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Indaial – 2020
Semântica e eStilíStica
Prof.a Carmen Brunelli de Moura
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2020
Elaboração:
Prof.a Carmen Brunelli de Moura
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
M929s
Moura, Carmen Brunelli de
Semântica e estilística. / Carmen Brunelli de Moura. – Indaial: 
UNIASSELVI, 2020.
228 p.; il.
ISBN 978-85-515-0451-2
1. Estilo literário. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 001
III
apreSentação
A área de estudos da linguagem tem ampliado suas fronteiras na 
busca de dar uma visibilidade maior ao seu objeto de estudo. A Semântica, a 
Pragmática e a Estilística são disciplinas que procuram delimitar seu espaço, 
isso se deve principalmente à própria definição de significado, sentido e 
estilo. Ambas foram deixadas por um tempo às margens da Linguística, por 
estarem atreladas ao contexto filosófico e literário.
Para que os estudos semânticos, pragmáticos e estilísticos voltem 
a ocupar um lugar de destaque entre as pesquisas em línguas naturais, é 
preciso considerar sua heterogeneidade, dinamicidade e caráter polissêmico, 
compreendendo que há vários caminhos científicos para se estudar os sentidos 
produzidos na enunciação, assim como o estilo que deve ser evidenciado no 
trabalho de escolhas realizado pelo sujeito.
Esses caminhos não se esgotam neste livro, mas se configuram no 
cenário escolhido para apresentar a relevância dessas disciplinas, os temas 
principais, autores mais importantes de cada área de estudo. Além de 
oferecer os instrumentos iniciais necessários para definir a direção a ser 
tomada pelos leitores.
Na Unidade 1, abordaremos o campo de estudos da Semântica e sua 
heterogeneidade, situando a Semântica no campo de estudos linguísticos, 
delineando a evolução e a história dos estudos do significado, assim como a 
distinção entre significado e sentido. Além de tratarmos da heterogeneidade 
semântica nas abordagens referencial, mentalista e pragmática.
Na Unidade 2, analisaremos o significado e o sentido nas situações 
comunicativas, reconhecendo os aspectos semânticos e pragmáticos na 
construção dos sentidos e descrevendo o sistema de escolha e sua contribuição 
na coesão discursiva. O caráter performativo da linguagem será identificado 
nos atos de fala no campo pragmático e o texto, que não poderia deixar de ser 
abordado, será tratado como unidade de sentidos. 
Na Unidade 3, descreveremos os conceitos de estilo e as abordagens 
estilísticas na compreensão dos efeitos de individuação e de um trabalho de 
escolhas construídos no uso concreto da linguagem. As figuras de linguagem 
serão reconhecidas por seu potencial expressivo e subjetivo presentes nas 
palavras, frases e enunciação. 
Todas as unidades tratam do uso da língua e não há uma chave 
de controle dos sentidos produzidos pela leitura. O que há, neste livro, é 
uma organização da leitura que permitirá a compreensão de conceitos que 
evidenciarão uma releitura, uma análise efetivamente nova e uma renovação 
no olhar para a Semântica, a Pragmática e a Estilística. 
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
Esperamos que as reflexões propostas, os exemplos, as atividades, 
as dicas e as orientações de leitura permitam dinamizar seus saberes com 
relação a estas disciplinas para subsidiar suas pesquisas na vida acadêmica 
e profissional. 
Boa leitura e bons estudos!
Prof.a Carmen Brunelli de Moura
V
Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos 
materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais 
os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais 
que possuem o código QR Code, que é um código 
que permite que você acesse um conteúdo interativo 
relacionado ao tema que você está estudando. Para 
utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos 
e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar 
mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!
UNI
VI
VII
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela 
um novo conhecimento. 
Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro 
que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá 
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, 
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.
Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.
Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!
LEMBRETE
VIII
IX
UNIDADE 1 – A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS ..............1
TÓPICO 1 – O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA ...............................................................3
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3
2 SIGNIFICADO: OBJETO DE ESTUDO DA SEMÂNTICA ...........................................................5
3 PERCURSO HISTÓRICO: CONSIDERAÇÕES GERAIS ..............................................................9
4 MUDANÇAS SEMÂNTICAS: CAUSAS .........................................................................................14
4.1 LINGUÍSTICAS ................................................................................................................................15
4.2 HISTÓRICAS ...................................................................................................................................16
4.3 SOCIAIS ...........................................................................................................................................17
5 TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO ..........................................................................................19
5.1 METÁFORA .....................................................................................................................................20
5.2 METONÍMIA ...................................................................................................................................22
6 TIPOLOGIA DAS RELAÇÕES DE SIGNIFICADO ......................................................................24
6.1 SINONÍMIA – PARÁFRASE ..........................................................................................................24
6.2 ANTONÍMIA – CONTRADIÇÃO .................................................................................................27
6.3 AMBIGUIDADE – VAGUEZA.......................................................................................................29
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................33
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................34
TÓPICO 2 – A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA......................................................................37
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................37
2 A NOÇÃO DE SIGNIFICADO E SENTIDO ...................................................................................39
3 ABORDAGENS TEÓRICAS...............................................................................................................42
3.1 ABORDAGEM REFERENCIAL .....................................................................................................42
 3.1.1 Referência e sentido ................................................................................................................44
 3.1.2 Implicações ...............................................................................................................................46
3.2 ABORDAGEM MENTALISTA .......................................................................................................51
3.2.1 Papéis temáticos ......................................................................................................................52
3.2.2 Metáforas conceituais .............................................................................................................54
3.3 ABORDAGEM PRAGMÁTICA .....................................................................................................57
 3.3.1 Inferências.................................................................................................................................59 
 3.3.2 Implicaturas conversacionais ................................................................................................62
LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................66
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................71
AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................72
UNIDADE 2 – HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA......................................................................75
TÓPICO 1 – SIGNIFICADO E USO ....................................................................................................77
1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77
2 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA ....................81
2.1 OS JOGOS DE LINGUAGEM .......................................................................................................81
Sumário
X
3 O SIGNIFICADO NO SISTEMA DE ESCOLHA E COESÃO DISCURSIVA ..........................94
3.1 RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS ....................................................................................................95
3.2 RELAÇÕES PARADIGMÁTICAS .................................................................................................99
4 ATOS DE FALA E USO DA LÍNGUA ...........................................................................................103
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................112
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113
TÓPICO 2 – O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS .............................................115
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115
2 RELAÇÕES DE SENTIDO ...............................................................................................................117
2.1 NÍVEL LEXICAL ............................................................................................................................119
2.2 NÍVEL FRASAL .............................................................................................................................122
2.3 NÍVEL DISCURSIVO ....................................................................................................................126
3 TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO ..................................................................................................131
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................136
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................141
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................142
UNIDADE 3 – A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE .............................................145
TÓPICO 1 – NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO .................................................................147
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147
2 ESTILO E ESTILÍSTICA....................................................................................................................149
2.1 ESTILÍSTICA DA LÍNGUA ..........................................................................................................151
2.2 ESTILÍSTICA LITERÁRIA ............................................................................................................157
3 CONCEPÇÃO DE ESTILO ..............................................................................................................161
3.1 ESTILO COMO DESVIO ...............................................................................................................162
3.2 ESTILO COMO EXPRESSIVIDADE ..........................................................................................165
3.3 ESTILO COMO TRABALHO .......................................................................................................167
4 ESTILO E RETÓRICA ........................................................................................................................172
5 FIGURAS RETÓRICAS .....................................................................................................................175
5.1 FIGURAS DE PALAVRAS (SOM) ...............................................................................................179
5.2 FIGURAS DE SENTIDO ..............................................................................................................182
5.3 FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU DE SINTAXE ....................................................................187
5.4 FIGURAS DE PENSAMENTO ....................................................................................................191
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................195
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196
TÓPICO 2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO .....................................................................199
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................199
2 AS ESTILÍSTICAS ..............................................................................................................................2002.1 ESTILÍSTICA DO SOM .................................................................................................................202
2.2 ESTILÍSTICA DA PALAVRA .......................................................................................................204
2.3 ESTILÍSTICA DA FRASE (SINTÁTICA) ....................................................................................206
2.4 ESTILÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO ..............................................................................................207
3 ESTILO E EFEITOS DE SENTIDO .................................................................................................210
LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................212
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................216
AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217
REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................221
1
UNIDADE 1
A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E 
ABORDAGENS TEÓRICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• situar a semântica no campo dos estudos linguísticos;
• delinear um panorama histórico e evolutivo acerca dos estudos do 
significado;
• relacionar, na ciência das significações, as causas das mudanças 
semânticas;
• identificar as transferências e relações de sentido nas formas linguísticas; 
• reconhecer a diferença entre a noção de significado e de sentido; 
• distinguir, na heterogeneidade semântica, as principais características e 
objeto de estudo de investigação.
Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade, 
você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo 
apresentado.
TÓPICO 1 – O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
TÓPICO 2 – A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos 
em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá 
melhor as informações.
