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Indaial – 2020 Semântica e eStilíStica Prof.a Carmen Brunelli de Moura 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2020 Elaboração: Prof.a Carmen Brunelli de Moura Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: M929s Moura, Carmen Brunelli de Semântica e estilística. / Carmen Brunelli de Moura. – Indaial: UNIASSELVI, 2020. 228 p.; il. ISBN 978-85-515-0451-2 1. Estilo literário. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 001 III apreSentação A área de estudos da linguagem tem ampliado suas fronteiras na busca de dar uma visibilidade maior ao seu objeto de estudo. A Semântica, a Pragmática e a Estilística são disciplinas que procuram delimitar seu espaço, isso se deve principalmente à própria definição de significado, sentido e estilo. Ambas foram deixadas por um tempo às margens da Linguística, por estarem atreladas ao contexto filosófico e literário. Para que os estudos semânticos, pragmáticos e estilísticos voltem a ocupar um lugar de destaque entre as pesquisas em línguas naturais, é preciso considerar sua heterogeneidade, dinamicidade e caráter polissêmico, compreendendo que há vários caminhos científicos para se estudar os sentidos produzidos na enunciação, assim como o estilo que deve ser evidenciado no trabalho de escolhas realizado pelo sujeito. Esses caminhos não se esgotam neste livro, mas se configuram no cenário escolhido para apresentar a relevância dessas disciplinas, os temas principais, autores mais importantes de cada área de estudo. Além de oferecer os instrumentos iniciais necessários para definir a direção a ser tomada pelos leitores. Na Unidade 1, abordaremos o campo de estudos da Semântica e sua heterogeneidade, situando a Semântica no campo de estudos linguísticos, delineando a evolução e a história dos estudos do significado, assim como a distinção entre significado e sentido. Além de tratarmos da heterogeneidade semântica nas abordagens referencial, mentalista e pragmática. Na Unidade 2, analisaremos o significado e o sentido nas situações comunicativas, reconhecendo os aspectos semânticos e pragmáticos na construção dos sentidos e descrevendo o sistema de escolha e sua contribuição na coesão discursiva. O caráter performativo da linguagem será identificado nos atos de fala no campo pragmático e o texto, que não poderia deixar de ser abordado, será tratado como unidade de sentidos. Na Unidade 3, descreveremos os conceitos de estilo e as abordagens estilísticas na compreensão dos efeitos de individuação e de um trabalho de escolhas construídos no uso concreto da linguagem. As figuras de linguagem serão reconhecidas por seu potencial expressivo e subjetivo presentes nas palavras, frases e enunciação. Todas as unidades tratam do uso da língua e não há uma chave de controle dos sentidos produzidos pela leitura. O que há, neste livro, é uma organização da leitura que permitirá a compreensão de conceitos que evidenciarão uma releitura, uma análise efetivamente nova e uma renovação no olhar para a Semântica, a Pragmática e a Estilística. IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! NOTA Esperamos que as reflexões propostas, os exemplos, as atividades, as dicas e as orientações de leitura permitam dinamizar seus saberes com relação a estas disciplinas para subsidiar suas pesquisas na vida acadêmica e profissional. Boa leitura e bons estudos! Prof.a Carmen Brunelli de Moura V Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos! UNI VI VII Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento. Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo. Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada! LEMBRETE VIII IX UNIDADE 1 – A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS ..............1 TÓPICO 1 – O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA ...............................................................3 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................3 2 SIGNIFICADO: OBJETO DE ESTUDO DA SEMÂNTICA ...........................................................5 3 PERCURSO HISTÓRICO: CONSIDERAÇÕES GERAIS ..............................................................9 4 MUDANÇAS SEMÂNTICAS: CAUSAS .........................................................................................14 4.1 LINGUÍSTICAS ................................................................................................................................15 4.2 HISTÓRICAS ...................................................................................................................................16 4.3 SOCIAIS ...........................................................................................................................................17 5 TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO ..........................................................................................19 5.1 METÁFORA .....................................................................................................................................20 5.2 METONÍMIA ...................................................................................................................................22 6 TIPOLOGIA DAS RELAÇÕES DE SIGNIFICADO ......................................................................24 6.1 SINONÍMIA – PARÁFRASE ..........................................................................................................24 6.2 ANTONÍMIA – CONTRADIÇÃO .................................................................................................27 6.3 AMBIGUIDADE – VAGUEZA.......................................................................................................29 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................33 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................34 TÓPICO 2 – A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA......................................................................37 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................37 2 A NOÇÃO DE SIGNIFICADO E SENTIDO ...................................................................................39 3 ABORDAGENS TEÓRICAS...............................................................................................................42 3.1 ABORDAGEM REFERENCIAL .....................................................................................................42 3.1.1 Referência e sentido ................................................................................................................44 3.1.2 Implicações ...............................................................................................................................46 3.2 ABORDAGEM MENTALISTA .......................................................................................................51 3.2.1 Papéis temáticos ......................................................................................................................52 3.2.2 Metáforas conceituais .............................................................................................................54 3.3 ABORDAGEM PRAGMÁTICA .....................................................................................................57 3.3.1 Inferências.................................................................................................................................59 3.3.2 Implicaturas conversacionais ................................................................................................62 LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................66 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................71 AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................72 UNIDADE 2 – HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA......................................................................75 TÓPICO 1 – SIGNIFICADO E USO ....................................................................................................77 1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................77 2 ASPECTOS SEMÂNTICOS E PRAGMÁTICOS DA LÍNGUA PORTUGUESA ....................81 2.1 OS JOGOS DE LINGUAGEM .......................................................................................................81 Sumário X 3 O SIGNIFICADO NO SISTEMA DE ESCOLHA E COESÃO DISCURSIVA ..........................94 3.1 RELAÇÕES SINTAGMÁTICAS ....................................................................................................95 3.2 RELAÇÕES PARADIGMÁTICAS .................................................................................................99 4 ATOS DE FALA E USO DA LÍNGUA ...........................................................................................103 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................112 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................113 TÓPICO 2 – O SENTIDO NAS SITUAÇÕES COMUNICATIVAS .............................................115 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................115 2 RELAÇÕES DE SENTIDO ...............................................................................................................117 2.1 NÍVEL LEXICAL ............................................................................................................................119 