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Júlia Demuner - MED XXIX Leucocitoses e Leucopenias - Hoffbrand, cap.8 e Zago, cap.85 As respostas de leucócitos podem ser de elevação (leucocitoses) ou de diminuição (leucopenias) , em relação à faixa de normalidade para idade e sexo (que deve ser sempre consultada para cada faixa etária na infância). Desvio à Esquerda O desvio à esquerda é um termo usado para descrever a presença de granulócitos imaturos na circulação sanguínea, como blastos, promielócitos, mielócitos, metamielócitos, incluindo os bastonetes, quando estes estiverem em quantidade aumentada , ou seja, acima do valor de referência. É utilizado pois a sequência maturativa das células granulocíticas ocorre da esquerda para a direita, do mieloblasto ao neutrófilo maduro, logo, quando há um aumento de células imaturas no sangue periférico, isso indica um desvio para a esquerda. Observado com frequência em quadros reacionais em que há aceleração e maior liberação de neutrófilos da medula óssea, como as reações infecciosas . Desvio Escalonado No desvio à esquerda escalonado, as células imaturas aparecem no sangue periférico em uma sequência organizada e mantêm a proporção hierárquica de maturação , assim, a porcentagem de células mais imaturas é menor do que a de células maduras sucessoras , por exemplo, a presença de 3% de mielócitos, 4% de metamielócitos, 5% de bastões e 70% de segmentados é um desvio à esquerda escalonado. 13 Júlia Demuner - MED XXIX Neutrófilos Deve-se lembrar que a produção de neutrófilos responde à lógica de estímulos periféricos que determinam a necessidade de produção medular e que esses neutrófilos abandonam a medula óssea para seguir para os tecidos de onde partiram os estímulos. Esses estímulos são representados por mediadores inflamatórios (não necessariamente infecciosos) como exo e endotoxinas e citocinas. Neutrofilia O aumento de neutrófilos ( > 7.000/μL ) pode ocorrer em decorrência de doenças primárias hematológicas ou não hematológicas, devendo seu valor diagnóstico sempre ser avaliado no contexto clínico. Entretanto, a neutrofilia não resulta, necessariamente em manifestações clínicas específicas, embora em casos de neutrófilos em número exageradamente aumentado (leucocitoses extremas, em número >100.000/μL) possam induzir dano vascular e tecidual por leucostase. As principais causas de neutrofilia são: - infecções bacterianas ; - inflamação e necrose tecidual; - doenças metabólicas; - gestação, estresse , uso de drogas. Neutropenia A neutropenia também é avaliada segundo os valores de neutrófilos (bastonetes/segmentados) circulantes, pode ser mensurada como neutropenia quando < 1.000/ μL ou, numa condição mais extrema, como agranulocitose quando < 500/μL. Muitos achados de neutropenia podem ser transitórios (em crianças e idosos), associados à ingestão deficiente de folatos , a situações de infecção ou de necessidade de produção neutrofílica medular urgente . Há de se ressaltar, também, as neutropenias observadas no alcoolismo, em situações de estresse medular inflamatório e na corticoterapia . Eosinofilia Essa população celular de granulócitos eosinofílicos, estreitamente produzida em resposta à secreção de Interleucina 5 (IL-5), é comumente relacionada a respostas imunes do sistema TH2 , sendo fonte principal da produção de IL-4 e geradora de IgE. A eosinofilia ( > 450μL ) ocorre, muitas vezes, na dependência da ação de linfócitos T. A secreção de IL-5 resulta em eosinofilia em várias doenças (parasitárias, imuno-alérgicas e neoplásicas), embora outras citocinas estejam envolvidas na diferenciação final dos eosinófilos. Dentre as doenças hematológicas que cursam com eosinofilia, a leucemia mieloide crônica e os linfomas Hodgkin são as mais comuns. Basofilia O aumento nos basófilos no sangue é incomum , sendo a causa geralmente associada a neoplasia mieloproliferativa, como leucemia mieloide crônica ou policitemia vera. Linfócitos As linfocitoses ( > 4.000/μL ), consideradas segundo a idade (valores absolutos normais são mais altos em crianças), bem como as linfopenias ( < 1.000/μL ) devem ser sempre avaliadas, em primeira instância, sob dois grandes pontos de vista: reacionais ou tumorais . 14 Júlia Demuner - MED XXIX Linfocitose Dentre as causas de linfocitoses reacionais mais observadas na prática médica de rotina, as síndromes mononucleósicas (e suas variações) têm papel expressivo, bem como quadros de coqueluche . Linfocitose é comum em lactentes e em crianças jovens em resposta a infecções que produzem reação neutrófila nos adultos. Em caso de linfocitose sustentada, deve-se seguir a busca de monoclonalidade , com caracterização de marcadores de superfície em citometria de fluxo, para confirmação de doença linfoproliferativa de baixo grau (como leucemia linfóide crônica). A observação de linfocitose obriga-nos a caracterizar os seguintes parâmetros clínico-laboratoriais: - quadro clínico (presença de doença ou achado fortuito no hemograma); - características citológicas ao hemograma (tamanho, forma, citoplasma, cromatina, nucléolos, pleomorfismo ou monomorfismo das células linfoides), que indiquem grau de maturação ou transformação antigênica; - busca ativa de dados clínicos que possam caracterizar a doença em questão. Linfopenia A linfopenia ( < 1.000/μL ), excluídas as causas herdadas, pode ocorrer na insuficiência grave da medula óssea , com tratamento com corticosteroides ou outros imunodepressores, no linfoma de Hodgkin avançado e após irradiação sistêmica. Também ocorre durante tratamento com alentuzumabe (anti-CD52) e em várias síndromes de imunodeficiência, das quais a mais importante é a infecção por HIV. Monócitos A monocitose (em adultos) é definida por contagens de monócitos superiores a 800 céls./mm3, e a monocitopenia, por sua vez, por contagens de monócitos inferiores a 80 céls./mm3. A monocitose e monocitopenia raramente são anormalidades isoladas e não são isoladamente patogênicas Monocitose A ocorrência de monocitose sempre deve implicar a distinção entre condição reativa ou neoplásica , ressaltando-se que, uma vez que sua função primordial é fagocitar e apresentar antígenos, deve-se primeiramente abordar doenças em que haja estado neutropênico associado , ou seja, uma espécie de vicariância monocítica. É pouco comum o aumento da contagem de monócitos < 800μL . As principais condições que causam monocitose são: infecções bacterianas crônicas (tuberculose, brucelose, endocardite bacteriana, febre tifoide), doenças do tecido conectivo (lúpus eritematoso sistêmico, arterite temporal, artrite reumatoide), infecções por protozoários e neutropenia crônica . Monocitopenia A monocitopenia < 80μL pode ser observada em doenças da célula-tronco , como a aplasia de medula óssea (anemia aplástica) sendo marcante, pela frequência em tricoleucemia , na qual é um dos achados diagnósticos. Além dessas ocorrências, a monocitopenia pode também ser observada após uso de glicocorticóides e pós-diálise (neste caso, retornando a níveis normais em algumas horas). 15
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