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[QUESTÕES FILOSÓFICAS] Unidade 1: Temáticas e Conceitos na filosofia antiga e medieval a) Do mito à razão a.1) Mito e tragédia na Grécia antiga a.2) Formação do pensamento positivo na Grécia arcaica a.3) As origens da Filosofia: Pré-socráticos. Filosofia socrático-platônica. b) Da razão à fé b.1) Cristianismo e filosofia grega; b.2) Ideias de dever, intenção e unidade. Unidade 2: Temáticas e conceitos filosóficos modernos e contemporâneos que influenciaram a Psicologia. a) O iluminismo e a construção da soberania do sujeito. b) O outro lado da racionalidade na crítica ao sujeito moderno por parte do pensamento pós-iluminista. c) As bases do pensamento fenomenológico e existencialista. d) Estruturalismo e pós-estruturalismo: a desconstrução do sujeito na reflexão filosófica pós moderna. Unidade 3: Interfaces da Filosofia e da Psicologia na investigação do sofrimento psíquico na atualidade. a) Novas configurações do sofrimento psíquico numa sociedade individualista de consumo globalizado. b) O problema da angústia na Filosofia contemporânea e suas relações com as ansiedades, inseguranças e incertezas sistêmicas, constitutivas das subjetividades atuais. c) Identidades fragmentadas e recompostas num mundo caracterizado pela individualização acelerada. d) Impactos desses debates no campo psicológico. Avaliações Primeira Prova Dia: 02/05 unidade I e II (2 até o texto 9) Segunda Prova Dia 20/06: unidades II e III (textos 10 a 17) Atividade Extraclasse 1: até o dia 12 de maio Atividade Extraclasse 2: até o dia 11 de junho para entregar (associado à unidade 3) - dia 28 de Maio estará disponível a instrução. UAs Apresentação Grupo 7 - Texto 16 (link) - Aproximadamente 06/06 OBS: Chamada normalmente na primeira aula. https://drive.google.com/drive/u/0/folders/1Ha8QQvv8aGioOsZaDjSdf_KUumXZE9Ga [07.03.2022] Relacionando Filosofia e Psicologia Quais são as semelhanças? Quais são as diferenças? Qual é a interface entre filosofia e psicologia? [14.03.2022] Do Mito à Razão Texto 1 - O universo, os Deuses, os homens - A origem do universo - A guerra dos deuses, reinado de Zeus Cosmogonia: "como surgiu tudo no mundo" - conjunto de teorias, princípios ou doutrinas, com base científica, religiosa ou meramente mítica, que procura explicar e descrever a origem e a formação do Universo. (grego) Palavras-chaves: nascimento, geração, descendência, ordem, harmonia, beleza. Os filósofos pré-socráticos desenvolveram uma cosmologia porque tentaram desvendar a verdadeira origem do Universo e a sua organização. A cosmologia é o estudo da origem e da composição do Universo (cosmos, em grego). A cosmogonia grega diz que o mundo foi feito pelo Caos, o mais velho dos Deuses. Na cosmogonia cristã, temos um Deus único. - Cada um tem a sua visão de mundo, tem o seu sentido de criação do universo. Na mitologia grega o mundo foi feito pelo Caos. Ele vivia num ambiente de trevas, vazio, sem nada, então resolveu criar Gaia, a Mãe Terra, Eros (o amor), Nyx (a noite), e o Tártaro (profundezas da terra). Gaia, por sua vez, criou Urano, que representava o céu. Caos: deus primordial do universo Gaia tem ordem, beleza, solidez. Eros: princípio de vida e força expansiva Tártaro: prisão subterrânea Urano: céu. Cronos: deus do tempo Os ocidentais estão muito familiarizados com a cosmogonia judaico-cristã, que aponta Deus como criador de tudo e Adão e Eva como os primeiros seres humanos. O mito e a religião: O mito proporciona um conhecimento que explica o mundo a partir da ação de entidades - ou seja, forças, energias, criaturas, personagens - que estão além do mundo natural, que o transcendem, que são sobrenaturais. Veja, por exemplo, o mito através do qual os antigos gregos explicavam a origem do mundo: No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, denso e profundo, onde nada podia existir. Dessa oca imensidão sem onde nem quando, de um modo inexplicável e incompreensível, emergiram a Noite negra e a Morte impenetrável. Da muda união desses dois entes tenebrosos, no leito infinito do vácuo, nasceu uma entidade de natureza oposta à deles, o Amor, que surgiu cintilando dentro de um ovo incandescente. Ao ser posto no regaço do Caos, sua casca resfriou e se partiu em duas metades que se transformaram no Céu e na Terra, casal que jazia no espaço, espiando-se em deslumbramento mútuo, empapuçados de amor. Então, o Céu cobriu e fecundou a Terra, fazendo-a gerar muitos filhos que passaram a habitar o vasto corpo da própria mãe, aconchegante e hospitaleiro. Assim como o mito, a religião, ou melhor, as religiões também apresentam uma explicação sobrenatural para o mundo. Para aderir a uma religião, é obrigatório crer ou ter fé nessa explicação. Além disso, é uma parte fundamental da crença religiosa a fé em que essa explicação sobrenatural proporciona ao homem uma garantia de salvação, bem como prescreve maneiras ou técnicas de obter e conservar essa garantia, que são os ritos, os sacramentos e as orações. [TEXTO 2: O NASCIMENTO DA FILOSOFIA/PRÉ-SOCRÁTICOS - CHAUÍ] - Nem oriental, nem milagre; - Mito e filosofia; - Condições históricas para o surgimento da filosofia; - Principais características da filosofia nascente. NASCIMENTO DA FILOSOFIA Além de possuir data e local de nascimento, a Filosofia também possui um conteúdo preciso ao nascer: é uma cosmologia. O nascimento da filosofia, por muito tempo, foi uma questão de debates e dúvidas. Tendo duas correntes como principais: origem oriental e "milagre grego". Origem oriental: Os judeus, para valorizar seu pensamento, desejavam que a Filosofia tivesse uma origem oriental, dizendo que os filósofos importantes, como Platão, tinham surgido no Egito, onde se originara o pensamento de Moisés, criando uma ligação entre a Filosofia e a Bíblia. Os Padres da Igreja, queriam mostrar que os ensinamentos de Jesus eram elevados e perfeitos e, por isso, mostravam que os filósofos gregos estavam próximos ao cristianismo, que é uma religião oriental. Milagre grego: filosofia surge de uma forma inesperada na Grécia, como um acontecimento espontâneo e único (como de um milagre) e que os povos gregos foram um povo excepcional (somente eles poderiam ter sido capazes de criar a Filosofia). NEM ORIENTAL, NEM MILAGRE Estudos históricos corrigiram essas teses exageradas, concluindo: A Filosofia tem dívidas com a sabedoria dos orientais porque os mitos, cultos religiosos, cultura, formas de parentesco e de organização foram resultado de contatos profundos com as culturas mais avançadas do Oriente e com a herança deixada pelas culturas que antecederam a grega, nas regiões onde ela se implantou. Há algo de verdadeiro na tese do milagre grego, tirando todos os exageros nela implementados. De fato, os gregos imprimiram mudanças de qualidade muito profundas no que receberam do Oriente e das culturas precedentes, que até pareciam terem criado a sua própria cultura a partir de si mesmos. Dessas mudanças, quatro nos darão uma ideia da originalidade grega: 1. Com relação aos mitos: os gregos retiraram os aspectos monstruosos dos deuses e do início do mundo; humanizaram os deuses, divinizaram os homens; deram racionalidade a narrativas sobre a origem das coisas, dos homens e das instituições. 2. Com relação aos conhecimentos: os gregos transformaram em ciência aquilo que eram elementos de uma sabedoria prática para o uso direto da vida (surge a matemática, astronomia, medicina..). 3. Com relação à organização social e política: inventaram a política, as instituições públicas (tribunais e assembleias), criaram a ideia da lei e da justiça como expressões da vontade pública e não como uma imposição da vontade de um só ou de um grupo, em nome das divindades - as decisões eram tomadas a partir de discussões públicas. Os gregos também separaram o poder político de duas outras formas de autoridade: a do chefe de família e a do sacerdote ou mago. 4. Com relação ao pensamento: inventaram a ideia da razão como um pensamento sistemático que segue regras,normas e leis universais. MITO E FILOSOFIA O mito é uma narrativa sobre a origem de alguma coisa. Para os gregos, mito é um discurso pronunciado ou proferido para os ouvintes que recebem como verdadeira a narrativa, porque confiam naquele que narra. Quem narra o mito? O poeta-rapsodo - acredita-se que o poeta é o escolhido dos deuses, que lhe mostram os acontecimentos do passado e permitem que ele veja a origem de todos os seres para que possa transmitir aos ouvintes. Sua palavra (o mito) é sagrada porque vem de uma revelação divina, sendo o mito, então, incontestável e inquestionável. Como o mito narra a origem do mundo e de tudo o que nele existe? 1. Encontrando o pai e mãe das coisas e dos seres - tudo o que existe decorre de relações sexuais entre forças divinas pessoais. A narração da origem é uma genealogia, isto é, narrativa da geração dos seres, das coisas, das qualidades, por outros seres, que são seus pais ou antepassados. 2. O mito narra ou uma guerra entre forças divinas ou uma aliança entre elas para provocar alguma coisa no mundo dos homens. 3. Encontrando as recompensas ou castigos que os deuses dão a quem os desobedece ou a quem os obedece. Vemos, portanto, que o mito narra a origem das coisas por meio de lutas, alianças e relações sexuais entre forças sobrenaturais que governam o mundo e o destino dos homens. São genealogias, cosmogonias e teogonias. A Filosofia, ao nascer, é uma cosmologia, uma explicação racional sobre a origem do mundo e sobre as causas das transformações e repetições das coisas; Qual é a palavra dos estudiosos? A filosofia nasce de uma transformação gradual dos mitos ou da ruptura radical com os mitos? Continua ou rompe com a cosmogonia e a teogonia? Duas respostas: 1) Final do séc. XIX e início do séc. XX: a Filosofia nasceu por uma ruptura radical com os mitos, sendo a primeira explicação científica da realidade produzida pelo Ocidente. 