social seja respeitado por todos os integrantes, todavia, é nula a possibilidade dos sujeitos jamais se encontrarem em situações de conflito. (LINTON, 2000). • Variáveis ideológicas, situacionais e cognitivas moldam tudo aquilo que conhecemos como identidade social e as relações intergrupais. • Grupo: diferentes concepções! - “(...) conjunto de elementos que participam na identificação dos seus membros” (Marisa Zavalloni, 1972). - “(...) é um quadro de interdependência, visto que as características que permitem a identificação dos membros dos grupos adquirem o seu significado através da comparação social” (Henry Tajfel, 1972). - “(...) a situação a um universo simbólico comum, que define as posições relativas dos grupos (Jean-Claude Deschamps, 1982). - “(...) grupos são pequenas organizações de indivíduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem ações na direção desses objetivos” (Ana Bock, 2002). • Sobre a formação dos grupos: - Solidariedade mecânica: a afiliação a um grupo que independe de nossa vontade; - Solidariedade orgânica: nos afiliamos a um grupo por escolha pessoal. (Émile Durkheim) • Os objetivos dos grupos estão sempre acima dos objetivos individuais de seus membros. • Os grupos sociais são pequenas organizações de indivíduos que, possuindo objetivos comuns, desenvolvem ações na direção desses objetivos. Como forma de preservação da organização, possuem normas! (BOCK, 2002). 5 ▪ PROCESSO GRUPAL1: Historicamente, sabe-se que o vocábulo groppo ou “grupo” surgiuno século XVII. Referia-se ao ato de retratar, artisticamente, um conjunto de pessoas. Regina Duarte Benevides de Barros (1994) diz que foi somente no século XVIII que o termo passou a significar “reunião de pessoas”. A mesma autora afirma que o termo pode estar ligado tanto a ideia de “laço, coesão” quanto a de “círculo” (p. 83). Tanto a sociologia quanto a psicologia têm demonstrado interesse no estudo dos pequenos grupos sociais, pensando o “grupo” como uma intermediação entre o “indivíduo” e a “massa”. Como funciona o processo grupal? Quando pensamos em processo grupal não estamos nos referindo ao grupo como uma entidade acabada. Estamos pensando o grupo como um projeto, como um eterno vir-a-ser. Pensando como Sartre e Lapassade (1982) este processo é dialético. É constituído pela eterna tensão entre a serialidade e a totalidade. Há uma ameaça constante da dissolução do grupo e a volta à serialidade, onde cada integrante assume e afirma a sua individualidade sendo mais um na presença dos demais. Ao mesmo tempo há uma busca constante da totalidade, onde cada um dos integrantes participa com os demais, introjeta-os e dá sentido à relação estabelecida. Cada integrante se afirma e assume a totalidade do grupo. ▪ Diferenças entre Massa, Multidão e Grupo: Massa: empregado por Freud, Ortega Y Gasset e os frankfurtianos. Análises empreendidas a partir do século XX: status acadêmico-científico. Não estruturado, mais amplo. Multidão: empregado pelos primeiros investigadores, ainda no século XIX (Tarde; LeBon; Sighele; Moscovici). Grupo: tem a característica de ser mais fechado, mais estruturado. Origem no renascimento italiano. Importado da Itália para a França, no final do século XVII, para designar: “toda reunião de pessoas vivas”. ▪ O EU SOCIAL2: em suma, o funcionamento sociológico dos sujeitos. TEMAS ATUAIS EM PSICOLOGIA SOCIAL - Fenômenos da Psicologia Social Contemporânea: o que interessa à ciência psicológica contemporânea? Quais fenômenos estão alarmantes em nossa sociedade? - Percepção Social e Comportamento Social: Na psicologia, perceber é ter consciência de um objeto que se fez presente através de sensações. Enfatizando: Entende-se que os estímulos sejam indispensáveis à ocorrência da percepção. Entretanto, o processo perceptivo não transcorre de maneira linear, ou seja, do estímulo à consciência, através dos sentidos físicos. Há indicações (teóricas e empíricas) de que os percebedores, longe de serem passivos, deixando-se 1 Ler o capítulo “O processo grupal”, do livro “Psicologia Social Contemporânea”, de Maria da Graça Correa Jacques. 2 Ler o texto de George Herbert MEAD, intitulado: “O Eu social”. No link: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672008000200020 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-52672008000200020 6 controlar completamente pelo objeto, participam ativamente na produção de percepções. É a subjetividade do processo perceptivo (Krüger, 1986). “Como nos enxergam?” “O que pensam ao meu respeito?” Tais questionamentos não são meramente ingênuos, dizem respeito a uma necessidade de poder e controle. • Pontos essenciais da Percepção Social: a) Seletividade; b) Constância; c) Organizável; d) Significativo; e) Categorizável; f) Afetuosidade. INFLUÊNCIA SOCIAL: - Por que seguimos atitudes e ações sem que quiséssemos anteriormente? - Por que não questionamos determinadas ações quando estamos inseridos em um grupo? - Qual a diferença entre Conformidade Informativa e Conformidade Normativa? Conformidade Informativa: Esta forma de influência tem a ver com aquele famoso ditado: “Fulano de tal é um Maria vai com as outras’!” Ou seja, quando não se sabe o que fazer, muitas vezes consultamos a biblioteca “comportamento dos outros”. Quem nunca, ao não saber o que fazer, procurou saber como as pessoas costumavam agir naquela determinada situação? Particularmente, esta forma de influência é muito corriqueira no mercado de trabalho, já que o profissional iniciante tende a buscar saber com os mais experientes o que fazer para não cometer erros. Conformidade Normativa: Esta forma de influência social é basicamente diferente da anterior, pois, enquanto esta última acontece quando as pessoas estão confusas e buscam informação, a influência social normativa se caracteriza pela necessidade de aceitação pelo grupo e/ou líder que segue. Muitas vezes, tal conformidade se contrapõe ao modelo anterior. Este tipo de conformidade é o que explica o fato de nós, muitas vezes, nos colocarmos em perigo para fazer algo “insensato”. Por exemplo, a vida de rachas de automóveis não se trata de um processo regido pela conformidade informativa. Os jovens que praticam este tipo de ato, não entram por se sentirem confusos e buscarem nos outros formas de agir, mas pela necessidade de nos sentirmos pertencentes a um grupo e destacados neles. Afinal, somos seres sociais e temos uma necessidade inata de sermos aceitos nos grupos que escolhemos estar. AGRESSÃO, VIOLÊNCIA E ALTRUÍSMO - Qual a diferença entre estes significantes? - O que significa Altruísmo? Isto existe? - Disseminar a discussão! Termos práticos. - Textos: “Considerações atuais sobre os tempos de guerra e morte” (1915); “Por que a Guerra?” (1932) – ambos de Freud. 