Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL ETAPA 5 CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito 89130-000 - INDAIAL/SC www.uniasselvi.com.br Curso sobre Antropologia Geral e o debate multicultural Centro Universitário Leonardo da Vinci Autora Luciane da Luz Pedro Fernandes da Luz Organização Fábio Roberto Tavares Reitor da UNIASSELVI Prof. Hermínio Kloch Pró-Reitoria de Ensino de Graduação a Distância Prof.ª Francieli Stano Torres Pró-Reitor Operacional de Ensino de Graduação a Distância Prof. Hermínio Kloch Diagramação e Capa Letícia Vitorino Jorge Revisão Fabiana Lange Brandes José Roberto Rodrigues APRESENTAÇÃO Olá, cursistas! Sejam bem-vindos ao curso livre de Antropologia Geral e o Debate Multicultural. Nesta etapa do curso discutiremos o contexto histórico de surgimento do multiculturalismo na Europa, no Canadá e na Austrália, e as políticas desenvolvidas a partir de orientações multiculturais. Veremos que o surgimento do multiculturalismo, em alguns países do Continente Europeu, aconteceu de maneira semelhante ao processo ocorrido nos Estados Unidos, onde movimentos sociais e grupos de direitos humanos reivindicaram políticas de ação multicultural; e em outros, de forma muito diferenciada, onde os governos é que organizaram tais políticas com o objetivo de diminuir problemas econômicos e sociais. Também veremos as políticas multiculturais no Canadá e na Austrália, que revelam maior integração entre imigrantes com os nativos desses países, buscando valorizar a diversidade étnica e cultural dos estrangeiros através do respeito à sua identidade cultural e sua inserção na comunidade local. Na sequência traremos o contexto histórico do surgimento do multiculturalismo na América Latina e as políticas desenvolvidas a partir de orientações multiculturais. Veremos que o surgimento das políticas multiculturais em alguns países da América Latina aconteceu apenas nas duas últimas décadas do século XX. Por fim, falaremos sobre as políticas multiculturais no Brasil, dois dos principais movimentos multiculturais do pais e o surgimento das primeiras políticas de ação afirmativa durante o Governo Lula, por meio da criação de secretarias especializadas. Enfatizaremos alguns elementos fundamentais para a discussão das políticas multiculturais no país, que são as políticas de cotas nas universidades, o Estatuto da Igualdade Racial e a criação das comunidades quilombolas e negras com vistas a assegurar o direito à propriedade da terra e à manutenção da sua cultura. 2 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 1 MULTICULTURALISMO NA EUROPA, CANADÁ E AUSTRÁLIA 1.1 CONTEXTO SOCIAL E HISTÓRICO DO MULTICULTURALISMO NA EUROPA A partir da criação da União Europeia, com a união de 27 países europeus, esse conjunto de países passa a preocupar-se também com questões culturais e identitárias, pois para maior integração entre os países-membros, seria necessário elaborar e executar políticas de integração cultural com o objetivo de diminuir os conflitos e problemas gerados pelas diferentes culturas e etnias que habitam o Continente Europeu, mais especificamente, a União Europeia. Conforme Kastoryano (2004), a Europa tem se preocupado em definir uma identidade comum no seu continente, principalmente, após a consolidação da União Europeia, com o objetivo de fortalecer economicamente os países-membros. Esse debate sobre a questão de uma única identidade na Europa trouxe inúmeros questionamentos, conforme nos diz Kastoryano (2004, p. 14): [...] Como combinar a ideologia universalista dos Estados-Nações com o par- ticularismo cultural e histórico que caracteriza cada uma das nações? Como optar entre os interesses econômicos e uma vontade política comum, por um lado, e, por outro, a soberania dos Estados e suas tradições políticas? Como articular as pertenças plurais e complexas dos indivíduos, dos grupos e dos povos, para lograr construir uma identidade política que seja europeia, ou, antes, suscitar uma identificação com a Europa enquanto novo espaço político de ação e de reivindicação? Diante desses questionamentos, podemos dizer que a questão da identidade comum entre os países europeus precisou levar em consideração as especificidades locais e regionais, além das características culturais, linguísticas e religiosas de diversos grupos que se estebeleceram no Continente Europeu. Outro fator importante a ser considerado neste contexto são os imigrantes provenientes dos mais diversos países e regiões do mundo que, após a Segunda Guerra Mundial, povoaram os seguintes países da Europa: Alemanha, França, Bélgica, Holanda e Inglaterra. Conforme Sansone (2003, p. 537-538), a base do multiculturalismo nestes países encontra-se em três fontes clássicas: Em primeiro lugar, há o pacto social – o compromisso do Estado e de parte das elites de cuidar dos excluídos e pobres... A segunda fonte importante é o passado colonial, quer dizer, a forma pela qual se procederam nas colônias a organização e, às vezes, até a militarização do confronte em face da diversidade cultural.... Esses estilos de colonialismo previam a institucionalização de algum tipo de etnicização dos direitos e deveres, embora, depois da Segunda Guerra Mundial, muitas vezes associados a um discurso de igualdade e de respeito à diferença... A terceira fonte clássica é a tradição, que diz respeito às formas de se lidar com as diferenças étnicas e regionais internas desses países europeus J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 3ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. (Lucassen e Pennix, 1994). Trata-se do assim dito “regionalismo” de alguns deles que se afirmam como Estados-nação na Europa, a partir de um compromisso com as diferenças culturais regionalizadas, redistribuindo recursos e poder político para minorias e “colônias” internas. Refiro-me aos catalães, bascos, bretões, galeses, sardos, corsos etc. Nos países citados anteriormente, foram implementadas diversas políticas públicas com o objetivo de amenizar as desigualdades sociais e fazer a redistribuição de renda para que os conflitos sociais fossem menos impactantes para o país. Como exemplo de uma dessas políticas públicas de inserção social, citamos o seguro-desemprego. A difícil relação existente entre colônia e metrópole perdurou e ainda permanece complexa até os dias atuais, onde as pessoas que habitavam as antigas colônias dominadas por países europeus hoje vivem nas suas metrópoles e requerem os mesmos direitos que as pessoas que ali nasceram. Não queremos dizer que, com essas ações fundamentadas no multiculturalismo, os problemas relativos às diferenças étnico- religiosas, de grupos migratórios e das chamadas minorias étnicas, terminou nos países da Alemanha, França, Inglaterra, Bélgica e Holanda, mas pelo menos fez-se um esforço no sentido de amenizar os conflitos e diminuir as tensões sociais ocasionadas por estes grupos e os nativos desses países. Kastoryano (2004, p. 19) afirma que: Na França, na Alemanha, na Grã-Bretanha, na Holanda etc., o termo multi- culturalismo reporta-se, como nos Estados Unidos, à forma de organização supostamente comunitária das populações resultantes da imigração em torno de uma nacionalidade ou de uma religião comum (ou as duas coisas) e à rei- vindicação das suas especificidades na esfera pública, como as minorias étnicas ou os negros nos Estados Unidos. Isso quer dizer que na França, na Alemanha, Grã-Bretanha e na Holanda, os grupos provenientes do processo de imigração buscaram através da sua própria organização reivindicar direitos e benefícios sociais dos governos que compõem esses países. Portanto, o termo multiculturalismo surge com significado político, gerando ações de inclusão social. Na Europa, o multiculturalismo corresponde a situaçõesdiversas consoante à estrutura do Estado e o reconhecimento das particularidades regionais e lin- guísticas. Com efeito, alguns países do Velho Continente institucionalizaram o pluralismo através da criação de regiões dotadas de poderes, como a Itália e a Espanha; outros erigiram o Estado sobre um pluralismo linguístico, como a Bélgica e a Suíça, com, em ambos os casos, comunidades linguísticas e ter- ritoriais dotadas de instituições próprias (KASTORYANO, 2004, p. 18-19). Segundo Kastoryano (2004, p. 19), “na Europa Ocidental, o emprego do termo multiculturalismo marca a passagem de uma imigração econômica temporária a uma presença permanente das populações imigrantes e, igualmente, o aparecimento de estratégias políticas nessa via”. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 4 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Isso significa dizer que o processo de implantação das políticas multiculturais é muito diferenciado nos países da Europa, levando sempre em consideração as particularidades regionais e culturais de cada país e as suas necessidades políticas e sociais, que ora requerem um maior avanço e investimento nessa área e, outras vezes, essas políticas passam a ser delegadas como questões de menor relevância e menos investimento político e econômico. Podemos dizer que a imigração e a situação dos direitos dos cidadãos estrangeiros, bem como o desenvolvimento de políticas multiculturais, vêm sendo um dos assuntos de grande destaque e relevância na União Europeia. 1.2 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA ALEMANHA O termo multiculturalismo começa a ser usado na Alemanha nos anos 1980, onde o Estado passa a desenvolver políticas multiculturais devido à crescente imigração no país, tentando amenizar os conflitos existentes entre nativos e imigrantes e desenvolver políticas sociais de apoio a esses estrangeiros. Segundo Kastoryano (2004, p. 19): Na Alemanha, de fato, o termo multiculturalismo difunde-se a partir do início dos anos 80. No município de Frankfurt é mesmo criado um setor de “Assuntos Multiculturais”, cujo responsável, simultaneamente vice-presidente da autar- quia, Daniel Cohn-Bendit, defende uma “democracia multicultural” inspirada no Contrato Social de Rousseau. Apesar de a Alemanha defender uma democracia multicultural onde os estrangeiros possam ter seus direitos reconhecidos, grande parte da população estrangeira que vive no país não tem o mesmo grau de escolaridade dos alemães, mais de 20% dos filhos de imigrantes só possuem a escolaridade primária e estão destinados aos piores empregos ou até ao desemprego, ficando, muitas vezes, dependendo da assistência social oferecida pelo Estado. Portanto, as políticas multiculturais na Alemanha não têm sido eficazes na diminuição do preconceito existente entre as pessoas nascidas no país e os estrangeiros e seus descendentes. O país ainda apresenta fortes traços racistas. De acordo com Sansone (2003), nas escolas onde estudam filhos de imigrantes, os filhos de alemães não estudam, formando verdadeiros guetos dividindo estrangeiros e seus descendentes nascidos na Alemanha, dos filhos de casais alemães. Uma grande dificuldade de entrosamento das crianças filhas e filhos de imigrantes com as crianças alemãs, de acordo com Sansone (2003), tem sido a falta de domínio do idioma alemão, o que mais tarde dificultará a entrada delas no mercado de trabalho. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 5ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 1.3 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA FRANÇA A França, assim como a Alemanha, passa a ser chamada de sociedade multicultural a partir da década de 1980, pois esse país recebe imigrantes desde a segunda metade do século XIX, devido à falta de crescimento populacional do país entre 1850 e 1900, quando necessitava de mão de obra para suprir as necessidades do mercado de trabalho no processo de industrialização do país. A partir de 1940, a França passa a restringir as políticas de incentivo à imigração. No final da década de 1960 até 1977, o governo francês decide restringir a entrada de trabalhadores estrangeiros devido à forte crise econômica que o país atravessava. Na década de 1980 é que os grupos de direitos humanos passam a pressionar o governo a instalar mecanismos com o objetivo de assegurar alguns direitos aos estrangeiros e diminuir o preconceito contra essas pessoas. Esta terminologia encontra legitimidade no discurso político que privilegiara “o direito à diferença”, acompanhado, desde 1981, pela liberalização da lei so- bre as associações de estrangeiros, que conferiu estatuto legal às organizações que privilegiam as identidades, quer se definam como eminentemente sociais, culturais, laicas ou religiosas (KASTORYANO, 2004, p. 19-20). Recentemente, vimos que tais mecanismos não foram suficientes para conter a onda de revolta dos estrangeiros em Paris, principalmente dos imigrantes provenientes de países pobres, que se encontram marginalizados, em situações de pobreza e miséria, morando nas regiões periféricas de Paris. As políticas de inclusão social do Estado de Bem-Estar Social (investimento do Estado em políticas sociais de assistência social, saúde, educação, trabalho e renda) existentes nos anos 80 não existem mais hoje, onde a maioria dos países investe o mínimo nas questões sociais (Neoliberalismo ou Estado Mínimo). Esse baixo investimento do Estado nas questões sociais, o aumento do desemprego e o racismo sofrido pelos imigrantes e seus descendentes foram fatores determinantes na explosão dos conflitos vividos na França no início do século XXI. 1.4 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA SUÉCIA Diferente dos demais países apresentados acima, a Suécia não se define como um país de imigrantes. De acordo com Marques (2003, p. 14), “teve um fenômeno de emigração relevante no século XIX, no entanto, depois da 2ª Guerra Mundial recebeu muitos refugiados e, a partir de 1954, a chegada de muitos trabalhadores finlandeses [...]”. A Suécia passou a ser um país que melhor recebe os imigrantes dentre os países europeus, segundo um estudo realizado pela Política de Integração Migratória. A Suécia foi considerada o melhor país para receber imigrantes levando em consideração J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 6 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. os seguintes itens: emprego, direito dos imigrantes, ajuda para a família e leis contra racismo. A partir de 1975, a Suécia passa a desenvolver políticas multiculturais baseadas em três pontos fundamentais, segundo Marques (2003, p. 14): Igualdade: dar aos imigrantes o mesmo nível de vida que o resto da população; Liberdade de escolha: iniciativas políticas que assegurem às minorias étnicas e culturais na Suécia uma genuína escolha entre manter e desenvolver a identi- dade cultural sueca; Parceria: promover os benefícios mútuos entre minorias e população nativas, decorrente do trabalho conjunto. Muitas dessas políticas resultam de estratégias que são dedicadas a grandes quantidades de refugiados e envolvem diferentes graus de empenho da população. Essas políticas proporcionaram aos imigrantes, até o final do século XX, uma inserção social harmônica na sociedade sueca e os mesmos benefícios existentes para a população nativa desse país. Segundo informações do relatório de imigração elaborado por Rui Marques (2003), no início do século XXI as políticas multiculturais sofrem um enfraquecimento na Suécia, devido aos problemas socioeconômicos enfrentados pelo país, especialmente com a elevação do índice de desemprego, onde imigrantes passam a ser vistos como concorrentes das pessoas nascidas no país. Mesmo assim, esse país continua sendo o que mais investeem políticas multiculturais na Europa. Mas, atualmente dois países fora do Continente Europeu se destacam em relação à implantação de políticas multiculturais: o Canadá e a Austrália. 