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Livro - Bebês na Educação Infantil da invisib ao protag (1)

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Disciplina: Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo 
Autora: D.ra Yara Rodrigues de la Iglesia 
Revisão de Conteúdos: M.e Leandra Felícia Martins 
Designer Instrucional: Esp. Alexandre Kramer Morgenterm 
Revisão Ortográfica: Esp. Lucimara Ota Eshima 
Ano: 2018 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Copyright © - É expressamente proibida a reprodução do conteúdo deste material integral ou de suas 
páginas em qualquer meio de comunicação sem autorização escrita da equipe da Assessoria de 
Marketing da Faculdade UNINA. O não cumprimento destas solicitações poderá acarretar em cobrança 
de direitos autorais. 
 
 
 
2 
 
Yara Rodrigues de la Iglesia 
 
 
 
 
Bebês na Educação Infantil: da 
invisibilidade ao protagonismo 
1ª Edição 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2018 
Curitiba, PR 
Editora São Braz 
 
 
3 
 
Editora São Braz 
Rua Cláudio Chatagnier, 112 
Curitiba – Paraná – 82520-590 
Fone: (41) 3123-9000 
 
 
Coordenador Técnico Editorial 
Marcelo Alvino da Silva 
 
Conselho Editorial 
D.r Eduardo Soncini Miranda / D.ra Marli Pereira de Barros Dias / 
D.ra Rosi Terezinha Ferrarini Gevaerd / D.ra Wilma de Lara Bueno / 
D.ra Yara Rodrigues de la Iglesia 
 
Revisão de Conteúdos 
Leandra Felícia Martins 
 
Designer Instrucional 
Alexandre Kramer Morgenterm 
 
Revisão Ortográfica 
Lucimara Ota Eshima 
 
Desenvolvimento Iconográfico 
Juliana Emy Akiyoshi Eleutério 
 
Desenvolvimento da Capa 
Carolyne Eliz de Lima 
 
 
FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
LA IGLESIA, Yara Rodrigues de. 
Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade ao protagonismo / Yara 
Rodrigues de la Iglesia. – Curitiba: Editora São Braz, 2018. 
60 p. [versão adaptada 58] 
ISBN: 978-85-5475-278-1 
1. Creche. 2. Documentos. 3. Educação. 
Material didático da disciplina de Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade 
ao protagonismo – Faculdade UNINA, 2018. 
Natália Figueiredo Martins – CRB 9/1870 
 
 
4 
 
PALAVRA DA INSTITUIÇÃO 
 
Caro(a) aluno(a), 
Seja bem-vindo(a) à Faculdade UNINA! 
 
 Nossa faculdade está localizada em Curitiba, na Rua Cláudio Chatagnier, 
nº 112, no Bairro Bacacheri, criada e credenciada pela Portaria nº 299 de 27 de 
dezembro 2012, oferece cursos de Graduação, Pós-Graduação e Extensão 
Universitária. 
 A Faculdade assume o compromisso com seus alunos, professores e 
comunidade de estar sempre sintonizada no objetivo de participar do 
desenvolvimento do País e de formar não somente bons profissionais, mas 
também brasileiros conscientes de sua cidadania. 
 Nossos cursos são desenvolvidos por uma equipe multidisciplinar 
comprometida com a qualidade do conteúdo oferecido, assim como com as 
ferramentas de aprendizagem: interatividades pedagógicas, avaliações, plantão 
de dúvidas via telefone, atendimento via internet, emprego de redes sociais e 
grupos de estudos o que proporciona excelente integração entre professores e 
estudantes. 
 
 
 Bons estudos e conte sempre conosco! 
 Faculdade UNINA 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Sumário 
Prefácio ..................................................................................................... 06 
Aula 1 – A creche e seus significados ........................................................ 07 
Apresentação da aula 1 ............................................................................. 07 
 1.1 Breve trajetória histórica ................................................................ 07 
 1.2 Como surgiram as creches no Brasil? .......................................... 08 
 1.2.1 O que dizem os documentos oficiais? ........................................ 10 
 1. 3 A integração necessária entre o educar, cuidar e brincar .............. 12 
Conclusão da aula 1 .................................................................................. 18 
Aula 2 – De que bebê estamos falando? ................................................... 19 
Apresentação da aula 2 ............................................................................. 19 
 2.1 De que bebê estamos falando? .................................................... 19 
 2.2 Inserção do bebê na Educação Infantil .......................................... 28 
Conclusão da aula 2 .................................................................................. 30 
Aula 3 – Brincar do bebê ........................................................................... 31 
Apresentação da aula 3 ............................................................................. 31 
 3.1 O brincar como direito infantil e fenômeno cultural ........................ 31 
 3.2 E, o bebê brinca? .......................................................................... 36 
Conclusão da aula 3 .................................................................................. 41 
Aula 4 – Organização da rotina .................................................................. 42 
Apresentação da aula 4 ............................................................................. 42 
 4.1 Planejamento ................................................................................ 42 
 4.2 Organização do tempo, espaço e materiais ................................... 44 
 4.3 O papel do professor .................................................................... 51 
Conclusão da aula 4 .................................................................................. 54 
Índice Remissivo ........................................................................................ 56 
Referências ............................................................................................... 57 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
 
Prefácio 
 
Olá, estudante, seja bem-vindo, seja bem-vinda! 
Estamos dando início à disciplina Bebês na Educação Infantil: da invisibilidade 
ao protagonismo. Nosso objetivo é fazer algumas reflexões sobre a educação e 
o cuidado dos bebês e das crianças bem pequenas em contextos coletivos de 
Educação Infantil. Para que possamos aprofundar esses conceitos, em nossas 
aulas buscaremos estabelecer uma conexão para além do virtual, para que isso 
ocorra, é fundamental que você se comprometa com as atividades propostas em 
cada etapa de nossa disciplina. Estamos seguros de que essa disciplina auxiliará 
no seu percurso formativo. É com essa certeza que desejamos uma excelente 
leitura. Lembre-se de que em Educação a Distância o educando é o sujeito de 
sua própria aprendizagem. 
Para facilitar a ampliação dos seus conhecimentos, não deixe de explorar 
as outras ferramentas do curso, como as videoaulas e o Ambiente Virtual de 
Aprendizagem (AVA). 
Bons estudos! 
 
Professora Dra. Yara Rodrigues de la Iglesia 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
7 
 
Aula 1 – A creche e seus significados 
 
Apresentação da aula 1 
 
Prezado estudante, seja bem-vindo à nossa primeira aula. Iniciamos 
nosso estudo sobre os bebês na Educação Infantil, fazendo uma breve 
retrospectiva histórica sobre o conceito de infância. Em seguida, abordaremos o 
surgimento das primeiras creches no Brasil, que favorecerá a compreensão 
acerca das questões educacionais atuais. Encerraremos com uma reflexão 
sobre a indissociabilidade entre o educar e cuidar na educação infantil, 
principalmente, com os bebês e as crianças bem pequenas. Deteremo-nos um 
tempo maior, analisando quais são os procedimentos utilizados na troca de 
fraldas dos bebês e das crianças pequenas, em espaços coletivos de educação. 
Na análise dessa trajetória, procuraremos inserir a discussão sobre o lugar que 
ocupam os bebês e as crianças pequenas em nossa sociedade contemporânea. 
 
1.1 Breve trajetória histórica 
 
Em um livro de 1960, traduzido no Brasil como História Social da Criança e 
da Família, o autor PhillipAriès sugere que antes do século XVII a infância não 
era um conceito reconhecido. Foi só em algum momento entre o século XVII e 
XX que o termo criança começou a ter seu significado atual. De acordo com o 
autor, na sociedade medieval, com a idade de 7 anos as crianças agiam e eram 
tratadas como pequenas versões dos adultos à sua volta. 
Sendo assim, o conceito de criança como uma fase distinta é relativamente 
novo, tendo surgido por volta do século XVII, juntamente com a redução da 
mortalidade infantil, com as mudanças no sistema educacional e na família. 
Durante a maior parte da história humana, era comum que grande parte das 
crianças não sobrevivesse até a idade adulta, 7 em cada 10 crianças não viviam 
após os 3 anos de idade. Esta alta taxa de mortalidade foi uma das razões pelas 
quais as crianças foram tratadas com certa indiferença emocional. Quando as 
taxas de sobrevivência aumentaram, os pais começaram a tratar as crianças 
com mais carinho e envolvimento emocional (ARIÈS, 1978). 
 
 
8 
 
De acordo com Ariès (1981), a relação criança e infância foi se 
transformando a partir da difusão de novos pensamentos e condutas da Igreja 
Católica. Estas novas condutas fizeram com que surgissem novos modelos 
familiares que ressaltavam a importância do laço de sangue e no século XVIII a 
Igreja Católica passou a acusar quem matasse crianças de praticar bruxaria. 
 
 
Século XVIII 
Fonte: https://br.123rf.com/profile_arcady31 
 
No final do século XIX, a vida de muitas crianças ainda era dominada pela 
pobreza e pela doença. No entanto, a ideia de criança como um sujeito que 
necessitava de cuidados específicos já havia sido aceita por parte da população, 
abrindo caminho para futuras políticas implantadas no decorrer do século XX. 
Durante este século, cada vez mais as crianças eram vistas como uma 
responsabilidade do Estado. Esta mudança no paradigma do século XX foi 
refletida em alguns dos marcos legais no campo dos direitos. 
 
1.2 Como surgiram as creches no Brasil? 
 
Todos os documentos estudados são unânimes em afirmar que a creche 
foi criada nos países industrializados com o objetivo de atender as crianças 
pequenas para que suas mães pudessem trabalhar. 
Segundo Kishimoto (1988, p.23), “diferenciando-se de países 
industrializados, o Brasil dá início à organização das primeiras creches no 
 
 
9 
 
começo do século XX, com uma clientela composta basicamente de filhos de 
indigentes e órfãos”. A implantação das instituições voltadas ao atendimento da 
infância no Brasil, sobretudo das creches, sempre esteve associada à ideia de 
pobreza, culpa, favor e caridade. 
Para entendermos esse fenômeno educativo é importante 
compreendermos que as creches não foram criadas em um vazio social, elas 
sofreram e sofrem influência de fatores políticos, econômicos, sociais e culturais. 
A forma precária de atendimento às crianças pequenas neste período era 
especialmente filantrópico e era destinado a filhos de mulheres em situação de 
pobreza. 
Vocabulário 
Filantrópico: que se refere à caridade. Que desenvolve ou faz caridade 
(Dicionário Online de Português). 
 