7 CRENÇAS, ATITUDES E VALORES De acordo com Krüger (1986), crenças são proposições que, na sua formulação mais simples, afirmam ou negam uma relação entre dois objetos concretos ou abstratos, ou entre um objeto e algum possível atributo deste. Assim, põe-se de lado por limitada, a interpretação de que crenças são conjeturas ou declarações baseadas na fé. Além disso, e a rigor, no estudo psicossociológico das crenças, não importa considerá-las sob a perspectiva epistemológica da verdade. Ao menos em primeira linha. Aos psicólogos sociais interessa considerá-las na sua origem, na formação e estrutura de sistemas de crenças e, sobretudo, quanto ao grau de aceitação subjetiva de tais proposições, além da influência que exercem sobre o comportamento. Considerando os processos cognitivos, que dão origem ao produto psicológico chamado “crenças”, Daryl J. Bem, no livro Self-Perception Theory, caracterizou as crenças e as atitudes em quatro atividades humanas: 1. O pensar; 2. O sentir; 3. O se comportar e 4. O interagir com outras pessoas. ESTEREÓTIPOS, PRECONCEITOS E DISCRIMINAÇÃO ▪ Estereótipos Sociais: Houaiss: s.m. imagem preconcebida de alguém ou algo, baseada num modelo ou numa generalização. Estereótipos Julgamentos e Avaliações: geralmente associados a características como “raças”, “gêneros”, “aparência física”, “origem – geográfica ou social”, “identidade religiosa”, “política”, “étnica”, “sexual”. O que nos interessa? Processos intrapsíquicos associados aos estereótipos, em detrimento dos aspectos puramente sociais. • Estereótipos: crenças sobre características pessoais atribuímos a indivíduos ou grupos. - Imputação de certas características a pessoas pertencentes a determinados grupos, aos quais se atribuem determinados aspectos típicos. • Etimologia (grego): Stereos + Túpos: “rígido” + “traço” Como moldam-se os estereótipos? - Por definição, resultado do cruzamento de fatores ligados ao: - Processamento de informação; - Fatores Motivacionais e de identidade; - Fatores ligados à dinâmica social das relações entre os grupos; - Fatores ideológicos. (MONTEIRO; VALA, 2006) 8 • Lippmann – Public Opinion – 1922 – considerado como iniciador da concepção contemporânea dos estereótipos e de suas funções psicossociais. Lippmann foi considerado como um teórico com ideias inovadoras. • Para Lippmann: estereótipos são fotografias dentro de nossas cabeças e são frutos de uma simplificaçãoda realidade. • No cotidiano não reagimos diretamente às pessoas e aos acontecimentos tal como se apresentam a nós mesmos. Mas sim a representações simplificadas da realidade. (LIPPMANN, 1922) • Estereótipo: atribuição de traços a membros de grupos. • À época, estereótipos eram tidos/vistos como uma forma inferior de pensamento. • Estereótipos - primeiros psicólogos: projeções de fantasias indesejáveis ou deslocamentos de tendências agressivas para os membros de outros grupos, ou de subprodutos de certas síndromes de personalidade associados ao racismo, ao autoritarismo, ou à xenofobia (Adorno, Frenkel-Brunswick, Levison e Sanford, 1950). • Lippmann: estereótipos NÃO são danosos por si só. - Processo normal e necessário; - Categorias se baseiam numa correspondência entre etiquetas psicológicas (ex: brancos; negros; homens; mulheres). - Onde poderia haver problema? Quando tais indícios estereotípicos de tipo perceptivo associam-se a outros marcados por valores sociais (preguiçoso; agressivo; hospitaleiro, etc.) - Para Katz e Braly (1933;1935): estereótipos são crenças que nos são transmitidas pelos agentes de socialização (pais, escolas, mídias, etc.), o que explicaria o consenso existente em relação aos grupos sociais, à sua independência do conhecimento real dos membros desses grupos e à sua dependência do contexto histórico e cultural. - Ex: mulheres – afetuosas, emotivas, submissas ou dependentes; Homens – audaciosos, desinibidos, desorganizados ou autoritários. • Estereótipos e componentes projetivos: • Projetivos: motivações dos observadores, distorções cognitivas; • Verídicos: informações obtidas nos contatos com os membros dos grupos estereotipados. 9 • Processo de socialização: dividimos as pessoas por categorias, o que faz com que negligenciemos as características próprias de cada sujeito. • Estereótipos: supergeneralização. • Em suma: estereótipos simplificam o complexo mundo social (MICHENER et al., 2005) • “Ao julgarmos os outros (e mais ainda quando os outros são membros do nosso grupo) estamos sempre a julgar-nos, no mínimo por comparação implícita, a nós próprios). O conhecimento da nossa pertença a uma categoria implica um componente avaliativo e emocional no processo de julgamento: o valor que atribuímos aos grupos é também o valor que atribuímos a nós próprios enquanto membros desse grupo (PAÉZ, 2006)”. ▪ Modelos em duas etapas do processamento cognitivo de estereótipos: ▪ Processamento automático: ocorre todas as vezes em que um estímulo apropriado é encontrado. O processamento automático ocorre sem a sua conscientização. ▪ Processamento controlado: ocorre com a conscientização... Como quando você resolve desconsiderar a informação estereotipada que foi levada à mente. Schneider, W., & Shiffrin, R. M. (1977) • Em Aroldo Rodrigues (2007), o conceito é um pouco diferenciado: • Ativação automática: crenças muito disseminadas culturalmente nos sobrevém à mente assim que nos deparamos com certas pessoas em dadas circunstâncias. • Ativação controlada: após o que foi tido como automático, o sujeito pode refletir e reavaliar sua 1ª impressão; Põe um freio no processo de discriminação. Experimento realizado por Katz e Braly (1933) - Princeton; Ferreira e Rodrigues (1968) - PUC Rio. Como alunos de psicologia eram vistos por seus colegas universitários. (AROLDO, R. et al, 2007). 10 • Estereótipo, atribuição e gênero: • HOMEM VERSUS MULHERES: O que são? Quem são? Como se diferenciam? • Sobre gênero: Judith Butler (Problemas de Gênero) e Paul Beatriz Preciado (Manifesto Contrassexual). • Problemas com a estereotipagem: quando os estereótipos cristalizados se chocam com outra verdade na realidade exterior. • Mulheres que não querem ser mães; • Homens que querem ser donos de casa. • Diversos experimentos sobre comportamentos masculinos e femininos. Como se portam, como são e como as pessoas os percebem. - DISCUSSÃO: crianças criadas com “gênero neutro”, o que você pensa sobre isto? ▪ A QUESTÃO DO PRECONCEITO: • Definição por psicólogos sociais: “O preconceito é uma atitude. As atitudes são constituídas de três elementos: componente afetivo, ou emocional, representando tanto o tipo de emoção ligada à atitude (como, por ex., raiva, calor humano) como a extremidade da atitude (por ex: ligeiro desconforto, hostilidade declarada); um componente cognitivo, envolvendo as crenças ou pensamentos (cognições) que formam a atitude; e um componente comportamental, relacionado às ações do indivíduo – as pessoas não mantêm simplesmente atitudes; habitualmente, agem inspiradas por elas.” (ARONSON; WILSON; AKET, 2012) • Preconceito: comportamento social mais geral e o mais perigoso. Afeta TODAS as pessoas. Todos somos vítimas e todos somos algozes, em pequena ou larga escala. • Nenhum de nós escapa totalmente incólume dos efeitos do preconceito. É um problema de e para toda a humanidade. • Caso O. J. Simpson: divisor social e não legal. • Caso Hudson: law and order SVU: extinção do caso por motivos de incapacidade de neutralidade frente a militância ideológica. • Em geral (tanto no senso comum, quanto na própria ciência), preconceito é atribuído apenas para atitudes negativas. • Ex: alguém apresenta um amigo e informa que a nacionalidade do amigo é alemã. Com isso, ocorrem duas respostas: 1. Nossa, então você é adepto do nazismo! 2. Que legal, então você é extremamente educado e objetivo! 