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APG S13P1 - CUIDADOS VERTICAIS

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Objetivo 
I. Listar as principais doenças que são transmitidas 
verticalmente 
II. Compreender os critérios de classificação do 
pré-natal de alto risco 
III. Entender a fisiopatologia do contagio 
transplacentário 
IV. Discorrer as condutas terapêuticas e manejo da 
gravidez de alto risco 
V. Elucidar as consequências do uso de álcool e 
drogas durante a gravidez e seu manejo 
 
Doenças de transmissão vertical 
A transmissão vertical é a passagem de uma infecção ou 
doença da mãe para o bebê. Nesse sentido, este contágio 
pode acontecer das seguintes maneiras: 
1. Durante a gestação (intra uterina); 
2. No trabalho de parto (pelo contato com as secreções 
cérvico-vaginais e sangue materno); 
3. Através da amamentação. 
A contaminação do feto ou do recém-nascido pela mãe 
pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários, 
autoanticorpos, drogas, medicamentos e hormônios capazes 
de atravessar as barreiras placentária, do sangue e/ou do 
leite materno. 
Rubéola 
Também pertencente ao grupo de infecções presentes no 
acrônimo T.O.R.C.H, a Rubéola é causada pelo Vírus da 
Rubéola e é considerada como uma variante do Sarampo e 
da Escarlatina. No que diz respeito à sua fisiopatologia, 
reitera-se que o Vírus possui a habilidade de inibir o 
crescimento e a maturação celular, apresentando efeitos 
diretos sobre o feto em todos os seus sistemas que se 
encontram em formação. Ademais, é importante pontuar que 
tal agente etiológico possui tropismo, ou seja, afinidade, pelos 
tecidos neurais, o que justifica possíveis achados 
neurológicos que se associam à Síndrome da Rubéola 
Congênita. 
 
Assim como na primeira infecção do grupo T.O.R.C.H, o risco 
para o feto irá depender da idade gestacional em que a mãe 
foi acometida pelo Vírus da Rubéola, de modo que, quanto 
mais recente for a gestação, maior será o dano gerado pela 
doença. Caso a infecção ocorra entre os dois primeiros 
meses, pode-se ter como consequência o abortamento por 
exemplo, uma vez que a taxa de transmissão nesse momento 
varia de 40% a 90%. No terceiro mês, por sua vez, essa taxa 
terá redução para 30% a 35%, enquanto no quarto mês esse 
risco cai para menos de 10%. 
Para casos em que a transmissão ocorre e é instalada a 
Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), as anomalias que 
podem cursar estão relacionadas com alterações cardíacas 
como: ducto arterioso persistente, defeitos do septo interatrial 
ou interventricular, estenose da artéria pulmonar. Além 
destas, Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR), microcefalia, 
microftalmia etc. 
Toxoplasmose 
Sendo considerada como uma das infecções congênitas que 
faz parte do grupo T.O.R.C.H, a toxoplasmose é considerada 
uma zoonose que possui grande variação quando se diz 
respeito à epidemiologia, com sua prevalência se 
destacando, principalmente, nos países tropicais. Ainda, é 
importante pontuar que essa patologia possui três estágios 
evolutivos, os quais são denominados: taquizoíto (forma 
infectante que possui alta taxa de multiplicação, 
relacionando-se com a fase aguda da 
doença), bradizoíto (possui o cisto tecidual como 
característica importante e apresenta baixa taxa de 
multiplicação, fator que se relaciona com a fase latente da 
doença) e esporozoíto (estando intimamente ligado com 
sua eliminação através das fezes dos felinos, as quais são 
infectantes). 
 
Quanto menor for a idade gestacional, ou seja, quanto mais 
prévio for esse contato, a chance desse feto adquirir a 
doença será menor. Entretanto, caso isso ocorra, o risco para 
o feto será maior, uma vez que a gravidade do quadro se 
relaciona inversamente com a idade gestacional. Sendo 
assim, quanto maior a idade gestacional, apesar de maior 
chance do feto adquirir a doença, menor será o seu risco, 
uma vez que, nesse caso, a gravidade do quadro será menor. 
 
↓ IG ↓ chance do feto adquirir ↑ gravidade 
↑ IG ↑ chance do feto adquirir ↓ gravidade 
 
Dentre as principais manifestações fetais destaca-se: 
ascite, hepatoesplenomegalia, hidrocefalia ou microcefalia, 
calcificações intracranianas, coriorretinite e retardo no 
desenvolvimento neuropsicomotor, de modo que as quatro 
últimas alterações constituem a chamada Tétrade de Sabin. 
 
