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FUNDAMENTOS DE 
GEOPOLÍTICA
Autoria: Sidelmar Alves da Silva Kunz
Indaial - 2020
UNIASSELVI-PÓS
 2ª Edição
CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito
Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC
Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090
Copyright © UNIASSELVI 2020
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri
 UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
Reitor: Prof. Hermínio Kloch
Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol
Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: 
Carlos Fabiano Fistarol
Ilana Gunilda Gerber Cavichioli
Jóice Gadotti Consatti
Norberto Siegel
Julia dos Santos
Ariana Monique Dalri
Marcelo Bucci
Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais
Diagramação e Capa: 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
K96f
 Kunz, Sidelmar Alves da Silva
 Fundamentos de geopolítica. / Sidelmar Alves da Silva Kunz. – 
Indaial: UNIASSELVI, 2020.
 141 p.; il.
 ISBN 978-65-5646-022-2
 ISBN Digital 978-65-5646-014-7
1. Geopolítica. - Brasil. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.
CDD 327.1011
Sumário
Apresentação .................................................................................5
CAPÍTULO 1
As Bases que Fundamentam o Campo de Estudo
da Geopolítica ................................................................................7
CAPÍTULO 2
Geopolítica dos Conflitos Étnico-Nacionalistas
e Separatistas em Face aos Desafios Mundiais
no Século XXI ..............................................................................55
CAPÍTULO 3
A Posição do Brasil na Geopolítica Mundial ...........................99
APRESENTAÇÃO
A Geopolítica, como campo de estudo e enquanto disciplina, carece de com-
preensão de seus fundamentos para que se possa realizar uma prática pedagó-
gica de ensino-aprendizagem condizente com o desenvolvimento de capacidades 
e habilidades que possibilite a apreensão dos fenômenos geopolíticos mundiais. 
Para isso, esta obra tem por finalidade ser capaz de instrumentalizar teórico-
-metodologicamente para os estudos geopolíticos e ao exercício da práxis peda-
gógica, entendendo a Geopolítica como um campo de estudo da Geografia, como 
um saber geográfico que possibilita uma abordagem interdisciplinar.
Nesse sentido, esta obra, ao longo de seus três capítulos, faz a cobertura 
dos conceitos da Geografia Política e da Geopolítica, buscando situá-los em seus 
recortes espaço-temporais. Além disso, é abordado também o campo de estudo 
da Geopolítica, assim como as teorias e as categorias de análise. Nesse sen-
tido, é lançado um olhar para a organização do espaço mundial e as suas re-
percussões atuais em termos de conjugações de conflitos étnico-nacionalistas e 
separatistas, tais como os conflitos árabe-israelense, no Cáucaso, nos Bálcãs e 
os conflitos africanos. Trataremos ainda da questão basca, da questão curda, da 
questão da palestina e do fundamentalismo islâmico. Esses aportes nos ajudarão 
a compreender a “nova ordem mundial” e os desafios mundiais no século XXI, ce-
nário em que o Brasil possui um lugar na geopolítica mundial. E, aproveitaremos 
para verticalizar interpretações acerca desse lugar ocupado pelo Brasil na geopo-
lítica hodierna.
Bons estudos!
Professor Sidelmar Alves da Silva Kunz
CAPÍTULO 1
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O 
CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA
A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 Saber: Diferenciar o conceito de Geopolítica e de Geografi a Política, o campo 
de estudo da Geopolítica, as principais abordagens teóricas, metodológicas e 
categorias de análise.
 Fazer: Compreender através dos instrumentos teóricos-metodológicos e das 
categorias de análise como o estudo da Geopolítica auxilia o entendimento 
da ordem mundial e serve para vislumbrar futuros cenários de reordenamento 
global.
8
 Fundamentos de Geopolítica
9
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
1 CONTEXTUALIZAÇÃO
Neste capítulo, vamos abordar a conformação do campo de estudo da Ge-
opolítica. Entre outros aspectos para alcançar os fundamentos da geopolítica, se 
faz necessário situar a Geopolítica na discussão entre a geografi a e a política 
e como essas duas áreas estabelecem uma abordagem interdisciplinar. Em um 
primeiro momento, essas discussões são tratadas pela Geografi a Política, e mais 
adiante, pela Geopolítica – enquanto campo de estudo situado como subárea no 
interior da Geografi a. 
A distinção entre os dois campos de estudo não é simples e tampouco deve 
ser visto como oposição, mas se torna produtivo no âmbito científi co, pois existem 
contribuições signifi cativas da Geografi a Política à Geopolítica. Nesse sentido, 
aprofunda-se o entendimento dos dois campos, seus pontos de aproximações e 
divergências e os principais aportes de suas teorias à construção de um conheci-
mento para explicar como os fenômenos geográfi cos e políticos inferem a dinâmi-
ca entre os países no âmbito internacional.
A compreensão da Geopolítica como campo de estudo perpassa, então, 
pelo entendimento de seus aportes teórico-metodológicos. Em razão disso é 
feita uma revisão das principais teorias Geopolíticas, buscando situar as con-
tribuições dos distintos autores para a compreensão de fenômenos geográfi cos 
e políticos desde a conformação deste campo de estudo. Esse conhecimento é 
dividido em uma Geografi a dos “Estados-maiores” e a Geografi a dos professo-
res. Em síntese, se tem um conhecimento que é tratado e produzido por meio 
do Estado e sua ação política internacional e um outro produzido no âmbito dos 
pesquisadores universitários. 
Para compreensão dos fenômenos geopolíticos, aprofundamos o debate 
acerca das categorias de análise da Geopolítica, distinguindo inicialmente o que 
são categorias de análise e sua importância para compreensão de objetos cien-
tífi cos. Nesse contexto, evidencia-se a categoria Estado e sua inter-relação com 
outras categorias vinculadas a outras áreas ou subcategorias da Geografi a. Bus-
ca-se elucidar a inter-relação entre Estado e o desenvolvimento do capitalismo 
para apreender as mudanças ocorridas histórico e geografi camente na dinâmica 
econômica e política internacional e na determinação da ordem mundial. Entende-
-se que é a partir do estudo dessa categoria aliada a outras categorias ou subca-
tegorias, através da análise do sistema capitalista que é possível a compreensão 
dos fenômenos geopolíticos modernos e contemporâneos.
10
 Fundamentos de Geopolítica
Sugerimos que você acesse a Revista Franco-Brasileira de 
Geografi a (CONFINS), sobretudo o artigo do professor Wanderley 
Messias da Costa, intitulado Projeção do Brasil no Atlântico Sul: 
geopolítica e estratégia, no site https://journals.openedition.org/
confi ns/ 9839?lang=pt.
2 O SURGIMENTO DO CAMPO DE 
ESTUDO DA GEOPOLÍTICA E SEUS 
FUNDAMENTOS: DETERMINISMO X 
POSSIBILISMO
A Geopolítica é um campo de estudo interdisciplinar cujas origens de sua base 
epistemológica estão calçadas nas áreas das Ciências Sociais Aplicadas (Direito e 
Economia), das Ciências da Terra (Geologia), nas Ciências Humanas (Sociologia, 
História, Geografi a e Ciências Políticas), sobretudo nas Relações Internacionais. 
Esse campo de estudo interdisciplinar encontra na Geografi a (Física e Humana) os 
fundamentos para explicar como os fenômenos geográfi cos infl uem nas políticas e 
nas relações entre países, e assim se consolida como um campo de conhecimento 
da Geografi a a partir do século XIX. Desse modo, se insere como um dos campos 
de estudo da Geografi a que visa compreender o papel da Geografi a nas relações 
de poder no âmbito da ordem mundial (relações internacionais).
Isso signifi ca buscar entender a relação entre os processos políticos, o papel 
dos territórios e sua organização espacial enquanto tensão na confi guração de 
uma determinada ordem mundial.Nesse sentido, a base epistemológica do pen-
samento Geopolítico está assentada como uma ciência, sobre a qual a produção 
de conhecimento dela gerada, a isso inclui a práxis pedagógica, pode se refl etir 
em conhecimentos que impactam a reformulação do pensamento social e os pro-
cessos sociais, espaciais, territoriais, políticos e econômicos.
Distintos foram os autores ao longo da evolução humana que pensaram o 
papel do meio geográfi co ou a dimensão espacial para estruturação da ordem po-
lítica e social. Martin, Castellar e Martins (2004) afi rmam que Aristóteles (384-322 
a.C.) já assinalava a existência de um vínculo estreito entre a Ciência Política e a 
Geografi a, sobretudo buscando compreender a localização e o tamanho do terri-
11
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
tório no âmbito de uma cidade-Estado. Isso fi ca mais evidente na obra Geografi a, 
de Estrabão de Amásia (63 a.C.-21 d.C.), um tratado com 17 livros, que visa servir 
de inspiração e como instrumento para as ações realizadas pelos governantes da 
polis. Seu pensamento é fortemente infl uenciado pelo confl ito entre os povos gre-
gos e romanos, no qual resulta no domínio romano na região (Grécia). Estrabão 
pretendia realizar um relato detalhado sobre as características de cada território 
(DESERTO; PEREIRA, 2016). Por conta de sua contribuição aos estudos territo-
riais, Estrabão é reconhecido como o precursor da Geografi a Humana, com rele-
vante infl uência equiparada à contribuição do astrônomo Cláudio Ptolomeu aos 
estudos de orientação e localização geográfi ca que resultam em conhecimento 
sobre coordenadas geográfi cas (latitudes e longitudes). 
No entanto, o período da Idade Média se consolida como um momento na 
história em que o conhecimento geográfi co que foi produzido pelos gregos e ro-
manos deixa de ter aplicação em razão da queda do Império Romano no Ocidente 
e a conformação de um sistema feudal – uma propriedade territorial dotada de 
autonomia por conter uma estrutura política, econômica, social e cultural própria. 
Um olhar mais atento à infl uência da Geografi a na organização social surge no 
fi nal da Alta Idade Média, no século XII, Alberto Magno (1206-1280), com base em 
seu conhecimento geográfi co vislumbra a criação do Canal de Suez. É o período 
que antecede o Périplo Africano (séc. XV e séc. XVI), as rotas marítimo-comercial 
da Europa visando encontrar um caminho para índias. Esse é o início das grandes 
navegações, por isso a retomada dos estudos cartográfi cos para fi ns de navega-
ção ganha maior relevo neste período. 