CHAMADA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
O CAMPO DE ESTUDOS DA 
SEMÂNTICA
1 INTRODUÇÃO 
O que é significado? O que é sentido? Será que temos duas expressões 
sinônimas ou vamos encontrar uma multiplicidade de respostas que serão 
divergentes, diversificadas e imprecisas? E o que falar sobre Semântica? Ou seria, 
Semânticas?
Nesta unidade, nossa tarefa é situar a Semântica nos estudos linguísticos 
para compreender seu objeto de estudo e sua complexidade, dinamicidade e 
caráter polissêmico nas mais diversas situações presentes nas relações sociais. 
Além disso, um passeio pelo percurso histórico do campo dos estudos semânticos 
vai nos levar a entender que motivações levam às mudanças nos significados 
das palavras. Por que palavra como “fazenda”, que apontava para as coisas que 
deveriam ser realizadas por uma pessoa, passa, na atualidade, a significar, entre 
outras acepções, grande propriedade rural ou tecido?
São essas mudanças semânticas que podem se dar por causas históricas, 
linguísticas e sociais, que vamos observar nas palavras a partir de uma 
transferência ou ajustamento dos sentidos que possibilitará a compreensão de 
novos enunciados em contextos distintos. É no discurso, ou seja, no uso que o 
sujeito faz das palavras ou expressões que seus sentidos se atualizam e passam 
a ser definidos. Não podemos construir sentidos partindo apenas das palavras, 
mas das ideias que elas expressam. 
O enunciado (oral, escrito, de múltiplas semioses) pressupõe sempre a situação 
de enunciação - (i) quem enuncia; (ii) a quem se dirige; (iii) onde ocorre; (iv) quando 
ocorre. O enunciado, revelado na materialidade linguística, é uma realidade do discurso. É 
o produto da enunciação.
FONTE: Adaptado de <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao-
enunciado>. Acesso em: 1o nov. 2019.
IMPORTANT
E
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
4
No Blog Sobre Palavras, Sérgio Rodrigues discute, em uma postagem 
publicada em 1º de junho de 2015, se as expressões “em palpos de aranha” e 
“em papos de aranha” apresentam o mesmo sentido. O jornalista assinala que 
a carga semântica é diferente, pois, na primeira, essa carga significa “estar em 
apuros” e, na segunda, evidencia um processo de “estar satisfeita”, “com o 
papo cheio”. Escritores como Camilo Castelo Branco, Aluísio Azevedo e Luís da 
Câmara Cascudo defenderam a expressão “papos de aranha”, alegando que o 
uso popular se sobrepôs ao erudito. No entanto, ainda podemos encontrar os dois 
sentidos coexistindo de forma harmônica. 
Para ler na íntegra a discussão empreendida pelo jornalista em seu blog, 
acesse o site: https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/em-palpos-de-aranha-ou-em-
papos-de-aranha/.
NOTA
Michel Bréal (1992) traduz essa complexidade lexical e corrobora com a 
ideia de que, a partir da língua, interpretamos o mundo e atribuímos sempre 
novos sentidos a ele. De acordo com esse semanticista, em seu Ensaio de Semântica: 
O sentido novo, qualquer que seja ele, não acaba com o antigo. Ambos 
existem um ao lado do outro. O mesmo termo pode empregar-se 
alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico, no 
sentido restrito ou no sentido amplo, no sentido abstrato ou no sentido 
concreto (BRÉAL, 1992, p. 103).
É esse comportamento linguístico e a coexistência entre o novo e o velho 
que permite evidenciar que as palavras podem ser positivas ou negativas e assumir 
significados diferentes. Em outros termos, as palavras podem ser semelhantes 
em sua forma, mas distintas em seus valores. Essa mudança de sentidos poderá 
ser abordada sob três aspectos: referencial, mentalista e pragmático, linhas que 
orientam as pesquisas semânticas que abordaremos no Tópico 2 desta unidade. É 
com base nessas temáticas, que serão desenvolvidas ao longo desta unidade, que 
convidamos você, acadêmico, a aprofundar seus estudos acerca de Semântica nas 
discussões aqui apreendidas. 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
5
"Se é verdade, como se pretendeu, algumas vezes, que a linguagem é um 
drama em que as palavras figuram como atores e em que o agenciamento gramatical 
reproduz os movimentos dos personagens, é necessário pelo menos melhorar essa 
comparação por uma circunstância especial: o produtor intervém frequentemente na ação 
para nela misturar suas reflexões e seu sentimento pessoal, não à maneira de Hamlet que, 
mesmo interrompendo seus atores, permanece alheio à peça, mas, como nós mesmos 
fazemos no sonho, quando somos ao mesmo tempo espectador interessado e autor 
dos acontecimentos. Essa intervenção é o que proponho chamar o aspecto subjetivo da 
linguagem" (BRÉAL, 1992, [1904], p. 157).
ATENCAO
2 SIGNIFICADO: OBJETO DE ESTUDO DA SEMÂNTICA
Na introdução desta unidade, problematizamos o que era significado 
e sentido e se essas expressões eram sinônimas ou divergentes. Começamos a 
encaminhar essa problematização com a discussão de Sergio Rodrigues no 
momento em que as expressões estudadas têm valores diferentes em vista do 
uso concreto da língua – contextualizado. No entanto, o reconhecimento da 
diferença entre a noção de significado e sentido será abordado no Tópico 2, 
desta unidade. A compreensão desses termos é relevante para a distinção entre 
os estudos semânticos e pragmáticos e para a compreensão da significação na 
heterogeneidade semântica. 
Então, vamos nos deter ao significado e compreender a sua complexidade 
e as controvérsias presentes em seu estudo. Katz já havia apontado, em 1972, que 
seria preciso definir a noção de significado para que uma teoria semântica fosse 
considerada por todos os estudiosos. Ele assevera que muitos concordam que a 
Semântica estuda o significado e que a questãobásica dos estudos semânticos é 
saber o que é o significado. No entanto, ele afirma que a concordância termina 
neste ponto e:
[...] começam as controvérsias intermináveis sobre que tipo de coisa 
é o significado. Há discordância sobre questões de todos os tipos, 
incluindo a questão fundamental sobre se nós podemos fazer algo 
com o conceito de significado ou se estaríamos melhor sem ele. [...] 
a questão “O que é significado” não admite uma resposta direta do 
tipo “é isso ou aquilo”; sua resposta é, ao contrário, uma teoria inteira 
(KATZ, 1972, p. 1, tradução nossa).
Katz (1972) traz para sua fala a heterogeneidade semântica ao justificar que 
o significado é linguístico. Bréal (1992), em seu Ensaio de Semântica, afirma, sob o 
ponto de vista linguístico, que as mudanças sincrônicas sofridas pelas palavras 
se constituíam em objeto da Semântica e que as respostas aos significados só 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
6
poderiam ser dadas pela história. Já Bloomfield, um estruturalista americano, 
definia o significado “[...] como a situação na qual o falante a enuncia e a resposta 
que ela evoca no ouvinte” (BLOOMFIELD, 2001 apud MARQUES, 2001, p. 46), 
ou seja, influenciado pelo behaviorismo, significado seria a relação estímulo-
resposta entre falante e ouvinte. 
O Behaviorismo é uma área da Psicologia cujo objeto de estudo é o 
comportamento humano e a possibilidade de influenciar o indivíduo a partir de estímulos. 
Destacam-se Watson, Wittgenstein e Ryle. Na educação, sua contribuição foi no campo 
da linguagem com Skinner. Atualmente, oferece suporte para metodologias de coaching. 
Complemente esse assunto assistindo ao vídeo Behaviorismo: metodológico e radical.
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=ipHFpXAgjiA>. Acesso em: 4 ago. 2019.
DICAS
Essa indefinição acerca do objeto da Semântica traz outras discussões 
para o panorama do significado. Isso não se deve à falta de consenso entre os 
estudiosos. Ao contrário, abrem-se espaços para se pensar o léxico, as condições 
de verdade, os atos de fala e a enunciação. Isso aponta para a heterogeneidade 
do campo semântico que, atualmente, está ancorado, por exemplo, na semântica 
argumentativa, cognitiva, computacional, cultural, da enunciação, dos protótipos, 
formal, lexical, diacrônica, sentencial, proposicional, estrutural, gerativa, 
funcional, do discurso, entre outras.
Lyons (1997), em vista dessa diversidade e de os linguistas não chegarem 
a um consenso quanto à questão “O que é significado?”, propõe um deslocamento 
para “Qual o significado de ‘significado’?”. 
John Lyons (1932), linguista britânico, ficou famoso por seu trabalho com 
a Semântica ao publicar Structural Semantics (1963), Semantics (1977) e Lingua(gem) e 
Linguística – uma introdução, obra que aborda uma introdução geral à linguística e ao 
estudo da linguagem.
NOTA
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
7
Isso responderia de forma “satisfatória” ao problema do significado, pois 
este permeia a linguagem, e a Semântica ainda é uma teoria em construção com 
um caráter plural. A noção de significado também tem esta mesma característica 
e não podemos pensar que isso é algo desanimador. Isso é um desafio para os 
estudiosos da área que encontram, em outros campos do conhecimento, subsídios 
para a compreensão do funcionamento das línguas naturais. 