As creches foram criadas e mantidas por entidades de natureza 
filantrópica, quase que exclusivamente por entidades religiosas, especialmente 
pela Igreja Católica. O Estado não participou na implantação, funcionamento e 
fiscalização inicial das instituições de atendimento infantil. 
 O comprometimento dos governos com a criação e manutenção dessa 
instituição iniciou após a reivindicação de grande parcela da população que 
necessitava desse tipo de serviço. A mortalidade infantil elevada, desnutrição 
generalizada e acidentes domésticos passaram a despertar sentimentos de 
preocupação dos governos. Enquanto as famílias abastadas pagavam uma 
babá, as que se encontravam em situação de pobreza viam como única 
alternativa deixar os filhos sozinhos ou colocá-los em uma instituição que deles 
cuidassem. 
Como você pode perceber, a creche era um local que oferecia 
atendimento caritativo aos desamparados e teve suas origens no próprio 
processo de criação dessa instituição. Para as crianças mais pobres, a creche 
se caracterizava pela vinculação aos órgãos de assistência social e para as 
crianças das classes mais abastadas, outro modelo se desenvolveu no diálogo 
 
 
10 
 
com práticas escolares (BRASIL, 2009). A proposta de assistencialismo, que 
marcou a origem das creches, gerou a vinculação dessas instituições às 
Secretarias de Assistência Social e não às Secretarias de Educação. 
Você sabia que foi somente a partir da Constituição Federal de 1988, que 
foi garantido o direito à educação para crianças de 0 a 3 anos na creche? Foi a 
partir da Constituição que se procurou romper com a ideia de que a creche é 
somente um espaço de cuidado e guarda para filhos de pessoas que viviam em 
situação de pobreza. 
Enquanto as constituições anteriores viam o atendimento à infância 
somente na condição assistencialista, a Constituição de 1988 dá o primeiro 
passo em direção à superação do caráter assistencialista que, até então, 
predominava. É por intermédio da Constituição de 1988 que o atendimento em 
creches e pré-escolas (Educação Infantil) fica subordinado à Secretaria de 
Educação e não mais às Secretarias de Assistência Social. 
Essa mudança tenta romper com a visão assistencialista e de “guarda”, 
dando início a uma proposta mais integrada, em que o educar e o cuidar 
assumem um caráter de indissociabilidade. Esta ação ressalta o caráter público 
educativo em detrimento do caráter assistencialista característico desses 
espaços. 
Atualmente, com a participação cada vez maior das mulheres no mercado 
de trabalho e as mudanças nos arranjos familiares, a expansão da Educação 
Infantil no Brasil tem ocorrido de forma crescente. A Educação Infantil, enquanto 
espaço que atende crianças de 0 a 5 anos, busca se desvencilhar das raízes 
que a constituíram. 
A seguir, continuaremos nosso recorrido histórico, analisando brevemente 
o que nos aponta a legislação. 
 
1.2.1 O que dizem os documentos oficiais? 
 
 Foi por meio da Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela 
Assembleia Geral das Nações Unidas em 1959, que a infância se tornou uma 
questão fundamental em programas de cooperação internacional e as crianças 
começaram a ser vistas como detentoras de direitos. Esse foi o tratado de 
 
 
11 
 
direitos humanos mais amplamente ratificado no mundo e a base sobre a qual 
repousam as políticas sociais voltadas à infância. 
Atualmente, a Educação Infantil é a primeira etapa da Educação Básica, 
se configura como um direito constitucional a todas as crianças de 0 (zero) a 5 
(cinco) anos de idade, em que na creche são atendidas crianças de zero (0) a 
três (3) anos e na pré-escola, de quatro (4) a cinco (5) anos. Com a promulgação 
da Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Base da Educação 
Nacional 9.394/96 (LDBEN), a Educação Infantil foi incorporada à Educação 
Básica, passando a ser regulamentada pelos órgãos educacionais. A educação 
de crianças pequenas passa a ser um direito da criança e um dever do Estado. 
A LDBEN de 1996 define que a função das instituições de Educação Infantil é 
cuidar e educar as crianças de forma indissociada. 
A partir da Constituição Federal de 1988, foi garantido o direito à educação 
para crianças de 0 a 3 anos na creche, procurando romper com a ideia de que 
seja só um espaço de cuidado para filhos de mães trabalhadoras, o que foi 
reforçado com a LDBN nº 9.394/96, que instituiu a Educação Infantil como 
primeira etapa da Educação Básica. Em outras palavras, a educação infantil foi 
assegurada pela Constituição Federal de 1988 e reiterada pela Lei de Diretrizes 
e Bases da Educação Nacional - Lei 9.394/96, como um direito da criança e um 
dever do Estado. 
 A Educação Infantil será oferecida em: 
 
I – creches, ou entidades equivalentes,para crianças de até três anos de 
idade; 
 
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) anos de idade. 
(Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013). 
 
De acordo com as Diretrizes Curriculares para a Educação Infantil (2009), 
as creches e pré-escolas se constituem, portanto, em estabelecimentos 
educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de zero a 
cinco anos de idade, por meio de profissionais com a formação específica 
legalmente determinada e com habilitação para o magistério superior ou médio, 
 
 
12 
 
refutando assim funções de caráter meramente assistencialista, embora 
mantenha a obrigação de assistir às necessidades básicas de todas as crianças. 
 
1. 3 A integração necessária entre o educar, cuidar e brincar 
 
Para iniciarmos nossa reflexão, é fundamental nos perguntarmos, o que 
significa cuidar? Muitas pesquisas destacam que, quando se fala em integrar 
cuidado e educação, a questão que se coloca é como transformar momentos de 
cuidado em momentos de educação. Será possível educar sem cuidar? Ou 
cuidar sem educar? Empregamos o conceito de cuidado defendido por Boff 
(2005, p.29), “cuidar traz em si dois significados. O primeiro tem a ver com o 
desvelo, da atenção para com o outro, e a segunda, a preocupação com o outro, 
porque nos sentimos envolvidos afetivamente”. 
Um cuidar que envolve atenção estabelece contato, escuta de forma 
sensível e interessada as necessidades, desejos e interesses dos bebês e das 
crianças. Essas ações de cuidado estão impregnadas de intencionalidade e 
permeadas pelas ações pedagógicas de um profissional da Educação Infantil 
que planeja, observa e avalia sua prática. Nesse sentido, o cuidar e educar são 
práticas indissociáveis. 
Mas será que isso ocorre realmente nas ações pedagógicas dos 
profissionais da Educação Infantil? É possível constatar duas formas de 
caracterização dos diferentes tipos de trabalhos realizados em creches e em pré-
escola. De um lado, temos um trabalho mais voltado aos cuidados com um 
enfoque mais assistencialista e, por outro, um trabalho denominado educativo. 
O cuidado está voltado a uma população mais empobrecida, ligada às atividades 
de assistência e a educação para uma população mais abastada, seguindo o 
modelo de trabalho escolar das escolas de ensino fundamental. 
Essa compreensão da Educação Infantil, supostamente, é uma prática 
que já foi superada, pois, atualmente, temos uma legislação que compreende a 
criança pequena como um sujeito de direitos, com direitos a apender e 
desenvolver-se de forma integral nos espaços de Educação Infantil. 
Sabemos que muitas práticas, superadas no discurso, ainda permanecem 
vivas nas propostas de trabalho de muitos educadores. Oliveira (2005) sinaliza 
que ainda hoje na Educação Infantil existe uma forte influência higienista, que 
 
 
13 
 
valoriza a priorização de cuidados de saúde e assistencialismo às populações 
em vulnerabilidade social, provocando, ainda hoje, uma oscilação nas práticas 
de educar e cuidar. 
Segundo Maranhão (2010), o professor de bebês e de crianças pequenas 
tem que se apropriar de conhecimentos, desenvolver competências sobre o 
processo de desenvolvimento humano e conhecer os aspectos legais e éticos 
do processo de cuidar e educar em ambiente coletivo. 
 Saiba mais 
Para saber mais sobre a indissociabilidade do educar e cuidar, leia o artigo: 
Saúde e bem-estar das crianças: uma meta para educadores infantis em parceria 
com familiares e profissionais de saúde, de Damaris Gomes Maranhão, 
disponível no link http://portal.mec.gov.br/programa-curriculo-em-movimento-sp-
1312968422/consultas-publicas?id=15860 Acesso em 7 junho de 2018. 
 