11 Qualquer grupo social – e não apenas as minorias – pode ser alvo de preconceito. Além disso, estamos diante de uma via de mão dupla, com sentimentos hostis fluindo também das minorias para maiorias. Albinos caçados na Tanzânia: são sequestrados e são até assassinados por sua condição. • O que causa o preconceito? - A maioria dos psicólogos sociais concordam que os aspectos específicos do preconceito têm de ser aprendidos. (Raw, ep. Law and order SVU). - Estudo realizado por Meg Rohan e Mark Zanna: entendimento sobre o saber popular: “a maçã jamais cai longe da árvore” – examinaram atitudes e valores entre os pais e seus filhos adultos. - Entretanto, houve choque de informações: era mais fácil para as crianças recepcionarem valores igualitários apresentados pelos pais, que os puramente desiguais. Por que isto se dá? • The nature of prejudice (Gordon Allport, 1954): - Preconceitos arraigados e a dificuldade de eliminá-los. • Sr. B: “o problema com os judeus é que eles só cuidam de seu próprio grupo.” • Sr. C: “mas os registros da campanha do tesouro comunitário mostram que eles contribuíram mais generosamente, em proporção a seu número para as obras beneficentes da comunidade do que os não-judeus.” • Sr. B: “Isso mostra que eles estão tentando sempre comprar a boa vontade e intrometer-se nos assuntos cristãos. Eles não pensam em outra coisa que não em dinheiro. Esse é o motivo por que há tantos banqueiros judeus.” • Sr. C: “Mas um estudo recente mostrou que o percentual de judeus no ramo bancário é insignificante, muito menor do que o percentual de não-judeus”. A mente do fanático é como a pupila do olho. Quanto mais luz recebe, mais se contrai (Oliver Wendell Holmes Jr., 1901) • Categorização social: nós versus eles! - “(...) o primeiro passo no preconceito é a criação de grupos – isto é, a categorização de algumas pessoas em um grupo, com base em certas características, e de outras em um grupo diferente, baseando-se em suas características diferentes” (ARONSON, 2012) - Qual o mecanismo que cria esse preconceito de intragrupo, ou seja, sentimentos positivos por sujeitos pertencentes do nosso grupo? Tajfel (1912) afirma que o motivo está ligado a questão da auto estima. Não basta acreditar que é superior, é necessáriofazer com que acreditem que o outro é inferior. • Para Aroldo Rodrigues (2007) há 4 maneiras que poderíamos utilizar para classificar o preconceito: a) Competição e conflitos econômicos e políticos; b) Causas sociais do preconceito, a aprendizagem social, conformidade e categorização social; c) O papel do “bode expiatório”; d) Fatores da personalidade. 12 o O papel do bode expiatório: “(...) quando frustrados ou infelizes, as pessoas tendem a deslocar a agressão para grupos de quem não gostam, são visíveis e relativamente impotentes”. Ex: Alemanha Quebrada Alemanha nazista. Judeus Tendo em vista que é difícil lutar contra o resto do mundo. ▪ DISCRIMINAÇÃO: componente do preconceito É a ação (a partir do preconceito). “Crenças estereotipadas resultam frequentemente em tratamento injusto. Chamamos isso de discriminação, definida como ação negativa injustificada ou prejudicial contra membros de um grupo, simplesmente porque pertencem a este grupo”. • Discriminação: sentimentos hostis somados a crenças estereotipadas deságuam numa atenção que pode variar de um tratamento diferenciado a expressões verbais de desprezo e a atos manifestos de agressividade (RODRIGUES, 2007). ▪ ATITUDES: De acordo com Aronson, Wilson & Akert (2002), a maioria dos psicólogos sociais define atitude como avaliações que fazemos de pessoas, objetos e ideias (Eagly & Chaiken, 1993; 1998; Olson & Zanna, 1993; Petty, Wegener & Fabrigar, 1997; Petty & Wegener, 1998). Atitudes são avaliações no sentido do que consistem em uma reação positiva ou negativa a alguma coisa. Dentro do componente “atitude”, há três subclasses que a compõem e que são de suma importância: afetos (sentimentos), comportamentos, cognição. Afetos: Em relação ao lado afetivo das atitudes, Aronson, Wilson e Akert (2002) explicam como surgem a base afetiva das atitudes. Na verdade, elas têm várias fontes. Em primeiro lugar, podem originar-se nos valores dos indivíduos, tais como crenças religiosas e valores morais básicos. Os sentimentos das pessoas sobre assuntos tais como aborto, pena de morte e sexo antes do casamento baseiam-se, muitas vezes, mais em seus valores do que no exame frio dos fatos. A função dessas atitudes não é tanto pintar um quadro exato do mundo quanto expressar e validar nosso sistema básico de valores (Katz, 1960; Maio & Olson, 1995; Schwartz, 1992; Smith, Bruner & White, 1956; Snyder & DeBono, 1989). Comportamento: A atitude baseada no comportamento tem como fundamento as observações que fazemos sobre como nos comportamos em relação ao objeto da atitude. Essa explicação pode parecer um pouco esquisita: como sabemos o modo de nos comportar, se já não sabemos como nos sentimos? De acordo com a teoria da autopercepção, de Daryl Bem (1972), as pessoas, em certas circunstâncias, não sabem como se sentem, até que observem como se comportam. Suponhamos, por exemplo, que você pergunte a uma amiga se gosta muito de praticar exercícios físicos. Se ela responde 13 “Bem, acho que gosto, porque estou sempre saindo para uma corrida ou indo a academia malhar um pouco”, diríamos que ela tem atitude baseada no comportamento, isto é, baseia-se mais na observação do comportamento que pratica do que em suas cognições ou afetos (Aronson, Wilson & Akert, 2002). Cognição: De acordo com Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000), as crenças e demais componentes cognitivos (conhecimento, maneira de encarar o objeto e etc.) relativos ao objeto de uma atitude constituem o componente cognitivo de atitude. Em relação a este exemplo dado, provavelmente, o lado emocional seja até mais forte que o cognitivo, mas que também existe este lado. o RESUMOS E DIFERENCIAÇÕES: • Preconceito: é um fenômeno difuso, presente em todas as sociedades do mundo. Os psicólogos sociais definem preconceito como uma atitude hostil ou negativa contra um grupo identificável de pessoas, baseada exclusivamente em sua pertença ao grupo. • Estereótipo: é o componente cognitivo da atitude preconceituosa, definido como uma generalização do grupo, pela qual características idênticas são atribuídas a praticamente todos os seus membros. (ARONSON, 2012) • Discriminação: é o componente comportamental da atitude preconceituosa, definido como ação negativa ou prejudicial injustificada contra membros de um grupo pelo simples fato de dele fazerem parte. Os processos de cognição social são elementos importantes na criação e na manutenção de estereótipos e preconceitos. A categorização das pessoas em grupos leva à formação de intragrupos e extragrupos. Tendenciosidade do intragrupo: olhar positivo dos seus membros e negativo para todo o resto. (ARONSON, 2012). CONFLITO E NEGOCIAÇÃO ENTRE GRUPOS: • Razões apontadas para a emergência de fenômenos de conflito e discriminação entre grupos sociais: - Limitação de recursos; - Incompatibilidade dos objetivos; - Assimetria do poder. • A gênese dos conflitos entre grupos: - Preconceito. - Por que as pessoas deslizam com tanta facilidade para o preconceito, seja ele racial, religioso, político, social ou sexual? - Segundo Allport (1972): por dois ingredientes básicos – generalização e hostilidade errônea. 14 • Generalização ou Processo de categorização: - Aquilo que nos permite pensar, bem como as categorias que ele vai gerando, constituem a base do pré-conceito normal. - “Os fatores que levam as pessoas a formar atitudes preconceituosas não são individuais. Pelo contrário, esta formação está inteiramente ligada a ser membro de um grupo – a adotar o grupo e os seus valores (normas), como o mais importante ponto de ancoragem para regular a experiência e o comportamento (SHERIF & SHERIF, 1953)”. • Hostilidade: - Allport rejeita a tese freudiana de impulsos agressivos; - A hostilidade, para ele, é mais uma capacidade reativa aprendida. - Há diferentes graus de intensidade: 1. Verbalização negativa: verbalizar seus preconceitos. 2. Evitamento: evitar contato com pessoas de grupos que hostilizam. 3. Discriminação: membros de grupos hostilizados são excluídos. 4. Ataque físico: hostilidade traduzida em violência física. 