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UNIDADE 1 TEORIA GERAL DO CONTRATO Conceito e gênese Condições de validade Princípios fundamentais do direito contratual Interpretação dos contratos Importância do direito contratual 1. O contrato é a espécie de mais importante de negócio jurídico. Consiste na força motriz das engrenagens socioeconômicas no mundo. 2. Dinamiza a circulação de bens e riqueza em uma sociedade. É instrumento de concretização do direito de propriedade. (A celebração de um contrato permite ao proprietário exercer um dos poderes reais: a disposição) Gênese do direito contratual 1. O contrato nasce no momento que as pessoas passaram a se relacionar e viver em sociedade. (A própria sociedade traz a ideia de contrato). 2. O contrato depende da escala de valores da sociedade e evolui com a sociedade. Devemos quebrar os paradigmas: autonomia privada e solidarização social Igualdade formal e assimetria da informação Despersonalização e sociedade de massa Conceito de contrato 1. O Código Civil não conceituou definiu/conceituou contrato. 2. Para a doutrina clássica o contrato é conceituado como negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação, modificação ou extinção de direito de deveres de conteúdo patrimonial. 3. Para a perspectiva civil-constitucional o contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princípios da função social e da boa fé-objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das próprias vontades. (Pablo Stolze) Para Paulo Nalin, o contrato constitui ““a relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares subjetivos da relação, como também perante terceiros”. IMPORTANTE: Enunciado n. 23 do CJF/STJ, aprovado na I Jornada de Direito Civil: “a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana”. Plano de existência, validade e eficácia dos contratos Por se tratar de espécie de negócio jurídico, o contrato está sujeito às seguintes condições: EXISTÊNCIA: o contrato não surge do nada, exige-se, para que seja considerado como tal, o atendimento de certos requisitos. EX. Ausência de vontade VALIDADE: o fato do contrato existir não significa que ele seja válido, isto é, apto para produzir efeitos. É que, deve atender a determinados pressupostos legais. EX. Capacidade EFICÁCIA: Por fim, o contrato pode existir e ser válido, porém isto não importa em produção imediata de efeitos uma vez que podem estar limitados por elementos acidentais de declaração. EX. Termo ESCADA PONTEANA (Pontes de Miranda): 1. Existência 2. Validade 3. Eficácia Agente capaz Objeto lícito, possível, determinável Respeito a forma prescrita em lei (NULO OU NULIDADE) Declaração de vontade Agente Objeto Forma (INEXISTÊNCIA) Condição Termo Encargo (INEFICÁCIA) Plano da existência DECLARAÇÃO DE VONTADE: é a manifestação do querer humano. Sem querer humano não há contrato. AGENTE: é preciso que existam sujeitos que manifestem esse querer. OBJETO: essa manifestação do querer do agente está relacionada a um objeto (relação obrigacional prestacional) FORMA: por fim a manifestação do querer pelo sujeito com relação ao objeto deve ser exteriorizada por uma forma. Plano da validade (elementos de existência adjetivados) VONTADE LIVRE: se a vontade não for livre haverá vício de consentimento. AGENTE CAPAZ: o agente precisa ter capacidade e legitimidade para manifestar sua vontade sob pena de nulidade do negócio. OBJETO: o objeto deve ser idôneo, isto é, lícito, possível (física e juridicamente) e determinado ou determinável (com elementos que possam caracteriza-lo) FORMA: a forma prescrita ou não defesa em lei. Plano da eficácia 1. CONDIÇÃO: o contrato pode estar atrelado a um evento futuro e incerto que, se ocorrente, poderá dar inicio a produção de efeitos (condição suspensiva) ou fazer cessá-los (condição resolutiva). 2. TERMO: evento futuro e certo, que protrai o começo da produção de efeitos (termo inicial) ou faz cessá-los (termo final). 3. MODO/ENGARGO: determinação acessória acidental de negócios jurídicos gratuitos, que impõe ao beneficiário da liberdade um ônus a ser cumprido. Princípios fundamentais dos contratos São normas finalísticas que tem por objeto nortear a relação contratual. Os princípios que serão abordados são os seguintes: Autonomia privada Função social dos contratos Força obrigatória (pacta sunt servanda) Boa-fé objetiva Relatividade dos efeitos contratuais Autonomia privada (autonomia da vontade) Esse princípio se alicerça na LIBERDADE CONTRATUAL. Essa liberdade abrange o direito de contratar se quiser, com quem quiser e sobre o que quiser, isto é, o direito de contratar ou não contratar, de escolher com quem contratar e de estabelecer o conteúdo do contrato. CUIDADO: A autonomia da vontade está em crise com a crescimento do dirigismo contratual e dos contratos de adesão. Portanto, atualmente a liberdade de contratar é relativa tendo em vista: a) obrigatoriedade de determinados contratos; b) restrição na escolha do contraente e c) limitação do poder de estabelecer o conteúdo do contrato (cláusulas gerais e dirigismo contratual). Função social dos contratos Está prevista no Art. 421 e 2.035, ambos do Código Civil: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato” e “nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos” É importante lembrar que o princípio da função social dos contratos afastou individualismo e a supremacia absoluta da vontade de contratar, restando clara a mitigação do princípio do pacta sunt servanda, dando, assim, equilíbrio