Uma pesquisadora que tem sido muito estudada é a pediatra austríaca 
Emmi Pikler, fundadora do Instituto Pikler-Lóczy, em Budapeste, na Hungria. Seu 
trabalho, que no início consistia em uma instituição para órfãos e abandonados, 
tornou-se centro de formação e referência na prática da educação do zero aos 
03 anos. 
Ao estudar a Abordagem de Emmi Pikler, encontramos alguns princípios 
que norteiam as práticas educativas com os bebês, promovendo um crescimento 
e desenvolvimento integral e saudável. Essa autora sinaliza que os cuidados 
fisiológicos dirigidos aos bebês, por exemplo, a troca de fraldas, pode ser uma 
grande oportunidade de promover o vínculo afetivo entre a criança pequena e a 
professora. 
Diferentes autores afirmam que ao nascer o bebê ainda se sente parte da 
mãe, não tem noção da sua individualidade e precisa de um adulto de referência 
que garanta a sua sobrevivência e valorize a sua existência, oferecendo os 
cuidados adequados. Emmi Pikler chama essas ações de cuidados privilegiados. 
Como esse ato de cuidado pode também ser um ato educativo? 
A seguir, descreveremos uma ação muito comum dentro de espaços da 
Educação Infantil, principalmente, com bebês e crianças pequenas, que é a troca 
de fraldas. É importante destacar que educar e cuidar é muito mais que uma 
 
 
14 
 
ação, é uma forma de organizar e compreender o tempo e o espaço da Educação 
Infantil. É uma forma de entender quem é esse bebê e essa criança pequena. 
Trocar fraldas, para a maioria dos profissionais da Educação Infantil, é um 
ato mecânico e que pode ser realizado sem qualquer tipo de planejamento. O 
maior desafio do profissional é o de planejar e organizar esse momento com uma 
intencionalidade educativa, que deve estar contemplada dentro da proposta 
curricular da instituição. A troca de fraldas é uma grande oportunidade de 
potencializar o vínculo afetivo entre o professor e a criança, além de ser um 
momento rico em aprendizagens. O cuidado envolve momentos de aprendizado, 
brincadeira e tomada de consciência do próprio corpo e do corpo do outro. 
 
A definição e o aperfeiçoamento dos modos, como a instituição 
organiza essas atividades, também são partes integrantes de sua 
proposta curricular e devem ser realizadas sem fragmentar ações que 
são indissociáveis. Ao conceber o caráter indissociável do cuidado e 
da educação, fica claro que a responsabilidade de todas as ações junto 
às crianças é do professor. (Parecer CNE/CEB nº 20/09, que define 
Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Infantil). 
 
Os momentos de cuidado devem ser planejados como uma experiência 
sensorial e afetiva, estabelecida entre o bebê e a profissional da Educação 
Infantil. Inspirados na abordagem de Emmi Pikler e na tentativa de proporcionar 
um desenvolvimento integral dos bebês e das crianças, elencamos alguns 
princípios que necessitam nortear as ações que envolvam a troca de fraldas: 
 
a) Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a experiência; 
 
b) Utilizar gestos delicados; 
 
c) Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual; 
 
d) Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai 
acontecer; 
 
e) Sempre pedir a colaboração, mesmo quando o bebê ainda é bem 
pequeno; 
 
 
 
15 
 
f) Observar e acompanhar cada pequena descoberta e/ou conquista da 
criança. 
 
 
troca de fraldas 
Fontes: https://br.123rf.com/profile_wavebreakmediamicro 
 
A seguir, serão destacados como esses princípios são constituídos e as 
principais concepções que norteiam as práticas dos educadores durante a troca 
de fraldas. 
 
a) Usar o tempo que for necessário para que o bebê aproveite a 
experiência. 
 
É fundamental organizar esse momento, planejando um tempo necessário 
para a interação individual com cada criança. Muitos profissionais acreditam que 
o momento da troca de fraldas deve ser rápido, porque entendem essa ação 
como uma perda de tempo. Essa concepção fundamenta-se na ideia de que o 
cuidado não é um conteúdo pedagógico, no entanto, a troca de fraldas deve fazer 
parte da proposta educativa e ser entendida como um conteúdo da Educação 
Infantil, impregnada de sentido educativo. 
 
b) Utilizar gestosdelicados. 
 
O planejamento deve promover momentos em que os profissionais possam 
tocar na criança com calma e delicadeza, fortalecendo a relação e 
 
 
16 
 
potencializando o vínculo afetivo. Nunca pegue uma criança inesperadamente 
em seus braços de forma que ela seja pega de surpresa, pois isso pode gerar 
angústia e medo. Em muitas situações, o profissional precisa reaprender a tocar 
o corpo da criança com delicadeza. O toque deve ser suave e coordenado, como 
se fosse uma coreografia. A criança precisa sentir que o profissional tem uma 
intencionalidade, que o ritual de troca de fraldas tem um início, meio e fim. 
 
c) Olhar nos olhos do bebê mantendo o contato visual. 
 
Olhar nos olhos do bebê, mantendo o contato visual. A troca de fralda pode 
ser uma oportunidade do bebê e da criança bem pequena sentirem-se únicos e 
especiais. Durante a jornada da Educação Infantil, o professor tem muitas 
demandas, impossibilitando que preste atenção exclusiva em uma única criança. 
Portanto, poder dedicar alguns momentos particulares a uma única criança, faz 
dela um ser singular em meio ao coletivo. Manter o contato visual assegura que 
o professor se mantenha presente agora e focado na ação que está realizando. 
 
d) Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que 
vai acontecer. 
 
Falar com os bebês durante a troca de fraldas, informando tudo o que vai 
fazer, porque as palavras usadas transferem os sentimentos do adulto para a 
criança. Portanto, se o profissional sentir qualquer emoção negativa em relação 
à troca de fraldas é importante procurar ajuda para falar sobre esses 
sentimentos. Para algumas pessoas, a troca de fraldas pode produzir 
sentimentos ambíguos. 
Outro aspecto a destacar, é a necessidade de o professor pedir a 
colaboração do bebê, mesmo quando ainda é bem pequeno. Essa ação facilita 
que a criança se sinta uma companheira ativa durante o processo, o professor 
pode solicitar, por exemplo, que o bebê estique a perna, que dobre o joelho e 
que prove a temperatura da água. É bem importante nomear as partes do corpo, 
descrevendo o que vai acontecer com ele e ajudar o bebê a expressar o que 
está sentindo. 
 
 
17 
 
O bebê e a criança pequena precisam ser informados do que será feito com 
o seu corpo. O profissional da Educação Infantil precisa anunciar e pedir a 
autorização para tirar a roupa da criança e para tocar em seu corpo. Essa relação 
de cuidado e respeito possibilita que o bebê e a criança assumam um papel ativo 
e colaborativo nos cuidados de seu próprio corpo, aprendendo a respeitá-lo, ao 
mesmo tempo que constroem relações de respeito com o corpo dos demais. 
 
e) Observar e acompanhar cada pequena descoberta e/ou conquista da 
criança. 
 
Os bebês, desde que nascem, têm um desejo enorme de conhecer e 
explorar o mundo ao seu redor. Cada conquista representa uma alegria e uma 
nova descoberta. 
A troca de fraldas pode ser uma grande oportunidade de aprender a 
conhecer, explorar e nomear as partes de seu próprio corpo. A música pode ser 
um grande aliado. 
 
Eu vi, eu vi, eu vi um jacaré, será que ele queria pegar o meu pé? 
Eu vi, eu vi, eu vi uma formiga, será que ele queria pegar a minha barriga? 
Eu vi, eu vi, eu vi um leão, será que ele queria pegar a minha mão? 
Eu vi, eu vi, eu vi uma coelha, será que ele queria pegar a minha orelha? 
Eu vi, eu vi, eu vi um piolho, será que ele queria pegar o meu olho? 
Eu vi, eu vi, eu vi um camelo, será que ele queria pegar o meu cabelo? 
Eu vi, eu vi, eu vi uma perdiz será que ela queria pegar o meu nariz? 
 
(Cultura popular) 
 
É de fundamental importância compreender a trajetória histórica da 
creche no contexto brasileiro, essa compreensão nos possibilita entender muitas 
práticas que continuam arraigadas no nosso fazer pedagógico. Tentar romper 
com essa visão assistencialista e de “guarda” da criança pequena, permite-nos 
dar início a uma proposta mais integrada, em que o educar e o cuidar assumem 
um caráter de indissociabilidade. 
 
 
 
18 
 
 
O cuidar e educar são ações pedagógicas indissociáveis que precisam 
ser problematizadas no fazer pedagógico. Quando essas ações são entendidas 
de maneira integrada, possibilitam-nos promover uma visão acerca do 
desenvolvimento infantil, que respeita as especificidades de cada bebê e de cada 
criança. Mesmo que o cuidar seja parte integrante da educação, exige 
conhecimentos, habilidades, sensibilidade e escuta do profissional que trabalha 
com a primeira infância. 
 
Conclusão da aula 1 
 
Nessa primeira aula foi estudado sobre os bebês na Educação Infantil, 
fazendo uma breve retrospectiva histórica sobre o conceito de infância. Em 
seguida, foi abordado o surgimento das primeiras creches no Brasil, favorecendo 
a compreensão acerca das questões educacionais atuais. Encerramos com uma 
reflexão sobre a indissociabilidade entre o educar e o cuidar na Educação 
Infantil, principalmente, com os bebês e as crianças bem pequenas. Detemo-nos 
um tempo maior analisando quais são os procedimentos utilizados na troca de 
fraldas dos bebês e das crianças pequenas em espaços coletivos de educação. 
Na análise dessa trajetória, procuramos inserir a discussão sobre o lugar que 
ocupam os bebês e as crianças pequenas em nossa sociedade contemporânea. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Caro estudante, comente sobre como deve ocorrer a troca de fralda, no 
contexto da creche, possibilitando que o bebê e a criança pequena sejam 
respeitados nas suas intimidades e participem desse cuidado. 
 
Como você faria para aproveitar e valorizar os momentos de cuidados 
individualizados para uma interação com cada criança em particular, sem 
desconsiderar as necessidades das outras crianças do grupo? 
 
 
 
 
 
 
19 
 
Aula 2 – De que bebê estamos falando? 
 
Apresentação da aula 2 
 
Prezado estudante. Bem-vindo à nossa segunda aula, na qual damos 
seguimento ao estudo sobre os bebês na Educação Infantil. Iniciaremos 
refletindo sobre quem é o bebê. Nossa análise se fundamentará na perspectiva 
da neurociência, como uma maneira de entender o comportamento e as 
aprendizagens, inclusive a saúde física do bebê, baseada no funcionamento do 
sistema nervoso. De acordo com os estudos realizados pelos neurocientistas, o 
afeto, os cuidados qualificados e as experiências que o bebê e a criança 
pequena vivenciam na primeira infância influenciam não somente no 
funcionamento, mas na própria arquitetura do cérebro, o que pode contribuir 
para sua maior eficiência. O mesmo ocorre do lado negativo: em que a falta de 
estímulos, estímulos prejudiciais ou estímulos inadequados trarão efeitos 
negativos para a arquitetura, a estrutura e o funcionamento cerebral. 
Encerraremos nossa segunda aula discutindo alguns conceitos importantes 
sobre a inserção da criança pequena na instituição da Educação Infantil. 
 
