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Língua Portuguesa_ Práticas de Linguagem

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Prévia do material em texto

2019
Língua Portuguesa:
Práticas de Linguagem
Profª. Eli Regina Nagel dos Santos
Profª. Jeice Campregher
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019
Elaboração:
Profª. Eli Regina Nagel dos Santos
Profª. Jeice Campregher
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
SA237l
 Santos, Eli Regina Nagel dos
 Língua portuguesa: práticas de linguagem. / Eli Regina Nagel dos 
Santos; Jeice Campregher. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.
 224 p.; il.
 ISBN 978-85-515-0298-3
1. Língua portuguesa - Práticas de linguagem. - Brasil. I. Campregher, Jeice. 
 II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 469.8
III
aPresentação
Olá, caro acadêmico! Você já leu a obra: “O Pequeno Príncipe?” 
Lembra que o príncipe termina perguntando: “– Terá ou não terá o carneiro 
comido a flor? [...] E nenhuma pessoa grande compreenderá que isso tenha 
tanta importância!” (SAINT- EXUPÉRY, 1986, p. 95).
O que é compreender? Qual é a importância de compreender? 
Compreender é uma possibilidade de ação, de imprimir gestos de 
interpretação. Recorde que em uma parte do livro o príncipe visita o quinto 
planeta! Ele encontra um acendedor de lampiões, personagem que executa 
uma função, qual seja, passa o dia acendendo e apagando o lampião. Então, 
ele questiona:
[...] – Por que acabas de apagar teu lampião?
– É o regulamento, respondeu o acendedor.
– Mas por que acabas de o acender de novo?
– É o regulamento, respondeu o acendedor.
– Eu não compreendo, disse o principezinho.
– Não é para compreender, disse o acendedor. 
Regulamento é regulamento. 
(SAINT-EXUPÉRY, 1986, p. 52).
 
