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Objetivo I. Listar as principais doenças que são transmitidas verticalmente II. Compreender os critérios de classificação do pré-natal de alto risco III. Entender a fisiopatologia do contagio transplacentário IV. Discorrer as condutas terapêuticas e manejo da gravidez de alto risco V. Elucidar as consequências do uso de álcool e drogas durante a gravidez e seu manejo Doenças de transmissão vertical A transmissão vertical é a passagem de uma infecção ou doença da mãe para o bebê. Nesse sentido, este contágio pode acontecer das seguintes maneiras: 1. Durante a gestação (intra uterina); 2. No trabalho de parto (pelo contato com as secreções cérvico-vaginais e sangue materno); 3. Através da amamentação. A contaminação do feto ou do recém-nascido pela mãe pode ser causada por vírus, bactérias, protozoários, autoanticorpos, drogas, medicamentos e hormônios capazes de atravessar as barreiras placentária, do sangue e/ou do leite materno. Rubéola Também pertencente ao grupo de infecções presentes no acrônimo T.O.R.C.H, a Rubéola é causada pelo Vírus da Rubéola e é considerada como uma variante do Sarampo e da Escarlatina. No que diz respeito à sua fisiopatologia, reitera-se que o Vírus possui a habilidade de inibir o crescimento e a maturação celular, apresentando efeitos diretos sobre o feto em todos os seus sistemas que se encontram em formação. Ademais, é importante pontuar que tal agente etiológico possui tropismo, ou seja, afinidade, pelos tecidos neurais, o que justifica possíveis achados neurológicos que se associam à Síndrome da Rubéola Congênita. Assim como na primeira infecção do grupo T.O.R.C.H, o risco para o feto irá depender da idade gestacional em que a mãe foi acometida pelo Vírus da Rubéola, de modo que, quanto mais recente for a gestação, maior será o dano gerado pela doença. Caso a infecção ocorra entre os dois primeiros meses, pode-se ter como consequência o abortamento por exemplo, uma vez que a taxa de transmissão nesse momento varia de 40% a 90%. No terceiro mês, por sua vez, essa taxa terá redução para 30% a 35%, enquanto no quarto mês esse risco cai para menos de 10%. Para casos em que a transmissão ocorre e é instalada a Síndrome da Rubéola Congênita (SRC), as anomalias que podem cursar estão relacionadas com alterações cardíacas como: ducto arterioso persistente, defeitos do septo interatrial ou interventricular, estenose da artéria pulmonar. Além destas, Crescimento Intrauterino Restrito (CIUR), microcefalia, microftalmia etc. Toxoplasmose Sendo considerada como uma das infecções congênitas que faz parte do grupo T.O.R.C.H, a toxoplasmose é considerada uma zoonose que possui grande variação quando se diz respeito à epidemiologia, com sua prevalência se destacando, principalmente, nos países tropicais. Ainda, é importante pontuar que essa patologia possui três estágios evolutivos, os quais são denominados: taquizoíto (forma infectante que possui alta taxa de multiplicação, relacionando-se com a fase aguda da doença), bradizoíto (possui o cisto tecidual como característica importante e apresenta baixa taxa de multiplicação, fator que se relaciona com a fase latente da doença) e esporozoíto (estando intimamente ligado com sua eliminação através das fezes dos felinos, as quais são infectantes). Quanto menor for a idade gestacional, ou seja, quanto mais prévio for esse contato, a chance desse feto adquirir a doença será menor. Entretanto, caso isso ocorra, o risco para o feto será maior, uma vez que a gravidade do quadro se relaciona inversamente com a idade gestacional. Sendo assim, quanto maior a idade gestacional, apesar de maior chance do feto adquirir a doença, menor será o seu risco, uma vez que, nesse caso, a gravidade do quadro será menor. ↓ IG ↓ chance do feto adquirir ↑ gravidade ↑ IG ↑ chance do feto adquirir ↓ gravidade Dentre as principais manifestações fetais destaca-se: ascite, hepatoesplenomegalia, hidrocefalia ou microcefalia, calcificações intracranianas, coriorretinite e retardo no desenvolvimento neuropsicomotor, de modo que as quatro