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EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 1 Tutorial 5 – mod XI - Os pequenos doces de Tália Talassemias + Leucocitose e Leucopenia Talassemias - São desordens hereditárias que tem como característica básica a deficiência na síntese de cadeias da globina. - Seu aspecto clínico é muito variável, podendo ter pacientes assintomáticos até a anemia grave, deformidade dos ossos, destruição acelerada de células vermelhas. - A talassemia só foi descrita no ano de 1925 por um pediatra- Thomas Cooley- que descreveu a síndrome em uma criança descendente de italianos caracterizada por anemia profunda, esplenomegalia e deformidades ósseas. - Há vários tipos de talassemias, e elas são classificadas de acordo com o tipo de cadeia globínica deficiente. Os tipos mais conhecidos são as beta-talassemias (deficiência na produção de cadeia beta) e as alfa- talassemias (deficiência na produção de cadeia alfa). 1. BETA TALASSEMIAS - É a forma mais comum de talassemia no Brasil, sendo a terceira hemoglobinopatia registrada (menos prevalente que a anemia falciforme e a hemoglobinopatia SC). - A prevalência do gene para a talassemia é bem mais elevado nas áreas de colonização italiana (São Paulo e Região Sul), sendo que a maioria dos pacientes é descendente de italianos ou gregos e também negros. - Mundialmente a doença se concentra nos países do Mediterrâneo. Mas também é identificada com certa frequência no norte da África, em países do Oriente Médio e nos negros dos EUA. Mecanismos Genéticos - Caracterizada por uma diminuição ou ausência na síntese de cadeias β globina, sendo que o gene defeituoso apresenta mutações pontuais (trocas, acréscimos ou deleção de nucleotídeos). - O gene de cadeia β globina está presente no cromossomo 11, juntamente com os genes das outras cadeias globínicas não alfa (cadeia delta ou dulta e cadeia gama). Sendo assim, os genes dessas 3 cadeias compõem o chamado halótipo (grupo de genes) do grupamento β-globínico. - Sendo assim, existem pelo menos 200 tipos de mutações envolvidas com as β-talassemias, embora apenas cerca de 20 delas correspondam por 80% de todos os casos mundiais. - Essas diversas mutações só podem determinar 2 tipos de genes beta-talassemicos: (1) Gene β0: gene totalmente incapaz de produzir cadeia beta (2) Gene β+: gene que produz uma pequena quantidade de cadeia beta, mas inferior ao normal. - Dentro do gene β+ existe subtipos que podem produzir mais ou menos cadeia beta (ex: o gene β+ do mediterrâneo produz menos cadeia beta do que o gene β+ africano. - Sendo assim, os possíveis genótipos que podem ser encontrados são: β/ β (indivíduo normal), β0/ β0 e β+/ β+ (indivíduos homozigotos), β0/ β+ (duplo heterozigoto), β0/ β e β+/ β (heterozigotos). - Indivíduos homozigotos não produzem nenhuma cadeia β. Já indivíduos duplo heterozigotos apresentam pouquíssima síntese de cadeia = Beta talassemia major (Anemia de Cooley). - Indivíduos heterozigotos = Beta talassemia minor (Ou Traço Talassêmico). - Indivíduos homozigotos para o gene β+/ β+ = Beta talassemia intermediária FISIOPATOLOGIA - Quando a cadeia beta está em quantidade reduzida ou ausente nas células eritróides, há diminuição na síntese de hemoglobina → Microcitose, Hipocromia e anemia. - Além disso, sobram cadeias alfa no citoplasma do eritroblasto, sendo que as cadeias alfas livres são completamente insolúveis e precipitam no citoplasma da célula, promovendo efeito tóxico e destruindo eritroblastos na própria medula óssea gerando a Eritropoese ineficaz. Sendo assim, na beta talassemia, poucos eritroblastos escapam e os que sobrevivem formam hemácias deformadas, microcíticas e hipocrômicas, promovendo a suscetibilidade à hemólise extravascular. - Além disso, a eritropoese ineficaz acaba estimulando a absorção intestinal de ferro, ocorrendo uma hemossiderose (ou hemocromatose) mesmo na ausência da reposição de sulfato ferroso → Hemocromatose eritropoiética. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Beta Talassemia Major (Anemia de Cooley) - O tipo mais clássico irá se desenvolver no gene homozigoto para β0/ β0. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 2 - A ausência completa, ou quase completa de cadeia beta permite a formação de uma quantidade expressiva de complexos de cadeia alfa que irão provocar destruição celular. Como dos 3-6 meses de idade a Hb predominante é a HbF (cadeias alfa e gama), não há necessidade de cadeia beta, por isso não há como “sobrar” cadeias alfa, uma vez que elas se ligam a cadeia gama. - A partir dessa idade então, a doença se instala com anemia grave (Hb entre 3 e 5 g/dL), icterícia, proliferação e maturação de eritroblastos (hiperplasia eritroide) gerando grande expansão da medula óssea levando a clássicas deformidades ósseas talassêmicas (proeminência dos maxilares, aumento da arcada dentária superior com separação dos dentes e bossa frontal). - Além disso, como as reservas metabólicas são utilizadas para suprir a necessidade de eritrócitos, há outras funções afetadas como o crescimento e a resposta imunológica. - Sendo assim, há baixa estatura, disfunção endócrina, inanição e suscetibilidade a infecções. - Pela hemólise crônica as crianças talassemicas estão sujeitas à litíase biliar e a úlceras maleolares. - Hepatoesplenomegalia: achado clássico. Isso ocorre devido a hemólise crônica e pela eritropoese extramedular- baço e fígado retomam sua produção de células eritroides como na vida fetal. - No RX de crânio é possível observar expansão medular com alargamento de cortical, alargamento da cavidade medular e o “hair-on-end”. - A hipertransfusão regular podem evitar as complicações acimas citadas, permitindo o crescimento adequado e uma qualidade de vida razoável por pelo menos até os 15- 17 anos de vida. Além disso há importante redução da hepaesplenomegalia. - Porém essas hemotransfusões regulares durante longos anos leva a uma sobrecarga de ferro no organismo gerando 🡪 Hemocromatose Transfusional. - Na hemocromatose transfusional há ferro acumulado em diversos órgãos e tecidos, provocando morte celular e disfunções orgânicas. Os órgãos mais afetados são: fígado, sistema endócrino, pele e coração. Isso promove agravamento da hepatoesplenomegalia, coloração bronzeada da pele, hipogonadismo, DM e ICC refratária. O paciente geralmente vem a falecer devido a arritmias cardíacas ou falência cardíaca. O início precoce com o quelante de ferro aumenta a sobrevida. Laboratório - Anemia grave: microcítica e hipocrômica. - VCM entre 48-72 fL - CHCM entre 23-32 g/dL - Hiperbilirrubinemia indireta, aumento do LDH, redução da haptoglobina, reticulose (o nível é menor que o esperado para a gravidade da anemia, pois a anemia não é exclusivamente pela hemólise. Fica em torno de 5-15%). - Pode haver leucocitose neutrofílica - Plaquetometria normal. - Esfregaço de sangue periférico: ansiopoiquilocitose (predomínio de hemácias microcíticas e hipocrômicas), hemácias em alvo, presença de eritroblastos. - Hiperplasia eritroide exagerada. - Fragilidade osmótica das hemácias em alvo está reduzida (diferente do que ocorre em microesferócitos). Beta-Talassemia Intermedia - É um quadro mais brando do que a descrito na anemia de Cooley, pois esses pacientes possuem produção intermediária de cadeia beta normal pelos seus eritroblastos. - O diagnóstico geralmente é feito na adolescência ou na fase adulta. - São indivíduos cronicamente anêmicos, com a Hemoglobina entre 6-9g/dL (hematrócrito entre 18-27%), deformidades ósseas características, icterícia intermitente, episódios de litíase biliar recorrente e esplenomegalia moderada. - O crescimento e o desenvolvimento e fertilidade estão preservados. - A absorção de ferro intestinal também está aumentada (3-10 vezes em relaçãoao normal), pelo mecanismo semelhante a talassemia major. - Os sinais e sintomas da hematomacrose só aparecem após os 30 anos, e não ser quando é prescrito sulfato ferroso indevidamente ao paciente. - Os achados laboratoriais são idênticos aos da beta talassemia major, o que muda é apenas o grau de anemia. Beta- Talassemia Minor - É uma entidade benigna, sendo que o médico não deve confundir a talassemia minor com a anemia ferropriva. - Esses pacientes são heterozigotos. (β+/ β ou β0/ β). - Também é chamada de Traço talassêmico. - Se 2 indivíduos com talassemia minor tiverem prole, a chance de terem um filho com beta-talassemia major ou intermediaria é de 25%. 