Isso é pouco! Não gostaria que simplesmente lesse esse material porque 
faz parte do regulamento, das obrigações de acadêmico, mas que relesse, anotasse, 
fosse como o principezinho com muitos questionamentos. E que buscasse 
compreender os sentidos, as linhas e as entrelinhas dos textos apresentados. Que 
concordassem e duvidassem com criticidade do que está exposto.
Isso porque “as pessoas têm estrelas que não são as mesmas. Para uns, que 
viajam, as estrelas são guias. Para outros, elas não passam de pequenas luzes. Para 
outros, os sábios, são problemas. Para o meu negociante, eram ouros. Mas todas 
essas estrelas se calam. Tu, porém, terás estrelas como ninguém..." Espero que elas 
ajudem na constituição de sua formação acadêmica.
O livro sem o leitor não tem vida. Ele necessita da voz de um 
interlocutor! O que somos faz parte das experiências pessoais e profissionais 
que nos constituíram. Desta forma, continuo escrevendo e reconhecendo os 
outros com quem convivi, durante a exploração de cada unidade: Os que 
olhavam somente para si. Os vaidosos que enxergam somente a sua opinião. 
O rei que pensa que basta falar para que seja cumprida sua ordem. Ou 
ainda, os bêbados que têm vergonha de admitir seus pontos fracos. Durante 
a constituição do livro, ainda me deparei com pessoas lampiões que me 
IV
acenderam uma luz, quem não se preocupava somente consigo. Sem me 
esquecer das interpelações que mantive com os homens de negócio, sem tempo, 
mas que administravam com seriedade seus deveres. Ah, também meus 
amigos que escrevem livros preocupados com o que é relevante e efêmero. 
Todas essas pessoas foram especiais.
Assim, o livro foi sendo construído, numa proposta de mediação, 
diálogo e construção coletiva que visa possibilitar a ampliação dos 
conhecimentos referentes à Língua Portuguesa: práticas de linguagem. Para 
tanto, os conteúdos foram distribuídos em três unidades. E cada unidade 
é subdividida em tópicos e subtópicos. Ao término de cada tópico estarão 
disponíveis autoatividades com o objetivo de retomar a leitura, refletir e 
fixar o conhecimento. Encontrará ainda, um resumo contendo os principais 
aspectos relevantes estudados naquele tópico. No decorrer do livro 
encontrará ainda leituras complementares, que corroborarão no sentido de 
qualificar o entendimento em relação à temática.
Na primeira unidade apresentamos uma abordagem sobre: noções 
fundamentais da semântica, a linguagem para: pragmática, análise do 
discurso e teoria da enunciação. Logo, na segunda, damos enfoque à estilística 
e às diferentes figuras de linguagem. Na terceira e última unidade passamos 
a refletir sobre a linguagem oral e escrita, os recursos de coesão e coerência, 
por fim, sugerimos um trabalho com os alunos a partir dos gêneros textuais, 
organizados por meio de sequência didática.
Ao refletir sobre a constituição da escrita desse Livro Didático e no 
livro mencionado desejo-lhe bons estudos e espero como o pequeno príncipe 
que você (SAINT- EXUPÉRY, 1986, p. 21) “dia a dia fique sabendo mais alguma 
coisa do planeta, da partida, da viagem. Mas isso devagarzinho, ao acaso das 
reflexões”. Pois, é lendo, refletindo e trocando que nós nos (des)entendemos...
 Profª. Eli Regina Nagel dos Santos
V
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto 
para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
NOTA
Opa, já que apresentamos o UNI e nos valemos dos 
diálogos do príncipe, fica registrada sua referência, SAINT-EXUPÉRY, 
Antoine de. O pequeno príncipe. 30. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1986. Vale 
a pena conhecer, ler, ou até mesmo revisitá-lo! Abraços e continuamos 
nossa caminhada!
VI
VII
UNIDADE 1 – A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS .................................................. 1
TÓPICO 1 – A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA .............................................................................. 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 A LINGUAGEM E O HOMEM .......................................................................................................... 4
3 O QUE VEM A SER A SEMÂNTICA? .............................................................................................. 7
3.1 SEMÂNTICA FORMAL .................................................................................................................. 11
3.1.1 Sentido, referência e quantificador ....................................................................................... 13
3.2 SEMÂNTICA ENUNCIATIVA ...................................................................................................... 17
3.3 SEMÂNTICA COGNITIVA ............................................................................................................ 19
RESUMODO TÓPICO 1........................................................................................................................ 23
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 24
TÓPICO 2 – O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM ......................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27
2 PRAGMÁTICA ..................................................................................................................................... 27
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 43
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 46
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 47
TÓPICO 3 – ANÁLISE DO DISCURSO: A LINGUAGEM EM MOVIMENTO
 E OS EFEITOS DE SENTIDOS ..................................................................................... 49
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 49
2 A LINGUAGEM NA ANÁLISE DO DISCURSO ........................................................................... 49
3 FASES DA ANÁLISE DO DISCURSO ............................................................................................. 50
4 FORMAS DE DIZER ............................................................................................................................ 53
5 FORMAÇÃO DISCURSIVA E O CONTEXTO DE PRODUÇÃO .............................................. 57
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 62
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 63
TÓPICO 4 – A LINGUAGEM E OS SENTIDOS NA TEORIA DA ENUNCIAÇÃO ................. 65
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 65
2 LINGUAGEM X DIALOGISMO ....................................................................................................... 66
3 PALAVRA: SIGNO DE CRIAÇÃO IDEOLÓGICA ....................................................................... 68
4 ESFERA E GÊNEROS DO DISCURSO ............................................................................................ 73
RESUMO DO TÓPICO 4........................................................................................................................ 76
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 78
UNIDADE 2 – LINGUAGEM E ESTILÍSTICA .................................................................................. 81
TÓPICO 1 – NOÇÃO DE ESTILÍSTICA ............................................................................................. 83
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 83
2 ESTILÍSTICA ......................................................................................................................................... 84
3 GRANDES VERTENTES DA ESTILÍSTICA .................................................................................. 89
sumário
VIII
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 91
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 97
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 98
TÓPICO 2 – FIGURAS DE LINGUAGEM ........................................................................................ 99
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 99
2 FIGURAS DE PALAVRAS .................................................................................................................. 101
3 FIGURAS DE PENSAMENTO .......................................................................................................... 110
4 FIGURAS DE SINTAXE OU DE CONSTRUÇÃO ........................................................................ 116
5 FIGURAS DE SOM .............................................................................................................................. 125
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 131
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 135
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 137
UNIDADE 3 – LINGUAGEM E EXPRESSÃO ................................................................................... 139
TÓPICO 1 – EXPRESSIVIDADE DA FALA E DA ESCRITA: ESTILO ......................................... 141
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 141
2 A PRESENÇA DA FALA E DA ESCRITA NA SOCIEDADE ....................................................... 143
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 160
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 165
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 166
TÓPICO 2 – AS RELAÇÕES DE SENTIDOS ..................................................................................... 169
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 169
2 POLISSEMIA ........................................................................................................................................ 170
3 HOMÔNIMOS ...................................................................................................................................... 175
4 AMBIGUIDADE ................................................................................................................................... 179
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 186
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 189
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 190
TÓPICO 3 – MÉTODO E TÉCNICA DE ENSINO DOS ASPECTOS SEMÂNTICOS 
 DA LINGUAGEM POR MEIO DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA ................................ 193
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 193
2 O ENSINO DA LÍNGUA NA PERSPECTIVA DO TEXTO .......................................................... 196
3 O PLANEJAMENTO POR MEIO DE SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS:ORIENTAÇÕES 
 TEÓRICO-METODOLÓGICAS DE TRABALHO A PARTIR DO GÊNERO .......................... 203
4 EXEMPLO DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA ....................................................................................... 205
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 215
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 216
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 217
1
UNIDADE 1
A LINGUAGEM E SEUS 
DESDOBRAMENTOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• reconhecer diferentes conceitos de linguagem;
• familiarizar-se a respeito dos tipos de semântica;
• compreender a relação da semântica nos atos comunicativos;
• conhecer as principais característica da pragmática e da teoria dos atos de fala;
• refletir sobre origem e conceitos da análise do discurso;
• compreender a linguagem na concepção de Bakhtin: como fenômeno 
social de interação verbal.
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você 
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
TÓPICO 1 – A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
TÓPICO 2 – O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
TÓPICO 3 – ANÁLISE DO DISCURSO: A LINGUAGEM EM 
MOVIMENTO E OS EFEITOS DE SENTIDOS
TÓPICO 4 – A LINGUAGEM E OS SENTIDOS NA TEORIA DA 
ENUNCIAÇÃO
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
1 INTRODUÇÃO
FIGURA 1 – UMA LÍNGUA CHAMADA PORTUGUESA
FONTE: <http://umalinguachamadaportuguesa.blogspot.com/>. Acesso em: 10 abr. 2012.
A linguagem, inserida no contexto social, possibilita a compreensão dos 
sujeitos que são dialogicamente constituídos, uma vez que desvela a discursividade 
da sociedade. Dito de outra maneira, a linguagem está em curso e se move no 
contexto histórico-social. Dessa forma, somos constituídos pela linguagem 
por meio de enunciados produzidos no convívio social, na coletividade e nas 
interlocuções, consequentemente, ampliamos nosso conhecimento e do outro.
É inapropriado tratar de semântica sem introduzir aspectos relacionados 
à linguagem. Sem a linguagem não conseguiríamos transmitir conhecimentos. 
Assim, nesse tópico, apresentaremos o conceito de semântica propriamente dito, 
visando compreender a relação da semântica nos atos comunicativos.
Estimado acadêmico! Para compreensão e análise dos conceitos estudados, 
sugerimos que ao ler faça sínteses, esquemas, sublinhe ideias que julgue pertinentes. Estas 
são formas de organizar seu estudo e reter as principais ideias do texto. Então, desejamos 
um bom trabalho!
UNI
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
4
2 A LINGUAGEM E O HOMEM
FIGURA 2 – JANELA DE IDEIAS: A CONSTITUIÇÃO DOS DISCURSOS
FONTE: <http://www.convergencia.jor.br/impressao/janeladeideias/letras/
linguistica_1_maio10.html>. Acesso em: 12 abr. 2012.
A linguagem faz parte da vida de todos os seres humanos, como um 
instrumento de comunicação expresso por meio de desenhos, gestos, músicas, 
danças, pinturas e símbolos. Apresenta-se de forma variada, complexa, múltipla, 
marcada pela diversidade cultural. Assim, a linguagem além de um meio de 
comunicação, é um elemento de representação das diferentes identidades da 
pessoa, ou de um grupo. 
Caro acadêmico! Realizamo-nos na relação com os outros. Quando 
sentimos, percebemos, descobrimos, compreendemos, trocamos, raciocinamos, 
transformamos e interagimos, nos expressamos e interpretamos o nosso entorno 
a partir de diferentes linguagens, são elas: a verbal e a não verbal. A linguagem 
medeia toda relação humana, é vista como uma forma de interação em que 
necessitamos considerar o contexto que permeia essa comunicação.
Vejamos exemplos de cada uma dessas linguagens:
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
5
Linguagem Verbal
Pai não entende nada
– Um biquíni novo?
– É, pai.
– Você comprou um no ano passado!
– Não serve mais, pai. Eu cresci.
– Como não serve? No ano passado você tinha 14 anos, 
este ano tem 15. Não cresceu tanto assim.
– Não serve, pai.
– Está bem. Toma o dinheiro. Compra um biquíni maior.
– Maior não, pai. Menor.
Aquele pai, também, não entendia nada.
(Luis Fernando Veríssimo)
FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/
fichaTecnicaAula.html?aula=23921>. 
Acesso em: 10 abr. 2012.
FONTE:<https://goo.gl/GPrHF4>. 
Acesso em: 5 mai. 2012.
Linguagem Não Verbal
Caro acadêmico! 
Lembre-se de que a linguagem não verbal utiliza apenas imagens para transmitir uma 
mensagem. Essa faz uso de pintura, imagens, símbolos, figuras, dança, mímica, gestos, 
desenhos, tom de voz, postura corporal, música e escultura como meio de comunicação. A 
linguagem não verbal pode ser observada até nos animais, quando um coelho levanta a orelha 
representa que está alarmado com algum som e/ou movimento, ou quando está com a orelha 
abaixada sinaliza tranquilidade. E a linguagem verbal é quando o sujeito faz uso da linguagem 