1.5 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NO CANADÁ O Canadá foi o primeiro país a desenvolver políticas multiculturais. A partir de 1971, o Canadá passou a desenvolver políticas multiculturais com o objetivo de preservar a cultura das minorias étnicas existentes no país e de desenvolver a integração entre esses grupos, os imigrantes, e a população nativa. Em 1972, a política multicultural ganhou um status importante no país, com a nomeação de um ministro de Estado para o Multiculturalismo, e foi aprovada a Lei de Direitos Humanos, que protege legalmente os imigrantes e minorias étnicas da discriminação. Em 1981 essa política foi expandida com a inclusão das relações raciais, e no ano de 1982 é promulgada a Carta de Direitos e Liberdades. No ano de 1988 foi sancionada a Lei do Multiculturalismo, que trouxe como princípios fundamentais a preservação da cultura e da língua de todos os membros da sociedade canadiana, e as instituições governamentais da esfera federal devem promover programas com o objetivo de assegurar a diversidade étnica e cultural de J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 7ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. todos os membros da sociedade do Canadá. Na área da educação foram desenvolvidos diversos programas de ensino com disciplinas de estudo sobre a temática do multiculturalismo e história étnica na educação básica e nas universidades, fazendo com que os alunos passassem a compreender a diversidade étnica racial existente no país. Os meios de comunicação, como rádios, jornais e televisão, exibem programas em várias línguas, representando as mais diversas culturas existentes no país. Outra questão importante, que tem feito o governo do Canadá investir cada vez mais em políticas multiculturais, é que os imigrantes trabalham em diversas áreas de forma autônoma, não dependendo muito do incentivo governamental, e assim economiza mais recursos, investindo mais na economia do país. Portanto, além da riqueza cultural que trazem os imigrantes, eles têm contribuído de forma significativa para a melhoria da economia do país. 1.6 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA AUSTRÁLIA Na atualidade a Austrália tem sido o país que mais investe em políticas multiculturais como forma de agregar culturalmente e economicamente imigrantes de diversos países, aumentando seu desenvolvimento econômico. Segundo Marques (2003, p. 12): Em 1989 foi definida uma “Agenda Nacional para a Austrália Multicultural”, que vem sendo atualizada, tendo sido lançada em 1999 a “Nova Agenda para a Austrália Multicultural”. Desde o início, inclui três dimensões distintas: O direito à identidade cultural; à justiça social; Necessidade de eficiência eco- nômica, que envolve a utilização dos talentos e das competências de todos os australianos. Com relação à primeira dimensão, direito à identidade cultural, trata-se do respeito à diversidade linguística e o uso da língua das minorias étnicas no serviço público, além do governo proporcionar o aprendizado da língua oficial do país, o inglês, e oferecer também o aperfeiçoamento da língua do país de origem dos imigrantes. A questão da comunicação social, onde existe a presença marcante dos grupos minoritários, e a educação através do investimento em uma política intercultural que tem por objetivo reforçar a diversidade nas relações sociais. Na segunda dimensão, direito à justiça social, trata-se do direito à igualdade de participação em todas as instâncias sociais, políticas, econômicas e jurídicas da Austrália e acesso aos serviços públicos oferecidos, sem tolerância de qualquer forma de discriminação racial ou étnica. Na terceira dimensão, necessidade de eficiência econômica, que envolve a utilização dos talentos e das competências de todos os australianos, tem por objetivo J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 8 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. reconhecer a formação dos imigrantes no seu país de origem; disponibilizar as políticas públicas de trabalho e renda e aproveitar o perfil profissional de todos, incluindo-os no mercado de trabalho. Além dos direitos descritos anteriormente, essa agenda prevê os deveres dos imigrantes, que são: Aceitação das estruturas e princípios básicos da sociedade australiana, incluin- do a Constituição e o quadro legal vigente, tolerância e igualdade, democracia parlamentar, liberdade de expressão e de religião, inglês como língua nacional, igualdade de sexos, e obrigação de aceitar que os outros expressem seus valores (MARQUES, 2003, p. 12). Essa nova agenda para a Austrália Multicultural, lançada em 1999, traz o conceito de “diversidade produtiva”, trata da junção do multiculturalismo com a economia, objetivando os lucros resultantes da diversidade cultural da população australiana, com a incorporação dos imigrantes no mercado de trabalho do país, reforçando a língua e a cultura trazidas do seu país de origem, fazendo com que os mesmos possam ter condições de atender às demandas de um mercado de trabalho cada vez mais exigente e diversificado. 2 A FRAGILIDADE DAS POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA AMÉRICA LATINA As políticas multiculturais na América Latina têm sido insuficientes para dar conta de diminuir as desigualdades sociais ocasionadas pela exploração de vários povos, como os indígenas e os negros. Isso acontece porque na América Latina, a discriminação dirigida a negros, índios e tantas outras minorias étnicas, ocorre de forma velada, ou seja, de forma indireta e personalista, como se a questão fosse individual e não social. Ficando no nível pessoal, muitos governos não reconhecem esse problema, e, não o reconhecendo, não planejam e executam políticas públicas nesta direção. Esse processo começa com a colonização, que em praticamente todos os países da América Latina foi de exploração, onde europeus, principalmente portugueses e espanhóis, invadiram nossas terras em busca de riquezas e, para manter essas riquezas, as metrópoles e os demais países da Europa contaram com a exploração dos índios e dos negros. Quando esses povos chegaram à América Latina, a primeira coisa que fizeram foi tentar “aculturar os índios”, ou seja, iniciaram um processo de culturalização semelhante ao que eles tinham na sua cultura, não aceitando a diversidade cultural e linguística que os índios tinham. Esse processo ocasionou muitos conflitos e choques culturais, e quem saiu perdendo foram os habitantes nativos da América Latina recém “descoberta” pelos europeus, pois de forma violenta e sem condições de defesa, vários índios, dentre eles mulheres e crianças, foram mortos para que o projeto de exploração desse território pudesse ser levado adiante sem a interferência dos nativos. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 9ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. Esse processo de colonização da América Latina, que perdurou até o início do século XX, em alguns países, quase provocou a eliminação da cultura indígena e a supremacia da cultura europeia. Portanto, a diversidade cultural aqui existente foi praticamente esquecida, politicamente, e apenas no final do século XX, com as constituições federais democráticas, é que alguns países começam a tentar corrigir as injustiças praticadas contra esses povos e a iniciar um processo de resgate dessas culturas, apesar da completa extinção de muitas tribos indígenas. Vieira e Pinto (2008, p. 4) nos dizem que: As novas constituições contêm algum tipo de reconhecimentoda diversidade cultural e linguística e, em alguns casos, estabelecem regimes jurídicos espe- cíficos às comunidades indígenas. Algumas respostas são mínimas e pouco satisfatórias, outras são amplas e de completa aplicação prática. É diante desse contexto, onde todos os países da América Latina foram colônias de exploração e continuam sofrendo até hoje as consequências sociais e econômicas, especificamente para as culturas minoritárias, e ainda diante do processo de ditadura militar que passou a maioria dos países, a partir de meados do século XX até a década de 1980, é que temos que analisar as políticas multiculturais nesses países. 2.1 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA COLÔMBIA As políticas multiculturais na Colômbia passam a desenvolver-se na década de 1990, mais especificamente com a Constituição de 1991 definindo o país como multicultural e multiétnico. Vieira e Pinto (2008, p. 2) dizem que na Constituição da Colômbia de 1991: [...] estão presentes os ideais de universalismo e de individualismo contidos nos direitos fundamentais de caráter liberal e, ao mesmo tempo, o reconhecimen- to das tradições morais particulares e do direito a autogoverno das minorias culturais. Tal reconhecimento foi uma enorme conquista para os movimentos sociais indígenas, que puderam se manifestar democraticamente na Assembleia Constituinte de 1991. No entanto, a institucionalização de um ambiente jurídico plural dentro de um Estado gera a questão de como compatibilizar as diferentes ordens, principalmente quando a ordem local viola de qualquer forma a ordem normativa nacional ou mesmo internacional. Os conflitos entre ordenamentos na Colômbia têm sido resolvidos pela Corte Constitucional daquele país. A Constituição Federal Colombiana de 1991 foi um importante instrumento jurídico para aplicação de alguns direitos fundamentais para a população da Colômbia, respeitando a diversidade cultural do país e garantindo autonomia e direitos específicos para as minorias culturais, ou seja, as comunidades indígenas não são julgadas de acordo com os mesmos parâmetros jurídicos (normas e leis) das demais comunidades, não sofrendo as mesmas penalidades que são impostas aos brancos e negros quando cometem algum delito ou crime. De acordo com Sansone (1998, p. 3): Na história das relações raciais na Colômbia, três fases podem ser identificadas: J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 10 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. o período colonial, a independência – à qual corresponde a criação de uma comunidade nacional – e o desenvolvimento de novas perspectivas étnicas, nas últimas décadas. Em cada uma delas o status do índio mostrou-se bastante diferente daquele do negro. Em 1993, o Congresso Colombiano aprovou a Lei nº 70 incorporada à Constituição Federal, falando das comunidades negras. Essa lei estabelece os direitos essenciais à sobrevivência dessas comunidades e torna ilegal a discriminação racial contra esse grupo, além de definir os elementos específicos da cultura afro-colombiana. Sansone (1998, p. 4) diz que: Ela concede direitos fundiários às comunidades negras, mas exclui o controle sobre os recursos naturais, o subsolo, os parques nacionais, as zonas de interesse militar e às áreas urbanas. A lei prescreve que os recursos naturais sejam geren- ciados pela comunidade, que está obrigada a fazê-lo de forma ecologicamente sustentável. Em segundo lugar, a lei visa melhorar a educação, a formação, o acesso ao crédito e, também, as condições materiais dessas comunidades. A aplicação desse aspecto da lei deve ser garantida mediante a participação de representantes das comunidades no Conselho Nacional de Planejamento, assim como na divisão de Assuntos das Comunidades Negras que o governo deverá criar. Vejamos que, ao mesmo tempo em que a lei estabelece algumas garantias fundamentais às comunidades negras colombianas, também delimita a sua ocupação e a forma de ocupação nesse território, colocando as comunidades negras em espaços específicos, longe do convívio com a comunidade urbana e determinando critérios específicos de não exploração dos recursos naturais, mas, ao mesmo tempo, eles são obrigados a cuidar e zelar pelos mesmos recursos, pois serão os frutos da sua sobrevivência. Um dos aspectos principais dessa lei é sobre o direito à educação levando em consideração os aspectos culturais dos afro-colombianos. Apesar dessa lei, ainda existem na Colômbia enormes dificuldades para a sua implantação, principalmente os objetivos referentes à proteção da cultura dos afro- colombianos. Mas o maior benefício que ela trouxe para a sociedade colombiana foi a organização das comunidades negras, que passaram a lutar por seus direitos e a reconhecê-los enquanto um grupo étnico específico. Mesmo com o início desse processo de organização das comunidades negras, ainda existem inúmeros conflitos entre índios e negros pela posse das terras no campo, onde ambos os grupos acusam de ocupação indevida o território delimitado para um dos grupos, que, ao invés de lutar pelos seus direitos de posse e ocupação das terras perante o governo, ficam brigando entre si, sem considerar a sua condição de grupos minoritários perante uma estrutura governamental e social que há muitos anos os excluíram. 11ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 2.2 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NO PERU País colonizado pela Espanha, o Peru ainda guarda fortes marcas do seu período colonial e de uma cultura homogeneizadora, como, por exemplo, falar a língua espanhola, usar roupas ocidentais, morar na capital, são hábitos que fizeram com que muitos índios se tornassem mestiços para serem reconhecidos na sociedade peruana. A diversidade cultural, através da preservação da língua e dos costumes de diversos povos indígenas que habitavam o Peru desde a colonização até o final do século XX, tem sido esquecida pelo governo, existindo políticas públicas de afirmação da identidade desses povos. Segundo Sansone (1998, p. 5): O Peru apresenta grandes diferenças geográficas e étnicas. Segundo dados de 1981, a população (17 milhões) está distribuída desigualmente por três regiões: na costa (50% em 1982), na serra (39%) e na selva (11%). Brancos e mestiços predominam na costa, onde também se concentra a pequena minoria de ne- gros (entre 6% e 10% da população); índios e mestiços predominam na serra; e índios amazônicos, junto a um crescente número de imigrantes da serra e da costa, na selva. Para enfrentar os problemas étnicos que o país passava, pressionado pelos movimentos indigenistas, o governo peruano promulgou a Carta de 1933, que faz com o Estado tenha o compromisso em proteger os povos e as terras indígenas. Mesmo com a promulgação desta Carta, os índios continuaram sendo discriminados pela sociedade peruana, que tem privilegiado os brancos e os mestiços. A denominação “índio” tem sido substituída pelo termo “campesino” (camponês), porque este foi incluído em uma reforma agrária que aconteceu no país em 1969, com o objetivo de proteger os pequenos agricultores e os sem-terra. Esses pequenos agricultores e os sem-terra que habitavam a região da serra eram índios, mas a discriminação contra esse povo foi tão forte no Peru, por isso houve a mudança da denominação. 