2.2 NÍVEL FRASAL .............................................................................................................................122 2.3 NÍVEL DISCURSIVO ....................................................................................................................126 3 TEXTO: UNIDADE DE SENTIDO ..................................................................................................131 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................136 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................141 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................142 UNIDADE 3 – A ESTILÍSTICA: DISCURSO E SUBJETIVIDADE .............................................145 TÓPICO 1 – NOTAS SOBRE ESTILÍSTICA E ESTILO .................................................................147 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................147 2 ESTILO E ESTILÍSTICA....................................................................................................................149 2.1 ESTILÍSTICA DA LÍNGUA ..........................................................................................................151 2.2 ESTILÍSTICA LITERÁRIA ............................................................................................................157 3 CONCEPÇÃO DE ESTILO ..............................................................................................................161 3.1 ESTILO COMO DESVIO ...............................................................................................................162 3.2 ESTILO COMO EXPRESSIVIDADE ..........................................................................................165 3.3 ESTILO COMO TRABALHO .......................................................................................................167 4 ESTILO E RETÓRICA ........................................................................................................................172 5 FIGURAS RETÓRICAS .....................................................................................................................175 5.1 FIGURAS DE PALAVRAS (SOM) ...............................................................................................179 5.2 FIGURAS DE SENTIDO ..............................................................................................................182 5.3 FIGURAS DE CONSTRUÇÃO OU DE SINTAXE ....................................................................187 5.4 FIGURAS DE PENSAMENTO ....................................................................................................191 RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................195 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................196 TÓPICO 2 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTILO .....................................................................199 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................199 2 AS ESTILÍSTICAS ..............................................................................................................................2002.1 ESTILÍSTICA DO SOM .................................................................................................................202 2.2 ESTILÍSTICA DA PALAVRA .......................................................................................................204 2.3 ESTILÍSTICA DA FRASE (SINTÁTICA) ....................................................................................206 2.4 ESTILÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO ..............................................................................................207 3 ESTILO E EFEITOS DE SENTIDO .................................................................................................210 LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................212 RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................216 AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................217 REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................221 1 UNIDADE 1 A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • situar a semântica no campo dos estudos linguísticos; • delinear um panorama histórico e evolutivo acerca dos estudos do significado; • relacionar, na ciência das significações, as causas das mudanças semânticas; • identificar as transferências e relações de sentido nas formas linguísticas; • reconhecer a diferença entre a noção de significado e de sentido; • distinguir, na heterogeneidade semântica, as principais características e objeto de estudo de investigação. Esta unidade está dividida em dois tópicos. No decorrer da unidade, você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA TÓPICO 2 – A HETEROGENEIDADE SEMÂNTICA Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações. CHAMADA 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 1 INTRODUÇÃO O que é significado? O que é sentido? Será que temos duas expressões sinônimas ou vamos encontrar uma multiplicidade de respostas que serão divergentes, diversificadas e imprecisas? E o que falar sobre Semântica? Ou seria, Semânticas? Nesta unidade, nossa tarefa é situar a Semântica nos estudos linguísticos para compreender seu objeto de estudo e sua complexidade, dinamicidade e caráter polissêmico nas mais diversas situações presentes nas relações sociais. Além disso, um passeio pelo percurso histórico do campo dos estudos semânticos vai nos levar a entender que motivações levam às mudanças nos significados das palavras. Por que palavra como “fazenda”, que apontava para as coisas que deveriam ser realizadas por uma pessoa, passa, na atualidade, a significar, entre outras acepções, grande propriedade rural ou tecido? São essas mudanças semânticas que podem se dar por causas históricas, linguísticas e sociais, que vamos observar nas palavras a partir de uma transferência ou ajustamento dos sentidos que possibilitará a compreensão de novos enunciados em contextos distintos. É no discurso, ou seja, no uso que o sujeito faz das palavras ou expressões que seus sentidos se atualizam e passam a ser definidos. Não podemos construir sentidos partindo apenas das palavras, mas das ideias que elas expressam. O enunciado (oral, escrito, de múltiplas semioses) pressupõe sempre a situação de enunciação - (i) quem enuncia; (ii) a quem se dirige; (iii) onde ocorre; (iv) quando ocorre. O enunciado, revelado na materialidade linguística, é uma realidade do discurso. É o produto da enunciação. FONTE: Adaptado de <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/enunciacao- enunciado>. Acesso em: 1o nov. 2019. IMPORTANT E UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 4 No Blog Sobre Palavras, Sérgio Rodrigues discute, em uma postagem publicada em 1º de junho de 2015, se as expressões “em palpos de aranha” e “em papos de aranha” apresentam o mesmo sentido. O jornalista assinala que a carga semântica é diferente, pois, na primeira, essa carga significa “estar em apuros” e, na segunda, evidencia um processo de “estar satisfeita”, “com o papo cheio”. Escritores como Camilo Castelo Branco, Aluísio Azevedo e Luís da Câmara Cascudo defenderam a expressão “papos de aranha”, alegando que o uso popular se sobrepôs ao erudito. No entanto, ainda podemos encontrar os dois sentidos coexistindo de forma harmônica. Para ler na íntegra a discussão empreendida pelo jornalista em seu blog, acesse o site: https://veja.abril.com.br/blog/sobre-palavras/em-palpos-de-aranha-ou-em- papos-de-aranha/. NOTA Michel Bréal (1992) traduz essa complexidade lexical e corrobora com a ideia de que, a partir da língua, interpretamos o mundo e atribuímos sempre novos sentidos a ele. De acordo com esse semanticista, em seu Ensaio de Semântica: O sentido novo, qualquer que seja ele, não acaba com o antigo. Ambos existem um ao lado do outro. O mesmo termo pode empregar-se alternativamente no sentido próprio ou no sentido metafórico, no sentido restrito ou no sentido amplo, no sentido abstrato ou no sentido concreto (BRÉAL, 1992, p. 103). É esse comportamento linguístico e a coexistência entre o novo e o velho que permite evidenciar que as palavras podem ser positivas ou negativas e assumir significados diferentes. Em outros termos, as palavras podem ser semelhantes em sua forma, mas distintas em seus valores. Essa mudança de sentidos poderá ser abordada sob três aspectos: referencial, mentalista e pragmático, linhas que orientam as pesquisas semânticas que abordaremos no Tópico 2 desta unidade. É com base nessas temáticas, que serão desenvolvidas ao longo desta unidade, que convidamos você, acadêmico, a aprofundar seus estudos acerca de Semântica nas discussões aqui apreendidas. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 5 "Se é verdade, como se pretendeu, algumas vezes, que a linguagem é um drama em que as palavras figuram como atores e em que o agenciamento gramatical reproduz os movimentos dos personagens, é necessário pelo menos melhorar essa comparação por uma circunstância especial: o produtor intervém frequentemente na ação para nela misturar suas reflexões e seu sentimento pessoal, não à maneira de Hamlet que, mesmo interrompendo seus atores, permanece alheio à peça, mas, como nós mesmos fazemos no sonho, quando somos ao mesmo tempo espectador interessado e autor dos acontecimentos. Essa intervenção é o que proponho chamar o aspecto subjetivo da linguagem" (BRÉAL, 1992, [1904], p. 157). ATENCAO 2 SIGNIFICADO: OBJETO DE ESTUDO DA SEMÂNTICA Na introdução desta unidade, problematizamos o que era significado e sentido e se essas expressões eram sinônimas ou divergentes. Começamos a encaminhar essa problematização com a discussão de Sergio Rodrigues no momento em que as expressões estudadas têm valores diferentes em vista do uso concreto da língua – contextualizado. No entanto, o reconhecimento da diferença entre a noção de significado e sentido será abordado no Tópico 2, desta unidade. A compreensão desses termos é relevante para a distinção entre os estudos semânticos e pragmáticos e para a compreensão da significação na heterogeneidade semântica. Então, vamos nos deter ao significado e compreender a sua complexidade e as controvérsias presentes em seu estudo. Katz já havia apontado, em 1972, que seria preciso definir a noção de significado para que uma teoria semântica fosse considerada por todos os estudiosos. Ele assevera que muitos concordam que a Semântica estuda o significado e que a questãobásica dos estudos semânticos é saber o que é o significado. No entanto, ele afirma que a concordância termina neste ponto e: [...] começam as controvérsias intermináveis sobre que tipo de coisa é o significado. Há discordância sobre questões de todos os tipos, incluindo a questão fundamental sobre se nós podemos fazer algo com o conceito de significado ou se estaríamos melhor sem ele. [...] a questão “O que é significado” não admite uma resposta direta do tipo “é isso ou aquilo”; sua resposta é, ao contrário, uma teoria inteira (KATZ, 1972, p. 1, tradução nossa). Katz (1972) traz para sua fala a heterogeneidade semântica ao justificar que o significado é linguístico. Bréal (1992), em seu Ensaio de Semântica, afirma, sob o ponto de vista linguístico, que as mudanças sincrônicas sofridas pelas palavras se constituíam em objeto da Semântica e que as respostas aos significados só UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 6 poderiam ser dadas pela história. Já Bloomfield, um estruturalista americano, definia o significado “[...] como a situação na qual o falante a enuncia e a resposta que ela evoca no ouvinte” (BLOOMFIELD, 2001 apud MARQUES, 2001, p. 46), ou seja, influenciado pelo behaviorismo, significado seria a relação estímulo- resposta entre falante e ouvinte. O Behaviorismo é uma área da Psicologia cujo objeto de estudo é o comportamento humano e a possibilidade de influenciar o indivíduo a partir de estímulos. Destacam-se Watson, Wittgenstein e Ryle. Na educação, sua contribuição foi no campo da linguagem com Skinner. Atualmente, oferece suporte para metodologias de coaching. Complemente esse assunto assistindo ao vídeo Behaviorismo: metodológico e radical. FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=ipHFpXAgjiA>. Acesso em: 4 ago. 2019. DICAS Essa indefinição acerca do objeto da Semântica traz outras discussões para o panorama do significado. Isso não se deve à falta de consenso entre os estudiosos. Ao contrário, abrem-se espaços para se pensar o léxico, as condições de verdade, os atos de fala e a enunciação. Isso aponta para a heterogeneidade do campo semântico que, atualmente, está ancorado, por exemplo, na semântica argumentativa, cognitiva, computacional, cultural, da enunciação, dos protótipos, formal, lexical, diacrônica, sentencial, proposicional, estrutural, gerativa, funcional, do discurso, entre outras. Lyons (1997), em vista dessa diversidade e de os linguistas não chegarem a um consenso quanto à questão “O que é significado?”, propõe um deslocamento para “Qual o significado de ‘significado’?”. John Lyons (1932), linguista britânico, ficou famoso por seu trabalho com a Semântica ao publicar Structural Semantics (1963), Semantics (1977) e Lingua(gem) e Linguística – uma introdução, obra que aborda uma introdução geral à linguística e ao estudo da linguagem. NOTA TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 7 Isso responderia de forma “satisfatória” ao problema do significado, pois este permeia a linguagem, e a Semântica ainda é uma teoria em construção com um caráter plural. A noção de significado também tem esta mesma característica e não podemos pensar que isso é algo desanimador. Isso é um desafio para os estudiosos da área que encontram, em outros campos do conhecimento, subsídios para a compreensão do funcionamento das línguas naturais. Vamos compreender, na prática, essa discussão e como funciona a língua. Analisaremos uma das “pérolas” enunciadas por Vicente Matheus, que foi presidente do Clube Corinthians nos anos 1980, e mereceu um artigo de Pasqualle Cipro Neto em sua coluna no jornal Folha de São Paulo. (1) “O Sócrates é inegociável, invendável e imprestável" (Vicente Matheus). Por que a expressão “imprestável” se tornou uma pérola da Língua Portuguesa? Para começar, consultamos o site da Academia Brasileira de Letras, a palavra “imprestável” está registrada como um adjetivo. Em dois dicionários on-line a palavra é descrita como: • Que não tem mais serventia; inútil [Antôn.: útil.] Diz-se de pessoa que não ajuda os outros, que não é prestativa (AULETE, c2021, s.p.). • Que não presta; que não tem préstimo; ineficiente, inútil, vão. Diz-se de ou pessoa que não tem prestabilidade ou prestimosidade alguma: um profissional imprestável. Consideram-no um imprestável (MICHAELIS, c2021, s.p.). Seria esse o tratamento dispensado pelo presidente do Corinthians ao grande jogador Sócrates? Por que ele tomou a língua em seu sentido literal, dicionarizado? Ao enunciar “inegociável” e “invendável”, em (1), Vicente Matheus tomou por analogia a palavra “imprestável”, com o sentido de que o jogador era tão importante para o time que, por dinheiro nenhum, seria negociado, vendido e emprestado a outro time. De acordo com Silva Jr. (1903, p. 19), "[...] o povo, diante da necessidade de exprimir ideias novas, em lugar de criar novas palavras, serve-se de termos conhecidos, mudando-lhes ou renovando-lhes os sentidos." O uso do prefixo “in” ou “im” na língua portuguesa produz o sentido de “privação, negação”, estabilizado por uma convenção social e dicionarizado como elemento estável. No entanto, a compreensão do significado pretendido pela palavra “imprestável” só foi possível, porque, a partir do contexto em que foi utilizada, neste caso, houve uma renovação de seu sentido literal evidenciando uma concepção positiva acerca do passe do jogador. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 8 Para ler o texto do professor Pasqualle, acesse o endereço: https://www1.folha. uol.com.br/fsp/cotidian/ff2712200103.htm. DICAS Como diria Wittgenstein (1999), é possível fazer uso da palavra “imprestável” para expressar sentidos diferentes para diferentes jogos de linguagem, o que iremos tratar na Unidade 2, ou seja, é preciso entender que o significado é “referencial”, pois ao enunciarmos uma palavra, buscamos sua referência no mundo. Ele é construído a partir de um ponto de vista, de uma maneira de ver o mundo e, quando sua noção é ampliada para o contexto, devemos levar em consideração as convenções culturais, as diferentes abordagens semânticas, a relação social e comunicativa. Essa é a pluralidade da Semântica e do significado que vamos ilustrar ao longo desta obra. FIGURA - LUDWIG WITTGENSTEIN FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/ab/Ludwig_ Wittgenstein.jpg/410px-Ludwig_Wittgenstein.jpg>. Acesso em: 1o nov. 2019. Para saber um pouco sobre a obra do filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein e seus jogos de linguagem, assista aos vídeos produzidos por Claudio F. Costa, professor titular de Filosofia do departamento de Filosofia da UFRN, disponíveis nestes endereços: • https://www.youtube.com/watch?v=lQksIdBy7xc; • https://www.youtube.com/watch?v=ZQi_gQHZnx0. DICAS TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 9 Você acompanhou o exemplo que demos sobre o uso das palavras “inegociável” e “invendável” e a renovação dos significados na fala de Vicente Matheus. Agora é a sua vez! Imagine que você irá apresentar um seminário e terá de discutir acerca de palavras que tiveram seus significados renovados para atender às necessidades do usuário da Língua Portuguesa. Não é uma tarefa complexa, sugerimos que pesquise entre amigos, familiares, no seu ambiente de trabalho e em suas práticas cotidianas. Vamos tentar? IMPORTANT E 3 PERCURSO HISTÓRICO: CONSIDERAÇÕES GERAIS O encaminhamento de nossa discussão vem apontando para a ideia de que não é possível definir o que significa “significado” e, pela sua heterogeneidade, as distinções ampliam os estudos semânticos em várias Semânticas. Vamos voltar ao tempo e entrar nas academias gregas para compreender que os filósofos já buscavam definir os fenômenos semânticos. Um desses estudos encontra-se em Crátilo: sobre a justeza dos nomes, de Platão. Crátilo considerava que o significado de uma coisa se unia à própria coisa de forma natural. Já Hermógenes, negava essaideia de Crátilo e afirmava que o significado era arbitrário e convencionado pela comunidade de falantes de uma língua. Essa ideia será questionada séculos mais tarde por John Locke, filósofo inglês. Ele afirmava, no século XVII, que seria um tanto simplista unir o nome à coisa e, se isso fosse possível, teríamos apenas uma língua. A noção de convenção reduz as incertezas e promove a concordância entre os usuários de uma língua, necessária à comunicação. Em vista dessa harmonia social, Hermógenes afirmava que “[...] a relação nomes e coisas não era apenas [...] uma porção da voz humana a qual os homens concordam em usar” (PLATÃO, 2014, p. 1), mas eram artefatos sociais desenvolvidos entre usuários e para usuários. Marques (2001) também questiona e admite que as palavras são convenções estabelecidas entre os usuários de uma língua. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 10 Crátilo: sobre a justeza dos nomes, de Platão, é uma obra para a compreensão da discussão entre Crátilo, Hermógenes e Sócrates acerca do significado, no nome e das coisas. Hermógenes para Sócrates, ao discordar de Crátilo: este nosso Crátilo, Sócrates, opina que existe, naturalmente, uma designação justa para cada um dos seres; e que o seu nome não é aquele por que alguns convencionalmente os designam, servindo-se de uma parcela de sua linguagem; ao contrário, segundo ele, existe naturalmente, tanto para Gregos como para Bárbaros, uma justeza de designação idêntica pra todos. Para uma leitura aprofundada sobre este conflito linguístico, leia a obra de Platão, Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. FONTE: PLATÃO. Crátilo: ou sobre a correção dos nomes. São Paulo: Paulus, 2014. NOTA Demócrito era um outro grego que estudava a linguagem e seus múltiplos sentidos. Esses sentidos eram construídos a partir da polissemia, fenômeno semântico no qual uma mesma palavra pode ter mais de um sentido ao ser utilizada em contextos distintos; e da homonímia, fenômeno no qual duas ou mais palavras têm a mesma estrutura fonológica, mas são distintas pelo significado. Aristóteles também deu sua contribuição aos estudos do significado ao classificar as metáforas, fenômeno adotado por outros semanticistas e que vamos abordar em Transferência de significado. Como funciona o fenômeno da polissemia na prática? (2) Vejamos alguns exemplos com a palavra "onda": a) RUFFLES – a batata da onda. b) “A Onda”: filme para compreender um sistema de governo. c) “Tem gente que quer tirar onda sem saber surfar e acaba se afogando” (SÓCRATES MACHADO, s.d., s.p.). d) A vida é como uma onda. e) “Quando o mar está bravio e os ventos açoitam as ondas” (SCHOPENHAUER, 2005, p. 412). f) Tirando onda com a minha cara. g) Ondas eletromagnéticas se propagam mais rápido no vácuo. Nesses enunciados, a palavra "onda" tem pluralidade de significados: (a), podemos entender onda como o formato ondulado da batata e a batata que está na moda; (b), a palavra onda vem com letra maiúscula, apontando para um substantivo próprio, o título de um filme; (c) a palavra onda implica superioridade sobre as outras pessoas; (d) a palavra onda significa altos e baixos, ou seja, uma vida feita de momentos bons e ruins; (e) aqui onda se aplica às ondulações do mar pela ação do vento; (f) significa debochar, tirar sarro; e (g) onda evidencia, pelos TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 11 conceitos da Física, campo que transporta energia. Vemos que o contexto é uma garantia para o funcionamento desses significados. Quanto à homonímia, como se constrói o significado das palavras? Vejamos o “clássico” exemplo da palavra manga que tem um mesmo significante (SE) e dois significados (SO): Todas as palavras têm significados diferentes, mas estes significados se distinguem por serem construídos por classes de palavras diferentes ou por terem a escrita ou o som diferente. SIGNIFICANTE (SE) – imagem acústica SIGNO SIGNIFICADO (SO) – conceito “peça de vestuário” ≠ “fruto da mangueira” (significados) Vamos recordar as classes de palavras? Acesse: Classes de palavras do português brasileiro: um estudo sobre seus critérios de classificação na sala de aula de educação básica. FONTE: <http://www.institutodeletras.uerj.br/revidioma/21/idioma21_a01.pdf>. Acesso em: 18 jul. 2019. DICAS Tipos de homonímias: vamos observar como se dividem as homonímias e apontar alguns exemplos. • Homógrafas – possuem a mesma forma gráfica. A boca fica com gosto de guarda-chuva depois de beber álcool (substantivo). Eu gosto de você desse jeito (verbo). • Homófonas – possuem a mesma forma fonológica, mesmo som. A sena saiu apenas para um apostador (substantivo/ loteria). A cena final do filme foi sensacional (substantivo/ cenário). Esses mecanismos da língua estão presentes nas gramáticas de uma maneira um tanto simplista, mas Oliveira (2008) aponta que definir se uma palavra é homônima ou polissêmica leva a alguns conflitos conceituais, principalmente, com relação à homonímia perfeita ou absoluta. Você poderá ampliar a discussão acerca da polissemia e homonímia em outras obras. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 12 Há uma discussão bem interessante acerca do estudo da polissemia e homonímia, suas fontes e conflitos, no Capítulo 7, ambiguidades, da obra Semântica, de Ullmann. FONTE: ULLMANN, S. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1964. DICAS As ideias greco-romanas têm exercido forte influência, benéficas ou não, nos estudos da Semântica moderna em sua aparição no século XIX. De acordo com Ullmann (1964), isso se deve ao nascimento da Filologia comparada que estuda estados de uma língua com outra língua natural para compor sua história. Era uma ciência que tinha uma afinidade com a Linguística, pois sozinha não poderia compreender os fatos elencados como objeto de estudo. Quando os estudos linguísticos se voltam para as trocas fonéticas e gramaticais, os linguistas percebem que é preciso explorar, também, os aspectos semânticos. É diante dessas iniciativas que vemos surgir a expressão semântica nos estudos de Michel Bréal, em 1883, quando ele propõe a “ciência das significações”. A contribuição desse estudioso se deve ao estudo do significado sob uma perspectiva da Linguística e não apenas da Filosofia. O filólogo francês estudou os processos de mudança da língua, categorizando-os em relação ao sentido, sua transferência e aumento ou redução. Para Marques (2001), ainda que os estudos de Bréal (1883) estivessem atrelados a uma visão histórica e ao léxico, a disciplina superava a rigidez dos princípios mecanicistas ao incorporar os aspectos conceituais da linguagem. Saussure (1974), com seu Curso de Linguística Geral, rompe, em 1916, com os estudos históricos realizados até o século XIX. Seu objeto de estudo é a língua, um sistema de signos constituído por um significante (imagem acústica) e um significado (conceito), compreendido em uma perspectiva conceitual e não a uma coisa como queria Crátilo. Essa relação entre significante e significado é convencional e arbitrária. Recebe muitas críticas, principalmente de Charles F. Ogden e Ivor A. Richards pelo fato de o linguista não ter incluído em sua teoria o referente. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 13 Ferdinand de Saussure (1857-1913) foi o linguista fundador da Linguística moderna. A obra Curso de Linguística Geral teve uma importância ímpar para o estudo da língua como um sistema de regras e utilizada por uma comunidade. FONTE: SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix, 1995. IMPORTANT E SIGNO LINGUÍSTICO – SAUSSURE As críticas não apagaram o brilho do estruturalismo saussuriano e muitos semanticistas se vincularam as suas ideias. Trier (1931 apud MARQUES, 2001), linguista alemão, estudava a teoria do campo lexical e a relação entre seus significados, por exemplo, brigadeiro, bolo e refrigerante.Essas palavras pertencem ao mesmo campo semântico de aniversário. Bally (1940 apud OLIVEIRA, 2008) estudava a teoria dos campos associativos, como em carta, selo, correio; e Coseriu (1980) dedicava-se ao arquilexema, como em assento, arquilexema de sofá, cadeira, poltrona, banco, divã. O que é arquelexema? É um conjunto de traços semânticos referentes a diversas unidades e, neste caso, todos os lexemas podem ser definidos como “banco – objeto construído para a pessoa se sentar”, significado comum a todas as palavras. IMPORTANT E A partir de 1950, vamos encontrar outros estudos com base na Gramática gerativa de Chomsky. Katz e Fodor (1977) publicam o artigo Estruturas de uma teoria, no qual empreendem uma discussão acerca da competência da Semântica em reconhecer e interpretar os diferentes significados que surgem entre os enunciados. Nos anos 1970, Ducrot trabalha com os operadores argumentativos, pois a linguagem é utilizada para convencer o outro a entrar no jogo. Na década de 1980, Lakoff e Johnson estudam as metáforas e afirmam que o nosso pensamento é estruturado por meio de esquemas. No Tópico 2, Subtópico 2.2, veremos com mais detalhes as metáforas conceituais. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 14 Já apontamos, na introdução – significado, a heterogeneidade da Semântica e, ao longo da construção desse conhecimento, iremos estudá-la a partir dos fenômenos semânticos e abordagens teóricas que ajudarão você a entender que há diferentes maneiras de se estudar o significado. 