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TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos
 
 
CONVERSA INICIAL 
 O objetivo desta aula é fazer uma introdução ao mundo teórico da 
contabilidade em seus aspectos mais avançados e que tem sido discutido 
extensivamente pela academia contábil. Portanto, esse conhecimento é 
fundamental para a formação do contador e para o desenvolvimento da própria 
contabilidade, que é uma ciência social aplicada e necessita que o 
desenvolvimento do seu corpo de conhecimento teórico seja disseminado e 
aplicado na prática profissional. 
 Nesta aula, iniciaremos pelos aspectos conceituais da Teoria contratual 
da firma, discorrendo sobre os conceitos primordiais. O tema 2 deste material 
versa sobre os fundamentos da Teoria da agência. Em seguida, o tema 3 irá 
descrever os elementos primordiais do conceito de conflito de agência. O tema 
4 discorrerá sobre os custos de agência. Por fim, o tema 5 explica a intersecção 
da Teoria da agência e a contabilidade. 
CONTEXTUALIZANDO 
Ao longo dos anos, a teoria da contabilidade tem avançado sempre na 
mesma direção das teorias econômicas. Desde o desenvolvimento teórico dessa 
disciplina, suas bases foram fundadas nas descobertas microeconômicas, em 
especial no que tange ao funcionamento do mercado financeiro. Assim, o 
primeiro aspecto relevante para a compreensão dessa disciplina teórica é a 
compreensão da base de desenvolvimento teórico: as ciências econômicas. 
Portanto, ao construirmos os tópicos aqui abordados, estaremos 
baseados nas teorias clássicas da microeconomia. A função desta aula é 
apresentar e discutir essas teorias microeconômicas, nomeadamente a Teoria 
contratual da firma e a Teoria da agência. A compreensão desses aspectos irá 
proporcionar a compreensão dos conflitos em que a contabilidade está inserida 
e como ela se relaciona com esse mundo retratado por ambas as teorias citadas. 
Para começarmos a aquecer as discussões sobre teoria avançada da 
contabilidade, vamos refletir sobre alguns aspectos relacionados ao dia a dia das 
empresas: como é a formação das empresas atualmente? Como os diferentes 
agentes econômicos fazem acordos nas organizações? Como é a relação entre 
o proprietário da empresa e a diretoria ou gerentes? É amistosa ou conflituosa? 
Quais são os problemas que existem nessa relação? Quais são os mecanismos 
 
 
3 
que existem para resolver esses problemas? Quem são os agentes que 
possuem o poder de decisão? 
Esses e outros questionamentos são importantes para o desenvolvimento 
desta aula. Reparem: ainda não estamos tratando diretamente da contabilidade, 
contudo a compreensão das relações econômicas e do comportamento dos 
diferentes agentes econômicos é essencial para o desenvolvimento da ciência 
contábil, em especial em meados do século XX. 
TEMA 1 – TEORIA CONTRATUAL DA FIRMA 
Neste primeiro tema, trataremos da Teoria contratual da firma, teoria muito 
importante para o desenvolvimento teórico da contabilidade, pois fundamenta as 
relações econômicas que ocorrem dentro da firma entre diferentes pessoas 
(agentes). 
A origem dessa teoria se deu com o nascimento das ciências econômicas 
no século XVIII, com a obra de Adam Smith sobre as riquezas das nações. A 
teoria microeconômica clássica pressupõe que o objetivo de uma empresa é 
maximizar o lucro e que os agentes são racionais e visam à maximização de sua 
utilidade (Boaventura et al., 2009). 
Para compreendermos melhor essa relação econômica da Teoria contratual 
da firma e seus desdobramentos em relação ao comportamento das pessoas 
dentro das empresas, vamos descrever os principais aspectos dessa teoria e 
como ela explica as relações entre os agentes. 
Sob os pressupostos teóricos dessa teoria, a empresa é vista como um 
conjunto de contratos, formais e informais, entre os diversos participantes das 
relações econômicas empresariais. Assim, podemos pensar que cada 
participante contribui com algo para a firma e, em troca, recebe uma 
contraprestação. Nisso consiste a relação contratual da firma: um agente 
contribui para a firma e, em troca, recebe uma bonificação, estabelecida por 
contrato de maneira formal ou informal (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Por exemplo, os empregados contribuem com sua força de trabalho e, em 
troca, recebem seus salários; os acionistas contribuem com capital e, em troca, 
recebem dividendos e ganhos de capital; os fornecedores contribuem com 
produtos e serviços e recebem dinheiro, enquanto o governo contribui com a 
estabilidade institucional e, para isso, recebe os impostos (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
 