2.3 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NA VENEZUELA A população da Venezuela é composta pela maioria de pardos (mistura entre branco, índio e negro), cerca de 75% da população. Os demais 25% são brancos e negros. Este país tem sido um dos poucos países na América Latina que tem construído políticas de respeito à diversidade étnica e cultural, principalmente em relação aos negros. Após a independência da Espanha em 1821, a Venezuela tem construído um discurso de país onde predomina a democracia racial, e a cultura negra tem sido respeitada. Segundo as pesquisasde Pollak-Eltz (1977); Wright (1990) e Bermúdez e Su- J&A Destacar 12 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. arez (1995), na Venezuela contemporânea o racismo é presente somente de forma sutil, sobretudo no mercado matrimonial e nos concursos de beleza, e não chega a bloquear a ascensão social dos negros, nem previne que algumas importantes festas populares negras tradicionais se estejam tornando autênticas festas nacionais, nas quais os brancos celebram a cultura negra como parte da sua própria tradição cultural (SANSONE, 1998, p. 3). Isso significa dizer que a cultura negra foi incorporada à cultura venezuelana, mas que ainda existe discriminação entre os negros e demais etnias no país, pois devido à forma velada de discriminação, ou seja, quando ela é considerada no nível pessoal e não como um problema social, os governos tendem a fazer de conta que o problema não existe, e, sendo assim, não desenvolvem políticas públicas de combate à discriminação. Esse tipo de pensamento é encontrado na maioria dos países da América Latina. 2.4 POLÍTICAS MULTICULTURAIS NO MÉXICO O México é o segundo país mais populoso da América Latina, ficando atrás do Brasil, com uma população de 109,6 milhões de pessoas. A população mexicana é constituída, em sua maioria, por euro-ameríndios, ou seja, pela mistura entre espanhóis e índios. Esse grupo étnico responde por cerca de 60% dos habitantes do país. Os brancos são cerca de 9% da população e os índios correspondem a 30% da população. A ocupação do território mexicano ocorre de forma irregular, devido às condições naturais do país, possuindo uma grande área de deserto. Determinadas áreas são extremamente povoadas, enquanto em outras praticamente desabitadas. Essa concentração de pessoas em apenas uma parte do território mexicano ocasiona graves problemas socais, como os bolsões de pobreza encontrados na Cidade do México, uma das mais populosas do mundo, com mais de oito milhões de pessoas. Um dos problemas que o México vem enfrentando é a questão do sistema jurídico ainda influenciado pelos colonizadores espanhóis, não reconhecendo a diversidade étnica e cultural existente no país. São aproximadamente 58 etnias indígenas diferentes no país, encontradas desde muitos anos antes da colonização espanhola. A proposta é de legitimar os mecanismos e sistemas criados pelos diferentes grupos indígenas, dando conta das suas especificidades étnicas e culturais, valorizando a sua diversidade cultural, sem correr o risco de sufocar e influenciar esses povos julgando-os através dos valores da cultura ocidental. 13ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 3 MULTICULTURALISMO NO BRASIL 3.1 MOVIMENTOS MULTICULTURAIS NO BRASIL No Brasil, temos vários movimentos sociais que ao longo da história foram importantes para o desenvolvimento de políticas públicas multiculturais, como o movimento campesino, o movimento negro, feminista, indigenista, entre outros. Por necessidade de adequação ao padrão deste curso, vamos privilegiar as contribuições do movimento negro e indígena, o que não significa que os outros não tenham sido relevantes para a construção das políticas multiculturais brasileira. 3.1 MOVIMENTO INDÍGENISTA Uma das principais bandeiras do Movimento Indígena no Brasil tem sido a luta pela terra. Isso porque, desde que os portugueses chegaram ao nosso país, os índios passaram a ser expulsos dos locais onde habitavam. Como vimos nesta unidade, os mesmos nunca deixaram de lutar pelo seu território. Historicamente, os povos indígenas sempre reagiram à violação e à conquista de seus territórios tradicionais; e estas respostas variavam de acordo com o desafio imposto pelos distintos momentos da expansão capitalista, inicial- mente europeia e, mais tarde, condicionada à formação econômica brasileira (BORGES, 2005, p. 42). Durante séculos os povos indígenas foram massacrados em nome do desenvolvimento do país, desenvolvimento este que não era capaz de pensar uma política que respeitasse esses povos e seu habitat. Somente no início do século XX é que o governo volta sua atenção para esta problemática e cria o Serviço de Proteção aos Índios (SPI). O objetivo do SPI era mediar e estabelecer um diálogo entre as frentes de ex- pansão capitalista e os povos indígenas e, nesse sentido, atuar junto a questões de âmbito nacional, como a viabilização da ocupação econômica de extensos territórios no Sul e Centro-Oeste do país, em especial no interior de São Paulo e estados do Paraná e Santa Catarina, nos quais grupos indígenas vinham te- nazmente se opondo à invasão de seus habitats, seja por hordas migratórias, seja por cafeicultores paulistas (BORGES, 2005, p. 42). Portanto, o papel do SPI não era, de fato, ficar ao lado dos indígenas e protegê- los, mas sim, conhecê-los melhor para convencê-los a permitirem a ocupação de seus territórios, ficando do lado das oligarquias rurais que controlavam o país na época. Além de controlar os territórios ocupados pelos índios, o interesse do governo brasileiro, naquele período, era de que os mesmos servissem de mão de obra nas frentes de expansão econômica do país. O governo não respeitava a cultura indígena, acreditava J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 14 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. que os índios eram seres sem “civilização” e que precisavam ser educados e chegar ao estágio de desenvolvimento superior. O SPI foi substituído em meados dos anos 1960 pela FUNAI (Fundação Nacional do Índio), que tinha praticamente o mesmo objetivo da política anterior, acelerando ainda mais o processo de integração dos povos indígenas à expansão econômica do Brasil. No entanto, ao mesmo tempo em que isso foi extremamente negativo para os indígenas, proporcionou contato com a lógica desenvolvimentista da sociedade brasileira na década de 1960. Conhecendo melhor esse processo, os líderes dos povos indígenas começaram a elaborar formas de lutas, de acordo com a realidade social apresentada naquele período. A partir da década de 70, com regime militar no país e com a abertura econômica desenfreada para o capital internacional, a FUNAI passa a adotar uma estratégia integracionista, para que os índios não atrapalhem o desenvolvimento do Brasil. Neste período, a Igreja Católica assume um papel importante na defesa dos povos indígenas, reconhecendo seu erro no período do Brasil Colonial. Apoiados pela Igreja Católica, os índios passam a realizar assembleias, especialmente nos Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Diversos povos começaram a discutir a situação em que se encontravam, e suas principais reivindicações foram: “a luta pela terra, participação na elaboração de diversas políticas indigenistas oficiais e a necessidade de união entre diferentes povos indígenas” (BORGES, p. 42). A reunião de diferentes tribos indígenas permitiu a esses povos perceberem que os seus problemas eram praticamente os mesmos, ou seja, que todos os povos indígenas no país eram explorados e que sua cultura e território não eram respeitados. Para alcançar seus objetivos, eles perceberam que era necessária a articulação entre os mais diferentes povos indígenas existentes no país. Para fazer isso foi criada, em 1980, a União das Nações Indígenas (UNI), que contou com o apoio de antropólogos, culminando na realização do 1º Seminário de Estudos Indigenistas do Mato Grosso do Sul. Como a articulação dos diferentes povos indígenas foi extremamente difícil de ser conseguida pela UNI, eles passaram a organizar-se novamente de forma local e regional, criando a UNI/ACRE, que reunia tribos do Acre e do Amazonas, e também a Aty Guasú Guarani, que congrega tribos guaranis do Mato Grosso do Sul. Com a necessidade de existir uma organizaçãoque respondesse às questões indígenas em nível nacional, foi criado em 1992 o Conselho de Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (CAPOIB), com sede em Brasília. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 15ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. A partir daí, os índios perceberam que para conquistar seus objetivos seria necessário realizar um diálogo com os representantes políticos do país. Atualmente, os movimentos indígenas espalhados pelo Brasil inteiro congregam mais de 500 organizações locais e regionais, representando 300 tribos indígenas. Essas organizações, representadas pelos seus líderes, estão procurando estreitar cada vez mais os laços com a esfera política do país, pois perceberam que só através dela conseguirão conquistar o direito à diferença, educação escolar própria, demarcação de suas terras e o direito à saúde. 3.2 MOVIMENTO NEGRO Assim como o Movimento Indígena, o Movimento Negro está presente na sociedade brasileira desde o período da colonização, quando foram trazidos para o Brasil e escravizados. Como maior movimento de resistência à escravidão, temos a organização de um movimento liderado que culminou com a criação de um território livre, chamado Quilombo dos Palmares, local no qual os negros refugiados reuniam-se para lutar contra a escravidão e a exploração imposta pelos brancos colonizadores. Sua principal liderança chamava-se Zumbi. Mais tarde, nas décadas de 1960 e 1970, período de ditadura militar, o movimento negro espalhou-se por diversos estados no Brasil. Com a ditadura, as organizações negras tiveram que transformar-se em entidades de cultura e lazer. Desta forma, formaram-se grupos de teatro, música e dança que afirmaram a identidade e a cultura negra. Nos anos 1970, também os negros pobres que moravam nas periferias das grandes cidades do país foram fortemente influenciados por James Brow, cantor negro norte- americano. Através da chamada soul music (música típica dos negros estadunidenses), os bailes nos subúrbios cariocas deram origem ao movimento Black Rio. Este movimento teve como modelo o Movimento Black Power dos Estados Unidos, conforme estudamos na Unidade 2 deste caderno. A juventude negra no Brasil, além de receber forte influência do Movimento Black Power, também passou a ouvir as músicas negras vindas do Caribe, da Europa e da África. Um cantor que influenciou bastante a juventude negra da Bahia foi Bob Marley, que com sua música reggae criou a doutrina rastafári, conscientizando os negros dos problemas decorrentes da discriminação racial na sociedade. Outros líderes negros, como Nelson Mandela na África do Sul, Samora Machel J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 16 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. de Moçambique e Agostinho Neto de Angola, serviram de exemplo para o Movimento Negro no Brasil. Na década de 1970, com a finalidade de articular os negros do Brasil inteiro, surgiu no dia 7 de julho de 1978 o Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial. Esse movimento teve um grande desafio de lutar contra o racismo em pleno período de ditadura militar, pois os militares diziam que já se vivia numa democracia racial no Brasil, portanto os negros não tinham nenhum objetivo para lutar. Ainda neste momento histórico, surge no interior do Movimento Negro a discussão específica das mulheres, lideradas por Lélia Gonzalez. Ela trouxe o argumento de que existe diferenciação nas formas de sofrer o preconceito de acordo com o sexo, ou seja, ser um homem negro é diferente de ser uma mulher negra no Brasil. Além de levar em consideração a questão de gênero, é necessário levar em consideração também a questão da classe social. Diversas organizações negras para lutar contra a discriminação racial foram criadas neste período. A maioria dessas organizações é de origem urbana, mas atualmente o Movimento Negro tem atingido também a área rural, onde participa ativamente do Movimento dos Sem Terra (MST). Outra área importante em que o Movimento Negro tem atuado são as comunidades de remanescentes de quilombos. Sobre este assunto nos aprofundaremos mais adiante. Outra conquista importante do Movimento Negro do Brasil foi lutar para que o governo brasileiro começasse a adotar medidas políticas de ação afirmativa, combatendo o racismo e a discriminação racial. Uma dessas medidas adotadas foi a lei de cotas raciais e sociais nas universidades. 3.3 O SURGIMENTO DAS POLÍTICAS MULTICULTURAIS NO BRASIL As políticas multiculturais no Brasil surgiram durante o Governo Lula, no final do século XX, e ampliaram-se no início do século XXI, através da criação de diversas secretarias. Alguns elementos fundamentais para a discussão das políticas multiculturais no país são a política de cotas nas universidades, o Estatuto da Igualdade Racial e a criação das comunidades quilombolas e negras com direito à propriedade da terra e a manutenção da sua cultura. A seguir veremos que as políticas multiculturais existentes no Brasil são importantes instrumentos de ampliação e consolidação das políticas públicas para a diminuição das desigualdades sociais, na direção de um país mais justo e solidário, que leva em consideração a diversidade étnica e cultural existente em seu território. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 17ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. O primeiro mandato do Governo Lula teve início no dia 1º de janeiro de 2003 e se estendeu até dezembro de 2006. Luiz Inácio Lula da Silva venceu as eleições de 2002 após três tentativas. Foi a primeira vez na história do Brasil que um ex-operário chegou ao cargo mais importante do país. Nos governos anteriores a Lula, os investimentos realizados foram mais voltados para a área econômica, pois o país passava por uma grande crise, com a inflação descontrolada. Somente no governo FHC é que o país conseguiu controlar a inflação, houve alguns investimentos em programas sociais com o objetivo de amenizar as desigualdades sociais existentes no país. Mas em relação às políticas culturais e o multiculturalismo: [...] não há registros de que o governo FHC tenha realizado um processo de debate público, ou seja, não houve uma abertura à participação popular sobre o papel da Cultura na construção de uma sociedade democrática, não inserindo a Cultura no desenvolvimento da cidadania [...] (PINTO, 2010, p. 14). Isso significa dizer que apenas no final do século XX e início do século XXI é que se iniciam efetivamente alguns investimentos em políticas multiculturais no Brasil e a cultura passa a ser considerada um dos parâmetros para o desenvolvimento do país, sendo prevista desde a Constituição Federal de 