 
Vamos compreender, na prática, essa discussão e como funciona a língua. 
Analisaremos uma das “pérolas” enunciadas por Vicente Matheus, que foi 
presidente do Clube Corinthians nos anos 1980, e mereceu um artigo de Pasqualle 
Cipro Neto em sua coluna no jornal Folha de São Paulo. 
(1) “O Sócrates é inegociável, invendável e imprestável" (Vicente Matheus).
Por que a expressão “imprestável” se tornou uma pérola da Língua 
Portuguesa? Para começar, consultamos o site da Academia Brasileira de Letras, 
a palavra “imprestável” está registrada como um adjetivo. Em dois dicionários 
on-line a palavra é descrita como: 
• Que não tem mais serventia; inútil [Antôn.: útil.]
 Diz-se de pessoa que não ajuda os outros, que não é prestativa (AULETE, c2021, 
s.p.).
• Que não presta; que não tem préstimo; ineficiente, inútil, vão.
 Diz-se de ou pessoa que não tem prestabilidade ou prestimosidade alguma: um 
profissional imprestável. Consideram-no um imprestável (MICHAELIS, c2021, 
s.p.).
Seria esse o tratamento dispensado pelo presidente do Corinthians ao 
grande jogador Sócrates? Por que ele tomou a língua em seu sentido literal, 
dicionarizado? 
Ao enunciar “inegociável” e “invendável”, em (1), Vicente Matheus 
tomou por analogia a palavra “imprestável”, com o sentido de que o jogador 
era tão importante para o time que, por dinheiro nenhum, seria negociado, 
vendido e emprestado a outro time. De acordo com Silva Jr. (1903, p. 19), "[...] o 
povo, diante da necessidade de exprimir ideias novas, em lugar de criar novas 
palavras, serve-se de termos conhecidos, mudando-lhes ou renovando-lhes os 
sentidos." O uso do prefixo “in” ou “im” na língua portuguesa produz o sentido 
de “privação, negação”, estabilizado por uma convenção social e dicionarizado 
como elemento estável. No entanto, a compreensão do significado pretendido 
pela palavra “imprestável” só foi possível, porque, a partir do contexto em que 
foi utilizada, neste caso, houve uma renovação de seu sentido literal evidenciando 
uma concepção positiva acerca do passe do jogador. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
8
Para ler o texto do professor Pasqualle, acesse o endereço: https://www1.folha.
uol.com.br/fsp/cotidian/ff2712200103.htm.
DICAS
Como diria Wittgenstein (1999), é possível fazer uso da palavra 
“imprestável” para expressar sentidos diferentes para diferentes jogos de 
linguagem, o que iremos tratar na Unidade 2, ou seja, é preciso entender que 
o significado é “referencial”, pois ao enunciarmos uma palavra, buscamos 
sua referência no mundo. Ele é construído a partir de um ponto de vista, 
de uma maneira de ver o mundo e, quando sua noção é ampliada para o 
contexto, devemos levar em consideração as convenções culturais, as diferentes 
abordagens semânticas, a relação social e comunicativa. Essa é a pluralidade da 
Semântica e do significado que vamos ilustrar ao longo desta obra.
FIGURA - LUDWIG WITTGENSTEIN
FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/ab/Ludwig_
Wittgenstein.jpg/410px-Ludwig_Wittgenstein.jpg>. Acesso em: 1o nov. 2019.
 Para saber um pouco sobre a obra do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein e 
seus jogos de linguagem, assista aos vídeos produzidos por Claudio F. Costa, professor 
titular de Filosofia do departamento de Filosofia da UFRN, disponíveis nestes endereços: 
• https://www.youtube.com/watch?v=lQksIdBy7xc;
• https://www.youtube.com/watch?v=ZQi_gQHZnx0.
DICAS
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
9
Você acompanhou o exemplo que demos sobre o uso das palavras “inegociável” 
e “invendável” e a renovação dos significados na fala de Vicente Matheus. 
 
 Agora é a sua vez! Imagine que você irá apresentar um seminário e terá de discutir 
acerca de palavras que tiveram seus significados renovados para atender às necessidades 
do usuário da Língua Portuguesa. 
 Não é uma tarefa complexa, sugerimos que pesquise entre amigos, familiares, no 
seu ambiente de trabalho e em suas práticas cotidianas. 
 Vamos tentar?
IMPORTANT
E
3 PERCURSO HISTÓRICO: CONSIDERAÇÕES GERAIS
O encaminhamento de nossa discussão vem apontando para a ideia de que 
não é possível definir o que significa “significado” e, pela sua heterogeneidade, 
as distinções ampliam os estudos semânticos em várias Semânticas. Vamos voltar 
ao tempo e entrar nas academias gregas para compreender que os filósofos já 
buscavam definir os fenômenos semânticos. Um desses estudos encontra-se em 
Crátilo: sobre a justeza dos nomes, de Platão. Crátilo considerava que o significado 
de uma coisa se unia à própria coisa de forma natural. Já Hermógenes, negava 
essaideia de Crátilo e afirmava que o significado era arbitrário e convencionado 
pela comunidade de falantes de uma língua.
Essa ideia será questionada séculos mais tarde por John Locke, filósofo 
inglês. Ele afirmava, no século XVII, que seria um tanto simplista unir o nome à 
coisa e, se isso fosse possível, teríamos apenas uma língua. A noção de convenção 
reduz as incertezas e promove a concordância entre os usuários de uma língua, 
necessária à comunicação. Em vista dessa harmonia social, Hermógenes afirmava 
que “[...] a relação nomes e coisas não era apenas [...] uma porção da voz humana 
a qual os homens concordam em usar” (PLATÃO, 2014, p. 1), mas eram artefatos 
sociais desenvolvidos entre usuários e para usuários. Marques (2001) também 
questiona e admite que as palavras são convenções estabelecidas entre os usuários 
de uma língua. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
10
Crátilo: sobre a justeza dos nomes, de Platão, é uma obra para a compreensão 
da discussão entre Crátilo, Hermógenes e Sócrates acerca do significado, no nome e das 
coisas. Hermógenes para Sócrates, ao discordar de Crátilo: este nosso Crátilo, Sócrates, 
opina que existe, naturalmente, uma designação justa para cada um dos seres; e que o 
seu nome não é aquele por que alguns convencionalmente os designam, servindo-se de 
uma parcela de sua linguagem; ao contrário, segundo ele, existe naturalmente, tanto para 
Gregos como para Bárbaros, uma justeza de designação idêntica pra todos.
 Para uma leitura aprofundada sobre este conflito linguístico, leia a obra de Platão, 
Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. 
FONTE: PLATÃO. Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. São Paulo: Paulus, 2014.
NOTA
Demócrito era um outro grego que estudava a linguagem e seus múltiplos 
sentidos. Esses sentidos eram construídos a partir da polissemia, fenômeno 
semântico no qual uma mesma palavra pode ter mais de um sentido ao ser 
utilizada em contextos distintos; e da homonímia, fenômeno no qual duas ou mais 
palavras têm a mesma estrutura fonológica, mas são distintas pelo significado. 
Aristóteles também deu sua contribuição aos estudos do significado ao classificar 
as metáforas, fenômeno adotado por outros semanticistas e que vamos abordar 
em Transferência de significado. Como funciona o fenômeno da polissemia na 
prática? 
(2) Vejamos alguns exemplos com a palavra "onda":
a) RUFFLES – a batata da onda.
b) “A Onda”: filme para compreender um sistema de governo.
c) “Tem gente que quer tirar onda sem saber surfar e acaba se afogando” 
(SÓCRATES MACHADO, s.d., s.p.).
d) A vida é como uma onda. 
e) “Quando o mar está bravio e os ventos açoitam as ondas” (SCHOPENHAUER, 
2005, p. 412).
f) Tirando onda com a minha cara. 
g) Ondas eletromagnéticas se propagam mais rápido no vácuo. 
Nesses enunciados, a palavra "onda" tem pluralidade de significados: 
(a), podemos entender onda como o formato ondulado da batata e a batata que 
está na moda; (b), a palavra onda vem com letra maiúscula, apontando para um 
substantivo próprio, o título de um filme; (c) a palavra onda implica superioridade 
sobre as outras pessoas; (d) a palavra onda significa altos e baixos, ou seja, uma 
vida feita de momentos bons e ruins; (e) aqui onda se aplica às ondulações do mar 
pela ação do vento; (f) significa debochar, tirar sarro; e (g) onda evidencia, pelos 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
11
conceitos da Física, campo que transporta energia. Vemos que o contexto é uma 
garantia para o funcionamento desses significados. Quanto à homonímia, como 
se constrói o significado das palavras? 
Vejamos o “clássico” exemplo da palavra manga que tem um mesmo 
significante (SE) e dois significados (SO):
Todas as palavras têm significados diferentes, mas estes significados 
se distinguem por serem construídos por classes de palavras diferentes ou por 
terem a escrita ou o som diferente.
