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0 1 Disciplina: Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo Autora: D.ra Yara Rodrigues de la Iglesia Revisão de Conteúdos: M.e Leandra Felícia Martins Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima Ano: 2018 Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança de direitos autorais. 2 Yara Rodrigues de la Iglesia Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo 1ª Edição 2018 Curitiba, PR Editora São Braz 3 Editora São Braz Rua Cláudio Chatagnier, 112 Curitiba – Paraná – 82520-590 Fone: (41) 3123-9000 Coordenador Técnico Editorial Marcelo Alvino da Silva Conselho Editorial D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / D.ra Yara Rodrigues de la Iglesia Revisão de Conteúdos Leandra Felícia Martins Designer Instrucional Alexandre Kramer Morgenterm Revisão Ortográfica Lucimara Ota Eshima Desenvolvimento Iconográfico Juliana Emy Akiyoshi Eleutério Desenvolvimento da Capa Carolyne Eliz de Lima FICHA CATALOGRÁFICA LA IGLESIA, Yara Rodrigues de. Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo / Yara Rodrigues de la Iglesia. – Curitiba: Editora São Braz, 2018. 60 p. [versão adaptada 58] ISBN: 978-85-5475-278-1 1. Creche. 2. Documentos. 3. Educação. Material didático da disciplina de Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo – Faculdade UNINA, 2018. Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 4 PALAVRA DA INSTITUIÇÃO Caro(a) aluno(a), Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão Universitária. A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas também brasileiros conscientes de sua cidadania. Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e estudantes. Bons estudos e conte sempre conosco! Faculdade UNINA 5 Sumário Prefácio ..................................................................................................... 06 Aula 1 – A creche e seus significados ........................................................ 07 Apresentação da aula 1 ............................................................................. 07 1.1 Breve trajetória histórica ................................................................ 07 1.2 Como surgiram as creches no Brasil? .......................................... 08 1.2.1 O que dizem os documentos oficiais? ........................................ 10 1. 3 A integração necessária entre o educar, cuidar e brincar .............. 12 Conclusão da aula 1 .................................................................................. 18 Aula 2 – De que bebê estamos falando? ................................................... 19 Apresentação da aula 2 ............................................................................. 19 2.1 De que bebê estamos falando? .................................................... 19 2.2 Inserção do bebê na Educação Infantil .......................................... 28 Conclusão da aula 2 .................................................................................. 30 Aula 3 – Brincar do bebê ........................................................................... 31 Apresentação da aula 3 ............................................................................. 31 3.1 O brincar como direito infantil e fenômeno cultural ........................ 31 3.2 E, o bebê brinca? .......................................................................... 36 Conclusão da aula 3 .................................................................................. 41 Aula 4 – Organização da rotina .................................................................. 42 Apresentação da aula 4 ............................................................................. 42 4.1 Planejamento ................................................................................ 42 4.2 Organização do tempo, espaço e materiais ................................... 44 4.3 O papel do professor .................................................................... 51 Conclusão da aula 4 .................................................................................. 54 Índice Remissivo ........................................................................................ 56 Referências ............................................................................................... 57 6 Prefácio Olá, estudante, seja bem-vindo, seja bem-vinda! Estamos dando início à disciplina Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo. Nosso objetivo é fazer algumas reflexões sobre a educação e o cuidado dos bebês e das crianças bem pequenas em contextos coletivos de Educação Infantil. Para que possamos aprofundar esses conceitos, em nossas aulas buscaremos estabelecer uma conexão para além do virtual, para que isso ocorra, é fundamental que você se comprometa com as atividades propostas em cada etapa de nossa disciplina. Estamos seguros de que essa disciplina auxiliará no seu percurso formativo. É com essa certeza que desejamos uma excelente leitura. Lembre-se de que em Educação a Distância o educando é o sujeito de sua própria aprendizagem. Para facilitar a ampliação dos seus conhecimentos, não deixe de explorar as outras ferramentas do curso, como as videoaulas e o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Bons estudos! Professora Dra. Yara Rodrigues de la Iglesia 7 Aula 1 – A creche e seus significados Apresentação da aula 1 Prezado estudante, seja bem-vindo à nossa primeira aula. Iniciamos nosso estudo sobre os bebês na Educação Infantil, fazendo uma breve retrospectiva histórica sobre o conceito de infância. Em seguida, abordaremos o surgimento das primeiras creches no Brasil, que favorecerá a compreensão acerca das questões educacionais atuais. Encerraremos com uma reflexão sobre a indissociabilidade entre o educar e cuidar na educação infantil, principalmente, com os bebês e as crianças bem pequenas. Deteremo-nos um tempo maior, analisando quais são os procedimentos utilizados na troca de fraldas dos bebês e das crianças pequenas, em espaços coletivos de educação. Na análise dessa trajetória, procuraremos inserir a discussão sobre o lugar que ocupam os bebês e as crianças pequenas em nossa sociedade contemporânea. 1.1 Breve trajetória histórica Em um livro de 1960, traduzido no Brasil como História Social da Criança e da Família, o autor PhillipAriès sugere que antes do século XVII a infância não era um conceito reconhecido. Foi só em algum momento entre o século XVII e XX que o termo criança começou a ter seu significado atual. De acordo com o autor, na sociedade medieval, com a idade de 7 anos as crianças agiam e eram tratadas como pequenas versões dos adultos à sua volta. Sendo assim, o conceito de criança como uma fase distinta é relativamente novo, tendo surgido por volta do século XVII, juntamente com a redução da mortalidade infantil, com as mudanças no sistema educacional e na família. Durante a maior parte da história humana, era comum que grande parte das crianças não sobrevivesse até a idade adulta, 7 em cada 10 crianças não viviam após os 3 anos de idade. Esta alta taxa de mortalidade foi uma das razões pelas quais as crianças foram tratadas com certa indiferença emocional. Quando as taxas de sobrevivência aumentaram, os pais começaram a tratar as crianças com mais carinho e envolvimento emocional (ARIÈS, 1978). 8 De acordo com Ariès (1981), a relação criança e infância foi se transformando a partir da difusão de novos pensamentos e condutas da Igreja Católica. Estas novas condutas fizeram com que surgissem novos modelos familiares que ressaltavam a importância do laço de sangue e no século XVIII a Igreja Católica passou a acusar quem matasse crianças de praticar bruxaria. Século XVIII Fonte: https://br.123rf.com/profile_arcady31 No final do século XIX, a vida de muitas crianças ainda era dominada pela pobreza e pela doença. No entanto, a ideia de criança como um sujeito que necessitava de cuidados específicos já havia sido aceita por parte da população, abrindo caminho para futuras políticas implantadas no decorrer do século XX. Durante este século, cada vez mais as crianças eram vistas como uma responsabilidade do Estado. Esta mudança no paradigma do século XX foi refletida em alguns dos marcos legais no campo dos direitos. 