2) Meados do séc. XX: a Filosofia nasceu do interior dos próprios mitos, como uma racionalização deles. Atualmente, as duas respostas são consideradas exageradas e afirma-se que a Filosofia, percebendo as contradições e limitações dos mitos, foi reformulando e racionalizando as narrativas míticas, transformando-as em uma outra coisa, totalmente nova e diferente. Quais são as diferenças entre a Filosofia e o mito? MITO FILOSOFIA Narra como as coisas eram ou tinham sido no passado imemorial e fabuloso. Se preocupa em explicar como e por que, no passado, no presente e no futuro as coisas são como são. A origem veio através das genealogias e rivalidades ou alianças entre as forças divinas e personalizadas. Explica a produção natural das coisas por elementos e causas naturais e impessoais. Não se importava com contradições, com o fabuloso ou o incompreensível: a confiança e a crença no mito vinham da autoridade religiosa do narrador. Não admite contradições, fabulação e coisas incompreensíveis, mas exige explicação coerente, lógica e racional; Além disso, na autoridade da explicação não vem da pessoa do filósofo, mas da razão, que é a mesma em todos os seres humanos. CONDIÇÕES HISTÓRICAS PARA O SURGIMENTO DA FILOSOFIA O que tornou possível o surgimento da Filosofia na Grécia no final do séc. VII e no início do séc. VI antes de Cristo? Quais condições materiais, econômicas, sociais, políticas e históricas que permitiram o surgimento da filosofia? Principais condições históricas para o surgimento da Filosofia na Grécia: - Viagens marítimas: permitiram aos gregos descobrir que os locais que os mitos diziam ser habitados por deuses eram, na verdade, habitados por outros seres humanos, além de confirmar a inexistência de monstros. A desmistificação gerou a busca pela nova explicação da origem do mundo. - Invenção do calendário: perceberam a percepção do tempo como algo natural a partir das estações e não como um poder divino incompreensível. - Invenção da moeda e da escrita alfabética: trouxe uma nova capacidade de abstração e de generalização. - Surgimento da vida urbana: com o comércio e o artesanato, técnicas de fabricação e de troca diminuíram o prestígio das famílias proprietárias de terra, por quem e para quem os mitos foram criados. - Invenção da política: a política valorizando o humano, o pensamento, a discussão, a persuasão e a decisão racional, valorizou o pensamento racional e criou condições para que surgisse o discurso filosófico. - Surgimento da polis e a ideia da lei como expressão de vontade de uma coletividade humana que decide por si mesma. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA FILOSOFIA NASCENTE Tendência à racionalidade: somente a razão é critério da explicação de alguma coisa; Tendência a oferecer respostas conclusivas para os problemas: a solução nunca é aceita como uma verdade se não for provado racionalmente que é verdadeira. Exigência de que o pensamento apresente suas regras de funcionamento: justifica as suas idéias provando que segue regras universais do pensamento, não aceita contradições. Recusa explicações preestabelecidas: para cada problema, deve haver uma investigação para encontrar a solução própria. Tendência à generalização: mostrar que uma explicação tem validade para muitas coisas diferentes, o pensamento descobre semelhanças e identidades. PRÉ-SOCRÁTICOS Período pré-socrático ou cosmológico: quando a Filosofia se ocupa fundamentalmente com a origem do mundo e as causas das transformações da Natureza. Physis: é uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos. a) O mundo, ou a Natureza, é eterno; b) No mundo, ou na Natureza, tudo se transforma em outra coisa, sem jamais desaparecer; c) Todos os seres, além de serem gerados e mortais, são seres em contínua transformação, mudando de qualidade e quantidade; d) Mudança: nascer, morrer, mudar de qualidade ou de quantidade - chama-se movimento e o mundo está em movimento permanente; O movimento do mundo chama-se devir e o devir segue leis rigorosas que o pensamento conhece. Essas leis mostram que toda mudança é passagem de um estado ao seu contrário: dia-noite, claro-escuro. Ou seja, é uma passagem contínua de uma coisa ao seu estado contrário e essa passagem não é caótica, mas obedece a leis determinadas pela physis ou pelo princípio fundamental do mundo. a) Como a autora explica a relação entre Cosmologia e Filosofia. b) Como a autora explica as teses ocidentalistas e orientalista acerca da origem da filosofia. c) Qual a importância da invenção da Política para a filosofia. d) Como a autora explica as condições históricas para o surgimento da filosofia e) Quais as principais características do pensamento filosófico no contexto de seu surgimento [TEXTO 3: DAS LACUNAS E DO DIÁLOGO: AS ORIGENS DA TRAGÉDIA NA GRÉCIA ANTIGA - DIAS] - Investigação sobre as origens e a evolução da tragédia na Grécia Antiga. - Ligação entre teatro e Filosofia INVESTIGAÇÃO SOBRE AS ORIGENS E A EVOLUÇÃO DA TRAGÉDIA NA GRÉCIA ANTIGA CONSIDERAÇÕES INICIAIS As mudanças na polis parecem fundamentais para o aparecimento e desenvolvimento da tragédia desde o espaço sagrado do ritual à argumentação e ao discurso racional. Por um lado, ao pensarmos o teatro em suas origens, se torna impossível dissociá-lo do mito, afinal a tragédia tem seu início com a representação ritualística dos mitos gregos. Seu objetivo, inicialmente, seria levar à cena os acontecimentos lendários acerca dos heróis e dos deuses, vindo o seu desenvolvimento a ser profundamente influenciado pelas transformações sociais que contextualizaram o seu nascimento. Levando em consideração que é na representação (ou encenação) dos mitos que os rituais se davam, haveria uma relação entre a origem do teatro e os rituais primitivos, entendidos como as primeiras expressões cênicas. Se formos mais longe no tempo, o teatro tem origem nos cultos da população rural a divindades da vegetação e fertilidadedas terras. ORIGEM DO TEATRO OCIDENTAL COM A TRAGÉDIA E A COMÉDIA O impulso para o teatral, inicialmente religioso e mítico, encontra sua laicização entre os séc. VI e IV a.C. Momento em que, isso que chamamos de teatro ocidental, tem sua origem com a Tragédia e a Comédia que se instituem nas festividades urbanas de Atenas. O teatro é "filho da cidade", bem como a "Filosofia é filha da cidade". O teatro também parece vir a ser um espelho do modo como os cidadãos pensavam e viam a si mesmos, trazendo em seu cerne, as tensões e os conflitos em jogo no espaço urbano grego, que se consolidava. TEATRO E FILOSOFIA A Filosofia e o teatro surgem juntos, se alterando e modificando mutuamente. Concursos trágicos e festivais só foram possíveis com o desenvolvimento das cidades que dominaram o cenário grego e também devido à laicização da palavra e do espaço público (a palavra tornada pública). O fenômeno da laicização, oriundo do pensamento filosófico, parece impresso nas obras teatrais com a mesma proporção em que vai se instaurando na cidade. Na cidade-estado de Atenas, considerada "centro cultural e político do mundo antigo" que filosofia e teatro surgem e se consolidam. Há uma dependência inquestionável entre cultura e o contexto político da cidade-estado. A cultura grega foi, desde o primeiro instante, inseparável da vida da pólis. E essa ligação não foi, em nenhum lugar, tão estreita como em Atenas. Atenas representa o espaço onde as relações humanas puderam se constituir em forma democrática, graças à preeminência da palavra e da eclosão do diálogo. A Grécia no período clássico viveu a radicalização da palavra. A verdade passa a se constituir a partir da persuasão, da argumentação, da racionalização, da lógica. Essa é a mudança radical que a Grécia viu acontecer e que imprimiu sua marca no mundo ocidental. "O diálogo se tornará a forma dramática por excelência". É através do diálogo que os conflitos vêm a ser representados no teatro grego. O drama trágico constitui tanto sobre os conflitos individuais quanto sobre os conflitos de poder - dramatização progressiva da palavra-diálogo. O homem grego é então um homem em crise, neste sentido, por excelência trágico, dividido entre o mundo arcaico e o Estado, entre o individual e o coletivo, entre as leis antigas dos deuses e as leis dos homens, entre a palavra mítica e a palavra racional. As personagens trágicas acabam sendo representadas nesse momento de transição em sua tensão. Nesse sentido, a Filosofia e o teatro parecem nascer juntos: ainda que sigam caminhos tão opostos, são filhos da cidade, de todas as novas configurações humanas e sociais que nascem com a cidade. O século seguinte, seria o século da filosofia e da plena presença da palavra racional que, também seria o momento da decadência da tragédia. a) Como a autora apresenta a definição de tragédia b) Que relações a autora estabelece entre mito e teatro e filosofia e o porquê a autora afirma que “o diálogo se tornará a forma dramática por excelência”. c) As mudanças, segundo a autora, que alteraram a visão de mundo dos gregos [TEXTO 4: ITINERÁRIO DE ANTÍGONA: A QUESTÃO DA MORALIDADE - FREITAG] A moralidade tem que ver com a ação de um sujeito que relaciona a sua ação com a ação dos outros sendo, assim, um assunto de interesse da sociologia. A moralidade pode ser lida com critérios de julgamento os quais a própria ação ou a dos outros é analisada, criticada e julgada; essa análise pressupõe um sujeito consciente, uma consciência moral,capaz de julgar o certo e o errado, o bem e o mal; sendo assim, um assunto de interesse filosofia A moralidade pressupõe a causa da ação, uma explicação para as razões que levaram o sujeito a agir assim e não de outra forma, a intencionalidade consciente ou inconsciente, assim, passa a ser um assunto de interesse da psicologia. Sociologia: pergunta pelas consequências