Vertical 
cuidado 
Herpes genital 
A última infecção presente no acrônimo T.O.R.C.H é a Herpes 
Simples, a qual possui como agente etiológico um vírus de 
DNA denominado Vírus da Herpes Simples (HSV), da 
família Herpesviridae. Essa patologia possui um índice baixo 
de ocorrências, podendo ter sua transmissão com valores 
próximos a 1%, porém destaca-se que é uma infecção com 
alta mortalidade e por isso merece uma atenção especial. 
Assim como as demais, ocorre através do contato com 
secreções, sendo as possibilidades: transmissão oral, genital, 
conjuntival ou por solução de continuidade na pele, ou seja, 
quando a secreção entra em contato com alguma ferida 
aberta na pele. Dentre as ocorrências de transmissão vertical, 
destaca-se: a infecção intrauterina (rara), sendo aquela que 
ocorre quando há viremia materna, isto é, em casos de 
infecção aguda, ou através da reativação de uma infecção 
latente durante a gestação ou através da infecção 
ascendente do trato genital e a perinatal (85% dos casos): 
ocorre durante o parto vaginal quando o bebê passa pelo 
trato genital materno com infecção aguda. 
No caso da infecção intrauterina ou congênita, aponta-se 
que é caracterizada por um quadro grave que pode cursar 
com hidropsia fetal (acúmulo anormal de líquido em tecidos 
fetais, com consequente edema ou derrames cavitários) e 
morte, além de lesões de pele (vesículas, úlceras ou 
cicatrizes), lesões oculares e até mesmo lesões neurológicas. 
Já no caso da infecção perinatal, suas manifestações clínicas 
irão se dividir em: doença localizada em pele, olhos e 
boca, doença localizada no SNC e doença disseminada, as 
quais variam em gravidade do quadro e achados clínicos. 
HIV 
A TV do HIV pode ocorrer em três períodos: intrauterino, no 
nascimento (intraparto) ou durante a amamentação (pós-
parto). O HIV pode ser transmitido dentro do útero pelo 
transporte celular transplacentário, por meio de uma 
infecção progressiva dos trofoblastos da placenta até que o 
vírus atinja a circulação fetal, ou devido a rupturas na barreira 
placentária seguidas de microtransfusões da mãe para o 
feto. A transmissão durante o parto ocorre pelo contato do 
bebê com as secreções infectadas da mãe ao passar pelo 
canal vaginal, por meio de uma infecção ascendente da 
vagina para as membranas fetais e para o líquido amniótico 
ou por meio da absorção no aparelho digestivo do RN. No 
período após o parto, a principal forma de transmissão é a 
amamentação. Em crianças não-amamentadas, a 
transmissão intra-útero tardia e no período intraparto 
parecem ser os momentos de maior risco para TV. Cerca de 
65% das infecções ocorrem no período periparto, e 95% 
ocorrem até 2 meses antes do nascimento. 
 
Sífilis 
A transmissão da sífilis ao concepto pode ocorrer em 
qualquer fase da doença, no entanto, quanto mais recente a 
infecção, maior será a concentração de bactérias 
circulantes e, portanto, mais gravemente o feto será atingido. 
Inversamente, a infecção antiga leva à formação 
progressiva de anticorpos pela mãe, o que atenuará a 
infecção no concepto, produzindo lesões mais tardias na 
criança. A transmissão vertical ocorre principalmente por via 
transplacentária. O Treponema provoca uma placentite, 
tornando a placenta grande, pálida e grosseira, 
manifestando –em análise microscópica- vilosite, vasculite e 
imaturidade relativa do vilo. Esse mecanismo de transmissão 
faz com que o concepto inicie a doença na fase secundária. 
Hepatite B 
A Transmissão do vírus da Hepatite B (VHB) da mãe portadora 
para o filho ocorre principalmente no momento do parto. A 
transmissão na gestação é rara. A infecção materna não 
apresenta risco aumentado para a gestação. O risco de 
transmissão de infecção do VHB da mãe para o recém 
nascido (RN) está relacionado com o estado de replicaçãodo vírus na mãe: mães com AgHBs e AgHBe reagentes tem 
maior risco de transmissão do VHB, variando de 70 a 90%. A 
infecção aguda pelo VHB nos neonatos é assintomática. 
Cerca de 90% dos RN infectados evoluem para doença 
crônica e cerca de 25% deles desenvolverão formas graves 
(cirrose ou hepatocarcinoma). Mesmo quando não 
infectadas no período perinatal, as crianças com mães HBsAg 
reagente permanecem sob alto risco de adquirir a infecção 
por transmissão horizontal. 
 