1.2 Como surgiram as creches no Brasil? Todos os documentos estudados são unânimes em afirmar que a creche foi criada nos países industrializados com o objetivo de atender as crianças pequenas para que suas mães pudessem trabalhar. Segundo Kishimoto (1988, p.23), “diferenciando-se de países industrializados, o Brasil dá início à organização das primeiras creches no 9 começo do século XX, com uma clientela composta basicamente de filhos de indigentes e órfãos”. A implantação das instituições voltadas ao atendimento da infância no Brasil, sobretudo das creches, sempre esteve associada à ideia de pobreza, culpa, favor e caridade. Para entendermos esse fenômeno educativo é importante compreendermos que as creches não foram criadas em um vazio social, elas sofreram e sofrem influência de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. A forma precária de atendimento às crianças pequenas neste período era especialmente filantrópico e era destinado a filhos de mulheres em situação de pobreza. Vocabulário Filantrópico: que se refere à caridade. Que desenvolve ou faz caridade (Dicionário Online de Português). As creches foram criadas e mantidas por entidades de natureza filantrópica, quase que exclusivamente por entidades religiosas, especialmente pela Igreja Católica. O Estado não participou na implantação, funcionamento e fiscalização inicial das instituições de atendimento infantil. O comprometimento dos governos com a criação e manutenção dessa instituição iniciou após a reivindicação de grande parcela da população que necessitava desse tipo de serviço. A mortalidade infantil elevada, desnutrição generalizada e acidentes domésticos passaram a despertar sentimentos de preocupação dos governos. Enquanto as famílias abastadas pagavam uma babá, as que se encontravam em situação de pobreza viam como única alternativa deixar os filhos sozinhos ou colocá-los em uma instituição que deles cuidassem. Como você pode perceber, a creche era um local que oferecia atendimento caritativo aos desamparados e teve suas origens no próprio processo de criação dessa instituição. Para as crianças mais pobres, a creche se caracterizava pela vinculação aos órgãos de assistência social e para as crianças das classes mais abastadas, outro modelo se desenvolveu no diálogo 10 com práticas escolares (BRASIL, 2009). A proposta de assistencialismo, que marcou a origem das creches, gerou a vinculação dessas instituições às Secretarias de Assistência Social e não às Secretarias de Educação. Você sabia que foi somente a partir da Constituição Federal de 1988, que foi garantido o direito à educação para crianças de 0 a 3 anos na creche? Foi a partir da Constituição que se procurou romper com a ideia de que a creche é somente um espaço de cuidado e guarda para filhos de pessoas que viviam em situação de pobreza. Enquanto as constituições anteriores viam o atendimento à infância somente na condição assistencialista, a Constituição de 1988 dá o primeiro passo em direção à superação do caráter assistencialista que, até então, predominava. É por intermédio da Constituição de 1988 que o atendimento em creches e pré-escolas (Educação Infantil) fica subordinado à Secretaria de Educação e não mais às Secretarias de Assistência Social. Essa mudança tenta romper com a visão assistencialista e de “guarda”, dando início a uma proposta mais integrada, em que o educar e o cuidar assumem um caráter de indissociabilidade. Esta ação ressalta o caráter público educativo em detrimento do caráter assistencialista característico desses espaços. Atualmente, com a participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho e as mudanças nos arranjos familiares, a expansão da Educação Infantil no Brasil tem ocorrido de forma crescente. A Educação Infantil, enquanto espaço que atende crianças de 0 a 5 anos, busca se desvencilhar das raízes que a constituíram. A seguir, continuaremos nosso recorrido histórico, analisando brevemente o que nos aponta a legislação. 1.2.1 O que dizem os documentos oficiais? Foi por meio da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1959, que a infância se tornou uma questão fundamental em programas de cooperação internacional e as crianças começaram a ser vistas como detentoras de direitos. Esse foi o tratado de 11 direitos humanos mais amplamente ratificado no mundo e a base sobre a qual repousam as políticas sociais voltadas à infância. Atualmente, a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, se configura como um direito constitucional a todas as crianças de 0 (zero) a 5 (cinco) anos de idade, em que na creche são atendidas crianças de zero (0) a três (3) anos e na pré-escola, de quatro (4) a cinco (5) anos. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional 9.394/96 (LDBEN), a Educação Infantil foi incorporada à Educação Básica, passando a ser regulamentada pelos órgãos educacionais. A educação de crianças pequenas passa a ser um direito da criança e um dever do Estado. A LDBEN de 1996 define que a função das instituições de Educação Infantil é cuidar e educar as crianças de forma indissociada. A partir da Constituição Federal de 1988, foi garantido o direito à educação para crianças de 0 a 3 anos na creche, procurando romper com a ideia de que seja só um espaço de cuidado para filhos de mães trabalhadoras, o que foi reforçado com a LDBN nº 9.394/96, que instituiu a Educação Infantil como primeira etapa da Educação Básica. Em outras palavras, a educação infantil foi assegurada pela Constituição Federal de 1988 e reiterada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394/96, como um direito da criança e um dever do Estado. A Educação Infantil será oferecida em: I – creches, ou entidades equivalentes,para crianças de até três anos de idade; II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). De acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (2009), as creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de zero a cinco anos de idade, por meio de profissionais com a formação específica legalmente determinada e com habilitação para o magistério superior ou médio, 12 refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora mantenha a obrigação de assistir às necessidades básicas de todas as crianças. 1. 3 A integração necessária entre o educar, cuidar e brincar Para iniciarmos nossa reflexão, é fundamental nos perguntarmos, o que significa cuidar? Muitas pesquisas destacam que, quando se fala em integrar cuidado e educação, a questão que se coloca é como transformar momentos de cuidado em momentos de educação. Será possível educar sem cuidar? Ou cuidar sem educar? Empregamos o conceito de cuidado defendido por Boff (2005, p.29), “cuidar traz em si dois significados. O primeiro tem a ver com o desvelo, da atenção para com o outro, e a segunda, a preocupação com o outro, porque nos sentimos envolvidos afetivamente”. Um cuidar que envolve atenção estabelece contato, escuta de forma sensível e interessada as necessidades, desejos e interesses dos bebês e das crianças. Essas ações de cuidado estão impregnadas de intencionalidade e permeadas pelas ações pedagógicas de um profissional da Educação Infantil que planeja, observa e avalia sua prática. Nesse sentido, o cuidar e educar são práticas indissociáveis. Mas será que isso ocorre realmente nas ações pedagógicas dos profissionais da Educação Infantil? É possível constatar duas formas de caracterização dos diferentes tipos de trabalhos realizados em creches e em pré- escola. De um lado, temos um trabalho mais voltado aos cuidados com um enfoque mais assistencialista e, por outro, um trabalho denominado educativo. O cuidado está voltado a uma população mais empobrecida, ligada às atividades de assistência e a educação para uma população mais abastada, seguindo o modelo de trabalho escolar das escolas de ensino fundamental. Essa compreensão da Educação Infantil, supostamente, é uma prática que já foi superada, pois, atualmente, temos uma legislação que compreende a criança pequena como um sujeito de direitos, com direitos a apender e desenvolver-se de forma integral nos espaços de Educação Infantil. Sabemos que muitas práticas, superadas no discurso, ainda permanecem vivas nas propostas de trabalho de muitos educadores. Oliveira (2005) sinaliza que ainda hoje na Educação Infantil existe uma forte influência higienista, que 13 valoriza a priorização de cuidados de saúde e assistencialismo às populações em vulnerabilidade social, provocando, ainda hoje, uma oscilação nas práticas de educar e cuidar. Segundo Maranhão (2010), o professor de bebês e de crianças pequenas tem que se apropriar de conhecimentos, desenvolver competências sobre o processo de desenvolvimento humano e conhecer os aspectos legais e éticos do processo de cuidar e educar em ambiente coletivo. Saiba mais Para saber mais sobre a indissociabilidade do educar e cuidar, leia o artigo: Saúde e bem-estar das crianças: uma meta para educadores infantis em parceria com familiares e profissionais de saúde, de Damaris Gomes Maranhão, disponível no link http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-sp- 1312968422/consultas-publicas?id=15860 Acesso em 7 junho de 2018. Uma pesquisadora que tem sido muito estudada é a pediatra austríaca Emmi Pikler, fundadora do Instituto Pikler-Lóczy, em Budapeste, na Hungria. Seu trabalho, que no início consistia em uma instituição para órfãos e abandonados, tornou-se centro de formação e referência na prática da educação do zero aos 03 anos. Ao estudar a Abordagem de Emmi Pikler, encontramos alguns princípios que norteiam as práticas educativas com os bebês, promovendo um crescimento e desenvolvimento integral e saudável. Essa autora sinaliza que os cuidados fisiológicos dirigidos aos bebês, por exemplo, a troca de fraldas, pode ser uma grande oportunidade de promover o vínculo afetivo entre a criança pequena e a professora. Diferentes autores afirmam que ao nascer o bebê ainda se sente parte da mãe, não tem noção da sua individualidade e precisa de um adulto de referência que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua existência, oferecendo os cuidados adequados. Emmi Pikler chama essas ações de cuidados privilegiados. Como esse ato de cuidado pode também ser um ato educativo? A seguir, descreveremos uma ação muito comum dentro de espaços da Educação Infantil, principalmente, com bebês e