Na Idade Moderna, Montesquieu (1689-1755), ao tratar o pensamento ge-
ográfi co, estabelece uma correlação entre clima e comportamento humano, isso 
quer dizer, entre a geografi a física e humana. Aspectos estes analisados para o 
entendimento do “espírito das Leis” que regem cada sociedade. Mas não há um 
aprofundamento no tema, pois o foco de Montesquieu era compreender a natu-
reza do Estado ou das Leis e os modos para se atingir e sustentar o poder. É a 
partir de suas observações que vem a ideia de que os povos situados nas zonas 
tropicais apresentam menor predisposição ao trabalho em comparação aos povos 
das zonas temperadas e frias, pelos efeitos do calor nos trópicos. 
Essa visão eurocêntrica tem um forte elemento geopolítico e no 
contexto da práxis pedagógica deve ser explicitada. Não cabe numa 
visão crítica de ensino-aprendizagem a reprodução dos processos 
de dominação cultural. A geopolítica, antes de tudo é mediada pela 
relação entre espaço e poder, que se manifesta nos processos 
12
 Fundamentos de Geopolítica
de dominação cultural e por isso é fundamental traçar uma visão 
decolonialista. Nesse sentido, há que se perguntar a que ordem 
mundial serve o conhecimento abordado, que consequências ele 
provoca no processo pedagógico de ensino-aprendizagem. 
2.1 O SABER GEOGRÁFICO E A 
GEOPOLÍTICA
Martin, Castellar e Martins (2004) explicam que é por conta do entendimento 
sobre o processo de dominação cultural, a respeito do uso do pensamento geo-
gráfi co estratégico alemão para ampliação do domínio territorial, que a geopolítica 
demora para se consolidar enquanto disciplina na França. Ao passo que na Su-
écia, Alemanha, Estado Unidos, Inglaterra e Japão esse pensamento já estava 
formulado. Contrários a essa ideia, os franceses criticaram o peso maior dado ao 
fator ambiental no desenvolvimento das sociedades e o risco que a noção de “es-
paço vital” de Ratzel – entendida como a ausência de espaço de um determinado 
povo, no caso, alemão – por representar uma aspiração expansionista territorial. 
É preciso situar também o contexto histórico em que essa disciplina surge, no fi nal 
do século XIX e se amplifi ca nos meados do século XX em meio ao processo de 
expansão do sistema capitalista a sua fase monopolista, mediada pela atuação 
de “multinacionais” e de expansão imperialista em busca de novos mercados e 
fontes de matéria-prima. 
Cabe, antes de tratar do contexto “disciplinar” de cada uma das abordagens, 
assinalar que a construção e aplicação do saber geográfi co é feita como um me-
canismo de poder. Isso está presente na obra Geografi a Política e Geopolítica, de 
Wanderley Messias da Costa (2016), e Ives Lacoste (2012), precursor da corrente 
da Geografi a Crítica na França, através de seu livro “A Geografi a – isso serve, em 
primeiro lugar, para fazer a guerra”. Lacoste (2012) questiona qual o papel da Geo-
grafi a para a sociedade e se ela tem corpus de ciência. A Geografi a em sua concep-
ção é um saber estratégico, visto como uma ferramenta de poder atrelado às ações 
do Estado e militares. Desse modo, a Geopolítica seria o cerne da Geografi a. 
“Serve em primeiro (embora não apenas) para fazer a guerra, ou seja, para 
fi ns político-militares sobre (e com) o espaço geográfi co, para produzir/reproduzir 
esse espaço com vistas (e a partir) das lutas de classe, especialmente como exer-
cício do poder” (LACOSTE, 2012, p. 8). 
13
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
Ainda como um aporte, Lacoste é o precursor da revista Herótode, cujo pri-
meiro exemplar tinha como título Estratégias – Geografi as – Ideologias. Heródoto, 
considerado o “pai da história”, também foi um geógrafo, pois descreveu a relação 
e os confl itos de Atenas com outros países e não apenas a sua história (LACOS-
TE, 2012). A denominação da revista abre uma importante discussão a respeito 
dos estudos espaciais e territoriais ao longo da história. Se consolida pela sua de-
dicada contribuição da Geografi a a uma abordagem Geopolítica multidisciplinar. 
Dentro desse espectro amplo, Lacoste (2012) explica que de um lado há uma 
geografi a aplicada no âmbito acadêmico e cultural, e uma outra, atrelada à atu-
ação dos Estados e das grandes corporações do sistema capitalista. A geografi a 
praticada como poder de Estado é mais antiga, em comparação a que se concebe 
enquanto ciência, esta última surge no século XIX. 
Lacoste (2012) incita que os pesquisadores e professores ajam de modo es-
trategista ao pensar o espaço para poder intervir de modo mais efi caz. Isso signifi -
ca a construção de uma “geopolítica dos dominados”, como um ato de resistência 
aos processos de dominação, ou seja, situar o político como eixo central da abor-
dagem geográfi ca. 
Mas não se trata da política e sim do político. Não o indivíduo 
que se ocupa profi ssionalmente dessa atividade e sim o proces-
so, o fenômeno ou o enigma do político enquanto experiência 
fundante do social-histórico e, dessa forma, também do espacial 
(ao menos na sociedade moderna) (LACOSTE, 2012, p. 9).
Para Lacoste (2012), a Geografi a teria como razão de ser a ciência que me-
lhor apreende o mundo a fi m de mudá-lo, na qual o espaço é estudado objetivan-
do agir nele de modo mais profícuo. No entanto, a sua noção de espaço geográ-
fi co se limita a “aquilo que pode ser mapeado, colocadosobre a carta, delimitado, 
portanto, com precisão sobre o terreno e defi nido sobre a carta cartográfi ca” (LA-
COSTE, 2012, p. 9). 
Vesentini, no prefácio a sua obra (LACOSTE, 2012), estabelece críticas ao 
pensamento lacostiano, por conceber que a ênfase dada ao cartográfi co limita a 
análise do campo político, escamoteia a luta de classes e simplifi ca a “geografi a 
dos professores”. Além de não se ater às relações existentes entre sujeito-objeto 
e do processo histórico de construção do saber e da prática que fi ca oculto diante 
de uma noção de geopolítica tão abrangente. O peso dado ao papel das cartas 
cartográfi cas produzidas pelos agentes hegemônicos, a exemplo dos Estados dos 
países centrais e das instituições de poder.
Para avançar no conhecimento sobre a Geopolítica é preciso antes compre-
ender a aproximação e a diferenciação entre Geopolítica e Geografi a política, vi-
14
 Fundamentos de Geopolítica
sando estabelecer pontos comuns e divergências entre as abordagens. Nesse 
sentido, buscar-se-á situar as duas abordagens geográfi cas no interior da Geo-
grafi a, correlacionando-as com as escolas determinística e a possibilista.
2.2 A GEOGRAFIA POLÍTICA E A 
GEOPOLÍTICA: DISTANCIAMENTO 
OU APROXIMAÇÃO ENTRE OS DOIS 
CAMPOS DE ESTUDO?
Toma-se como ponto de partida para a discussão a frase: “a política de um 
Estado está na sua geografi a”, atribuída a Napoleão Bonaparte” (VESENTINI, 
2003, p. 1), cuja inspiração tem origem em Montesquieu e na sua vivência en-
quanto militar. A referida frase traz à luz algumas questões sobre o campo da 
Geopolítica e a Geografi a Política e da relação dicotômica entre determinismo e 
possibilismo. Isso quer dizer que as condições geográfi cas passam a ser conside-
radas como uma importante variável para as políticas de Estado, sobretudo nas 
relações internacionais. Mas buscar situar e enquadrar a relação entre espaço, 
poder e território não é uma tarefa simples, pois existem possíveis diferenças e 
pretensas oposição (VESENTINI, 2003). 
O determinismo pode ser entendido como uma concepção em 
que o homem se apresenta como produto do meio ou das condições 
que determinam pontos fundamentais para as relações na sociedade. 
O possibilismo reporta a ideia de totalidade com esforço em prol do 
mapeamento das densidades e do gênero de vida.
Apesar de não ver utilidade em distinguir a geografi a política da geopolíti-
ca, Costa (2016, p. 18) descreve que em geral a geografi a política é entendida 
como “o conjunto de estudos sistemáticos mais afetos à geografi a e restritos às 
relações de poder entre os Estados, questões relacionadas à posição, situação, 
características das fronteiras etc.” A geopolítica compreende “a formulação das 
teorias e projetos de ação voltados às relações de poder entre às estratégias de 
caráter geral para os territórios nacionais e estrangeiros” (COSTA, 2016, p. 18). 
15
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
Logo, situa que seu aporte se sustenta nas ciências políticas aplicadas, tendo 
uma característica mais interdisciplinar e de ação. 
Costa (2016) explica que existem dois contextos no âmbito da produção de 
conhecimento no campo da geopolítica. Um marcado pela infl uência dos proces-
sos vinculados à política dos Estados e da estrutura e desenvolvimento das rela-
ções internacionais que atinge as perspectivas civil e militar, pacífi ca e belicosa. 
Daí a relação entre a evolução do constructo científi co mediado pelas conjunturas 
políticas e sociais. Isso limita a circunscrição dessa produção de conhecimento 
em um corpus teórico-metodológico que apresente uma sequência lógica e histó-
ria de sua trajetória. Ainda nessa mesma linha, há um segundo contexto atrelado, 
ascendência geográfi co-política, disso confi gura que cada estudo realizado pe-
los pesquisadores está “relacionado ou não aos objetivos determinado Estado ou 
grupo de Estados, mas de todo modo produzindo uma geografi a política marcada 
por seu contexto político e territorial” (COSTA, 2016, p. 16). 
Tendo essas perspectivas como ponto de partida, Costa (2016) diz ser ne-
cessário ter cuidado ao se utilizar de “leis gerais” ou “pensamento universal” em 
geografi a política. Em geral, os textos visam suplantar ao contexto espaço-tempo-
ral em que estão submetidos, considerando que “o maior dos riscos a ser evitado 
é o de caírem prisioneiros de suas próprias fronteiras” (COSTA, 2016, p. 16, grifo 
do original). Isso se acentua porque a geografi a política trata da política de Esta-
do (política territorial do Estado), cuja relação intrínseca com a materialidade não 
pode ser limitada a uma ótica abstrata. 