1988. O governo Lula ampliou as políticas sociais iniciadas no governo FHC. Criou o Programa Fome Zero, que consistia na transferência de renda direta para famílias com renda per capita de R$ 69,01 a R$ 137,00, com o objetivo de diminuir a miséria e a fome no país. Também foram criadas no seu governo diversas secretarias com o objetivo de respeitar a diversidade étnica e cultural existente no país e diminuir as desigualdades sociais históricas, ocasionadas por questões de gênero e raça. Foram criadas as secretarias de Direitos Humanos, Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Vejamos a seguir quando foram criadas e qual o papel de duas delas, que foram importantes para o que estamos nos propondo debater neste curso. São elas: A Secretarias de Direitos Humanos, e a Secretaria de Políticas de Promoção daIgualdade Racial. J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 18 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. • Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) é responsável pela articulação interministerial e intersetorial das políticas de promoção e proteção aos Direitos Humanos no Brasil. Criada em 1977 dentro do Ministério da Justiça, foi alçada ao status de ministério em 2003. No ano passado (2010) a Secretaria ganhou o atual nome. As principais atribruições da SDH/PR foram: • Propor políticas e diretrizes que orientem a promoção dos direitos humanos, criando ou apoiando projetos, programas e ações com tal finalidade. • Articular parcerias com os poderes Legislativo e Judiciário, com os estados e municípios, com a sociedade civil e com organizações internacionais para trabalho de promoção e defesa dos direitos humanos. • Coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos segundo as diretrizes do Programa Nacional de Direitos Humanos. • Receber e encaminhar informações e denúncias de violações de direitos da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, da população de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais e de todos os grupos sociais vulneráveis. • A SDH/PR atua como Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos. FONTE: Direitos Humanos (2011). Disponível em: <http://www.direitoshumanos.gov.br/sobre>. Acesso em: 20 maio 2016. • Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial: a SEPPIR (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) foi criada pelo Governo Federal no dia 21 de março de 2003. A data é emblemática: em todo o mundo celebra-se o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. A criação da Secretaria é o reconhecimento das lutas históricas do Movimento Negro brasileiro. A missão da SEPPIR é estabelecer iniciativas contra as desigualdades raciais no país. Seus principais objetivos são: • Promover a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra. • Acompanhar e coordenar políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do governo brasileiro para a promoção da igualdade racial. • Articular, promover e acompanhar a execução de diversos programas de cooperação com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais. • Promover e acompanhar o cumprimento de acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil, que digam respeito à promoção da igualdade e combate à 19ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. discriminação racial ou étnica. • Auxiliar o Ministério das Relações Exteriores nas políticas internacionais, no que se refere à aproximação de nações do Continente Africano. A SEPPIR utiliza como referência política o programa Brasil sem Racismo, que abrange a implementação de políticas públicas nas áreas do trabalho, emprego e renda; cultura e comunicação; educação; saúde, terras de quilombos, mulheres negras, juventude, segurança e relações internacionais. A criação da SEPPIR reafirma o compromisso com a construção de uma política de governo voltada aos interesses reais da população negra e de outros segmentos étnicos discriminados. FONTE: Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2011). Disponível em: <www.seppir.gov.br/ sobre>. Acesso em: 20 maio 2016. Essas secretarias foram criadas para promover a cidadania e diminuir as desigualdades sociais no Brasil, além de serem o alicerce na criação de políticas multiculturais. Lembrando que, essas secretarias permanecem até os dias atuais, promovendo suas ações durante os dois mandatos da presidente Dilma Rousseff. Isso não quer dizer que a discriminação por raça, gênero, religião, etnia e classe social tenha acabado no país, mas são políticas públicas importantes desenvolvidas através destes ministérios e secretarias, instrumentos eficazes na construção de uma sociedade brasileira mais justa e que respeite de fato a diversidade existente nesse imenso país, para que a nossa nova história seja construída com a efetiva participação de todos e de todas. 3.4 POLÍTICAS MULTICULTURAIS 3.4.1 O sistema de cotas O Brasil inicia sua trajetória no sistema de cotas adotando politicas afirmativas para dois grupos: deficientes e mulheres. Em relação aos deficientes, eforam estabelecidas cotas para que possam ingressar no serviço público através de concurso, e também programas exigindo que as empresas contratem um percentual de pessoas com deficiências no seu quadro funcional. Esse ordenamento jurídico encontra seu respaldo na Constituição Federal de 1988. Além disso, o Brasil fixou a obrigatoriedade dos partidos políticos terem no mínimo 20% do seu quadro eleitoral composto por mulheres. Nas universidades, o sistema de cotas começa a entrar em vigor no ano 2000, sendo que as primeiras universidades a adotarem esse sistema no vestibular no ano de 2004 foram as universidades estaduais no Rio de Janeiro, garantindo que 50% das J&A Destacar 20 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. vagas fossem destinadas a estudantes de escolas públicas. Logo em seguida, no dia 9 de novembro de 2001, a Lei nº 3.708/01 institui o sistema de cotas para estudantes negros ou pardos, destinando 40% das vagas das universidades públicas estaduais do Rio de Janeiro. Em 2002, a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e a UENF passam a adotar essa política no seu vestibular. A Universidade de Brasília (UNB) e a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) também aderem ao sistema de cotas, adotando critérios socioeconômicos ou a cor ou raça em seus vestibulares. Nesta mesma perspectiva, para reforçar as políticas multiculturais em âmbito nacional, foi criado o Programa Diversidade na Universidade, através da Lei Federal nº 10.558/02, de 13 de novembro de 2002, conhecida como “Lei de Cotas”. Existe muita resistência por parte de vários segmentos tradicionais da sociedade brasileira em aceitar a Lei de Cotas nas Universidades, pois, para estes, esta lei reforça o racismo já existente no país, fazendo com que negros e pardos ou pessoas de condições socioeconômicas desfavoráveis acessem as universidades não pelo mérito, mas pelo enquadramento em uma lei. No entanto, como citamos anteriormente, esse sistema existe para equiparar danos provocados a estas etnias e classes sociais que sempre foram marginalizadas no decorrer da história do país. Além do sistema de cotas, devem acontecer em paralelo outras programas sociais que resolvam as deficiências estruturais da sociedade brasileira, focando em áreas como educação, saúde, distribuição de renda, cultura, qualificação profissional, habitação, entre outros. O problema apresentado é que, gerando oportunidades para esta camada social, a elite brasileira perde privilégios históricos, pois agora os seus filhos terão que concorrer a uma vaga no mercado de trabalho com as “minorias étnicas ou com os pobres”. As carreiras que antes só pertenciam a elas, como Medicina, Engenharia, Direito, dentre outros cursos elitizados que entraram no sistema de cotas, agoram tornam-se acessíveis a um maior número de brasileiros que, até então, não podiam sonhar em trilhar este caminho. O sistema de cotas geralmente possui um período determinado, ou seja, ele perdura até eliminar a desigualdade e a exclusão ocasionadas a determinados grupos sociais, como falamos anteriormente. Ele só terminará quando esses grupos sociais que foram incluídos no sistema de cotas estiverem inseridos de maneira digna na sociedade brasileira. J&A Destacar 21ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. 