5. Exterminação: os linchamentos, os massacres, os programas de genocídio étnico (eliminação dos negros americanos pelo KKK; eliminação dos judeus e ciganos pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães); religioso (eliminação de grupos heríticos e de judeus pelos tribunais da Inquisição na Idade Média). Assistir: Silêncio (Scorsese). A NEGOCIAÇÃO DOS CONFLITOS! • Para além do contato socialmente apoiado e da construção de objetivos superordenados, existem outras formas de tentar resolver a situação de conflito que se geram entre dois grupos: • Dominação: imposição unilateral da solução; • Submissão: cedência de uma das partes às exigências da outra; • Inação: o tempo ajudará e as partes decidem não fazer nada; • Mediação por uma terceira parte: alguém não envolvido no conflito auxilia na comunicação; • Negociação: dois ou mais grupos com conflitos de interesses procuram encontrar uma plataforma de acordo que evite a confrontação direta e, eventualmente, violenta através de uma sequencia de exigências e de cedências daquilo que as opõe. A RESOLUÇÃO DOS CONFLITOS. • “Afinal, agora que os conheço, acho que não somos tão diferentes como julgávamos”. • Contato entre membros de grupos distintos: descoberta de semelhanças. • Mesmo grupos que apresentassem conflitos e discriminação arraigada, quando há objetivos específicos a serem atingidos, eles se unem e o contato se traduziria 15 numa tarefa de cooperação para atingir um objetivo desejável para ambos os grupos. ▪ Possíveisquebras de preconceitos e estereótipos enraizados! • Contato; • Cooperação; • Interdependência; • Objetivo comum. (ARONSON, 2012) IDEOLOGIA: - Termo cunhado pelo filósofo francês Destutt de Tracy, no final do século XVII. - Etimologia: Idea (aparência) + Logia (estudo). QUESTÕES NORTEADORES? 1. O que podemos entender como Ideologia? O que é ideologia? Existem várias definições possíveis para o termo. O sentido marxista talvez seja ainda um dos mais utilizados e se refere a uma falsa consciência de classe, além de outros sentidos. Outro conceito de ideologia, o do dicionário Houaiss (2001, p. 1565), se refere a "um conjunto de ideias, crenças e atitudes que representam entendimentos sobre o mundo social e político". Vamos, no entanto, entender o termo seguindo o raciocínio de Geertz em seu texto. Num primeiro sentido, político, trata-se de uma visão normalmente dualista que opõe um "nós" aos "eles", sendo esses últimos encarados normalmente como perversos. Nessa visão fica subentendida uma ideia central: quem não está conosco está contra nós. A ideologia, como posição psíquica e coletiva, nunca morre. A posição ideológica se forma cada vez que o espaço psíquico de um sujeito, de um grupo ou de uma instituição é ameaçado em seus fundamentos, em seu conjunto de certezas, em suas crenças e nas representações da causalidade impostas pela visão/concepção de mundo que a justifica. Três componentes encontram-se associados em uma configuração notável sobre a ideologia: a Ideia onipotente (que ocupa o lugar de princípio de realidade), o Ideal, que fundamente sua crença, e o Ídolo, que, como uma divindade, os protege e aos quais é preciso servir sem interrupção nem ambiguidade. A fidelidade imperativa a esta trindade antes simbólica corresponde à exclusão de qualquer outra forma de pensamento. A ideologia é uma construção sistemática, edificada como defesa contra a dúvida e o desconhecido; ela pretende fornecer uma explicação universal e total segundo um princípio único de causalidade. 16 2. Todos temos Ideologia(s)? - Uma ideologia é um conjunto de ideias. É um discurso. Logo, como todo discurso, a ideologia é uma totalidade racional organizada (em sua expressão clássica), ou seja, tem premissas, tem um desenvolvimento lógico e tem conclusões de ordem teórico-prática. - Uma ideologia pode ser discutida. - A partir destes aspectos, pergunto-vos: todos nós temos ideologias? Caso sim, por quê? 3. De que maneira a Ideologia torna-se prejudicial para nossa interação social? 4. É possível pensar em ideologia singular, sem necessariamente o atravessamento de visões alheias? 5. A teoria da ideologia é, em resumo, psicológica? Para Adorno e Horkheimer, a “análise do significado da ideologia no conjunto da sociedade é substituída pelas considerações a respeito da sua superfície, isto é, sobre a distribuição estatística de certas opiniões. Para Zizek, ideologia não é resumir-se em um estereótipo ou em uma ideia acabada, mas sim entender que por traz daquela imagem ideológica, já um ser humano integral, amplo, subjetivo e holístico. Questões práticas: - Escola Francesa intitulada “Les idéologues” (Os ideólogos), cujo principal expoente era Destutt de Tracy cunhou a palavra “ideologia”. - Para Destutt de Tracy o primordial era que: “a sua ciência das ideias, ou seja, a ideologia, deveria conjugar a certeza e a segurança, como a matemática e a física. O rigor metódico da ciência deveria pôr fim, de uma vez para sempre, à arbitrariedade e à variabilidade indiferente das opiniões que a grande filosofia sempre censurou, desde Platão”. - Dois momentos cruciais: o conceito de ideologia, em um primeiro momento (com Destutt) atuou também nas lutas políticas efetivas. Num segundo momento, a teoria da ideologia funde-se em um radical irracionalismo. - Napoleão acusa a teoria ideológica como a principal responsável pelos regimes sanguinários que se instalaram na França. - As ideologias se refletem, por sua vez, e repercutem sobre a realidade social. - A ideologia, em sentido estrito, dá-se onde regem relações de poder que não são intrinsecamente transparentes, mediatas e, nesse sentido, até atenuadas. “(...) o rótulo de ideologia que se lhes pode apor, em virtude do conceito total de ideologia, documenta nem tanto a possibilidade de conciliar a crítica com a falsa consciência mas, sobretudo, a fúria contra tudo o que, mesmo na forma de reflexão ideal, e por mais impotente que se torne, exige a possibilidade de conciliar a crítica com a falsa consciência mas, sobretudo, a fúria contra tudo o que, mesmo na forma de reflexão ideal, e por mais importante que se torne, exige a possibilidade de uma ordem melhor do que a existente. Foi corretamente observado que quem manifesta desprezo por tais conceitos chamados ideológicos refere-se, na maioria dos casos, ao objeto que quer significar e não ao abuso do símbolo conceptual.” 17 Cazuza – Ideologia: Meu partido É um coração partido E as ilusões estão todas perdidas Os meus sonhos foram todos vendidos Tão barato que eu nem acredito Eu nem acredito ah Que aquele garoto que ia mudar o mundo Mudar o mundo Frequenta agora as festas do "Grand Monde" Meus heróis morreram de overdose Eh, meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver O meu tesão Agora é risco de vida Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll Eu vou pagar a conta do analista Pra nunca mais ter que saber quem eu sou Saber quem eu sou Pois aquele garoto que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste à tudo em cima do muro, em cima do muro Meus heróis morreram de overdose eh Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Pra viver Pois aquele garoto que ia mudar o mundo Mudar o mundo Agora assiste a tudo em cima do muro, em cima do muro Meus heróis morreram de overdose eh Meus inimigos estão no poder Ideologia Eu quero uma pra viver Ideologia Eu quero uma pra viver Viver, viver, viver Ideologia Pra viver Ideologia Eu quero uma viver! 