Pré-natal de alto risco 
Um pré-natal de alto risco se refere ao acompanhamento 
que será feito com uma gestante que tem uma doença 
prévia ou durante a sua gravidez, que sugere que essa seja 
uma gravidez de risco. Assim, basicamente se enquadram 
em pré-natal de risco três condições: as mulheres com 
doenças crônicas prévias à gestação, aquelas que tiveram 
uma gestação anterior de alto risco e aquelas que 
identificam, no curso da gravidez, uma condição ou doença 
que vai oferecer risco para ela e a para o bebê. 
 
Existem vários tipos de fatores geradores de risco gestacional. 
Alguns desses fatores podem estar presentes ainda antes da 
ocorrência da gravidez. Sua identificação nas mulheres em 
idade fértil na comunidade permite orientações às que estão 
vulneráveis no que concerne ao planejamento familiar e 
aconselhamento pré-concepcional. Assim, é importante que 
as mulheres em idade reprodutiva, especialmente aquelas 
em situações de vulnerabilidade, tenham acesso aos serviços 
de saúde e oportunidade de estar bem informadas e na 
melhor condição física possível antes de engravidar. Como 
exemplo podemos citar uma mulher diabética, que deve 
estar bem controlada antes de engravidar. 
 
Os fatores de risco gestacional podem ser prontamente 
identificados no decorrer da assistência pré-natal desde que 
os profissionais de saúde estejam atentos a todas as etapas 
da anamnese, exame físico geral e exame gineco-obstétrico 
e podem ainda ser identificados por ocasião da visita 
domiciliar, razão pela qual é importante a coesão da equipe. 
Na maioria dos casos a presença de um ou mais desses 
fatores não significa a necessidade imediata de recursos 
propedêuticos com tecnologia mais avançada do que os 
comumente oferecidos na assistência pré-natal de baixo 
risco, embora indiquem uma maior atenção da equipe de 
saúde a essas gestantes. Pode significar apenas uma 
frequência maior de consultas e visitas domiciliares, sendo o 
intervalo definido de acordo com o fator de risco identificado 
e a condição da gestante no momento. Além disso, atenta-
se para uma necessidade maior de ações educativas 
dirigidas aos problemas específicos detectados nas 
gestantes. Em muitos casos, intervenções junto à família e à 
comunidade podem gerar impactos positivos. No decorrer do 
acompanhamento das gestantes consideradas de baixo 
risco, deve-se atentar para o aparecimento de algum desses 
fatores no curso da gestação. Os marcadores e fatores de 
risco gestacionais presentes anteriormente à gestação se 
dividem em: 
 
Características individuais e condições sociodemográficas 
desfavoráveis: 
- Idade maior que 35 anos; 
- Idade menor que 15 anos ou menarca há menos de 2 anos*; 
- Altura menor que 1,45m; 
- Peso pré-gestacional menor que 45kg e maior que 75kg 
(IMC<19 e IMC>30); 
- Anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos; 
- Situação conjugal insegura; 
- Conflitos familiares; 
- Baixa escolaridade; 
- Condições ambientais desfavoráveis; 
- Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; 
- Hábitos de vida 
– fumo e álcool; 
- Exposição a riscos ocupacionais: esforço físico, carga 
horária, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, 
químicos e biológicos nocivos, estresse. 
 
História reprodutiva anterior: 
- Abortamento habitual; 
- Morte perinatal explicada e inexplicada; 
- História de recém-nascido com crescimento restrito ou 
malformado; 
- Parto pré-termo anterior; 
- Esterilidade/infertilidade; 
- Intervalo interpartal menor que dois anos ou maior que 
cinco anos; 
- Nuliparidade e grande multiparidade; 
- Síndrome hemorrágica ou hipertensiva; 
- Diabetes gestacional; 
- Cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas 
anteriores). 
 
Condições clínicas preexistentes: 
- Hipertensão arterial; 
- Cardiopatias; 
- Pneumopatias; 
- Nefropatias; 
- Endocrinopatias (principalmente diabetes e tireoidopatias); 
- Hemopatias; 
- Epilepsia; 
- Doenças infecciosas (considerar a situação epidemiológica 
local); 
- Doenças autoimunes; 
- Ginecopatias; 
- Neoplasias. 
 