crianças pequenas, que é a troca de fraldas. É importante destacar que educar e cuidar é muito mais que uma 14 ação, é uma forma de organizar e compreender o tempo e o espaço da Educação Infantil. É uma forma de entender quem é esse bebê e essa criança pequena. Trocar fraldas, para a maioria dos profissionais da Educação Infantil, é um ato mecânico e que pode ser realizado sem qualquer tipo de planejamento. O maior desafio do profissional é o de planejar e organizar esse momento com uma intencionalidade educativa, que deve estar contemplada dentro da proposta curricular da instituição. A troca de fraldas é uma grande oportunidade de potencializar o vínculo afetivo entre o professor e a criança, além de ser um momento rico em aprendizagens. O cuidado envolve momentos de aprendizado, brincadeira e tomada de consciência do próprio corpo e do corpo do outro. A definição e o aperfeiçoamento dos modos, como a instituição organiza essas atividades, também são partes integrantes de sua proposta curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações que são indissociáveis. Ao conceber o caráter indissociável do cuidado e da educação, fica claro que a responsabilidade de todas as ações junto às crianças é do professor. (Parecer CNE/CEB nº 20/09, que define Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Infantil). Os momentos de cuidado devem ser planejados como uma experiência sensorial e afetiva, estabelecida entre o bebê e a profissional da Educação Infantil. Inspirados na abordagem de Emmi Pikler e na tentativa de proporcionar um desenvolvimento integral dos bebês e das crianças, elencamos alguns princípios que necessitam nortear as ações que envolvam a troca de fraldas: a) Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência; b) Utilizar gestos delicados; c) Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual; d) Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai acontecer; e) Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem pequeno; 15 f) Observar e acompanhar cada pequena descoberta e/ou conquista da criança. troca de fraldas Fontes: https://br.123rf.com/profile_wavebreakmediamicro A seguir, serão destacados como esses princípios são constituídos e as principais concepções que norteiam as práticas dos educadores durante a troca de fraldas. a) Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência. É fundamental organizar esse momento, planejando um tempo necessário para a interação individual com cada criança. Muitos profissionais acreditam que o momento da troca de fraldas deve ser rápido, porque entendem essa ação como uma perda de tempo. Essa concepção fundamenta-se na ideia de que o cuidado não é um conteúdo pedagógico, no entanto, a troca de fraldas deve fazer parte da proposta educativa e ser entendida como um conteúdo da Educação Infantil, impregnada de sentido educativo. b) Utilizar gestosdelicados. O planejamento deve promover momentos em que os profissionais possam tocar na criança com calma e delicadeza, fortalecendo a relação e 16 potencializando o vínculo afetivo. Nunca pegue uma criança inesperadamente em seus braços de forma que ela seja pega de surpresa, pois isso pode gerar angústia e medo. Em muitas situações, o profissional precisa reaprender a tocar o corpo da criança com delicadeza. O toque deve ser suave e coordenado, como se fosse uma coreografia. A criança precisa sentir que o profissional tem uma intencionalidade, que o ritual de troca de fraldas tem um início, meio e fim. c) Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual. Olhar nos olhos do bebê, mantendo o contato visual. A troca de fralda pode ser uma oportunidade do bebê e da criança bem pequena sentirem-se únicos e especiais. Durante a jornada da Educação Infantil, o professor tem muitas demandas, impossibilitando que preste atenção exclusiva em uma única criança. Portanto, poder dedicar alguns momentos particulares a uma única criança, faz dela um ser singular em meio ao coletivo. Manter o contato visual assegura que o professor se mantenha presente agora e focado na ação que está realizando. d) Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai acontecer. Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai fazer, porque as palavras usadas transferem os sentimentos do adulto para a criança. Portanto, se o profissional sentir qualquer emoção negativa em relação à troca de fraldas é importante procurar ajuda para falar sobre esses sentimentos. Para algumas pessoas, a troca de fraldas pode produzir sentimentos ambíguos. Outro aspecto a destacar, é a necessidade de o professor pedir a colaboração do bebê, mesmo quando ainda é bem pequeno. Essa ação facilita que a criança se sinta uma companheira ativa durante o processo, o professor pode solicitar, por exemplo, que o bebê estique a perna, que dobre o joelho e que prove a temperatura da água. É bem importante nomear as partes do corpo, descrevendo o que vai acontecer com ele e ajudar o bebê a expressar o que está sentindo. 17 O bebê e a criança pequena precisam ser informados do que será feito com o seu corpo. O profissional da Educação Infantil precisa anunciar e pedir a autorização para tirar a roupa da criança e para tocar em seu corpo. Essa relação de cuidado e respeito possibilita que o bebê e a criança assumam um papel ativo e colaborativo nos cuidados de seu próprio corpo, aprendendo a respeitá-lo, ao mesmo tempo que constroem relações de respeito com o corpo dos demais. e) Observar e acompanhar cada pequena descoberta e/ou conquista da criança. Os bebês, desde que nascem, têm um desejo enorme de conhecer e explorar o mundo ao seu redor. Cada conquista representa uma alegria e uma nova descoberta. A troca de fraldas pode ser uma grande oportunidade de aprender a conhecer, explorar e nomear as partes de seu próprio corpo. A música pode ser um grande aliado. Eu vi, eu vi, eu vi um jacaré, será que ele queria pegar o meu pé? Eu vi, eu vi, eu vi uma formiga, será que ele queria pegar a minha barriga? Eu vi, eu vi, eu vi um leão, será que ele queria pegar a minha mão? Eu vi, eu vi, eu vi uma coelha, será que ele queria pegar a minha orelha? Eu vi, eu vi, eu vi um piolho, será que ele queria pegar o meu olho? Eu vi, eu vi, eu vi um camelo, será que ele queria pegar o meu cabelo? Eu vi, eu vi, eu vi uma perdiz será que ela queria pegar o meu nariz? (Cultura popular) É de fundamental importância compreender a trajetória histórica da creche no contexto brasileiro, essa compreensão nos possibilita entender muitas práticas que continuam arraigadas no nosso fazer pedagógico. Tentar romper com essa visão assistencialista e de “guarda” da criança pequena, permite-nos dar início a uma proposta mais integrada, em que o educar e o cuidar assumem um caráter de indissociabilidade. 18 O cuidar e educar são ações pedagógicas indissociáveis que precisam ser problematizadas no fazer pedagógico. Quando essas ações são entendidas de maneira integrada, possibilitam-nos promover uma visão acerca do desenvolvimento infantil, que respeita as especificidades de cada bebê e de cada criança. Mesmo que o cuidar seja parte integrante da educação, exige conhecimentos, habilidades, sensibilidade e escuta do profissional que trabalha com a primeira infância. Conclusão da aula 1 Nessa primeira aula foi estudado sobre os bebês na Educação Infantil, fazendo uma breve retrospectiva histórica sobre o conceito de infância. Em seguida, foi abordado o surgimento das primeiras creches no Brasil, favorecendo a compreensão acerca das questões educacionais atuais. Encerramos com uma reflexão sobre a indissociabilidade entre o educar e o cuidar na Educação Infantil, principalmente, com os bebês e as crianças bem pequenas. Detemo-nos um tempo maior analisando quais são os procedimentos utilizados na troca de fraldas dos bebês e das crianças pequenas em espaços coletivos de educação. Na análise dessa trajetória, procuramos inserir a discussão sobre o lugar que ocupam os bebês e as crianças pequenas em nossa sociedade contemporânea. Atividade de Aprendizagem Caro estudante, comente sobre como deve ocorrer a troca de fralda, no contexto da creche, possibilitando que o bebê e a criança pequena sejam respeitados nas suas intimidades e participem desse cuidado. Como você faria para aproveitar e valorizar os momentos de cuidados individualizados para uma interação com cada criança em particular, sem desconsiderar as necessidades das outras crianças do grupo? 19 Aula 2 – De que bebê estamos falando? Apresentação da aula 2 Prezado estudante. Bem-vindo à nossa segunda aula, na qual damos seguimento ao estudo sobre os bebês na Educação Infantil. Iniciaremos refletindo sobre quem é o bebê. Nossa análise se fundamentará na perspectiva da neurociência, como uma maneira de entender o comportamento e as aprendizagens, inclusive a saúde física do bebê, baseada no funcionamento do sistema nervoso. De acordo com os estudos realizados pelos neurocientistas, o afeto, os cuidados qualificados e as experiências que o bebê e a criança pequena vivenciam na primeira infância influenciam não somente no funcionamento, mas na própria arquitetura do cérebro, o que pode contribuir para sua maior eficiência. O mesmo ocorre do lado negativo: em que a falta de estímulos, estímulos prejudiciais ou estímulos inadequados trarão efeitos negativos para a arquitetura, a estrutura e o funcionamento cerebral. Encerraremos nossa segunda aula discutindo alguns conceitos importantes sobre a inserção da criança pequena na instituição da Educação Infantil. 