 
4 
É importante perceber que as relações entre os agentes, conhecidas como 
contrato, podem ser estabelecidas de maneira formal, como no caso dos 
empregados e acionistas, ou de maneira informal, como no caso do governo e 
em alguns tipos de contrato com clientes e fornecedores. Em todos os casos, as 
relações econômicas entre os agentes são estabelecidas por um outro tipo de 
contrato (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Na prática, essas relações contratuais geram alguns problemas devido a 
duas situações que podem ser encontradas: informação imperfeita e informação 
incompleta. Os casos caracterizados como de informação imperfeita são aqueles 
em que as regras do jogo são claramente definidas e todos os agentes as 
conhecem, contudo os agentes não conhecem as ações dos outros agentes. Um 
exemplo disso é um jogo de pôquer, no qual as regras são claras, mas nenhum 
jogador conhece as cartas e intenções dos outros jogadores (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
Informação incompleta é o caso em que nem mesmo as regras do jogo são 
totalmente claras. Por exemplo, podemos citar uma partida de futebol. Nesse 
caso, existem regras do jogo, contudo a aplicação mais rigorosa ou menos 
rigorosa depende do árbitro da partida (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Quando as relações contratuais não funcionam de forma adequada, a firma 
pode ter graves problemas para seu equilíbrio e funcionamento e até mesmo 
quebrar, como no caso da empresa Enron, como descrito por Iudícibus e Lopes 
(2004): 
Essa empresa conseguiu durante muito tempo esconder do mercado 
e, principalmente, de seus acionistas sua real situação financeira. 
Nesse caso, tem-se uma clara quebra de contratos entre os acionistas 
e os executivos da empresa. Por outro lado, os auditores que deveriam 
contribuir para reduzir o conflito também não cumpriram com suas 
obrigações. 
 Assim, podemos sumarizar a Teoria contratual da firma como uma teoria 
econômica amplamente utilizada para explicar as relações econômicas que 
afetam a firma e a própria contabilidade. Dentro desse cenário, os diferentes 
contratos da firma irão determinar as relações econômicas existentes, de 
maneira formal ou informal. Enquanto essas relações são idealmente uma troca 
entre os agentes e a firma, de recursos, capitais ou força de trabalho, por uma 
remuneração, problemas de dois tipos são comumente encontrados nessas 
relações contratuais: informação imperfeita e informação incompleta. Dessa 
maneira, com base na compreensão da Teoria contratual da firma, iremos 
 
 
5 
abordar nos próximos temas desta aula, aspectos primordiais da Teoria da 
agência, que pode ser compreendida como uma extensão dos conceitos teóricos 
da teoria que acabamos de estudar. 
TEMA 2 – TEORIA DA AGÊNCIA 
Agora iremos tratar dos fundamentos da Teoria da agência. Em primeiro 
lugar, é preciso compreender que uma empresa é formada por dois tipos de 
agentes: os que possuem o capital e os meios de produção, que são os 
proprietários da firma, e os que possuem sua força de trabalho, os demais 
agentes. Contudo, quando um proprietário delega a administração a um agente 
(que não possui a propriedade da firma), passa a existir uma relação econômica 
entre o principal (proprietário da firma) e um agente (administrador). Dessa 
forma, iniciamos a discussãosobre os elementos fundamentais da Teoria da 
agência. 
Como explicitado no parágrafo acima, a Teoria da agência surge da 
separação entre o proprietário dos meios de produção e do capital e o 
administrador do negócio. Esse fato histórico surge com a profissionalização da 
gestão e a delegação de trabalho para um administrador. Antes, a administração 
da firma era de responsabilidade do proprietário, ou seja, administrador e dono 
da empresa eram a mesma pessoa (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
 Mas com essa separação entre proprietário e administrador surgiram 
conflitos e relações econômicas que foram explicadas pela Teoria da agência. 
Um desses problemas que surgiu com a separação entre o principal (proprietário 
da empresa) e o agente (administrador) foi a assimetria de informação. Os 
agentes, que tinham a responsabilidade de administrar o negócio do principal e 
assegurar o melhor resultado econômico para a firma, possuíam informações 
que o principal não tinha acesso. Mas por quê? 
É importante salientar que, ao delegar a administração da empresa para 
um terceiro (o agente), o proprietário perde acesso a todas as informações da 
empresa porque não está diretamente envolvido com o negócio, não está 
diariamente na empresa e não acompanha o dia a dia operacional de seu 
negócio. Esse fato gera a assimetria de informação, ou seja, o proprietário tem 
menos informações sobre sua firma do que o administrador que ele escolheu 
para gerir o seu negócio (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
 