25% de nascer normal e 50% de nascer com traço talassêmico. - O risco maior de talassemia major na prole está presente se ambos os pais forem heterozigotos para β0 ou um dos pais tiverem 0 e o outros β+. - O risco de talassemia intermediaria ocorre quando ambos os pais têm o gene β+. - Esses pacientes são assintomáticos, sendo que geralmente a anemia é descoberta acidentalmente pelo hemograma. Alguns pacientes apresentam anemia discreta (Hb menor que 10g/dL) e outros nem apresentam anemia. Há microcitose (VCM entre 60-75 fL), Hipocromia (HCM entre 18-21 pg), sangue periférico com hemácias em alvo e pontilhado basófilo. DIAGNÓSTICO EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 3 - Exame padrão ouro: Eletroforese de Hb. - Esse exame irá quantificar proporcionalmente os tipos de Hb presentes no homogeneizado de hemácias do paciente. - Nas beta-talassemias haverá pouca ou ausência de cadeia β, e as outras cadeias não-alfa se sobressaem (HbA2 e HbF). O percentual de HbF depende do grau de deficiência da cadeia beta. TRATAMENTO Beta- Talassemia major - Hipertransfusão crônica: controle da hiperplasia eritroide desordenada, pois retira o estímulo anêmico à produção renal de eritropoietina, além de fornecer hemácias com Hb normal (HbA). Essa hipertransfusão é feita a cada 3-5 semanas com o objetivo de manter a Hb média em 12g/dL e mínima de 10g/dL. - Para reduzir reações hemolíticas e febris, o Banco de Sangue dá preferência a sangue de doadores da mesma etnia. - Com esse tratamento as crianças recuperam o crescimento e o desenvolvimento, reduzindo riscos de infecções e controlando a hepatoesplenomegalia, ou seja, há uma melhora na qualidade de vida e redução da mortalidade, sendo que elas chegam a adolescência sem muitos problemas. - Reposição de ácido fólico. - Esplenectomia: recomendável sempre que as necessidades de transfusão aumentam em mais de 50% em um ano ou ultrapassem 200 ml/Kg/ano. Toda criança candidata deve ter no mínimo 6-7 anos de idade e deve estar imunizada para pneumococo, hemófilo tipo B e meningococo. - Efeitos adversos da terapia: hemocromatose. Por isso faz-se terapia com quelante de ferro- Deferoxamina. - A avaliação da sobrecarga de ferro deve ser feita através da dosagem de ferritina, ferro sérico e saturação da transferrina e quantificação do ferro no parênquima hepático. A ferritina sérica deve permanecer abaixo de 1000 ng/mL. - Transplante alogênico de medula (células tronco): Tem excelentes resultados na beta talassemia major quando indicada corretamente. Indicada em crianças sem hepatomegalia e fibrose periportal ou com hepatomegalia OU fibrose periportal, quando há os dois juntos não é indicado. Beta-Talassemia Intermedia e Menor - Beta-talassemia intermedia: acompanhamento para uma avaliação contínua de sintomas, funções cardíacas e sobrecarga de ferro. Reposição de ácido fólico. - Muitos pacientes, mesmo sem hemotransfusão podem evoluir para hemocromatose (por aumento da absorção intestinal de ferro). - Hemotransfusão indicada para sintomáticos e para aquele com sinais de ICC. A terapia com quelante de ferro está indicada quando a ferritina sérica é superior a 1000 ng/mL. - A talassemia minor não exige tratamento, somente orientação e aconselhamento genético com estudo de mutações do casal para não ter filhos com talassemia. 