 SIGNIFICANTE (SE) – imagem acústica
SIGNO
 SIGNIFICADO (SO) – conceito
“peça de vestuário” ≠ “fruto da mangueira” (significados)
Vamos recordar as classes de palavras? Acesse: Classes de palavras do 
português brasileiro: um estudo sobre seus critérios de classificação na sala de aula de 
educação básica.
FONTE: <http://www.institutodeletras.uerj.br/revidioma/21/idioma21_a01.pdf>. Acesso em: 
18 jul. 2019.
DICAS
Tipos de homonímias: vamos observar como se dividem as homonímias e 
apontar alguns exemplos. 
• Homógrafas – possuem a mesma forma gráfica.
 A boca fica com gosto de guarda-chuva depois de beber álcool (substantivo).
 Eu gosto de você desse jeito (verbo).
• Homófonas – possuem a mesma forma fonológica, mesmo som.
 A sena saiu apenas para um apostador (substantivo/ loteria).
 A cena final do filme foi sensacional (substantivo/ cenário).
 
Esses mecanismos da língua estão presentes nas gramáticas de uma 
maneira um tanto simplista, mas Oliveira (2008) aponta que definir se uma palavra 
é homônima ou polissêmica leva a alguns conflitos conceituais, principalmente, 
com relação à homonímia perfeita ou absoluta. Você poderá ampliar a discussão 
acerca da polissemia e homonímia em outras obras. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
12
Há uma discussão bem interessante acerca do estudo da polissemia e 
homonímia, suas fontes e conflitos, no Capítulo 7, ambiguidades, da obra Semântica, de 
Ullmann.
FONTE: ULLMANN, S. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa: Fundação 
Calouste Gulbenkian, 1964.
DICAS
As ideias greco-romanas têm exercido forte influência, benéficas ou não, 
nos estudos da Semântica moderna em sua aparição no século XIX. De acordo 
com Ullmann (1964), isso se deve ao nascimento da Filologia comparada que 
estuda estados de uma língua com outra língua natural para compor sua história. 
Era uma ciência que tinha uma afinidade com a Linguística, pois sozinha não 
poderia compreender os fatos elencados como objeto de estudo. Quando os 
estudos linguísticos se voltam para as trocas fonéticas e gramaticais, os linguistas 
percebem que é preciso explorar, também, os aspectos semânticos. 
É diante dessas iniciativas que vemos surgir a expressão semântica 
nos estudos de Michel Bréal, em 1883, quando ele propõe a “ciência das 
significações”. A contribuição desse estudioso se deve ao estudo do significado 
sob uma perspectiva da Linguística e não apenas da Filosofia. O filólogo francês 
estudou os processos de mudança da língua, categorizando-os em relação ao 
sentido, sua transferência e aumento ou redução. Para Marques (2001), ainda 
que os estudos de Bréal (1883) estivessem atrelados a uma visão histórica e ao 
léxico, a disciplina superava a rigidez dos princípios mecanicistas ao incorporar 
os aspectos conceituais da linguagem. 
Saussure (1974), com seu Curso de Linguística Geral, rompe, em 1916, 
com os estudos históricos realizados até o século XIX. Seu objeto de estudo é a 
língua, um sistema de signos constituído por um significante (imagem acústica) 
e um significado (conceito), compreendido em uma perspectiva conceitual e não 
a uma coisa como queria Crátilo. Essa relação entre significante e significado é 
convencional e arbitrária. Recebe muitas críticas, principalmente de Charles F. 
Ogden e Ivor A. Richards pelo fato de o linguista não ter incluído em sua teoria 
o referente. 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
13
Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi o linguista fundador da Linguística 
moderna. A obra Curso de Linguística Geral teve uma importância ímpar para o estudo da 
língua como um sistema de regras e utilizada por uma comunidade. 
FONTE: SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995.
IMPORTANT
E
SIGNO LINGUÍSTICO – SAUSSURE
As críticas não apagaram o brilho do estruturalismo saussuriano e 
muitos semanticistas se vincularam as suas ideias. Trier (1931 apud MARQUES, 
2001), linguista alemão, estudava a teoria do campo lexical e a relação entre 
seus significados, por exemplo, brigadeiro, bolo e refrigerante.Essas palavras 
pertencem ao mesmo campo semântico de aniversário. Bally (1940 apud OLIVEIRA, 
2008) estudava a teoria dos campos associativos, como em carta, selo, correio; e 
Coseriu (1980) dedicava-se ao arquilexema, como em assento, arquilexema de 
sofá, cadeira, poltrona, banco, divã. 
O que é arquelexema? É um conjunto de traços semânticos referentes a 
diversas unidades e, neste caso, todos os lexemas podem ser definidos como “banco – 
objeto construído para a pessoa se sentar”, significado comum a todas as palavras.
IMPORTANT
E
A partir de 1950, vamos encontrar outros estudos com base na Gramática 
gerativa de Chomsky. Katz e Fodor (1977) publicam o artigo Estruturas de uma 
teoria, no qual empreendem uma discussão acerca da competência da Semântica 
em reconhecer e interpretar os diferentes significados que surgem entre os 
enunciados. Nos anos 1970, Ducrot trabalha com os operadores argumentativos, 
pois a linguagem é utilizada para convencer o outro a entrar no jogo. Na década de 
1980, Lakoff e Johnson estudam as metáforas e afirmam que o nosso pensamento 
é estruturado por meio de esquemas. No Tópico 2, Subtópico 2.2, veremos com 
mais detalhes as metáforas conceituais. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
14
Já apontamos, na introdução – significado, a heterogeneidade da Semântica 
e, ao longo da construção desse conhecimento, iremos estudá-la a partir dos 
fenômenos semânticos e abordagens teóricas que ajudarão você a entender que 
há diferentes maneiras de se estudar o significado. 
4 MUDANÇAS SEMÂNTICAS: CAUSAS
Por que as palavras mudam seus significados? Qual é a força que provoca 
alterações na significação lexical? Quando se dá a descontinuidade de um 
significado e outro surge em seu lugar? Poderíamos fazer muitos questionamentos 
acerca das mudanças semânticas e elencar inúmeras causas dessas transformações, 
mas não é nosso objetivo, pois isso demandaria um outro trabalho e fica aqui a 
sugestão: você poderia realizá-lo em seus estudos sobre a língua. 
O que precisamos entender, inicialmente, é o fato de que as mudanças se 
dão por dimensões: linguísticas, a partir da heterogeneidade da língua; sociais, 
na comunicação entre os usuários de uma língua; e históricas, quando a língua se 
torna outra, forma-se e sofre influências no decorrer do tempo. Essas mudanças 
não são aleatórias. Elas são provocadas por uma ação, necessidade da existência 
de grupos sociais que falam uma língua e se inserem em contextos discursivos, 
nos quais dar-se-ão as alterações de sentido em vista de certas regularidades ou 
do que pode ou não ser dito naquele domínio. 
Podemos compreender essas mudanças nas forças sociais operadas 
sobre algumas palavras que são modificadas por um modismo, pela imposição 
do prestígio de uma sobre a outra, pela disposição na frase, enfim, por fatores 
internos e externos à língua. É o que se dá nas palavras incapacitada "/deficiente 
/com deficiência /limitada /especial", que, ao serem utilizadas em certos domínios 
discursivos, provocam efeitos negativos ou positivos. "Deficiente" tem sido 
substituído, em vista das forças institucionais, por "pessoas com deficiência" 
(auditiva, visual, física, intelectual etc.). Assim, essa mudança de sentido é uma 
inovação semântica e ocorre em um momento específico, condicionado por 
circunstâncias que propiciam sua propagação no contexto social. 
Tulio Mendhes, jornalista, escritor, palestrante, ex-colunista do G1 e, atualmente, 
do Diário de Uberlândia, escreve de forma bem-humorada e um tanto sarcástica, segundo 
ele, sobre os direitos das pessoas com deficiência. Leia este texto e outros em seu blog. 
FONTE: <http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/blog/mao-na-roda/post/termi 
nologia-no-tratamento-da-pessoa-com-deficiencia.html>. Acesso em: 20 jun. 2019.
NOTA
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
15
Como afirma Meillet (2016, p. 9), “[...] as mudanças semânticas não 
podem ser reconstituídas por hipóteses puramente linguísticas” porque as causas 
exteriores, como essa que vimos no texto de Tulio Mendhes, concorrem também 
para explicar as mudanças de sentido. Na história da Semântica, as mudanças 
dos significados das palavras estiveram, inicialmente, atreladas aos trabalhos de 
Bréal (1992). Sua proposta era “[...] examinar por que as palavras, uma vez criadas 
e providas de um certo sentido, são levadas a [...] mudá-lo” (BRÉAL, 1992, p. 77).
 
Foi a partir desse pensamento e do caráter histórico dos estudos na época 
que Meillet, discípulo de Saussure e de Bréal, escreve Como as palavras mudam de 
sentido, publicado em 1906. Ao tratar das mudanças semânticas, ele reconhece as 
limitações da Linguística e aponta que as causas desse movimento semântico nas 
línguas se devem às mudanças propiciadas pelo contágio entre palavras, pelo 
tempo e pelas pressões sociais. Vamos compreender cada uma dessas mudanças 
na prática. 