oral ou escrita, pois nesse caso se utiliza da palavra como um código a ser decifrado.
UNI
Assim, desde que nascemos passamos a conhecer e conviver com 
diferentes linguagens, e através das interações com outras pessoas, vamos 
adquirindo o código linguístico. Partindo desse pressuposto e baseados em 
Bakhtin (1992), não são palavras que pronunciamos e/ou escutamos, mas são 
enunciados positivos ou negativos, resultados das relações sociais de que 
participamos.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
6
FIGURA 3 – MAFALDA
FONTE: <http://www.sempretops.com/diversao/tirinhas-da-mafalda/>. Acesso em: 20 maio 2012.
Você sabia...
Que o criador de Mafalda em sua infância não gostava de histórias em quadrinhos? Um dia 
ele inventou de ler uma história parecida e assim teve a ideia de criar sua própria personagem.
UNI
Com efeito, “a linguagem não é um meio neutro que se torne fácil 
e livremente a propriedade intencional do falante, ela está povoada, ou 
superpovoada de intenções de outrem. Dominá-la, submetê-la às próprias 
intenções e acentos é um processo difícil e complexo”(BAKHTIN, 1985, p. 271). 
Desta forma, a linguagem é utilizada dependendo da situação e do contexto de 
comunicação. Para tanto, podemos fazer uso da linguagem formal (ou culta) e 
informal (coloquial ou popular). 
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
7
Caro acadêmico! Os conceitos de linguagem verbal, não verbal, linguagem 
formal e informal foram desenvolvidas nos livros de Língua Portuguesa: Expressão Escrita 
e Compreensão de Texto e também no de Linguística Aplicada à Língua Portuguesa. Caso 
tenha dúvidas sugerimos a retomada desses assuntos, a fim de facilitar o entendimento 
desse material em estudo.
UNI
3 O QUE VEM A SER A SEMÂNTICA?
Pense um pouco... Você conseguiria explicar para um colega o que significa 
a palavra semântica? Para alguns poderá ser difícil. Bem, vamos ao dicionário, 
importante aliado quando da busca de significados e sinônimos: semântica para 
a linguística: “num sistema linguístico, o componente do sentido das palavras 
e da interpretação das sentenças e dos enunciados”. Semântica para a filologia, 
“ciência que estuda a evolução do significado das palavras e de outros símbolos 
que servem à comunicação humana”(HOUAISS, 2009, p. 1724). 
Agora vejamos como melhor reorganizar estas informações. Observe:
FONTE: A autora, com base em Oliveira (2001)
A semântica é um ramo da linguística que busca descrever o significado 
das palavras e/ou das sentenças. A palavra semântica tem origem do grego, uma 
vez que sema significa marca, sinal distintivo. Ao estudar questões acerca do 
significado, ela preocupa-se com relações de:
E S tuda
qu E stões gramaticais dentro do
ca M po das
signific  ções das expressões
N os
a T os
comun I cativos
o C upando-se do significadodas
pal A vras.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
8
FIGURA 4 – PREOCUPAÇÕES DA SEMÂNTICA
FONTE: A autora
Mas, será que descrever o significado é algo simples assim? 
FIGURA 5 – QUAL É O SIGNIFICADO DAS PALAVRAS?
FONTE: <http://www.arautoveritatis.com/2011/06/e-semantica-entornou.html>. 
Acesso em: 20 maio 2012.
O que é significado para os semanticistas? Não encontramos um consenso, 
uma definição única, uma vez que ele é atribuído em diferentes situações de uso. 
Vejamos: Qual o significado de fogo? Pensamos no significado de um termo. 
Porém, outras vezes pensamos no significado de um livro (objeto) que lemos, 
no significado da vida para cada um de nós, o significado da cor amarela nas 
sinaleiras de um semáforo. Ou o que significa calor? Assim, podemos perceber 
que vivemos rodeados por significados e esses dependem de uma relação casual 
entre palavra e as coisas. 
Leia a letra da música e observe os diferentes significados que são 
empregados referentes à palavra “pé”. 
Sentido
Extensão
Intenção
Quantificação
SEMÂNTICA
Denotação
Referência
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
9
Pé Com Pé
Palavra Cantada
Um pé pra lá
Outro pra cá
Um pé pra lá
Outro pra cá
Pé com pé, pé com pé
Pé com pé, pé contra pé
Acordei com o pé esquerdo
Calcei meu pé de pato
Chutei o pé da cama
Botei o pé na estrada
Deu um pé de vento
Caiu um pé d'água
Enfiei o pé na lama
Perdi o pé de apoio
Agarrei num pé de planta
Despenquei com pé descaço
Tomei pé da situação
Tava tudo em pé de guerra
Tudo em pé de guerra
Pé com pé, pé com pé,
Pé com pé, pé contra pé
Não me leve ao pé da letra
Essa história não tem pé nem cabeça
Vou dar no pé / Pé quente
Pé ante pé / Pé rapado
Samba no pé / Pé na roda
Não dá mais pé / Pé chato
Pegar no pé / Pé de anjo
Beijar o pé / Pé de pato
Manter o pé / Pé de moleque
Passar o pé / Pé de gente
Ponta do pé / pé de guerra 
Bicho de pé / Pé atrás
De orelha em pé / Pé fora
Pé contra pé / Pé frio
A pé
Rodapé / Pé
FONTE: Música: Pé com pé, do grupo Palavra Cantada. Disponível em: <http://letras.terra.com.
br/palavra-cantada/447929/>. Acesso em: 29 maio 2012.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
10
Viu de quantas formas diferentes a palavra pé foi empregada? Com 
certeza poderemos concordar, ou discordar sobre o que é significado, porque por 
ora já não sabemos mais o significado da palavra significado? “Daí a afirmação 
do filósofo Putman: o que atrapalha a semântica é ela depender de um conceito 
pré-construído de significado” (OLIVEIRA, 2003, p. 17-18). A problemática do 
significado está ligada à questão do conhecimento.
O significado envolve dimensões estritamente linguísticas, mas também 
competências translinguísticas. “O sentido é o resultante de uma interação 
complexa entre o significado, e até, não raro, a materialidade do significante, 
a situação/contextos e, em particular, o universo de saberes e crenças dos 
interlocutores”(FONSECA, 1994, p. 75-76).
Explanaremos três formas de estudar o significado linguístico, sendo que 
cada uma delas aborda o mesmo fenômeno, porém com enfoques, conceitos e 
concepções diferentes. São elas:
Prezado acadêmico! Para aprofundar seus estudos e 
compreensões acerca da semântica, sugerimos a obra: Introdução 
à semântica: brincando com a gramática, de Rodolfo Ilari. Apresenta 
conceitos juntamente com atividades práticas que enriquecem o 
conhecimento das principais operações sintáticas importantes para 
a significação do português brasileiro. Nessa obra, ainda pontua 
o trabalho que pode ser desenvolvido nas faculdades e escolas, no 
que se refere à exploração do sentido. O autor se vale também de 
sua ampla experiência para iniciar a discussão sobre a semântica nos 
meios educacionais brasileiros, destacando inúmeros caminhos com 
os recursos linguísticos disponíveis. 
UNI
Semântica cognitiva
Semântica da 
enunciação ou 
argumentativa
Semântica formal
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
11
3.1 SEMÂNTICA FORMAL
Historicamente a semântica formal antecede todas as outras. Ela preocupa-
se em “descrever o problema do significado a partir do postulado de que as sentenças 
se estruturam logicamente” (OLIVEIRA, 2003, p. 19). Um dos pioneiros nesse tipo 
de estudo é Aristóteles, que acredita que as relações de significado independem do 
conteúdo expresso, utilizando para isso o raciocínio dedutivo.
Raciocínio dedutivo é a modalidade de raciocínio lógico que faz uso 
da dedução para obter uma conclusão a respeito de determinadas sentenças. 
Esse tipo de raciocínio trabalha no intuito de apresentar conclusões que devem, 
necessariamente, ser verdadeiras caso todas as sentenças sejam verdadeiras.
Possui base na razão e somente esta pode direcionar ao conhecimento 
verdadeiro. Assim, no momento que algo é tido como verdade (sentença maior), 
passamos a estabelecer relações com uma sentença menor e a partir daí chegamos 
a uma conclusão, ou seja, a uma verdade daquilo que propomos analisar.
UNI
“A semântica formal considera, como uma propriedade central, o fato 
de que a língua é utilizada para falar sobre objetos, indivíduos, fatos, eventos, 
propriedades, descritos como externos à própria língua” (MÜLLER; VIOTTI, 
2003, p. 139). Assim, quando falamos, o referente, ou seja, o elemento ao qual nos 
remetemos quando nos comunicamos, o assunto da mensagem, é propriedade 
fundamental e, se analisado, fornece características indispensáveis para que 
possamos estabelecer relações e construir significados. 
Esta obra reúne uma coletânea de textos que abordam 
a semântica formal no centro dos estudos. Nela os autores discutem 
que a semântica é uma das áreas mais instigantes e criativas da 
linguística. Em uma das partes, apresenta noções básicas de uma 
semântica de tradição lógica, como a relação entre significado e 
verdade, referência e denotação, quantificação, extensão e intenção. 
Logo, discute as noções de uma outra tradição semântica, chamada 
mentalista, ao abordar temas como predicação, papel temático, 
estrutura do léxico, foco e pressuposição. 
FONTE: MÜLLER, Ana Lúcia; NEGRÃO, Esmeralda V; FOLTRAN, Maria 
José (Org.). Semântica formal. Ed. Contexto, 243 p.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
12
Caro acadêmico, atenção! Referente: é o elemento sobre o qual nos 
remetemos quando nos comunicamos. Podemos dizer que é o assunto da mensagem. Ao 
analisarmos o referente, este nos fornece características indispensáveis para que possamos 
estabelecer relações e assim, construir conceitos.
UNI
Analisamos a sentença:
1- Todo homem é um animal.
2- Renato é um homem.
3- Logo, Renato é um animal.
Nesse exemplo, analisamos se a primeira sentença é verdadeira, a segunda 
e a terceira é constituída por pressuposto e/ou lógica (Oliveira, 2003). E se as duas 
primeiras sentenças forem verdadeiras, conclui-se que a terceira é fato. Segundo 
Oliveira (2003, p. 20), “essas são relações lógicas, ou formais, porque descrevem 
relações de sentidos”. Partindo desse pressuposto, a linguagem torna-se uma 
estrutura lógica, ou seja, o significado de uma sentença é o tipo de situação que 
ela descreve, e essa por sua vez exprime uma condição de verdade pelas relações 
lógicas que estabelece entre termos.
Observe o raciocínio seguinte. Se a primeira e segunda sentença forem 
verdadeiras, você poderá completar a terceira por meio da lógica:
1- Todo gato tem quatro patas.
2- Fiona é uma gata.
3- Logo, _______________________________________.
Conforme Oliveira (2003) foi o lógico alemão Frege, quem muito contribuiu 
com a semântica na definição de significado, isso se deu, a partir da distinção 
entre:
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
13
FONTE: A autora com base em Oliveira (2003)
Explanaremos cada um dos conceitos a seguir.
3.1.1 Sentido, referência e quantificador
Há que se considerar que a análise das representações no âmbito individual 
é excluída da semântica para Frege. Por exemplo: ao escutar a expressão estrela 
guia, formamos uma representação subjetiva e individual. Estarepresentação é 
formada de acordo com experiência e vivência de mundo que possuímos. Para 
Frege, a experiência pessoal não tem nada a ver com a semântica, mas sim com os 
estudos da psicologia (OLIVEIRA, 2003).
A semântica formal foca os estudos nos conhecimentos vividos e nos 
significados atribuídos por uma comunidade, que partilha da mesma uniformidade 
de conceito. Exemplo: “eu e você temos representações distintas de estrelas – você 
talvez associe a um sentimento nostálgico, eu, à euforia das viagens espaciais –, 
mas compartilhamos o mesmo sentido de estrela apontando um certo objeto no 
céu que reconhecemos como estrela”(OLIVEIRA, 2003, p. 20, grifo nosso).
Estimado acadêmico!
Você já vivenciou a sensação de felicidade quando uma criança descobre que 2 + 2 chega 
ao mesmo resultado que 8 – 4? Dois caminhos, dois sentidos, que nos conduzem à 
consciência de igualdade, ou seja, a mesma referência, o resultado 4.
UNI
Referência
Quantificador Sentido
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
14
A partir do exemplo dado no UNI, observamos que uma mesma 
referência pode recuperar vários sentidos. Observe: considere o Brasil por meio 
de diferentes sentidos: O país do futebol, do esporte, do carnaval, do samba no pé, das 
águas, da impunidade. Falamos de um país (é a referência) de variadas formas. 
Assim, também como já ouvimos as denominações referentes às capitais a seguir:
1- Salvador é a capital negra.
2- Florianópolis é a capital da inovação.
3- São Paulo é a capital dos negócios.
4- Rio de Janeiro é a capital do Brasil colonial.
Desta forma, o sentido permite alcançarmos um objeto no mundo, “mas 
é o objeto no mundo que nos permite formular um juízo de valor, isto é, que nos 
permite avaliar se o que dizemos é falso ou verdadeiro. A verdade não está, pois, 
na linguagem, mas nos fatos do mundo. A linguagem é apenas um instrumento 
que nos permite alcançar aquilo que há, a verdade ou a falsidade”(OLIVEIRA, 
2003, p. 22).
Podemos ainda, esclarecer a diferença entre sentido e referência fazendo 
uma analogia com um carro.
FIGURA 6 - DIFERENÇA ENTRE SENTIDO E REFERÊNCIA - EXEMPLO DO CARRO
FONTE: <http://www.blogcarros.com.br/novo-ecosport-ford/>. Acesso em: 15 maio 2012.
Nesse caso, observando a imagem, o carro é a referência. Seu modelo, 
cor, todas as suas propriedades não dependem de quem observa. Pode ser 
observado a partir de diferentes ângulos e atentamente para captar detalhes. 
Mas, a imagem que vemos tanto você, quanto eu nos leva a partilhar do mesmo 
sentido: é um meio de transporte terrestre que nos conduz de um lugar para 
o outro. “Lembramos que a imagem mental que cada um de nós forma da 
imagem objetiva (...) está fora dos interesses da semântica” (OLIVEIRA, 2003, 
p. 22), ou seja, se é grande, confortável, com cores de minha preferência, nada 
disso importa para a semântica.
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
15
Agora é sua vez: descreva o estado em que você mora. A partir da 
referência, estado, estabeleça diferentes sentidos. Em seguida compartilhe com 
o grupo e perceba as semelhanças, ou seja, a referência que tem seu estado.
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
AUTOATIVIDADE
Dentro dos estudos da semântica formal e dos estudos de Oliveira (2003) 
existem dois tipos de expressões: as saturadas e as insaturadas. As sentenças 
saturadas são quando expressam um pensamento completo, assim podemos 
identificar facilmente a referência. Exemplo: Alemanha é um país da Europa. 
Mas, quando as expressões são incompletas, chamamos de insaturadas, ou seja, 
não conseguimos localizar uma referência. Podemos citar a expressão: é um país, 
essa não diz nada de exato e pode ser recorrente em muitas sentenças.
Exemplos de sentenças saturadas:
1- Estados Unidos é um país em crise.
2- Japão é um país que extrema com o Brasil.
3- Brasil é um país tropical.
Observamos que as três sentenças anteriores expressam um pensamento 
completo e tem uma referência. Atente que em (2) a referência é falsa, uma vez 
que Japão não faz fronteira com o Brasil. Já em (1) e (3) as referências são verdadeiras. 
Exemplo de sentença insaturada:
 _____________é um país __________________. 
Insaturada pelo fato de faltar argumentos que antecedem e sucedem a 
sentença. Desta forma, não tem como referência um valor de verdade ou falsidade, 
pois existem dois lugares a serem preenchidos a fim de completar a ideia. Já se 
completarmos:
 