objetivas, institucionalizadas, de uma ação no contexto social, assim, negligencia o aspecto subjetivo da moralidade, a consciência moral. Filosofia: pergunta pelos critérios ou princípios conscientes que orientaram essa ação, assume a reflexão sobre os valores e critérios que orientam e controlam o julgamento, assim, negligencia as consequências das ações objetivas da ação em um contexto social e, também, negligencia os aspectos irracionais, inconscientes da ação. Psicologia: tenta desvendar as causas subjetivas (os impulsos, os motivos) que levaram o sujeito a agir consciente ou inconscientemente desta e não de outra forma, atribuindo uma questão biológica, afastando o sujeito da responsabilidade dos seus atos, excluindo a objetivação de suas ações e suas consequências. A ação moral pressupõe um sujeito da ação, livre, dotado de vontade e razão, capaz de controlar e orientar os seus atos segundo certos critérios e princípios, disposto a assumir conscientemente as consequências desses atos, responsabilizando-se por eles. Assim, a ação moral exige um tratamento multidisciplinar e não pode ser estudada de forma isolada. A questão da moralidade implica uma concepção de (relativa) liberdade do ator. O ator pode ser levado a agir por diferentes razões ou motivos; pode utilizar-se de diferentes critérios e meios para justificar a sua ação, provocando (mais ou menos intencionalmente, conscientemente) essas ou aquelas consequências de seus atos. MORALIDADE E OS GREGOS: DA TRAGÉDIA À FILOSOFIA A tragédia grega tinha, pelo menos, três funções básicas: Expressão artística: com o domínio perfeito da linguagem, comunica-se na tragédia, emoções, problemas ou conflitos emocionais e morais de um grupo ou de um coletivo mais amplo. Educação do público: ocorre quando a tragédia encena os vários pontos de vista de um problema ou conflito, sob a forma de diálogos, permitindo ao público formar sua própria opinião, ouvidos os argumentos de todas as partes. Função catártica: acontece quando uma peça permite reduzir, no público, a tensão provocada pelos conflitos individuais e sociais encenados, por meio da conexão e identificação do público com os personagens. A tragédia grega alimenta-se da mitologia. O mito, forma original de representação das emoções, dos conflitos, das ações humanas projetadas em personagens mitológicos, fornece a matéria-prima para a trama dos protagonistas da tragédia. Aqui são encenados emoções e conflitos universais, vinculados inevitavelmente à condição humana, com fim trágico (a morte) de quase todos os personagens. Os atores e suas ações assumem feições típico-ideais, quase caricaturais. Dessa forma, a tragédia grega exprime, nos planos dramático e literário, os traços essenciais da questão moral. Mostra com toda a nitidez os dilemas e as contradições nas quais envolvem-se os seres humanos, inseridos em situações conflitantes que os impelem para a ação. Agir é perigoso. Mas é preciso agir, pois a ação exprime, em sua essência, a vida. A questão da moralidade encontrou na tragédia grega sua expressão dramática mais refinada e elucidativa, a Antígona de Sófocles é, sem dúvida, um dos seus mais belos exemplos. A questão moral aqui encenada pode ser tratada de vários pontos de vista (cf. Freitag, 1989a). Na análise que segue, procurarei concentrar-me no conflito moral vivido por Antígona e Creonte, segundo as intenções dramatúrgicas de Sófocles. Quais seriam as intenções pedagógicas (segunda função da tragédia) da peça Antígona? Sem dúvida, Sófocles quer mostrar ao seu público que toda ação humana é suscetível de erro, que cada ponto de vista defendido tem sua razão de ser, remetendo contudo ao ponto de vista radicalmente contrário, cujas validade e legitimidade vão se tornando evidentes no desdobramento da trama de cada personagem. O espectador aprendeu, no final da peça, que é preciso reconhecer os princípios de ação em conflito, ponderá-los adequadamente e reconhecer a sua hierarquia implícita. O espectador aprende com os erros e a intolerância de Antígona e Creonte. Como é sabido, a teoria psicológica de Platão atribuía à alma humana três virtudes (hierarquizadas):o instinto, a coragem e a razão. No instinto, manifestam-se os desejos carnais, considerados inferiores mas essenciais para a sobrevivência e a reprodução do homem. A coragem é a expressão dos desejos superiores, elevados, do homem A coragem dá testemunho da existência de uma vontade livre e autônoma; ela ocupa o patamar intermediário da organização da alma. Finalmente, a razão, sediada no topo da organização da alma, é a expressão da capacidade de contemplação, sabedoria e temperança do homem. Por meio da razão o homem consegue governar sua vontade e seus instintos, estabelecendo um equilíbrio entre as três virtudes. PARTES DA ALMA CLASSE VIRTUDE CABEÇA GOVERNO: Os filósofos constituem a cabeça do corpo social, ocupando-se do governo, do exercício da justiça e da busca do equilíbrio entre as forças; RAZÃO: é a expressão da capacidade de contemplação, sabedoria e temperança do homem. Por meio da razão o homem consegue governar sua vontade e seus instintos, estabelecendo um equilíbrio entre as três virtudes. CORAÇÃO GUERREIROS: os guerreiros constituem os braços e o tórax do corpo social, ocupando-se da defesa corajosa da polis; CORAGEM: A coragem é a expressão dos desejos superiores, elevados, do homem ABDOME TRABALHADORES E ARTESÃOS: asseguram a produção e reprodução material que garante a sobrevivência do corpo social. INSTINTO: manifestam-se os desejos carnais, considerados inferiores mas essenciais para a sobrevivência e a reprodução do homem. As virtudes da alma correspondem, as virtudes do Estado ou do corpo social, que preenchem as funções vitais do todo societário; o governo, a defesa e a reprodução. A cada instância corresponde um grupo de pessoas adequadas para preencher as funções (virtudes) essenciais para a sobrevivência do corpo social: os filósofos constituem a cabeça do corpo social, ocupando-se do governo, do exercício da justiça e da busca do equilíbrio entre as forças; os guerreiros constituem os braços e o tórax do corpo social, ocupando-se da defesa corajosa da polis; e, finalmente, os trabalhadores e artesãos correspondem, à parte inferior do corpo social, assegurando a produção e reprodução material que garante a sobrevivência do corpo social. À harmonia entre as três funções da alma (desejo, vontade, razão), assegurada pela autoridade da razão, corresponde a harmonia estabelecida entre filósofos (e magistrados), guerreiros e trabalhadores (e artesãos), habilmente obtida graças ao conhecimento e à capacidade de governo dos filósofos. A moralidade responde à pergunta do indivíduo isolado sobre como agir de forma moralmente correta, na busca do bem pessoal; a ética responde à pergunta dos governantes sobre como agir de forma política correta, na busca do bem coletivo. O ser moralmente competente é aquele que consegue assegurar um equilíbrio entre seus desejos, sua vontade e sua razão, que por isso mesmo coincide com o cidadão livre, membro da polis grega. A polis eticamente saudável é a que consegue integrar os interesses dos governantes, guerreiros e artesãos, assegurando o equilíbrio do todo social. A liberdade de ação (individual e coletiva), por definição, refere-se aos homens livres, aos membros da polis, aos cidadãos. Os escravos, os estrangeiros, como ficavam fora da polis, não eram considerados membros do corpo social, razão pela qual Platão não os inclui em sua reflexão. CONCLUSÃO A virtude máxima para esses pensadores gregos é a temperança, o equilíbrio entre desejos, vontades e razão, sob a égide dessa última. Todos os excessos são condenados, toda ação unilateral (fanática), criticada. A temperança (seu melhor exemplo é a prudência de Aristóteles) é o fruto da experiência, o resultado da ação refletida e corrigida em consequência de erros anteriores. A justiça sintetiza o valor moral supremo. Ela é a simbiose de todas as outras virtudes. Consiste essencialmente em praticar o bem no interior da hierarquia estamental preestabelecida. Por isso ela assume conteúdos distintos para os filósofos (a prática da verdadeira construção do conhecimento), os guerreiros (a prática da coragem na guerra) e os artesãos (a utilidade na produção e reprodução material de bens). Agir corretamente (isto é, moralmente) significa agir de acordo com uma lei (a boa medida) fixada por cada um a si mesmo. Mas agir corretamente (isto é, de forma politicamente justa) significa seguir a lei da polis, fixada pelos filósofos e políticos, empenhados na verdade e no bem coletivo, adequando-a ao caso particular. Creonte acaba agindo corretamente quando adapta a lei da polis ao caso particular de Antígona, perdoando-lhe o desafio à sua vontade e a transgressão da lei de Tebas. a) Quais são, segundo a autora, as funções da tragédia b) Quais são os argumentos que a autora utiliza para explicar a questão da moralidade c) Explique o porquê, para a autora, a Tragédia Antígona nos permite realizar uma reflexão crítica sobre os limites e as possibilidades da ação social do indivíduo em contextos estruturais pré-configurados. d) A autora defende um tratamento multidisciplinar para análise da questão da moralidade. Explique quais são os campos disciplinares apontados pela a autora e suas possibilidades e limites. [TEXTO 5: MEDÉIA, DE EURÍPEDES: UM OLHAR SOBRE A TRADIÇÃO E RUPTURA, NA TRAGÉDIA GREGA - LOPES] Para Grant, a tragédia era compacta e concisa; o objetivo era expressar os intensos pensamentos humanos e tinha como função analisar, geralmente em um contexto mitológico, as relações entre os mortais e as divindades, além de expor e avaliar a opinião dos próprios atenienses que compunham a platéia. Para Aristóteles, o mito é o gerador da tragédia, seu elemento central; sem ele, tal gênero não poderia existir. É ratificado como princípio