2 – ALFA-TALASSEMIAS - Tem elevada prevalência em localidades no sudeste da Ásia e na China, e em populações originárias da costa oeste da África (negros). Também pode ser encontrada esporadicamente na Índia, Oriente Médio, Itália, Grécia e Nordeste da Europa. No restante dos países essa doença é rara e é encontrada principalmente em descendentes asiáticos. Mecanismos Genéticos - Há 4 genes da cadeia alfa de globina dispostos no cromossomo 16, sendo 2 alelos em cada braço cromossomial. - Enquanto que as beta talassemias ocorrem por mutações pontuais qualitativas nos genes beta as alfa- talassemias decorrem de deleção de um ou mais genes alfa. - O genótipo normal dos 4 genes alfa é apresentado por: αα/αα. - Sendo assim há apresentação de varrições desse genótipo: (1) αα/α_ (1 deleção): carreador assintomático (2) αα/__ (2 deleções): alfa-talassemia minor heterozigótica (3) α_/α_ (2 deleções): alfa-talassemia minor homozigótica (4) α_/__ (3 deleções): Doença de HbH (5) __/__ (4 deleções): Hidropsia fetal. - O alelo α0 (representado por __) é uma deleção de ambos os genes alfa do braço cromossomial. - O alelo α+ (representado por α_) é uma deleção de apenas um gene alfa no braço cromossomial. - Os sintomas da doença só irão se manifestar a partir de 3 deleções. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS Hidropsia fetal - Representa a ausência completa de cadeias alfa e é incompatível com a vida extrauterina. O resultado será um natimorto ou um nascimento de bebê com hidropsia fetal que é muito fatal. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 4 - A única cadeia que pode substituir a alfa fica exclusiva da vida intrauterina. A partir da vida extrauterina é necessário a cadeia alfa para a síntese de HbF (α2γ2). - Sem nenhuma cadeia α, há formação de um tetrâmero de cadeias gama → Hb Barts. - Essa nova Hb é muito ávida ao oxigênio, não sendo possível a entrega corre do gás para os tecidos. Isso gera hipóxia, falência cardíaca e edema fetal (Hidropsia). Doença da HbH - A ausência de 3 genes permite o nascimento da criança sem maiores problemas, mas com a presença de anemia. Isso gera hemólise extravascular moderada e eritropoese moderada eficaz. - Os pacientes chegam a fase adulta sem necessidade de hemotransfusão. Apresentam esplenomegalia, anemia moderada microcítica e hipocrômica. - A sobra de cadeias beta NÃO possui efeito tóxico grave, formando então um tetrâmero de cadeias beta denominada de HbH. Alfa-Talassemia Minor - Pacientes assintomáticos, mas com microcitose e Hipocromia. - VCM de 72 fL - CHCM de 31 g/dL. DIAGNÓSTICO - Eletroforese de Hb: confirma diagnóstico de Hidropsia fetal mostrando Hb Barts e ausência de HbA. Diagnostica também a HbH. - A alfa-talassemia é mais difícil de diagnosticar. Além da eletroforese, confirma o diagnóstico pelo exame de síntese de alfa globina reticulocitária por estudo ou mapeamento genético. TRATAMENTO - Só está indicado em casos de Doença da HbH (observar indicações para hemotransfusão, quelação de ferro e esplenectomia, além de reposição de ácido fólico). Leucocitose e Leucopenia - A contagem periférica normal de glóbulos brancos (CGB) varia entre 4.500/μL e 10.000/μL, com uma média de 7.500 /μL e é composta de neutrófilos, linfócitos, monócitos, basófilos e eosinófilos. - Os neutrófilos representam cerca de 60% dos leucócitos periféricos, portanto uma alteração na contagem de glóbulos brancos reflete na elevação ou na redução da contagem absoluta de neutrófilos. - Leucocitose: CGB aumentada. - Leucopenia: CGB diminuída. - Ambas podem ser secundárias a doenças subjantes, exposição a medicamentos ou manifestações de distúrbios hematológicos primários. Neutrófilos - Os neutrófilosse originam das células progenitoras multipotentes na medula óssea 🡪 os percursores dos neutrófilos na medula amadurecem em 6-10 dias para formar um pool de armazenamento de neutrófilos maduros. - Juntas, a população medular constitui cerca de 95% do total da massa de granulócitos do corpo. Sendo assim, apenas 5% dos neutrófilos são circulantes, sendo que em dado momento mais da metade sofre aderência no endotélio vascular do baço e gera um fenômeno chamado de marginalização. - Esses neutrófilos marginais são posicionados para liberação imediata na circulação durante momentos de estresse. - Os neutrófilos podem sobreviver no sangue por 6-12 horas e nos tecidos de 1-4 dias. - A neutrofilia ocorre geralmente por aumento da produção medular, aumento