Argentina é um país que valoriza a cultura.
Notamos que, agora sim, a sentença é saturada, pois tem um sentido, 
exprime um pensamento, tem uma referência e retrata uma verdade. 
Uma sentença pode ser completada como nos exemplos expostos 
anteriormente, e também, por meio de um quantificador. Este indica o número 
de elementos na expressão. Exemplos de sentenças quantificadas:
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
16
1- Uma cidade de Sergipe é a capital de Sergipe. 
2- Todos os homens são animais.
3- Todos os meninos amam uma menina da escola.
Em (1), afirmamos que há uma cidade de Sergipe, cuja cidade é a 
capital do Estado citado, embora a sentença não explicite que cidade é essa. 
Em (1) observamos um quantificador existencial. Já a sentença (2) sintetiza um 
quantificador universal uma vez que faz uso do predicado ‘animal’ aplicando 
a todos os homens. Por fim, na última sentença (3) temos os dois tipos de 
quantificadores: o universal (Todos) e o existencial (Uma). Essa junção de 
quantificadores em uma mesma sentença pode levar à interpretação ambígua. 
Conceito esse que retomaremos nos próximos tópicos.
Se você quiser saber mais sobre 
a semântica e outros conceitos relacionados 
à Linguística, sugerimos a pesquisa e leitura 
dos textos contidos nestes dois livros:
Referência: MUSSALIN, Fernanda & Anna 
Christina BENTES (2001) (Orgs.). Introdução à 
Linguística: Domínios e Fronteiras. Volumes 1 
e 2. São Paulo: Cortez Editora. 194 p. e 270 p.
UNI
FONTE: <http://www.extra.com.br/livros/LinguisticaOratoria/Linguistica/Introducao-a-
Linguistica-Dominios-e-Fronteiras-118787.html>. Acesso em: 26 maio 2015.
Contrapondo a semântica formal que tem o princípio do significado na 
pressuposição e na lógica, mencionamos a semântica da enunciação. Assim, 
passamos a conhecer como essa semântica concebe o significado.
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
17
3.2 SEMÂNTICA ENUNCIATIVA
A semântica argumentativa ou semântica da enunciação, segundo Koch 
(2002, p. 102), tem por função identificar enunciados cujo traço constitutivo é o 
“de serem empregados com a pretensão de orientar o interlocutor para certos 
tipos de conclusão, com exclusão de outros”. Veremos nesse momento, o conceito 
de enunciação a partir dos estudos realizados por Oswald Ducrot, bem como a 
noção de polifonia para esse estudioso.
A linguagem, afirma Ducrot (apud OLIVEIRA, 2003, p. 28):
[...] é um jogo de argumentação enredado em si mesmo; não falamos 
sobre o mundo, falamos para construir o mundo e a partir dele 
tentar convencer nosso interlocutor da nossa verdade, verdade 
criada pelas e nas nossas interlocuções. A verdade que se forma na 
argumentação. Assim, a linguagem é uma dialogia, ou melhor, uma 
“argumentologia”; não falamos para trocar informações sobre o 
mundo, mas para convencer o outro a entrar no jogo discursivo, para 
convencê-lo de nossa verdade. 
Para esse estudioso a argumentação é determinante para a apreensão do 
sentido em um enunciado, sendo que na semântica da enunciação, o sentido está 
incluso na língua. Desta forma, a linguagem não tem mais uma dimensão objetiva, 
que retrata uma verdade que está fora dela, mas expressa o ponto de vista subjetivo 
ora do eu–locutor, ora do tu/alocutário no discurso. Nesse sentido, a “linguagem 
constitui o mundo, por isso não é possível sair fora dela” (OLIVEIRA, 2003, p. 27).
Isso porque o pensamento do outro é constituídopelo meu pensamento 
e, vice-versa, sendo impossível separá-los totalmente. Dessa lógica, surge a noção 
de polifonia, ou seja, a possibilidade de ouvir a voz de diferentes enunciadores e 
destinatários em um discurso estabelecendo a significação da frase e descrevendo 
o sentido dos enunciados. 
Caro acadêmico! Fique atento!
Na semântica da enunciação o conceito de pressuposição é substituído 
pelo do enunciador e esse se resolve pela hipótese da polifonia. É o conceito de 
ambiguidade pelo de polissemia, quando consideram que um mesmo discurso 
possui um leque de significados diferentes, porém relacionados (OLIVEIRA, 
2003, p. 28).
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
18
Na sentença:
(1) Raquel parou de caminhar.
E1 Raquel caminhava.
E2 Raquel não caminha mais.
A sentença (1) põe em jogo um enunciador de que afirma que Raquel 
caminhava antes, pois se parou é porque um dia já caminhou. Nessa estrutura 
polifônica podemos encontrar dois tipos de negação. A primeira pode ocorrer 
quando o ouvinte nega a fala do primeiro enunciador E1, nesses casos nos 
deparamos com uma negação polêmica. Já quando o ouvinte nega o posto, ou 
seja, o enunciador E2 temos uma negação metalinguística.
Agora, observe o exemplo: 
Não há uma gota de água na torneira.
Segundo Ducrot (1987), neste exemplo acima temos outro tipo de negação, 
qual seja, a negação descritiva, que ocorre quando o locutor descreve o mundo 
negativamente. No excerto, analisamos uma apresentação negativa de uma 
descrição. 
Podemos ainda citar outros tipos de sentenças que, para a semântica da 
enunciação, têm um valor e para a semântica formal não seria possível de analisá-
los, uma vez que retratam o mesmo conteúdo. Vejamos:
1- Júlia estudou pouco.
2- Júlia estudou um pouco.
Para a semântica formal, ambas as sentenças têm o mesmo pressuposto 
e são sentenças saturadas. Para a semântica da enunciação elas são diferentes. 
Dizer que estudou pouco é admitir que não estudou, caso direcionemos o discurso 
no sentido de se dar mal na prova. Já o operador argumentativo um pouco (2) 
utilizado, conduz o discurso no sentido que Júlia estudou, assim conduz o 
argumento a favor da menina, o que pode contribuir na hora da prova.
Agora é sua vez:
Descreva a contribuição proporcionada pelo uso do "até" nas sentenças, 
a partir do ponto de vista argumentativo:
(1) A professora do meu filho esteve no Conselho Tutelar.
(2) Até a professora do meu filho esteve no Conselho Tutelar.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
19
3.3 SEMÂNTICA COGNITIVA
FIGURA 7 – IMAGEM TRADUZINDO DIFERENTES SIGNIFICADOS
FONTE: <http://semantizando.blogspot.com/2010_11_01_archive.html>. 
Acesso em: 10 maio 2012.
A semântica cognitiva está ligada ao surgimento da linguística cognitiva. 
A publicação de Lakoff e Johnson, de 1980, a Metaphors we live by marcou o seu 
reconhecimento. Hoje corroboram contribuições de diferentes pesquisadores 
com o foco da fonologia à pragmática.
A semântica cognitiva insere-se nos paradigmas da linguística do uso, 
fazendo oposição aos modelos estruturalistas de Saussure, e converge seus 
estudos nos aspectos que dizem respeito aos processos que o falante utiliza para 
categorizar o mundo. Desta forma, o significado surge de dentro para fora, ou seja, 
é motivado, decorrente da experiência corpórea com o mundo. A hipótese central 
é que o significado é natural e experiencial e se sustenta na constatação de que ele 
se constrói a partir de nossas intenções físicas (OLIVEIRA, 2003).
Caro acadêmico! Lembre-se de fazer relações entre as três semânticas 
que estamos estudando. A semântica cognitiva contrapõe-se a semântica formal 
(objetivista) no que se refere à questão de o significado pautar-se na referência e 
na verdade como uma única maneira de associar o símbolo e o mundo.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
20
A semântica cognitiva acentua seus trabalhos nos finais da década de 
70 e início da década de 80, centrava no interesse de estudar o fenômeno de 
significação. Contudo, o fator dos estudos cognitivos foi movido pela investigação 
da psicolinguística de Eleanor Rosch. Ela se baseava na dinâmica fundamental 
de protótipos para o processo comunicativo. Desta forma, a percepção corpórea 
de mundo por parte do sujeito é o alicerce para estabelecer sentido no ato de 
interação do falante.
De acordo com Lakoff e Johnson (1999), em meados da década de 70, 
surge uma visão que compete com aquela desenvolvida no período anterior, 
centrada em duas teses básicas:
(i) há uma forte dependência de conceitos e razão sobre o corpo; e
(ii) que a conceptualização e a razão têm como eixo processos imaginativos 
como metáfora, metonímia, protótipos, frames, espaços mentais e categorias 
radiais.
Elenca, então, as seguintes características como sendo centrais para essa 
segunda geração de pesquisas (LAKOFF e JOHNSON, 1999, p. 77):
Os princípios que norteiam essa nova abordagem são os seguintes:
1) A estrutura conceptual origina-se de nossa experiência sensório-motora e 
das estruturas neurais que lhes dão origem, sendo a noção de “estrutura” 
caracterizada como esquemas de imagens e esquemas motores.
2) As estruturas mentais são intrinsecamente significativas devido à sua 
conexão com nossos corpos e nossa experiência corpórea, o que contraria a 
ideia de manipulação de símbolos não semantizados.
3) Há um nível básico de conceitos que originam parte de nossos esquemas 
motores e nossas capacidades para percepção gestáltica e formação de 
imagens.
4) Nossos cérebros são estruturados de forma a projetar a ativação de padrões 
de áreas sensório-motoras para níveis corticais mais altos, constituindo as 
chamadas metáforas primárias. Tais projeções permitem-nos conceptualizar 
conceitos abstratos com base em padrões inferenciais utilizados em 
processos sensório-motores que estão diretamente ligados ao corpo.
5) A estrutura dos conceitos inclui protótipos de vários tipos: casos típicos, 
casos ideais, estereótipos sociais, exemplares salientes, pontos de referência 
cognitivos, entre outros, sendo que cada tipo de protótipo utiliza uma forma 
distinta de raciocínio.
6) A razão é corpórea à medida que nossas formas fundamentais de inferência 
originam-se de formas sensório-motoras e outras formas de inferência 
baseadas na experiência corpórea.
TÓPICO 1 | A LINGUAGEM E A SEMÂNTICA
21
7) A razão é imaginativa à medida que as formas de inferência são mapeadas 
de modos abstratos de inferência pela metáfora.
8) Os sistemas conceptuais são pluralísticos, não monolíticos, de tal sorte que 
conceitos abstratos são definidos por múltiplas metáforas conceptuais que 
são muitas vezes inconsistentes entre si.
FONTE: <http://www.pessoal.utfpr.edu.br/paulo/semantica%20cognitiva_introducao.pdf>. 
Acesso em: 10 jun. 2012
A semântica cognitiva pautava-se no princípio de que, para a construção 
do sentido, é importante considerar fatores extralinguísticos. Cognitivamente, a 
língua é algo que está correlacionada à percepção individual, o que caracteriza 
a dinamicidade e heterogeneidade da língua, uma vez que se preocupa com 
estudos de construções mentais que estruturam o conhecimento. Há dois conceitos 
que dão suporte à semântica cognitiva, são eles:
FONTE: A autora com base em Oliveira (2003)
Visto que, primeiramente, aprendemos esquemas de movimento e 
categorias básicas. Desta ação, surge um esquema imagético, uma memória do 
movimento, ou experiência que resulta no ponto de:
Percurso
PARTIDA CHEGADA
A categorização é outro conceito fundamental em semântica cognitiva e 
baseia-se em processos de generalização, abstração e discriminação. Associada à 
noção de categorização surge o conceito de protótipo e de membros periféricos, 
essencial também em semântica cognitiva. Vejamos umexemplo:
Categorias Esquemas Imagéticos
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
22
Formulou-se a hipótese de que os conceitos se estruturam por 
protótipos. Em outros termos, quando classificamos não recorremos ao 
estabelecimento de condições necessárias e suficientes, mas nos escoramos 
em casos que são exemplares, que são mais reveladores da categoria. É 
por isso que respondemos com pardal ao pedido de exemplificação de 
pássaro: pardal é muito mais exemplar de pássaro do que pinguim. Há 
vários motivos para nossa preferência por pardal: pardal voa e os pássaros 
em geral voam, pardal é um pássaro que a gente vê sempre, é familiar. As 
categorias se estruturam, pois, por meio de um caso mais protótipo que 
se relaciona via semelhanças com os outros membros. Pardal é o membro 
central da categoria PÁSSARO, ao passo que pinguim ocupa uma posição 
periférica (OLIVEIRA, 2003, p. 40).
O processo semântico-cognitivo da língua, em seus mais diversos usos, 
ultiliza-se de dois mecanismos: a Metáfora e a Metonímia. Ambas não devem ser 
vistas e tratadas aqui como simples figuras de estilo, conforme são vistas com 
frequência na esfera escolar. Para a semântica cognitiva, tanto uma, quanto outras 
são importantes e aparecem nos domínios discursivos. 
FONTE: A autora com base em Oliveira (2003)
A compreensão de um falante no processo de formulação de palavras 
e atribuição de significado de uma língua depende de uma rede de relações 
semânticas e lexicais, que são selecionados pelos falantes nos atos de fala. Os 
semanticistas não podem menosprezar os fatos lexicais para não reduzir o estudo 
da semântica. No próximo tópico, abordaremos a questão do significado na 
linguagem em uso.
Metáfora Metonímia
Defini-se por ser o mapa.
" Permite mapearmos, aprendidos diretamente 
pelo nosso corpo, em domínio mais abstratos, 
cuja experimentação é indireta. Nesse modelo 
nosso falar e pensar cotidiano são, na sua maior 
parte, metafórico" (OLIVEIRA, 2003, p. 36).
A metonímia consiste em empregar um temo 
no lugar de outro, sendo que entre ambos há 
uma estreita afinidade ou relação de sentido. 
Exemplo:
Categoria: cachorro (categoria central).
Metonímia: animal, boxer (categoria periférica).
Ou seja, as metonímias estendem as categorias. 
Aqui, ela trata de um processo cognitivo 
que permite criar relações hierárquicas entre 
conceitos.
23
RESUMO DO TÓPICO 1
Na discussão desse tópico podemos compreender que cada uma das 
semânticas abordadas tem uma forma de analisar o mesmo objeto. Podemos 
sintetizar assim:
FONTE: <http://www.alunosonline.com.br/portugues/aspectos-eufonicos-na-colocacao-
pronominal.html>. Acesso em: 10 jun. 2012.
O estruturalismo trata o significado como unidade de diferença. Por 
exemplo, a palavra CADEIRA não é definida como uma mesa, quadro ou sofá. 
O significado não tem a ver com o mundo, mas com a estrutura de diferença 
entre os objetos.
A semântica formal é composta pela referência e pelo sentido. O sentido 
de A CADEIRA é do padrão, é o modo de definir a referência. A relação da 
linguagem com o mundo, aqui é peça fundamental.
Na semântica de enunciação, a CADEIRA significa diversas 
possibilidades de operadores argumentativos que a palavra pode participar. 
“Comprei uma cadeira. Senta e come na cadeira”..., são exemplos de enunciação.
Na semântica cognitiva, o significado, neste caso CADEIRA, é adquirido 
por manipulações sensório-motoras, ou seja, por meio de experiências. Defino 
que cadeira é de quatro pernas.
FONTE: A autora com base em Oliveira, 2003.
24
AUTOATIVIDADE
1 Leia a tirinha/imagem a seguir: 
FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/
imagem/0000000139/0000013121.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2012.
• Obs.: Notou que foi retirada a escrita?
• Então, observe as imagens dos quadrinhos:
a) É possível compreender a informação que o autor pretende comunicar pela 
leitura das imagens? Justifique.
b) É possível inferir o que poderia estar escrito nos balões? Registre a seguir.
Agora observe os balões com a escrita: 
FONTE: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/galerias/
imagem/0000000139/0000013121.jpg>. Acesso em: 20 jul. 2012.
• Prezado acadêmico! Em sua opinião, a informação ficou mais completa com 
a junção da escrita? Destacamos, nesse caso, que tanto a imagem quanto a 
escrita são interdependentes. Nesses casos, temos a presença da linguagem 
mista (ou seja, ambas as linguagens). Agora, é sua vez de conceituar esse tipo 
de linguagem.
25
2 Para você fixar o conteúdo apresentado nesse tópico, sugerimos que resolva 
a seguinte atividade referente à semântica:
Maria parou de 
fumar.
Tipos de semânticas
Estabeleça as diferenças apresentadas em cada 
semântica a partir da mesma sentença identificando 
conceitos de referência, pressuposto, enunciador, 
posto, negação, espaço mental...
Semântica formal
Semântica da 
enunciação
Semântica cognitiva
26
27
TÓPICO 2
O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
No sistema linguístico temos oposições fônicas e semânticas, bem como 
as regras combinatórias dos elementos linguísticos. Porém, existem casos que 
nem as oposições semânticas, nem as regras de combinação conseguem explicar. 
Partindo dessa problemática observou-se a necessidade de estudar o uso da 
linguagem – objeto da pragmática. É o que abordaremos nesse tópico. Iniciando 
essa reflexão, observe o diálogo entre duas formigas:
FIGURA 8 – AS FORMIGAS JAPONESAS
FONTE: <http://ac-nadadecoisanenhuma.blogspot.com.br/>. Acesso em: 20 jun. 2012.
Observe que o suposto diálogo ocorreu num contexto específico e nesse 
sentido é preciso enfatizar que nas interações sociais, o uso da linguagem 
determina o ato da comunicação.
2 PRAGMÁTICA
Há, na linguística, estudos relacionados à linguagem no seu contexto de 
uso. Esse ramo da linguística é chamado de pragmática. O interesse da pragmática 
reside nos significados linguísticos a partir de um contexto discursivo e não 
apenas pela semântica proposicional ou frásica.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
28
As palavras, mais que sua significação dicionarizada, assumem diferentes 
significados no uso concreto da linguagem.
A pragmática está além da construção da frase, estudado na sintaxe, ou do 
seu significado, estudado pela semântica. Estuda, essencialmente, a significação 
no ato da fala, da comunicação. Como exemplo, imagine uma pessoa que diga 
“Você tem horas?” Repare que ele não está simplesmente interessado no objeto, 
mas indiretamente está pedindo informação que esse objeto oferece. Seria 
estranho afirmar que tem e não tomar o objeto para obter a informação, pois a 
pergunta indiretamente revela a intenção do locutor.
O termo “pragmática”, como ramo da linguística, originou-se com 
Charles Morris, em 1938, significando o estudo da linguagem em uso. Rudolf 
Carnap, que trabalhara com Morris em Chicago, definiu-a como sendo a relação 
entre a linguagem e seus falantes. O ponto de partida da pragmática foram os 
trabalhos dos filósofos da linguagem: John AUSTIN e Paul GRICE.
FONTE: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Pragm%C3%A1tica>. Acesso em: 20 maio 2012.
Os estudos relacionados à pragmática com o passar dos anos passaram 
a ser compreendidos de forma mais filosófica, como prática social concreta, que 
analisa a significação linguística no contexto de uso: quem fala, quem ouve, seus 
objetivos, efeitos e interferências socioculturais. Para Moeschler (apud FIORIN, 
2011, p. 167) existem três domínios que exigem a introdução de uma dimensão 
pragmática nos estudos linguísticos: 
I– Os fatos de enunciação.
II– Os fatos de inferência.
III– Os fatos de instrução.
Veremos cada um dos três domínios. 
OS FATOS DE ENUNCIAÇÃO
É o ato de produzir enunciados concretos. “Certos enunciados não têm por 
finalidade a designação de um objeto ou um evento do mundo, mas referem-se 
a si mesmos, ou seja, não têm função referencial, mas autorreferencial” (FIORIN, 
2011, p. 167). Existem certos fatos linguísticosque só são compreendidos em 
função do ato de comunicar. Exemplos:
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
29
FIGURA 9 – FATOS DE ENUNCIAÇÃO
FONTE: A autora com base em Fiorin (2011)
Os dêiticos: são elementos linguísticos que destacam o lugar ou o tempo em 
que o enunciado é produzido, portanto, podem referir-se à situação, ao momento e 
aos participantes em uma situação de produção do enunciado. São dêiticos: 
• os pronomes pessoais que indicam os participantes da comunicação eu/tu; 
• os marcadores de espaço, como os advérbios de lugar; 
• os pronomes demonstrativos (por exemplo: aqui, lá, este, esse, aquele);
• os marcadores de tempo (por exemplo, agora, hoje, ontem). 
Note que um dêitico só pode ser entendido dentro da situação de 
comunicação e, quando aparece, num texto escrito, a situação enunciativa 
deve ser explicitada (FIORIN, 2011). Vejamos alguns dêiticos (destacados em 
itálico) no texto:
Advérbios de 
enunciação
Enunciados 
performativos
Uso de 
conectores
ENUNCIAÇÃO
Dêiticos
Certas 
negações
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
30
A LUVA E A CALCINHA
 