18 Ideologia é construída? “Se a determinação e compreensão das realidades ideológicas pressupõem a construção teórica de uma ideologia, então, inversamente e em igual medida, a definição de ideologia depende do que efetivamente atua como produto ideológico”. A ideologia é necessariamente uma compreensão forçada da realidade para dentro de uma única dimensão? - Há um medo genuíno que ao se averiguar mais de perto os pressupostos da ideologia, reconheçamos que ela simplesmente é uma expressão de um desejo central que não comporta em si os aspectos que não caibam no padrão escolhido e idealizado. - A maior ambição de ideólogo é criar uma ideologia que faça transcender a distinção de aparência e realidade, fazendo com que esta copie tão bem aquela que se torne indiscernível dela e acabe por se transformar nela efetivamente. RELAÇÕES SOCIAIS: Altruísmo x Comportamento Antissocial. Filme: A corrente do Bem (dica!). - Por que, em âmbito social, o altruísmo é importante? E como nos auxilia para um melhor desenvolvimento de nossa sociedade? Como o altruísmo poderia ser um comportamento pró-social? I. O QUE É ALTRUÍSMO? - De acordo com os dicionários, significa: sentimento de quem põe o interesse alheio acima do seu próprio. Neste sentido, podemos considerar que se trata do construto inversamente proporcional do egoísmo, que, segundo o mesmo dicionário, significa: amor excessivo ao bem próprio, sem consideração aos interesses alheios. - O termo altruísmo foi cunhado por A. Comte (1798-1857) e seencontra no bojo do seu Sistema de Política Positiva, referindo uma forma de benevolência que se oporia ao egoísmo. ETIMOLOGIA: Essa palavra vem do Francês ALTRUISME, “ausência de egoísmo, interesse para com os outros”, popularizado cerca de 1830 pelo filósofo Auguste Comte, a partir de AUTRUI, “relativo aos outros”, do Latim ALTER, “outro”. ETIMOLOGIA: A palavra “altruísmo” tem a sua origem no latim “ALTER”, que por sua vez deriva de “ALTERUM”, costumeiramente abreviado para “ALTRUM” que, em tradução livre para o português, significa “o outro”, ou seja, “amor para com os outros (próximos)”. 19 - Atualmente, na Psicologia Social, a expressão comportamento altruísta designa condutas que se caracterizam pela intenção de ajudar ou beneficiar outra pessoa (ou pessoas), sem expectativa de recompensa. Não podemos discutir a própria origem da palavra altruísmo em relação com a significação que se quer fazer dela em ações sociais em nossa cultura? Será mesmo que o ALTRUÍSMO, em sua máxima potência é real? Existe? É possível? ▪ Para Hebb (1971), autor dos mais significativos no contexto do neobehaviorismo, o comportamento altruísta é intrinsecamente motivado, independendo, portanto, de reforços externos; e, mais importante, não resultaria da aprendizagem social, mas sim da história natural da espécie, por seu intrínseco valor de sobrevivência. ▪ Perceba, aluno, como a própria descrição do que significaria altruísmo em uma abordagem behaviorista, por exemplo, é contraditória em si só. Afinal, se é uma questão genuinamente intrínseca a determinados sujeitos, por que deveria ser com um viés de sobrevivência? A contradição está posta! ▪ O mais interessante é perceber é que muitos psicólogos sociais reconhecem esta contradição e ainda assim produzem materiais com a afirmação de que o genuíno A palavra altruísmo vem do francês altruisme, que se tornou uma palavra conhecida por causa do filósofo Auguste Comte. Altruísmo sempre esteve associado a fazer o bem aos outros. A raiz da palavra altruisme é autre, que significa “outro” ou “diferente” em francês. Autre vem do latim alter, que tem o mesmo significado. Foi provavelmente a partir da raiz em latim que a palavra altruísmo ganhou um “l”. Assim, a palavra altruísmo coloca a atenção no outro, não em mim. A ênfase do altruísmo é cuidar dos outros, não somente de nossos próprios interesses. O oposto de altruísmo é egoísmo. O altruísmo era um conceito importante da filosofia de Auguste Comte. Ele acreditava que cada pessoa tinha o deve moral de colocar o bem dos outros acima de seu próprio bem. Assim, o altruísta deveria procurar beneficiar o máximo possível de pessoas com suas ações, sem considerar seu próprio bem. Cada um deveria esquecer de si mesmo para ajudar os outros. Vários outros filósofos usaram a palavra altruísmo com significados ligeiramente diferentes da ideia original de Auguste Comte. No entanto, todos usam altruísmo no sentido de cuidar e se preocupar com os outros, sem pensar apenas no benefício próprio. Hoje em dia, altruísmo é usado normalmente com o significado de alguém que faz o bem a outros, sem procurar ganhar com isso. 20 altruísmo é real e possível parta parcela da população. Vejam o reconhecimento da contradição por alguns teóricos da psicologia social logo abaixo: “De acordo com Aronson, Wilson & Akert (2002), ajudar pode ser recompensador de muitas maneiras, tal como aliviar o sofrimento de uma pessoa na rua. Uma massa considerável de provas indica que as pessoas ficam excitadas perturbadas quando veem outra pessoa sofrer, e que ajudam, pelo menos em parte, para aliviar o seu próprio sofrimento (Dovidio, 1984; Dovidio, Pilivin, Gaertner, Schoeder & Clark, 1991; Eisenberg & Fabes, 1991). A ajudar os outros, obtemos recompensas tais como aprovação social e aumento do nosso sentimento de valor próprio.” Todavia, para justificar que ainda que com todos estes pormenores uma atitude completamente altruísta, os psicólogos sociais afirmam que: Segundo Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000), a hipótese empatia-altruísmo, formulada por Batson, informa que a ação puramente altruísta pode ocorrer, com segurança, sempre que for percebida por um estado psicológico específico, designada por preocupação empática pelo outro. A preocupação empática é definida como uma reação emocional caracterizada por sentimentos como compaixão, ternura, generosidade, comiseração. A empatia é provocada pelo ato de tomar a perspectiva do outro, fazendo com que o altruísta potencial assuma a posição da vítima. Em outras palavras, tomar a perspectiva de uma pessoa resulta da percepção de vínculo com essa pessoa (parentesco, amizade, familiaridade, similaridade) ou, simplesmente, de orientações ou instruções no sentido de que isso seja feito (Batson & Shaw, 1991). Como a questão do altruísmo é visto em Psicanálise? - Uma excelente analogia para levarmos em consideração aqui é a questão do “Homem Cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda. - A imagem do brasileiro é a de uma pessoa naturalmente simpática, extrovertida, prestativa, que se interessa imediatamente pelo problema do outro; de riso fácil, andar molenga, de tendência pacífica; amante da música, do sol e da multidão. Ainda a sua mais completa definição é aquela consagrada por Sérgio Buarque de Holanda: o brasileiro é o “homem cordial”. Todavia... - Sérgio Buarque não entende a cordialidade como bondade, generosidade ou qualquer outro tipo de relação benéfica. Cordialidade, em latim, vem do cordios, que significa 21 coração. Logo, agir com o coração, é agir com afetos. E estes afetos acabam mascarando as relações de conflito e violência da nossa sociedade. Ex: qual a relação que existe entre a empregada doméstica e os patrões aqui no Brasil? O Brasil é um dos poucos países no mundo em que a empregada doméstica se torna na amiga íntima da patroa, ainda que ela receba um salário miserável e ainda que ela seja explorada limpando a sujeito de seus patrões. Assistam: “Que horas ela volta?” Filme brasileiro. “Parasita” Filme sul- coreano. - Assim, é entendível que as relações de afeto predominam na sociedade brasileira. Vejam, por exemplo, que temas altamente perniciosos e danosos socialmente, por vezes, são tratados de maneira jocosa, sem maiores preocupações e questões. - Em meio a tudo isso, a relação de cordialidade representa exatamente uma relação social hipócrita, uma relação de mascaramento. Uma relação em que os afetos acabam colocando debaixo do tapete todos os nossos conflitos. A seguinte sentença é um exemplo clássico de uma profunda violência, mas que é mascarada pela dita cordialidade: “Eu conheci um negro de alma branca!” Percebam que a frase, a olhos nus, ingênua, é de uma violência impactante. E que tenta mascarar, através da cordialidade, as relações de conflito. - Poderíamos pensar nos mais variados exemplos de como esta dita cordialidade está intrinsecamente voltada às questões de afetos e como isto implicaria na profunda atmosfera de conflitos: pessoas que param em vagas para deficientes, sem sê-los; pessoas que furam filas; alunos que plagiam trabalhos; alunos que colam nas provas; professores que dormem com alunos para aprova-los no teste/semestre; homens que batem em mulheres porque elas o tiraram do sério e etc. Percebam que muitos destes exemplos que são corriqueiros e muito conhecidos de todos nós representam a figura do “Homem cordial”, de Holanda. O mesmo sujeito que diz que ele é um cidadão de bem, é o mesmo sujeito que tem uma facilidade gigante em realizar, por vezes, todas estas ações e muitas outras acima descritas. - E a questão da proporcionalidade? Importa? Ou seja, vocês acreditam que ações devam ser enxergadas em seus radicais ou que a depender da proporção,uma é mais importante que a outra? O mesmo cara que estaciona em uma vaga para deficiente, sem sê-lo, pode abrir a boca e julgar o político que rouba milhões do erário público? O que você pensa sobre isso? Por que tudo isto nos é interessante para pensar o altruísmo por um viés psicanalítico? 