2.1 De que bebê estamos falando? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
De que bebê estamos falando? 
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcSaevm5bM2cDiHJ9V 
8SbjdkskwbwjBd9DCwIWvbkp9BMgvLzafbl-WnC_KEcjfWJgpKxgs&usqp=CAU 
 
 
20 
 
“A infância revela o homem, como a manhã revela o dia” (Paraíso Reconquistado 
- John Milton) 
 
Nessa aula, abordaremos de forma muito resumida, alguns conceitos da 
neurociência para explicarmos o desenvolvimento do bebê. Você sabe o que 
significa neurociência? Se não, você provavelmente já escutou esta palavra, 
correto? A neurociência é um campo do conhecimento que tem como objetivo 
entender o funcionamento do sistema nervoso, tanto em nível funcional quanto 
estrutural essa disciplina tenta saber como o cérebro se organiza (LENT, 2002). 
Os conhecimentos referentes ao funcionamento do sistema nervoso são 
bastante recentes. Durante séculos, uma das visões mais populares sobre como 
funcionaria a mente dos bebês afirmava que a mente poderia ser descritacomo 
uma “tábula rasa”, em outras palavras, uma folha de papel em branco. Segundo 
essa teoria, o bebê poderia ser moldado de acordo com os desejos dos adultos. 
Faz pouco, que o conceito de tábula rasa foi questionado, surgindo outras formas 
de entender o desenvolvimento humano. As últimas décadas de pesquisa 
indicam que, muito provavelmente, essa visão é equivocada ou, pelo menos, 
precisa ser questionada. 
As principais pesquisas sobre o desenvolvimento infantil sob a ótica da 
neurociência surgiram no fim da década de 1990. Deram um passo fenomenal, 
recentemente, com a evolução dos exames de imagem, que permitiram entender 
melhor o que se passa no cérebro de crianças muito pequenas. 
Até bem recentemente, não era acessível e generalizado o conhecimento 
da enorme atividade e complexidade do cérebro do bebê e de que as conexões 
neuronais aumentavam intensamente durante esse período. De acordo com o 
Dr. Cláudio Guimarães dos Santos, neurocientista da Universidade Federal de 
São Paulo, os neurônios são células características do sistema nervoso central 
que possuem a capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem 
estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio organismo, ou seja, essas 
conexões neuronais são realizadas por predeterminação genética, mas também 
como resultado das experiências vividas pelo bebê, são responsáveis por tudo 
o que somos, por nossa personalidade, modo de agir e pela forma que nosso 
corpo vai adquirindo no transcorrer da vida. 
https://drauziovarella.com.br/corpo-humano/neuronios/
 
 
21 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Conexões neuronais 
Fonte: https://br.123rf.com/profile_ktsdesign 
 
Nesse sentido, destacamos que o cérebro do bebê é esculpido pelas 
experiências dele e do ambiente em que ele vive. Isso significa que o cérebro é 
construído no decorrer de nossas vidas e, a partir, das experiências que 
vivenciamos. Assim, como uma casa necessita de uma fundação forte para 
manter as paredes e o teto, um cérebro precisa de uma boa base que dê suporte 
a todo o desenvolvimento futuro. 
Como que o bebê constrói uma base cerebral sólida? O que significa isso? 
De acordo com os especialistas, a experiência vivida pelas crianças durante os 
primeiros anos de vida tem um impacto duradouro na arquitetura do cérebro em 
desenvolvimento. Segundo os neurocientistas, é por meio das relações positivas 
entre o bebê e os seus cuidadores, entendidos aqui como os pais, professores 
e outros adultos significativos, que se constrói a base para futuras 
aprendizagens. As primeiras experiências criam uma fundação para aprender 
tudo na vida: comportamento, saúde física e mental, fornecendo o andaime para 
os circuitos e habilidades mais avançadas ao longo do tempo. 
De acordo com a neurocientista Natalia Cuminale, da Universidade de 
Cambridge (EUA), o bebê ao nascer tem somente 15% de suas conexões 
neuronais desenvolvidas, durante os três primeiros anos desenvolverão em 
torno de 80%. Essas conexões são criadas com uma velocidade surpreendente 
nos primeiros três anos de vida, como você pode observar no desenho 
representado abaixo. 
 
 
22 
 
 
(At Birth - recém-nascidos / 6 years Old – 6 anos de idade / 14 years 
old - anos de idade) 
Fonte: From Rethinking the Brain: New Insights into Early Development by Rima Shore 
(NY: Families and Work Institute, 1997). 
 
Será que os bebês conseguem construir uma base cerebral sólida quando 
vivem em espaços coletivos de Educação Infantil? 
As pesquisas, conduzidas em sua maioria nos Estados Unidos, mas 
também em alguns países europeus, sobre os efeitos da creche, não mostram 
diferenças significativas entre crianças educadas em família e crianças 
provenientes da creche, nem em sentido positivo, nem em sentido negativo 
(BRONFENBRENNER, 1986a). 
A maneira de organizar e compreender uma proposta educativa que atenda 
às necessidades de cuidado, estímulo e afeto varia de acordo com os recursos, 
a concepção pedagógica, a formação dos profissionais que atuam na Educação 
Infantil, entre outros aspectos. No entanto, é possível fazer algumas 
generalizações, assinalando alguns princípios que podem favorecer a 
construção de uma base cerebral sólida nos bebês e nas crianças pequenas que 
frequentam espaços coletivos de Educação Infantil. A seguir serão elencados 
alguns aspectos considerados fundamentais: 
 
 
 
23 
 
a) Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma 
ativa; 
 
b) Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse, 
paciência e aceitação pelo bebê; 
 
c) Preparação de um ambiente seguro e instigante; 
 
d) Construção de espaços e tempos para o bebê brincar em liberdade: 
brinquedos não estruturados. 
 
A seguir, serão descritos com maiores detalhes os princípios que podem 
favorecer a construção de uma base cerebral sólida nos bebês e nas crianças 
que frequentam espaços coletivos de Educação Infantil. Lembrando que esses 
princípios foram selecionados em detrimento de muitos outros que poderiam 
aqui ser citados. 
 
a) Organização de uma rotina que possibilite ao bebê participar de forma 
ativa; 
 
O bebê conhece o mundo por meio de seu corpo, todo o conhecimento é 
obtido por intermédio das experiências sensoriais que chegam ao sistema 
nervoso central na forma de estímulos sensoriais provenientes dos cinco órgãos 
dos sentidos (visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê 
explorar o mundo pelos seus órgãos sensoriais, maior será o número de 
experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento tanto no aspecto 
motor quanto no intelectual, emocional e comportamental. 
No entanto, a exploração do bebê é muito mais efetiva quando o professor 
faz a mediação entre ele e o mundo ao seu redor. É fundamental o professor 
manter uma relação próxima de afeto e carinho com o bebê para poder 
reconhecer e atender suas necessidades de interação. Veja o exemplo a seguir: 
imaginemos uma partida de tênis, em que um jogador atira a bola para o 
companheiro do outro lado da rede. Esse jogador, se quiser continuar com a 
partida, necessita esperar que o seu companheiro lhe devolva a bola, ou seja, 
 
 
24 
 
para que os dois jogadores mantenham a partida de tênis, devem estar 
totalmente focados, atentos e, acima de tudo, sincronizados, caso contrário não 
vão conseguir mantê-la. 
Imaginemos uma situação corriqueira que poderia ser de grande interação 
entre o professor e o bebê dentro do espaço da Educação Infantil. O bebê sorri 
e balbucia mostrando o pé. O professor nomeia aquilo que percebe que ele está 
tentando comunicar. 
 
 
– Você quer que eu lhe coloque as meias? 
– Entendi, você gosta que eu toque os seus pés, verdade? O bebê dá sinais 
corporais de que está gostando do toque e oferece o outro pé. 
– Hum, você quer que eu coloque a meia no outro pé também. O professor 
continua a interação fazendo referência às ações que está realizando. 
– Veja, Arthur, sua meia é vermelha e vai aquecer os seus pés, deixá-los 
quentinhos, pude perceber que estão gelados. O professor também pode 
introduzir novos conceitos nomeando o que está em volta do bebê. 
– Olha, dentro do armário tem outras peças de roupa do Arthur: casacos, 
calças, moletons, gorros e luvas. 
 