 Um jovem estudante, ao passar em uma loja em São Paulo, resolveu 
comprar um belo par de luvas para enviar a sua jovem namorada, ainda 
virgem, de família tradicional mineira, a quem muito respeitava. Na pressa de 
embrulhar, a moça da loja cometeu um 'pequeno' engano, trocando as luvas 
por uma CALCINHA!
O jovem, não notando a troca, enviou o presente via SEDEX junto com 
a seguinte carta:
São Paulo, 30 de maio de 2005.
Querida:
Sabendo que dia 12 próximo é o Dia dos Namorados, resolvi te mandar 
este presentinho. Embora eu saiba que você não costuma usar (pelo menos eu 
nunca te vi usando uma), acho que vai gostar da cor e do modelo, pois a moça 
da loja experimentou e, pelo que vi, ficou ótima. Apesar de um pouco larga na 
frente, ela disse que é melhor assim do que muito apertada, pois a mão entra 
com mais facilidade e os dedos podem se movimentar à vontade. Depois de 
usá-la, é bom virar do avesso e colocar um pouco de talco para evitar aquele odor 
desagradável. Espero que goste, pois vai cobrir aquilo que breve irei pedir ao teu 
pai, além de proteger o local em que colocarei aquilo que você tanto sonha.
Beijos de seu amor!
Uso de conectores: são formas linguísticas que estabelecem ligações entre 
os atos de enunciação. Observe os seguintes usos: 
• Paulo será candidato, mas é um segredo.
• Amanhã vou à sua casa. Porque estou com saudades. 
Percebemos que os conectores, mas e porque não se ligam aos conteúdos, 
mas aos atos de enunciação. No caso de Paulo, isso ocorre por meio da informação 
sigilosa. Já no segundo caso, o conector porque justifica a primeira afirmação e não 
o conteúdo, ou seja, explica o motivo.
Certas negações: quando se diz: 
• Não gosto de chocolate, amo-os.
• O dia não está feio, está péssimo.
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
31
A negação nesses casos não trabalha sobre a expressão negada e sim sobre 
a possibilidade de afirmação. Observe, o que o sujeito está tentando dizer, não é 
que não ama chocolate, ou que o dia não está feio. Pelo contrário, amar e feio, são 
expressões insuficientes para definir o quanto ele gosta e o quanto ele se apresenta 
indignado com as condições do tempo. O que é posto em questão nesses casos, 
não é o conteúdo, mas sua enunciação.
FIGURA 10 – APOSENTADORIA: EXERCENDO DIREITOS!
FONTE: <http://www.exercendodireitos.com.br/2012/03/aposentadoria-deve-considerar-
media-dos.html>. Acesso em: 1 jul. 2012.
Advérbios de enunciação: sinceramente, infelizmente, francamente, os 
advérbios não modificam o verbo, mas qualificam o próprio ato de dizer: sincero, 
infeliz, franco. Dá uma ênfase ao enunciado. Exemplo:
"A única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Quem sou?
Bem, isso já é demais.."
Clarice Lispector
Enunciados performativos: são os que realizam a ação que eles nomeiam. 
É o caso da promessa, da ordem, do juramento, do desejo, do 
agradecimento, do pedido de desculpas etc. A realização da ação 
depende da enunciação da frase. Em outras palavras, a enunciação faz 
parte integrante da significação (...) não há a possibilidade de enunciar 
esses fatos, senão enunciados (FIORIN, 2011, p. 167).
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
32
Os enunciados performativos são enunciados que quando emitidos 
realizam uma ação (daí o termo performativo: o verbo inglês to perform 
significa realizar), ou seja, quando proferidos realizam a ação denotada pelo 
verbo. Sendo assim, dizer é fazer. Esses enunciados constituem o maior foco 
de interesse de Austin.
Há que se considerar que proferir um enunciado performativo 
não garante a sua realização, para que isso ocorra é preciso, ainda, que as 
circunstâncias sejam adequadas. Para Austin, caso o enunciado seja proferido 
em situação inadequada, por exemplo: Declaro-vos marido e mulher, e não 
existem os noivos, será um enunciado nulo, o performativo não se realiza (isto 
é, o casamento não ocorre). Aprofundaremos mais estas reflexões a seguir.
FIGURA 11 – ENUNCIADO PERFORMATIVO
FONTE: <http://perfumados.blogs.sapo.pt/45422.html>. Acesso em: 1 jul. 2012.
Outro domínio que exige a introdução de uma dimensão pragmática 
(MOESCHLER apud FIORIN, 2011, p. 167) nos estudos linguísticos é a inferência. 
É o que discutiremos a seguir:
OS FATOS DE INFERÊNCIA
A inferência ocorre em enunciados que implicam outros. Vejamos essa 
definição pelas próprias palavras de Fiorin (2011, p. 168).
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
33
Certos enunciados têm a propriedade de implicar outros. Assim, 
quando se diz João é meu sobrinho, esse enunciado implica Sou tio de João; quando 
se afirma Se tivesse chovido, não haveria falta de energia, essa afirmação implica Não 
choveu e há falta de energia. Essas implicações derivam dos próprios enunciados e, 
portanto, não exigem, para que sejam feitas, informações retiradas do contexto, 
da situação de comunicação. No entanto, muitos casos, a comunicação não é 
literal e, por conseguinte, só pode ser entendida dentro do contexto. Nesse caso, 
os falantes comunicam muito mais do que as palavras da frase significam. Os 
exemplos seguintes mostram isso: (a) Não há mais homens no mundo; (b) Você 
pode me passar esse pacote?; (c) A lata de lixo está cheia. No primeiro caso, o que 
está dizendo, quando se comenta, por exemplo, o fato de que muitos homens 
cuidam da casa, enquanto as mulheres trabalham fora, é que o papel masculino, 
tal como era concebido, está mudando. Isso só pode ser entendido num contexto 
específico. No segundo caso, não se pergunta sobre a capacidade que tem o 
interlocutor de passar o pacote diz a frase para a empregada, ela não faz uma 
constatação, mas indica à interlocutora que deve levar o lixo para fora.
A pragmática deve explicar como os falantes são capazes de entender 
não literalmente uma dada expressão, como podem compreender mais do 
que as expressões significam e por que um falante pode preferir dizer alguma 
coisa de maneira indireta e não de maneira direta. Em outras palavras, a 
pragmática deve mostrar como se fazem inferências necessárias para chegar 
ao sentido dos enunciados.
O que está implícito nesse enunciado?
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
_________________________________________________
AUTOATIVIDADE
Existem duas definições fundamentais para a Pragmática:
 