Nessa ótica, para além de outras atribuições, a geografi a tem uma função 
nada fácil “de examinar e interpretar os nodos de exercício do poder estatal na 
gestão dos negócios territoriais e a própria dimensão territorial das fontes e das 
manifestações do poder em geral” (COSTA, 2016, p. 17). Há também um outro 
aspecto, a produção de conhecimento no âmbito do Estado, pois os estudos são 
realizados nos seus aparelhos estatais, cuja fi nalidade é o desenvolvimento de 
políticas públicas territoriais. Mas a Ideologia de Estado envolve inúmeros atores, 
que por isso não deve ser enquadrada em uma única dimensão (COSTA, 2016). 
Logo, a delimitação do escopo de ação da geografi a política é descrita como sen-
do estatal-nacional, mesmo se lida com temas internacionais.
Há na literatura geográfi ca uma discussão entre geografi a política, entendi-
da a partir da visão determinística, vinculada aos elementos naturais como fator 
de estabelecimento das condições sociais. E da geopolítica como sendo a base 
de uma visão possibilista, em que o ambiente natural funciona como um meio 
contido de possibilidade para atuação humana, sem incidir na evolução das so-
ciedades, pois o homem é o agente de transformação do processo geográfi co. É 
dessa perspectiva que a visão possibilista estabelece a relação homem-natureza. 
16
 Fundamentos de Geopolítica
Vesentini (2003) apresenta as possíveis diferenças entre geografi a política e geo-
política, bem como discute a pretensa oposição entre uma abordagem determinis-
ta e uma abordagem possibilista. 
Por que é importante esclarecer a relação dicotômica entre de-
terminismo e possibilismo para entender a geopolítica? Num primeiro 
olhar seria para poder situar a Geopolítica em seu campo de estudo. 
Contudo, buscar enquadrar de modo fechado a Geopolítica, sem en-
tender as contribuições da Geografi a Política e da abordagem de-
terminística é encobrir a produção científi ca da Geografi a construída 
ao longo dos séculos XIX e XX, os processos que estão envolvidos, 
as relações de poder que estão contidas nas discussões epistemo-
lógicas e os saberes produzidos e suas infl uências nas práticas te-
órico-metodológicas do ensino de Geografi a, e sua relação com as 
políticas de Estado.
2.3 ENTENDENDO O CAMPO DE 
ESTUDO DA GEOPOLÍTICA POR 
MEIO DA DISCUSSÃO ENTRE 
DETERMINISMO E POSSIBILISMO
Cabe situar a origem da abordagem determinística como base do pensamento 
geográfi co alemão, a partir de Friedrich Ratzel, e a abordagem possibilista tendo 
como referência sua etimologia francesa fundamentada nas ideias de Lucien 
Febvre e Paul Vidal de La Blache. É preciso situar a contribuição de Ratzel ao 
retomar os estudos espaciais da política em 1897, por meio da obra Politische 
Geographie. Segundo Vesentini (2003), essa obra cria uma forte contestação 
dos franceses à tese de vinculação entre o “solo” e o Estado, em especial do 
historiador-geógrafo Paul Vidal de La Blache, que publicou suas críticas à “escola 
geográfi ca determinística germânica” nos Annales de géographie, em 1898. Costa 
(2016) situa a contribuição de Camille Vallaux com sua obra O Solo e o Estado, 
publicada em 1910, na qual critica Ratzel e situa a contraposição do possibilismo 
ao determinismo no âmbito da geografi a política. Sua crítica é metodológica, por17
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
considerar a teoria do Estado Orgânico, mas que ao menos essa visão trazia 
o meio para discussão na relação com o Estado. Assim, considera que era 
necessário separar os fenômenos sociais e naturais (COSTA, 2016). O cerne 
da questão é a relação de dependência do Estado do “solo” (enquanto espaço 
físico, território) e a ideia de que o desenvolvimento do Estado tinha relação com 
a expansão territorial. Daí a noção de um determinismo limitado elaborado por 
Ratzel, cunhado pelos franceses sobre a Geografi a Política alemã. 
O alemão Friedrich Ratzel, com sua obra, foi de grande 
importância para a sistematização da Geografi a moderna, pois 
desenvolveu uma das formulações pioneiras de um estudo geográfi co 
especialmente direcionado à discussão dos problemas humanos, o 
qual chamou de Antropogeografi a. Seu estudo teórico, com grande 
caráter interdisciplinar, teve a preocupação principal de entender 
as diversas formas de circulação de pessoas e bens materiais; 
a difusão e a distribuição dos povos sobre a superfície terrestre; a 
infl uência das condições naturais sobre o comportamento humano, 
que culminariam no determinismo; as formações do território, e 
intimamente ligada a estas, a dimensão política da relação homem-
natureza” (SOUZA et al., 2016, p. 44).
A ideia de uma relação antagônica entre determinismo e possibilismo foi in-
troduzida por Lucien Febvre na obra La Terre et l´evolution humaine, publicada 
em 1922. Mas essa associação deve ser refl etida com base na construção do sa-
ber geográfi co, por meio de dois contextos de sua formação. Um primeiro momen-
to em que se constrói um conhecimento denominado de “geografi a dos Estados-
-maiores”, voltado aos interesses dos Estados, como forma de estabelecimento 
de poder, cuja origem data da idade antiga (LACOSTE, 2012). Seja ele através da 
dominação cultural exercida pelas representações cartográfi cas e do saber espa-
cial enquanto estratégia de poder. 
E uma segunda via de conhecimento, edifi cado no âmbito acadêmico, a qual 
Lacoste (2012) denomina de “geografi a dos professores”. Esse constructo teórico 
surge no século XIX e se manifesta como um discurso ideológico que não dialoga 
com as práticas políticas, estratégias de domínio territorial militar, e com as tomadas 
de decisões econômicas. Nesse sentido, furta-se tratar os mecanismos de poder 
que se confi guram as análises espaciais. A “geografi a dos professores” é vista ini-
18
 Fundamentos de Geopolítica
cialmente com essa limitação, por não atender a uma práxis pedagógica, de ocultar 
o saber geográfi co como mecanismo de poder, esfera de ação e uma forma política. 
Por isso, tem-se a ênfase dada ao aspecto descritivo e não analítico dessa ciência e 
da “geografi a dos professores” até a primeira metade do século XX. 
De acordo com Lacoste (2012), é Elisée Reclus (1830-1905) o precursor de 
uma geografi a pujante na França, não Vidal de la Blache. Mas é Vidal de la Bla-
che quem infl uencia a “geografi a dos professores”. No entanto, não se faz uma re-
fl exão epistemológica a partir de problemáticas geográfi cas. Isso passa a ocorrer 
com a aproximação da Geografi a a estudos interdisciplinares com a sociologia e 
a economia por meio de Pierre George. A principal contribuição de La Blache foi 
contrapor ao pensamento Ratzeliano e sua abordagem “determinística”, através 
dos estudos da descrição regional, em que situa o processo histórico de atuação 
humana em relação aos dados naturais, numa visão que se “aproxima” da abor-
dagem possibilista do constructo geográfi co. Essa é a crítica que se faz ao seu 
pensamento, apesar de inserir a questão histórica, há uma relação de dependên-
cia dos fatos humanos dos fatos físicos.
Em contrapartida, Elisée Reclus, nas obras O homem e a terra e Geografi a 
Universal já tratava das questões sociais, políticas e econômicas, que incluíam 
temas sobre as cidades e as indústrias. Lacoste (2012) assinala que os avanços 
nas Ciências Sociais e na História se deram muito mais em razão da luta de clas-
ses. E é nesse sentido que a Geografi a deve perfi lhar. Há que se entender que o 
argumento geográfi co não é neutro, pois recai em políticas e ideologias. Assim, a 
geografi a “dos estados maiores” se atenta para a dimensão política; e a “geogra-
fi a dos professores” de base francesa negligencia essa dimensão, sendo apenas 
inserida nas discussões da Geografi a Humana a partir dos anos de 1950. 
Para contrapor a ênfase dada à historicidade dos fatos, Lacoste (2012) cria 
a noção de geografi cidade para situar que temas são tidos como centrais para 
análise e estudo de fenômenos geográfi cos. No âmbito da “geografi a dos profes-
sores” alemã, o tema das questões políticas e de estratégia militar são pontuados 
desde Ratzel e o início do século XX. Na França, a Geopolítica apesar de não ser 
explicitada no pensamento “geográfi co dos professores” no início do século XX, 
sobretudo aborda os aportes de Vidal de la Blache, este último aborda o tema 
nos Annales de géografhie (1898) e na obra A Franca de Leste (Lorena-Alsácia)
em 1916. Neste último livro, La Blache faz a descrição do Quadro, que dá conta 
de várias questões que remetem a cidade, o papel das distintas burguesias urba-
nas, os mecanismos variados de industrialização, o modo como se originam os 
capitais e as áreas que ocorrem investimentos, abarcando aspectos sociais e as 
relações entre classes. O ponto-chave é o tratamento dado à geopolítica e aos 
militares. Apesar disso, não há por parte de La Blache uma atenção maior desses 
temas no constructo geral da produção de conhecimento, em especial se analisa-
do os Princípios de geografi a humana (1921). 
19
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
Lacoste (2012) atribui a Lucien Febvre a concepção de geografi cidade e a 
infl uência dessa visão na comunidade acadêmica, a partir da obra A terra e a evo-
lução humana, introdução geográfi ca à história (1922). É Febvre quem constrói as 
proposições teóricas do possibilismo. Propõe uma “geografi a humana modesta” 
que não trate dos temas políticos e militares; não aprofunde as questões sociais e 
econômicas; e deixe de lado uma análise sobre as cidades. Esse posicionamento 
que contrapõe os avanços que Reclus e La Blache já tinham alcançado, insti-
tuindo um pensamento geográfi co mais estrito ainda, mas esse pensamento está 
de acordo com o domínio que os historiadores tinham acerca da questão política 
sobre os Estados.