às partes contratantes. Ademais, o referido princípio autoriza a intervenção do juiz nos negócios jurídicos, a fim de compatibilizar os interesses dos contratantes ao objeto do contrato, bem como à ordem econômica e social. (apud IMHOF, Cristiano. Código Civil Interpretado - Anotado Artigo por Artigo. Editora Atlas, nota ao artigo 421 - (www.cc2002.com.br) Como o contrato atenderá a função social? Quando atender ao princípio da eticidade e sociabilidade: 1. Respeitar a dignidade humana; 2. Admitir a relativização do princípio da igualdade dos contratantes 3. Consagrar uma cláusula implícita de boa-fé objetiva 4. Respeitar o meio ambiente Portanto, a função social tem por escopo o banimento das cláusulas leoninas. Assim deve ser a nova doutrina contratualista, segundo uma perspectiva civil constitucional" (Pablo Stolze. in Novo Curso de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 61/62). Importante: Enunciado n. 21 da I Jornada de Direito Civil do CJF: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito. Enunciado n. 22 da I Jornada de Direito Civil do CJF: A função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, constitui cláusula geral que reforça o princípio de conservação do contrato, assegurando trocas úteis e justas. Força obrigatória (pacta sunt servanda) Representa a força vinculante dos contratos. Tem fundamento na necessidade de segurança jurídica e intangibilidade dos contratos (irreversibilidade da palavra empenhada). Orlando Gomes já dizia “Essa força obrigatória, atribuída pela lei aos contratos, é a pedra angular da segurança do comércio jurídico” É importante destacar que o pacta sunt servanda não tem caráter absoluto uma vez que o próprio Código Civil o relativiza nos seguintes artigos: art. 157, §2º - revisão contratual em caso de lesão subjetiva; art. 317 – revisão judicial de um contrato; Art. 421 – função social do contrato; Art. 422 – princípio da boa-fé objetiva e art. 478 – resolução do contrato por onerosidade excessiva. Boa-fé objetiva Está previsto no Art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. Exige dos contratantes um padrão de conduta, uma agir com retidão, isto é, com probidade, honestidade e lealdade e de acordo com o Enunciado n. 170 da III Jornada de Direito Civil do CJF: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato. A boa-fé objetiva tem três funções: a) interpretativa e de colmatação; delimitadora de direitos subjetivos e criadora de deveres jurídicos anexos ou satelitários como lealdade e confiança, assistência, informação, confidencialidade ou sigilo etc. É uma norma legal aberta. Com base no princípio ético que acolhe o Enunciado n. 26 da I Jornada de Direito Civil do CJF determina que: A cláusula geral contida no art. 422 do novo Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exigência. Impede o comportamento contraditório. Enunciado n. 362 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: A vedação do comportamento contraditório (venire contra factum proprium) funda-se na proteção da confiança, tal como se extrai dos arts. 187 e 422 do Código Civil. Importante: Conceitos correlatos a boa-fé objetiva VENIRE CONTRA FACTUM PROPIUM: significa vir contra um fato próprio. Não e razoável admitir a consagração de comportamento contraditório na esfera contratual. SUPRESSIO (SUPRESSÃO): Consiste na perda de um direito pela falta de exercício por razoável lapso temporal. Comportamento incompatível com as legitimas expectativas geradas. SURRECTIO: é o oposto da supressio. É o surgimento de um direito decorrente do comportamento das partes. TU QUOQUE: é o agir sorrateiro, isto é, aquele que surpreende uma das partes na relação negocial colocando em desvantagem. EX. Exceção de contrato não cumprindo. Relatividade dos efeitos contratuais Funda-se tal princípio na ideia de que os efeitos do contrato só produz efeitos entre relação as partes, àqueles que manifestaram a sua vontade, vinculando-os ao seu conteúdo sem afetar terceiros nem seu patrimônio. Portanto, um contrato não vincula e nem prejudica terceiros, porque é um instituto de direito pessoal – salvo se o terceiro quiser ou se a lei determinar. CUIDADO COM ALGUMAS EXCEÇÕES: Ex. estipulação em favor de terceiros (arts. 436 a 438 do CC) e Cláusula de vigência na Lei n. 8.245/91 (Lei de Locações) Interpretação dos contratos É importante destacar que toda hermenêutica contratual deve tomar, por norte, a principiologia constitucional e notadamente as limitações dos princípios da função social e da boa-fé objetiva. Neste sentido expõe Enunciado n. 361 da IV Jornada de Direito Civil do CJF: O adimplemento substancial decorre dos princípios gerais contratuais, de modo a fazer preponderar a função social do contrato e o princípio da boa-fé objetiva, balizando a aplicação do art. 475. Importante: Dois princípios devem ser sempre observados na interpretação dos contratos: boa-fé e conservação dos contratos. Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Enunciado n. 167 da III Jornada de Direito Civil do CJF: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse Código e o Código de Defesa do Consumidor, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos. Tanto é verdade que: Enunciado n. 172 da III Jornada de Direito Civil do CJF: As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo. Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns, como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002.
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