4 MUDANÇAS SEMÂNTICAS: CAUSAS Por que as palavras mudam seus significados? Qual é a força que provoca alterações na significação lexical? Quando se dá a descontinuidade de um significado e outro surge em seu lugar? Poderíamos fazer muitos questionamentos acerca das mudanças semânticas e elencar inúmeras causas dessas transformações, mas não é nosso objetivo, pois isso demandaria um outro trabalho e fica aqui a sugestão: você poderia realizá-lo em seus estudos sobre a língua. O que precisamos entender, inicialmente, é o fato de que as mudanças se dão por dimensões: linguísticas, a partir da heterogeneidade da língua; sociais, na comunicação entre os usuários de uma língua; e históricas, quando a língua se torna outra, forma-se e sofre influências no decorrer do tempo. Essas mudanças não são aleatórias. Elas são provocadas por uma ação, necessidade da existência de grupos sociais que falam uma língua e se inserem em contextos discursivos, nos quais dar-se-ão as alterações de sentido em vista de certas regularidades ou do que pode ou não ser dito naquele domínio. Podemos compreender essas mudanças nas forças sociais operadas sobre algumas palavras que são modificadas por um modismo, pela imposição do prestígio de uma sobre a outra, pela disposição na frase, enfim, por fatores internos e externos à língua. É o que se dá nas palavras incapacitada "/deficiente /com deficiência /limitada /especial", que, ao serem utilizadas em certos domínios discursivos, provocam efeitos negativos ou positivos. "Deficiente" tem sido substituído, em vista das forças institucionais, por "pessoas com deficiência" (auditiva, visual, física, intelectual etc.). Assim, essa mudança de sentido é uma inovação semântica e ocorre em um momento específico, condicionado por circunstâncias que propiciam sua propagação no contexto social. Tulio Mendhes, jornalista, escritor, palestrante, ex-colunista do G1 e, atualmente, do Diário de Uberlândia, escreve de forma bem-humorada e um tanto sarcástica, segundo ele, sobre os direitos das pessoas com deficiência. Leia este texto e outros em seu blog. FONTE: <http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/blog/mao-na-roda/post/termi nologia-no-tratamento-da-pessoa-com-deficiencia.html>. Acesso em: 20 jun. 2019. NOTA TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 15 Como afirma Meillet (2016, p. 9), “[...] as mudanças semânticas não podem ser reconstituídas por hipóteses puramente linguísticas” porque as causas exteriores, como essa que vimos no texto de Tulio Mendhes, concorrem também para explicar as mudanças de sentido. Na história da Semântica, as mudanças dos significados das palavras estiveram, inicialmente, atreladas aos trabalhos de Bréal (1992). Sua proposta era “[...] examinar por que as palavras, uma vez criadas e providas de um certo sentido, são levadas a [...] mudá-lo” (BRÉAL, 1992, p. 77). Foi a partir desse pensamento e do caráter histórico dos estudos na época que Meillet, discípulo de Saussure e de Bréal, escreve Como as palavras mudam de sentido, publicado em 1906. Ao tratar das mudanças semânticas, ele reconhece as limitações da Linguística e aponta que as causas desse movimento semântico nas línguas se devem às mudanças propiciadas pelo contágio entre palavras, pelo tempo e pelas pressões sociais. Vamos compreender cada uma dessas mudanças na prática. 4.1 LINGUÍSTICAS As mudanças linguísticas nem sempre são percebidas, pois elas ocorrem de forma lenta e não atingem a língua em sua totalidade, mas pequenas partes. É um jogo de mudanças e estabilidade. Esta harmonia é adquirida pelo desenvolvimento de uma língua padrão, geralmente, presente nas gramáticas, que freia as transformações na língua. Uma maneira prática de observar essas mudanças é na leitura de um texto escrito em português no século XIII. (3) Vejamos uma estrofe de uma composição poética extraída de Faraco (2005, p. 17). III. — Pedr’ Amigo, des aqui é tencon, ca me non quer’ eu convosc’ outorgar! O rafec' ome, a que Deus quer dar entendiment’, en algũa sazon, de querer ben a mui bõa senhor, este non cuida fazer o peor; e quen molher rafec’, a gran sazon, quer ben, non pode fazer se mal non. Nesta estrofe (III), evidenciam-se o desaparecimento de itens lexicais como: substantivos (tençon, sazon), adjetivo (rafeç’) e conjunção (ca). A terminação -or de substantivos era comum aos gêneros masculino e feminino, como em mui bõa senhor. Nesse texto, confirma-se que algumas estruturas deixaram de existir na contemporaneidade ou sua ocorrência ainda é possível, mas com modificações em sua forma, função ou significado. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 16 Bréal (1992, p. 139) chama de contágio ao “[...] fenômeno que se apresenta com frequência e que tem por efeito comunicar a uma palavra o sentido de seu contexto”. Bueno (1963) denomina este fenômeno de metendossemia quando os significados são deduzidos de palavras conectadas. Um desses contágios evidencia-se na construção de um hospício em Juqueri. Ao nome da cidade associou-se lugar para "alienados, casa de loucos, doença mental". O prefeito de Santos solicitou a construção de um Juqueri em sua cidade. Os relógios antigos eram quadrados e tinham quadrantes; por contágio, os relógios modernos, com variadas formas, continuam a ter quadrantes. Em Oliveira (2008), encontramos dois exemplos bem singulares. A palavra pílula que se referia a uma forma farmacêutica, com o surgimento da pílula anticoncepcional – substantivo + adjetivo, passou a ser tratada apenas pelo substantivo pílula. Nos anos 1990, há uma inversão e o adjetivo anticoncepcional, por contágio, muda a categoria gramatical e as pessoas passam a se referir à pílula pelo substantivo anticoncepcional. Em caderneta de poupança, que, na década de 1960, era onde o banco registrava a movimentação financeira do cliente, após o uso do computador na instituição financeira, a palavra caderneta e poupança se desmembraram e passaram, por contágio, a significar conta bancária ou forma de investimento, ou seja, houve uma transferência do significado primitivo. 4.2 HISTÓRICAS Muitas vezes, um referente sofre uma evolução e se transforma, mas a palavra que o designa continua a mesma. Nesse caso, houve uma mudança semântica que foi provocada por fatores extralinguísticos os quais, muitas vezes, nem percebemos. Para Ullmann (1964), as coisas, as instituições eas ideias se transformam sem que seja preciso trocar seus nomes. O mesmo vocábulo pode ser empregado a vários objetos ou ideias que apresentem uma relação entre si no uso, utilidade e/ou função. Algumas palavras vão exemplificar essa relação entre mudança no significado e o conservadorismo no nome. Oliveira (2008) traz um exemplo interessante que está presente no nosso cotidiano e, às vezes, nem percebemos. A palavra computador vem do latim computare, que significava a pessoa que fazia cálculos. Depois, seu sentido deslizou até a máquina eletrônica que permite o processamento de dados. Atualmente, temos vários modelos de computador como o laptop, palmtop, mas quando falamos computador, apenas o de mesa, o desktop, passa a significar. Outro exemplo é o vocábulo pena, originária do ganso, por muito tempo foi utilizada para escrever. Depois, o objeto pena foi substituído por um produto manufaturado, carregado de tinta, mas que conservou o nome: caneta bico de pena. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 17 4.3 SOCIAIS A estratificação social é uma causa frequente das mudanças semânticas, pois se fôssemos uma nação homogênea, certamente, essa característica não se daria na língua e as palavras teriam a mesma significação. Essa heterogeneidade é constituída pelos diversos grupos profissionais, religiosos, comerciários, militares, escolares, universitários e outros. Assim, as trocas sociais podem produzir trocas linguísticas. Sendo assim, como se dão essas alterações na significação das palavras? As moedas árabes traziam dois traços verticais que representavam as Colunas de Hércules que eram entrelaçadas, representando uma linha curva, as correntes marítimas. O povo entendeu como o cifrão $. Mas, não parou por aí. A linha parecia uma janela que em árabe era butaca. Como estava ligada ao dinheiro, passou para o português como pataca e um novo deslizamento se dá na palavra com sua desvalorização que passa a significar “coisa” de pouco valor, patacoada (BUENO, 1963). Cada grupo social toma a língua em sua generalidade e a acomoda para seu uso, restringindo-lhe à significação. Quando a palavra passa do grupo social para a língua geral, muitas vezes, há uma vagueza, imprecisão do termo, pois perde sua contextualização como nos grupos militares em que camarada significava companheiro de quarto e, na linguagem geral, passou a significar amigo. A sociedade grega tomava a palavra angelos como mensageiro e baptizein como lavar. Com o advento do cristianismo, os grupos religiosos restringiram o significado destes vocábulos. Angelus passou a significar celeste e baptizar se tornou um sacramento, o Batismo. Essas alterações vocabulares afetam semanticamente a língua. A causa principal se deve à necessidade que os grupos sociais têm de se expressar, de comunicar suas individuações. Nesse contexto, os grupos buscam palavras adequadas e aceitáveis em cada época. Em vista disso, as mudanças ainda têm outras implicações linguísticas, como os tabus e eufemismos com os quais, por decência, medo, delicadeza ou polidez, os grupos sociais passam a fazer alterações. O vocábulo “rapariga” é definido por diferentes grupos sociais, segundo o dicionário Michaelis (c2021, s.p.). Em algumas regiões brasileiras, pode significar mulher virgem e, em outras, concubina, prostituta. Um grupo que vive em Governador Celso Ramos-SC, constituído por imigrantes da Ilha dos Açores (Portugal), conserva o sentido português de moça, feminino de rapaz e perde seu sentido negativo. Em vista das desigualdades sociais em relação a certos grupos, houve uma mudança semântica na palavra empregada doméstica que passou a significar secretária. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 18 (4) Vejamos os sentidos da palavra “monstro” nos enunciados: a) O Monstro do Monstro de Frankenstein (https://www.netflix.com/br/ title/81003981). b) Saindo da jaula: você é o monstro em novo game medieval (http://twixar. me/Fnr1). c) Quem você prefere: o genial Messi ou o monstro Ronaldo? (http://twixar. me/Lnr1). Inicialmente, a palavra "monstro" tinha um significado negativo de criatura lendária com aspecto aterrorizante, deformada, gigantesca; depois, o sentido sofreu um deslizamento para pessoas cruéis, horrendas e, atualmente, significa um profissional excelente. Analisando os enunciados: (a) a palavra monstro aparece duas vezes, referindo-se ao criador e criatura com sentido negativo e metafórico; (b) o sentido é positivo, pois o jogador assume a identidade da criatura lendária que, neste jogo, está em extinção e os vilões são os humanos; (c) a comparação evidencia o quanto Ronaldo foi um bom jogador e, por isso, a palavra monstro assume um efeito positivo. Recomendo a leitura de A mudança semântica e lexical. Texto traduzido e adaptado de Historical Linguistics: An Introduction (1962), de Winfred P. Lehmann (3. ed. 1992. Londres e Nova York: Routledge), para a disciplina do Prof. Thomas Finbow da USP. FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4116720/mod_resource/content/1/Lehmann %20-%2013%20-%20Mudan%C3%A7a%20sem%C3%A2ntica%20e%20lexical%202%28rev%29. pdf>. Acesso em: 1o nov. 2019. DICAS Em todos as mudanças linguísticas, históricas e sociais abordadas, fica evidenciado que há pontos de contato, de semelhança entre os fenômenos semânticos. O uso de um sentido ou outro tem como finalidade a compreensão, e sua criação pela sociedade tem a finalidade de fazer-se compreender, pois cada médico, soldado, professor, comerciante e outros representantes de grupos sociais se vê atravessado pelo modo de dizer do seu grupo. Ao transitar de um grupo ao outro, há um enriquecimento da linguagem e todos acabam ganhando com os empréstimos e deslocamentos de sentidos nas diversas linguagens. No próximo tópico, vamos compreender como se dão as transferências de sentido quando atualizadas nas diferentes modalidades de uso da língua. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 19 Tudo muda! E as palavras acompanham as mudanças. Você ainda pensa em “barcos” quando diz vou embarcar neste voo? Ou, em separação, afastamento quando diz “apartamento”? Ou ainda, que “penso” significava alimentar com pensos os animais ou cuidar de feridas? Estudos de Filologia Portuguesa, de Silveira Bueno, é uma ótima leitura para a compreensão dos aspectos de alteração semântica das palavras. Desafiamos você a encontrar outras palavras e expressões presentes em seu cotidiano cujos significados foram alterados devido a causas históricas, sociais ou linguísticas. Reflita: essas mudanças semânticas são impostas ou são os usuários que as instituem, que negociam sua atualização? Boa pesquisa!! INTERESSA NTE 5 TRANSFERÊNCIA DE SIGNIFICADO Uma língua é uma instituição social; assim, a variação e a mudança são inerentes à trajetória de uso por uma comunidade. As transformações operadas na língua não são efeitos do acaso, mas de um princípio criativo, adaptativo, associativo, presentes nas regras de transferência do significado substituído e do novo. Como determinar o tipo de associação entre as palavras? Só essa relação seria necessária para definir a transferência de significado nas palavras? A história da Semântica aponta, incialmente, duas formas de transferência: a associação lexical e, posteriormente, a associação de campos semânticos. Esses fenômenos de transferência estão atrelados tanto à variação do léxico quanto à variação das estruturas discursivas presentes nos enunciados. É na interação verbal que os usuários da língua interpretam e produzem sentidos. A teoria associacionista de transferência trata das mudanças de significados como um produto da relação entre palavras; entretanto, nas últimas décadas, há uma visão mais ampla que deixa de olhar apenas para as palavras isoladas e dedica atenção para os campos de associação a que pertencem estas palavras. QUADRO 1 – TRANSFERÊNCIA SEMÂNTICA FONTE: A autora Transferênciasemântica Associação lexical Associação semântica Eu demoli o prédio (derrubei). Encontre a melhor viagem (passeio). O guia (direção) da viagem chegou. Ele embarcou (entrou) no navio. Eu demoli seus argumentos. A vida é uma viagem. As mães são guias da vida. Ele embarcou em nova carreira. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 20 De acordo com Marques (2001), as transferências de significado seriam analisadas a partir do contexto e das escolhas efetuadas em função dos objetivos comunicativos. Por isso, a multiplicidade de significados não reside apenas na variedade lexical e não é fechada semanticamente. A metáfora e a metonímia são referências para o estudo das transferências semânticas. Vamos então abordar cada uma delas. 5.1 METÁFORA A relevância da metáfora para a linguagem e para a literatura vem sendo discutida por muitos estudiosos como uma força criadora da linguagem, como originalidade dos poetas e como um feitiço no estilo do autor. A metáfora também está entrelaçada ao discurso por motivações subjetivas, artifícios expressivos, sinonímia, polissemia, abrandamento de emoções intensas, preenchimento de lacunas no enunciado e muitos outros, uma vez que seu estudo é recente. Em vista de seu uso significativo, a metáfora é muito comum entre os usuários de uma língua. Embora alguns afirmem que não existe comparação na metáfora, mas apenas uma transferência das semelhanças de um significado para outro, Bueno (1963) contesta essa afirmação, justificando que a metáfora compreende sempre uma comparação e acrescenta que a comparação, em vista do uso regular da metáfora, perde sua expressividade, fica velada e pode tornar os significados fossilizados. Outros defendem que a metáfora é um mecanismo retórico usado para o alcance de certos efeitos de sentido. Em outra posição, a dos cognitivistas, a metáfora está presente no cotidiano, sendo considerada uma forma de articular pensamentos, falas e mundo. (5) Vejamos esta tirinha do personagem Armandinho, de Alexandre Beck, que foi adaptada da peça A segunda vinda de Francisco de Assis, de José Saramago. FIGURA 1 – A SEGUNDA VINDA DE FRANCISCO DE ASSIS, DE JOSÉ SARAMAGO FONTE: <https://www.facebook.com/tirasarmandinho/photos/a.488361671209144/2394739603 904665/?type=3&theater>. Acesso em: 5 ago. 2019. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 21 No exemplo (5), segundo quadrinho, temos uma metáfora em “O meu, fizeram-no de carne”, que materializa a “comparação” que Bueno (1963) afirma existir na produção de sentidos metaforizados. Nesse caso, há a omissão da partícula “como”, que marcaria a comparação que perde sua força expressiva. A comparação nesse fenômeno semântico perde sua força expressiva, mas ainda é possível evidenciar o ponto de contato, a semelhança do coração que sangra com a carne. A metáfora implica a força significativa daquilo que se quer dizer de uma outra forma, de fazer compreender nossos pensamentos, de alargar os efeitos de sentido do texto. Assim, a metáfora se constitui na relação entre dois domínios que não são parte de um mesmo domínio-matriz. Nesse caso, temos uma parte do corpo (coração) que representa os sentimentos do menino com relação à cena, a qual seria o domínio-alvo; já o domínio-fonte seria uma estrutura conhecida, a carne fresca tem sangue, para projetar a situação vivida. A metáfora é convencionada, sistematizada e assimétrica, ou seja, é possível renovar os significados por meio de mecanismos de recontextualização, estabelecer mais de um campo de associação e provocar transferência de um conceito para outro. Isso implica na criação de novos sentidos, de ajustamento dos significados, de transporte de significações. (6) Vejamos a transferência de significados na matéria jornalística do Portal Carta Maior, publicado por Le Yéti, do Politis.fr, no dia 2 de setembro de 2015. Buraco negro sistêmico: o epicentro da tempestade ainda está no Ocidente Similar em intensidade ao terremoto financeiro de 2008, o novo abalo teve início na China, mas é o coração do Ocidente que está no centro da tormenta É possível evidenciar na matéria uma transposição dos significados de um contexto para outro. O jornalista busca em um assunto da época sobre a energia expelida por um corpo celeste, conhecido como buraco negro (disponível em: https://bit.ly/32geik2), e cria ajustamentos necessários para a compreensão do seu texto acerca da crise financeira pelo leitor. Os significados dos vocábulos "sistêmico, epicentro, intensidade, abalo, tempestade, terremoto, tormenta" são reatualizados no contexto da notícia, passando a evocar e exprimir, de modo diferente, imagens da crise e da instabilidade mundial veiculadas pelo buraco negro. Como comenta Marques (2001, p. 157), “[...] a metáfora é considerada a utilização de uma palavra em lugar de outra por associação mental entre os significados de duas formas”, nesse caso, crise mundial e buraco negro, ambos destruidores. Essa transferência de significado é ajustada pelos falantes ao contexto e à situação comunicativa. Embora estejamos apontando para a transposição do significado a partir do léxico, a alteração realizada se dá em toda estrutura do enunciado. A metáfora está presente em uma série de palavras que produzem sentidos polissêmicos como o verbo "virar" que envolve ideias distintas. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 22 • Mudança sobre o próprio eixo: o carro virou na entrada da cidade. • Mudança de orientação: o carro virou a esquina e parou. • Mudança de estado: o sapo virou um lindo príncipe. • Mudança de vida: ao virar um adulto, as reponsabilidades serão maiores. Esses exemplos demonstram o quanto a metáfora revela-se relevante para a compreensão de nossas experiências cotidianas, observando nossas trajetórias e o movimento de outras entidades no mundo. A metáfora não está atrelada a palavras isoladas, mas a procedimentos discursivos, pois é no enunciado que os sentidos se atualizam. Achou interessante a discussão? No Tópico 2, Subtópico 3.2 ampliaremos esta temática na abordagem mentalista. 5.2 METONÍMIA Assim como a metáfora, a relevância da metonímia está na compreensão da linguagem e do mundo. Ullmann (1964, p. 252) declarou que “[...] uma língua sem metáfora e sem metonímia é inconcebível: essas duas forças são inerentes à estrutura básica da fala humana”. Ullmann (1964) acrescenta que o processo de transferência do significado na metonímia é muito importante para a história do léxico, pois, no plano discursivo, é utilizado para fornecer novos significados que estão baseados em relações de espaço e tempo, assim como a causa pelo efeito, o efeito pela causa, o nome pela coisa, a bandeira pela pátria, entre outros. Diferente da metáfora e sua relação com dois domínios que não são parte de um mesmo domínio-matriz, a metonímia envolve mais que o processo puramente linguístico. Esse fenômeno metonímico se dá apenas em um domínio, ou seja, há uma parte relevante que se destaca e coloca em evidência a informação mais relevante. (7) A propaganda das Havaianas ilustra o papel da metonímia nos processos cognitivos. FIGURA 2 – SANDÁLIA HAVAIANAS FONTE: <https://comuniquec.files.wordpress.com/2009/08/havaianas1.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2019. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 23 O termo linguístico "pezinho" exemplifica a metonímia quando toma a parte do corpo pelo todo. "Pezinho" é tomado como a própria pessoa que, ao usar a sandália Havaianas na cidade, consegue ter a liberdade propiciada pelo ambiente praiano. O esquema imagético da palavra “pezinho” ativa um conhecimento necessário para a compreensão da relação praia-liberdade/havaianas/liberdade. Esse processo cognitivo viabiliza a ideia de tomar alguns aspectos da parte para a compreensão da totalidade. Mais uma vez os estudos cognitivos apresentam um relevante conhecimento sobre os processos de significação ao distinguirema metáfora da metonímia. Para Lakoff e Turner (1989, p. 36), a “[...] metáfora é, principalmente, uma forma de ver uma coisa em termos de outra” e “[...] os conceitos metonímicos nos permitem conceituar uma coisa por meio de sua relação com outra coisa” e esses conceitos “[...] estruturam não apenas nossa linguagem, mas nossos pensamentos, atitudes e ações”. Enquanto a metáfora constitui o lugar da inovação, da transferência entre domínios e polissemias, múltiplas interpretações possíveis para uma compreensão do mundo de formas mais simples e naturalizadas, a metonímia seria o lugar do referente, da coexistência, de interdependência. A metáfora lida com dois domínios e múltiplos mapeamentos, conforme já apontamos no Subtópico 5.1, a metonímia lida apenas com um domínio e um mapeamento. Ambas contribuem para a compreensão do funcionamento e compreensão dos textos. A metáfora, de forma mais didática, e a metonímia, de forma mais concisa. (8) Vejamos alguns exemplos de transferência de significado metonímico. a. Fiat quer se unir à Renault para enfrentar as gigantes Toyota e Volkswagen. b. EUA vai ou não na Casa Branca? Alex Morgan diz que decisão será coletiva. Como se constrói a metonímia nesses exemplos? Para que se criam essas metonímias? A metonímia é um mecanismo de construção e de organização dos significados no discurso, de encadeamentos dos sentidos. • Em (8.a), Fiat, Renault, Toyota e Volswagen temos uma metonímia porque há uma relação de coexistência entre as marcas e a direção que cada uma delas representa, ou seja, promove-se o realce dos domínios especificados no nome das empresas. O ponto de referência, as marcas das empresas permitem o acesso às outras entidades, nesse caso, a direção destas mesmas empresas, responsáveis pela proposta de fusão. • Em (8.b), temos um caso de metonímia quando um termo é substituído por outro, estabelecendo uma relação da parte pelo todo. As palavras EUA e Casa Branca são utilizadas em lugar de seleção de futebol americana e da residência oficial, bem como local de trabalho do presidente americano. Portanto, o uso dessas palavras evidencia, nesse caso, o que o jornalista considerou essencial para a notícia e para chamar a atenção do leitor. É uma ponte de sentidos que se constrói entre as palavras e as ideias, sendo compreendidas pelo leitor ao tomá-las no plano discursivo. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 24 Vamos a um outro desafio! Observe, em seu cotidiano, como as metáforas e metonímias se fazem presentes em textos publicitários, jornalísticos, científicos e em suas relações sociais. Faça uma listagem dessas construções semânticas e observe como são relevantes para estruturar nossos pensamentos e ações. IMPORTANT E 6 TIPOLOGIA DAS RELAÇÕES DE SIGNIFICADO Os estudos tradicionais tratavam as relações de significado apenas entre as palavras, em nível paradigmático, sem levar em consideração os aspectos semânticos e sintagmáticos. A tarefa na atualidade é incorporar as significações à ciência da linguagem e ultrapassar a identificação de regularidades de um objeto de estudo descontextualizado. O estudo das relações das significações deve se dar com a linguagem em uso, pois o sentido ultrapassa o texto e amplia-se a partir do conhecimento de mundo, informações compartilhadas, cultura, crenças e valores presentes em uma comunidade. Como entender essas relações de significado? Como tratar essas relações de sentido? Um dos caminhos para essa compreensão é descrever os tipos de relações semânticas que atravessam o léxico a partir de um contexto e atribuir a eles denominações específicas como sinonímia e paráfrase, antonímia e contradição, ambiguidade e vagueza. Ou seja, demonstra-se que os significados da língua não se encerram em um contexto dicionarizado, mas na vida social, cultural e histórica como vimos no Tópico 4 – Mudanças semânticas. 6.1 SINONÍMIA – PARÁFRASE As relações de significado podem ser tratadas a partir de mecanismos semânticos, como a sinonímia, relacionada às palavras ou expressões e a paráfrase, relacionada aos sentidos entre frases. A sinonímia e a paráfrase são fenômenos linguístico-discursivos e, para que uma palavra seja sinônima de outra, é preciso que, além de terem a mesma referência, tenham o mesmo sentido. Em outros termos, “[...] duas palavras são sinônimas sempre que podem ser substituídas no contexto de qualquer frase sem que a frase passe de falsa à verdadeira, ou vice- versa” (ILARI; GERALDI, 2006, p. 44-45). O que é ter o mesmo sentido? Será que basta substituir a palavra por outra encontrada no dicionário como sempre nos orientaram a fazer? Existem sinônimos perfeitos? TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 25 Segundo Bloomfield (1984, p. 145), “[...] cada forma linguística tem um significado constante e específico. Se as formas são foneticamente diferentes, supomos que seus significados também sejam diferentes. Supomos, em resumo, que não há verdadeiros sinônimos”, como em (a) Sei que o caminho é longo, mas lutarei sempre; (b) O caminho é longo até minha casa. Nesses casos, os sentidos da palavra "longo" são construídos apenas quando contextualizados, ou seja, em (a) o significado é sofrido, penoso, árduo e em (b) o sentido é extenso, longo, demorado. Há também aquelas palavras cuja configuração fonêmica é distinta como em pueril/infantil, achar/encontrar. Podemos considerá-las sinônimos? Incialmente, podemos concluir que sim, pois o dicionário Michaelis on-line aponta como sinônimas. (9) Vamos observar um determinado contexto em que isso não se sustenta: a. Gari encontra bolsa com mais de mil reais. b. Mãe acha o filho roubado há 38 anos no Gama. Se trocarmos as palavras "encontra" e "acha" em (9.a) e (9.b), alteramos os sentidos, uma vez que, semanticamente, o gari, ao encontrar a bolsa, não estava a sua procura. Ele, casualmente, a encontrou. Já no caso da mãe, estava em busca de algo que perdeu, nesse caso, o filho. Sacconi (2005), gramático e dicionarista, adverte que convém não confundir os significados dessas duas palavras achar/ encontrar. Ullmann (1964) afirma que existem poucas palavras que são completamente sinônimas e cita a linguagem técnico-científica que não pode ter ambiguidade ou os sinônimos absolutos quando as palavras podem ser intercambiáveis em todo contexto, como no exemplo adaptado de Ilari e Geraldi (2006): (10) a. Toda menina pode ser o que quiser. b. Toda garota pode ser o que quiser. (11) a. A