da liberação de neutrófilos do grupo de armazenamento ou mobilização de neutrófilos do grupo marginal. - A neutropenia pode resultar da diminuição da produção do aumento na marginação com ou sem sequestro pelo baço ou pelo aumento da destruição de células periféricas. Neutrofilia - Geralmente ocorre por reação ou secundária a processos inflamatórios subjacentes. - Pode ser causada por infecção, inflamação crônica, estresse, drogas, neoplasias não hematológicas, estimulação da medula (hemólise), ou após esplenectomia. - As causas primárias (idiopáticas) de neutrofilia podem ser congênitas (neutrofilia hereditária, síndrome de down, EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 5 deficiência de adesão leucocitária) ou adquiridas (leucemia mieloide crônica). Neutrofilia secundária: causas - Infecções: principalmente infecções bacterianas agudas que gera leucocitose discreta com “desvio à esquerda”, ou seja, há circulação de células mieloides imaturas. Esse desvio geralmente se relaciona com a liberação de um número maior de bastonetes - Inflamação crônica: ocorre aumento na produção de leucócitos (principalmente neutrófilos e monócitos) em oposição à alteração na distribuição de neutrófilos. Geralmente os neutrófilos maduros são depletados com a inflamação e o setor mieloide da medula se expande para aumentar a produção neutrofílica. - Grande quantidade de citocinas (TNF-α, G-CSF, IL-1, IL- 6, IL-8) estão envolvidos na estimulação medular. - As doenças inflamatórias são: artrite reumatoide juvenil, artrite reumatoide, doença de Still, Doença de Crohn, colite ulcerativa, infecção granulomatosa e hepatite crônica. - Tabagismo: Pode causar leucocitose e neutrofilia em cerca de 25-50% dos fumantes crônicos. - Estresse: após minutos de exercício, cirurgia ou estresse observa-se uma elevação no número de neutrófilos circulantes. Isso ocorre devido aos efeitos das catecolaminas sobre os neutrófilos marginais que liberam neutrófilos para a circulação. - Alguns desses casos podem ser prevenidos com antagonistas adrenérgicos-beta (ex: propranolol). Com exceção da induzida por exercício que não ocorre efeito. - Induzida por medicamentos: Corticoesteroides, beta agonistas, lítio (promove elevação da produção endógena de fatores estimulantes de colônia). Tratamento com G- CSF também resulta em neutrofilia, embora esse seja o efeito desejado (mas não muito pronunciada). - Malignidades não hematológicas: Tumores (pulmão, língua, rins, bexiga) que secretam G-CSF como um fator de crescimento hematopoético ectópico. - Estímulo da Medula: destruição periférica de hemácias e plaquetas (anemia hemolítica e púrpura trombocitopênica idiopática). Neutrofilia Primária: causas - Neutrofilia Hereditária: doença genética autossômica dominante caracterizada por contagem elevada de leucócitos (20.000-100.000/μL), com esplenomegalia. Os neutrófilos param de funcionar normalmente e os pacientes apresentam risco aumentado de infecção bacteriana. - Neutrofilia Idiopática Crônica: leucocitose na faixa de 11.000-40.000/μL com biopsia normal da medula óssea. - Anomalia de Pelper-Huet: Há um aparente desvio à esquerda, mas na verdade são neutrófilos maduros. Apesar do paciente não ter de fato uma leucocitose, essa alteração errônea traz suspeita de infecções agudas ou processo inflamatório. Isso se deve a uma mutação genética que mostra os neutrófilos com a cromatina condensada e aglomerada com núcleo bilobulado. Esses neutrófilos, porém, funcionam normalmente. - Pode ser induzida por fármacos como a Sulfa, Ibuprofeno. - Pode ter piora dessa condensação quando há deficiência de alguma vitamina. - Síndrome de Down: 10% dos pacientes com a síndrome desenvolvem doença mieloproliferativa transitória (DMT) que se relacionada com leucocitose de sangue periférico com blastos e acumulo de megacarioblastos. - Deficiência de Adesão Leucocitária: Presença de leucocitose, defeitos de ativação de neutrófilos dependentes de estímulos e infecções recorrentes. - Urticária Familiar ao Frio: presença de febre, leucocitose, urticária, eritema, conjuntivite, dor