últimas alterações constituem a chamada Tétrade de Sabin. Vertical cuidado Herpes genital A última infecção presente no acrônimo T.O.R.C.H é a Herpes Simples, a qual possui como agente etiológico um vírus de DNA denominado Vírus da Herpes Simples (HSV), da família Herpesviridae. Essa patologia possui um índice baixo de ocorrências, podendo ter sua transmissão com valores próximos a 1%, porém destaca-se que é uma infecção com alta mortalidade e por isso merece uma atenção especial. Assim como as demais, ocorre através do contato com secreções, sendo as possibilidades: transmissão oral, genital, conjuntival ou por solução de continuidade na pele, ou seja, quando a secreção entra em contato com alguma ferida aberta na pele. Dentre as ocorrências de transmissão vertical, destaca-se: a infecção intrauterina (rara), sendo aquela que ocorre quando há viremia materna, isto é, em casos de infecção aguda, ou através da reativação de uma infecção latente durante a gestação ou através da infecção ascendente do trato genital e a perinatal (85% dos casos): ocorre durante o parto vaginal quando o bebê passa pelo trato genital materno com infecção aguda. No caso da infecção intrauterina ou congênita, aponta-se que é caracterizada por um quadro grave que pode cursar com hidropsia fetal (acúmulo anormal de líquido em tecidos fetais, com consequente edema ou derrames cavitários) e morte, além de lesões de pele (vesículas, úlceras ou cicatrizes), lesões oculares e até mesmo lesões neurológicas. Já no caso da infecção perinatal, suas manifestações clínicas irão se dividir em: doença localizada em pele, olhos e boca, doença localizada no SNC e doença disseminada, as quais variam em gravidade do quadro e achados clínicos. HIV A TV do HIV pode ocorrer em três períodos: intrauterino, no nascimento (intraparto) ou durante a amamentação (pós- parto). O HIV pode ser transmitido dentro do útero pelo transporte celular transplacentário, por meio de uma infecção progressiva dos trofoblastos da placenta até que o vírus atinja a circulação fetal, ou devido a rupturas na barreira placentária seguidas de microtransfusões da mãe para o feto. A transmissão durante o parto ocorre pelo contato do bebê com as secreções infectadas da mãe ao passar pelo canal vaginal, por meio de uma infecção ascendente da vagina para as membranas fetais e para o líquido amniótico ou por meio da absorção no aparelho digestivo do RN. No período após o parto, a principal forma de transmissão é a amamentação. Em crianças não-amamentadas, a transmissão intra-útero tardia e no período intraparto parecem ser os momentos de maior risco para TV. Cerca de 65% das infecções ocorrem no período periparto, e 95% ocorrem até 2 meses antes do nascimento. Sífilis A transmissão da sífilis ao concepto pode ocorrer em qualquer fase da doença, no entanto, quanto mais recente a infecção, maior será a concentração de bactérias circulantes e, portanto, mais gravemente o feto será atingido. Inversamente, a infecção antiga leva à formação progressiva de anticorpos pela mãe, o que atenuará a infecção no concepto, produzindo lesões mais tardias na criança. A transmissão vertical ocorre principalmente por via transplacentária. O Treponema provoca uma placentite, tornando a placenta grande, pálida e grosseira, manifestando –em análise microscópica- vilosite, vasculite e imaturidade relativa do vilo. Esse mecanismo de transmissão faz com que o concepto inicie a doença na fase secundária. Hepatite B A Transmissão do vírus da Hepatite B (VHB) da mãe portadora para o filho ocorre principalmente no momento do parto. A transmissão na gestação é rara. A infecção materna não apresenta risco aumentado para a gestação. O risco de transmissão de infecção do VHB da mãe para o recém nascido (RN) está relacionado com o estado de replicaçãodo vírus na mãe: mães com AgHBs e AgHBe reagentes tem maior risco de transmissão do VHB, variando de 70 a 90%. A infecção aguda pelo VHB nos neonatos é assintomática. Cerca de 90% dos RN infectados evoluem para doença crônica e cerca de 25% deles desenvolverão formas graves (cirrose ou