4.1 LINGUÍSTICAS
As mudanças linguísticas nem sempre são percebidas, pois elas ocorrem de 
forma lenta e não atingem a língua em sua totalidade, mas pequenas partes. É um 
jogo de mudanças e estabilidade. Esta harmonia é adquirida pelo desenvolvimento 
de uma língua padrão, geralmente, presente nas gramáticas, que freia as 
transformações na língua. Uma maneira prática de observar essas mudanças é na 
leitura de um texto escrito em português no século XIII. 
(3) Vejamos uma estrofe de uma composição poética extraída de Faraco (2005, p. 17).
III. — Pedr’ Amigo, des aqui é tencon,
ca me non quer’ eu convosc’ outorgar!
O rafec' ome, a que Deus quer dar
entendiment’, en algũa sazon,
de querer ben a mui bõa senhor,
este non cuida fazer o peor;
e quen molher rafec’, a gran sazon,
quer ben, non pode fazer se mal non.
Nesta estrofe (III), evidenciam-se o desaparecimento de itens lexicais como: 
substantivos (tençon, sazon), adjetivo (rafeç’) e conjunção (ca). A terminação -or 
de substantivos era comum aos gêneros masculino e feminino, como em mui bõa 
senhor. Nesse texto, confirma-se que algumas estruturas deixaram de existir na 
contemporaneidade ou sua ocorrência ainda é possível, mas com modificações 
em sua forma, função ou significado.
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
16
Bréal (1992, p. 139) chama de contágio ao “[...] fenômeno que se apresenta 
com frequência e que tem por efeito comunicar a uma palavra o sentido de seu 
contexto”. Bueno (1963) denomina este fenômeno de metendossemia quando 
os significados são deduzidos de palavras conectadas. Um desses contágios 
evidencia-se na construção de um hospício em Juqueri. Ao nome da cidade 
associou-se lugar para "alienados, casa de loucos, doença mental". O prefeito de 
Santos solicitou a construção de um Juqueri em sua cidade. Os relógios antigos 
eram quadrados e tinham quadrantes; por contágio, os relógios modernos, com 
variadas formas, continuam a ter quadrantes. 
Em Oliveira (2008), encontramos dois exemplos bem singulares. A 
palavra pílula que se referia a uma forma farmacêutica, com o surgimento da 
pílula anticoncepcional – substantivo + adjetivo, passou a ser tratada apenas pelo 
substantivo pílula. Nos anos 1990, há uma inversão e o adjetivo anticoncepcional, 
por contágio, muda a categoria gramatical e as pessoas passam a se referir à pílula 
pelo substantivo anticoncepcional. Em caderneta de poupança, que, na década de 
1960, era onde o banco registrava a movimentação financeira do cliente, após o 
uso do computador na instituição financeira, a palavra caderneta e poupança se 
desmembraram e passaram, por contágio, a significar conta bancária ou forma de 
investimento, ou seja, houve uma transferência do significado primitivo.
4.2 HISTÓRICAS 
Muitas vezes, um referente sofre uma evolução e se transforma, mas 
a palavra que o designa continua a mesma. Nesse caso, houve uma mudança 
semântica que foi provocada por fatores extralinguísticos os quais, muitas vezes, 
nem percebemos. Para Ullmann (1964), as coisas, as instituições eas ideias se 
transformam sem que seja preciso trocar seus nomes. O mesmo vocábulo pode 
ser empregado a vários objetos ou ideias que apresentem uma relação entre si no 
uso, utilidade e/ou função. Algumas palavras vão exemplificar essa relação entre 
mudança no significado e o conservadorismo no nome. 
Oliveira (2008) traz um exemplo interessante que está presente no nosso 
cotidiano e, às vezes, nem percebemos. A palavra computador vem do latim 
computare, que significava a pessoa que fazia cálculos. Depois, seu sentido deslizou 
até a máquina eletrônica que permite o processamento de dados. Atualmente, 
temos vários modelos de computador como o laptop, palmtop, mas quando falamos 
computador, apenas o de mesa, o desktop, passa a significar. Outro exemplo é o 
vocábulo pena, originária do ganso, por muito tempo foi utilizada para escrever. 
Depois, o objeto pena foi substituído por um produto manufaturado, carregado 
de tinta, mas que conservou o nome: caneta bico de pena. 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
17
4.3 SOCIAIS 
A estratificação social é uma causa frequente das mudanças semânticas, 
pois se fôssemos uma nação homogênea, certamente, essa característica não se 
daria na língua e as palavras teriam a mesma significação. Essa heterogeneidade é 
constituída pelos diversos grupos profissionais, religiosos, comerciários, militares, 
escolares, universitários e outros. Assim, as trocas sociais podem produzir trocas 
linguísticas. Sendo assim, como se dão essas alterações na significação das 
palavras? 
As moedas árabes traziam dois traços verticais que representavam as 
Colunas de Hércules que eram entrelaçadas, representando uma linha curva, as 
correntes marítimas. O povo entendeu como o cifrão $. Mas, não parou por aí. A 
linha parecia uma janela que em árabe era butaca. Como estava ligada ao dinheiro, 
passou para o português como pataca e um novo deslizamento se dá na palavra 
com sua desvalorização que passa a significar “coisa” de pouco valor, patacoada 
(BUENO, 1963).
Cada grupo social toma a língua em sua generalidade e a acomoda 
para seu uso, restringindo-lhe à significação. Quando a palavra passa do grupo 
social para a língua geral, muitas vezes, há uma vagueza, imprecisão do termo, 
pois perde sua contextualização como nos grupos militares em que camarada 
significava companheiro de quarto e, na linguagem geral, passou a significar 
amigo. A sociedade grega tomava a palavra angelos como mensageiro e baptizein 
como lavar. Com o advento do cristianismo, os grupos religiosos restringiram 
o significado destes vocábulos. Angelus passou a significar celeste e baptizar se 
tornou um sacramento, o Batismo. 
Essas alterações vocabulares afetam semanticamente a língua. A causa 
principal se deve à necessidade que os grupos sociais têm de se expressar, de 
comunicar suas individuações. Nesse contexto, os grupos buscam palavras 
adequadas e aceitáveis em cada época. Em vista disso, as mudanças ainda têm 
outras implicações linguísticas, como os tabus e eufemismos com os quais, por 
decência, medo, delicadeza ou polidez, os grupos sociais passam a fazer alterações. 
O vocábulo “rapariga” é definido por diferentes grupos sociais, segundo o 
dicionário Michaelis (c2021, s.p.). Em algumas regiões brasileiras, pode significar 
mulher virgem e, em outras, concubina, prostituta. Um grupo que vive em 
Governador Celso Ramos-SC, constituído por imigrantes da Ilha dos Açores 
(Portugal), conserva o sentido português de moça, feminino de rapaz e perde seu 
sentido negativo. Em vista das desigualdades sociais em relação a certos grupos, 
houve uma mudança semântica na palavra empregada doméstica que passou a 
significar secretária. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
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(4) Vejamos os sentidos da palavra “monstro” nos enunciados: 
a) O Monstro do Monstro de Frankenstein (https://www.netflix.com/br/
title/81003981).
b) Saindo da jaula: você é o monstro em novo game medieval (http://twixar.
me/Fnr1).
c) Quem você prefere: o genial Messi ou o monstro Ronaldo? (http://twixar.
me/Lnr1).
Inicialmente, a palavra "monstro" tinha um significado negativo de 
criatura lendária com aspecto aterrorizante, deformada, gigantesca; depois, o 
sentido sofreu um deslizamento para pessoas cruéis, horrendas e, atualmente, 
significa um profissional excelente. Analisando os enunciados: (a) a palavra 
monstro aparece duas vezes, referindo-se ao criador e criatura com sentido 
negativo e metafórico; (b) o sentido é positivo, pois o jogador assume a identidade 
da criatura lendária que, neste jogo, está em extinção e os vilões são os humanos; 
(c) a comparação evidencia o quanto Ronaldo foi um bom jogador e, por isso, a 
palavra monstro assume um efeito positivo. 
Recomendo a leitura de A mudança semântica e lexical. Texto traduzido e 
adaptado de Historical Linguistics: An Introduction (1962), de Winfred P. Lehmann (3. ed. 
1992. Londres e Nova York: Routledge), para a disciplina do Prof. Thomas Finbow da USP. 
FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4116720/mod_resource/content/1/Lehmann 
%20-%2013%20-%20Mudan%C3%A7a%20sem%C3%A2ntica%20e%20lexical%202%28rev%29.
pdf>. Acesso em: 1o nov. 2019.
DICAS
Em todos as mudanças linguísticas, históricas e sociais abordadas, fica 
evidenciado que há pontos de contato, de semelhança entre os fenômenos 
semânticos. O uso de um sentido ou outro tem como finalidade a compreensão, 
e sua criação pela sociedade tem a finalidade de fazer-se compreender, pois 
cada médico, soldado, professor, comerciante e outros representantes de grupos 
sociais se vê atravessado pelo modo de dizer do seu grupo. Ao transitar de um 
grupo ao outro, há um enriquecimento da linguagem e todos acabam ganhando 
com os empréstimos e deslocamentos de sentidos nas diversas linguagens. 