Os outros grupos de fatores de risco referem-se a condições 
ou complicações que podem surgir no decorrer da gestação 
transformando-a em uma gestação de alto risco: 
Exposição indevida ou acidental a fatores teratogênicos. 
Doença obstétrica na gravidez atual: 
- Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e 
volume de líquido amniótico; 
- Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada; 
- Ganho ponderal inadequado; 
- Pré-eclâmpsia e eclâmpsia; 
- Diabetes gestacional; 
- Amniorrexe prematura; 
- Hemorragias da gestação; 
- Insuficiência istmo-cervical; 
- Aloimunização; 
- Óbito fetal. 
Intercorrências clínicas: 
- Doenças infectocontagiosas vividas durante a presente 
gestação (ITU, doenças do trato respiratório, rubéola, 
toxoplasmose etc.); 
- Doenças clínicas diagnosticadas pela primeira vez nessa 
gestação (cardiopatias, endocrinopatias). 
 
Contágio transplacentário 
A transmissão de uma infecção da mãe para o filho pode 
dar-se no útero (congênita); durante o parto, um pouco antes 
(perinatal) ou após o nascimento como, por exemplo, a 
transmissão de microorganismos pelo leite materno. As 
infecções maternas se transmitem ao embrião e ao feto por: 
• Infecção ascendente da parte superior da vagina 
através do colo do útero ao líquido amniótico 
• Via hematogênica como consequência de uma viremia, 
bacteremia ou parasitemia materna. 
Quando as infecções são transmitidas pela via ascendente, 
os microorganismos frequentemente podem causar 
infecção do cordão umbilical e alterações de tipo 
inflamatório no âmnio e cório (corioamnionite) e provocar a 
ruptura prematura de membranas e um parto prematuro. 
Também pode causar pneumonia fetal devido à entrada de 
líquido amniótico nos pulmões do feto. Nas infecções 
transmitidas por via hematogênica, principalmente as 
infecções por vírus, a placenta é afetada com 
comprometimento da decídua e das vilosidades coriônicas. 
As infecções durante a gravidez são uma das causas mais 
importantes de morbimortalidade fetal e neonatal. 
 
Embora as anomalias congênitas sejam raras, as infecções 
contraídas no útero podem causar a morte do embrião ou 
feto. Algumas infecções são assintomáticas no momento do 
nascimento, mas apresentam manifestações clínicas 
tardias e podem ser evidentes anos depois, no entanto a 
maioria se manifesta na primeira infância. O feto pode ser 
afetado, não somente pela transmissão direta do agente, 
mas também indiretamente pelas consequências da 
infecção materna, como por exemplo, parto prematuro ou 
retardo do crescimento intra-uterino (RCIU). A transmissão 
da infecção durante a gestação varia dependendo do 
agente infeccioso, da idade gestacional no momento da 
transmissão e do estado imunitário da mãe. 
 
De maneira geral, as infecções primárias durante a gestação 
são muito mais prejudiciais que as reinfecções ou as 
reativações de uma infecção. Da mesma forma, as 
infecções tendem a ter sequelas mais graves quanto mais 
precoce for o momento da infecção – quanto menor for a 
idade gestacional, maior o risco. 
 
O risco de comprometimento fetal depende: 
• Agente etiológico envolvido 
• Via de transmissão 
• Fase de gestação em que ocorre a doença materna 
• Infecção materna é primaria ou reativação 
• Concomitância de agentes etiológicos 
 
65 - 100% das infecções são ASSINTOMÁTICAS no período 
neonatal. 
 