Jaen Brunhes contrapõe a abordagem de Febvre através da obra Geografi a 
da história, geografi a da paz e da guerra (1921), que dialoga com a obra de Rat-
zel. Mas Febvre adota a frase de La Blache: “a geografi a é a ciência dos lugares 
e não a dos homens” para refutar a aproximação do pensamento dos sociólogos 
e dos economistas nas discussões espaciais da geografi a (LACOSTE, 2012, p. 
117). Com isso, seu pensamento ganha maior proeminência no ambiente acadê-
mico. É nesse contexto que a “geografi a dos professores” até os anos de 1960 
não avança sobre os temas centrais da geopolítica (ação e poder). 
Lacoste (2012) mostra a contradição ao citar que mesmo não abordando a 
questão política e militar na geografi a universitária francesa, as cartas cartográfi -
cas foram elaboradas para atender a tais demandas de poder. Esse afastamento 
em primeiro plano tem relação com o elo entre os geógrafos universitários, o go-
verno e o Estado-maior. Mas, sobretudo, pela questão expansionista e racista da 
Geopolítica alemã. 
É em meio a esse contexto que se funda o debate da Geografi a Política e 
da Geopolítica. A Geopolítica não deve ser confundida com a Geografi a Política, 
cuja base de formação está assentada nas ideias de Friedrich Ratzel, cujas bases 
teóricas e conceituais do autor fundamentam os estudos da Geografi a Humana. 
Assim, a Geopolítica não deve ser pensada como uma junção entre a Geografia 
e a Política, apesar de conter uma forte infl uência do pensamento de Ratzel em 
seus estudos. Ratzel, apesar de contribuir para esse campo de conhecimento e 
para a construção do conceito de Geopolítica a partir da noção de Geografi a Po-
lítica na obra Politische Geographie (1897) – Geografi a Política, nunca chegou a 
fazer uma menção ao termo. 
O desenvolvimento dos estudos da Geografi a Política por Ratzel, agregado 
a pensadores como Johan Rudolf Kjellén, Alexander von Humboldt e Karl Ritter 
conformam a corrente “determinística” da Geografi a, na qual se fundamenta a 
geopolítica alemã. Humboldt enfatiza o papel das ciências naturais e seu aporte 
para lidar com as questões e as práticas imperialistas. Ritter, seguindo a mes-
20
 Fundamentos de Geopolítica
ma linha, aprofunda esse cotejo de tal modo que se pode ver manifesto no que 
se denomina de geografi a humana (FONT; RUFÍ, 2006). São esses autores que 
vão infl uenciar o pensamento de Ratzel. A ideia de “determinismo geográfi co” de 
Ratzel é uma interpretação feita da abordagem sobre a relação entre o homem e 
o meio, expressa no seu livro Anthropogeographie (1882). Nessa concepção, os 
elementos da natureza, a exemplo do clima e do solo, seriam os únicos fatores 
que infl uenciam a organização e o desenvolvimento de uma sociedade. 
Indo além do determinismo do meio natural como fundamento 
do ― “espírito das leis”, Ratzel procurou elaborar uma verda-
deira teoria das relações entre a política e o espaço, introdu-
zindo o conceito de sentido do espaço, segundo o qual certos 
povos tinham maior capacidade de ordenar as paisagens, de 
valorizar os recursos naturais, de se fortalecer a partir do seu 
próprio enraizamento no território. Como ocorreu com as ci-
ências sociais naquele período, o modelo de Ratzel foi forte-
mente inspirado na biologia, e os temas por ele privilegiados 
respondiam à necessidade de refl etir sobre os problemas de 
sua época, ou seja, a disputa por territórios e o fortalecimento 
do Estado nacional como garantia de poder dos povos sobre 
os territórios por eles ocupados (CASTRO, 2005, p.19-20).
A Geografi a Política é fundamentada em duas obras de Ratzel, Politische 
Geographie (1897) e Das Meer als Quelle der Völkergrösse: eine politisch-geo-
graphische Studie (1990). O objeto de estudo da Geografi a Política, segundo Rat-
zel, é a relação entre Estado, solo e sociedade. A ênfase é dada ao espaço na 
dimensão política do Estado, pois há a preocupação com o espaço ocupado por 
um Estado confrontado com a posição que esse espaço estabelece com os outros 
espaços. O espaço é situado como mecanismo de poder, enquanto importante 
agente político. Ratzel faz uma análise histórica situando que o poder mundial es-
teve efetivamente entre as potências “marítimas” e “continentais” e por isso desta-
ca o poder marítimo como a base para alcançar o poder mundial. O que ele quer 
dizer com essas ideias é o papel importante dos oceanos na dinâmica comercial e 
de controle das áreas dos Estados, assumindo uma função estratégica de poder.
A Geografi a Política fi rma-se como um campo de estudo da Geografi a, e re-
cebe novas contribuições, em especial de Halford John Mackinder, com sua teoria 
do “pivot geográfi co da História”, na qual dá atenção especial ao poder marinho. 
Outra contribuição à Geopolítica foi elaborada pelo General Karl Ernest Nikolas 
Haushofer, em meio às análises sobre a Primeira Guerra Mundial, através das 
“pan-regionen”, elaboradas a partir dos estudos sobre o surgimento de novas po-
tências industriais (Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Japão) e o declínio das 
colônias francesas e inglesas. No entanto, ocorreu uma forte resistência franco-
-britânica diante de uma possível atuação centralizadora da Alemanha na Euro-
pa. Assim, a geografi a política era utilizada como base para as ações durante a 
Segunda Guerra Mundial. As ideias de Haushofer foram em um primeiro momen-
21
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
to assimiladas por Hitler, que culminou no pacto de não agressão russo-alemão 
estabelecido em 1939. Mas, pouco depois, a Alemanha invade a União Soviética, 
com derrocada da Alemanha diante dos aliados. 
[…] a geopolítica representa um inquestionável empobrecimento 
teórico em relação à análise geográfi co-política de Ratzel, 
Vallaux, Bowman, Gottmann, Hartshorne, Whittlesey, Weigert, 
e tantos outros. Essa é a questão essencial, desde logo, 
que deve sobrepor-se às demais, a começar dos artifícios 
notoriamente simplórios como o de tentar situá-la como ― 
“ciência de contato” entre a geografi a política e a ciência 
política, a ciência jurídica etc., bastante comum nas introduções 
de inúmeros generais-geógrafos-geopolíticos, a começar pelo 
próprio Karl Haushofer (COSTA, 2016, p. 55).
Para aprofundar a questão, Costa (2016) cita a obra de Raztel, Geografi a 
Política, como sendo a base que funda tanto a geografi a política quanto a geo-
política, mesmo esta última tendo Kjellén como referência. A fi m de situar uma 
distinção entre as duas abordagens, sugere o uso do critério do nível de compro-
metimento de pesquisadores em suas pesquisas com o escopo das ações nacio-
nais-estatais. Nesse sentido, revela o aspecto militante presente na atuação de 
alguns pesquisadores, a exemplo de Haushofer e Hartshorne, mas enfatiza que 
isso tem ocorrido com maior relevo no interior dos Estados-maiores vinculado com 
as áreas militares e os institutos articulados a ele. Contudo, afi rma que as bases 
teóricas e conceituais que abarcam ambas as abordagens suplantam o problema 
da militância e, por isso, deve ser considerada como ponto de partida analítico. 
Costa (2016) considera um equívoco fazer o cotejo entre possibilismo e de-
terminismo ao tratar da geografi a política, sem fazer as devidas ponderações. Ao 
se ater à questão da vinculada do determinismo com a geografi a política, situa 
que para além dos aspectos naturais há em seu escopo a infl uência do quadro 
nacional (especialmente da Alemanha) e das ideias do Iluminismo e da Revolu-
ção Francesa. Desse modo, não é possível enquadrá-la como uma ciência desde 
sua origem com viés determinístico, pois há que se compreender que o discurso 
determinista sobre o Estado considera “a capacidade que eles demonstram em 
construir sua unidade nacional interna do ponto de vista da organização política 
do território, e de transformar esse dado em poder de Estado, a fi m de projetá-lo 
na sua política externa” (COSTA, 2016, p. 22).
O autor qualifi ca esse determinismo como territorial, no qual os estudos se 
concentram no equilíbrio de forças em escala macrorregional ou global, que visam 
à representação do movimento da política dos Estados e dos blocos de Estados 
numa dimensão de escala global. Costa (2016) vislumbra uma mudança no cená-
rio mundial orientada para redução de confl itos diretos internacionais e acordo de 
paz, com um possível fi m de uma abordagem da geografi a política de modo isola-
22
 Fundamentos de Geopolítica
do e seu encaminhamento para estudos interdisciplinares no âmbito das ciências 
sociais. Essa visão considera que os confl itos não ocorrerão marcadamente por 
entes territoriais objetivos, sobretudo pelo avanço da democracia em suas distin-
tas estruturas, com a aplicação de modo amplo e dispositivos de descentralização 
e de consolidação do poder regional e local. Essa visão está assentada nas bases 
de uma ordem mundial “globalizada” e da quebra das fronteiras entre as nações, 
no entanto, o quadro geopolítico que se apresenta revela o deslocamento das 
relações de poder para outras dimensões escalares, com menor peso do papel do 
Estado na geografi a política e na geopolítica mundial. Contudo, o Estado não dei-
xa de manter centralidade, conforme explicita Mascaro (2013), o que ocorre com 
o avanço do desenvolvimento do sistema do capitalismo é que fi ca mais evidente 
que para compreendê-lo em sua totalidade é preciso estudaro capitalismo. 