 
6 
Diante da assimetria de informação, que acabamos de discorrer, e da 
teoria microeconômica clássica, existe um problema que fundamenta a Teoria 
da agência: o ser humano é maximizador da sua utilidade individual e, portanto, 
age em benefício próprio. Isso significa que, dentro da organização, o 
administrador irá priorizar seus próprios benefícios em vez da maximização do 
lucro empresarial, desejado pelo proprietário. 
Como exemplo desse comportamento do agente, vamos citar o caso de 
participação nos resultados da empresa. Em muitas companhias, é comum os 
gestores receberem incentivos para maximizarem o lucro do proprietário; assim, 
como um prêmio pelo alcance de um resultado desejado pelo dono da empresa, 
o gestor recebe uma fatia do lucro da empresa em valores monetários. Portanto, 
o gestor só irá se esforçar para alcançar os lucros desejados pelo empresário 
quando for receber uma parcela do mesmo, como forma de remuneração 
variável (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
De forma similar ocorre com as punições. Os agentes irão desempenhar 
um resultado positivo e alcançarão as metas estabelecidas, se sua posição na 
companhia depender disso. Assim, se houver uma regra clara sobre a 
permanência do gestor na empresa estar atrelada aos resultados econômicos 
desejados, então os agentes irão se esforçar para atingir esses resultados 
(Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Um dos pressupostos da Teoria da Agência é que, à medida que o direito 
pela propriedade do administrador diminui, o seu incentivo a dedicar esforços 
significativos também diminui consideravelmente. Isto é, quando o administrador 
é também o dono da empresa, ele terá maiores incentivos para se esforçar em 
direção à maximização dos resultados da empresa. Agora, à medida que o 
administrador não tem tanto direito sobre a propriedade ou não possui nenhum 
direito, seus esforços serão direcionados cada vez mais para o aspecto individual 
em vez do empresarial. Os teóricos da teoria econômica afirmam que esse 
problema pode ser resolvido via remuneração, em especial a remuneração 
variável, como é o caso da participação nos resultados da empresa. Quanto 
maior o resultado da empresa, maior a compensação que o gestor receberá, 
portanto esse agente se esforçará para alcançar o melhor resultado possível 
(Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Assim, surge o questionamento em relação a como corrigir as 
divergências de interesse entre o agente e o principal. Ainda, monitoramento, 
 
 
7 
vigilância e garantias: compensam? Esses questionamentos têm sido objeto de 
estudo dos pesquisadores, que tentam desenvolver regras de conduta para que 
o agente maximize o interesse do principal. Esse seria o mundo ideal. 
TEMA 3 – CONFLITOS DE AGÊNCIA 
No tema anterior, discorremos sobre os aspectos gerais da Teoria da 
agência. Como vimos, a relação de agência gera um conflito entre agente e 
principal, decorrente da divergência de interesses entre eles, fato explicado pela 
teoria microeconômica clássica (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). Neste 
tópico, com o intuito de compreender essa questão e os efeitos para a 
organização, iremos aprofundar a discussão acerca desse conflito de agência. 
Segundo a teoria microeconômica clássica, o ser humano irá sempre 
maximizar sua utilidade individual. Portanto, o proprietário e o agente terão 
sempre interesses conflitantes dentro da empresa, cada qual objetivando 
maximizar sua utilidade individual (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Os administradores (agentes) irão procurar por situações vantajosas para 
si, de maneira geral, com o intuito de obter cada vez mais recursos econômicos 
e financeiros. Como exemplo, podemos citar situações que podem 
eventualmente acontecer das relações econômicas envolvendo os gestores, que 
tomarão decisões que tragam benefícios diretos ou indiretos para si: ao negociar 
com fornecedores ou clientes, os gestores podem tomar decisões prejudiciais 
para a empresa, mas que tragam benefícios para si, monetários ou não; os 
gestores podem contratar funcionários que são membros de sua família para 
trabalharem em sua equipe, mas estes podem não ser os melhores candidatos 
para a vaga de emprego; nesse caso, a decisão do gestor não foi em benefício 
da empresa, mas em benefício próprio, direta ou indiretamente etc. 
E os proprietários também estão procurando oportunidades de aumentar 
suas riquezas. Portanto, eles desejam que os administradores tomem decisões 
para maximizar o lucro da empresa. Por exemplo, o principal pode dar ordem 
para a retirada do bônus dos gestores; essa decisão irá desagradar os 
administradores e demonstra um interesse de maximizar sua utilidade individual, 
ou seja, a riqueza da organização. Outro exemplo é quando a empresa decide 
diminuir a qualidade de determinado produto para ter um lucro maior. Essa 
decisão visa maximizar sua utilidade, contudo irá afetar aos clientes, que obterão 
produtos com qualidade inferior. 
 