No próximo tópico, vamos compreender como se dão as transferências de 
sentido quando atualizadas nas diferentes modalidades de uso da língua. 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
19
Tudo muda! E as palavras acompanham as mudanças. Você ainda pensa em 
“barcos” quando diz vou embarcar neste voo? Ou, em separação, afastamento quando 
diz “apartamento”? Ou ainda, que “penso” significava alimentar com pensos os animais ou 
cuidar de feridas? Estudos de Filologia Portuguesa, de Silveira Bueno, é uma ótima leitura 
para a compreensão dos aspectos de alteração semântica das palavras. 
 Desafiamos você a encontrar outras palavras e expressões presentes em seu 
cotidiano cujos significados foram alterados devido a causas históricas, sociais ou 
linguísticas.
 
 Reflita: essas mudanças semânticas são impostas ou são os usuários que as 
instituem, que negociam sua atualização? Boa pesquisa!!
INTERESSA
NTE
5 TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO 
Uma língua é uma instituição social; assim, a variação e a mudança são 
inerentes à trajetória de uso por uma comunidade. As transformações operadas 
na língua não são efeitos do acaso, mas de um princípio criativo, adaptativo, 
associativo, presentes nas regras de transferência do significado substituído e do 
novo. Como determinar o tipo de associação entre as palavras? Só essa relação 
seria necessária para definir a transferência de significado nas palavras? 
A história da Semântica aponta, incialmente, duas formas de transferência: 
a associação lexical e, posteriormente, a associação de campos semânticos. Esses 
fenômenos de transferência estão atrelados tanto à variação do léxico quanto 
à variação das estruturas discursivas presentes nos enunciados. É na interação 
verbal que os usuários da língua interpretam e produzem sentidos. A teoria 
associacionista de transferência trata das mudanças de significados como um 
produto da relação entre palavras; entretanto, nas últimas décadas, há uma visão 
mais ampla que deixa de olhar apenas para as palavras isoladas e dedica atenção 
para os campos de associação a que pertencem estas palavras. 
QUADRO 1 – TRANSFERÊNCIA SEMÂNTICA
FONTE: A autora
Transferênciasemântica
Associação lexical Associação semântica
Eu demoli o prédio (derrubei).
Encontre a melhor viagem (passeio).
O guia (direção) da viagem chegou.
Ele embarcou (entrou) no navio.
Eu demoli seus argumentos.
A vida é uma viagem.
As mães são guias da vida.
Ele embarcou em nova carreira.
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
20
De acordo com Marques (2001), as transferências de significado seriam 
analisadas a partir do contexto e das escolhas efetuadas em função dos objetivos 
comunicativos. Por isso, a multiplicidade de significados não reside apenas na 
variedade lexical e não é fechada semanticamente. A metáfora e a metonímia são 
referências para o estudo das transferências semânticas. Vamos então abordar 
cada uma delas. 
5.1 METÁFORA
A relevância da metáfora para a linguagem e para a literatura vem sendo 
discutida por muitos estudiosos como uma força criadora da linguagem, como 
originalidade dos poetas e como um feitiço no estilo do autor. A metáfora também 
está entrelaçada ao discurso por motivações subjetivas, artifícios expressivos, 
sinonímia, polissemia, abrandamento de emoções intensas, preenchimento de 
lacunas no enunciado e muitos outros, uma vez que seu estudo é recente. Em 
vista de seu uso significativo, a metáfora é muito comum entre os usuários de 
uma língua. 
Embora alguns afirmem que não existe comparação na metáfora, mas 
apenas uma transferência das semelhanças de um significado para outro, Bueno 
(1963) contesta essa afirmação, justificando que a metáfora compreende sempre 
uma comparação e acrescenta que a comparação, em vista do uso regular da 
metáfora, perde sua expressividade, fica velada e pode tornar os significados 
fossilizados. Outros defendem que a metáfora é um mecanismo retórico usado 
para o alcance de certos efeitos de sentido. Em outra posição, a dos cognitivistas, 
a metáfora está presente no cotidiano, sendo considerada uma forma de articular 
pensamentos, falas e mundo. 
(5) Vejamos esta tirinha do personagem Armandinho, de Alexandre Beck, que foi 
adaptada da peça A segunda vinda de Francisco de Assis, de José Saramago. 
FIGURA 1 – A SEGUNDA VINDA DE FRANCISCO DE ASSIS, DE JOSÉ SARAMAGO
FONTE: <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/2394739603
904665/?type=3&theater>. Acesso em: 5 ago. 2019.
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
21
No exemplo (5), segundo quadrinho, temos uma metáfora em “O meu, 
fizeram-no de carne”, que materializa a “comparação” que Bueno (1963) afirma 
existir na produção de sentidos metaforizados. Nesse caso, há a omissão da 
partícula “como”, que marcaria a comparação que perde sua força expressiva. 
A comparação nesse fenômeno semântico perde sua força expressiva, mas ainda 
é possível evidenciar o ponto de contato, a semelhança do coração que sangra 
com a carne. A metáfora implica a força significativa daquilo que se quer dizer 
de uma outra forma, de fazer compreender nossos pensamentos, de alargar os 
efeitos de sentido do texto. 
Assim, a metáfora se constitui na relação entre dois domínios que não 
são parte de um mesmo domínio-matriz. Nesse caso, temos uma parte do corpo 
(coração) que representa os sentimentos do menino com relação à cena, a qual 
seria o domínio-alvo; já o domínio-fonte seria uma estrutura conhecida, a carne 
fresca tem sangue, para projetar a situação vivida. 
A metáfora é convencionada, sistematizada e assimétrica, ou seja, é 
possível renovar os significados por meio de mecanismos de recontextualização, 
estabelecer mais de um campo de associação e provocar transferência de um 
conceito para outro. Isso implica na criação de novos sentidos, de ajustamento 
dos significados, de transporte de significações. 
(6) Vejamos a transferência de significados na matéria jornalística do Portal Carta 
Maior, publicado por Le Yéti, do Politis.fr, no dia 2 de setembro de 2015. 
Buraco negro sistêmico: o epicentro da tempestade ainda está no Ocidente
Similar em intensidade ao terremoto financeiro de 2008, o novo abalo teve início 
na China, mas é o coração do Ocidente que está no centro da tormenta
 
É possível evidenciar na matéria uma transposição dos significados de um 
contexto para outro. O jornalista busca em um assunto da época sobre a energia 
expelida por um corpo celeste, conhecido como buraco negro (disponível em: 
https://bit.ly/32geik2), e cria ajustamentos necessários para a compreensão do seu 
texto acerca da crise financeira pelo leitor. Os significados dos vocábulos "sistêmico, 
epicentro, intensidade, abalo, tempestade, terremoto, tormenta" são reatualizados 
no contexto da notícia, passando a evocar e exprimir, de modo diferente, imagens 
da crise e da instabilidade mundial veiculadas pelo buraco negro.
 Como comenta Marques (2001, p. 157), “[...] a metáfora é considerada 
a utilização de uma palavra em lugar de outra por associação mental entre os 
significados de duas formas”, nesse caso, crise mundial e buraco negro, ambos 
destruidores. Essa transferência de significado é ajustada pelos falantes ao contexto 
e à situação comunicativa. Embora estejamos apontando para a transposição do 
significado a partir do léxico, a alteração realizada se dá em toda estrutura do 
enunciado. A metáfora está presente em uma série de palavras que produzem 
sentidos polissêmicos como o verbo "virar" que envolve ideias distintas. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
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• Mudança sobre o próprio eixo: o carro virou na entrada da cidade. 
• Mudança de orientação: o carro virou a esquina e parou. 
• Mudança de estado: o sapo virou um lindo príncipe. 
• Mudança de vida: ao virar um adulto, as reponsabilidades serão maiores. 
Esses exemplos demonstram o quanto a metáfora revela-se relevante para 
a compreensão de nossas experiências cotidianas, observando nossas trajetórias 
e o movimento de outras entidades no mundo. A metáfora não está atrelada a 
palavras isoladas, mas a procedimentos discursivos, pois é no enunciado que os 
sentidos se atualizam. 
Achou interessante a discussão? No Tópico 2, Subtópico 3.2 ampliaremos 
esta temática na abordagem mentalista.
5.2 METONÍMIA 
Assim como a metáfora, a relevância da metonímia está na compreensão 
da linguagem e do mundo. Ullmann (1964, p. 252) declarou que “[...] uma língua 
sem metáfora e sem metonímia é inconcebível: essas duas forças são inerentes à 
estrutura básica da fala humana”. Ullmann (1964) acrescenta que o processo de 
transferência do significado na metonímia é muito importante para a história do 
léxico, pois, no plano discursivo, é utilizado para fornecer novos significados que 
estão baseados em relações de espaço e tempo, assim como a causa pelo efeito, o 
efeito pela causa, o nome pela coisa, a bandeira pela pátria, entre outros. 