2.4 A CONFORMAÇÃO DO CAMPO DE 
ESTUDO DA GEOPOLÍTICA E SEUS 
PRINCIPAIS TEMAS
Etimologicamente, o termo Geopolítica surge no fi nal do século XIX, através 
dos estudos do cientista político Rudolf Kjellén, no qual Tosta (1984) cita que o ter-
mo foi mencionado por ele pela primeira vez em uma conferência. O termo geopo-
lítica foi materializado por Kjellén (1905) no artigo As Grandes Potências, no qual 
compreende a Geopolítica como sendo a “análise do Estado como agente apropria-
dor e controlador do espaço geográfi co” (TOSTA, 1984, p. 24). Mais adiante, em 
1916, o autor apresenta as bases da Geopolítica na obra O Estado como Forma de 
Vida, compreendida “a ciência do Estado, enquanto organismo geográfi co, tal qual 
se manifesta no espaço” (KJELLÉN, 1916 apud CHAUPRADE, 2001, p. 29). Nessa 
obra, o autor constrói a sua teoria Geopolítica do Estado Orgânico. Este amplia a 
concepção de Estado Orgânico elaborada por Raztel e situa o Estado como um 
“superorganismo” em que todos fatores políticos estariam condicionados às leis bio-
lógicas. Logo, para Kejéllen (apud WEIGERT, 1943, p. 119): 
O Estado mesmo é a terra, é, em certa medida o solo ‘orga-
nizado’[...] A essência do Estado como organismo se compõe 
de elementos jurídicos e elementos de força: como toda a vida 
individual existente sobre a terra, consiste não somente em 
moralidade, senão também em desejos orgânicos [...] Os Es-
tados, tal como (podemos) seguir seu curso na história e tal 
como nos movemos entre eles e no mundo das realidades são 
seres materiais e racionais, exatamente iguais aos seres hu-
manos [...] O Estado se apresenta a nós, não como uma forma 
casual de simbiose humana, artifi cialmente envolta em noções 
jurídicas, e sim como um fenômeno orgânico profundamente 
23
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
enraizado em realidades históricas e, de fato, como o ser hu-
mano individual. Em uma palavra: o Estado emerge como uma 
manifestação biológica ou forma de vida. 
Desse modo, os estudos da Geopolítica surgem no século XIX em decor-
rência de alguns fatores. Em primeira instância pela confi guração dos Sistemas 
de Estados modernos resultantes da unifi cação da Alemanha e da Itália, pelo 
auge do imperialismo europeu e sua relação entre as metrópoles e as colônias. 
Os processos de independência das colônias europeias ao norte e o surgimento 
dos Estados Unidos e do Japão como novas forças de grande impacto na ordem 
mundial. Além do processo célere de expansão demográfi ca, cujos efeitos recaem 
sobre os recursos naturais e suscitam discussões sobre os processos geopolíti-
cos que envolvem o tema. É nesse escopo de discussão que surge a Geopolítica 
enquanto base disciplinar. 
Esse campo de estudo se expande e encontra muitos expoentes em distintos 
países, no qual se tentou classifi cá-los por correntes a partir de seus Estados de ori-
gem. De acordo com Célérier (1969, p. 11), Halford Mackinder (1861-1947) foi cria-
dor da escola de geopolítica inglesa; Ratzel (1844-1904) foi precursor da escola ale-
mã; Vidal de la Blanche (1845-1918) deu origem à Escola Francesa e Alfred Mahan 
(1840-1914) instituiu a Escola Geopolítica Norte-americana. Mas essa classifi cação 
não atendida à diversidade de pensamento produzida nos países e nem conseguia 
observar os pontos em comum que tinham as ideias desses autores. 
Em síntese, pode-se dizer que a noção de geopolítica encontra duas cor-
rentes de pensamento para análise dos fenômenos políticos-geográfi cos, mas 
que não devem ser vistas como campos de estudos isolados. Segundo Glass-
ner (1993, p. 223), uma corrente baseada na ideia de determinismo ambiental, 
ou como também é conhecida darwinismo social, tem como base as ideias e os 
conceitos desenvolvidos por Friedrich Ratzel e Kjellén intitulada “Teoria do Estado 
Orgânico”. E uma segunda corrente, denominada de Geoestratégia, na qual se 
compreende a relação de infl uência de fatos geográfi cos e políticos pelos próprios 
fatos. A referência desses estudos são Alfred Thayer Mahan e Halford J. Mackin-
der, autores do século XIX. 
Situando esses enfoques espaço-temporalmente, convém assinalar que a 
geopolítica passa a criar corpo durante os processos de entreguerras (1918-1939) 
no início do século XX, no qual abarca a Primeira Guerra Mundial, em 1918, e o 
começo da Segunda Guerra mundial, em 1939. Nesse período, as questões terri-
toriais trazem outra centralidade para as discussões sobre o Estado. 
A geopolítica mundial ganha ênfase nos estudos da Geografi a com a Guerra 
Fria, pelas disputas territoriais de hegemonia política, econômica e de poder béli-
24
 Fundamentos de Geopolítica
co no comando da ordem mundial. A ordem mundial está assentada nas relações 
de poder e soberania entre nações, em que pesam o contexto histórico-temporal. 
Observa-se dois contextos na ordem mundial, um primeiro cenário em que preva-
lece uma ordem mundial eurocêntrica, tendo como elo central o imperialismo inglês 
entre os séculos XVIII e século XIX, pelas Revoluções Industriais e pela disputa de 
novos territórios, um novo colonialismo. Porém, com o período entreguerras e os 
resultados do pós-guerra com a conformação de uma Guerra Fria, surge uma Nova 
Ordem Mundial, em que os Estados Unidos ganham centralidade em razão de sua 
hegemonia econômica, um mundo Bipolar. Com o fi m da Guerra Fria surge uma 
Nova Ordem Mundial, assentada nos processos de globalização e numa perspecti-
va Multipolar. Entender os arranjos espaciais e territoriais das relações entre Esta-
do, poder e Política Internacional é o objeto central da Geopolítica. 
Becker (2005) situa o papel que a geopolítica teve e tem no domínio de ter-
ritórios alheios, sobretudo na relação metrópole-colônia, na qual o território la-
tino-americano esteve sujeito. Há, portanto, a partir da atuação geopolítica dos 
Estados um ambiente internacional com os mais variados tipos de pressões, in-
tervenções, com intensidades distintas que vão desde moderadas as situações de 
guerras à obtenção de territórios. Essa confi guração de confl ito antes tinha como 
ente central o Estado, em razão deste ser considerado a base de procedência do 
poder e de expressão da política. Por isso, essa categoria se mostra central até o 
desenvolvimento do capitalismo fi nanceiro ou monopolista. “Hoje, esta geopolítica 
atua, sobretudo, por meio do poder de infl uir na tomada de decisão dos Estados 
sobre o uso do território, uma vez que a conquista de territórios e as colônias tor-
naram-se muito caras” (BECKER, 2005, p. 71).
Atividades de Estudo:
1) Elabore um texto que exponha os principais aspectos que ex-
pressam a convergência entre o determinismo e o possibilismo 
na geografi a. Indicamos como leitura complementar o seguinte 
trabalho, que trata sobre o assunto: SOUZA, Cristiano Nunes de 
et al. Determinismo e possibilismo: uma análise epistemológica 
e crítica. Maiêutica-Geografi a, v. 4, n. 1, 2016. Disponível em: 
https://bit.ly/3dYGdwb. Acesso em: 9 mar. 2020.
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25
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
3 O CAMPO DE ESTUDO DA 
GEOPOLÍTICA E AS PRINCIPAIS 
ABORDAGENS TEÓRICAS
Estabelecida uma discussão inicial entre a geografi a política e a geopolítica, 
cabe, portanto, compreender de modo mais detalhado o campo de estudo da geo-
política e suas principais abordagens. Costa (2016, p. 55) defi ne que a geopolítica 
tratada pelos distintos teóricos é, em primeiro plano, “um subproduto e um redu-
cionismo técnico e pragmático da geografi a política, na medida em que se apro-
pria de parte de seus postulados gerais para aplicá-los na análise de situações 
concretas interessando ao jogo de forças estatais projetando no espaço”. 
Nessesentido, Costa (2016) assinala um reducionismo teórico diante da aná-
lise geográfi co-política elaborada por Ratzel, Vallaux, Hartshorne, entre outros. Sua 
crítica é a ideia de “ciência de contato” em relação à geografi a política, ciência po-
lítica e as demais ciências. Uma mudança de discurso adveio pela já mencionada 
associação ideológica que o termo geografi a política tinha com o nazismo e, por 
isso, o uso do termo geopolítica se dá largamente após a Segunda Guerra Mundial, 
mas sem fazer uma distinção teórico-metodológica dele (COSTA, 2016). 
Neste subtópico, estudaremos as principais abordagens da Geopolítica, si-
tuando o contexto histórico e geográfi co em que essas ideias surgiram, na busca 
de trazer os aportes que esses estudos podem oferecer para compreensão dos 
fenômenos geopolíticos atuais. 
3.1 AS IDEIAS DE RUDOLF 
KJELLÉN: O PONTO DE PARTIDA DA 
GEOPOLÍTICA 
O sueco Rudolf Kjellén foi o precursor da geopolítica e quem introduziu o termo 
numa analogia entre as relações do Estado e o território. Infl uenciado pelo pensa-
mento de Friedrich Ratzel, sua construção teórica agregada às ideias de Alexander 
von Humboldt e Karl Ritter conformou os fundamentos da geopolítica alemã, sobre 
os quais Karl Haushofer utiliza para embasar suas ideias. Kjellén tem uma trajetória 
acadêmica no campo do Direito Público, em que foi catedrático das Universidades 
de Gotemburgo e Upsala. Apesar de ter nascido em 1864, século XIX, sua produ-
ção científi ca ocorre nos primórdios do século XX, antes e depois da Primeira Guer-
ra Mundial e falece em 1922, sem ter noção do alcance de suas ideias.
26
 Fundamentos de Geopolítica
As Grandes Potências e O Estado como Forma de Vida, respectivamente, 
publicadas em 1905 e 1916, apresentam seus principais aportes à geopolítica. 
Segundo Costa (2016), Kjellén estabelece que a geopolítica apresentava uma au-
tonomia diante da ciência política e da geografi a política, esta última vinculada 
como um sub-ramo da geografi a. 
Para Kjellén, o Estado funciona como um organismo territorial cuja natureza 
biológica está presente em todo o seu contexto de existência, lutas e confl itos, 
tendo como eixo central o meio e a raça e de modo periférico a economia, a so-
ciedade e o governo. Segundo Kjellén, “o Estado é um ser vivo; seu governo é a 
alma e o cérebro; o império é o corpo e o povo são seus membros (RAFESTIN, 
1995 apud FONT; RUFI 2006, p. 61). A ênfase dada aos Estados-maiores em 
sua teoria é compreensível se tomarmos como ponto de partida sua origem de 
base alemã e a existência de impérios centrais na Europa, assim denominados de 
“Estados-Maiores”. Então, desse contexto que emerge sua predileção pela geo-
política, ela tem vínculo com a dinâmica estatal contrapondo-se à ideia que vinha 
sendo construída dentro da geografi a política de um campo de pesquisa acadêmi-
co autônomo. Costa (2016) explica que as bases dessas ideias estão centradas 
como estratégias ou ações que visam atingir o domínio territorial ou hegemonia 
diante de outro país. Daí a associação que se faz com suas ideias, com as teorias 
sobre a geografi a política da guerra, ou mais precisamente como é reconhecida a 
geopolítica por ele construída pelos geógrafos franceses. Disso, portanto, decor-
re um distanciamento inicial do geógrafo com os franceses dessa denominação, 
mas não desse campo de conhecimento.