• Significação versus sentido.
• Frase versus enunciado.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
34
FONTE: A autora
Partindo dessa definição, a significação de uma frase é mutável conforme 
o contexto em que é enunciada, pois dependerá de indicações contextuais e 
situacionais. Vejamos: A partir de "está pegando fogo", pode-se inferir:
• A comida vai ficar pronta rápido. 
• A comida vai queimar. 
• Eles estão brigando a coisa está pegandofogo. 
• Corra, saia daí, está pegando fogo!
OS FATOS DE INSTRUÇÃO
Por fim, outro domínio que interessa à pragmática é a instrução, ou 
seja, as palavras do discurso, as maneiras de dizer e a ênfase na interpretação. 
Quem cumpre essa função são: as preposições, advérbios, conjunções, ou seja, 
os operadores argumentativos. Koch (1997) nos ajuda a explicar tais operadores. 
Operadores argumentativos
São elementos da língua que indicam a força argumentativa dos enunciados, 
ou seja, a direção que queremos tomar ao dizer alguma coisa. Podemos dividi-los 
em duas noções básicas: escala argumentativa e classe argumentativa.
A classe argumentativa pode ser entendida por argumentos que têm o 
mesmo “peso” para levar o interlocutor a uma determinada conclusão. Assim, 
vários argumentos (que iremos simbolizar por P) diferentes direcionam a uma 
mesma conclusão (que iremos simbolizar como R), dando mais força ainda à 
ideia defendida. Vejamos:
Classe Argumentativa
R = João é um bom candidato.
Ou seja, iremos concluir que João é um bom candidato.
 