 
8 
Dentro das organizações, a princípio, o administrador está na posição de 
atender aos interesses da firma, ou seja, do proprietário da empresa. Deveria, 
portanto, se comportar de maneira a tomar as melhores decisões para aqueles 
que representam: os proprietários. Contudo, ao objetivar maximizar sua 
utilidade, ou seja, atingir seus próprios interesses, os agentes vão procurar tomar 
decisões que aumentem seu poder dentro da organização. Dessa forma, suas 
decisões tendem a aumentar mais ainda a assimetria informacional entre os 
agentes. 
Ao tomar decisões que tendem a aumentar seu poder dentro da 
organização, os agentes irão aumentar a assimetria informacional com o 
principal, visto que é a assimetria informacional, ou seja, a falta de conhecimento 
do principal, que gera o poder do agente (administrador). Dessa maneira, o 
proprietário terá que encontrar mecanismos para diminuir essa assimetria de 
informação, uma vez que esse comportamento do agente pode levar a 
organização para caminhos diferentes daqueles desejados pelo dono da 
empresa. 
Ainda, esses conflitos de agência podem ser prejudiciais para a empresa, 
levando a companhia, por vezes, ao caminho do fracasso. O caso da empresa 
Enron é um exemplo desse tipo, gerado pela presença de conflito de agência. 
Os executivos da empresa (agente) conseguiram por muito tempo esconder do 
mercado e, principalmente,dos seus próprios acionistas (principal) sua real 
situação financeira, fato que levou à falência da empresa (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
 O tema 3 desta aula tratou do aprofundamento dos conflitos de agência 
existentes na empresa. O que é importante gravar desse tópico é o fato de que 
os conflitos de agência surgem da necessidade do ser humano de maximizar 
sua utilidade individual e da separação entre principal e agente dentro das 
empresas, dois aspectos que foram tratados no tema 2 desta aula. 
Dessa natureza econômica dos agentes, surge, também, a assimetria de 
informação. O executivo da empresa possui maior nível de informação de 
qualidade e menor incerteza, comparado ao principal; esse fato acarreta em 
conflitos de agência, que são as tomadas de decisão, por parte do agente, 
divergentes dos interesses do principal. Como o proprietário pode tratar esses 
conflitos de agência? 
 
 
9 
No próximo tema da nossa aula, iremos abordar os custos de agência, os 
quais são consequência dos conflitos de agência, uma vez que o principal irá 
objetivar implementar mecanismos para diminuir a assimetria de informação. 
TEMA 4 – CUSTOS DE AGÊNCIA 
Nos tópicos anteriores, introduzimos alguns problemas decorrentes da 
relação de agência e o surgimento de questionamentos em relação a como 
corrigir as divergências de interesse entre o agente e o principal, ou seja, o 
conflito de agência. Relembrando, conforme Niyama (2014): 
Uma relação de agência pode ser definida como um contrato sob o 
qual uma ou mais pessoa (o principal) designam uma outra (o agente) 
para executar algum serviço em seu benefício que envolve a delegação 
de alguma autoridade decisória para o agente. O ponto central da 
Teoria da Agência é o fato de que o agente busca maximizar a sua 
utilidade e, portanto, nem sempre age no melhor interesse do principal. 
É desse conflito que surgem os custos de agência, que representam a 
soma dos seguintes custos: monitoramento, vinculação e perda 
residual. 
Assim, podemos assegurar que os custos de agência são decorrentes dos 
conflitos que surgem naturalmente entre o agente e o principal, e que estão 
relacionados ao desalinhamento de seus interesses individuais e da assimetria 
informacional. 
A assimetria de informação existente entre o agente e o principal prejudica 
a conduta racional e estratégica dos indivíduos. Ao não ter acesso a todas as 
informações para a tomada de decisões, os indivíduos podem ser direcionados 
para decisões que não irão, necessariamente, implicar uma maximização da 
utilidade individual. 
É claro que essa diferença existe naturalmente, e é conhecida pelos 
agentes, entretanto isso gera uma diferença nos níveis de qualidade da 
informação e na incerteza existente entre os diferentes agentes. Como 
consequência, há um aumento dos custos de transação existentes nas relações 
econômicas. Mas o que são esses custos de agência? 
Como discutimos no tema anterior, os agentes têm interesses que muitas 
vezes conflitam com o objetivo do principal. Desses conflitos surgem o 
questionamento, por parte do proprietário, de como alinhar o comportamento dos 
agentes aos seus interesses. Os seguintes custos de agência representam os 
principais mecanismos de alinhamento entre principal e agente, conforme 
Niyama (2014): 
 