Kjellén situa o Estado como sendo um ente de manifestação biológica pró-
pria, que acometido por leis naturais de crescimento, se inserido em um espaço 
limitado, não encontra uma alternativa senão ampliar o seu espaço através de 
processos de colonização, tomada ou agregação de outros territórios. Essa noção 
de expansionismo territorial do império germânico está presente em suas obras, 
sobretudo na ideia de que os Estados-Maiores deveriam desenvolver estudos 
científi cos para pensar aspectos geopolíticos. Em razão disso, ocorreu grande 
aceitação de suas ideias nos círculos de poder, em especial, na Europa. Em geral, 
os países que se utilizaram dessas ideias tinham traços de regimes fascistas e de 
forte atuação militar. Isso serviu para embasar as ações dos países europeus e 
latino-americanos. 
Ponto central para entender o lugar do pensamento de Kjellén para a geo-
política atual é ter em mente o alcance de suas ideias enquanto fundamento para 
geopolítica, pois a partir dele surge no interior dos Estados uma produção de co-
nhecimento político que não se articula com a geração de um saber acadêmico. 
Isso quer dizer, distanciada da “geografi a dos professores” (LACOSTE, 2012). O 
maior exemplo desse sub-ramo da geopolítica são os estudos realizados pelo mili-
tar e geógrafo alemão Karl Haushofer. Haushofer não é o único, existem expoentes 
desse pensamento em distintas estruturas de Estados, inclusive no Brasil. Por isso, 
é importante compreender o ponto de partida desses estudos para saber qual a 
27
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
fi nalidade da produção desse conhecimento. Como exemplo desses estudos oriun-
dos dessa tradição militar temos Mario Travassos, Golbery e Meia Mattos e Lysias 
Rodrigues. Há, de modo geral, uma menção ao papel dinâmico que as ideias de 
Kjellén e Ratzel deram à geografi a política, a partir da geopolítica, pela aplicabilida-
de de suas ideias nas estratégicas do Estado através da geografi a. 
3.2 A DIMENSÃO HISTÓRICA E 
GEOGRÁFICA DO SURGIMENTO DA 
GEOPOLÍTICA
O cenário histórico e geográfi co em que se constitui a geopolítica, através 
dos estudos de Ratzel e Kjellén, como campo de estudo Geografi a é o momento 
de passagem do século XIX para o século XX. Desse modo, é fundamental situar 
as transformações sociais pelas quais passou a sociedade nesse período. So-
bressai nesse período a relação entre espaço e poder, resultado de um mundo 
cada vez mais atrelado à escala global e pelo surgimento de grandes potências 
mundiais, tendo como seu modo de atuação mundial através de ações imperialis-
tas. Assim, a ênfase é dada ao domínio da ordem mundial. Costa (2016) assinala 
a associação da noção de potência mundial e imperialismo dentro desse contexto. 
No entanto, o que se expressa de modo contundente é o avanço dos proces-
sos de industrialização, em sua segunda Revolução Industrial, bem como da repro-
dução ampliada do capital, em sua fase monopolista. O capital age de modo seleti-
vo especialmente exercendo ação de concentração e centralização das indústrias e 
do capital bancário em determinados países, numa inserção internacional desigual.
Costa (2016), ao considerar Lenin, explicita o caráter estratégico de expan-
são territorial das potências e do reordenamento mundial realizado por meio da 
Primeira Guerra Mundial, considerando o confl ito como sendo o resultado de uma 
guerra imperialista que buscava a redivisão da ordem mundial, o domínio territo-
rial sobre as colônias e situar-se no campo de atuação do capital fi nanceiro. Pois, 
para o capital, já interessava atuar no mercado em escala nacional, mas atingir 
em sua segunda fase, a escala mundial. Uma “guerra” pelo controle territorial e 
mercado dos países, em especial das antigas colônias. 
Há nesse novo arranjo da dinâmica da ordem mundial uma nova lógica de 
atuação imperialista, não mais centrada na relação colônia-metrópole, mas um 
imperialismo associado aos monopólios econômicos, com intrínseco elo com o ca-
pital fi nanceiro que os situam em escala mundial. Os confl itos que se sucederam 
nessa época estavam atrelados à rivalidade entre os países fronteiriços (grandes 
potências) pela expansão de seu território local e das áreas de expansão colonial 
(fontes de matérias-primas) situadas na Ásia, África, Oceania e América. Costa 
(2016) cita Hobsbawm (1989) para explicar a mudança por que passa a noção de 
28
 Fundamentos de Geopolítica
imperialismo, vinculada com a ideia de grandes impérios resultados de conquis-
tas territoriais-militares, do fenômeno de imperialismo atreladoao colonialismo de 
territórios alhures, sobre o qual deu origem ao processo de industrialização na 
Europa, a exemplo do imperialismo inglês. 
Observa-se que até o fi m do século XIX, o imperialismo tinha como principais 
atores os países europeus. Desse período em diante surgem novos atores na dinâ-
mica mundial conquistando hegemonia regional, que é o caso do Japão, na Ásia, e 
uma nova hegemonia mundial, exercida pelos Estados Unidos. Este último realizou 
uma profunda expansão de seu território, ocupando áreas pertencentes à França 
e ao México. Sua atuação expansionista se dá sobretudo no domínio da dinâmica 
econômica e comercial na América; de tal modo que o governo dos Estados Unidos 
cria, em 1821, a Doutrina Monroe, uma política dedicada à atuação hegemônica 
dos Estados Unidos, na América, como sendo o resultado dos “direitos naturais” 
que possuía na região, daí surge a noção de “América para os americanos”. Essa 
política surge em contraposição às políticas da “Santa Aliança” de países europeus 
que tinham o intuito de retomada das colônias americanas. Inúmeros foram os con-
fl itos gerados pelos Estados Unidos com intuito de domínio e expansão territorial 
que se conformou de natureza imperialista, conforme apresenta a Figura 1. 
FIGURA 1 – TERRITÓRIOS ANEXADOS PELOS ESTADOS 
UNIDOS APÓS CONFLITOS TERRITORIAIS
FONTE: Costa (2016, p. 65-66)
29
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
Essa expansão imperialista no continente americano resulta na criação do 
protetorado de Cuba e na conquista do arquipélago das Filipinas e Porto Rico. 
Emerge desse cenário uma potência econômico-militar mundial com enorme 
poder de atuação externa, fundamentada no big sick, que quer dizer: “fale macio, 
mas carregue um grande porrete”. Essa política serviu para desarticular as 
economias subdesenvolvidas e emergentes. Mas as pretensões de controle da 
ordem mundial eram maiores, com isso, aliado à Inglaterra, buscou ocupar o lugar 
da Alemanha no mercado mundial a partir da construção do Canal do Panamá, 
iniciado em 1980, pela França, assumido pelos Estados Unidos, em 1904, e 
fi nalizado em 1914. 
Com o avanço da hegemonia mundial econômica, política, militar e cultural 
dos Estados Unidos no pós-guerra, conformando um bloco capitalista e do outro 
lado a criação de um bloco socialista, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
– URSS, liderado pela Rússia – no período que fi cou convencionado chamar de 
Guerra Fria (1947-1991) – a ordem mundial se divide em dois polos (bipolaridade). 
Com o domínio do sistema capitalista e uma lógica mundial centrada na expansão 
do comércio internacional e a quebra de “barreiras espaciais”, surge uma nova 
ordem mundial de caráter multipolar (Figura 2), em que as grandes potências 
exercem controle da economia de cada região. Esse controle territorial das rotas 
de comercialização pode ser exercido tanto via terrestre como via marítima.
FIGURA 2 – A NOVA ORDEM MUNDIAL
FONTE: <https://interna.coceducacao.com.br/ebook/
pages/311.htm>. Acesso em: 16 ago. 2019.
30
 Fundamentos de Geopolítica
3.3 MAHAN: O PODER MARÍTIMO E A 
ASCENSÃO DOS ESTADOS UNIDOS 
COMO POTÊNCIA MUNDIAL
Alfred Thayer Mahan (1840-1914), estadunidense formado pela Naval 
Academy at Annapolis, segue a linha dos geógrafos militares, pertencente ao 
quadro da marinha deste país e professor da Naval War College at Newport. 
Participa da Guerra Civil Americana chegando a ser nomeado capitão de mar e 
guerra em 1885. Dedica seu enfoque na geoestratégia do poder marinho (COSTA, 
2016). Parte dele a infl uência na constituição de grandes potências marinhas no 
período anterior à Primeira Guerra Mundial.
A atuação docente como instrutor de História e Táctica Naval do Colégio de 
Guerra, em 1985, fez com que, orientado por Stephen B. Luce, buscasse analisar 
o papel do poder naval no desenvolvimento histórico mundial. Em seus estudos, e 
sua função à frente do instituto, teve a oportunidade de conhecer e conviver com 
Theodore Roosevelt, que posteriormente seria presidente dos Estados Unidos. 
Essas experiências docentes e de pesquisa resultam em duas grandes obras: 
The Infl uence of Seapower on History, 1660-1783, publicada em 1890, e The 
Infl uence of Sea Power upon the French Revolution and Empire, 1793-1812, 
lançada em 1892. Cabe salientar que o pensamento de Mahan infl uencia Ratzel 
em seu argumento a favor do poder naval alemão (FONT; RUFÍ, 2006). 
Sua teoria parte do avanço das forças produtivas bélicas da França e do 
Reino Unido no século XVIII e o confl ito entre essas duas potências pelo controle 
dos mares, sobre o qual o desenvolvimento naval foi decisivo para determinar a 
vitória. Contudo, Mahan presenciava um enfoque estratégico dos Estados Unidos 
de ocupação e expansão territorial para a região Oeste do país, cujo objetivo era 
criar uma circulação comercial marítima dos Estados Unidos no oceano pacífi co. 