2.1 De que bebê estamos falando? De que bebê estamos falando? Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSaevm5bM2cDiHJ9V 8SbjdkskwbwjBd9DCwIWvbkp9BMgvLzafbl-WnC_KEcjfWJgpKxgs&usqp=CAU 20 “A infância revela o homem, como a manhã revela o dia” (Paraíso Reconquistado - John Milton) Nessa aula, abordaremos de forma muito resumida, alguns conceitos da neurociência para explicarmos o desenvolvimento do bebê. Você sabe o que significa neurociência? Se não, você provavelmente já escutou esta palavra, correto? A neurociência é um campo do conhecimento que tem como objetivo entender o funcionamento do sistema nervoso, tanto em nível funcional quanto estrutural essa disciplina tenta saber como o cérebro se organiza (LENT, 2002). Os conhecimentos referentes ao funcionamento do sistema nervoso são bastante recentes. Durante séculos, uma das visões mais populares sobre como funcionaria a mente dos bebês afirmava que a mente poderia ser descritacomo uma “tábula rasa”, em outras palavras, uma folha de papel em branco. Segundo essa teoria, o bebê poderia ser moldado de acordo com os desejos dos adultos. Faz pouco, que o conceito de tábula rasa foi questionado, surgindo outras formas de entender o desenvolvimento humano. As últimas décadas de pesquisa indicam que, muito provavelmente, essa visão é equivocada ou, pelo menos, precisa ser questionada. As principais pesquisas sobre o desenvolvimento infantil sob a ótica da neurociência surgiram no fim da década de 1990. Deram um passo fenomenal, recentemente, com a evolução dos exames de imagem, que permitiram entender melhor o que se passa no cérebro de crianças muito pequenas. Até bem recentemente, não era acessível e generalizado o conhecimento da enorme atividade e complexidade do cérebro do bebê e de que as conexões neuronais aumentavam intensamente durante esse período. De acordo com o Dr. Cláudio Guimarães dos Santos, neurocientista da Universidade Federal de São Paulo, os neurônios são células características do sistema nervoso central que possuem a capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio organismo, ou seja, essas conexões neuronais são realizadas por predeterminação genética, mas também como resultado das experiências vividas pelo bebê, são responsáveis por tudo o que somos, por nossa personalidade, modo de agir e pela forma que nosso corpo vai adquirindo no transcorrer da vida. https://drauziovarella.com.br/corpo-humano/neuronios/ 21 Conexões neuronais Fonte: https://br.123rf.com/profile_ktsdesign Nesse sentido, destacamos que o cérebro do bebê é esculpido pelas experiências dele e do ambiente em que ele vive. Isso significa que o cérebro é construído no decorrer de nossas vidas e, a partir, das experiências que vivenciamos. Assim, como uma casa necessita de uma fundação forte para manter as paredes e o teto, um cérebro precisa de uma boa base que dê suporte a todo o desenvolvimento futuro. Como que o bebê constrói uma base cerebral sólida? O que significa isso? De acordo com os especialistas, a experiência vivida pelas crianças durante os primeiros anos de vida tem um impacto duradouro na arquitetura do cérebro em desenvolvimento. Segundo os neurocientistas, é por meio das relações positivas entre o bebê e os seus cuidadores, entendidos aqui como os pais, professores e outros adultos significativos, que se constrói a base para futuras aprendizagens. As primeiras experiências criam uma fundação para aprender tudo na vida: comportamento, saúde física e mental, fornecendo o andaime para os circuitos e habilidades mais avançadas ao longo do tempo. De acordo com a neurocientista Natalia Cuminale, da Universidade de Cambridge (EUA), o bebê ao nascer tem somente 15% de suas conexões neuronais desenvolvidas, durante os três primeiros anos desenvolverão em torno de 80%. Essas conexões são criadas com uma velocidade surpreendente nos primeiros três anos de vida, como você pode observar no desenho representado abaixo. 22 (At Birth - recém-nascidos / 6 years Old – 6 anos de idade / 14 years old - anos de idade) Fonte: From Rethinking the Brain: New Insights into Early Development by Rima Shore (NY: Families and Work Institute, 1997). Será que os bebês conseguem construir uma base cerebral sólida quando vivem em espaços coletivos de Educação Infantil? As pesquisas, conduzidas em sua maioria nos Estados Unidos, mas também em alguns países europeus, sobre os efeitos da creche, não mostram diferenças significativas entre crianças educadas em família e crianças provenientes da creche, nem em sentido positivo, nem em sentido negativo (BRONFENBRENNER, 1986a). A maneira de organizar e compreender uma proposta educativa que atenda às necessidades de cuidado, estímulo e afeto varia de acordo com os recursos, a concepção pedagógica, a formação dos profissionais que atuam na Educação Infantil, entre outros aspectos. No entanto, é possível fazer algumas generalizações, assinalando alguns princípios que podem favorecer a construção de uma base cerebral sólida nos bebês e nas crianças pequenas que frequentam espaços coletivos de Educação Infantil. A seguir serão elencados alguns aspectos considerados fundamentais: 23 a) Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma ativa; b) Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse, paciência e aceitação pelo bebê; c) Preparação de um ambiente seguro e instigante; d) Construção de espaços e tempos para o bebê brincar em liberdade: brinquedos não estruturados. A seguir, serão descritos com maiores detalhes os princípios que podem favorecer a construção de uma base cerebral sólida nos bebês e nas crianças que frequentam espaços coletivos de Educação Infantil. Lembrando que esses princípios foram selecionados em detrimento de muitos outros que poderiam aqui ser citados. a) Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma ativa; O bebê conhece o mundo por meio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por intermédio das experiências sensoriais que chegam ao sistema nervoso central na forma de estímulos sensoriais provenientes dos cinco órgãos dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo pelos seus órgãos sensoriais, maior será o número de experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento tanto no aspecto motor quanto no intelectual, emocional e comportamental. No entanto, a exploração do bebê é muito mais efetiva quando o professor faz a mediação entre ele e o mundo ao seu redor. É fundamental o professor manter uma relação próxima de afeto e carinho com o bebê para poder reconhecer e atender suas necessidades de interação. Veja o exemplo a seguir: imaginemos uma partida de tênis, em que um jogador atira a bola para o companheiro do outro lado da rede. Esse jogador, se quiser continuar com a partida, necessita esperar que o seu companheiro lhe devolva a bola, ou seja, 24 para que os dois jogadores mantenham a partida de tênis, devem estar totalmente focados, atentos e, acima de tudo, sincronizados, caso contrário não vão conseguir mantê-la. Imaginemos uma situação corriqueira que poderia ser de grande interação entre o professor e o bebê dentro do espaço da Educação Infantil. O bebê sorri e balbucia mostrando o pé. O professor nomeia aquilo que percebe que ele está tentando comunicar. – Você quer que eu lhe coloque as meias? – Entendi, você gosta que eu toque os seus pés, verdade? O bebê dá sinais corporais de que está gostando do toque e oferece o outro pé. – Hum, você quer que eu coloque a meia no outro pé também. O professor continua a interação fazendo referência às ações que está realizando. – Veja, Arthur, sua meia é vermelha e vai aquecer os seus pés, deixá-los quentinhos, pude perceber que estão gelados. O professor também pode introduzir novos conceitos nomeando o que está em volta do bebê. – Olha, dentro do armário tem outras peças de roupa do Arthur: casacos, calças, moletons, gorros e luvas. Essas interações são fundamentais e contribuem para as aprendizagens e o desenvolvimento dos bebês. No entanto, essas pequenas interações nem sempre acontecem, porque o professor alega que não tem tempo, tem outras coisas mais importantes para fazer. A falta de conhecimento da importância dessas interações positivas e responsivas faz com que elas deixem de acontecer. Não adianta o professor ser afetuoso se, quando o bebê inicia uma interação esperando uma reação, ele não interage. b) Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse, paciência e aceitação pelo bebê; Quanto menor a criança, mais estabilidadeela necessita e precisa de adultos que sejam referência emocional para ela. Quando nos referimos à 25 referência emocional, não queremos dizer que é necessário beijar e abraçar a criança a todo o momento. A relação é de respeito profundo e não de excesso de intimidade. Uma relação em que o adulto reconhece as múltiplas formas de comunicação da criança pequena. Muitos profissionais apontam que a maior dificuldade em trabalhar com os bebês, refere-se exatamente à dificuldade de organizar uma rotina que respeite e atenda essas necessidades individuais dentro um espaço coletivo. Uma das possíveis estratégias de que