 
10 
 
 Monitoramento: representam os custos decorrentes do monitoramento 
do comportamento dos agentes, tais como: auditorias periódicas, 
restrições orçamentárias, controle de atividades, estabelecimento de 
programas de compensação, etc. 
 Vinculação: são os custos relacionados aos mecanismos que visam 
garantir que os gerentes atuem de acordo com os interesses do principal, 
ou garantir que eles compensem o principal, caso atuem de maneira 
contrária a esses interesses. Tais mecanismos podem ser instituídos 
pelos próprios gerentes (agentes) que, nesse caso, também arcam com 
tais custos. São exemplos: divulgações voluntárias de informações 
contábeis adicionais, garantia de submeter as demonstrações contábeis 
a auditorias, limitação do poder de decisão do agente, metas e indicadores 
de desempenho organizacional. 
 Perda residual: é fruto da impossibilidade de garantir que ações do 
agente sempre serão no melhor interesse do principal. Trata-se de um 
custo residual, que reduz o valor da firma, cuja extensão dependerá da 
eficiência dos contratos que estabelecem o monitoramento e a vinculação. 
Consiste na redução da riqueza do principal, em razão de divergências 
entre as decisões que maximização e aquelas tomadas pelo agente. 
Como exemplo, tem-se a situação de price protection, em que os credores 
impõem uma maior taxa de juros à firma, em razão da ausência de 
mecanismos de vinculação ou que controlem a atuação do agente. 
Em suma, os custos de agência são decorrentes da implementação de 
mecanismos para diminuir a assimetria informacional decorrente do 
desalinhamento entre agente e principal, aspecto natural do ser humano, que 
visa maximizar a utilidade individual. Em decorrência desse desalinhamento 
natural, surgem três tipos de custos de agência: os custos de monitoramento, os 
custos de vinculação e os custos relacionados a perdas residuais. 
TEMA 5 – TEORIA DA AGÊNCIA E CONTABILIDADE 
 O último tópico desta aula tratará da intersecção entre a Teoria da agência 
e a contabilidade. Dentro desse contexto, a contabilidade é um mecanismo de 
diminuição da assimetria de informação, que visa divulgar as informações 
 
 
11 
econômicas e financeiras aos usuários da informação contábil. Assim, 
investidores e credores, como acionistas e fornecedores, e ainda, clientes, 
funcionários, governo e a sociedade como um todo podem ter acesso às 
informações contábeis, fato esse que diminui a assimetria de informação entre 
os agentes e o principal. E, portanto, a informação contábil consiste em um custo 
de agência para a organização, mas também é um mecanismo de diminuição 
dos outros custos de agência dentro da empresa. 
Um dos tópicos mais estudados pela teoria da contabilidade são os 
mecanismos para diminuir o poder dos agentes para manipular o resultado 
contábil e, assim, obter melhores resultados, ou seja, diminuir a assimetria da 
informação. Dois fatos podem acontecer: primeiro, quando um resultado é 
positivo, o executivo tende a deixá-lo mais positivo para obter parcelas maiores 
de remuneração variável, assim irá gerenciar o resultado contábil para esse fim. 
Outro caso é quando o resultado da empresa é negativo, assim o 
executivo tende a deixá-lo mais negativo, uma vez que o impacto negativo no 
resultado contábil será sentido de uma só vez pela empresa. Portanto, o agente 
descarrega em apenas um período os valores que podem afetar o resultado 
contábil em outros períodos. Esse fato foi percebido nas demonstrações 
contábeis da Petrobrás, que, após os escândalos da Lava Jato e com um valor 
de mercado já abalado, resolveu lançar no resultado contábil um grande valor de 
impairment, aproveitando para “limpar” a contabilidade. Essas ações são 
decorrentes de assimetria de informação entre os diferentes agentes 
econômicas na relação da firma. 
Iudícibus e Lopes (2004) abordam cinco funções contábeis na 
coordenação dos vários contratos dentre agente e principal existente nas 
empresas: 
 Mensurar a contribuição de cada um dos participantes nos 
contratos: um exemplo está nos papéis da contabilidade na remuneração 
dos executivos. Para reduzir os impactos do conflito de agência, tem sido 
apresentada a chamada remuneração variável. A ideia consiste na 
remuneração atrelada aos resultados da empresa. Dessa forma, os 
executivos são avaliados de acordo com sua participação nos contratos 
com o principal. 
 Mensurar a fatia a que cada um dos participantes tem direito do 
resultado da empresa: para que o tópico anterior seja efetivamente 
 