e alma da tragédia, vindo somente depois, as personagens. Eurípedes constrói a personagem mitológica Medéia, mulher que se torna transgressora em relação aos valores femininos, por assassinar os próprios filhos. As características psicológicas e sociais da personagem foram elaboradas com originalidade pelo autor, o que rompe com a tradição das tragédias escritas na época, deixando de conferir ao mito forte influência dos deuses. Eurípedes compôs, em suas tragédias, um retrato crítico da sociedade grega. Teve o mérito de introduzir a crítica na tragédia, um dos mais fortes traços de ruptura em comparação à tradição de sua época, que tinha o mito como elemento gerador, mas desprovido de razão e fortemente influenciado pelos deuses. Sua obra é marcada pela crítica que atinge os deuses, os quais eram considerados símbolos dos poderes naturais, e torna-se, então, meras ficções enganadoras. Consequentemente, um mundo que era ainda marcado pela reverência aos deuses, por um pensamento muito religioso, passaria a se sentir completamente abalado por esse novo modo de pensar e de entender o cosmos. É a primeira vez que introduz-se ao palco a loucura de uma personagem que é afligida por um conflito interno entre matar os próprios filhos e abandonar a vingança do marido traidor. Eurípedes crê que ao gênio tudo é permitido, abrindo novas possibilidades à tragédia, por meio da representação de enfermidades da alma humana originadas da vida instintiva. A MULHER NA SOCIEDADE GREGA Na antiga sociedade grega, a mulher era símbolo de fraqueza. Não podia ter os mesmos direitos que os homens, nem tampouco realizar as mesmas funções. Era considerada como um ser inferior. A mulher não era tida como cidadã, mas apenas filha de cidadão. Não fazia parte do gênero de coisas que constituem a vida pública, nem cabia a ela discutir temas polêmicos, política ou filosofia, afinal, seu lugar era dentro de casa com trabalhos domésticos. No plano da natureza, sua função era produzir cidadãos, isto é, herdeiros dos chefes de famílias que constituíam a cidade. A ruptura, em Medéia Medéia é uma mulher que se encontra em uma situação totalmente desfavorável. É uma estranha, uma estrangeira em terra em que não é bem aceita, ainda mais pelo fato de seu marido, com quem tiveradois filhos, estar casado com a filha do rei. Sente-se humilhada, ultrajada pelo abandono do marido, pois ele a deixara a fim de obter vantagens e prestígio, para casar-se com a filha de Creonte, rei de Corinto. Medéia sofre preconceito do povo de Corinto, o grupo de mulheres da cidade, que se coloca em sua defesa, apenas a escuta, mas não se compromete, não luta por ela. As mulheres de Atenas eram oprimidas demais, submetidas a uma educação rígida, que as levava a acreditar na própria inferioridade e em seu dever de submissão. Por isso, Eurípedes escolhe a feiticeira Medéia para mostrar a natureza elementar da mulher, livre das limitações da moral grega. o senso crítico é predominante nas falas da personagem, que faz reflexões filosóficas sobre a posição social da mulher. Eurípedes ressalta o aspecto psicológico da tragédia ao escrevê-la, representando os sofrimentos das mulheres de seu tempo e incorporando à representação, por isso é inovador. Coloca sua personagem como um ser crítico, que busca liberdade e justiça para a sua vida e, sobretudo, exalta a inteligência dessa mulher. Para conseguir tal fato, ele sublinha na paixão de Medéia a dependência do mundo e do espaço social que ela vive. Ele representou Medéia também sob o olhar crítico a respeito da posição feminina, o que o torna um precursor. Sua personagem representa a fortaleza da mulher, que era reprimida e desvalorizada, resultado da ideologia patriarcal em que a sociedade grega estava inserida. Outro aspecto importante é a introdução do preconceito masculino, tão evidente na sociedade da época. Medéia causou grande espanto entre os demais filósofos da época, pois, além de imprimir uma ruptura com o conceito de tragédia, também acaba por produzir uma ruptura com a própria construção desse gênero. Para Eurípedes, a trama da tragédia já não rege mais pela tradição, pela origem dos mitos, mas pela originalidade individual, pela criação do próprio autor, o que resulta numa grande ruptura em relação à concepção de tragédia. O autor imprimiu à sua obra uma profunda avaliação da condição social e psicológica da mulher diante da sociedade em que viveu, tornando Medéia uma das mais intrigantes personagens da literatura. a) Explique a razão pela qual o mito é um elemento gerador da tragédia b) Explique o significado da inserção da crítica na tragédia c) Apresente os argumentos que evidenciam, segundo a autora, os aspectos psicológicos e filosóficos da tragédia. d) Apresente os argumentos que, segundo a autora, explicam a função das mulheres na sociedade grega. [TEXTO 6: SÓCRATES E PLATÃO - CHAUÍ] PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se o centro da vida social, política e cultural da Grécia. - Século de Péricles. Essa é a época do maior florescimento da democracia. A democracia grega possuía duas características de grande importância para o futuro da Filosofia. 1) A democracia afirmava a igualdade de todos os homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do governo da cidade, da polis. 2) Sendo direta e não por eleição de representantes, garantia a todos a participação no governo, e os que dele participavam tinham direito de exprimir, discutir e defender em público suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria tomar. Surgia a figura política do cidadão. Para conseguir que a opinião fosse aceita nas assembléias, o cidadão precisava saber falar e ser capaz de persuadir. Isso causa uma grande mudança na educação grega. Quando não havia democracia, dominavam as famílias aristocráticas, senhoras das terras e o poder lhes pertencia. Essas famílias criaram um padrão de educação, próprio dos aristocratas, que afirmava que o homem ideal ou perfeito era o guerreiro belo e bom. Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas, esse ideal educativo ou pedagógico também vai sendo substituído por outro. O ideal da educação do Século de Péricles é a formação do cidadão. Qual é o momento que o cidadão mais exerce a sua cidadania? Quando opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim, a nova educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política. Para dar essa educação, surgiram os sofistas, que são os primeiros filósofos do período socrático. Eles diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para a vida da polis. Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Vem aí a arte da persuasão. Os sofistas ensinavam as técnicas de persuasão aos jovens que aprendiam a defender a posição ou opinião para que ganhassem a discussão. Porém, Sócrates rebelou-se contra os sofistas, dizendo que não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria e nem respeito pela verdade, defendendo qualquer ideia, se isso fosse vantajoso. Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valer tanto quanto a verdade. Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: - A educação antiga do guerreiro belo e bom não atendia as exigências da sociedade grega, e, - Os filósofos cosmologistas defendiam ideias tão contraditórias que também não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro. O que propunha Sócrates? Propunha que, antes de querer conhecer a Natureza e antes de querer persuadir os outros, cada um deveria primeiro conhecer-se a si mesmo. "Conhece-te a ti mesmo". Por fazer o autoconhecimento condição de todos os outros conhecimentos verdadeiros, é que se diz que o período socrático é antropológico, ou seja, voltado para o conhecimento do homem, de seu espírito e de sua capacidade para conhecer a verdade. Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos acreditavam que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocutores embaraçados e estes descobriam que não sabiam responder e que nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias. Ex: Você acredita que a justiça é importante, mas o que é justiça? Assim, estes perguntavam as respostas para Sócrates, porém, ele dizia: só sei que nada sei. A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava Sócrates? A definição daquilo que uma coisa, uma ideia, um valor é verdadeiramente. Procurava a essência da coisa, da ideia e do valor. Procurava o conceito e não a mera opinião. - semântica. A opinião varia de pessoa para pessoa, de época para época, é instável e mutável. O conceito, ao contrário, é uma verdade atemporal, universal e necessária que o conhecimento descobre. As perguntas de Sócrates não faziam as pessoas pensarem apenas em si mesmos, mas também sobre a polis. Aquilo que parecia evidente, se torna duvidoso e incerto. Para os poderosos, Sócrates era um perigo, pois faziam os jovens pensar. Sócrates foi acusado de desrespeitar os deuses, corromper os jovens e violar as leis. Foi levado a assembleia onde não se defendeu e foi condenado a tomar veneno, a suicidar-se. Se defender seria aceitar as acusações, ele prefere a morte do que a renúncia em filosofar. Características gerais do período socrático: - A filosofia se volta para as questões humanas no plano da ação, dos comportamentos, das ideias, das crenças, dos valores e, portanto, se preocupa com as questões morais e políticas. - O pensamento deve oferecer a si mesmo caminhos próprios, critérios próprios e meios próprios para saber o que é verdadeiro e como alcançá-lo em tudo o que investiguemos. Cabe à Filosofia, portanto, encontrar: 1. A definição, o conceito ou a essência dessas virtudes, para além da variedade das opiniões, para além da multiplicidade das opiniões contrárias e diferentes. 