Havia, ainda, a crença do papel civilizatório que desempenhara os colonizadores 
dos Estados Unidos, na América, descrito no século XIX no Destino Manifesto. 
Assim, seus estudos situam-se no contexto histórico da grande inclinação 
da política externa estadunidense. Por isso, era considerado por Morison e 
Commager um teórico do expansionismo, em outras palavras, “um fi lósofo 
naval do imperialismo” (COSTA, 2016, p. 69). E um ambiente cultural em que o 
nacionalismo germânico se difundia e se concebia que democracia e imperialismo 
poriam coadunar. 
Clarividente do papel que a tecnologia exerceria na hegemonia do poder 
naval, em contraposição às forças que preferiam os veleiros aos navios a vapor, 
atuou politicamente através de seu pensamento estratégico para demonstrar sua 
31
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
importância para o domínio dos mares e oceanos. Seus aportes infl uenciaram 
ações estratégicas de desenvolvimento militar naval de potências europeias, a 
exemplo da Grã-Bretanha e Alemanha, do Japão, tendo forte impacto nas duas 
grandes guerras do século XX. 
O grande mérito de Mahan é ter analisado e desenvolvido uma visão 
integrada do poder marinho como elemento geoestratégico para as grandes 
potências mundiais. Essa concepção situa que todas as atividades ligadas 
ao mar devem ser integradas, disso decorre o poder. Mahan (1965, p. 8 apud
COSTA, 2016, p. 69) explica que “O teatro de guerra pode ser maior ou menor, 
suas difi culdades mais ou menos pronunciadas, as armadas maiores ou menores, 
os movimentos necessários mais ou menos fáceis, mas estas são simplesmente 
diferenças de escala, de grau, não de tipo”. Essa frase remete ao entendimento 
de que historicamente a natureza e a função social da marinha de guerra são as 
mesmas, em geral os conceitos e práticas utilizadas são as mesmas descritas por 
Hermócrates, há mais de 2300 anos (COSTA, 2016). 
Entendido isso, situa os oceanos e mares como espaço social e político, 
diferente dos espaços terrestres, mas que se articulam entre si através dos 
portos e de vias (terrestres e aquáticas) de comunicação internas. No entanto, 
o uso dessa lógica não é aplicado por todas as potências em razão de que as 
histórias dos fl uxos e o modo como cada continente e porto está posicionado são 
distintas. Aquelas que fi zeram o uso das rotas comerciais, das rotas marítimas 
estrategicamente, tal qual Holanda e Alemanha, as vias terrestres funcionariam 
como o elo que dinamiza os dois espaços e o comércio mundial. Disso decorre 
uma atuação articulada e interdependente da marinha mercante e de guerra nas 
grandes potências. Assim, a existência de marinha mercante é uma premissa 
considerada necessária por Mahan para o desenvolvimento da marinha de guerra 
(COSTA, 2016). 
Tal como Mackinder, Mahan faz uma análise distorcida da atuação militar dos 
Estados Unidos, não considerando suas ações agressivas. Contudo, compreende 
bem o papel que tem a construção do istmo do Panamá como fatorpara o 
desenvolvimento não só comercial e de sua indústria de guerra armamentista pelo 
expansionismo marinho. O poder marinho é entendido por Mahan baseado em 
três elementos:
Produção, com a necessidade de troca entre os produtos; 
navegação, através da qual esta troca é realizada; e colônias, 
as quais facilitam e alargam as operações de navegação e 
tendem a protegê-las através da multiplicação de pontos de 
apoio – encontra-se a chave para boa parte da história (bem 
como da política) das nações marítimas (MAHAN, 1965, p. 28 
apud COSTA, 2016, p. 71).
32
 Fundamentos de Geopolítica
Para Mahan, a posição geográfi ca é o eixo central que propicia o poder marí-
timo (COSTA, 2016). É o caso de sucesso da Inglaterra pela sua confi guração in-
sular de seus portos, tendo um forte império colonial, avançada marinha mercante 
e o controle de Gibraltar na Península Ibérica. Este último, para a França, é uma 
limitante para o acesso entre a costa marítima do Atlântico (norte) e do Mediterrâ-
neo (ao sul). Decorre dessa experiência a visão de que os Estados Unidos neces-
sitariam criar um canal no istmo do Panamá. Isso traria uma posição estratégica 
dos Estados Unidos no continente americano. Este se torna poder estratégico à 
medida que agrega ações para articular seu potencial econômico, territorial e ma-
rítimo. Essa articulação perpassa aliar a enorme presença de matérias-primas, a 
dimensão e localização estratégica de seu território com o canal. Porém, Mahan 
era contrário ao isolamento estadunidense e consequente da política externa da 
“Doutrina Monroe”, pois compreendia que o país devia atuar como agente civili-
zatório diante das sociedades bárbaras (FONT; RUFÍ, 2006). Algo que Rafestin 
considera como sendo um discurso de superioridade racial e o apregoamento do 
direito ao colonialismo no fi nal do século XIX e, portanto, a defesa de que os 
povos mais organizados podiam intervir e expropriar povos tidos como bárbaros 
(RAFESTIN, 1995 apud FONT; RUFÍ, 2006). 
Assim, Mahan situa que é a extensão litorânea e as características de seus 
portos que oferece a diferenciação ao Estados Unidos e não sua dimensão espa-
cial terrestre. Desse modo, preconizava que os Estados Unidos deviam sair da 
condição de isolamento (FONT; RUFÍ, 2006). Mas esses aspectos precisam estar 
articulados a uma dimensão e distribuição demográfi ca signifi cativa e o conjunto 
da sociedade esteja vinculado com as atividades marinhas. Em sua análise, en-
tende que os Estados Unidos no século XIX ainda não apresentavam tais condi-
ções, mas possuíam potencialidades (COSTA, 2016). 
Outro caso signifi cativo para elucidar o quão importante é essa articulação 
pode ser verifi cado com as duas grandes potências da expansão marítima no 
período colonial entre Portugal e Espanha. Esses países realizaram a expansão 
marítima, mas não avançaram na articulação estrutural econômica da sociedade, 
fi cando apenas no processo extrativista e, logo, perdendo a sua riqueza para Ho-
landa, pela dependência comercial, e para a Alemanha, em razão da dependência 
na aquisição de bens. Em síntese, o poder marinho resulta da articulação entre 
suas potencialidades marítimas e as atividades internas e externas de um Estado 
(COSTA, 2016). 
Mahan examina o papel do “carácter do governo” na conformação do po-
der marítimo e compreende este como sendo a junção entre governo e as insti-
tuições do país. Situa dois tipos de políticas governamentais: as democráticas e 
as despóticas. Para Mahan, as políticas marinhas para terem êxito devem partir 
da seguinte premissa: “um governo só terá sucesso em sua política voltada para 
33
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
a construção de um poder marítimo quando essa política estiver fundamentada 
numa vontade nacional expressa democraticamente em tal direção” (COSTA, 
2016, p. 74). E, por isso, considera que os governos despóticos não logram êxito 
por ter sua política desvinculada do “caráter nacional” e da “vontade geral”. 
Sua prospecção do que viria a ser o poderio estratégico naval estadunidense 
expressa na ideia de que “A distância que os separa das demais grandes potên-
cias é de algum modo uma proteção, mas é também uma armadilha. O motivo 
que dará aos Estados Unidos uma marinha está provavelmente agora sendo esti-
mulado pelo istmo da América Central. Esperemos que não demore muito (COS-
TA, 2016, p. 75).
Por isso, Morison e Commager afi rmavam que Mahan era o “profeta do impe-
rialismo”. No entanto Mahan não conseguiu ver terminado o canal do Panamá e a 
conquista da hegemonia dos Estados Unidos na ordem mundial e a consagração 
enquanto potência marítima já evidenciada em 1916 (COSTA).
3.4 MACKINDER E A TEORIA DO 
“PIVOT GEOGRÁFICO DA HISTÓRIA”
A Geografi a Política fi rma-se como um campo de estudo da Geografi a e re-
cebe novas contribuições, em especial de Halford John Mackinder, a partir de um 
artigo publicado em 1904, em que apresenta a teoria do “pivot geográfi co da His-
tória”. Mackinder dá atenção especial ao poder terrestre (MARTIN; CASTELLAR; 
MARTINS, 2004). Mackinder (1861-1947) nasceu no Reino Unido, colaborador 
do Royal Geographical Society, realizou estudos de geografi a na Universidade de 
Oxford e na London School of Economics. Este criou uma corrente de pensamen-
to tão proeminente para a geografi a quanto Ratzel (FONT; RUFÍ, 2006). Além dis-
so, ele acompanhou a grande virada do século XIX para o século XX, participou 
das duas grandes guerras, viu declinar o “imperialismo” e o surgimento da União 
Soviética. Sua principal contribuição foi trazer à luz uma estratégia global nos es-
tudos geográfi cos.
Costa (2016) situa o pensamento de Mackinder como sendo pragmático, de-
fi nido por ele mesmo como sendo realismo, pela natureza em incluir no seu exa-
me político do equilíbrio de poder da conjuntura internacional os fatores empíricos 
(tidos como concretos) oriundos de análises geográfi cas. 
Ebraico (2005 apud SANTOS, 2017) trata a Geografi a Política de Mackinder 
como geoestratégia, situada como um subcampo da geopolítica, cuja base teó-
rica serve para elucidar o papel da geografi a como instrumento para tomada de 
34
 Fundamentos de Geopolítica
decisões políticas pelos Estados. Mackinder considera débil análises das regiões 
democráticas-liberais, pois não dão conta das lacunas no equilíbrio mundial e do 
progresso de Estados-nações “despóticos” em seus fi ns de expansão territorial 
(COSTA, 2016).