 
12 
praticado, é necessário que se tenha uma métrica de avaliação dedesempenho do executivo, para que ele possa ser remunerado 
adequadamente. 
 Informar os participantes a respeito do grau de sucesso no 
cumprimento dos contratos: a contabilidade também é um instrumento 
de avaliação de desempenho e feedback para os executivos, visto que a 
informação contábil é reconhecida como neutra e, portanto, eficaz para 
medir o resultado da organização de maneira imparcial entre os diferentes 
agentes econômicos. 
 Distribuir informação para todos os potenciais participantes em 
contratos com a empresa para manter a liquidez de seus fatores de 
produção: a contabilidade também surge como um mecanismo de 
diminuição da assimetria da informação entre a empresa e outros 
agentes, como o governo, credores e a sociedade, mantendo assim a 
liquidez de seus ativos. 
 Distribuir algumas informações como conhecimento comum para 
reduzir o custo da negociação dos contratos: outro mecanismo 
contábil para diminuir os custos de transação entre os contratos é a 
divulgação voluntária de informação contábil. Esse mecanismo tem como 
intuito diminuir ainda mais os custos de agência, ao tornar os demais 
agentes ainda mais informados para a tomada de decisões. 
Em suma, a contabilidade surge como um mecanismo para mitigar a 
assimetria de informação entre os agentes econômicos. Ao divulgar as 
informações econômicas e financeiras das empresas, a contabilidade contribui 
para a diminuição da assimetria de informação entre os diferentes agentes 
econômicos e, consequente, dos custos de agência. 
TROCANDO IDEIAS 
 Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar 
uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta 
aula introdutória sobre as principais bases de desenvolvimento da teoria da 
contabilidade: as teorias microeconômicas clássicas, Teoria contratual da firma 
e Teoria da agência. Para tanto, elabore uma opinião, expondo os principais 
 
 
13 
conceitos supracitados das duas teorias no fórum, no qual o objetivo é debater 
com seus colegas. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. 
NA PRÁTICA 
 Caros alunos, chegamos à última tarefa da nossa primeira aula. Essa 
atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver essas 
habilidades durante o curso. Embora esta aula tenha envolvido basicamente 
questões conceituais, iremos sempre fazer exercícios de abstração e reflexão de 
questões do mundo econômico. 
Pense, reflita, aplique os conceitos estudados sobre assimetria da 
informação nesta aula e elabore uma resposta para a seguinte questão: 
 Você já se perguntou o porquê de o preço de um carro diminuir só de sair 
da concessionária? 
Em questões de minutos, um bem durável chega a perder quase um 
quinto de seu preço. Isso significa que, ao comprar um veículo zero quilômetro, 
após minutos da retira do bem da concessionária, ele já não possui o mesmo 
valor de mercado e sofre uma grande desvalorização. 
Resolução: esta aula tratou das teorias clássicas da microeconomia. O 
aluno deverá relacionar o ponto central de ambas as teorias, Teoria contratual 
da firma e Teoria da agência, que se refere à assimetria de informação presente 
nas relações econômicas dos diversos agentes econômicos. Nesse caso prático, 
tratamos do clássico problema do Marktet for Lemons, no qual a assimetria de 
informação entre os diferentes agentes econômicos gera um efeito denominado 
seleção adversa. Assim, podemos explicar por que um carro tem seu valor de 
mercado desvalorizado apenas uma fração de tempo após a saída da 
concessionária. 
 No caso prático apresentado, um comprador de um veículo zero 
quilômetro decide vender o bem pouco tempo depois da aquisição. Ao adentrar 
ao mercado de veículos seminovos, vê o valor do bem ser muito desvalorizado, 
mesmo estando em estado praticamente novo. Por que isso acontece? Esse é 
o típico exemplo do Market for Lemons, gerado pela assimetria da informação. 
O comprador do veículo novo sabe exatamente o estado de seu bem uma fração 
de tempo após a sua aquisição. Contudo, ao se tornar vendedor no mercado de 
automóveis usados, o novo comprador não tem informações acerca do estado e 
motivos que levaram à transação econômica. Geralmente, no mercado de 
 