Condutas e manejo 
O intuito da assistência pré-natal de alto risco é interferir no 
curso de uma gestação que possui maior chancede ter um 
resultado desfavorável, de maneira a diminuir o risco ao qual 
estão expostos a gestante e o feto, ou reduzir suas possíveis 
consequências adversas. A equipe de saúde deve estar 
preparada para enfrentar quaisquer fatores que possam 
afetar adversamente a gravidez, sejam eles clínicos, 
obstétricos, ou de cunho socioeconômico ou emocional. Para 
tanto, a gestante deverá ser sempre informada do 
andamento de sua gestação e instruída quanto aos 
comportamentos e atitudes que deve tomar para melhorar 
sua saúde, assim como sua família, companheiro(a) e 
pessoas de convivência próxima, que devem ser preparados 
para prover um suporte adequado a esta gestante. A equipe 
de saúde que irá realizar o seguimento das gestações de alto 
risco deve levar em consideração continuamente: 
a) Avaliação clínica: uma avaliação clínica completa e bem 
realizada permite o adequado estabelecimento das 
condições clínicas e a correta valorização de agravos 
que possam estar presentes desde o início do 
acompanhamento, por meio de uma história clínica 
detalha da e avaliação de parâmetros clínicos e 
laboratoriais. 
b) Avaliação obstétrica: inicia-se com o estabelecimento da 
idade gestacional de maneira mais acurada possível e 
o correto acompanhamento da evolução da gravidez, 
mediante análise e adequada interpretação dos 
parâmetros obstétricos (ganho ponderal, pressão 
arterial e crescimento uterino). A avaliação do 
crescimento e as condições de vitalidade e maturidade 
do feto são fundamentais. 
c) Repercussões mútuas entre as condições clínicas da gestante 
e a gravidez: é de suma importância o conhecimento das 
repercussões da gravidez sobre as condições clínicas 
da gestante e para isso é fundamental um amplo 
conhecimento sobre a fisiologia da gravidez. 
Desconhecendo as adaptações pelas quais passa o 
organismo materno e, como consequência, o seu 
funcionamento, não há como avaliar as repercussões 
sobre as gestantes, principalmente na vigência de 
algum agravo. Por outro lado, se não se conhecem os 
mecanismos fisiopatológicos das doenças, como 
integrá-los ao organismo da grávida? Portanto, o 
conhecimento de clínica médica é outro requisito 
básico de quem se dispõe a atender gestantes de alto 
risco, sendo também importante o suporte de 
profissionais de outras especialidades. 
d) Parto: a determinação da via de parto e o momento 
ideal para este evento nas gestações de alto risco talvez 
represente ainda hoje o maior dilema vivido pelo 
obstetra. A decisão deve ser tomada de acordo com 
cada caso e é fundamental o esclarecimento da 
gestante e sua família, com informações completas e 
de uma maneira que lhes seja compreensível 
culturalmente, quanto às opções presentes e os riscos a 
elas inerentes, sendo que deve ser garantida a sua 
participação no processo decisório. Cabe salientar, 
todavia, que gravidez de risco não é sinônimo de 
cesariana. Em muitas situações é possível a indução do 
parto visando o seu término por via vaginal, ou mesmo 
aguardar o seu início espontâneo. A indicação da via de 
parto deve ser feita pelo profissional que for assistir ao 
parto. É importante que profissionais que atendem a 
mulher durante a gestação não determinem qual 
deverá ser a via de parto, que depende não só da 
história preexistente, como também da situação da 
mulher na admissão à unidade que conduzirá o parto. 
e) Aspectos emocionais e psicossociais: é evidente que para o 
fornecimento do melhor acompanhamento da 
gestante de alto risco, há necessidade de equipe 
multidisciplinar, constituída por especialistas de outras 
áreas, tais como Enfermagem, Psicologia, Nutrição e 
Serviço Social, em trabalho articulado e planejado. 
Álcool e drogas 
O uso de álcool e drogas por mulheres grávidas pode resultar 
em significativa morbidade e mortalidade materna, fetal e 
neonatal. Em geral, as mulheres grávidas drogaditas são 
menos propensas a procurar cuidado pré-natal e têm taxas 
mais elevadas de HIV, hepatite e outras infecções 
sexualmente transmissíveis.4,5 A pesquisa para o uso de 
drogas deve fazer parte do cuidado obstétrico.6 A estratégia 
pesquisar, rápida intervenção e encaminhamento para 
tratamento é a abordagem ideal7. 
Os principais CID 10 são: F14(transtornos devidos ao uso da 
cocaína, F19(transtornos devidos ao uso de múltiplas drogas 
e outras substâncias psicoativas), T40.0(ópio), Z71.5 
(aconselhamento e supervisão para abuso de drogas). 
Canabis: o princípio ativo da maconha é o delta-9-