3.4.2 Estatuto da igualdade racial Outro instrumento jurídico que reforça as políticas multiculturais no Brasil é o Estatuto daIgualdade Racial, criado em 20 de julho de 2010, através da Lei Federal nº 12.288/2010. Este estatuto visa garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica (BRASIL, 2010). O Estatuto da Igualdade Racial estabelece a inclusão da população negra nas políticas púlbicas de educação, cultura, esporte, lazer, saúde, o respeito às suas crenças religiosas e liberdade de expressão, direito à terra e a moradia digna, políticas de inclusão da população negra no mercado de trabalho, a valorização da herança cultural negra, através dos meios de comunicação, combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica, levando em consideração critérios como gênero e classe social. Portanto, ele significa um importante avanço na promoção da igualdade de oportunidades para a população negra no país, que desde o período de colonização sofreu as consequências de uma sociedade eurocêntrica baseada na exploração de negros, índios e mestiços, como forma de enriquecimento através de povos considerados “inferiores e subalternos”. 3.4.3 Comunidades quilombolas e tradicionais: um caminho para o respeito à diversidade étnica-cultural Após grande pressão do Movimento Negro, foram criadas em 2003 as comunidades quilombolas. Elas são definidas como remanescentes de Quilombo, com uma identidade étnica comum diferente das demais existentes no país com ancestralidade negra, criadas com o objetivo de fortalecer a cultura desses grupos e que estabelecem o direito à terra de acordo com o Decreto nº 4.887/03. Atualmente, existem cerca de 3.524 comunidades quilombolas no Brasil em 24 estados da federação, segundo dados da Fundação Palmares. Os movimentos sociais também foram determinantes para que na Constituição de 1988 aparecesse o termo “Comunidades Tradicionais”. A partir de 2002, um conjunto de medidas governamentais possibilitou a sua implementação. Mas, como definir o que são comunidades tradicionais? O Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, Art. 30, define povos e comunidades como (BRASIL, 2007): J&A Destacar J&A Destacar J&A Destacar 22 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. I (…) grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. FONTE: Disponível em: <www.boell-latinoamerica.org/.../Observatorio_Quilombola_Maramba>. Acesso em: 21 out. 2011. E os seus territórios como sendo: II (…) os espaços necessários à reprodução cultural, social e econômica dos povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e quilombolas, respectivamente, o que dispõem o Artigo 231 da Constituição de 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais regulamentações. FONTE: Disponível em:<www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/.../D6040.htm>. Acesso em: 21 out. 2011. Em 2006, o Brasil começa a organizar uma política nacional dirigida para os Povos e Comunidades Tradicionais através do Decreto de 13 de julho de 2006, criando a Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (CNPCT). Esta comissão integra representantes de 15 Povos e Comunidades Tradicionais e também representantes do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome e do Ministério do Meio Ambiente, dois órgãos públicos federais aos quais esta comissão está interligada. Logo em seguida, através do Decreto nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, foi criada a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais (PNPCT). A instituição da PNPCT é fundamental não somente por propiciar a inclusão política e social dos povos e comunidades tradicionais, como também por es- tabelecer um pacto entre o poder público e esses grupos, que inclui obrigações de parte a parte e um comprometimento maior do Estado ao assumir a diver- sidade no trato com a realidade social brasileira. A PNPCT tem por objetivo específico promover o desenvolvimento sustentável dos povos e comunidades tradicionais, com ênfase no reconhecimento, fortalecimento e garantir os seus direitos territoriais, sociais, ambientais, econômicos e culturais, com respeito e valorização à sua identidade, suas formas de organização e suas instituições (OCARETE, 2016). O PNPCT, bem como a definição e o reconhecimento das Comunidades Quilombolas, é mais um importante passo na direção da manutenção da existência e preservação da cultura de grupos marginalizados e explorados no decorrer da nossa 23ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. história. Mostrando também que só é possível construir um país desenvolvido, com dignidade, respeitando a diversidade étnica e cultural nele existente. 24 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL Copyright © UNIASSELVI 2016. Todos os direitos reservados. REFERÊNCIAS BORGES, Paulo Porto. O movimento indígena no Brasil: histórico e desafios. Princípios. 80. ed., [s.l.], ago./set., 2005. BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Capacitação para controle social nos municípios: assistência social e Programa Bolsa Família. 2010. Disponível em: <www.mds.gov.br/.../secretaria...controle-social-nos-municipios- assistente>. Acesso em: 22 out. 2011. ______. Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Decreto n. 6.040, de 7 de fevereiro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/Decreto/D6040.htm>. Acesso em: 15 ago. 2011. KASTORYANO, Riva. (Org.). Multiculturalismo: uma identidade para a Europa? Multiculturalismo e a Europa /o problema da identidade europeia. Lisboa: Ulisseia, 2004. MARQUES, Rui. Políticas de gestão da diversidade étnico-cultural: da assimilação ao multiculturalismo. Disponível em: <docs/rm/multiculturalismo.pdf>. Acesso em: 22 out. 2011. OCARETE. Povos e comunidades tradicionais: reconhecimento formal e políticas públicas. Disponível em: <http://www.ocarete.org.br/povos-tradicionais/ apresentacao/>. Acesso em: 10 maio 2016. PINTO, Viviane Cristina. De Fernando Henrique Cardoso a Lula: uma análise das políticas públicas de cultura no Brasil. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2010. SANSONE, Lívio. Multiculturalismo, Estado e Modernidade: as nuanças em alguns países europeus e o debate no Brasil. Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 46, n. 3, 2003. VIEIRA, Ana Carolina; PINTO, Gabriel Nascimento. A defesa dos direitos fundamentais em sociedades multiculturais: uma análise do pluralismo normativo na Colômbia. In: Anais Congresso Latino-Americano de Direitos Humanos e Pluralismo Jurídico, n. 1, ago. 2008, Florianópolis, 2008. Disponível em: <www.nepe. ufsc.br/congresso/artigos.php>. Acesso em: 22 out. 2011. Centro Universitário Leonardo da Vinci Rodovia BR 470, km 71, n° 1.040, Bairro Benedito Caixa postal n° 191 - CEP: 89.130-000 - lndaial-SC Home-page: www.uniasselvi.com.br
Compartilhar