 
14 
automóveis usados, existem carros de má qualidade e boa qualidade, mas o 
comprador não possui essa informação. Por esse motivo, o valor dos carros de 
boa qualidade, como no nosso caso prático, é excessivamente desvalorizado, 
assim eventualmente carros de má qualidade têm seu valor de mercado 
superavaliado. Nos dois casos, de má e boa qualidade, a assimetria de 
informação entre os agentes econômicos, comprador e vendedor, gera um valor 
médio para os veículos. Isso acarreta em desvalorização maior de carros que 
deveriam ser considerados como “quase novos”. 
FINALIZANDO 
Esta aula tratou dos aspectos teóricos da economia que impactam 
diretamente a visão das ciências contábeis. A Teoria contratual da firma e a 
Teoria da agência são duas bases fundamentais para compreender o papel da 
contabilidade dentro do mercado financeiro. Como vimos nesta aula, a 
contabilidade é um importante mecanismo de diminuição da assimetria de 
informação e dos custos de agência dentro das relações econômicas. 
No primeiro tema desta aula, foram apresentados os principais conceitos 
da Teoria contratual da firma, em especial como foi o seu surgimento e seus 
elementos fundamentais. Após compreender a relação contratual da firma, os 
temas 2, 3 e 4 trataram da Teoria da agência, que surge da separação entre 
administrador e proprietário da firma. 
 O tema 2 versou sobre as bases fundamentais da Teoria da agência. O 
tema 3 discorreu sobre o conflito de agência. O tema 4 explicitou os custos de 
agência. Por fim, o tema 5 concluiu esta aula demonstrando o papel da 
contabilidade dentro desse cenário da Teoria da agência, como um mecanismo 
de diminuição da assimetria informacional entre os agentes econômicos. 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
AKERLOF, G. A. The market for “lemons”: quality uncertainty and the market 
mechanism. The Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, p. 488-500, 1970. 
BOAVENTURA, J. M. G. et al. Teoria dos stakeholders e Teoria da firma: um 
estudo sobre a hierarquização das funções-objetivo em empresas brasileiras. 
Revista Brasileia de Gestão de Negócios, v. 11, n. 32, p. 289-307, 2009. 
IUDÍCIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: 
Atlas, 2004. 
NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014. 
WATTS, R. L.; ZIMMERMAN, J. L. Towards a positive theory of the determination 
of accounting standards. The Accounting Review, v. 53, p. 112-134, 1978. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA AVANÇADA DA 
CONTABILIDADE 
AULA 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O objetivo deste texto é apresentar a evolução histórica do pensamento 
contábil: da dicotomia normativo versus positivo, até as mais recentes teorias 
contábeis. A princípio, a pesquisa contábil tinha um caráter muito normativo, isto 
é, baseada em desenvolver normas de atuação profissional. Após diversas 
críticas a esse tipo de pesquisa, a pesquisa contábil assumiu um caráter positivo, 
fortemente influenciado pelas teorias econômicas. Dessa dicotomia existente no 
campo teórico contábil, surgiram algumas teorias que visam explicar o 
comportamento dos agentes econômicos, no que tange as informações 
contábeis, como as escolhas contábeis e o gerenciamento do resultado contábil. 
Iniciaremos pelos aspectos teóricos da Teoria Normativa da 
Contabilidade, discorrendo sobre os conceitos primordiais, o seu surgimento e 
desenvolvimento. Em seguida, versaremos sobre a Teoria Positiva da 
Contabilidade, bem como suas características, surgimento, desenvolvimento e 
contraposição às pesquisas normativas. Após, trataremos dos desenvolvimentosteóricos contábeis relacionado ao comportamento econômico dos agentes, 
explicando os fundamentos da Teoria das Escolhas Contábeis e o 
gerenciamento de resultados contábeis, abordando os tópicos de accruals, 
práticas discricionárias e não discricionárias, income smoothing, big bath 
accounting e window dressing. 
CONTEXTUALIZANDO 
A palavra teoria tem sido objeto de estudo, reflexão e controvérsia na 
literatura contábil. Temos uma teoria em contabilidade? Se sim, são diversas 
teorias ou temos uma teoria geral da contabilidade? Se não, surgem outros 
questionamentos ainda mais profundos: a contabilidade pode ser considerada 
uma ciência? Há uma teoria da contabilidade na prática? Ou apenas 
denominamos teoria da contabilidade um conjunto extenso de conceitos? 
Infelizmente, não existe uma resposta assertiva para essa e outras questões 
relacionadas. Não há consenso entre os pesquisadores (Iudicibus, 2012). 
Vamos tratar dos aspectos teóricos da contabilidade, independentemente 
dos conceitos epistemológicos de ciência. Partiremos do princípio de que temos 
teorias na área de contabilidade: Teoria Normativa da Contabilidade, Teoria 
 
 
3 
Positiva da Contabilidade, Teoria das Escolhas Contábeis e Teorias dos 
Gerenciamentos de Resultados Contábeis. 
Diante disso, sugerimos a reflexão sobre os seguintes pontos no decorrer 
do texto: como essa teoria afeta a prática profissional? Quais as principais 
consequências para a qualidade da informação contábil? E principalmente, após 
conhecer os impasses teóricos, questionem-se: como, nós, profissionais de 
contabilidade, podemos atuar para tornar a contabilidade um instrumento cada 
vez mais fidedigno? Então, aperte os cintos, vamos começar. 
TEMA 1 – TEORIA CONTÁBIL NORMATIVA 
O surgimento teórico da contabilidade tem como marco a formalização 
das práticas de registros de operações mercantis; operações, estas, que já 
existiam há incontáveis períodos anteriores na história da humanidade. Essa 
formalização foi obra de Luca Pacioli que, em 1494, apresentou o método de 
partidas dobradas, embora a formalização de uma teoria da contabilidade, como 
conhecemos hoje, tenha ocorrido apenas no início do século XX. 
O início do século XX também exibiu preocupações com os seguintes 
temas econômicos: a intervenção estatal, o avanço dos abusos cometidos pelas 
corporações, o conceito da manutenção de capital, a determinação do lucro e os 
debates sobre a superioridade entre o balanço patrimonial e a demonstração do 
resultado. Até o fim da década de 1920, a contabilidade era reconhecida como 
uma disciplina pautada em regras flexíveis, voltada às necessidades gerenciais 
e que, com isso, oferecia oportunidades de manipulação de informações. 
Quando, em 1929, o mundo viveu a quebra da bolsa de Nova Iorque e uma das 
maiores crises econômicas vistas até o momento, a contabilidade foi levada ao 
banco dos réus e nomeadamente culpada pelo período de depressão que se 
alastrou pelo mundo todo; em grande parte em razão da falta de padronização e 
normatização dos procedimentos contábeis que deveriam ser adotados (Niyama, 
2014). 
Assim, nesse contexto histórico de forte desconfiança da fidedignidade da 
contabilidade, inicia-se a busca pelo estabelecimento de princípios contábeis 
capazes de assegurar uma resposta adequada às necessidades da época. 
Concomitantemente, efeito do período da grande depressão econômica, foi 
criada a Securities and Exchange Commission (SEC), em 1934, com o intuito de 
assegurar a regulação estatal sobre o mercado de capitais e, 
 