2. As perguntas filosóficas se referem, assim, a valores como a justiça, a coragem, a amizade, a piedade, o amor, a beleza, a temperança,etc. que constituem os ideais do sábio e do verdadeiro cidadão. É feita, pela primeira vez, uma separação radical entre, de um lado a opiniões e as imagens das coisas, trazidas pelos nossos órgãos dos sentidos, nossos hábitos, pelas tradições e pelos interesses, e, de outro lado, as ideias. As ideias se referem à essência íntima, invisível, verdadeira das coisas e só podem ser alcançadas pelo pensamento puro, que afasta os dados sensoriais, os hábitos recebidos, os preconceitos, as opiniões. A reflexão e o trabalho do pensamento são tomados como uma: - purificação intelectual, que permite ao espírito humano conhecer a verdade invisível, imutável, universal e necessária. A opinião, as percepções e imagens sensoriais: - são consideradas falsas, mentirosas, mutáveis, inconsistentes, contraditórias, devendo ser abandonadas para que o pensamento siga seu próprio caminho no conhecimento verdadeiro. A diferença entre os sofistas, de um lado, e Sócrates e Platão, de outro, é: a) Os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percepções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão, b) Enquanto Sócrates e Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens das coisas, como fonte de erro, mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimento que nunca alcançam a verdade plena da realidade. Os sofistas, diante da pluralidade e do antagonismo das filosofias anteriores, ou dos conflitos entre as várias ontologias, concluíram que não podemos conhecer o Ser, mas só podemos ter opiniões subjetivas sobre a realidade. - Por isso, para se relacionarem com o mundo e com os outros humanos, os homens devem valer-se de um outro instrumento - a linguagem - para persuadir os outros de suas próprias ideias e opiniões. - A verdade é uma questão de opinião e de persuasão, a linguagem é mais importante do que a percepção e o pensamento. Em contrapartida, Sócrates, distanciando-se dos primeiros filósofos e opondo-se aos sofistas, afirmava que a verdade pode ser conhecida, mas - Primeiro devemos afastar as ilusões dos sentidos e das palavras ou opiniões e alcançar a verdade apenas pelo pensamento. Os sentido nos dão aparências das coisas e as palavras, meras opiniões sobre elas. - Conhecer é passar da aparência à essência, da opinião ao conceito, do ponto de vista individual à ideia universal de cada um dos seres e de cada um dos valores da vida moral e política. FILOSOFIA MORAL: Gregos Nossos sentimentos, nossas condutas, nossas ações e nossos comportamentos são modelados pelas condições em que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião, trabalho, etc.). Somos formados pelos costumes de nossa sociedade, que nos educa para respeitarmos e reproduzirmos os valores propostos por ela como bons e, portanto, como obrigações e deveres. Dessa maneira, valores e maneiras parecem existir por si e em si mesmos, parecem ser naturais e intemporais, fatos ou dados com os quais nos relacionamos desde o nosso nascimento: somos recompensados quando os seguimos, punidos quando os transgredimos. Sócrates deixava os atenienses confusos porque os forçava a indagar qual a origem e a essência das virtudes (valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir os costumes de Atenas. Ética e moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros. Sócrates indagava o que eram, de onde vinham, o que valiam tais costumes. Sócrates perguntava aos atenienses qual o sentido dos costumes estabelecidos e quais as disposições de caráter que levavam alguém a respeitar ou a transgredir os valores da cidade, e por quê. Por um lado, interroga a sociedade para saber se o que ela costuma considerar virtuoso e bom corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, interroga os indivíduos para saber se, ao agir, possuem efetivamente consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu caráter ou sua índole são realmente virtuosos e bons. A indagação ética socrática dirige-se, então, à sociedade e ao indivíduo. As ideias de Sócrates inauguram a ética ou a filosofia moral, porque definem o campo no qual valores e obrigações podem ser estabelecidos com a consciência moral. É sujeito ético moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. Para Sócrates, apenas o ignorante é incapaz de virtude, pois quem sabe o que é o bem não poderá deixar de agir virtuosamente. Distinção entre o saber teorético e o saber prático - Aristóteles Se devemos a Sócrates o início da filosofia moral, devemos a Aristóteles a distinção entre o saber teorético e o saber prático. Saber teorético: é o conhecimento dos seres e fatos que existem e agem independente de nós e sem a nossa intervenção ou interferência. - Temos o conhecimento teorético da Natureza. Saber prático: é o conhecimento daquilo que só existe como consequência de nossa ação, portanto, depende de nós. A ética é um saber prático = A ética refere-se à práxis. Aristóteles adiciona à consciência moral, trazida por Sócrates, a vontade guiada pela razão como outro elemento fundamental da vida ética. Ele traz o saber prático, o poder de escolha, a vontade racional, a prudência. O prudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros. - A ética é um saber prático. Devemos a Aristóteles a definição do campo das ações éticas. As ações éticas não só são definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também pela decisão ou escolha. A ação e a finalidade da ação estão separadas, sendo independentes. Quando o curso de uma realidade segue às leis necessárias e universais, não há como nem por que deliberar e escolher, pois as coisas acontecerão necessariamente com as leis que as regem. Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, veremos que nele a ética afirma três princípios da vida moral: 1) Por natureza, o os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela conduta virtuosa; 2) A virtude é uma força interior do caráter, que consiste na consciência do bem e na conduta definida pela vontade e pela razão que controla os instintos e impulsos que existem na natureza de todo o ser humano; 3) A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que está em nosso poder significa não se deixar arrastar pelas circunstâncias, instintos ou vontade alheia, afirmando a independência e autodeterminação. Por natureza, somos passionais e a tarefa da ética é a educação do nosso caráter ou de nossa natureza, para seguirmos a orientação da razão. A vontade possuía um lugar fundamental nessa educação, pois ela que deveria ser fortalecida para permitir que a razão controlasse e dominasse as paixões. Passional é aquele que se deixa arrastar por tudo que satisfaça imediatamente seus apetites e desejos, tornando-se escravo deles. Desconhece a moderação e acaba sendo uma vítima de si mesmo. O sujeito ético ou moral não se submete às paixões, mas obedece apenas à sua consciência, que conhece o bem e as virtudes, e à sua vontade racional, que conhece os meios adequados para chegar aos fins morais. A busca do bem e da felicidade são a essência da vida ética. 3 aspectos principais da ética dos antigos: 1) Racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja e guia nossa vontade até ele; 2) Naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (cosmos) e com a nossa natureza (nosso ethos). 3) Inseparabilidade entre ética e política: somente na existência compartilhada entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade que encontramos liberdade, justiçae felicidade. A ética era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar racionalmente os seus impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para formá-lo como membro de uma coletividade sociopolítica. Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também deveriam ser virtuosos. a) Qual a importância de Sócrates na história da filosofia. b) Explique como Sócrates concebe a opinião, as percepções e imagens sensoriais c) A razão pela qual a questão do conhecimento se tornou um tema central para a filosofia. d) Explique porque a indagação ética Socrática faz referência ao indivíduo e a sociedade. e) Quais os argumentos utilizados pela autora para explicar o pensamento filosófico dos antigos no que diz respeito a ética. f) Explique porque a autora afirma que as questões socráticas inauguram a ética ou filosofia moral. [TEXTO 7: SÓCRATES: O PRIMEIRO TERAPEUTA - JOÃO IBAIXE JR.] A atividade filosófica do pensador tinha como objetivo o cuidado com a alma e a busca pelo autoconhecimento. A partir do século 5 a.C, em razão de situações de mudanças sociopolíticas ocorridas na Grécia, o foco da Filosofia acabou por voltar-se a Atenas, cujo formato das dimensões política, financeira, educacional e social encontrava- se melhor estruturado. Foi o período alto da chamada democracia ateniense. Todas essas mudanças alteraram o comportamento da vida ativa dos cidadãos e modificaram o modo de ser do povo ateniense. Nasceu um novo foco nas investigações, havendo maior preocupação com temas e assuntos voltados para o homem. Ocorreu inflexão da pergunta filosófica, antes ocupada da physis e agora dirigida para o universo humano. Passou-se, assim, da pesquisa da natureza para a da política, e esta fez-se acompanhar de maior interesse na indagação sobre o indivíduo e sua relação com a comunidade que o cerca e na qual ele está inserido. Concentraram-se os olhares para as dimensões do viver prático, do cotidiano, das relações ocorridas dia a dia pelas quais o cidadão sofre e produz efeitos no espaço urbano que ocupa. O ponto central era o questionamento sobre a política e a ética, tendo por eixo a eudaimonia(felicidade), dimensões básicas da filosofia prática. É neste período que se dá a existência de Sócrates. Os sofistas Fulcro de toda a questão é o fato dos sofistas pretenderem saber e ensinar tudo e certamente qualquer coisa, sob qualquer ângulo, seja como tese ou