a palpação da pele e músculos quando em exposição ao frio - Leucemias Mieloides Crônicas e outros distúrbios mieloproliferativos (Policitemia Vera, Trombocitocitemia essencial): principais distúrbios primários adquiridos associados a neutrofilia. Caracterizado pela expansão clonal de precursores mieloides e aumento da liberação de células mieloides imaturas e maduras no sangue periférico. - Pós-plenectomia: pode ocorrer leucocitose devido à perda de um importante local de marginação neutrofílica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS E DIAGNÓSTICO - Geralmente sintomas de infecção, mas na ausência de febre, derrames, edema ou outros sinais e sintomas de inflamação pode ser secundária a uso de fármacos ou neoplasias não hematológicas. - Hemograma. - Esfregaço de sangue periférico. - Faz-se avaliação da medula óssea apenas quando todas as hipóteses acimas estão descartadas. Neutropenia - Definida como contagem absoluta de neutrófilos (CAN) abaixo de 1.500/μL. Contagem abaixo desse número podem ter diferentes taxas e riscos de infecções dependendo da causa da doença, principalmente quando há baixa reserva de neutrófilos medular (ex: falência de medula óssea, exaustão da medula óssea). - A neutropenia pode ser reflexo de baixos números de neutrófilos circulantes com reserva neutrofílica baixa ou normal. - O risco de infecções na neutropenia é altamente dependente do tamanho do grupo de armazenamento de neutrófilos. - Pode ser congênita ou adquirida. Neutropenia primária: causas EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 6 - Neutropenia Étnica ou Benigna Familiar: observada em grupos étnicos (afro-americanos, judeus iemenitas, judeus falasha, beduínos africanos). A faixa de normalidade da contagem de neutrófilos é geneticamente determinada e pode ser variável. - Neutropenia benigna sem nenhum risco de infecções. - Neutropenia congênita severa: distúrbio de neutropenia grave com contagem de neutrófilos abaixo de 500/μL, apresenta-se no período neonatal com infecções bacterianas recorrentes. - Neutropenia Cílica: caracterizada como períodos de neutropenia (abaixo de 200/μL) que duram de 3-5 dias e ocorrem em intervalos de aproximadamente 21 dias. Pode ocorrer então febre recorrente, feridas na boca, infecções na pele, trato respiratório superior e orelhas. Diagnóstico feito com contagens sanguíneas a cada 2-3 semanas ou sequenciamento do gene elastase neutrofílica. Ela é tratada com sucesso com G-CSF. - Outras Síndromes congênitas: Síndrome de Shwachman-Diamond, Anemia de Fanconi, Disqueratose congênita, doença de armazenamento de glicogênio Ib, mieloatexia, síndrome de Chediak-Higashi, Síndrome de Grisceli II e Síndrome de Hermansky Pudlak II. Neutropenia secundária: causas - Relacionada a infecção: infecções por varicela, sarampo, rubéola, hepatite A e B, vírus Epstein-Barr, influenza, parvovírus, citomegalovírus, HIV- Neutropenia induzida por droga: A neutropenia induzida por droga é a causa mais comum de neutropenia. Geralmente ocorre após 1-2 semanas após a exposição à droga. - Alguns medicamentos: dipirona, captopril, metimazol, quinidina, ranitidina, penicilina G, oxacilina, rituximabe, dapsona, sulfassalazina etc. - Neutropenia Imune: Ocorre devido a ação de anticorpos (IgG) que atuam contra antígenos específicos dos neutrófilos. Pode ser primária (mais comum em crianças) ou secundária (mais comum em adultos) sendo essa última associada a doenças secundárias como LES, artrite reumatoide, granulomatose de wegner etc. Curso autolimitado da doença. Raramente se usa G-CSF só em casos de infecções graves. - Neutropenia por deficiência nutricional: principalmente B12, folato, cobre, gerando mielopoiese ineficaz 🡪 anemia megaloblástica. - Neutropenia Idiopática crônica. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - A neutropenia em si não é associada a muito sinais clínicos e sintomas, mas ela se torna evidente quando resulta em alguma infecção. - Pacientes com CAN abaixo de 1.000 μL apresentam risco leve de infecções, enquanto o risco se agrava muito em pacientes com neutrófilos abaixo de 500/μL. - Por essa falta de neutrófilos os sinais e os sintomas das infecções podem estar atenuados, mas a febre geralmente sempre estará presente. DIAGNÓSTICO - Anamnese (principalmente saber quais fármacos o paciente usa) + Exame Físico (febre). - Hemograma - Esfregaço de sangue periférico: elevação de bastonetes e evidência de granulação tóxica. - Analisar níveis de B12 e folato - Avaliar tamanho do baço (esplenomegalia). - Em pacientes com neutropenia crônica na ausência de histórico de infeções ou deficiência de vitaminas: exame da medula óssea. TRATAMENTO - O manuseio da neutropenia depende da etiologia da diminuição da contagem de leucócitos, gravidade, presença de febre e infecções. - A neutropenia febril é uma emergência clínica: risco de choque séptico: deve-se avaliar minuciosamente o paciente e iniciar antibioticoterapia (ciprofloxacina), antifúngicos e antivirais. - Neutropenia afebril: - Pacientes com neutropenia imunomediada são tipicamente tratados com terapia imunossupressora (corticoides, globulina anttimocítica ou ciclosporina) - Pacientes em geral: G- CSF (Fator de estimulação de colônia de granulócitos). - Pacientes com neutropenia congênita: G-CSF durante anos. - Neutropenia inflamatória, infecciosa ou induzida por fármacos: tratar condição subjacente e suspender medicação. - Muitas diretrizes recomendam o uso profilático de G-CSF em pacientes que estão recebendo quimioterapia que tem chances de desenvolver uma neutropenia febril. Além disso, é recomendada para uso durante recebimento de transplante hematopoiético de células tronco para pacientes com linfoma não Hodgkin, quimioterapia ou histórico de neutropenia febril. - O transplante de medula óssea pode ser curativo para uma série de neutropenias congênitas, mas é reservado apenas para pacientes com neutropenia grave e complicada por infecções recorrentes mostrando estar em falência medular. Linfócitos Linfocitopenia - Definida como a contagem linfocítica do sangue periférico < 1500/mm³, mas a linfocitopenia grave é considerada quando se tem < 700 linfócitos/mm³. EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 7 - A produção e tráfego de linfócitos são de difícil avaliação, pois tanto os LT quanto os LB se replicam em locais anatômicos heterogêneos, incluindo linfonodos, baço, amídalas e medula óssea. Além disso, os linfócitos são capazes de sair e reentrar em determinado compartimento → por isso a contagem de linfócitos no sangue periférico é estreitamente regulada 2000- 4000/mm³. - A linfocitopenia pode ocorrer por: produção reduzida de linfócitos, anormalidades no tráfego de linfócitos e perda da destruição de linfócitos. 1. Produção reduzida de linfócitos - Causa mais comum de produção reduzida de linfócitos no mundo é a desnutrição proteico-calórica → alta incidência de infecção em populações desnutridas. - Radiação e agentes imunossupressores – agentes alquilantes e globulina antimócitos – podem induzir linfocitopenia por lesionarem o pool progenitor e inibir a replicação de células mais bem diferenciadas - Imunodeficiência linfocitopênica congênita → deficiência seletivas dos LB e LT ou deficiências combinadas → os mecanismos pelos quais a produção e maturação dos LB e LT são impedidas são heterogêneos e pouco definidos. - Vírus: certos vírus são capazes de induzir a linfocitopenia → alguns desses agentes infectam células linfoides, causando sua destruição. Ex: sarampo, pólio, varicela zoster, HIV. 2. Alterações no tráfego linfocítico - Redistribuição do tráfego é comum e representa com maior frequência as respostas transitórias a diversos eventos estressantes, incluindo infecções bacterianas, cirurgias, traumas e hemorragias 🡪 provável que essas respostas ocorram medicadas por altos níveis de GC endógenos que induzem declínios rápidos nos níveis circulantes de LB e LT 🡪 resposta linfocitopênica ao esteroide resulta num deslocamento autolimitado de linfócitos para fora do compartimento do sangue periférico. - Certos vírus também podem unir as populações linfocíticas e fazem com que saiam do compartimento sanguíneo e rumem para outros locais. 