Para isso utilizaremos os argumentos:
Frase Enunciado
Frase é composta pela estrutura sintática e uma 
significação representada pelas palavras que a 
compõem.
O enunciado é uma frase dentro de um contexto, 
dentro de uma determinada situação de 
comunicação.
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
35
 P = Arg. 1 – tem boa formação em economia.
 P = Arg. 2 – tem experiência no cargo.
 P = Arg. 3 – não se envolve em negociatas.
 P = Arg. 4 ...
 
Todos os argumentos direcionam o enunciado no sentido de mostrar que 
João é um bom candidato, por isso, estão dentro da mesma classe argumentativa. 
Poderíamos assim, estruturar uma frase como:
 
[João é um bom candidato]R, pois [tem boa formação em economia]P, [tem 
experiência no cargo]P e [não se envolve em negociatas]P.
 
Temos, dessa forma, um enunciado que não só afirma uma ideia (“João 
é um bom candidato”), como também defende a ideia com argumentos. Isso da 
base à argumentação: afirmar algo e justificar essa afirmação.
 
Contudo, é bem comum os argumentos apresentarem certa gradação, ou 
seja, alguns argumentos são mais fortes que outros, quando isso acontece, temos 
aí uma escala argumentativa. Veja:
Escala Argumentativa
Quando dois ou mais enunciados de uma classe apresentam essa 
gradação, tem-se uma escala argumentativa. Assim, o nosso enunciado parte para 
uma mesma conclusão, mas os argumentos são dispostos de forma um pouco 
diferente, eles agora têm uma hierarquia, isto é, uma ordem do mais forte para o 
mais fraco. Exemplo:
 
R = A apresentação foi coroada com sucesso.
P = arg. 1 – estiveram presentes personalidade do mundo artístico.
P = arg. 2 – estiveram presentes pessoas influentes nos meios políticos.
P = arg. 3 – esteve presente o Presidente da República [argumento mais forte].
Podemos representar graficamente essa escala, afirmando – R: A 
apresentação foi coroada com sucesso:
 (arg. + forte) p’’ – esteve presente o Presidente da República.
p’ – estiveram presentes pessoas influentes nos meios políticos.
p – estiveram presentes personalidades do mundo artístico.
 
E também podemos representá-la como negação, mas assim, os elementos 
irão se inverter.
 
R: A apresentação não teve sucesso:
(arg. + forte) p’’ – não estivem presentes personalidade do mundo 
artístico.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
36
p’ – não estiveram presentes pessoas influentes nos meios políticos.
p – não esteve presente o Presidente da República.
 
Assim, poderíamos escrever o enunciado afirmativo desta forma, por 
exemplo:
 
 [A apresentação foi coroada com sucesso]R, porque [estiveram presentes 
personalidades do mundo artístico]p, [pessoas influentes nos meios políticos]p’ e 
até mesmo [o Presidente da República]p’’.
 
Já no caso da escala em sentido negativo, além de mudar a ordem dos 
argumentos, o operador que iria introduzir o argumento mais fraco seria outro: 
nem mesmo.
 
 [A apresentação não teve sucesso]R, já que [o presidente não compareceu]
p, nem [pessoas influentes nos meios políticos]p’ nem mesmo [personalidades do 
mundo artístico]p’’.
Principais Operadores Argumentativos
1) Assinalam o argumento mais forte de uma escala orientada no sentido de 
determinada conclusão. 
§ ATÉ / mesmo / até mesmo/ inclusive 
 O homem teme o pensamento como nada mais sobre a terra, mais que a 
ruína e mesmo mais que a morte. 
 
2) Somam argumentos a favor de uma mesma conclusão. 
§ E / também / ainda / nem (= e não) / não só... mas também/ tanto... como 
/ além de... / além disso... / a par de... 
 
João é o melhor candidato: tem boa formação em economia, tem experiência 
no cargo e não se envolve em negociatas. 
 
João é o melhor candidato: não só tem boa formação em economia, mas 
também tem experiência no cargo e não se envolve em negociatas. 
 
João é o melhor candidato: tanto tem boa formação em economia, como 
tem experiência no cargo, além disso, não se envolve em negociatas. 
 
3) Introduzem uma conclusão relativa a argumentos apresentados em enunciados 
anteriores. 
§ PORTANTO / logo / por conseguinte / pois / em decorrência / 
consequentemente 
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
37
 O custo de vida continua subindo vertiginosamente; as condições de 
saúde do povo brasileiro são péssimas e a educação vai de mal a pior. Portanto, 
não se pode dizer que o Brasil esteja prestes a se integrar no primeiro mundo. 
 
4) Introduzem argumentos alternativos que levam a conclusões diferentes ou 
opostas. 
§ OU / ou então / quer... quer / seja... seja 
 
Vamos juntos participar da passeata. Ou você prefere se omitir e ficar 
aguardando os acontecimentos? 
 
5) Estabelecem relações de comparação entre elementos, com vistas a uma dada 
conclusão. 
§ mais que / menos que / tão... como 
 
A: Vamos convocar Lúcia para redigir o contrato. 
B: A Márcia é tão competente quanto a Lúcia. 
6) Introduzem uma justificativa ou explicação relativa ao enunciado anterior 
§ PORQUE / que / já que / pois 
 
“Não fiques triste que este mundo é todo teu 
Tu és muito mais bonita que Camélia que morreu”. 
(“Jardineira”) 
 
7) Introduzem pressupostos no enunciado 
§ Já / ainda / agora 
 
Paulo ainda mora no Rio [Pressuposto = Paulo morava no Rio antes] 
 
8) Distribuídos em escalas oposta: afirmação total ou negação total 
§ Quase / Apenas 
 
R: O voto não deveria ser obrigatório 
Arg. 1: A maioria dos cidadãos já vota conscientemente: quase 80%. 
Arg. 2: São poucos, mesmo agora, os que votam conscientemente: 
Apenas 30%. 
 
Também podem ocorrer desta forma:
 
Será que Ana vai passar no exame? 
Ela estudou um pouco [tem possibilidade de passar]. 
Ela estudou pouco [provavelmente não passará]. 
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
38
9) Operadores que contrapõem argumentos orientados para conclusões contrárias. 
§ MAS / porém / contudo / todavia / no entanto 
§ EMBORA / ainda que / posto que / apesar de (que) 
 
Quando usamos esses operadores é como se colocássemos os argumentos 
em uma balança. De um lado está o argumento A que iremos contrariar 
(normalmente algo que alguém disse), e do outro o nosso argumento B. Assim, 
mostramos que aquilo que o outro disse é “possível”, isto é, de certa forma 
entendemos, só que discordamos, ou seja, no final o nosso argumento pesa mais, 
veja os exemplos: 
 
A equipe da casa não jogou mal, mas o adversário foi melhor e mereceu 
ganhar o jogo. 
 