22 “Existem muito mais hipócritas culturais do que homens verdadeiramente civilizados” (FREUD, 1915). - Um ponto interessante levantado por Freud é que o que está por detrás das ações dos sujeitos, porque aí ele vai levantar diversas questões (altruísmo/benevolência), é que talvez o que se esconda atrás de atitudes vistas como “boas socialmente” não sejam bondades genuínas e sim que eu me comporto bem ou pratico o bem porque necessito que isto volta-se em recompensa para mim também. - Freud (1915) afirma: “(...) um homem sempre age bem porque suas inclinações pulsionais o compelem a isso, e que o outro só é bom na medida em que, e enquanto, esse comportamento cultural for vantajoso para seus propósitos egoístas”. - Lacan, em seu seminário sobre a Transferência, afirma que devemos desconfiar do altruísta. “Não para preconizar o egoísmo, é claro, mas, se quanto a este não é necessário advertir o defeito, por ser evidente, o altruísta, em sua bondade, em sua piedade, no seu incansável querer bem ao outro pode aparecer como um virtuoso moral. “É que, de fato, o precioso Mitleid, o altruísmo, não passa da cobertura de uma outra coisa, e vocês vão observar isso sempre, sob a condição, todavia, de estarem no plano da análise” Lacan exemplifica o altruísta através de um obsessivo que diz casar com a pobre garota - alusão a uma histérica - por piedade ou respeito, “ficando ambos aborrecidos por muito tempo”, porquanto, contrariamente ao que explica, “o que ele respeita, o que ele não quer tocar, na imagem do outro, é a sua própria imagem. Se a intatilidade, a intocabilidade dessa imagem não fosse cuidadosamente preservada, o que surgiria seria simplesmente a angústia” A pessoa que se concebe altruísta não se angustia em face de uma possível maldade que cometeria ao deixar a pobre garota. Uma, porque ela só é “pobre” e “garota” em sua imaginação, e a experiência é pródiga em mostrar a dureza das “pobres garotas”; e outra, mais fundamental, é que a sua angústia reside no confronto ao objeto do seu desejo, quando ultrapassa a queixa e a insatisfação cotidiana. O difícil é que em face do que se quer - quando se pode querer - surge o desamparo, o Hilflosigkeit freudiano, o estar só frente ao seu desejo. Uma pessoa está sempre acompanhada frente ao que não gosta, pois a reclamação é coletiva, daí os sindicatos. A opção desejante, por sua vez, é solitária; ela não se explica, se faz. Há muito de altruísta no “homem cordial”, por isso nos permitirmos emparceirar Lacan e Buarque de Holanda. O psicanalista esclarece o que o historiador descreve como “o pavor de viver consigo mesmo”. Esse pavor, podemos entender como oriundo da dificuldade para cada pessoa de sustentar o seu desejo, pois sendo este singular, não compartível, surge com facilidade a fantasia de exclusão, de ser abandonado pelo grupo, tribo, ou bando a que pertence; - “vão me matar...”, é um fantasma paradigmático. Assim se expressa Lacan a respeito: “se a análise não conseguiu fazer com que os homens compreendessem que seus desejos, em primeiro lugar, não são a mesma coisa que suas necessidades, e, em segundo lugar, que o desejo apresenta em si mesmo um caráter perigoso, ameaçador para o indivíduo, que se esclarece pelo caráter 23 evidentemente ameaçador que ele - o desejo - comporta para o bando; pergunto-me, então, para que a análise terá servido” - REFLEXÃO: após as devidas considerações, o que você acredita que de fato exista? Altruísmo de maneira genuína ou hipocrisia social/cultural? Como você consegue relacionar estes aspectos na sua vida ou de seus próximos? COMPORTAMENTO ANTISSOCIAL - O que pode ser tomado como um ato antissocial? Bom, o nome é autoexplicativo! Todavia, como enxergamos isto em nosso dia a dia? A agressão talvez seja a mais evidente. E também a mais óbvia! - Pela nossa história, temos diversos exemplos de atos agressivos, que marcaram a nossa sociedade. As duas Grandes Guerras, que, com seus campos de concentração, tinham como um de seus objetivos, descobrir novas maneiras de execução, além das duas bombas nucleares, que só foram lançadas para demonstrar força e descobrir os seus efeitos; os ataques terroristas, que assassinam muitas pessoas no ocidente e na África; as explosões de criminalidade, cujos seus mais novos soldados têm sido recrutados com 8, 9 anos. - Poderia passar horas descrevendo das mais diversas formas como a agressão, a violência se expressa através de atitudes que vão contra o outro, contra o social. - Há várias formas de agressão, certo? Há agressões que são toleráveis? Se sim, quais? E por quê? Podemos justificar a agressão? - Freud dizia, por exemplo, que o Estado proíbe a violência não porque deseja extingui- la, mas sim para monopoliza-la. Desta forma, o mesmo Estado que pune com pena de reclusão ou morte determinadas ações suas (a depender do país/estado) é o Estado que afirma que se você fizer isto é errado. O mesmo Estado que afirma que você não pode matar alguém, é o Estado que lhe fuzila, em praça pública, se você (homem) se recusa a ir defender o seu país em uma guerra, caso você seja convocado. Existem os casos em que a sociedade apoia o ato agressivo. Esta se chama agressão sancionada e não é vista como negativa e tem como exemplo uma guerra. O soldado muito condecorado, que possui muitas homenagens de sua sociedade, provavelmente foi muito agressivo no conflito e deve ter matado muitas pessoas. Nos EUA, um militar que luta na Guerra é visto como herói pela sua nação. Todos o idolatram e ele possui algumas regalias sociais. 