o profissional poderia valer-se para individualizar o trabalho, dentro de um espaço coletivo, seria organizar os bebês e crianças em pequenos grupos, mantendo um educador como referência de cada grupo. Suponhamos que trabalhem três profissionais para atender dezoito bebês, cada professor poderia ser a referência de um grupo de seis bebês. Fazer com que sempre a mesma profissional tome conta da criança nos momentos da troca, da refeição e do sono, momentos tão importantes para consolidar um relacionamento mais íntimo e significativo. Essa poderia ser uma forma de organização que possibilitaria uma interação mais próxima e individualizada. Como o bebê comunica que tem uma necessidade? De diversas maneiras, por exemplo, por meio da apatia, de erguer os braços em direção ao educador, passividade, resistência à alimentação ou ao sono, mordidas, comportamentos regressivos e a linguagem mais comum, que é o choro. O bebê foi programado geneticamente para chorar em situações de dor, fome, sono ou qualquer desconforto físico ou emocional. Nesse sentido, o choro deve incomodar o adulto, porque traduz uma necessidade não satisfeita. O choro existe como um mecanismo adaptativo, sem ele nossa espécie não teria sobrevivido. O mais importante, nesse sentido, é compreendermos que o choro é uma linguagem importante de comunicação. O bebê, por meio dessa linguagem, comunica que algo está acontecendo com ele, pode ser fome, frio, medo, aborrecimento, excesso de estímulo, cansaço, dor, entre outros. Jamais devemos entender o choro como algo pessoal. O bebê não chora para nos aborrecer, ele tenta comunicar algo, pois essa é a linguagem que ele tem disponível no seu repertório para se relacionar com o mundo. Quanto menor a criança, mais estabilidade ela necessita, ela precisa de adultos que sejam referência emocional para ela. Quando nos referimos a uma 26 relação calorosa, entendemos uma relação em que a criança aceite ser cuidada nos momentos de intimidade física e consolada nos momentos em que comunica mal-estar; mesmo não tendo com esse alguém o relacionamento exclusivo que caracteriza o relacionamento com a mãe. O professor da Educação Infantil tem uma relação calorosa e afetiva com o bebê, mas não ocupa o lugar da mãe, porque os saberes desse profissional são outros. Mesmo que a ação pedagógica com os bebês e com as crianças bem pequenas venha a exigir uma docência basicamente fundamentada na relação e na interação humana, o lugar que ocupa o profissional da Educação Infantil é diferente do papel que desempenha a família. Sobre esse tema discutiremos na aula seguinte. c) Preparação de um ambiente seguro e instigante; O bebê precisa de um ambiente aconchegante, confortável e que possibilite o movimento livre, criando condições ideais para oportunizar trocas, que favoreçam a comunicação entre eles. Diferentes estudiosos do desenvolvimento infantil afirmam que o bebê necessita de espaços relaxados, organizados de forma simples, aconchegantes, e o contato com adultos afetivos e responsivos. Um ambiente planejado para acolher e satisfazer as suas necessidades, tanto no que se refere às necessidades básicas (sono, fome e frio) quanto afetivas (colo, contato visual e toque). Outro aspecto a salientar é a aquisição de materiais adequados à faixa etária, privilegiando tecidos caixas, elementos naturais, potinhos de encaixar e empilhar, objetos sonoros dispostos ao alcance dos bebês e das crianças. A instituição de Educação Infantil não precisa se preocupar em comprar brinquedos caros, modernos, tecnológicos e que estão na moda, tampouco, brinquedos que acendam luzes, façam ruídos estrondosos e que se movam sozinhos. Esses objetos foram produzidos por uma compreensão equivocada e consumista das necessidades dos bebês e das crianças pequenas, baseada na concepção de que o bebê necessita ser estimulado constantemente. d) Confiança na capacidade do bebê se desenvolver. 27 Aldo Fortunati traduz em forma de poesia esta ideia do bebê e da criança pequena como protagonista. Em muitas situações, o sentimento de competência da criança é limitado pelo adulto. Sob o pretexto de ajudá-la ou estimulá-la, ele priva a criança de finalizar a ação que ela começou. Cabe ao profissional da Educação Infantil estabelecer uma rotina de educação e cuidados que respeite o ritmo individual do bebê e da criança, ao mesmo tempo em que lhe dá segurança afetiva. Por uma ideia de criança rica, na encruzilhada do possível, que está presente e que transforma o presente em futuro. Por uma ideia de criança ativa, guiada, na experiência, por uma extraordinária espécie de curiosidade que se veste de desejo e de prazer. Por uma ideia de criança forte, que rejeita que sua identidade seja confundida com a do adulto, mas que a oferece a ele nas brincadeiras de cooperação. Por uma ideia de criança sociável, capaz de se encontrar e se confrontar com outras crianças para construir novos pontos de vista e conhecimentos. Por uma ideia de criança competente, artesã da própria experiência e do próprio saber perto e com o adulto. Por uma ideia de criança curiosa, que aprende a conhecer e a entender não porque renuncie, mas porque nunca deixa de se abrir ao senso do espanto e da maravilha. (Aldo Fortunati, 2009) 28 2.2 Inserção do bebê na Educação Infantil Inserção do bebê na Educação Infantil Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQDr6gwQdzEuonzpJ VwEcxRifWufeMWTQ_wFkbYSPyoJ7w-gnkmr1GZKRCeIyVZZe3pnNc&usqp=CAU Uma boa inserção pode ser uma experiência agradável e significativa para o bebê, a criança, sua família e para os professores e professoras. O momento da entrada do bebê no âmbito institucional comumente é conhecido pelo termo adaptação. Nós optamos por utilizar o termo inserção porque “a palavra inserção traz para o processo de entrada na instituição a ideia de que o bebê também age na situação vivida e transforma o entorno à medida que é transformado” (REIS, 2013, p. 02). Nesse sentido, o bebê se insere em um novo contexto de forma ativa, transformando e sendo transformado por ele. Cabe ressaltar que a entrada de cada nova criança à instituição produz intensas mudanças, que podem gerar conflitos e tensões momentâneas. Nessa lógica, o processo de inserção traz consigo muitos desafios e precisa ser entendido como um momento delicado. A inserção é um momento delicado para quem? Para o bebê que em muitas situações é a primeira vez que se separa da mãe, pai, irmãos, avós, tias ou de quem está exercendo a função materna. Para a família, que também em muitas situações é a primeira vez que deixa o bebê aos cuidados de alguém que não pertence ao âmbito familiar. E para o professor, que está cheio de dúvidas e ansiedade sobre quem será essa família e como será essa criança? Será que 29 vou conseguir criar vínculos? Como vou organizar minha jornada para atender as necessidades individuais do bebê dentro do contexto coletivo? A inserção é um momento delicado para a tríade mãe, bebê e professor. Cada um deles precisa tempo e apoio para conseguir criar vínculos afetivos e estabeleceruma relação de confiança e respeito entre si. O objetivo maior da instituição deve ser o de criar condições para que essa tríade mãe/bebê/professor trabalhe de forma conjunta, apoiando-se mutuamente. Exemplo de uma proposta metodológica de inserção da criança na creche, descrita por Nádia Bulgarelli e Laura Restuccia Saitta (1981), no livro Comunicazione Interpersonale e Inserimento del Bambino all’Asilo Nido, ainda não traduzido para o português, mas que significa Comunicação Interpessoal e Inserção da Criança à Creche. a) Manter a rotina que a criança pequena tem em casa. Manter os rituais para dormir e comer; b) Deixar a criança permanecer com os objetos transicionais ou objetos de apego, jamais retirar da criança sem a sua autorização. Algumas crianças usam objetos, tais como paninhos, chupetas, brinquedos, e ficam apegadas a elas; c) Valorizar a identidade da criança e escolher junto com ela seu cabideiro, colocando seu nome e garantindo que aquele lugar ficará disponível para ela todos os dias para que possa guardar suas coisas; d) Não ficar ansioso para que a criança ajuste sua rotina a do grupo muito rapidamente; e) Conversar com a criança sobre seus sentimentos, contar o que vai acontecer com ela e ajudar a criança a expressar seus sentimentos. f) A inserção da criança deve ser feita progressivamente, duas crianças por subgrupo, por semana; g) Normalmente uma semana é necessária para que algum familiar permaneça junto à criança na creche, sendo seu tempo de permanência gradualmente reduzido; h) A professora deve procurar manter uma rotina estável sem muitas variações para que a criança vá dominando cada vez mais a rotina. 