polícia prendeu a quadrilha. b. A quadrilha foi presa pela polícia. Em (10.a) e (10.b), temos as palavras "menina" e "garota" com o mesmo significado, pois referem-se ao mesmo conteúdo. Na sentença ativa (11.a) e passiva (11.b), há paráfrases. No entanto, em outro contexto, a sinonímia se dissolve como nesse exemplo. (12) A garota não gosta de ser chamada de menina pela mãe. Com relação à paráfrase ou sinonímia de conteúdo, é preciso que uma sentença como (a) seja uma paráfrase de (b), quando (a) e (b) forem intercambiáveis. Em uma perspectiva discursiva, o falante restaura (de forma fiel ou em partes) a ideia do texto-fonte e a reformula em um outro texto com alguns deslizamentos UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 26 ou deslocamentos dos significados. Além disso, a paráfrase se constitui em uma reprodução ou deformação do conteúdo, sendo a reformulação do texto caracterizada pelo emprego metalinguístico. (13) Vejamos este exemplo de Cançado (2012, p. 49): a. Aquelas mulheres do canto estão chamando. b. Aquelas senhoras do canto estão chamando. c. Aquelas damas do canto estão chamando. Em uma situação determinada, é possível, tomando (13.a) como fonte, evidenciar que as outras duas sentenças, (13.b) e (13.c), são reformuladas a partir de uma metalinguagem em que se usam palavras sinônimas senhoras e damas para falar sobre o mesmo tema, mas, é possível que essas sentenças deixem deser sinônimas se, por exemplo, a palavra damas não for aceita no contexto em que foi enunciada, pois, em alguns grupos, não carrega sentidos positivos e, se isso ocorrer, a paráfrase não se atualiza. (14) a. Pedro é um cão. b. Pedro é um cachorro. Se não há sinônimos perfeitos entre palavras, também não há sinonímia perfeita entre sentenças. Contextualizando as sentenças, em (14.a), "Pedro é um cão" significa uma pessoa irrequieta, levada, travessa, em (14.b), "Pedro é um cachorro" significa uma pessoa sem caráter, safada. Assim, o sentido das palavras depende do contexto em que elas estão inseridas e o sentido das sentenças, de um contexto mais amplo como o texto. (15) Observe a charge a seguir: FIGURA 3 – CHARGE FONTE: <http://www.cljornal.com.br/wp-content/uploads/2015/04/jp-nReal7af6e19fe3962470f c508d931ed6f28c.jpg>. Acesso em: 10 ago. 2019. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 27 Essa charge (15) foi produzida em 2013 e publicada na página de Carlos Lima em referência a um desvio de verbas por uma empresa multinacional na construção do metrô paulista. A ideia apresentada, durante a charge, na conversa entre avô e neto, evidencia o tratamento dado pela escola que desvincula o fenômeno linguístico do linguístico-pragmático. A pergunta do neto em “É tudo a mesma coisa?” com relação às palavras cartel, gang, tucano, quadrilha, privataria aponta para a questão da possibilidade de haver sinônimos perfeitos ou absolutos. Esse desconhecimento de que essa categoria é rara na Língua Portuguesa e de que não há uma identidade nos significados de duas ou mais palavras, materializa-se na fala do avô quando diz que “Mesma coisa não digo”. No entanto, essa expressão do avô não se refere à sinonímia, mas à ideia pragmática ao uso que se faz dessas palavras em diferentes contextos. Quando ele diz “que sejam ‘sinônimos’”, o avô não está se referindo à sinonímia, mas às relações de sentido existentes entre as palavras que convergem para um só discurso, o de cartel, de envolvimento, de objetivos comuns em relação ao desvio de verba. Portanto, a substituição destas palavras – umas pelas outras – vai alterar seu valor de verdade. Alterando esse valor, alteram-se suas relações de sentido. 6.2 ANTONÍMIA – CONTRADIÇÃO A antonímia e a contradição se definem a partir das relações de sentido, como oposição entre palavras e entre sentenças, respectivamente. Quando pensamos em antonímia, a ideia é de oposição ou contrário, mas nem sempre esse é um fator preponderante entre duas palavras por não envolver, necessariamente, uma contradição. O que significa um termo oposto e um termo contraditório? Quais as implicações desses conceitos para a compreensão da antonímia e da contradição? No tópico sobre sinonímia, afirmamos que nas línguas naturais não havia sinônimos perfeitos. Com relação à antonímia, também não há antônimos perfeitos. Esse fenômeno semântico é um tanto complexo, pois a ideia de “oposição” não se aplica apenas a termos cujos sentidos se anulam, mas também a termos nos quais os sentidos podem ser descritos como complementaridade, antonímia e reciprocidade. A complementaridade se dá entre pares de palavras de forma que, no uso dos termos, a afirmação de uma palavra implica a negação de outra. Se alguém está morto, necessariamente, não está vivo. As palavras estão em posição contrária como nos exemplos a seguir. (16) Marta é solteira – implica – Marta não é casada. (17) Aquele inseto é macho – implica – Aquele inseto não é fêmea. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO, HISTÓRIA E ABORDAGENS TEÓRICAS 28 Quanto à antonímia, de acordo com Lyons (1980), há uma oposição e gradação por excelência. Há uma escala de valores e, se algo está quente, não implica que esteja frio, pode estar morno, menos quente. Tudo depende do contexto. (18) Observe a fala do técnico Heimar Hallgrimsson, da Islândia, durante a copa do mundo no Brasil. “Difícil jogar com esse calor”. A temperatura a que o técnico, no texto (18) se referia era 28 oC, que para o Brasil não é uma temperatura quente, mas para o time da Islândia, acostumado à temperatura média de 10 oC, estava quente. Nesse caso de antonímia, a relação vai do mais quente ao mais frio, passando por outros valores que podem ser combinados com muito quente, meio frio e um pouco quente. A reciprocidade é a relação que se estabelece entre termos opostos que podem ser permutados e seu sentido não se altera. Se A implica B, B implica A. (19) “Certa ocasião perguntou a Sérgio Buarque de Holanda se o Chico Buarque era filho dele e ele respondeu: — Não, o Chico não é meu filho, eu é que sou o pai dele” (PINHEIRO, 1994, s.p.). Se Chico é filho de Sérgio implica que Sérgio é pai de Chico. Mesmo em ordem inversa, a relação é a mesma, a relação é recíproca. E quanto à contradição, o que significa dizer que os sentidos são contraditórios? • Quando dois fatos não puderem ser realizados ao mesmo tempo. • Quando duas sentenças não puderem ser verdadeiras ao mesmo tempo. • Quando uma situação não for possível de ser verdadeira. Em "Paulo está nervoso" e "Paulo está calmo" temos sentenças contraditórias, visto que não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo. Nesse verso de Camões (1973, p 119): “É ferida que dói e não se sente”, também, temos uma sentença contraditória, uma vez que não pode ser verdade e não há uma situação possível de ser descrita nesses termos. Pragmaticamente, no uso que se faz da língua, é possível encontrarmos contradições que exprimem informações além do que está na sentença, como em "Maria é casada e não é". Essa imprecisão semântica evidencia sentidos de contradição, por exemplo, de que Maria é casada, mas o marido nunca está presente. Então, é como se não fosse casada. TÓPICO 1 | O CAMPO DE ESTUDOS DA SEMÂNTICA 29 6.3 AMBIGUIDADE – VAGUEZA Já estudamos em 6.1 as relações de sentido entre sinonímia e paráfrase e em 6.2 as relações que atravessam a antonímia e a contradição. Antes de encerrarmos o Tópico 1, estudaremos a ambiguidade e a vagueza, dois fenômenos semânticos que se associam a textos abertos a múltiplos sentidos, utilizados no cotidiano, propaganda, piada, poesia, notícia, entre outros. A ambiguidade é a possibilidade de uma palavra ter mais de um significado e surgir de vários modos em uma situação linguística. Muitas vezes, a ambiguidade produz efeitos que podem levar à falta de compreensão de uma situação, pois como diz Oliveira (2008, p. 109), “[...] a ambiguidade é um fenômeno de mão única”, porque não está atrelada ao falante ou autor, mas ao ouvinte ou leitor. Por isso, para a compreensão de uma palavra, de uma expressão, de uma sentença e de um texto, precisamos considerar o contexto discursivo. (20) Vamos observar este anúncio produzido pela ROLEX. FIGURA 4 – RELÓGIO ROLEX FONTE: <https://www.facebook.com/PublicitariosCriativos/photos/a.585164194835486/692135 317471706/?type=3&theater>. Acesso em: 11 ago. 2019. A ambiguidade presente no texto (20) está nas palavras pulso e morto, ou seja, na dupla interpretação que incide sobre estes itens. Em "pulso" temos a ideia de relógio e não da parte do corpo. É preciso que o leitor ative seu conhecimento acerca da marca que está no pulso de celebridade e pessoas ricas e, se o seu relógio não está sendo notado, deve-se ao fato de não ser um relógio desta marca. Portanto, a peça não é qualquer relógio, mas um Rolex que vai associar você ao luxo, notoriedade e não será considerado um morto socialmente. A ambiguidade pode se dar, então, a partir de três fatores: fonética, gramatical e lexical (ULLMANN, 1964). A ambiguidade fonética ocorre quando o falante pronuncia uma palavra ou grupo de palavras que forma uma homonímia. Já estudamos sobre a homonímia no Tópico 3, Percurso histórico: considerações gerais. Ilari e Geraldi (2006, p. 57) afirmam que “[...] a homonímia é frequentemente a raiz de uma ambiguidade ou dupla leitura de frases”. UNIDADE 1 | A SEMÂNTICA: OBJETO,
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