24 A agressão é inata? - Esta discussão sobre se a agressão é inerente ao ser humano foi levantada de maneira direta por dois filósofos: Jean-Jacques Rousseau e Thomas Hobbes. O primeiro acredita que o ser humano é, por natureza, bom e a agressão é aprendida no decorrer de sua vida. Já Hobbes, com sua celebre frase “O homem é o lobo do homem”, apresentou seu ponto de vista dessa história. Segundo este, a sociedade e suas leis, ao contrário do que acreditava Rousseau, teriam a importância de regular e frear os aspectos agressivos, que não nos permitiriam chegar tão longe como sociedade. - De acordo com Aronson, Wilson & Akert (2002), esta opinião mais pessimista de Hobbes foi refinada no século XX por Sigmund Freud (1930), que teorizou que os seres humanos nascem com pulsão de vida, ao qual denominou “Eros”, e outra igualmente poderosa pulsão de morte, chamado “Tânatos”, caracterizado por uma pulsão de morte que leva a ações agressivas. Sobre a pulsão de morte, escreveu Freud (1930): “A pulsão de morte está presente em todo ser vivo e se esforça para destruir e reduzir a vida à sua condição original de matéria inorgânica”(p.67). - Freud acreditava que a energia agressiva teria que se expressar de alguma maneira, a fim de evitar que continuasse a acumular- se e causar sintomas. A ideia de Freud pode ser muito apropriadamente descrita como uma teoria hidráulica – segundo a analogia com a pressão da água que se acumula em um recipiente. A menos que possa escoar, a agressão dará origem a algum tipo de explosão. De acordo com Freud, a sociedade desempenha uma função essencial ao regular essa pulsão e ajudar a pessoa a sublimá-la - isto é, a canalizar a energia destrutiva para um comportamento aceitável ou útil. - Se formos levar em consideração outro aspecto, como o de questões genéticas, podemos realizar leituras de cunho médico-biológicas e considerar que há aspectos genéticosque rondam determinadas ações que são consideradas agressivas. Bases biológicas: - A agressividade também se correlaciona com o hormônio sexual masculino, a testosterona. - Os neurotransmissores alterados no processo da agressão são encontrados no Sistema Límbico, fisiologicamente, e isso chamou a atenção dos pesquisadores para esta área do Sistema Nervoso Central (SNC). E é aí que se situa o elemento topográfico e anatômico da agressão: o Sistema Límbico. Este é fisiologicamente relacionado ao controle e elaboração da maioria dos comportamentos motivados. - A chamada Amígdala é uma estrutura importantíssima da região límbica e tem um papel transcendente na agressividade. Também existem motivos para acreditar que a base do comportamento altruísta se encontra no Sistema Límbico. - O desenvolvimento do comportamento agressivo é multifatorial. Os estudos disponíveis evidenciam que fatores biológicos, socioambientais e a interação entre eles podem estar implicados no desenvolvimento do comportamento agressivo, violento e antissocial. Os fatores de risco biológicos com maiores índices de evidência na literatura são: 1) genéticos (baixa expressão do genótipo MAOA e no gene transportador de serotonina, 25 polimorfismo nos genes dos receptores de dopamina [DRD2 e DRD4] e no gene transportador de dopamina); 2) complicações no período pré-natal (hipóxia, desnutrição materna e exposição ao álcool e tabaco); e 3) hipóxia pós-natal, desnutrição na infância e disfunções no córtex pré-frontal, relacionadas à hipoatividade serotoninérigica e à hiperatividade dopaminérgica, com prejuízo de funções executivas, da capacidade de autocontrole e da modulação inibitória do sistema límbico. É possível existir uma sociedade em que a violência não esteja presente? É possível que consigamos retirar de um campo externo a agressividade e a violência? O que causa a agressão são os agentes externos que vivenciamos e experenciamos? A televisão, os jogos, os filmes etc.? O nosso meio é o maior responsável por nossos atos violentos? Só se trata de agressão quando a infligimos no outro? Existe agressão contra você mesmo? 26 COMO REDUZIR A VIOLÊNCIA? “O homem é o único animal que goza com a dor e o sofrimento alheio” (Elisabeth Roudinesco). I. Contato? II. Menos coerção e punição? Violência gera mais violência? III. A palavra, a linguagem é uma boa via? Colocar em fala para não colocar em ato? Simbolizar para não atuar? 27 IDENTIDADE SOCIAL, CULTURA E SUJEITO • Identidade: 1. Qualidade do que é idêntico. 2. Conjunto de características que distinguem uma pessoa ou uma coisa e por meio das quais é possível individualizá-la. Latim: identitas: “a mesma coisa”, de idem, “o mesmo”. Latim: idem, igualdade e continuidade. A qualidade daquilo que é idêntico, o estado de uma coisa que não se modifica. • Social: 1. Concernente a uma comunidade, a uma sociedade humana, ao relacionamento entre indivíduos, etc. 2. Propenso a viver em sociedade; sociável, gregário. 3. Conveniente à sociedade ou próprio dela. Latim: sociãlis Latim: que pertence a uma companhia; uma associação; relacionado a sociedade; do que é dividido, compartilhado, relacionado. - A temática da Identidade Social e das Relações Intergrupais é uma parte importante e crucial da Psicologia Social e que faz com que o entendimento mais intrínseco a respeito da noção de identidade e de nossas relações em comunidade se efetive neste campo de conhecimento. - Movimentos sociais deram início a diversos questionamentos que surgiram a partir de suas aparições no meio social. Assim, é correto afirmar que as reinvindicações, de diversas naturezas, foram as responsáveis por um estudo e um conhecimento mais consolidado que temos hoje. - Homem: o homem é um animal que difere dos demais tipos de animais pois é regido pela lógica psicológica, o que lhe coloca em outro patamar de vivência e experiência. - Sociedade: “A sociedade é um grupo de indivíduos, biologicamente distintos e autônomos, que pelas suas acomodações psicológicas e de comportamento se tornaram necessários uns aos outros, sem eliminar sua individualidade. Toda vida em sociedade é um compromisso entre as necessidades do indivíduo e as necessidades do grupo e tem a indeterminação e a instabilidade própria das situações desta natureza.” (RALPH LINTON, 2000 – O Homem: uma introdução à antropologia) 28 Freud, O Mal Estar na Cultura, 1930: nós – sujeitos – fizemos um pacto com o social. Pacto este que gira em torno do fato de “abrirmos mão” de uma parte de nossa liberdade pulsional, em troca de um pouco de segurança e conforto. Daí a o entendimento sobre o fato de convivermos uns com os outros. - Identidade Social: conjunto de papéis que desempenhamos. Noção de pertença ao grupo e das representações provenientes dele. • “A identidade social de um indivíduo se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: vinculado a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma nação, etc. A identidade permite que o indivíduo se localize em um sistema social e seja localizado socialmente.” (CUCHE, 1999) - Não existe identidade sem um ciclo contínuo de interações. O sujeito é um ser em conflito, cindido por excelência. Constituímo-nos nas diferenças. - O reconhecimento do eu se dá no momento em que aprendemos a nos diferenciar do outro: “passo a ser alguém quando descubro o outro – a diferença – e a falta deste reconhecimento não me permitiria saber quem sou”. - “Identidade é um fenômeno que deriva da dialética entre indivíduo e a sociedade” (BERGER & LUCKMANN, 1976). CULTURA Etimologicamente: Cultura. • Latim: culturae, cognato do verbo “colo” – “colui” – “cultum” – “cólere”, que, por ser utilizado com diversos significados, formou uma grande família de palavras. • Alguns sentidos de “cólere”: cultivar; cuidar de; preparar; proteger; ocupar-se de; aquele que cultiva, que habita em; que adora os deuses. CULTURA(S). • Com o passar do tempo, foi feita uma analogia entre o cuidado na construção e tratamento do plantio, com o desenvolvimento das capacidades intelectuais e educacionais das pessoas. • Homens que criam laços comuns de identidade: possuem o mesmo modo de cultivar a terra e as amizades, de compreender a vida e os valores de fazer e entender o culto. • “Cultura é a parte do ambiente feita pelo homem” (HERSKOVITS, 1963); 29 • O modo comum de garantir a sobrevivência de cada grupo humano, a formulação das estruturas de parentesco, as maneiras de formar associações, de dar sentido à vida constituem a cultura. • A cultura mostra, além de traços universais (comuns aos homens das diversas nações), as peculiaridades do estilo de vida de cada nação (cada grupo humano apresenta traços originais, que levam a soluções características). • Herskovits: cada homem faz a sua parte, no ambiente, à maneira de sua cultura, desde que esta seja entendida no sentido estritamente etimológico: - Particípio futuro do verbo cólere: aquilo que deve ser cultivado, cultuado, vivenciado, respeitado, vivido enfim. - Ademais, a cultura é direcionada pelo contorno que lhe confere a crença básica que uniu homens em uma nação. (HERSKOVITS, 1963) A questão da cultura para Freud: “Como se sabe, a cultura humana – me refiro a tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de suas condições animais e se distingue da vida dos bichos; e eu me recuso a separar cultura [Kultur] e civilização [Zivilisation] – mostra dois lados ao observador. Ela abrange, por um lado, todo o saber e toda a capacidade adquiridos pelo homem com o fim de dominar as forças da natureza e obter seus bens para a satisfaçãodas necessidades humanas e, por outro, todas as instituições necessárias para regular as relações dos homens entre si e, em especial, a divisão dos bens acessíveis” (FREUD, 1927, p.140). Diferenciações metodológicas: pessoa, indivíduo, sujeito. - Etimologicamente, pessoa deriva do latim persona, ae, “máscara de teatro; por extensão, papel atribuído a essa máscara, caráter, personagem [...]”