tetrahidrocanabinol, substância que atravessa com 
facilidade a barreira placentária. A utilização de canabis pelas 
mães leva a uma redução significativa, tanto no início como 
na duração da amamentação. Em relação aos resultados do 
uso da maconha sobre o feto, há dificuldade para sua 
identificação precisa, pois há uma alta prevalência de 
pacientes que a usam concomitantemente a outras drogas, 
incluindo álcool e cigarro. Foi verificado o aumento do risco 
de diversas malformações em mulheres que fizeram uso de 
maconha durante o pré-natal. Entretanto esta foi uma 
casuística pequena e houve o uso concomitante frequente 
de cocaína e metanfetamina. Outros autores não relatam 
aumento das malformações em fetos expostos a canabis8. O 
resultado mais comum ligado à exposição à canabis no útero 
é a diminuição do peso ao nascer. Em relação aos efeitos 
tardios para as crianças, foram relatados transtornos 
cognitivos e emocionais. 
Cocaína: a cocaína se consome mais frequentemente em 
sua forma solúvel (cloridrato de cocaína) ou em sua forma 
alcaloide, que em seu estado sólido, é conhecido como crack. 
O consumo conjunto de cocaína e álcool dão lugar a um 
metabólito, o cocaetileno. Este prolonga a sensação de 
euforia, produz maior depressão miocárdica e aumenta a 
vida média em 2,5 vezes em relação ao uso somente da 
cocaína. O uso de cocaína na gravidez está associado a 
convulsões, ruptura prematura das membranas e 
descolamento prematuro da placenta. Pode levar ainda a 
pré-eclâmpsia grave, aborto espontâneo, parto prematuro e 
complicações no parto. Estas gestantes devem receber 
cuidados médicos e psicológicos adequados, incluindo o 
tratamento de dependência, para reduzir esses riscos. Os 
fetos expostos ao uso da cocaína durante a gravidez são 
frequentemente prematuros, têm baixo peso ao nascer, 
circunferência cefálica menor e menor estatura quando 
comparados a recém-nascidos não expostos. 
Estimulantes: as anfetaminas causam euforia, aumento de 
energia e supressão do apetite. No entanto, a exposição a 
anfetamina durante os períodos do pós-parto precoce e 
tardio interrompem a interação mãe-bebê e encurta a 
duração da amamentação. 
“Ecstasy” (MDMA): o que habitualmente se conhece com o 
nome de “ecstasy” é um derivado da molécula de 
anfetamina1. A exposição à metanfetamina durante a 
gravidez foi associada à morbidade e mortalidade materna 
e neonatal: aumento de duas a quatro vezes no risco de 
restrição do crescimento fetal, pré-eclâmpsia, descolamento 
prematuro da placenta, parto prematuro, morte fetal, morte 
neonatal e morte infantil. 
Opiáceos (Heroína): os tipos de opiáceos mais importantes 
são: morfina, codeína, meperidina, metadona, heroína e 
oxicodona. O uso de opióides na gravidez aumentou 
drasticamente nos últimos anos, em paralelo com a epidemia 
observada na população em geral, levando a um aumento 
da mortalidade materna. Os opiáceos, como a heroína, 
raramente causam anomalias congênitas, mas como 
atravessam a barreira placentária podem levar à síndrome 
da abstinência fetal, cujos sintomas são: irritabilidade, choro 
excessivo, nervosismo, vômitos e diarreia. Há uma maior 
incidência de parto prematuro em usuárias de opióides, 
principalmente quando associado ao uso concomitante de 
tabaco.27,28 Para mulheres grávidas usuárias de opiáceos, a 
farmacoterapia com agonistas opióides é a terapia 
recomendada.29,30 
Conclusões e recomendações: o uso de drogas ilícitas 
ocorre em 5-8 % das gestantes. Todas as gestantes devem 
ser inquiridas douso do álcool, tabaco e de drogas ilícitas 
e/ou com prescrição. A maconha é a droga mais utilizada, 
seguida da cocaína. O abuso de substâncias na gravidez 
pode levar a uma série de efeitos deletérios sobre a interação 
mãe-bebê. Tais efeitos variam com base na droga, época de 
exposição e extensão de uso. A conscientização das mulheres 
das graves consequências do abuso de substâncias no 
período periconcepcional, na gestação e pós-parto deve 
fazer parte da assistência primária à saúde. 
 
Referencias 
Gestação de alto risco: manual técnico/ Ministério da Saúde, 
Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações 
Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do 
Ministério da Saúde, 2010. 302 p. – (Série A. Normas e Manuais 
Técnicos). 
 
Fundação March of Dimes. Centro Latinoamericano de 
Perinatologia, Saúde da Mulher y Reprodutiva. Infecções 
perinatais transmitidas de mãe para filho durante a gravidez. 
Montevideo; 2010. 58 p. (CLAP/SMR. Publicação Cientifica, 1567-
3).

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