antítese. Para o sofista, a verdade é tudo aquilo que é falado, porque o falado é pensado e, logo, é ser. Pensar é a síntese de toda atividade humana e, como não importa mais a physis, mas a eudaimonia e esta é referente ao homem, o pensamento falado é o ápice da felicidade, a qual, por sua vez, realiza-se na comunidade e, portanto, desenvolve e fortalece a democracia. Falar livremente todo o pensado é o gesto político mais importante, porque configura a mais alta expressão da sabedoria, desde que o falar siga as regras do discurso retoricamente perfeito, justamente a matéria que os sofistas melhor dominavam. Os sofistas não eram considerados por Sócrates como filósofos, porque destes só tinham a aparência e não o conteúdo real. Sócrates era o inimigo número um dos sofistas e foram estes os arquitetos de sua acusação e morte. A doutrina socrática A primeira contribuição de Sócrates é, como acima mencionado, o deslocamento da problemática filosófica da pesquisa da natureza para a investigação sobre o homem. Contudo, sua preocupação é muito mais acurada, pois envolve a compreensão da interioridade, elemento novo como pergunta filosófica e também novo como percurso das investigações. O método de Sócrates seria vazio se ele não tivesse, como ponto central de suas investigações, o ser humano. Para dizer melhor, a essência do ser humano, que é sua alma (psykhé). Sócrates é o primeiro pensador a ocupar-se da alma, ou do cuidado da alma, porque a alma seria a essência do ser humano. O método socrático era o da indagação, à qual, aproveitando a resposta oferecida, seguia-se nova pergunta, até chegar-se a um ponto definitivo que era aceito por ter sido totalmente trabalhado ou refutado por ser inaceitavelmente absurdo. A partir daí, passa a questionar todos os seus concidadãos e contemporâneos que com ele cruzam sobre as coisas que ele ignora. Com este modelo de perguntas e respostas, o que vem à tona é o fato de ninguém efetivamente nada saber, porém, todos desconhecem a respectiva ignorância, que não é sobre o tema específico, mas sim sobre a consciência de não saber. Na questão do método, também Sócrates se impõe contra os sofistas, pois não faz uso da retórica como arte argumentativa, vale dizer, de um discurso construído para convencer, mas antes parte de um diálogo, oposição de ideias, dualidade de discursos que, confrontando-se, vão sendo "desenhados", tomando forma pelo próprio conflito de opostos, como que lapidados para o encontro da verdade, a qual deixa a esfera do discurso e retorna para o ambiente do ser. Ao fim, o discurso dialógico é superado e abandonado, restando apenas a verdade alcançada sobre aquilo que se discutiu, que, sendo o limite possível daquele tema, torna-se sua definição universal (lembre-se de que definir é limitar o universo de uma coisa) e também sua essência (aquilo que a coisa é). Com Sócrates, a Filosofia volta a ocupar-se do ser essencial das coisas, esta preocupação havia sido abandonada pelos sofistas. A dialética socrática retoma a preocupação com o homem no âmbito de sua formação e não de seu convencimento. Há uma união entre método e objeto de pesquisa, que é o próprio ser humano. Somente com Sócrates é que a reflexão sobre o ser do homem, a alma, toma importância. É por isto que se fala que seu método é de ordem ética e educativa e somente em segundo plano é lógico e gnosiológico. Argumentos bem construídos e a pesquisa sobre a natureza dão lugar a questões sobre como ocorre a formação humana e seu comportamento consigo mesmo e com os demais. Cuidar da alma é conhecer-se a si mesmo e é o máximo conhecimento que o homem pode alcançar. Enquanto cuida da alma, o homem adquire conhecimento e, via de consequência, virtude. A virtude caminha junto do conhecimento. Virtuoso é o homem que busca o conhecimento, porque assim ele descobre sua efetiva natureza, aquilo para qual ele nasceu propriamente. A virtude socrática é a constante busca do conhecimento, assim, a expressão equivalente de virtude em grego, aretés, assume seu significado mais apropriado, que é "constante atualização para o melhor". A virtude para Sócrates não é algo estático que se tem ou não, mas algo que se constrói e se desenvolve mediante o constante cuidado da alma em conhecer-se a si mesma. Pode-se arriscar classificar Sócrates como o primeiro psicoterapeuta, pois sua atividade filosófica visava justamente ao constante cuidado da alma ou à contínua terapia da alma, a psique terapeutiké, a qual, por sua vez, objetivava a felicidade humana a se realizar sempre no espaço político, por meio da incessante busca do conhecimento. Com base no texto de IBAIXE JR. “Sócrates: o primeiro terapeuta” explique: a) O deslocamento da problemática filosófica e como uma contribuição para o campo da psicologia. b) O sentido de ‘cuidar da alma’ e a sua relação com o espaço político. c) O método socrático. [TEXTO 8: AS ORIGENS DO PENSAMENTO MODERNO E A IDEIA DE MODERNIDADE - DANILO MARCONDES] Conceito de modernidade: ruptura com a tradição, oposição entre o antigo e o novo, valorização do novo, ideal de progresso, ênfase na individualidade, rejeição da autoridade institucional; Duas noções fundamentais estão relacionadas ao moderno: - Ideia de progresso: o que faz com que o novo seja considerado melhor ou mais avançado que o antigo; - Valorização do indivíduo: ou da subjetividade como lugar da certeza e da verdade, e origem dos valores em oposição à tradição, às instituições e à autoridade extrema. Principais causas: grandes transformações nomundo europeu como a descoberta do Novo Mundo (Américas); surgimento de importantes núcleos urbanos em algumas regiões, principalmente em Florença; desenvolvimento da atividade econômica, sobretudo mercantil e industrial. E, também: - Humanismo renascentista; - Reforma Protestante; - Revolução científica. HUMANISMO RENASCENTISTA A principal mudança causada pela Filosofia do Renascimento foi a transição da Teologia para o Humanismo. Com o declínio da Escolástica houve um enfraquecimento do pensamento dogmático, bem como da influência da Igreja sobre a sociedade. O traço mais característico desse período é o humanismo, que chega a ter uma influência determinante no pensamento moderno. Humanismo renascentista: valorização do homem enquanto indivíduo, de sua livre iniciativa e criatividade. Oposição à escolástica medieval. Platão influencia o humanismo renascentista e Aristóteles (associado à filosofia teológica da escolástica) entra em declínio. A Escolástica foi um período da Filosofia Medieval em que a filosofia aristotélica e a junção entre fé e razão ganharam centralidade para explicar os elementos teológicos. O Humanismo visava valorizar o homem acima de tudo, contemplando os atributos e realizações humanas. Com o distanciamento das questões religiosas, nesse período foi possível realizar novas formas de estudo acerca da arte, ciência e política. Esse contexto rejeita a ideia do homem como um ser inferior e pecador e valoriza a liberdade humana, vê o homem como centro da Criação, e lhe atribui uma dignidade natural, inerente à sua própria natureza enquanto ser humano. Surge maior interesse pela retórica, pela gramática e pela dialética - arte de argumentar em público e discutir política. Na política, preocuparam-se em preservar a independência e liberdade de pensamento. Individualismo O individualismo foi uma das principais características do humanismo renascentista, uma vez que trouxe à tona questões relacionadas com a individualidade do ser humano, bem como de suas emoções. Dessa forma, o ser humano é colocado no centro do mundo e, a partir daí, é destacada sua importância como agente de mudanças dotado de inteligência. Afastando dos valores medievais apoiados na religião, o homem humanista é individualista e está pronto para fazer suas escolhas no mundo com o seu livre-arbítrio, tornando-se um ser humano crítico. "[...] representa o humanista enquanto individualista: o homem culto, sensível e equilibrado que lança o olhar crítico sobre o mundo que o cerca e reflete sobre ele de forma pessoal, apresentando seus pensamentos como fruto de uma experiência, sem nenhuma pretensão sistemática ou teórica [...]" REFORMA PROTESTANTE Crítica à autoridade institucional da Igreja, valorização da interpretação da mensagem divina nas Escrituras pelo indivíduo, ênfase na fé como experiência individual. A ruptura provocada pela Reforma é um dos fatores propulsores da modernidade. A defesa da ideia de que a é suficiente para que o indivíduo compreenda a mensagem divina de seus textos sagrados, sem a intermediação de instituições, representa a defesa do individualismo contra a autoridade externa, contra o saber adquirido, contra as instituições tradicionais. Lutero foi uma das principais figuras nesse contexto: a) a recusa por Lutero da autoridade institucional da Igreja que não é digna de crédito; b) a valorização da consciência individual, como dotada de autonomia e de uma autoridade que toma o lugar da Igreja e da tradição, por ser mais autêntica. Do ponto de vista filosófico, a Reforma aparece neste momento como representante da defesa da liberdade individual e da consciência como lugar da certeza, sendo o indivíduo capaz, por si só, de chegar à verdade (em questões religiosas) e contestar a autoridade institucional e o saber tradicional - contexto marcado por um espírito crítico que será fundamental no desenvolvimento do pensamento moderno com Descartes. REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Representa um dos fatores de ruptura mais marcantes no início da modernidade, uma vez que ia contra uma teoria estabelecida há vinte séculos, constitutiva da própria maneira pela qual o homem antigo e medieval via a si mesmo e o mundo a que pertencia. A revolução científica moderna significou o ponto de partida para a ciência nos moldes que conhecemos hoje. Nicolau Copérnico no