 
Essas interações são fundamentais e contribuem para as aprendizagens e o 
desenvolvimento dos bebês. No entanto, essas pequenas interações nem 
sempre acontecem, porque o professor alega que não tem tempo, tem outras 
coisas mais importantes para fazer. A falta de conhecimento da importância 
dessas interações positivas e responsivas faz com que elas deixem de 
acontecer. Não adianta o professor ser afetuoso se, quando o bebê inicia uma 
interação esperando uma reação, ele não interage. 
 
b) Relação (adulto/bebê) calorosa e responsiva, que demonstre interesse, 
paciência e aceitação pelo bebê; 
 
Quanto menor a criança, mais estabilidadeela necessita e precisa de 
adultos que sejam referência emocional para ela. Quando nos referimos à 
 
 
25 
 
referência emocional, não queremos dizer que é necessário beijar e abraçar a 
criança a todo o momento. A relação é de respeito profundo e não de excesso 
de intimidade. Uma relação em que o adulto reconhece as múltiplas formas de 
comunicação da criança pequena. Muitos profissionais apontam que a maior 
dificuldade em trabalhar com os bebês, refere-se exatamente à dificuldade de 
organizar uma rotina que respeite e atenda essas necessidades individuais 
dentro um espaço coletivo. 
Uma das possíveis estratégias de que o profissional poderia valer-se para 
individualizar o trabalho, dentro de um espaço coletivo, seria organizar os bebês 
e crianças em pequenos grupos, mantendo um educador como referência de 
cada grupo. Suponhamos que trabalhem três profissionais para atender dezoito 
bebês, cada professor poderia ser a referência de um grupo de seis bebês. Fazer 
com que sempre a mesma profissional tome conta da criança nos momentos da 
troca, da refeição e do sono, momentos tão importantes para consolidar um 
relacionamento mais íntimo e significativo. Essa poderia ser uma forma de 
organização que possibilitaria uma interação mais próxima e individualizada. 
Como o bebê comunica que tem uma necessidade? De diversas 
maneiras, por exemplo, por meio da apatia, de erguer os braços em direção ao 
educador, passividade, resistência à alimentação ou ao sono, mordidas, 
comportamentos regressivos e a linguagem mais comum, que é o choro. O bebê 
foi programado geneticamente para chorar em situações de dor, fome, sono ou 
qualquer desconforto físico ou emocional. Nesse sentido, o choro deve 
incomodar o adulto, porque traduz uma necessidade não satisfeita. O choro 
existe como um mecanismo adaptativo, sem ele nossa espécie não teria 
sobrevivido. 
O mais importante, nesse sentido, é compreendermos que o choro é uma 
linguagem importante de comunicação. O bebê, por meio dessa linguagem, 
comunica que algo está acontecendo com ele, pode ser fome, frio, medo, 
aborrecimento, excesso de estímulo, cansaço, dor, entre outros. Jamais 
devemos entender o choro como algo pessoal. O bebê não chora para nos 
aborrecer, ele tenta comunicar algo, pois essa é a linguagem que ele tem 
disponível no seu repertório para se relacionar com o mundo. 
Quanto menor a criança, mais estabilidade ela necessita, ela precisa de 
adultos que sejam referência emocional para ela. Quando nos referimos a uma 
 
 
26 
 
relação calorosa, entendemos uma relação em que a criança aceite ser cuidada 
nos momentos de intimidade física e consolada nos momentos em que comunica 
mal-estar; mesmo não tendo com esse alguém o relacionamento exclusivo que 
caracteriza o relacionamento com a mãe. O professor da Educação Infantil tem 
uma relação calorosa e afetiva com o bebê, mas não ocupa o lugar da mãe, 
porque os saberes desse profissional são outros. 
Mesmo que a ação pedagógica com os bebês e com as crianças bem 
pequenas venha a exigir uma docência basicamente fundamentada na relação 
e na interação humana, o lugar que ocupa o profissional da Educação Infantil é 
diferente do papel que desempenha a família. Sobre esse tema discutiremos na 
aula seguinte. 
 
c) Preparação de um ambiente seguro e instigante; 
 
O bebê precisa de um ambiente aconchegante, confortável e que 
possibilite o movimento livre, criando condições ideais para oportunizar trocas, 
que favoreçam a comunicação entre eles. Diferentes estudiosos do 
desenvolvimento infantil afirmam que o bebê necessita de espaços relaxados, 
organizados de forma simples, aconchegantes, e o contato com adultos afetivos 
e responsivos. Um ambiente planejado para acolher e satisfazer as suas 
necessidades, tanto no que se refere às necessidades básicas (sono, fome e 
frio) quanto afetivas (colo, contato visual e toque). 
Outro aspecto a salientar é a aquisição de materiais adequados à faixa 
etária, privilegiando tecidos caixas, elementos naturais, potinhos de encaixar e 
empilhar, objetos sonoros dispostos ao alcance dos bebês e das crianças. A 
instituição de Educação Infantil não precisa se preocupar em comprar 
brinquedos caros, modernos, tecnológicos e que estão na moda, tampouco, 
brinquedos que acendam luzes, façam ruídos estrondosos e que se movam 
sozinhos. Esses objetos foram produzidos por uma compreensão equivocada e 
consumista das necessidades dos bebês e das crianças pequenas, baseada na 
concepção de que o bebê necessita ser estimulado constantemente. 
 
d) Confiança na capacidade do bebê se desenvolver. 
 
 
 
27 
 
Aldo Fortunati traduz em forma de poesia esta ideia do bebê e da criança 
pequena como protagonista. Em muitas situações, o sentimento de competência 
da criança é limitado pelo adulto. Sob o pretexto de ajudá-la ou estimulá-la, ele 
priva a criança de finalizar a ação que ela começou. Cabe ao profissional da 
Educação Infantil estabelecer uma rotina de educação e cuidados que respeite 
o ritmo individual do bebê e da criança, ao mesmo tempo em que lhe dá 
segurança afetiva. 
 
 
Por uma ideia de criança rica, 
na encruzilhada do possível, 
que está presente 
e que transforma o presente em futuro. 
Por uma ideia de criança ativa, 
guiada, na experiência, 
por uma extraordinária espécie de curiosidade 
que se veste de desejo e de prazer. 
Por uma ideia de criança forte, 
que rejeita que sua identidade seja 
confundida com a do adulto, mas que a oferece 
a ele nas brincadeiras de cooperação. 
Por uma ideia de criança sociável, 
capaz de se encontrar e se confrontar 
com outras crianças 
para construir novos pontos de vista e conhecimentos. 
Por uma ideia de criança competente, 
artesã da própria experiência 
e do próprio saber 
perto e com o adulto. 
Por uma ideia de criança curiosa, 
que aprende a conhecer e a entender 
não porque renuncie, mas porque nunca deixa 
de se abrir ao senso do espanto e da maravilha. 
(Aldo Fortunati, 2009) 
 
 
 
 
28 
 
2.2 Inserção do bebê na Educação Infantil 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Inserção do bebê na Educação Infantil 
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQDr6gwQdzEuonzpJ 
VwEcxRifWufeMWTQ_wFkbYSPyoJ7w-gnkmr1GZKRCeIyVZZe3pnNc&usqp=CAU 
 
Uma boa inserção pode ser uma experiência agradável e significativa para 
o bebê, a criança, sua família e para os professores e professoras. O momento 
da entrada do bebê no âmbito institucional comumente é conhecido pelo termo 
adaptação. Nós optamos por utilizar o termo inserção porque “a palavra inserção 
traz para o processo de entrada na instituição a ideia de que o bebê também age 
na situação vivida e transforma o entorno à medida que é transformado” (REIS, 
2013, p. 02). 
Nesse sentido, o bebê se insere em um novo contexto de forma ativa, 
transformando e sendo transformado por ele. Cabe ressaltar que a entrada de 
cada nova criança à instituição produz intensas mudanças, que podem gerar 
conflitos e tensões momentâneas. Nessa lógica, o processo de inserção traz 
consigo muitos desafios e precisa ser entendido como um momento delicado. 
A inserção é um momento delicado para quem? Para o bebê que em 
muitas situações é a primeira vez que se separa da mãe, pai, irmãos, avós, tias 
ou de quem está exercendo a função materna. Para a família, que também em 
muitas situações é a primeira vez que deixa o bebê aos cuidados de alguém que 
não pertence ao âmbito familiar. E para o professor, que está cheio de dúvidas 
e ansiedade sobre quem será essa família e como será essa criança? Será que 
 
 
29 
 
vou conseguir criar vínculos? Como vou organizar minha jornada para atender 
as necessidades individuais do bebê dentro do contexto coletivo? 
A inserção é um momento delicado para a tríade mãe, bebê e professor. 
Cada um deles precisa tempo e apoio para conseguir criar vínculos afetivos e 
estabeleceruma relação de confiança e respeito entre si. O objetivo maior da 
instituição deve ser o de criar condições para que essa tríade 
mãe/bebê/professor trabalhe de forma conjunta, apoiando-se mutuamente. 
Exemplo de uma proposta metodológica de inserção da criança na 
creche, descrita por Nádia Bulgarelli e Laura Restuccia Saitta (1981), no livro 
Comunicazione Interpersonale e Inserimento del Bambino all’Asilo Nido, ainda 
não traduzido para o português, mas que significa Comunicação Interpessoal 
e Inserção da Criança à Creche. 
 
a) Manter a rotina que a criança pequena tem em casa. Manter os rituais 
para dormir e comer; 
b) Deixar a criança permanecer com os objetos transicionais ou objetos 
de apego, jamais retirar da criança sem a sua autorização. Algumas 
crianças usam objetos, tais como paninhos, chupetas, brinquedos, e 
ficam apegadas a elas; 
c) Valorizar a identidade da criança e escolher junto com ela seu 
cabideiro, colocando seu nome e garantindo que aquele lugar ficará 
disponível para ela todos os dias para que possa guardar suas coisas; 
d) Não ficar ansioso para que a criança ajuste sua rotina a do grupo muito 
rapidamente; 
e) Conversar com a criança sobre seus sentimentos, contar o que vai 
acontecer com ela e ajudar a criança a expressar seus sentimentos. 
f) A inserção da criança deve ser feita progressivamente, duas crianças 
por subgrupo, por semana; 
g) Normalmente uma semana é necessária para que algum familiar 
permaneça junto à criança na creche, sendo seu tempo de 
permanência gradualmente reduzido; 
h) A professora deve procurar manter uma rotina estável sem muitas 
variações para que a criança vá dominando cada vez mais a rotina. 
 
 
30 
 
Estas são algumas orientações descritas por Nádia Bulgarelli e Laura 
Restuccia Saitta (1981), que podem ser muito úteis para garantirmos uma 
inserção segura e com menor impacto negativo possível ao bebê. Lembrando, 
que a LDBN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) apregoa que o 
papel da Educação Infantil é complementar à ação da família. Realizar um 
trabalho complementar à educação dada pela família, é compreender 
primeiramente qual é a educação familiar. O professor jamais deve se opor ou 
disputar o lugar que a família ocupa na vida do bebê e da criança pequena, para 
isso é fundamental considerar e respeitar as diferentes culturas familiares. 
 