O ponto de partida de sua abordagem é a crítica à ênfase dada por Ratzel ao 
poder marinho e a não observância de fenômenos de crescimento industrial dos 
Estados Unidos, Alemanha, Japão e Rússia, bem como o desenvolvimento de um 
poder bélico terrestre por parte dos Russos. Um aspecto importante de sua con-
tribuição à Geografi a por meio de sua visão “aplicada” da ciência geográfi ca é a 
crítica as projeções cartográfi cas “eurocêntricas”, que nada tinham a dizer sobre as 
condições espaciais do continente europeu. Há, portanto, o superdimensionamento 
do espaço do continente europeu. Desse modo, estabelece novas projeções carto-
gráfi cas relacionando-as com as grandes transformações mundiais que perpassam 
pelo domínio terrestre de determinadas áreas. Elabora uma projeção “asiocêntrica”, 
em que situa essa área como sendo maior que o território europeu, sendo este 
último considerado uma pequena parte do que denominou de “ilha mundial” – os 
continentes Europeu, Africano e Asiático (MARTIN; CASTELLAR; MARTINS, 2004). 
Mackinder elabora então, em 1904, a teoria do poder terrestre, em que situa 
a área apresentada na Figura 3 como sendo a “área pivô”. Mais adiante, através 
de sua obra Democratic Ideals and Reality: A Study in the Politics of Reconstruc-
tion, refaz esse conceito e cria a noção “heartland” (MELLO, 1999, p. 45), eviden-
ciada na mesma fi gura. 
FIGURA 3 – INDICAÇÃO DE ÁREA PIVÔ E HEARTLAND SEGUNDO 
MACKINDER E AS ATUAIS REPÚBLICAS CENTRO-ASIÁTICAS
FONTE:<http://www.ca-c.org>. Acesso em: 16 ago. 2019.
35
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
Para Mackinder, essa região tinha uma função estratégica para expansão do 
Estado que a dominasse, adquiria tanto domínio terrestre quanto marítimo. Desse 
modo, a conjuntura geopolítica poderia ser elucidada pela interação entre o “he-
artland” (coração) e os cinturões que conformavam a sua volta, no entendimento 
de que “Quem dominar o coração continental dominará a ilha mundial. Quem do-
minar a ilha mundial controlará o mundo” (MACKINDER,1919 apud MELLO,1999, 
p. 56, tradução livre nossa). Assim, com base em um estudo histórico e geográfi co 
sobre as invasões bárbaras, Mackinder observa que nas grandes estepes da Ásia 
Central situavam as bases das mudanças mais signifi cativas do mundo em razão 
da mobilidade da cavalaria nessa região, sobre a qual afi rma conformar “o pivot 
geográfi co da História” (MARTIN; CASTELLAR; MARTINS, 2004).
FIGURA 4 – A TEORIA DO PIVOT GEOGRÁFICO DA HISTÓRIA, DE MACKINDER
FONTE: <https://bit.ly/3aNXoyD>. Acesso em: 16 ago. 2019.
Com o avanço da modernidade mudam-se os meios (cavalo por trem) pelos 
quais se locomovem na região, mas de acordo com Mackinder (apud MARTIN; 
CASTELLAR; MARTINS, 2004) essa área denominada de “heartland” (coração) 
geográfi co da Ásia Central (especifi camente a Rússia) era considerada uma 
potência terrestre de difícil acesso das potências marítimas. Em síntese, as 
grandes potências (Estados Unidos e Reino Unido) consideravam que uma 
possível atuação conjunta entre a Rússia e a Alemanha levaria à derrocada do 
“livre-comércio” e do domínio inglês na dinâmica mundial. É em razão disso que, 
após a derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial, a Geopolítica ganha 
novos contornos na Alemanha (MARTIN; CASTELLAR; MARTINS, 2004). 
36
 Fundamentos de Geopolítica
No entanto, Lacoste (2012, p. 235) contrapõe-se ao pensamento da geografi a 
física (relevo e/ou clima) instituída por Mackinder e afi rma que a geopolítica “resulta 
da combinação de fatores bem mais numerosos, demográfi cos, econômicos, 
culturais, políticos, cada qual deles devendo ser visto na sua confi guração 
espacial particular”.
Contudo, é inegável a capacidade de Mackinder de compreender os proces-
sos histórico-geográfi cos, em especial pela sua relação espaço-tempo e a leitura 
geográfi ca da perspectiva da história universal (FONT; RUFÍ, 2006). Em razão dis-
so estabelece três fases histórico-geográfi cas: uma pré-colombiana, pelo domínio 
das potências continentais asiáticas; a fase colombiana pelas potências marítimas 
(Espanha, Portugal, Países Baixos e Reino Unido); e a fase pós-colombiana, de 
confl ito entre as potências continentais e marítimas, conteúdo presente em sua 
teoria sobre o pivô geográfi co da história (FONT; RUFÍ, 2006). Na realidade, surge 
como uma refl exão técnica que chama atenção para os limites do poder marítimo 
do império britânico para lidar com o “pivô geográfi co” pelo avanço das comunica-
ções terrestres. Assim, defi ne que a geografi a do poder é fruto de seus espaços 
(FONT; RUFÍ, 2006). Mas que, em 1904, o pivô estaria sob domínio das potências 
marítimas. Todavia, que a Rússia em razão de seu território e condições naturais 
tinha amplas condições de organizar a ilha mundial (COSTA, 2006).
Enquanto proposta política, sugere que o Reino Unido aplique políticas 
internas novas e estabeleça novas cooperações internacionais. Esta última 
resultou em coalização com as potências marítimas, a exemplo dos Estados 
Unidos, Canadá, África do Sul, Austrália e Japão (FONT; RUFÍ, 2006). Sua 
antevisão sobre os acontecimentos históricos-geográfi cos chama atenção, pois a 
mudança de denominação da área pivô para heartland é acompanhada de uma 
ascensão do domínio da Europa oriental dessa área. Sua clarividência para os 
acontecimentos das duas grandes guerras é revelada por Gallois (1990, 253-254 
apud FONT; RUFÍ, 2006, p. 71-72). 
O centro de seu pensamento talvez seja a revelação de que as 
fronteiras do “bloco soviético” foram praticamente as mesmas 
que as Heartland.
Tanto um longo período histórico, como os acontecimentos que 
é testemunha direta traçam uma linha de divisão entre o Leste 
e o Oeste da Europa. Traçando uma reta a partir do Adriático 
– deixando Veneza a Oeste – Até o Mar do Norte, a leste dos 
Países Baixos, Mackinder separa a Europa em dois blocos irre-
dutíveis. [...] Aí está a divisão entre o Heartland e o Coastland, 
entre os do mar e os da terra. [...] Quem domina a Europa do 
leste domina o Heartland; quem domina o Herartland domina a 
maior ilha do mundo; e quem a domina controla o mundo.
É no continente, a partir da cabeça do poente do istmo euro-
peu, onde as “potências do mar” devem organizar a defesa 
[...] contra o impulso das “potências da terra”. A Alemanha do 
37
AS BASES QUE FUNDAMENTAM O CAMPO DE ESTUDO DA GEOPOLÍTICA Capítulo 1 
amanhã somente poderá participar dela se não desembocar 
em uma organização estática sem piedade [...] Entre o Báltico 
e o mar Negro vivem sete povos não germânicos. Aí devem-se 
construir Estados sustentados pelas Potências Vitoriosas, pela 
Sociedade das Nações, de modo que garantam a separação 
entre germânicos e eslavos.
É necessário criar novos Estados, e o geógrafo os desenha em 
um mapa: a Estônia, a Lituânia, a Grã-Boêmia, a Grã-Servia, 
que com a Polônia, a Hungria, a Grã-Romênia e a Bulgária se-
param fi sicamente as potências do litoral daquela que domina 
o continente. 
Assim, segundo Font e Rufí (2006), o seu grande feito foi antevê por meio da 
geografi a a ordem mundial (Guerra Fria) no pós-guerra, o papel que a democracia 
teria no Ocidente, a divisão da Europa, bem como a Aliança Atlântica. Porém, 
suas análises não foram tão assertivas sobre o papel do Reino Unido nesse 
cenário todo. 
3.5 HAUSHOFER: APORTES 
PARA A GEOPOLITIK ALEMÃ E 
REPRESENTAÇÃO DA ORDEM 
MUNDIAL EM PAN-REGIÕES
Outra contribuição à Geopolítica foi elaborada pelo General Karl Ernest Niko-
las Haushofer 1869-1946), em meio às análises sobre a Primeira Guerra Mundial. 
Oriundo da região da Bavária, na Alemanha, atuou no Japão enquanto atividade 
ofi cial nos anos de 1908 a 1910 e em seu retorno doutora-se em Geografi a, Ge-
ologia e História na Universidade de Munique, na qual em 1919 passa a ocupar 
a cátedra de Geografi a. Seus feitos são baseados nas ideias Mackinder de uma 
ciência voltada para uso do conhecimento geográfi co na ação política, em razão 
disso infl uenciou para que a Geopolitik fosse aplicada no imperialismo nipônico 
(FONT; RUFÍ, 2006). Disso resulta a sua obra O desenvolvimento geopolítico do 
império japonês (1921). 
Inspirado pela experiência no Japão, percebera o papel da fronteira para atu-
ação do Estado (MARTIN; CASTELLAR; MARTINS, 2004). Observa o declínio 
das colônias inglesa e francesa, em meio à ascensão de novas potências indus-
triais, tais como: Estados Unidos, Alemanha, Rússia e Japão, isso fez com que 
elaborasse a teoria das “pan-regiões”, publicada na obra Geopolítica das pan-
-regiões (1931). Nela, o espaço ganha centralidade como categoria de ação e 
análise. Logo, institucionaliza a geopolítica como uma ferramenta científi ca para o 
38
 Fundamentos de Geopolítica
exercício do poder estatal, e sua visão organicista que situa a relação entre terri-
tório e raça, bem como o domínio global pelas quatro grandes potências (Estados 
Unidos, Rússia, Japão e Grã-Alemanha) para tanto atender às demandas internas 
regionais quanto externamente determinar a ordem mundial (FONT; RUFÍ, 2006).
Desse modo, cria uma regionalização do espaço mundial em pan-regiões: 
Panamércia, de incumbência dos Estados Unidos; Euráfrica, controlada pela Grã-
-Alemanha; Panrúsia, atribuída à Rússia; e Zona de Coprosperidade asiática, 
também conhecida como Leste-Asiática, de domínio do Japão. O modelo traçado 
prevê em cada uma dessas pan-regiões uma estrutura pensada como uma

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