hepatocarcinoma). Mesmo quando não infectadas no período perinatal, as crianças com mães HBsAg reagente permanecem sob alto risco de adquirir a infecção por transmissão horizontal. Pré-natal de alto risco Um pré-natal de alto risco se refere ao acompanhamento que será feito com uma gestante que tem uma doença prévia ou durante a sua gravidez, que sugere que essa seja uma gravidez de risco. Assim, basicamente se enquadram em pré-natal de risco três condições: as mulheres com doenças crônicas prévias à gestação, aquelas que tiveram uma gestação anterior de alto risco e aquelas que identificam, no curso da gravidez, uma condição ou doença que vai oferecer risco para ela e a para o bebê. Existem vários tipos de fatores geradores de risco gestacional. Alguns desses fatores podem estar presentes ainda antes da ocorrência da gravidez. Sua identificação nas mulheres em idade fértil na comunidade permite orientações às que estão vulneráveis no que concerne ao planejamento familiar e aconselhamento pré-concepcional. Assim, é importante que as mulheres em idade reprodutiva, especialmente aquelas em situações de vulnerabilidade, tenham acesso aos serviços de saúde e oportunidade de estar bem informadas e na melhor condição física possível antes de engravidar. Como exemplo podemos citar uma mulher diabética, que deve estar bem controlada antes de engravidar. Os fatores de risco gestacional podem ser prontamente identificados no decorrer da assistência pré-natal desde que os profissionais de saúde estejam atentos a todas as etapas da anamnese, exame físico geral e exame gineco-obstétrico e podem ainda ser identificados por ocasião da visita domiciliar, razão pela qual é importante a coesão da equipe. Na maioria dos casos a presença de um ou mais desses fatores não significa a necessidade imediata de recursos propedêuticos com tecnologia mais avançada do que os comumente oferecidos na assistência pré-natal de baixo risco, embora indiquem uma maior atenção da equipe de saúde a essas gestantes. Pode significar apenas uma frequência maior de consultas e visitas domiciliares, sendo o intervalo definido de acordo com o fator de risco identificado e a condição da gestante no momento. Além disso, atenta- se para uma necessidade maior de ações educativas dirigidas aos problemas específicos detectados nas gestantes. Em muitos casos, intervenções junto à família e à comunidade podem gerar impactos positivos. No decorrer do acompanhamento das gestantes consideradas de baixo risco, deve-se atentar para o aparecimento de algum desses fatores no curso da gestação. Os marcadores e fatores de risco gestacionais presentes anteriormente à gestação se dividem em: Características individuais e condições sociodemográficas desfavoráveis: - Idade maior que 35 anos; - Idade menor que 15 anos ou menarca há menos de 2 anos*; - Altura menor que 1,45m; - Peso pré-gestacional menor que 45kg e maior que 75kg (IMC<19 e IMC>30); - Anormalidades estruturais nos órgãos reprodutivos; - Situação conjugal insegura; - Conflitos familiares; - Baixa escolaridade; - Condições ambientais desfavoráveis; - Dependência de drogas lícitas ou ilícitas; - Hábitos de vida – fumo e álcool; - Exposição a riscos ocupacionais: esforço físico, carga horária, rotatividade de horário, exposição a agentes físicos, químicos e biológicos nocivos, estresse. História reprodutiva anterior: - Abortamento habitual; - Morte perinatal explicada e inexplicada; - História de recém-nascido com crescimento restrito ou malformado; - Parto pré-termo anterior; - Esterilidade/infertilidade; - Intervalo interpartal menor que dois anos ou maior que cinco anos; - Nuliparidade e grande multiparidade; - Síndrome hemorrágica ou hipertensiva; - Diabetes gestacional; - Cirurgia uterina anterior (incluindo duas ou mais cesáreas anteriores). Condições clínicas preexistentes: - Hipertensão arterial; - Cardiopatias; - Pneumopatias; - Nefropatias; - Endocrinopatias (principalmente diabetes e tireoidopatias); - Hemopatias; - Epilepsia; - Doenças infecciosas (considerar a situação epidemiológica local); - Doenças