Conclusão da aula 2 
 
Nessa segunda aula foi dado seguimento ao estudo sobre os bebês na 
Educação Infantil. Iniciamos refletindo sobre quem é o bebê. Nossa análise se 
fundamentou na perspectiva da neurociência, como uma maneira de entender o 
comportamento e as aprendizagens, inclusive a saúde física do bebê, baseada 
no funcionamento do sistema nervoso. De acordo com os estudos realizados 
pelos neurocientistas, o afeto, os cuidados qualificados e as experiências que o 
bebê e a criança pequena vivenciam na primeira infância influenciam não 
somente no funcionamento, mas na própria arquitetura do cérebro, o que pode 
contribuir para sua maior eficiência. O mesmo ocorre do lado negativo: em que 
a falta de estímulos, estímulos prejudiciais ou inadequados trarão efeitos 
negativos para a arquitetura, a estrutura e o funcionamento cerebral. Sendo 
assim, encerraremos nossa segunda aula discutindo alguns conceitos 
importantes sobre a inserção da criança pequena na instituição da Educação 
Infantil. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Caro estudante, as pesquisas na área da neurociência nos mostram como as 
interações e o afeto são fundamentais, o que você entendeu sobre este tema? 
 
A partir do que foi estudado, qual é a sua opinião sobre a entrada de bebês 
cada vez mais novos na Educação Infantil? Justifique sua resposta. 
 
 
 
31 
 
Aula 3 – Brincar do bebê 
 
Apresentação da aula 3 
 
Prezado estudante, bem-vindo à nossa terceira aula. Iniciaremos 
refletindo sobre o brincar enquanto direito da criança. Você sabia que o brincar 
está previsto e garantido na legislação brasileira? O brincar é um elemento 
indispensável para a criança, inclusive, alguns autores indicam que o brincar é o 
trabalho da criança, enquanto outros sugerem que é por meio do brincar que a 
criança se apropria da cultura em que está inserida, adaptando-se a ela ao 
mesmo tempo em que a transforma. 
E o bebê? Será que ele brinca? Diferentes pesquisadores sugerem que o 
conhecimento do bebê é construído por meio das suas experiências sensoriais 
(visão, audição, tato, olfato e gustação). Quanto mais experiências lúdicas e 
criativas, que envolvam a exploração com autonomia, maior serão suas 
aprendizagens e mais acentuado será o seu desenvolvimento. Portanto, nas 
instituições de Educação Infantil, criar e garantir espaços seguros e desafiadores 
é fundamental para o desenvolvimento integral do bebê. 
 
3.1 O brincar como direito infantil e fenômeno cultural 
 
Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com 
os paulistas, descobri que esses ignoram o que seja. Alguns, inclusive, 
acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente [...] 
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente. 
Recusam-se a mudar [...] A sua presunção e o seu medo são dura 
casca de milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar 
duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. 
Não vão dar alegria para ninguém. Terminando o estouro alegre da 
pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. 
Seu destino é o lixo. Quanto as pipocas que estouram, são adultos que 
voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande 
brincadeira (RUBENS ALVES, 2008, p. 21). 
 
 
Embora o brincar esteja presente desde o início da trajetória de vida da 
criança, em nossa sociedade a ideia do brincar ainda está associada àquilo que 
carece de seriedade e utilidade, assumindo frequentemente o significado de 
oposição ao trabalho, tanto no contexto da escola quanto no cotidiano familiar. 
 
 
32 
 
O brincar foi e ainda é considerado por algumas pessoas ou instituições como 
pura perda de tempo. 
 
 
O brincar 
Fonte: https://t4.ftcdn.net/jpg/02/15/01/49/240_F_215014919_XvOmrkQPrfHULLtUeJls 
3bfM2oO4ussH.jpg 
 
Nem mesmo a vasta literatura produzida nas últimas décadas, afirmando a 
importância do brincar nos processos de desenvolvimento e de aprendizagem, 
foi capaz de modificar as ideias e práticas que reduzem o brincar a uma atividade 
de menor importância. Porém, se considerarmos que o brincar é a maneira pela 
qual as crianças organizam o seu tempo, ou seja, suas vidas, precisamos 
reconhecer que falamos de direitos humanos. Brincar é, antes de tudo, um direito 
da criança, direito esse garantido em lei. 
Você sabia que o brincar está previsto e garantido na legislação brasileira? 
A Constituição Federal em seu artigo 227º afirma que “é dever da família, da 
sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta 
prioridade o direito à vida, à alimentação, à educação, ao lazer [...]” (BRASIL, 
1998). Igualmente, o Estatuto da Criança e Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) 
preconiza no seu art. 16º, parágrafo IV “o direito à liberdade compreende os 
seguintes aspectos: [...] brincar, praticar esporte e divertir-se”. 
Nossa Constituição garante diretos aos bebês e às crianças como sujeitos 
de direitos, e como tal, devem ser respeitadas em suas necessidades e 
especificidades. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/2016) preconiza 
que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios deverão organizar e 
 
 
33 
 
estimular a criação de espaços lúdicos que propiciem o bem-estar, o brincar e o 
exercício da criatividade em locais públicos e privados onde haja circulação de 
crianças. 
O brincar é entendido como um direito, no entanto, sabemos que 
principalmente nas Instituições de Educação Infantil ainda carece de 
legitimidade. De acordo com Assis, embora a brincadeiraseja muito valorizada 
pela criança, os professores a consideram como “um recurso de aprendizagem 
de conteúdos escolares ou simplesmente uma forma de ocupar o tempo livre” 
(ASSIS, 2010, p. 7). 
 O primeiro aspecto a ser considerado para garantirmos o brincar enquanto 
direito da criança é o reconhecimento do seu tempo livre como legítimo, 
permitindo que as crianças, em diferentes espaços educativos e contextos 
sociais, sejam incentivadas a brincar. Nesse sentido, o brincar deve estar 
desvinculado de qualquer utilidade ou rendimento posterior. Brincar produz 
prazer, transporta a um tempo e a um lugar único, em que a criança pode 
dominar por ser sua criação. A brincadeira constitui o reino do possível, do 
aceitável e do modificável, por esta razão, existe uma finalidade em si mesma. 
A brincadeira para Leontiev (2001, p. 120) “é o caminho da tomada de 
consciência da atitude humana em face dos objetos, isto é, das ações humanas 
realizadas com eles”. Vygotsky (1994) compreende o brincar como uma 
atividade social da criança, cuja natureza e origem específica seriam elementos 
fundamentais para o desenvolvimento cultural, ou seja, o brincar como 
compreensão da realidade. Por meio do brincar a criança desenvolve a 
consciência do mundo que a rodeia, apropriando-se da sua cultura. 
Quando nos referimos ao brincar como apropriação da cultura, é importante 
entendermos o que significa. Para o sociólogo e pesquisador norte-americano 
Willian Corsaro (2009), as crianças são, ao mesmo tempo, produto e produtora 
de cultura, pois elas não apenas reproduzem ou imitam o mundo dos adultos, 
mas dele se apropriam criativamente, dando-lhe sentido. O brincar faz parte 
dessa intensa forma de produção infantil, que o autor denomina como culturas 
da infância. As culturas infantis são, portanto, “um conjunto estável de atividades 
ou rotinas, artefatos, valores e ideias que as crianças produzem e partilham em 
interação com seus pares” (CORSARO, 2009, p. 34). 
 
 
34 
 
As culturas infantis são as formas que as crianças constroem e se 
expressam em diferentes linguagens. Quando nos referimos a linguagens, 
entendemos como a maneira que usamos para comunicar-nos e expressar-nos, 
toda e qualquer forma de comunicação inventada pela humanidade, portanto 
uma construção social. Nesse sentido, entendemos a linguagem de uma forma 
ampla, que vai além da linguagem verbal, envolvendo todas as formas de 
comunicação humana, tais como: a pintura, o desenho, a poesia, a fotografia, as 
brincadeiras, as danças, as expressões corporais ou as gestuais, entre outras. 
 A linguagem da criança para com o mundo é o brincar. Jogos e 
brincadeiras de todos os tempos são passados de geração a geração pelos 
adultos e crianças, no entanto, a criança não é um agente passivo, ela é a 
protagonista dessa ação. Ela transforma os jogos e brincadeiras produzindo 
coisas novas e criando uma cultura lúdica. 
 Importante 
Atenção: Cândido Portinari foi um artista que dedicou sua vida ao registro da 
cultura de seu povo e de seu país. Nasceu em Brodowski, cidade do interior 
paulista, em 1903. Na Fazenda Santa Rosa, onde morava, observava os colonos 
trabalhando na roça e, assim, pintava coisas e pessoas do interior, exaltando a 
gente que produz e trabalha pelo país. Portinari adorava pintar crianças 
brincando e dizia: “sabem por que eu pinto tanto meninos em gangorra e 
balanço? Para botá-los no ar, feito anjos”. Portinari pintava crianças brincando 
em árvores, participando de jogos de futebol e de festas de São João. Todas 
essas imagens trazem a lembrança da vida rural do artista. Espantalhos, pipas, 
luas e estrelas são elementos recorrentes que refletem o apego à cultura rural e 
à paisagem do interior (PROJETO PARALAPRACÁ DO INSTITUTO C&A, P.12). 
 
O brincar é próprio da criança, ela nasce com desejo de brincar, com uma 
potência para brincar, mas também é uma coisa que se aprende. Se não 
ensinarmos algumas formas de brincar que aprendemos, as crianças nunca 
conhecerão essas brincadeiras, jogos e canções. A criança aprende a brincar 
pelas interações sociais e, por isso, suas brincadeiras estão impregnadas de 
valores, hábitos, formas e conhecimentos do seu grupo social. O papel do 
professor, nesse sentido, é o de ampliar esse repertório da criança, criando 
espaços, tempos e materiais que possibilitem as interações e o brincar livre. 
 