século XVI vai defender matematicamente que a Terra gira em torno do Sol, rompendo com o sistema geocêntrico. A ciência moderna defende a ideia de observar e experimentar, ao contrário da visão antiga que partia de princípios estabelecidos e dogmáticos. A nova ciência propõe o modelo, que valoriza a observação e o método experimental, unindo a ciência e a técnica. A ciência moderna surge quando a observação, a experimentação e a verificação de hipóteses tomam-se critérios decisivos, suplantando os argumentos metafísicos. São fundamentalmente duas as grandes transformações que levarão à revolução científica: a demonstração da validade do modelo heliocêntrico, empreendida por Galileu, e a valorização da observação e do método experimental, isto é, uma ciência ativa. A ciência ativa se opõe à ciência contemplativa dos antigos e rompe com a separação entre o saber teórico e saber aplicado, integrando ciência e técnica e fazendo com que problemas práticos no campo da técnica levem a desenvolvimentos científicos, bem como com que hipóteses teóricas sejam testadas na prática, a partir de sua aplicação na técnica. A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, e acaba concentrando sua atenção na natureza do universo, na ciência da natureza. O humanismo renascentista havia colocado o homem como centro de suas preocupações éticas, estéticas e políticas. A Reforma Protestante valorizara o individualismo e o espírito crítico, bem como a discussão de questões éticas e religiosas. A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, com suas hipóteses ousadas e inovadoras; porém, ao tirar o homem do centro do universo e ao trazer para o primeiro plano a ciência da natureza, se afasta do tema central do Humanismo e da Reforma, sofrendo em muitos casos a condenação tanto de protestantes quanto de católicos. As novas teorias dissociam radicalmente a natureza do universo da natureza humana e o homem deixa de ser o microcosmo que reflete em si a grandeza e a harmonia do macrocosmo. REDESCOBERTA DO CETICISMO A oposição entre o antigo e o moderno suscita a problemática cética do conflito de teorias e da ausência de critério conclusivo para a decisão sobre a validade dessas teorias. O ceticismo trata-se de uma corrente filosófica que releva questões sobre ocorrências, opiniões, pensamentos e crenças convencionadas pelo senso comum como verdades. Portanto, essa corrente defende que o indivíduo não pode chegar a nenhuma certeza. Com base no texto de MARCONDES “Origens do pensamento moderno e a ideia de modernidade”, responda: a) Explique como se estabelece a identidade do período moderno e como se configura o conceito de modernidade. b) Explique o individualismo relacionado ao humanismo renascentista e à Reforma Protestante c) Qual o impacto da descoberta do novo mundo sobre a visão de mundo europeia? (https://revistaoutramargem.files.wordpress.com/2017/03/3-v5-danilo-marcondes-ceticismo- e-novo-mundo.pdf) EXERCÍCIOS EXTRAS DO TEXTO (respostas da internet) 1) Quais as principais características da modernidade? A etimologia de moderno parece ser o advérbio latino "modo", que significa "agora mesmo", "neste instante", "no momento", portanto designando o que nos é contemporâneo, e é este o sentido que moderno capta, opondo-se ao que é anterior, e traçando, por assim dizer uma linha de divisão entre os dois períodos. O conceito de modernidade está sempre relacionado para nós ao "novo" àquilo que rompe com a tradição. Trata-se, portanto, de um conceito associado quase sempre a um sentido positivo de mudança, transformação e progresso. Grandes transformaçõesno mundo europeu dos sécs. XV-XVI como a descoberta do novo mundo (Américas); surgimento de importantes núcleos urbanos em algumas regiões, principalmente na Itália (Florença); desenvolvimento de atividade econômica, sobretudo mercantil e industrial. 2) Por que a ideia de "modernismo" tem frequentemente para nós um sentido positivo? O pensamento moderno talvez seja mais fácil de ser compreendido por nós, pelo fato de estarmos mais próximos dele do que do antigo e do medieval, e por sermos ainda hoje, de certo modo, herdeiros dessa tradição. Por outro lado, às vezes é mais difícil tomarmos consciência e explicitamos as características mais fundamentais daquilo que nos é mais familiar, exatamente porque nos acostumamos a aceitá-lo como tal. Uma noção fundamental está, entretanto, diretamente relacionada à modernidade: a ideia de progresso, que faz com que o novo seja considerado melhor ou mais avançado do que o antigo. 3) O que significa "humanismo"? O humanismo representa o surgimento de uma nova alternativa de pensamento, um estilo e uma nova temática. O humanismo rompe com a visão teocêntrica e com a concepção filosófico-teológica medieval, valorizando o interesse pelo homem considerado em si mesmo. É a valorização do indivíduo, ou da subjetividade, como lugar da certeza e da verdade, e origem dos valores, em oposição à tradição, isto é, ao saber adquirido, às instituições, à autoridade externa. 4) Qual a importância da arte no Renascimento? Trata-se de uma arte voltada para o homem, o homem comum florentino, artesão, artífice, cidadão, e não o senhor feudal medieval ou o alto dignitário da igreja. É nesse momento que são retratadas pela primeira vez as cenas domésticas e os comerciantes burgueses, patronos dos artistas; os palácios e igrejas inspiram-se nas linhas geométricas da arquitetura clássica. Importância das artes plásticas, retomada do ideal clássico Greco-romano em oposição à escolástica medieval, valorização do homem enquanto individuo, de sua livre iniciativa e de sua criatividade. 5) Por que Lutero deu início à Reforma? O marco do início da Reforma protestante é tradicionalmente o episódio em que Lutero prega nas portas da igreja de todos os santos em Wittenberg suas noventa e cinco teses contra os teólogos católicos da universidade e contra o papa Leão X em Roma (1517). No entanto, podemos considerar a reforma de Lutero o ponto culminante de um processo de contestação dos rumos da igreja católica desde os últimos séculos da idade média. A transferência da sede da igreja para Avignon e a influência dos reis franceses sob os papas durante esse período em muito contribuiu para a sua perda da autoridade. O envolvimento dos papas nas questões políticas da época foi também um fator gerador de conflitos. Além disso, o envolvimento político, a necessidade de manter exércitos e de sustentar os estados da igreja _ os territórios governados pelos papas na Itália _ fizeram com que a igreja necessitasse de grandes recursos financeiros, procurando obtê-los através da venda de indulgência e de outros favores a quem se dispusesse a pagá-los. As obras grandiosas patrocinadas pelos papas do renascimento ilustram bem os custos imensos da igreja nessa época, seu fausto e seu caráter muitas vezes mundano. Em tese, crítica à autoridade institucional da igreja, valorização da interpretação da mensagem divina nas escrituras pelo indivíduo, ênfase na fé como experiência individual. 6) Em que sentido a Reforma protestante pode ser considerada parte da modernidade? A Reforma protestante aparece neste momento como representante da defesa da liberdade individual e da consciência como lugar da certeza, sendo o indivíduo capaz pela sua luz natural de chegar à verdade (em questão religiosa) e contestar a autoridade institucional e o saber tradicional, posições que se generalizarão além do campo religioso e serão fundamentais no desenvolvimento do pensamento moderno. 7) Como podemos entender o individualismo em relação ao humanismo renascentista e à Reforma protestante? A partir da pressuposta defesa da idéia de que a fé é suficiente para que o indivíduo compreenda a mensagem divina nos textos sagrados, a assim chamada "regra de fé" _ não necessitando da intermediação da igreja, dos teólogos, da doutrina dos concílios _, representa a verdadeira defesa do individualismo contra a autoridade externa, contra o saber adquirido, contra as instituições tradicionais, todos colocados sob suspeita. O humanismo renascentista havia colocado o homem no centro de suas preocupações éticas, estéticas e políticas. A Reforma protestante valoriza o individualismo e o espírito crítico, bem como a discussão de questões éticas e religiosas. 8) Quais as idéias centrais da revolução científica moderna? Rejeição do modelo geocêntrico de cosmo e sua substituição pelo modelo heliocêntrico, noção de espaço infinito, visão da natureza como possuindo uma "linguagem matemática", ciência ativa X ciência contemplativa antiga. 9) Em que sentido o conceito moderno de ciência difere do antigo? Uma verifica as hipóteses, outra não, é mais contemplativa. Ou, uma é mais qualitativa enquanto outra é qualitativa. 10) Como podemos entender as mudanças na visão de mundo que ocorrem neste período? A revolução científica pode ser considerada uma grande realização do espírito crítico humano, com sua formulação de hipóteses ousadas e inovadoras e com sua busca de alternativas para a explicação científica; porém ao tirar a terra do centro do universo e ao trazer para o primeiro plano a ciência da natureza, se afasta dos temas centrais do humanismo e da reforma, sofrendo em muitos casos a condenação tanto de protestantes quanto de católicos. O homem deixa de ser o microcosmo que reflete em si a grandeza e a harmonia do macrocosmo, as novas teorias dissociando radicalmente a natureza do universo da natureza humana. 11) Em que medida o contexto do início da modernidade é propício à retomada do ceticismo antigo? Os céticos se destacaram na antiguidade pelo questionamento das pretensões dogmáticas ao saber e por apontarem a inexistência de um critério decisivo para resolver disputas e conflitos entre teorias e rivais. É curioso que o ceticismo antigo, tanto em sua vertente pirrônica quanto acadêmica, tenha sido praticamente ignorado no período medieval, e ressurgindo de maneira tão forte no início do pensamento moderno, podendo mesmo ser considerado uma das correntes filosóficas mais importantes e influentes da época, com uma contribuição decisiva para a formação desse pensamento, como demonstrou Richard Popkin. 