Diferente da metáfora e sua relação com dois domínios que não são 
parte de um mesmo domínio-matriz, a metonímia envolve mais que o processo 
puramente linguístico. Esse fenômeno metonímico se dá apenas em um domínio, 
ou seja, há uma parte relevante que se destaca e coloca em evidência a informação 
mais relevante. 
(7) A propaganda das Havaianas ilustra o papel da metonímia nos processos 
cognitivos. 
FIGURA 2 – SANDÁLIA HAVAIANAS
FONTE: <https://comuniquec.files.wordpress.com/2009/08/havaianas1.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2019.
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
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O termo linguístico "pezinho" exemplifica a metonímia quando toma a 
parte do corpo pelo todo. "Pezinho" é tomado como a própria pessoa que, ao usar a 
sandália Havaianas na cidade, consegue ter a liberdade propiciada pelo ambiente 
praiano. O esquema imagético da palavra “pezinho” ativa um conhecimento 
necessário para a compreensão da relação praia-liberdade/havaianas/liberdade. 
Esse processo cognitivo viabiliza a ideia de tomar alguns aspectos da parte para 
a compreensão da totalidade. 
Mais uma vez os estudos cognitivos apresentam um relevante 
conhecimento sobre os processos de significação ao distinguirema metáfora da 
metonímia. Para Lakoff e Turner (1989, p. 36), a “[...] metáfora é, principalmente, 
uma forma de ver uma coisa em termos de outra” e “[...] os conceitos metonímicos 
nos permitem conceituar uma coisa por meio de sua relação com outra coisa” 
e esses conceitos “[...] estruturam não apenas nossa linguagem, mas nossos 
pensamentos, atitudes e ações”. 
Enquanto a metáfora constitui o lugar da inovação, da transferência entre 
domínios e polissemias, múltiplas interpretações possíveis para uma compreensão 
do mundo de formas mais simples e naturalizadas, a metonímia seria o lugar 
do referente, da coexistência, de interdependência. A metáfora lida com dois 
domínios e múltiplos mapeamentos, conforme já apontamos no Subtópico 5.1, a 
metonímia lida apenas com um domínio e um mapeamento. Ambas contribuem 
para a compreensão do funcionamento e compreensão dos textos. A metáfora, de 
forma mais didática, e a metonímia, de forma mais concisa. 
(8) Vejamos alguns exemplos de transferência de significado metonímico. 
a. Fiat quer se unir à Renault para enfrentar as gigantes Toyota e Volkswagen. 
b. EUA vai ou não na Casa Branca? Alex Morgan diz que decisão será coletiva.
Como se constrói a metonímia nesses exemplos? Para que se criam essas 
metonímias? A metonímia é um mecanismo de construção e de organização dos 
significados no discurso, de encadeamentos dos sentidos. 
• Em (8.a), Fiat, Renault, Toyota e Volswagen temos uma metonímia porque há 
uma relação de coexistência entre as marcas e a direção que cada uma delas 
representa, ou seja, promove-se o realce dos domínios especificados no nome 
das empresas. O ponto de referência, as marcas das empresas permitem o 
acesso às outras entidades, nesse caso, a direção destas mesmas empresas, 
responsáveis pela proposta de fusão. 
• Em (8.b), temos um caso de metonímia quando um termo é substituído por 
outro, estabelecendo uma relação da parte pelo todo. As palavras EUA e Casa 
Branca são utilizadas em lugar de seleção de futebol americana e da residência 
oficial, bem como local de trabalho do presidente americano. Portanto, o uso 
dessas palavras evidencia, nesse caso, o que o jornalista considerou essencial 
para a notícia e para chamar a atenção do leitor. É uma ponte de sentidos que 
se constrói entre as palavras e as ideias, sendo compreendidas pelo leitor ao 
tomá-las no plano discursivo. 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
24
Vamos a um outro desafio!
 Observe, em seu cotidiano, como as metáforas e metonímias se fazem presentes 
em textos publicitários, jornalísticos, científicos e em suas relações sociais. 
 Faça uma listagem dessas construções semânticas e observe como são relevantes 
para estruturar nossos pensamentos e ações. 
IMPORTANT
E
6 TIPOLOGIA DAS RELAÇÕES DE SIGNIFICADO
Os estudos tradicionais tratavam as relações de significado 
apenas entre as palavras, em nível paradigmático, sem levar em 
consideração os aspectos semânticos e sintagmáticos. A tarefa na atualidade é 
incorporar as significações à ciência da linguagem e ultrapassar a identificação 
de regularidades de um objeto de estudo descontextualizado. O estudo das 
relações das significações deve se dar com a linguagem em uso, pois o sentido 
ultrapassa o texto e amplia-se a partir do conhecimento de mundo, informações 
compartilhadas, cultura, crenças e valores presentes em uma comunidade. Como 
entender essas relações de significado? Como tratar essas relações de sentido? 
Um dos caminhos para essa compreensão é descrever os tipos de relações 
semânticas que atravessam o léxico a partir de um contexto e atribuir a eles 
denominações específicas como sinonímia e paráfrase, antonímia e contradição, 
ambiguidade e vagueza. Ou seja, demonstra-se que os significados da língua 
não se encerram em um contexto dicionarizado, mas na vida social, cultural e 
histórica como vimos no Tópico 4 – Mudanças semânticas. 
6.1 SINONÍMIA – PARÁFRASE
As relações de significado podem ser tratadas a partir de mecanismos 
semânticos, como a sinonímia, relacionada às palavras ou expressões e a paráfrase, 
relacionada aos sentidos entre frases. A sinonímia e a paráfrase são fenômenos 
linguístico-discursivos e, para que uma palavra seja sinônima de outra, é preciso 
que, além de terem a mesma referência, tenham o mesmo sentido. Em outros 
termos, “[...] duas palavras são sinônimas sempre que podem ser substituídas no 
contexto de qualquer frase sem que a frase passe de falsa à verdadeira, ou vice-
versa” (ILARI; GERALDI, 2006, p. 44-45). O que é ter o mesmo sentido? Será que 
basta substituir a palavra por outra encontrada no dicionário como sempre nos 
orientaram a fazer? Existem sinônimos perfeitos? 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
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Segundo Bloomfield (1984, p. 145), “[...] cada forma linguística tem um 
significado constante e específico. Se as formas são foneticamente diferentes, 
supomos que seus significados também sejam diferentes. Supomos, em resumo, 
que não há verdadeiros sinônimos”, como em (a) Sei que o caminho é longo, mas 
lutarei sempre; (b) O caminho é longo até minha casa. Nesses casos, os sentidos da 
palavra "longo" são construídos apenas quando contextualizados, ou seja, em (a) o 
significado é sofrido, penoso, árduo e em (b) o sentido é extenso, longo, demorado. 
Há também aquelas palavras cuja configuração fonêmica é distinta 
como em pueril/infantil, achar/encontrar. Podemos considerá-las sinônimos? 
Incialmente, podemos concluir que sim, pois o dicionário Michaelis on-line 
aponta como sinônimas. 
(9) Vamos observar um determinado contexto em que isso não se sustenta: 
a. Gari encontra bolsa com mais de mil reais. 
b. Mãe acha o filho roubado há 38 anos no Gama.
Se trocarmos as palavras "encontra" e "acha" em (9.a) e (9.b), alteramos os 
sentidos, uma vez que, semanticamente, o gari, ao encontrar a bolsa, não estava 
a sua procura. Ele, casualmente, a encontrou. Já no caso da mãe, estava em busca 
de algo que perdeu, nesse caso, o filho. Sacconi (2005), gramático e dicionarista, 
adverte que convém não confundir os significados dessas duas palavras achar/
encontrar.
Ullmann (1964) afirma que existem poucas palavras que são completamente 
sinônimas e cita a linguagem técnico-científica que não pode ter ambiguidade ou 
os sinônimos absolutos quando as palavras podem ser intercambiáveis em todo 
contexto, como no exemplo adaptado de Ilari e Geraldi (2006): 
(10) a. Toda menina pode ser o que quiser. 
 b. Toda garota pode ser o que quiser. 
(11) a. A polícia prendeu a quadrilha. 
 b. A quadrilha foi presa pela polícia. 
Em (10.a) e (10.b), temos as palavras "menina" e "garota" com o mesmo 
significado, pois referem-se ao mesmo conteúdo. Na sentença ativa (11.a) 
e passiva (11.b), há paráfrases. No entanto, em outro contexto, a sinonímia se 
dissolve como nesse exemplo.
(12) A garota não gosta de ser chamada de menina pela mãe. 
Com relação à paráfrase ou sinonímia de conteúdo, é preciso que uma 
sentença como (a) seja uma paráfrase de (b), quando (a) e (b) forem intercambiáveis. 
Em uma perspectiva discursiva, o falante restaura (de forma fiel ou em partes) a 
ideia do texto-fonte e a reformula em um outro texto com alguns deslizamentos 
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
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ou deslocamentos dos significados. Além disso, a paráfrase se constitui em 
uma reprodução ou deformação do conteúdo, sendo a reformulação do texto 
caracterizada pelo emprego metalinguístico. 