 
 
35 
 
 
Será que as crianças estão brincando na Educação Infantil? Como podemos 
possibilitar o brincar? No caderno de experiências do “Projeto Paralapracá: uma 
experiência assim se brinca”, do instituto C&A, os autores propõem alguns 
indicadores que nos possibilitam analisar como o brincar está sendo organizado 
nas instituições de Educação Infantil: 
 
a) Os brinquedos estão disponíveis às crianças em todos os momentos; 
 
b) Os brinquedos são guardados em locais de livre acesso às crianças; 
 
c) Os brinquedos são cuidados pelas crianças; 
 
d) Os brinquedos são reciclados pelas crianças e educadores; 
 
e) As rotinas da creche são flexíveis e reservam períodos longos para as 
brincadeiras livres das crianças; 
 
f) As famílias recebem orientação sobre a importância das brincadeiras 
para o desenvolvimento infantil; 
 
g) As salas onde as crianças ficam estão arrumadas de forma a facilitar 
brincadeiras espontâneas e interativas; 
 
h) Os adultos também propõem brincadeiras às crianças; 
 
i) Os espaços externos permitem as brincadeiras das crianças; 
 
j) As meninas também participam de jogos que desenvolvem os 
movimentos amplos: correr, jogar e pular; 
 
k) Demonstramos o valor que damos às brincadeiras infantis 
participando delas sempre que as crianças pedem. 
 
 
 
36 
 
3.2. E, o bebê brinca? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
E, o bebê brinca? 
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT0n0iKaQyTavI9pQfU 
av3uGFCGdcZnjsbq8ZeqqV8zgqB7UPiWGIrjU4f8B7D7S5XRpx8&usqp=CAU 
 
Curiosidade 
Faz doce, sinhá! Faz doce, sinhá Maria! Quem quiser aprender a dançar. Vá na 
casa do seu Juquinha! Quem quiser aprender a dançar. Vá na casa do seu 
Juquinha! Ele pula, ele roda. 
Ele faz requebradinha. (Da abóbora faz melão, cantiga popular). 
 
De acordo com Piaget (1974), os bebês precisam desenvolver a 
capacidade de reconhecer a existência de um mundo externo a eles. O autor 
sugere que quando a criança nasce ela não tem muita noção de estar no mundo, 
de que é apenas um objeto nesse mundo, portanto, confunde-se com o próprio 
mundo. O bebê está fortemente vinculado à sua mãe, ele não se concebe 
separado, precisa desenvolver a concepção de que o mundo se constitui de 
objetos independentes. Mas como o bebê constrói essa noção de separação? 
Um dos aspectos essenciais para que o bebê construa a sua percepção de 
mundo, é ter a autonomia de explorar esse mundo. 
Para os bebês, o brincar está intrinsicamente relacionado a explorar o 
mundo. O bebê conhece o mundo por intermédio de seu corpo, todo o 
conhecimento é obtido por meio das experiências sensoriais (visão, audição, 
tato, olfato e gustação). Quanto mais o bebê explorar o mundo, maior será o 
 
 
37 
 
número de experiências e mais acentuado será o seu desenvolvimento tanto no 
aspecto motor quanto no aspecto intelectual, emocional e comportamental. Esta 
força de exploração do bebê e da criança está ligada à vitalidade da vida, com a 
potência da criança e com o desejo que ela tem de conhecer o mundo e interagir 
com ele, dando-lhe sentido. 
Mas, o que significa ter autonomia? Segundo a Abordagem Pikler, é 
importante que o bebê se sinta seguro para experimentar livremente seus 
movimentos e os objetos para brincar. Isso significa, como já vimos na aula 
anterior, que é fundamental o vínculo afetivo entre o bebê e o professor. 
Criar e manter uma relação calorosa e responsiva que demonstre interesse, 
paciência e aceitação pelo bebê. Esse aspecto é fundamental para possibilitarque o bebê se sinta seguro em explorar a sala e os brinquedos ao redor. Se o 
bebê se sentir seguro e confiante, ele participará de forma ativa, explorando com 
todos os sentidos o ambiente ao seu redor. 
A preparação de um ambiente seguro e instigante também é fundamental 
para o brincar livre e significativo, brincar a partir de sua própria iniciativa, 
movimentando-se com liberdade, em um ambiente organizado e seguro, com 
brinquedos adequados é o que possibilita a construção da autonomia pelo bebê. 
Qual é o papel do professor nesse brincar livre? O papel do professor é 
fundamental, sem ele, o brincar livre seria impossível. O professor faz a 
mediação, apresentando o mundo ao bebê. Muitos professores não sabem o que 
fazer enquanto as crianças brincam, refugiando-se na realização de outras 
atividades, ditas produtivas. O professor que acredita na importância do brincar 
observa os bebês brincando e faz desta uma ocasião para reelaborar suas 
hipóteses e definir novas propostas de trabalho. É o professor aquele que 
organiza o tempo, o espaço e os materiais, possibilitando que o bebê possa 
explorar o mundo com independência e encantamento, que respeita o seu ritmo 
e que não interfere desnecessariamente. 
Sabemos que o trabalho com os bebês e as crianças muito pequenas dentro 
das instituições de Educação Infantil constitui-se em um desafio para muitos 
professores. Como já mencionamos anteriormente, o bebê conhece o mundo por 
meio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por intermeio das experiências 
sensoriais (visão, audição, tato, olfato e gustação). Se, por um lado o professor 
compreende que o bebê precisa explorar e experimentar e assim conhecer o 
 
 
38 
 
mundo, por outro lado, muitas vezes não sabe como organizar ações que 
possibilitem a exploração e a experimentação de maneira segura e desafiadora. 
Nesse sentido, descrevemos algumas ações que julgamos adequadas para 
o desenvolvimento integral do bebê, utilizando o brincar como linguagem. O 
cesto dos tesouros é uma proposta que tem como objetivo estimular a 
exploração sensorial do bebê. Esta atividade foi criada por Goldschmied e 
Jackson (2006), especialistas em cuidados e educação na primeira infância. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O cesto dos tesouros 
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQFplo3SSJDwA5Cpja 
bgDLsiqRiFCWZhj1E71zI8F2yFEvC-Ulph7WBSNNa0ATiwp_qwoc&usqp=CAU 
 
De acordo com os autores, o cesto dos tesouros, se for bem planejado, 
potencializa as aprendizagens por meio das descobertas que o bebê e a criança 
fazem por si próprias. As autoras sugerem que “o cesto de tesouros bem 
abastecido, oferecido por um adulto atento, pode proporcionar experiências que 
são interessantes e absorventes, capacitando o bebê a buscar uma 
aprendizagem vital para a qual ele está pronto e ansioso” (GOLDSCHMIED; 
JACKSON, 2006, p.115). 
 O professor precisa selecionar objetos com diferentes cores, texturas, 
cheiros e sabores, a fim de montar o cesto de tesouros, organizando o espaço 
de forma que as crianças tenham livre acesso aos materiais que serão colocados 
no centro da sala de referência, permitindo que os bebês se aproximem 
livremente e escolham o objeto que quiserem para explorar. 
 
 
39 
 
O papel do professor será de observar e monitorar as crianças garantindo 
que todos possam participar, sem interferir nas escolhas. A exploração deverá 
ser permitida durante o tempo que o professor considerar que as crianças 
estiverem interessadas na proposta. Essa proposta pode ser ofertada aos bebês 
várias vezes, durante vários dias, até que o professor perceba que eles perderam 
o interesse pelos objetos do cesto. Quando não houver mais interesse pelos 
objetos, o professor pode substituí-los e voltar a propor o cesto. Os itens 
sugeridos para o cesto de tesouros são: 
 
objetos naturais: limão, maça, caroço de abacate. Objetos feitos de 
materiais naturais: tapetinho de ráfia, pincel de pintura. Objetos de 
madeira: apito de bambu, colher de pau. Objetos de metal: molho de 
chaves, sinos, caneca de metal. Objetos feitos de couro, têxteis, 
borracha e pele: bola de golfe, bola de tênis (GOLDSCHMIED, 
JACKSON, 2006, p. 114). 
 
Por meio dos brinquedos e brincadeiras, os bebês e as crianças também 
podem experienciar diferentes linguagens, como musicais, poéticas, literárias, 
entre outras. Essas experiências possibilitam à criança compreender a cultura 
na qual está inserida, adaptando-se criativamente, dando-lhe sentido. As 
experiências com as linguagens oral, corporal, musical, plástica, entre outras, 
também precisam ser planejadas e intencionalmente pensadas nas propostas 
pedagógicas das instituições de Educação Infantil. 
Outra proposta que é importante destacar é a música. A professora Marcia 
Gobbi (2010, p.12) sugere que “a canção é importante como brincadeira e como 
conhecimento cultural”. De acordo com a professora, nós apresentamos nossa 
cultura para o bebê que está chegando a esse mundo para que ele possa se 
apropriar desses valores e ideias criativamente, dando-lhe sentido ao mundo que 
o cerca. Para isso, o professor deve estar atento às oportunidades de 
brincadeiras que surgem por meio das letras das canções 
É fundamental planejar as brincadeiras musicais que serão realizadas com 
antecedência. A música A Dona Aranha subiu pela parede pode se tornar uma 
brincadeira divertida. “A dona aranha subiu pela parede. Veio a chuva forte e a 
derrubou. Já passou a chuva, o sol já vai surgindo e a dona aranha continua a 
subir. Ela é teimosa e desobediente. Sobe, sobe, sobe e nunca está contente”. 
 