30 Estas são algumas orientações descritas por Nádia Bulgarelli e Laura Restuccia Saitta (1981), que podem ser muito úteis para garantirmos uma inserção segura e com menor impacto negativo possível ao bebê. Lembrando, que a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) apregoa que o papel da Educação Infantil é complementar à ação da família. Realizar um trabalho complementar à educação dada pela família, é compreender primeiramente qual é a educação familiar. O professor jamais deve se opor ou disputar o lugar que a família ocupa na vida do bebê e da criança pequena, para isso é fundamental considerar e respeitar as diferentes culturas familiares. Conclusão da aula 2 Nessa segunda aula foi dado seguimento ao estudo sobre os bebês na Educação Infantil. Iniciamos refletindo sobre quem é o bebê. Nossa análise se fundamentou na perspectiva da neurociência, como uma maneira de entender o comportamento e as aprendizagens, inclusive a saúde física do bebê, baseada no funcionamento do sistema nervoso. De acordo com os estudos realizados pelos neurocientistas, o afeto, os cuidados qualificados e as experiências que o bebê e a criança pequena vivenciam na primeira infância influenciam não somente no funcionamento, mas na própria arquitetura do cérebro, o que pode contribuir para sua maior eficiência. O mesmo ocorre do lado negativo: em que a falta de estímulos, estímulos prejudiciais ou inadequados trarão efeitos negativos para a arquitetura, a estrutura e o funcionamento cerebral. Sendo assim, encerraremos nossa segunda aula discutindo alguns conceitos importantes sobre a inserção da criança pequena na instituição da Educação Infantil. Atividade de Aprendizagem Caro estudante, as pesquisas na área da neurociência nos mostram como as interações e o afeto são fundamentais, o que você entendeu sobre este tema? A partir do que foi estudado, qual é a sua opinião sobre a entrada de bebês cada vez mais novos na Educação Infantil? Justifique sua resposta. 31 Aula 3 – Brincar do bebê Apresentação da aula 3 Prezado estudante, bem-vindo à nossa terceira aula. Iniciaremos refletindo sobre o brincar enquanto direito da criança. Você sabia que o brincar está previsto e garantido na legislação brasileira? O brincar é um elemento indispensável para a criança, inclusive, alguns autores indicam que o brincar é o trabalho da criança, enquanto outros sugerem que é por meio do brincar que a criança se apropria da cultura em que está inserida, adaptando-se a ela ao mesmo tempo em que a transforma. E o bebê? Será que ele brinca? Diferentes pesquisadores sugerem que o conhecimento do bebê é construído por meio das suas experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais experiências lúdicas e criativas, que envolvam a exploração com autonomia, maior serão suas aprendizagens e mais acentuado será o seu desenvolvimento. Portanto, nas instituições de Educação Infantil, criar e garantir espaços seguros e desafiadores é fundamental para o desenvolvimento integral do bebê. 3.1 O brincar como direito infantil e fenômeno cultural Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que esses ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente [...] Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente. Recusam-se a mudar [...] A sua presunção e o seu medo são dura casca de milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo. Quanto as pipocas que estouram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira (RUBENS ALVES, 2008, p. 21). Embora o brincar esteja presente desde o início da trajetória de vida da criança, em nossa sociedade a ideia do brincar ainda está associada àquilo que carece de seriedade e utilidade, assumindo frequentemente o significado de oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar. 32 O brincar foi e ainda é considerado por algumas pessoas ou instituições como pura perda de tempo. O brincar Fonte: https://t4.ftcdn.net/jpg/02/15/01/49/240_F_215014919_XvOmrkQPrfHULLtUeJls 3bfM2oO4ussH.jpg Nem mesmo a vasta literatura produzida nas últimas décadas, afirmando a importância do brincar nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem, foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade de menor importância. Porém, se considerarmos que o brincar é a maneira pela qual as crianças organizam o seu tempo, ou seja, suas vidas, precisamos reconhecer que falamos de direitos humanos. Brincar é, antes de tudo, um direito da criança, direito esse garantido em lei. Você sabia que o brincar está previsto e garantido na legislação brasileira? A Constituição Federal em seu artigo 227º afirma que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade o direito à vida, à alimentação, à educação, ao lazer [...]” (BRASIL, 1998). Igualmente, o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) preconiza no seu art. 16º, parágrafo IV “o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: [...] brincar, praticar esporte e divertir-se”. Nossa Constituição garante diretos aos bebês e às crianças como sujeitos de direitos, e como tal, devem ser respeitadas em suas necessidades e especificidades. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) preconiza que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão organizar e 33 estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o exercício da criatividade em locais públicos e privados onde haja circulação de crianças. O brincar é entendido como um direito, no entanto, sabemos que principalmente nas Instituições de Educação Infantil ainda carece de legitimidade. De acordo com Assis, embora a brincadeiraseja muito valorizada pela criança, os professores a consideram como “um recurso de aprendizagem de conteúdos escolares ou simplesmente uma forma de ocupar o tempo livre” (ASSIS, 2010, p. 7). O primeiro aspecto a ser considerado para garantirmos o brincar enquanto direito da criança é o reconhecimento do seu tempo livre como legítimo, permitindo que as crianças, em diferentes espaços educativos e contextos sociais, sejam incentivadas a brincar. Nesse sentido, o brincar deve estar desvinculado de qualquer utilidade ou rendimento posterior. Brincar produz prazer, transporta a um tempo e a um lugar único, em que a criança pode dominar por ser sua criação. A brincadeira constitui o reino do possível, do aceitável e do modificável, por esta razão, existe uma finalidade em si mesma. A brincadeira para Leontiev (2001, p. 120) “é o caminho da tomada de consciência da atitude humana em face dos objetos, isto é, das ações humanas realizadas com eles”. Vygotsky (1994) compreende o brincar como uma atividade social da criança, cuja natureza e origem específica seriam elementos fundamentais para o desenvolvimento cultural, ou seja, o brincar como compreensão da realidade. Por meio do brincar a criança desenvolve a consciência do mundo que a rodeia, apropriando-se da sua cultura. Quando nos referimos ao brincar como apropriação da cultura, é importante entendermos o que significa. Para o sociólogo e pesquisador norte-americano Willian Corsaro (2009), as crianças são, ao mesmo tempo, produto e produtora de cultura, pois elas não apenas reproduzem ou imitam o mundo dos adultos, mas dele se apropriam criativamente, dando-lhe sentido. O brincar faz parte dessa intensa forma de produção infantil, que o autor denomina como culturas da infância. As culturas infantis são, portanto, “um conjunto estável de atividades ou rotinas, artefatos, valores e ideias que as crianças produzem e partilham em interação com seus pares” (CORSARO, 2009, p. 34). 34 As culturas infantis são as formas que as crianças constroem e se expressam em diferentes linguagens. Quando nos referimos a linguagens, entendemos como a maneira que usamos para comunicar-nos e expressar-nos, toda e qualquer forma de comunicação inventada pela humanidade, portanto uma construção social. Nesse sentido, entendemos a linguagem de uma forma ampla, que vai além da linguagem verbal, envolvendo todas as formas de comunicação humana, tais como: a pintura, o desenho, a poesia, a fotografia, as brincadeiras, as danças, as expressões corporais ou as gestuais, entre outras. A linguagem da criança para com o mundo é o brincar. Jogos e brincadeiras de todos os tempos são passados de geração a geração pelos adultos e crianças, no entanto, a criança não é um agente passivo, ela é a protagonista dessa ação. Ela transforma os jogos e brincadeiras produzindo coisas novas e criando uma cultura lúdica. Importante Atenção: Cândido Portinari foi um artista que dedicou sua vida ao registro da cultura de seu povo e de seu país. Nasceu em Brodowski, cidade do interior paulista, em 1903. Na Fazenda Santa Rosa, onde morava, observava os colonos trabalhando na roça e, assim, pintava coisas e pessoas do interior, exaltando a gente que produz e trabalha pelo país. Portinari adorava pintar crianças brincando e dizia: “sabem por que eu pinto tanto meninos em gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos”. Portinari pintava crianças brincando em árvores, participando de jogos de futebol e de festas de São João. Todas essas imagens trazem a lembrança da vida rural do artista. Espantalhos, pipas, luas e estrelas são elementos recorrentes que refletem o apego à cultura rural e à paisagem do interior (PROJETO PARALAPRACÁ DO INSTITUTO C&A, P.12). O brincar é próprio da criança, ela nasce com desejo de brincar, com uma potência para brincar, mas também é uma coisa que se aprende. Se não ensinarmos algumas formas de brincar que aprendemos, as crianças nunca conhecerão essas brincadeiras, jogos e canções. A criança aprende a brincar pelas interações sociais e, por isso, suas brincadeiras estão impregnadas de valores, hábitos, formas e conhecimentos do seu grupo social. O papel do professor, nesse sentido, é o de ampliar esse repertório da criança, criando espaços, tempos e materiais que possibilitem as interações e o brincar livre. 