12) Quais as principais características do ceticismo no início do pensamento moderno? A oposição entre o antigo e o moderno suscita a problemática cética do conflito das teorias e da ausência de critério conclusivo para a validade dessas teorias. [TEXTO 9: PRECONDIÇÕES SOCIOCULTURAIS - SURGIMENTO DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA - FIGUEIREDO; SANTI] A experiência da subjetividade privatizada refere-se ao fato de termos experiências pessoais que sentimos ninguém ter acesso a elas. Por exemplo, quando ficamos pensando por um longo tempo em fazer uma coisa, quase optamos por ela e acabamos fazendo outra, sem que ninguém fique sabendo destes nossos pensamentos, pois toda essa experiência ocorreu em nossa subjetividade. Em diversos momentos sentimos alegrias, tristezas entre outros sentimentos que não comunicamos a outras pessoas. Além de experimentarmos eles de maneira subjetiva, mantemos diversas experiências e pensamentos em nossa privacidade. Segundo os autores, essa experiência da subjetividade privada é um evento muito recente na história da humanidade. Diversos estudiosos, historiadores e antropólogos constataram que o modo como sentimos e entendemos nossas experiências não são os mesmos de tempos atrás, ou seja, não são eternos e nem universais. Nossa autopercepção enquanto sujeitos capazes de decisões, que experimenta sentimentos e emoções privados só se desenvolveu num certo momento da sociedade, por conta de algumas condições.Muitas vezes em que atravessamos crises sociais, ou quando uma tradição cultural ou de costumes é contestada, surge a possibilidade de experimentar e criar novos modos de ser e viver. Nesses momentos, as pessoas precisam fazer decisões por conta própria, buscando em si mesmas encontrar e criar novas referências para suas escolhas. Essa experiência de perda de referências morais e éticas coletivas, como por exemplo uma religião única, a família "tradicional", ou uma lei "universal", faz com que busquemos novas referências. Neste momento se aprimora a experiência da subjetividade privatizada, quando fazemos questões do tipo: quem sou eu? Como estou me sentindo? O que desejo? O que considero justo e adequado? A conseqüência desses contextos é o desenvolvimento da reflexão moral e do sentido da tragédia. Uma tragédia se dá quando um indivíduo se encontra numa situação de conflito entre duas obrigações igualmente fortes, mas incompatíveis. É, também, numa situação como esta que os homens são levados a se questionar acerca de que é certo e do que é errado e a procurar na sua própria consciência uma resposta para essa questão. Hoje nos entendemos como indivíduos autônomos, porém nem sempre foi assim, essa não é uma condição natural ou universal da experiência humana. Essa percepção de autonomia começa a aparecer especialmente entre o final da Idade Média e o início da Modernidade, se aprimorando na Idade Contemporânea. Na maioria das sociedades antigas haviam poucos elementos que possibilitavam se sentirem livres e autônomas, capazes de iniciativas, com sentimentos e desejos próprios, a experiência coletiva muitas vezes prevalecia a individual. Nossa noção de subjetividade privada surge na passagem do Renascimento para a Idade Moderna, constituindo o sujeito moderno. A experiência medieval possibilitava um sentimento de que as pessoas eram parte de uma ordem superior que as amparava e mantinha seus costumes e regras morais. A perda desse sentimento de uma ordem superior gerou uma grande sensação de liberdade, mas também fez com que as pessoas se sentissem perdidas e inseguras, sem saber o que e como escolherem, por conta da ausência de uma referência única. No final do século XVIII, surge um movimento cultural e filosófico chamado Romantismo, que trazia diversas críticas ao Iluminismo e, especialmente, à sua vertente racionalista. A ideia cartesiana de que o homem é essencialmente um ser racional é contrariada com a concepção de que o homem é um ser passional e sensível. Com o Romantismo, a razão passa a ser questionada, evidenciando a potência dos impulsos, dos afetos e das forças da natureza, entendidas como superiores à razão. Reconhecendo a diferença entre os indivíduos, e a liberdade passa a ser então a liberdade de ser diferente. Apesar de todos serem diferentes e únicos, é possível uma comunicação por meio das artes, da religião ou do patriotismo. A CRISE DA SUBJETIVIDADE OU A DECEPÇÃO NECESSÁRIA O Romantismo representou a crise do sujeito moderno, destituindo o "eu" de seu lugar privilegiado de senhor e soberano, constatando que a pessoa é muito mais movida pelas emoções do que pela razão, destacando a individualidade e as diferenças singulares de cada um. Parece que de fato a liberdade individual acabou não sendo vivida como tão boa assim porque de um jeito ou de outro todos parecem se defender contra o desamparo, a solidão e a imensa carga de responsabilidade que implica ser livre, ser singular, ter interesses particulares e ser diferente. E na busca de reduzir os "inconvenientes" da liberdade, das diferenças singulares, etc. que se foi instalando e sendo aceito entre nós ocidentais e modernos um verdadeiro sistema de docilização, de domesticação dos indivíduos, sistema que coloca em risco tanto as idéias liberais como as românticas, embora tente se disfarçar mediante algumas alianças com o Liberalismo e com o próprio Romantismo. Esse sistema que envolve a elaboração e aplicação de técnicas "científicas" de controle social e individual será chamado de Regime Disciplinar ou, mais simplesmente, "Disciplinas" e pode ser encontrado muito facilmente nas práticas de todas as grandes agências sociais, como as escolas, as fábricas, as prisões, os hospitais, os órgãos administrativos do Estado, os meios de comunicação de massa, etc. Embora essas Disciplinas reduzam em muito efetivamente o campo de exercício das subjetividades privatizadas, impondo padrões e controles muito fortes às condutas, à imaginação, aos sentimentos, aos desejos e às emoções individuais, faz parte de seu modo de funcionamento dissimular-se, esconder-se, deixando-nos crer que somos cada vez mais livres, profundos e singulares. E claro, porém, que vai se instalando um certo mal-estar e vão se criando condições para a suspeita dos homens em relação a si mesmos. A subjetividade privatizada entra em crise quando se descobre que a liberdade e a diferença são, em grande medida, ilusões, quando se descobre a presença forte, mas sempre disfarçada, das Disciplinas em todas as esferas da vida, inclusive nas mais íntimas e profundas. A crença de que a fraternidade seria possível, ainda que todos defendessem seus interesses particulares, não sobreviveu por muito tempo. Os interesses particulares levam a conflitos; a liberdade para cada um tratar de seu negócio desencadeou crises, lutas e guerras. Os trabalhadores no século XIX foram aos poucos descobrindo que se defenderiam melhor unidos em sindicatos e partidos do que sozinhos. 0 Estado, a administração pública não ficaram inertes. Para combater os movimentos operários reivindicatórios, para pôr um pouco de ordem na vida social -em que cada um defendia o que era seu sem pensar nas conseqüências para todos e para defender os interesses dos produtores de uma nação contra os das outras, a administração pública cresceu, cresceram o Estado, a burocracia, cresceram as forças armadas. A partir daí, como ficava aquela idéia de liberdade individual? Ainda no século XIX, conjuntamente com as burocracias, cresce a grande indústria baseada na produção padronizada e mecanizada, cresce o consumo de massa para os produtos industriais. Onde ficava, então, aquela idéia de que cada um é único e diferente dos demais? Quando os homens passam pelas experiências de uma subjetividade privatizada e ao mesmo tempo percebem que não são tão livres e tão singulares quanto imaginavam, ficam perplexos. Põem-se a pensar acerca das causas e do significado de tudo que fazem, sentem e pensam sobre eles mesmos. Os tempos estão ficando maduros para uma psicologia científica. Ao lado dessa necessidade que emerge no contexto das existências individuais de se saber o que somos, quem somos, como somos, Por que agimos de uma ou outra maneira, surge para o Estado a necessidade de recorrer a práticas de previsão e controle: como lidar melhor com os sujeitos individuais?; como educá-los de forma mais eficaz, treiná-los, selecioná-los para os diversos trabalhos? Em todas essas questões se expressa o reconhecimento de que existe um sujeito individual e a esperança de que é possível padronizá-lo segundo uma disciplina, normalizá-lo, colocá-lo, enfim, a serviço da ordem social. Surge, desse modo, a demanda por uma psicologia aplicada, principalmente nos campos da educação e do trabalho. Ou seja, o Regime Disciplinar, em si mesmo, exige a produção de um certo tipo de conhecimento psicológico de forma a tornar mais eficazes suas técnicas de controle. Mas também as subjetividades formadas, pelos modelos liberais e românticos, sentindo-se contestadas e problemáticas, são atraídas pelos estudos psicológicos. E assim no final do século XIX estão dadas as condições para a elaboração dos projetos de psicologia como ciência independente e para as tentativas de definição do papel do psicólogo como profissional nas áreas de saúde, educação e trabalho. SÍNTESE: 1) A experiência da subjetividade privatizada, em que nós nos reconhecemos como livres, diferentes, capazes de experimentar sentimentos, ter desejos e pensar independentemente
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