. - Indivíduo (do latim individuus, a, um) significa indivisível, uno, referindo-se a um ser biológico cuja existência depende de sua integridade. Aplica-se, portanto, não somente ao homem, como a outros animais e até a plantas. - Sujeito provém do latim clássico subjectus, a, um, “colocado debaixo, em posição inferior”. Designava o escravo, o submisso, o vassalo, o subjugado.3 3 É importante ressaltar que em psicanálise há uma questão a mais na utilização do termo, tendo em vista que foi introduzido enquanto noção conceitual por Jacques Lacan, psicanalista francês pós-freudiano. Como bem afirma Elia (2010): Será que podemos dizer que o sujeito em psicanálise é um conceito, no sentido científico ou filosófico do termo? Como categoria nocional elaborada teoricamente, designada por uma palavra que lhe dá sua unicidade, precisão e rigor, é claro que sujeito é um conceito: é isso que faz 30 Mais do que a etimologia, importa a semântica. As palavras, em sua trajetória pelo tempo, vão adquirindo, independentemente de sua origem, um conteúdo semântico próprio, que se reveste de atributos específicos conforme a vertente considerada. - Em filosofia, a diferença conceitual entre pessoa e indivíduo é bem estabelecida. Para S.Tomás pessoa significa o que é distinto, diferentemente do indivíduo, que é indistinto. Outros pensadores emitiram conceitos semelhantes, que reforçam a diferenciação entre pessoa e indivíduo. Dentre os mais citados estão os filósofos Locke, Kant e Scheler - Em antropologia, o termo pessoa aplica-se a um ente definível positivamente; indivíduo ou sujeito, ao contrário, a um ente definível negativamente. - Em sociologia, pessoa é o indivíduo provido de status social, ao passo que indivíduo e sujeito adquiriram conotação despersonalizante, pejorativa. - Em Direito, pessoa expressa ou designa todo ser capaz ou suscetível de direitos e obrigações (5). As denominações de indivíduo ou sujeito raramente são usadas, a não ser quando se referem a réus em processos criminais ou em sessões de júri. Em psicologia social: - Sujeito: processos de subjetivação. Modos de subjetivação. Subjetividade. - Indivíduo: versões individualistas de teorizações sobre esse ser que somos; de outro lado, ficaremos aprisionados na clássica dicotomia entre indivíduo e sociedade. Indivíduo é aplicável de muitas maneiras: dá-se o nome de indivíduo àquele que não pode ser subdividido, de modo nenhum, como a Unidade e como espírito; chama-se indivíduo ao que, por sua solidez, não pode ser dividido, como o aço; e designa-se como indivíduo aquele cuja predicação própria não se identifica com outras semelhantes. - Pessoa: a noção de pessoa era intrinsecamente relacional. “A pessoa, no jogo das relações sociais, está inserida num constante processo de negociação, desenvolvendo trocas simbólicas num espaço de intersubjetividade, ou mais precisamente, de interpessoalidade.” Para além desses jogos relacionais, a noção de pessoa – pelo menos na proposta de Harré – nos indica a necessidade de entender como as diversas tecnologias de governo, sobretudo no que diz respeito aos documentos que cristalizam identidades (RG, passaportes, certificados de nascimento, de batismo, de conclusão de cursos, entre muitos outros), integram a complexa matriz de práticas sociais que, historicamente, tornaram necessário teorizar sobre esse ser que somos. com que essa categoria integre o corpus teórico da psicanálise, constituindo- se, aliás, como uma das categorias teóricas mais essenciais deste corpus. Podemos também acrescentar que é um conceito lacaniano, pois foi Lacan quem o introduziu na psicanálise, já que essa categoria não é do texto de Freud e tampouco foi utilizada pelos pós-freudianos. Podemos acompanhar uma ideia de Lacan e dizer que sujeito é uma categoria igualmente moderna, e seu surgimento é contemporâneo ao da ciência. Vamos observar essa proposta de Lacan para saber como o sujeito — nosso tema central — veio ao mundo, e verificar se ele aqui veio como um conceito. 31 EM TERMOS MAIS PRECISOS: - INDIVÍDUO: 32 - PESSOA: 33 - SUJEITO: Os modos de subjetivação referem-se às práticas pelas quais os sujeitos se formam, configurando-se como um "ponto de interseção" entre os campos da arqueologia do saber e da genealogia do poder, discutidos pelo autor nos textos que antecedem os dois últimos volumes da História da sexualidade (FOUCAULT, 1985). - Deleuze afirma que: “olhando bem, isso é tão-só uma outra maneira de dizer: o sujeito se constitui no dado”. - Pode-se notar que essa consideração de Deleuze também rompe com a noção de uma unidade evidente atribuída ao sujeito, ou seja, com a noção de um ser prévio que permanece. Para ele, o sujeito não está dado, mas se constitui nos dados da experiência, no contato com os acontecimentos. Questionamos: como isso acontece? Nos diferentes encontros vividos com o outro, exercitamos nossa potência para diferenciarmos de nós mesmos e daqueles que nos cercam. Existem diferentes maneiras de viver tais encontros. Alguns deles podem passar praticamente despercebidos. Já outros são fortes, marcantes e até mesmo violentos. - O sujeito não pode ser concebido como uma entidade pronta, mas ele se constitui à medida que é capaz de entrar em contato com essas forças e com as diferenças que elas encarnam, sofrer suas ações e, em alguma medida, atribuir-lhes um sentido singularizado. - O sujeito, nessa perspectiva de análise, só pode ser analisado a partir de uma processualidade, de um vir a ser que não se estabiliza de maneira definitiva. Ele é construído à medida que experiencia a ação das forças que circulam no fora, e que, por diferentes enfrentamentos, afetam o seu corpo e passam, em parte, a circular também do lado de dentro. Sob essa ótica, a produção do sujeito envolve um movimento que não conhece sossego, pois ele não está dado de uma vez por todas. 34 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT, G. The Nature of Prejudice. Reading, MA: Addison-Wesley, 1954. AMÂNCIO, L. Identidade social e relações intergrupais. In J. Vala & M.B. Monteiro (Coords.) Psicologia Social. 6 ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004. ARONSON, E.; Wilson, T. D. & Akert, R. M. Psicologia social. São Paulo: LTC, 2002. BERGER, P; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1976. BUARQUE DE HOLANDA, S., Raízes do Brasil, José Olympio Ed., Rio de Janeiro, 24 ed., 1992, p.106 CAMPOS, L. A. M. Psicologia Social I. Rio de Janeiro: SESES, 2016. CIAMPA, A. Identidade. In: Lane, S; Codo, W. (org.). Psicologia Social: o homem em movimento. São Paulo: Brasiliense, 1984. CUCHE, D. A noção de cultura nas Ciências Sociais. Bauru: Edusc, 1999. Deleuze, G. 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