35 Será que as crianças estão brincando na Educação Infantil? Como podemos possibilitar o brincar? No caderno de experiências do “Projeto Paralapracá: uma experiência assim se brinca”, do instituto C&A, os autores propõem alguns indicadores que nos possibilitam analisar como o brincar está sendo organizado nas instituições de Educação Infantil: a) Os brinquedos estão disponíveis às crianças em todos os momentos; b) Os brinquedos são guardados em locais de livre acesso às crianças; c) Os brinquedos são cuidados pelas crianças; d) Os brinquedos são reciclados pelas crianças e educadores; e) As rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as brincadeiras livres das crianças; f) As famílias recebem orientação sobre a importância das brincadeiras para o desenvolvimento infantil; g) As salas onde as crianças ficam estão arrumadas de forma a facilitar brincadeiras espontâneas e interativas; h) Os adultos também propõem brincadeiras às crianças; i) Os espaços externos permitem as brincadeiras das crianças; j) As meninas também participam de jogos que desenvolvem os movimentos amplos: correr, jogar e pular; k) Demonstramos o valor que damos às brincadeiras infantis participando delas sempre que as crianças pedem. 36 3.2. E, o bebê brinca? E, o bebê brinca? Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT0n0iKaQyTavI9pQfU av3uGFCGdcZnjsbq8ZeqqV8zgqB7UPiWGIrjU4f8B7D7S5XRpx8&usqp=CAU Curiosidade Faz doce, sinhá! Faz doce, sinhá Maria! Quem quiser aprender a dançar. Vá na casa do seu Juquinha! Quem quiser aprender a dançar. Vá na casa do seu Juquinha! Ele pula, ele roda. Ele faz requebradinha. (Da abóbora faz melão, cantiga popular). De acordo com Piaget (1974), os bebês precisam desenvolver a capacidade de reconhecer a existência de um mundo externo a eles. O autor sugere que quando a criança nasce ela não tem muita noção de estar no mundo, de que é apenas um objeto nesse mundo, portanto, confunde-se com o próprio mundo. O bebê está fortemente vinculado à sua mãe, ele não se concebe separado, precisa desenvolver a concepção de que o mundo se constitui de objetos independentes. Mas como o bebê constrói essa noção de separação? Um dos aspectos essenciais para que o bebê construa a sua percepção de mundo, é ter a autonomia de explorar esse mundo. Para os bebês, o brincar está intrinsicamente relacionado a explorar o mundo. O bebê conhece o mundo por intermédio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por meio das experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo, maior será o 37 número de experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento tanto no aspecto motor quanto no aspecto intelectual, emocional e comportamental. Esta força de exploração do bebê e da criança está ligada à vitalidade da vida, com a potência da criança e com o desejo que ela tem de conhecer o mundo e interagir com ele, dando-lhe sentido. Mas, o que significa ter autonomia? Segundo a Abordagem Pikler, é importante que o bebê se sinta seguro para experimentar livremente seus movimentos e os objetos para brincar. Isso significa, como já vimos na aula anterior, que é fundamental o vínculo afetivo entre o bebê e o professor. Criar e manter uma relação calorosa e responsiva que demonstre interesse, paciência e aceitação pelo bebê. Esse aspecto é fundamental para possibilitarque o bebê se sinta seguro em explorar a sala e os brinquedos ao redor. Se o bebê se sentir seguro e confiante, ele participará de forma ativa, explorando com todos os sentidos o ambiente ao seu redor. A preparação de um ambiente seguro e instigante também é fundamental para o brincar livre e significativo, brincar a partir de sua própria iniciativa, movimentando-se com liberdade, em um ambiente organizado e seguro, com brinquedos adequados é o que possibilita a construção da autonomia pelo bebê. Qual é o papel do professor nesse brincar livre? O papel do professor é fundamental, sem ele, o brincar livre seria impossível. O professor faz a mediação, apresentando o mundo ao bebê. Muitos professores não sabem o que fazer enquanto as crianças brincam, refugiando-se na realização de outras atividades, ditas produtivas. O professor que acredita na importância do brincar observa os bebês brincando e faz desta uma ocasião para reelaborar suas hipóteses e definir novas propostas de trabalho. É o professor aquele que organiza o tempo, o espaço e os materiais, possibilitando que o bebê possa explorar o mundo com independência e encantamento, que respeita o seu ritmo e que não interfere desnecessariamente. Sabemos que o trabalho com os bebês e as crianças muito pequenas dentro das instituições de Educação Infantil constitui-se em um desafio para muitos professores. Como já mencionamos anteriormente, o bebê conhece o mundo por meio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por intermeio das experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Se, por um lado o professor compreende que o bebê precisa explorar e experimentar e assim conhecer o 38 mundo, por outro lado, muitas vezes não sabe como organizar ações que possibilitem a exploração e a experimentação de maneira segura e desafiadora. Nesse sentido, descrevemos algumas ações que julgamos adequadas para o desenvolvimento integral do bebê, utilizando o brincar como linguagem. O cesto dos tesouros é uma proposta que tem como objetivo estimular a exploração sensorial do bebê. Esta atividade foi criada por Goldschmied e Jackson (2006), especialistas em cuidados e educação na primeira infância. O cesto dos tesouros Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQFplo3SSJDwA5Cpja bgDLsiqRiFCWZhj1E71zI8F2yFEvC-Ulph7WBSNNa0ATiwp_qwoc&usqp=CAU De acordo com os autores, o cesto dos tesouros, se for bem planejado, potencializa as aprendizagens por meio das descobertas que o bebê e a criança fazem por si próprias. As autoras sugerem que “o cesto de tesouros bem abastecido, oferecido por um adulto atento, pode proporcionar experiências que são interessantes e absorventes, capacitando o bebê a buscar uma aprendizagem vital para a qual ele está pronto e ansioso” (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006, p.115). O professor precisa selecionar objetos com diferentes cores, texturas, cheiros e sabores, a fim de montar o cesto de tesouros, organizando o espaço de forma que as crianças tenham livre acesso aos materiais que serão colocados no centro da sala de referência, permitindo que os bebês se aproximem livremente e escolham o objeto que quiserem para explorar. 39 O papel do professor será de observar e monitorar as crianças garantindo que todos possam participar, sem interferir nas escolhas. A exploração deverá ser permitida durante o tempo que o professor considerar que as crianças estiverem interessadas na proposta. Essa proposta pode ser ofertada aos bebês várias vezes, durante vários dias, até que o professor perceba que eles perderam o interesse pelos objetos do cesto. Quando não houver mais interesse pelos objetos, o professor pode substituí-los e voltar a propor o cesto. Os itens sugeridos para o cesto de tesouros são: objetos naturais: limão, maça, caroço de abacate. Objetos feitos de materiais naturais: tapetinho de ráfia, pincel de pintura. Objetos de madeira: apito de bambu, colher de pau. Objetos de metal: molho de chaves, sinos, caneca de metal. Objetos feitos de couro, têxteis, borracha e pele: bola de golfe, bola de tênis (GOLDSCHMIED, JACKSON, 2006, p. 114). Por meio dos brinquedos e brincadeiras, os bebês e as crianças também podem experienciar diferentes linguagens, como musicais, poéticas, literárias, entre outras. Essas experiências possibilitam à criança compreender a cultura na qual está inserida, adaptando-se criativamente, dando-lhe sentido. As experiências com as linguagens oral, corporal, musical, plástica, entre outras, também precisam ser planejadas e intencionalmente pensadas nas propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil. Outra proposta que é importante destacar é a música. A professora Marcia Gobbi (2010, p.12) sugere que “a canção é importante como brincadeira e como conhecimento cultural”. De acordo com a professora, nós apresentamos nossa cultura para o bebê que está chegando a esse mundo para que ele possa se apropriar desses valores e ideias criativamente, dando-lhe sentido ao mundo que o cerca. Para isso, o professor deve estar atento às oportunidades de brincadeiras que surgem por meio das letras das canções É fundamental planejar as brincadeiras musicais que serão realizadas com antecedência. A música A Dona Aranha subiu pela parede pode se tornar uma brincadeira divertida. “A dona aranha subiu pela parede. Veio a chuva forte e a derrubou. Já passou a chuva, o sol já vai surgindo e a dona aranha continua a subir. Ela é teimosa e desobediente. Sobe, sobe, sobe e nunca está contente”. 