autoimunes; - Ginecopatias; - Neoplasias. Os outros grupos de fatores de risco referem-se a condições ou complicações que podem surgir no decorrer da gestação transformando-a em uma gestação de alto risco: Exposição indevida ou acidental a fatores teratogênicos. Doença obstétrica na gravidez atual: - Desvio quanto ao crescimento uterino, número de fetos e volume de líquido amniótico; - Trabalho de parto prematuro e gravidez prolongada; - Ganho ponderal inadequado; - Pré-eclâmpsia e eclâmpsia; - Diabetes gestacional; - Amniorrexe prematura; - Hemorragias da gestação; - Insuficiência istmo-cervical; - Aloimunização; - Óbito fetal. Intercorrências clínicas: - Doenças infectocontagiosas vividas durante a presente gestação (ITU, doenças do trato respiratório, rubéola, toxoplasmose etc.); - Doenças clínicas diagnosticadas pela primeira vez nessa gestação (cardiopatias, endocrinopatias). Contágio transplacentário A transmissão de uma infecção da mãe para o filho pode dar-se no útero (congênita); durante o parto, um pouco antes (perinatal) ou após o nascimento como, por exemplo, a transmissão de microorganismos pelo leite materno. As infecções maternas se transmitem ao embrião e ao feto por: • Infecção ascendente da parte superior da vagina através do colo do útero ao líquido amniótico • Via hematogênica como consequência de uma viremia, bacteremia ou parasitemia materna. Quando as infecções são transmitidas pela via ascendente, os microorganismos frequentemente podem causar infecção do cordão umbilical e alterações de tipo inflamatório no âmnio e cório (corioamnionite) e provocar a ruptura prematura de membranas e um parto prematuro. Também pode causar pneumonia fetal devido à entrada de líquido amniótico nos pulmões do feto. Nas infecções transmitidas por via hematogênica, principalmente as infecções por vírus, a placenta é afetada com comprometimento da decídua e das vilosidades coriônicas. As infecções durante a gravidez são uma das causas mais importantes de morbimortalidade fetal e neonatal. Embora as anomalias congênitas sejam raras, as infecções contraídas no útero podem causar a morte do embrião ou feto. Algumas infecções são assintomáticas no momento do nascimento, mas apresentam manifestações clínicas tardias e podem ser evidentes anos depois, no entanto a maioria se manifesta na primeira infância. O feto pode ser afetado, não somente pela transmissão direta do agente, mas também indiretamente pelas consequências da infecção materna, como por exemplo, parto prematuro ou retardo do crescimento intra-uterino (RCIU). A transmissão da infecção durante a gestação varia dependendo do agente infeccioso, da idade gestacional no momento da transmissão e do estado imunitário da mãe. De maneira geral, as infecções primárias durante a gestação são muito mais prejudiciais que as reinfecções ou as reativações de uma infecção. Da mesma forma, as infecções tendem a ter sequelas mais graves quanto mais precoce for o momento da infecção – quanto menor for a idade gestacional, maior o risco. O risco de comprometimento fetal depende: • Agente etiológico envolvido • Via de transmissão • Fase de gestação em que ocorre a doença materna • Infecção materna é primaria ou reativação • Concomitância de agentes etiológicos 65 - 100% das infecções são ASSINTOMÁTICAS no período neonatal. Condutas e manejo O intuito da assistência pré-natal de alto risco é interferir no curso de uma gestação que possui maior chancede ter um resultado desfavorável, de maneira a diminuir o risco ao qual estão expostos a gestante e o feto, ou reduzir suas possíveis consequências adversas. A equipe de saúde deve estar preparada para enfrentar quaisquer fatores que possam afetar adversamente a gravidez, sejam eles clínicos, obstétricos, ou de cunho socioeconômico ou emocional. Para tanto, a gestante deverá ser sempre informada do andamento de sua gestação e instruída quanto aos comportamentos e atitudes que deve tomar para melhorar sua saúde, assim como sua família, companheiro(a) e pessoas de convivência próxima, que devem ser preparados para prover um suporte adequado a esta gestante. A