3. Aumento da destruição dos linfócitos - Infecções virais ou anticorpos antilinfócitos – especialmente em pctes com doenças autoimunes ou reumáticas subjacentes – aumentam a destruição de linfócitos. - Também pode ocorrer por defeitos estruturais em locais de tráfego – Ex: fístulas do ducto torácico – Nesses pctes tanto os LT quanto LB diminuem no sangue periférico. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS - Não existem manifestações clínicas específicas da linfocitopenia 🡪 podem ocorrer exibição de sinais de deficiência imunológica pelo pcte, mas isso dependerá da fisiopatologia do distúrbio, duração da doença, tipo de linfócito afetado, intactilidade dos tecidos nodais e grau em que a imunidade celular ou humoral está funcionalmente perturbada. Monócitos - Monócitos: são células maiores que os demais leucócitos, tem núcleo grande, central, oval e endentado com cromatina aglomerada. Monocitose - Aumento na contagem de monócitos acima de 0,8 x 109/L. - Causas listadas: infecções bacterianas crônicas (tuberculose, brucelose, endocardite, febre tifoide), doença do tecido conectivo (LES, artrite temporal, artrite reumatoide), infecções por protozoários, neutropenia crônica, Doença de Hodgkin, leucemia mielomonocítica crônica, tratamento com G-CSF Eosinófilos - Se assemelham aos neutrófilos, exceto pelos grânulos citoplasmáticos que são bem maiores e com 3 lobos nucleares. Eles penetram em exsudatos inflamatórios e têm papel especial em respostas alérgicas, na defesa contra parasitos e na remoção da fibrina formada durante a inflamação. - São produzidos, maturados e reservados na medula óssea a partir da estimulação da célula progenitora por IL- 5. Nos tecidos sobrevivem 48h e sofrem apoptose. Eosinofilia - Aumento de eosinófilos no sangue acima de 0,4 x 109/L. - Causas: citadas na tabela. - Se a contagem se mantiver alta (acima de 1,5 x 109) durante mais de 6 meses, deve-se associar a dano tecidual: Síndrome Hipereosinofilica. - Pode haver danos a válvulas cardíacas, pele e pulmões. - Tratamento: esteroides ou fármacos citotóxicos. Eosinopenia - Representam reações ao estresse e ao uso de glicocorticoides. - Comum encontrar na prática clínica Basófilos - Existem no sangue periférico normal em porcentagens muito baixa em relação aos demais leucócitos. Tem numerosos grânulos citoplasmáticos escuros encobrindo o núcleo e contem heparina e histamina. Nos tecidos se transformam em mastócitos.Sua desgranulação libera histamina. - Habitam pele e submucosa do aparelho respiratório, digestivo, urinários, proximidade de nervos, linfáticas e arteriais. Basofilia EMANUELA HANNOFF PILON – MEDICINA 202 8 - Aumento dos basófilos do sangue acima de 0,1 x 109 /L. - Geralmente é incomum. - Causa geral: leucemia mieloide crônica ou Policitemia Vera. - Pode ser observado uma basofilia reacional no mixedema, na varíola, varicela e na colite ulcerativa. Aplicações clínicas de G-CSF - A administração de G-CSF pode ser por via intravenosa ou subcutânea e produz aumento de neutrófilos circulantes (neutrofilia). - Na clínica, a forma de G-CSF de curta ação exige dose diária, e a de longa ação (PEG) pode ser administrada a cada 7-14 dias. - Indicações: (1) Após quimioterapia, radioterapia e transplante de células tronco: aceleram recuperação granulocítica. (2) Leucemia mieloide aguda: ação de diminuir infecções e tempo de internação e uso de antibióticos. (3) Mielodisplasia: ação de melhorar a função da medula óssea sem acelerar a transformação leucêmica. (4) Linfomas: ação de diminuir infecções, retardo da administração de quimioterapia. (5) Neutropenia severa: congênitas e adquiridas (neutropenia cíclina, induzida por fármacos) (6) Infecção grave (7) Coleta de células tronco do sangue periférico: ação de aumentar o número de progenitores multipotentes circulantes e facilitar a coleta de número suficiente de células tronco para transplante.
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