40 Outra canção que os bebês e as crianças pequenas gostam muito é a música Indiozinho, “1, 2, 3, indiozinhos, 4, 5, 6 indiozinhos, 7, 8, 9, indiozinhos 10 num pequeno bote. Iam navegando pelo rio abaixo”. É uma canção curta e simples, em que a letra sugere o movimento que deve ser feito com os dedos. Canções que brinquem de esconder e achar, estão entre as brincadeiras prediletas dos bebês. É importante utilizar canções com letra adequada e com temas do universo infantil e escolher canções curtas. Para auxiliar nas canções, alguns instrumentos podem ser desenvolvidos e recriados no cotidiano de creches, por exemplo, chocalhos feitos com diferentes potes e materiais que produzem variados tipos de sons. Outro aspecto muito importante na ampliação do repertório dos bebês e das crianças pequenas é a leitura e contação de histórias que pode criar momentos de vínculo e afeto, entre o professor e a criança, além de contribuir para o desenvolvimento da linguagem. A contação de histórias e a leitura podem ser dois grandes aliados do professor na criação de espaços lúdicos, criativos e prazerosos. A escolha de bons livros é fundamental, o fato de o bebê não entender totalmente o vocabulário, não significa que podemos ler e contar qualquer coisa a ele. Diferentes autores enfatizam a importância do trabalho com o texto literário e da experiência dos bebês com a literatura. Para Fanny Abramovich (2010, p. 14), ler histórias para os bebês e as crianças “[...] é poder sorrir, rir, gargalhar com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito de escrever de um autor e, então, pode ser um pouco cúmplice desse momento de humor, de brincadeira e de divertimento”. Finalizamos esse tema sobre o brincar, reafirmando, como muitos estudiosos do brincar, que a brincadeira faz parte da essência de ser criança, é intrínseca à infância, é cultural e é um direito. Brincar é a coisa mais importante que uma criança pode fazer, por isso ela estrutura seu tempo em torno dos jogos e brincadeiras. Muitos autores sugerem que as coisas importantes da vida, aprendemos enquanto bricávamos, inclusive, a maneira de nos comportar na sociedade, que também aprendemos brincando. Não podemos encerrar esse tema sem mencionar também que o bebêconhece o mundo por meio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por meio das experiências sensoriais, portanto, o bebê necessita de liberdade de 41 movimento, de espaços seguros e de espaços aconchegantes para desenvolver- se. Saiba mais Se você quiser saber mais sobre o brincar entre no site http://territoriodobrincar.com.br/ e lá você vai encontrar longa-metragem, biblioteca, brincadeiras, vídeos, entre outros. Entre no site, veja o material e procure identificar as relações do brincar como experiência cultural. Conclusão da aula 3 Nessa terceira aula iniciamos refletindo sobre o brincar enquanto direito da criança. O brincar é um elemento indispensável para a criança, inclusive, alguns autores indicam que o brincar é o trabalho da criança, enquanto outros sugerem que é por meio do brincar que a criança se apropria da cultura em que está inserida, adaptando-se a ela ao mesmo tempo em que a transforma. Vimos que diferentes pesquisadores sugerem que o conhecimento do bebê é construído por meio das suas experiências sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais experiências lúdicas e criativas, que envolvam a exploração com autonomia, maior serão suas aprendizagens e mais acentuado será o seu desenvolvimento. Portanto, nas instituições de Educação Infantil, estudamos que criar e garantir espaços seguros e desafiadores é fundamental para o desenvolvimento integral do bebê. Atividade de Aprendizagem Caro estudante, por que o brincar se constitui como um direito da criança? 42 Aula 4 - Organização da rotina Apresentação da aula 4 Prezado estudante. Bem-vindo à nossa quarta aula. Iniciaremos refletindo sobre o planejamento como uma forma de organizar o tempo, o espaço, os materiais e as relações. Será que o planejamento é importante para a organização da rotina ou é uma mera formalidade burocrática da escola? No decorrer desse conteúdo abordaremos os elementos constitutivos das rotinas, propostos por Maria Carmem Barbosa, tais como: a seleção e a proposição das atividades, a organização do ambiente, a seleção e a oferta de materiais e o uso dos tempos. No último tópico abordaremos a ação pedagógica com os bebês e com as crianças bem pequenas. 4.1 Planejamento Gostaria de iniciar nossas reflexões sobre o planejamento, contando uma história ou, melhor, um trecho do livro da Alice no País da Maravilhas. Para onde vai essa estrada? (Alice) - Para onde você quer ir? (Gato) - Não sei, estou perdida... (Alice) - Ora... para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve... (Gato) (CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas) ➢ O que significa planejar? Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências múltiplas e significativas para/com o grupo de crianças (OSTETTO, 2000, p. 177). Não podemos empreender uma viagem se não sabemos aonde queremos 43 ir, como a personagem Alice, do livro Alice no País da Maravilhas. Para o profissional que está perdido, qualquer caminho serve. Não podemos assentar nossa prática pedagógica em um espontaneísmo ingênuo, a criança precisa de liberdade para criar, imaginar, explorar e fantasiar, no entanto, essa liberdade somente é possível se garantirmos espaços, tempos e materiais previamente selecionados e organizados. A autonomia de movimento, a liberdade de exploração e a garantia do brincar jamais devem ser entendidos como uma prática espontaneísta. O planejamento pedagógico também é atitude crítica do educador diante de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, como tal, permite ao educador pensar, revisando e buscando novos significados para a sua prática docente (OSTETTO, 2000, p. 177). Um dos aspectos essenciais que refletem uma atitude crítica do professor é a compreensão de que o pedagógico perpassa todas as ações: limpar, lavar, trocar, alimentar e colocar para dormir. Tudo isso é pedagógico, não existe conteúdos melhores ou piores. Quando se planeja a jornada pelo qual o bebê e a criança pequena irão passar na creche, tudo o que for proposto, todas as mediações que serão realizadas e todas as ações que serão propostas são pedagógicas. Ainda hoje, muitos profissionais creem que questões pedagógicas dizem respeito a trabalhos específicos, como: pintar, colar, aprender os números, entre outros. O sono, a alimentação, a escovação de dentes, o trocar fraldas e o amarrar o tênis, tudo isso é conteúdo da Educação Infantil, portanto, necessitam fazer parte do planejamento. Segundo Vygotsky (1988), a criança se desenvolve no e com o mundo em uma relação dialética mediada pela atividade, pelos símbolos e pelas outras pessoas. De acordo com essa perspectiva, planejar é organizar o tempo, o espaço e os materiais, desafiando os bebês e as crianças a construir relações significativas entre elas e a cultura que estão inseridas. O papel do professor é fazer a mediação entre o legado cultural construído pela humanidade, desafiando a criança a novas descobertas, ao conhecimento e à transformação da sua cultura. Então, o que se planeja? Planeja-se a organização do espaço do tempo dos materiais e das relações. Planeja-se a rotina. Mas, o que é uma rotina? De acordo com o dicionário online de Português, rotina é uma sequência dos 44 procedimentos e dos costumes habituais. Em outras palavras, o modo como se realiza alguma coisa, sempre da mesma forma: rotina matinal, itinerário e caminho habitual. Se assumirmos somente essa definição de rotina, corremos o risco de compreendermos esse modo de ser e de organizar nossas vidas como algo inquestionável. Conforme Barbosa (2000), “uma das características das rotinas pedagógicas é o fato de elas conterem a ideia de repetição, de algo que resiste ao novo e que recua frente a ideia de transformar” (P.62). Assim sendo, a rotina tem um caráter de padronização, todos os dias as coisas acontecem da mesma forma e no mesmo horário. O perigo de uma rotina rígida e autoritária é que pode se distanciar das necessidades dos bebês e das crianças. Nosso desafio na Educação Infantil é o de problematizar essa rotina, se por um lado os costumes habituais, aquilo que se faz todos os dias, devem ser entendidos como parte da rotina, por outro lado, “as rotinas são produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a dia, tendo como objetivo a organização da cotidianidade” (BARBOSA, 2006). Se as rotinas são produtos culturais, cabe aos profissionais da educação questioná-las, modificá-las ou substituí-las se perceberem que no seu fazer cotidiano não funcionam mais. Kramer, que pesquisa a infância e dedica-se à formação de professores, vai além, sugere que as rotinas impostas às crianças devem ser sempre apresentadas para que elas compreendam os porquês de certas regras, aprendendo também a modificá-las ou criar novas (KRAMER, 1993). A rotina é importante e deve existir, porém deve ser discutida, elaborada e criada por todos os interlocutores envolvidos na sua execução. Nesse sentido, entendemos que a rotina é construída e reproduzida para organizar e controlar a vida cotidiana, nessa perspectiva, é possível refletir sobre novas maneiras de organizar o tempo, o espaço, os materiais e os grupos, e, ao mesmo tempo, pensar sobre a formas como são proporcionados os encontros entre as crianças. 4.2 Organização do tempo, espaço e materiais ➢ O ambiente 45 O ambiente Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRb4GDFybtpGxtpJfd4 N4mbU_R_KZ98sZ8a5m47rVHyPWaLROsOCbReL29R3O_kQ7qPvKs&usqp=CAU Ambientes intencionalmente preparados contribuem para o desenvolvimento e aprendizagens dos bebês. Os ambientes
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