Poderíamos entender que alguém disse “P: a equipe da casa não jogou mal”. 
Assim, talvez essa voz queira nos levar a acreditar em determinada conclusão R: 
A equipe da casa merecia ganhar. Nós, porém, queremos o contrário, queremos 
esta conclusão ~R: a equipe da casa não merecia ganhar. Daí, contrabalancemos o 
argumento dizendo que Q: “o adversário foi melhor”. 
 
Embora o candidato tivesse se esforçado para causar boa impressão, sua 
timidez e insegurança fizeram com que não fosse selecionado. 
 
O mesmo acontece aqui, R: O candidato poderia tersido selecionado. P: 
Pois se esforçou para causar boa impressão. Porém, no final, ~R: O Candidato não 
foi selecionado. Q: Pois demonstrou timidez e insegurança.
FONTE: KOCH, Ingelore G. Villaça. Operadores Argumentativos. In: Inter-Ação Pela Linguagem. 
São Paulo: Contexto, 1997. https://sites.google.com/site/producaodetextoediscurso/operadores-
argumentativos. Acesso em: 20 jun. 2012.
TEORIA DOS ATOS DE FALA
A pragmática, como já mencionamos, tem como precursor Austin, que se 
preocupa com os falantes e desenvolve a: Teoria dos Atos de Fala. Austin (1990), em 
seus estudos, observa que quando falamos, não fazemos apenas declarações, mas 
fazemos coisas como: ordenar, perguntar, pedir desculpas, lamentar, rogar, julgar, 
reclamar etc. Assim, rompe com a noção tradicional da semântica que se baseava nos 
valores de verdade e falsidade e propõe-se a introduzir o conceito de “performativo”.
Performativo é todo enunciado que realiza o ato que está sendo enunciado. 
Assim, se em “eu ajoelho para rezar” temos um enunciado que pode ser verdadeiro 
ou falso, em “ajoelhou, tem que rezar” está implícita a ideia de comprometimento 
do locutor em a ação, ou melhor, com as possíveis consequências do ato por ele 
realizado, e não com a verdade ou a falsidade do enunciado (WILSON, 2008, p. 92).
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
39
Uma das distinções mais importantes feitas por Austin (1990) nesta sua 
defesa dos atos de fala é entre:
FONTE: A autora
A visão performativa da linguagem é o centro dos estudos de Austin. 
Apresentamos as situações:
FIGURA 12 – ENUNCIADO PERFORMATIVO FIGURA 13 – ENUNCIADO CONSTATIVO
FONTE: A autora
E os enunciados 
constativos que realizam 
uma afirmação, falam 
algo.
Enunciados performativos 
que realizam ações porque 
são ditos.
Exemplo de enunciado performativo Exemplo de enunciado constativo
FONTE: <http://senhoradasestrelas.com.
br/2011/09/154/>.
Acesso em: 21 jun.2012.
FONTE: <http://www.saberoto.com/2012/03/
cabelo-na-sopa.html>. Acesso em: 25 jun. 2012
Quando o padre derrama a água na cabeça 
da criança ele diz: Eu te batizo em nome do 
Pai, do Filho e do Espírito Santo. Nessa caso, 
encontramos um enunciado performativo, 
pois pratica uma ação por meio do enunciado, 
somente proferindo as palavras "eu te batizo" 
que o ritual é concretizado.
Nesse caso, não temos uma ação praticada, pois 
a ação já foi efetivada (um cabelo na sopa) e por 
isso que o enunciado ocorre. Aqui encontramos 
um anunciado constativo.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
40
Diante da diferença que ocorre entre os enunciados, Austin (1990) continua 
seus estudos e propõe a separação de níveis de ação linguística. São eles:
FIGURA 14 – NÍVEIS DE AÇÃO LINGUÍSTICA, DE ACORDO COM AUSTIN
FONTE: A autora baseada em Austin (1990)
Vejamos a análise: 
• Eu vou estar na reunião hoje.
Locucitário: seria o conjunto de sons, tom de voz, entonação.
Ilocucionário: a força que o enunciado produz, nesse caso, pode ser de 
promessa ou afirmação.
Perlocucionário: efeito produzido na pessoa que ouve: agrado, ameaça, 
contentamento, alívio, vigília.
Nem sempre os performativos estão explícitos, eu prometo. Há casos de 
performativos implícitos em que: pedidos, promessas, ameaças, reclamações e 
outras ações não são indicadas por verbos, como promessa é dívida (WILSON, 2008).
FONTE: Wilson (2008, p. 94)
NÍVEIS DE AÇÃO 
LINGUÍSTICA
Atos locucitários 
centrados no nível 
fonético, sintático 
e de referência. Diz 
alguma coisa.
Atos ilocucionários que 
refletem a posição do 
locutor em relação ao que 
ele diz. Tem a chamada 
força performativa. Está 
relacionado ao modo de 
dizer e como é recebido.
Atos perlocucionários 
aqueles que produzem 
efeitos e consequências 
sobre o próprio locutor ou 
outros, seja de influenciar, 
persuadir...
Performativos puros Performativos implícitos
Eu te batizo.
Eu aceito seu convite.
Eu prometo que virei.
Declaro aberta essa sessão
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
41
As principais condições de sucesso de um performativo (FIORIN, 2011) são:
• por convenção. Ex.: Declaro aberta essa sessão. Para que o performativo se realize 
o enunciado precisa ser proferido por um presidente e não por um porteiro;
• de forma correta pelos participantes. O padre para que o ato do batismo se 
concretize ele precisa dizer: Eu te batizo... se ele disser: Eu vos declaro, Eu te 
perdoo o batismo não se realiza;
• a enunciação deve ser de comum acordo entre os participantes. É o caso das 
apostas, ambos os lados precisam estar em comum acordo. Aposto uma caixa de 
chocolate... O performativo necessita de aceitação.
A teoria dos atos de fala, proposta por Austin, foi retomada e ampliada 
por Searle.
Esse autor adota o conceito de “finalidade ilocutória” (SEARLE, 1981, p. 
33) para classificar os usos linguísticos, salientando que há um número limitado de 
coisas que fazemos com a linguagem e que podem ser simultâneas. Para o autor, 
falar uma língua é adaptar uma forma de comportamento regido por regras.
Searle (1981) criou as seguintes classificações para os atos de fala:
1) Atos assertivos: constituem no fato de dizermos às pessoas como as coisas 
são (esse ato envolve comprometimento do falante com a “verdade” da 
proposição). Por exemplo:
“É mais divertido ir e voltar".
“O bumerangue é o ícone do consumo responsável”.
2) Atos diretivos: constituem nas tentativas de levarmos as pessoas a fazer 
coisas (as tentativas podem variar em grau de intensidade: mais brandas 
como um convite, uma sugestão, ou mais enérgicas como uma ordem). Por 
exemplo: convidar, sugerir, aconselhar, ordenar, exigir etc.
"Se beber, não dirija. Volte de táxi ou com o amigo da vez".
3) Atos expressivos: consistem na expressão de sentimentos e atitudes. Por 
exemplo: agradecer, desculpar-se, lamentar(-se) etc.
“É de cortar o coração saber que tantas mães não têm notícias de seus filhos, 
que desaparecem por várias razões, algumas desconhecidas".
“Um absurdo o que vem acontecendo em relação a projetos para 
empreendimentos imobiliários”.
UNIDADE 1 | A LINGUAGEM E SEUS DESDOBRAMENTOS
42
4) Atos comissivos: consistem nos atos cujo efeito é produzir uma mudança por 
meio do que dizemos: é o caso do convite e da promessa. No exemplo a seguir, 
o trecho em itálico representa a promessa feita pelo jornal aos seus eleitores.
“A cultura toma o poder. Nesse domingo, o Livro B estará nas mãos de um novo 
editor”.
5) Atos declarativos: requerem situações extralinguísticas para a sua atualização 
baseada em instituições ocupada por falantes e ouvintes. São atos que podem 
promover uma mudança na realidade, o que distingue das categorias. Incluem-
se entre os atos declarativos: o ato de batizar, o de fazer uma sentença judicial, 
por exemplo. Quando as declarações se referem à linguagem propriamente 
dita, os verbos: “eu defino”, “eu nomeio”, “eu abrevio”. 
“Eu vos declaro marido e mulher”.
FONTE: Wilson (2008, p. 94)
Observe, caro acadêmico, que o ato de fala não pode ser considerado 
isoladamente, mas como parte de um entendimento mútuo de uma comunidade 
de falantes. Como uma forma de acrescentar reflexões acerca do que foi 
apresentado nesse tópico, leia o texto que segue, cujo conteúdo aborda a teoria 
dos atos de fala de Austin.
TÓPICO 2 | O SIGNIFICADO E O USO DA LINGUAGEM
43
LEITURA COMPLEMENTAR
A SIGNIFICAÇÃO NA TEORIA DOS ATOS DE FALA
Luiza Naome Suguimati
A teoria dos Atos de Fala elabora uma teoria da linguagem que pretente dar 
conta do problema da significação, investigando o fenômeno linguístico como forma 
de representação, comunicação e ação. Ela é colocada pela maioria dos estudiosos da 
linguagem como uma teoria Linguística do uso e desperta muito interesse não só na 
Linguística mas também na Psicologia, na Antropologia, na Sociologia, na Teoria da 
Literatura etc. Estas ciências tentam dar conta, por meio desta Teoria, de fenômenos 
como a aquisição da linguagem, a natureza das falas e rituais mágicos, o estatuto

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