(13) Vejamos este exemplo de Cançado (2012, p. 49): 
a. Aquelas mulheres do canto estão chamando. 
b. Aquelas senhoras do canto estão chamando. 
c. Aquelas damas do canto estão chamando. 
Em uma situação determinada, é possível, tomando (13.a) como fonte, 
evidenciar que as outras duas sentenças, (13.b) e (13.c), são reformuladas a partir 
de uma metalinguagem em que se usam palavras sinônimas senhoras e damas 
para falar sobre o mesmo tema, mas, é possível que essas sentenças deixem deser 
sinônimas se, por exemplo, a palavra damas não for aceita no contexto em que 
foi enunciada, pois, em alguns grupos, não carrega sentidos positivos e, se isso 
ocorrer, a paráfrase não se atualiza. 
(14) a. Pedro é um cão.
 b. Pedro é um cachorro. 
Se não há sinônimos perfeitos entre palavras, também não há sinonímia 
perfeita entre sentenças. Contextualizando as sentenças, em (14.a), "Pedro é um 
cão" significa uma pessoa irrequieta, levada, travessa, em (14.b), "Pedro é um 
cachorro" significa uma pessoa sem caráter, safada. Assim, o sentido das palavras 
depende do contexto em que elas estão inseridas e o sentido das sentenças, de um 
contexto mais amplo como o texto. 
(15) Observe a charge a seguir: 
FIGURA 3 – CHARGE
FONTE: <http://www.cljornal.com.br/wp-content/uploads/2015/04/jp-nReal7af6e19fe3962470f
c508d931ed6f28c.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2019.
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
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Essa charge (15) foi produzida em 2013 e publicada na página de Carlos 
Lima em referência a um desvio de verbas por uma empresa multinacional na 
construção do metrô paulista. A ideia apresentada, durante a charge, na conversa 
entre avô e neto, evidencia o tratamento dado pela escola que desvincula o 
fenômeno linguístico do linguístico-pragmático. A pergunta do neto em “É 
tudo a mesma coisa?” com relação às palavras cartel, gang, tucano, quadrilha, 
privataria aponta para a questão da possibilidade de haver sinônimos perfeitos 
ou absolutos. Esse desconhecimento de que essa categoria é rara na Língua 
Portuguesa e de que não há uma identidade nos significados de duas ou mais 
palavras, materializa-se na fala do avô quando diz que “Mesma coisa não digo”. 
No entanto, essa expressão do avô não se refere à sinonímia, mas à ideia 
pragmática ao uso que se faz dessas palavras em diferentes contextos. Quando 
ele diz “que sejam ‘sinônimos’”, o avô não está se referindo à sinonímia, mas 
às relações de sentido existentes entre as palavras que convergem para um só 
discurso, o de cartel, de envolvimento, de objetivos comuns em relação ao desvio 
de verba. Portanto, a substituição destas palavras – umas pelas outras – vai alterar 
seu valor de verdade. Alterando esse valor, alteram-se suas relações de sentido. 
6.2 ANTONÍMIA – CONTRADIÇÃO
A antonímia e a contradição se definem a partir das relações de sentido, 
como oposição entre palavras e entre sentenças, respectivamente. Quando 
pensamos em antonímia, a ideia é de oposição ou contrário, mas nem sempre esse 
é um fator preponderante entre duas palavras por não envolver, necessariamente, 
uma contradição. O que significa um termo oposto e um termo contraditório? 
Quais as implicações desses conceitos para a compreensão da antonímia e da 
contradição? 
No tópico sobre sinonímia, afirmamos que nas línguas naturais não 
havia sinônimos perfeitos. Com relação à antonímia, também não há antônimos 
perfeitos. Esse fenômeno semântico é um tanto complexo, pois a ideia de 
“oposição” não se aplica apenas a termos cujos sentidos se anulam, mas também 
a termos nos quais os sentidos podem ser descritos como complementaridade, 
antonímia e reciprocidade. 
A complementaridade se dá entre pares de palavras de forma que, no 
uso dos termos, a afirmação de uma palavra implica a negação de outra. Se 
alguém está morto, necessariamente, não está vivo. As palavras estão em posição 
contrária como nos exemplos a seguir. 
(16) Marta é solteira – implica – Marta não é casada. 
(17) Aquele inseto é macho – implica – Aquele inseto não é fêmea.
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS
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Quanto à antonímia, de acordo com Lyons (1980), há uma oposição e 
gradação por excelência. Há uma escala de valores e, se algo está quente, não 
implica que esteja frio, pode estar morno, menos quente. Tudo depende do 
contexto. 
(18) Observe a fala do técnico Heimar Hallgrimsson, da Islândia, durante a copa 
do mundo no Brasil. 
“Difícil jogar com esse calor”. 
A temperatura a que o técnico, no texto (18) se referia era 28 oC, que para 
o Brasil não é uma temperatura quente, mas para o time da Islândia, acostumado 
à temperatura média de 10 oC, estava quente. Nesse caso de antonímia, a relação 
vai do mais quente ao mais frio, passando por outros valores que podem ser 
combinados com muito quente, meio frio e um pouco quente. 
A reciprocidade é a relação que se estabelece entre termos opostos que 
podem ser permutados e seu sentido não se altera. Se A implica B, B implica A. 
(19) “Certa ocasião perguntou a Sérgio Buarque de Holanda se o Chico Buarque 
era filho dele e ele respondeu: — Não, o Chico não é meu filho, eu é que sou 
o pai dele” (PINHEIRO, 1994, s.p.).
Se Chico é filho de Sérgio implica que Sérgio é pai de Chico. Mesmo em 
ordem inversa, a relação é a mesma, a relação é recíproca. E quanto à contradição, 
o que significa dizer que os sentidos são contraditórios? 
• Quando dois fatos não puderem ser realizados ao mesmo tempo.
• Quando duas sentenças não puderem ser verdadeiras ao mesmo tempo.
• Quando uma situação não for possível de ser verdadeira. 
Em "Paulo está nervoso" e "Paulo está calmo" temos sentenças 
contraditórias, visto que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Nesse 
verso de Camões (1973, p 119): “É ferida que dói e não se sente”, também, temos 
uma sentença contraditória, uma vez que não pode ser verdade e não há uma 
situação possível de ser descrita nesses termos. Pragmaticamente, no uso que se 
faz da língua, é possível encontrarmos contradições que exprimem informações 
além do que está na sentença, como em "Maria é casada e não é". Essa imprecisão 
semântica evidencia sentidos de contradição, por exemplo, de que Maria é casada, 
mas o marido nunca está presente. Então, é como se não fosse casada. 
TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA
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6.3 AMBIGUIDADE – VAGUEZA
Já estudamos em 6.1 as relações de sentido entre sinonímia e paráfrase e em 
6.2 as relações que atravessam a antonímia e a contradição. Antes de encerrarmos 
o Tópico 1, estudaremos a ambiguidade e a vagueza, dois fenômenos semânticos 
que se associam a textos abertos a múltiplos sentidos, utilizados no cotidiano, 
propaganda, piada, poesia, notícia, entre outros. 
A ambiguidade é a possibilidade de uma palavra ter mais de um 
significado e surgir de vários modos em uma situação linguística. Muitas vezes, 
a ambiguidade produz efeitos que podem levar à falta de compreensão de uma 
situação, pois como diz Oliveira (2008, p. 109), “[...] a ambiguidade é um fenômeno 
de mão única”, porque não está atrelada ao falante ou autor, mas ao ouvinte ou 
leitor. Por isso, para a compreensão de uma palavra, de uma expressão, de uma 
sentença e de um texto, precisamos considerar o contexto discursivo. 
(20) Vamos observar este anúncio produzido pela ROLEX. 
FIGURA 4 – RELÓGIO ROLEX
FONTE: <https://www.facebook.com/PublicitariosCriativos/photos/a.585164194835486/692135
317471706/?type=3&theater>. Acesso em: 11 ago. 2019.
A ambiguidade presente no texto (20) está nas palavras pulso e morto, ou 
seja, na dupla interpretação que incide sobre estes itens. Em "pulso" temos a ideia 
de relógio e não da parte do corpo. É preciso que o leitor ative seu conhecimento 
acerca da marca que está no pulso de celebridade e pessoas ricas e, se o seu 
relógio não está sendo notado, deve-se ao fato de não ser um relógio desta marca. 
Portanto, a peça não é qualquer relógio, mas um Rolex que vai associar você ao 
luxo, notoriedade e não será considerado um morto socialmente. 
A ambiguidade pode se dar, então, a partir de três fatores: fonética, 
gramatical e lexical (ULLMANN, 1964). A ambiguidade fonética ocorre quando o 
falante pronuncia uma palavra ou grupo de palavras que forma uma homonímia. 
Já estudamos sobre a homonímia no Tópico 3, Percurso histórico: considerações 
gerais.
Ilari e Geraldi (2006, p. 57) afirmam que “[...] a homonímia é frequentemente 
a raiz de uma ambiguidade ou dupla leitura de frases”.
UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO,

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