equipe de saúde que irá realizar o seguimento das gestações de alto risco deve levar em consideração continuamente: a) Avaliação clínica: uma avaliação clínica completa e bem realizada permite o adequado estabelecimento das condições clínicas e a correta valorização de agravos que possam estar presentes desde o início do acompanhamento, por meio de uma história clínica detalha da e avaliação de parâmetros clínicos e laboratoriais. b) Avaliação obstétrica: inicia-se com o estabelecimento da idade gestacional de maneira mais acurada possível e o correto acompanhamento da evolução da gravidez, mediante análise e adequada interpretação dos parâmetros obstétricos (ganho ponderal, pressão arterial e crescimento uterino). A avaliação do crescimento e as condições de vitalidade e maturidade do feto são fundamentais. c) Repercussões mútuas entre as condições clínicas da gestante e a gravidez: é de suma importância o conhecimento das repercussões da gravidez sobre as condições clínicas da gestante e para isso é fundamental um amplo conhecimento sobre a fisiologia da gravidez. Desconhecendo as adaptações pelas quais passa o organismo materno e, como consequência, o seu funcionamento, não há como avaliar as repercussões sobre as gestantes, principalmente na vigência de algum agravo. Por outro lado, se não se conhecem os mecanismos fisiopatológicos das doenças, como integrá-los ao organismo da grávida? Portanto, o conhecimento de clínica médica é outro requisito básico de quem se dispõe a atender gestantes de alto risco, sendo também importante o suporte de profissionais de outras especialidades. d) Parto: a determinação da via de parto e o momento ideal para este evento nas gestações de alto risco talvez represente ainda hoje o maior dilema vivido pelo obstetra. A decisão deve ser tomada de acordo com cada caso e é fundamental o esclarecimento da gestante e sua família, com informações completas e de uma maneira que lhes seja compreensível culturalmente, quanto às opções presentes e os riscos a elas inerentes, sendo que deve ser garantida a sua participação no processo decisório. Cabe salientar, todavia, que gravidez de risco não é sinônimo de cesariana. Em muitas situações é possível a indução do parto visando o seu término por via vaginal, ou mesmo aguardar o seu início espontâneo. A indicação da via de parto deve ser feita pelo profissional que for assistir ao parto. É importante que profissionais que atendem a mulher durante a gestação não determinem qual deverá ser a via de parto, que depende não só da história preexistente, como também da situação da mulher na admissão à unidade que conduzirá o parto. e) Aspectos emocionais e psicossociais: é evidente que para o fornecimento do melhor acompanhamento da gestante de alto risco, há necessidade de equipe multidisciplinar, constituída por especialistas de outras áreas, tais como Enfermagem, Psicologia, Nutrição e Serviço Social, em trabalho articulado e planejado. Álcool e drogas O uso de álcool e drogas por mulheres grávidas pode resultar em significativa morbidade e mortalidade materna, fetal e neonatal. Em geral, as mulheres grávidas drogaditas são menos propensas a procurar cuidado pré-natal e têm taxas mais elevadas de HIV, hepatite e outras infecções sexualmente transmissíveis.4,5 A pesquisa para o uso de drogas deve fazer parte do cuidado obstétrico.6 A estratégia pesquisar, rápida intervenção e encaminhamento para tratamento é a abordagem ideal7. Os principais CID 10 são: F14(transtornos devidos ao uso da cocaína, F19(transtornos devidos ao uso de múltiplas drogas e outras substâncias psicoativas), T40.0(ópio), Z71.5 (aconselhamento e supervisão para abuso de drogas). Canabis: o princípio ativo da maconha é o delta-9- tetrahidrocanabinol, substância que atravessa com facilidade a barreira placentária. A utilização de canabis pelas mães leva a uma redução significativa, tanto no início como na duração da amamentação. Em relação aos resultados do uso da maconha sobre o feto, há dificuldade para sua identificação precisa, pois há uma alta prevalência de pacientes que a usam