 
40 
 
Outra canção que os bebês e as crianças pequenas gostam muito é a 
música Indiozinho, “1, 2, 3, indiozinhos, 4, 5, 6 indiozinhos, 7, 8, 9, indiozinhos 
10 num pequeno bote. Iam navegando pelo rio abaixo”. É uma canção curta e 
simples, em que a letra sugere o movimento que deve ser feito com os dedos. 
 Canções que brinquem de esconder e achar, estão entre as brincadeiras 
prediletas dos bebês. É importante utilizar canções com letra adequada e com 
temas do universo infantil e escolher canções curtas. Para auxiliar nas canções, 
alguns instrumentos podem ser desenvolvidos e recriados no cotidiano de 
creches, por exemplo, chocalhos feitos com diferentes potes e materiais que 
produzem variados tipos de sons. 
Outro aspecto muito importante na ampliação do repertório dos bebês e 
das crianças pequenas é a leitura e contação de histórias que pode criar 
momentos de vínculo e afeto, entre o professor e a criança, além de contribuir 
para o desenvolvimento da linguagem. A contação de histórias e a leitura podem 
ser dois grandes aliados do professor na criação de espaços lúdicos, criativos e 
prazerosos. A escolha de bons livros é fundamental, o fato de o bebê não 
entender totalmente o vocabulário, não significa que podemos ler e contar 
qualquer coisa a ele. 
Diferentes autores enfatizam a importância do trabalho com o texto literário 
e da experiência dos bebês com a literatura. Para Fanny Abramovich (2010, p. 
14), ler histórias para os bebês e as crianças “[...] é poder sorrir, rir, gargalhar 
com as situações vividas pelas personagens, com a ideia do conto ou com o jeito 
de escrever de um autor e, então, pode ser um pouco cúmplice desse momento 
de humor, de brincadeira e de divertimento”. 
Finalizamos esse tema sobre o brincar, reafirmando, como muitos 
estudiosos do brincar, que a brincadeira faz parte da essência de ser criança, é 
intrínseca à infância, é cultural e é um direito. Brincar é a coisa mais importante 
que uma criança pode fazer, por isso ela estrutura seu tempo em torno dos jogos 
e brincadeiras. Muitos autores sugerem que as coisas importantes da vida, 
aprendemos enquanto bricávamos, inclusive, a maneira de nos comportar na 
sociedade, que também aprendemos brincando. 
 Não podemos encerrar esse tema sem mencionar também que o bebêconhece o mundo por meio de seu corpo, todo o conhecimento é obtido por meio 
das experiências sensoriais, portanto, o bebê necessita de liberdade de 
 
 
41 
 
movimento, de espaços seguros e de espaços aconchegantes para desenvolver-
se. 
 
 Saiba mais 
Se você quiser saber mais sobre o brincar entre no site 
http://territoriodobrincar.com.br/ e lá você vai encontrar longa-metragem, 
biblioteca, brincadeiras, vídeos, entre outros. Entre no site, veja o material e 
procure identificar as relações do brincar como experiência cultural. 
 
Conclusão da aula 3 
 
Nessa terceira aula iniciamos refletindo sobre o brincar enquanto direito 
da criança. O brincar é um elemento indispensável para a criança, inclusive, 
alguns autores indicam que o brincar é o trabalho da criança, enquanto outros 
sugerem que é por meio do brincar que a criança se apropria da cultura em que 
está inserida, adaptando-se a ela ao mesmo tempo em que a transforma. 
Vimos que diferentes pesquisadores sugerem que o conhecimento do 
bebê é construído por meio das suas experiências sensoriais (visão, audição, 
tato, olfato e gustação). Quanto mais experiências lúdicas e criativas, que 
envolvam a exploração com autonomia, maior serão suas aprendizagens e mais 
acentuado será o seu desenvolvimento. Portanto, nas instituições de Educação 
Infantil, estudamos que criar e garantir espaços seguros e desafiadores é 
fundamental para o desenvolvimento integral do bebê. 
 
Atividade de Aprendizagem 
 
Caro estudante, por que o brincar se constitui como um direito da criança? 
 
 
 
 
 
 
 
42 
 
Aula 4 - Organização da rotina 
 
Apresentação da aula 4 
 
Prezado estudante. Bem-vindo à nossa quarta aula. Iniciaremos refletindo 
sobre o planejamento como uma forma de organizar o tempo, o espaço, os 
materiais e as relações. Será que o planejamento é importante para a 
organização da rotina ou é uma mera formalidade burocrática da escola? No 
decorrer desse conteúdo abordaremos os elementos constitutivos das rotinas, 
propostos por Maria Carmem Barbosa, tais como: a seleção e a proposição das 
atividades, a organização do ambiente, a seleção e a oferta de materiais e o uso 
dos tempos. No último tópico abordaremos a ação pedagógica com os bebês e 
com as crianças bem pequenas. 
 
4.1 Planejamento 
 
Gostaria de iniciar nossas reflexões sobre o planejamento, contando uma 
história ou, melhor, um trecho do livro da Alice no País da Maravilhas. 
 
 
Para onde vai essa estrada? (Alice) 
- Para onde você quer ir? (Gato) 
- Não sei, estou perdida... (Alice) 
- Ora... para quem não sabe aonde vai, qualquer caminho serve... (Gato) 
(CARROLL, Lewis. Alice no País das Maravilhas) 
 
 
➢ O que significa planejar? 
 
Planejar é essa atitude de traçar, projetar, programar, elaborar um roteiro 
para empreender uma viagem de conhecimento, de interação, de experiências 
múltiplas e significativas para/com o grupo de crianças (OSTETTO, 2000, p. 
177). Não podemos empreender uma viagem se não sabemos aonde queremos 
 
 
43 
 
ir, como a personagem Alice, do livro Alice no País da Maravilhas. Para o 
profissional que está perdido, qualquer caminho serve. 
Não podemos assentar nossa prática pedagógica em um espontaneísmo 
ingênuo, a criança precisa de liberdade para criar, imaginar, explorar e fantasiar, 
no entanto, essa liberdade somente é possível se garantirmos espaços, tempos 
e materiais previamente selecionados e organizados. A autonomia de 
movimento, a liberdade de exploração e a garantia do brincar jamais devem ser 
entendidos como uma prática espontaneísta. 
O planejamento pedagógico também é atitude crítica do educador diante 
de seu trabalho docente. Por isso não é uma fôrma! Ao contrário, é flexível e, 
como tal, permite ao educador pensar, revisando e buscando novos significados 
para a sua prática docente (OSTETTO, 2000, p. 177). Um dos aspectos 
essenciais que refletem uma atitude crítica do professor é a compreensão de 
que o pedagógico perpassa todas as ações: limpar, lavar, trocar, alimentar e 
colocar para dormir. Tudo isso é pedagógico, não existe conteúdos melhores ou 
piores. Quando se planeja a jornada pelo qual o bebê e a criança pequena irão 
passar na creche, tudo o que for proposto, todas as mediações que serão 
realizadas e todas as ações que serão propostas são pedagógicas. Ainda hoje, 
muitos profissionais creem que questões pedagógicas dizem respeito a 
trabalhos específicos, como: pintar, colar, aprender os números, entre outros. O 
sono, a alimentação, a escovação de dentes, o trocar fraldas e o amarrar o tênis, 
tudo isso é conteúdo da Educação Infantil, portanto, necessitam fazer parte do 
planejamento. 
 Segundo Vygotsky (1988), a criança se desenvolve no e com o mundo 
em uma relação dialética mediada pela atividade, pelos símbolos e pelas outras 
pessoas. De acordo com essa perspectiva, planejar é organizar o tempo, o 
espaço e os materiais, desafiando os bebês e as crianças a construir relações 
significativas entre elas e a cultura que estão inseridas. O papel do professor é 
fazer a mediação entre o legado cultural construído pela humanidade, 
desafiando a criança a novas descobertas, ao conhecimento e à transformação 
da sua cultura. 
Então, o que se planeja? Planeja-se a organização do espaço do tempo 
dos materiais e das relações. Planeja-se a rotina. Mas, o que é uma rotina? De 
acordo com o dicionário online de Português, rotina é uma sequência dos 
 
 
44 
 
procedimentos e dos costumes habituais. Em outras palavras, o modo como se 
realiza alguma coisa, sempre da mesma forma: rotina matinal, itinerário e 
caminho habitual. Se assumirmos somente essa definição de rotina, corremos o 
risco de compreendermos esse modo de ser e de organizar nossas vidas como 
algo inquestionável. 
Conforme Barbosa (2000), “uma das características das rotinas 
pedagógicas é o fato de elas conterem a ideia de repetição, de algo que resiste 
ao novo e que recua frente a ideia de transformar” (P.62). Assim sendo, a rotina 
tem um caráter de padronização, todos os dias as coisas acontecem da mesma 
forma e no mesmo horário. 
O perigo de uma rotina rígida e autoritária é que pode se distanciar das 
necessidades dos bebês e das crianças. Nosso desafio na Educação Infantil é o 
de problematizar essa rotina, se por um lado os costumes habituais, aquilo que 
se faz todos os dias, devem ser entendidos como parte da rotina, por outro lado, 
“as rotinas são produtos culturais criados, produzidos e reproduzidos no dia a 
dia, tendo como objetivo a organização da cotidianidade” (BARBOSA, 2006). 
Se as rotinas são produtos culturais, cabe aos profissionais da educação 
questioná-las, modificá-las ou substituí-las se perceberem que no seu fazer 
cotidiano não funcionam mais. Kramer, que pesquisa a infância e dedica-se à 
formação de professores, vai além, sugere que as rotinas impostas às crianças 
devem ser sempre apresentadas para que elas compreendam os porquês de 
certas regras, aprendendo também a modificá-las ou criar novas (KRAMER, 
1993). A rotina é importante e deve existir, porém deve ser discutida, elaborada 
e criada por todos os interlocutores envolvidos na sua execução. Nesse sentido, 
entendemos que a rotina é construída e reproduzida para organizar e controlar 
a vida cotidiana, nessa perspectiva, é possível refletir sobre novas maneiras de 
organizar o tempo, o espaço, os materiais e os grupos, e, ao mesmo tempo, 
pensar sobre a formas como são proporcionados os encontros entre as crianças. 
 
4.2 Organização do tempo, espaço e materiais 
 
➢ O ambiente 
 
 
45 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
O ambiente 
Fonte: https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRb4GDFybtpGxtpJfd4 
N4mbU_R_KZ98sZ8a5m47rVHyPWaLROsOCbReL29R3O_kQ7qPvKs&usqp=CAU 
 
Ambientes intencionalmente preparados contribuem para o 
desenvolvimento e aprendizagens dos bebês. Os ambientes

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