concomitantemente a outras drogas, incluindo álcool e cigarro. Foi verificado o aumento do risco de diversas malformações em mulheres que fizeram uso de maconha durante o pré-natal. Entretanto esta foi uma casuística pequena e houve o uso concomitante frequente de cocaína e metanfetamina. Outros autores não relatam aumento das malformações em fetos expostos a canabis8. O resultado mais comum ligado à exposição à canabis no útero é a diminuição do peso ao nascer. Em relação aos efeitos tardios para as crianças, foram relatados transtornos cognitivos e emocionais. Cocaína: a cocaína se consome mais frequentemente em sua forma solúvel (cloridrato de cocaína) ou em sua forma alcaloide, que em seu estado sólido, é conhecido como crack. O consumo conjunto de cocaína e álcool dão lugar a um metabólito, o cocaetileno. Este prolonga a sensação de euforia, produz maior depressão miocárdica e aumenta a vida média em 2,5 vezes em relação ao uso somente da cocaína. O uso de cocaína na gravidez está associado a convulsões, ruptura prematura das membranas e descolamento prematuro da placenta. Pode levar ainda a pré-eclâmpsia grave, aborto espontâneo, parto prematuro e complicações no parto. Estas gestantes devem receber cuidados médicos e psicológicos adequados, incluindo o tratamento de dependência, para reduzir esses riscos. Os fetos expostos ao uso da cocaína durante a gravidez são frequentemente prematuros, têm baixo peso ao nascer, circunferência cefálica menor e menor estatura quando comparados a recém-nascidos não expostos. Estimulantes: as anfetaminas causam euforia, aumento de energia e supressão do apetite. No entanto, a exposição a anfetamina durante os períodos do pós-parto precoce e tardio interrompem a interação mãe-bebê e encurta a duração da amamentação. “Ecstasy” (MDMA): o que habitualmente se conhece com o nome de “ecstasy” é um derivado da molécula de anfetamina1. A exposição à metanfetamina durante a gravidez foi associada à morbidade e mortalidade materna e neonatal: aumento de duas a quatro vezes no risco de restrição do crescimento fetal, pré-eclâmpsia, descolamento prematuro da placenta, parto prematuro, morte fetal, morte neonatal e morte infantil. Opiáceos (Heroína): os tipos de opiáceos mais importantes são: morfina, codeína, meperidina, metadona, heroína e oxicodona. O uso de opióides na gravidez aumentou drasticamente nos últimos anos, em paralelo com a epidemia observada na população em geral, levando a um aumento da mortalidade materna. Os opiáceos, como a heroína, raramente causam anomalias congênitas, mas como atravessam a barreira placentária podem levar à síndrome da abstinência fetal, cujos sintomas são: irritabilidade, choro excessivo, nervosismo, vômitos e diarreia. Há uma maior incidência de parto prematuro em usuárias de opióides, principalmente quando associado ao uso concomitante de tabaco.27,28 Para mulheres grávidas usuárias de opiáceos, a farmacoterapia com agonistas opióides é a terapia recomendada.29,30 Conclusões e recomendações: o uso de drogas ilícitas ocorre em 5-8 % das gestantes. Todas as gestantes devem ser inquiridas douso do álcool, tabaco e de drogas ilícitas e/ou com prescrição. A maconha é a droga mais utilizada, seguida da cocaína. O abuso de substâncias na gravidez pode levar a uma série de efeitos deletérios sobre a interação mãe-bebê. Tais efeitos variam com base na droga, época de exposição e extensão de uso. A conscientização das mulheres das graves consequências do abuso de substâncias no período periconcepcional, na gestação e pós-parto deve fazer parte da assistência primária à saúde. Referencias Gestação de alto risco: manual técnico/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – 5. ed. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 302 p. – (Série A. Normas e Manuais Técnicos). Fundação March of Dimes. Centro Latinoamericano de Perinatologia, Saúde da Mulher y Reprodutiva. Infecções perinatais transmitidas de mãe para filho durante a gravidez. Montevideo; 2010. 58 p. (CLAP/SMR. Publicação Cientifica, 1567- 3).
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