 
4 
consequentemente, sobre a contabilidade. Portanto, a partir da década de 1930, 
inicia-se o período conhecido como normativo (Niyama, 2014). 
Em 1938, a SEC transferiu a sua competência legal de prescrição dos 
padrões contábeis e de divulgação das informações financeiras para o setor 
privado, permitindo, assim, que os profissionais contábeis (contadores e 
auditores) ficassem responsáveis pela definição dos princípios e práticas 
contábeis geralmente aceitos. Contudo, a prática contábil corrente à época 
necessitava ser reformulada e, portanto, a SEC buscava algo diferente do que 
havia praticado até a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 (Niyama, 2014). 
No período normativo da literatura contábil, a normatização mostrava-se 
como um caminho a ser trilhado e, para isso, uma teoria era necessária. As 
características dessa nova teoria da contabilidade foram pautadas pela 
prescrição daquilo que se entendia como a melhor prática contábil (Niyama, 
2014). 
Na década de 1960, viu-se o surgimento de uma teoria da contabilidade 
desvinculada das necessidades exclusivamente teóricas. Obras dos autores 
Edgar Owen Edward, Philip Wilkies Bell, George Stabus, Palle Hensen, Richard 
Mattessich, Norton M. Bedford, R. J. Chamber, entre outros, apresentaram uma 
preocupação em determinar o que deveria ser o conteúdo das demonstrações 
contábeis. O enfoque da teoria normativa da contabilidade durante o período de 
1960 a 1990 foi a mensuração dos ativos, impactos da inflação e o cálculo do 
lucro (Niyama, 2014). 
Até o momento, estudamos os aspectos históricos do surgimento e 
desenvolvimento da Teoria Normativa da Contabilidade. Também, conhecemos 
as características e objetivos dessa nova teoria contábil: a prescrição de como 
deveria ser a prática contábil. Agora, vamos aprender quais os principais 
fundamentos da pesquisa contábil nesse período? A pesquisa normativa é 
conhecida por ser dedutiva, subjetiva, qualitativa e focada na construção de 
teorias. 
A pesquisa é conhecida como dedutiva, pois segue o raciocínio dedutivo 
que é conhecido por buscar definir um modelo ideal, ou seja, como deveria ser. 
Ainda, nomeada qualitativa, porque visa entender como o fenômeno contábil 
ocorre; e subjetiva, por possuir caráter discricionário. Por fim, também é 
conhecida por objetivar a construção de teorias, embora, muitas vezes, a 
 
 
5 
prescrição normatizada não siga as prescrições da teoria normativa (Niyama, 
2014). 
Em suma, podemos enfatizar que esse período normativo da 
contabilidade foi reflexo da crise econômica de 1929, porque a falta de 
padronização e normatização das práticas contábeis contribuiu para o período 
da grande depressão. Esse período foi seguido pela regulamentação estatal e o 
movimento teórico de prescrição, ou seja, como a contabilidade deveria ser para 
preservar o interesse dos usuários das suas informações. Dessa maneira, o 
desenvolvimento teórico da contabilidade durante o período normativo foi 
marcado pelo raciocínio dedutivo, qualitativo, subjetivo e pelo enfoque na 
construção de teorias. 
TEMA 2 – TEORIA CONTÁBIL POSITIVA 
Neste tema, vamos tratar do aparecimento da Teoria Positiva da 
Contabilidade, que ocorreu em grande parte como reflexo das críticas sofridas 
pela corrente normativa. Assim, o primeiro questionamento é: quais foram essas 
críticas sofridas pela fase normativa da pesquisa contábil? 
Primeiramente, a crítica mais contundente às pesquisas normativas está 
relacionada à falta de cientificidade. O paradigma de pesquisa positivista passou 
a ser visto como mais importante pela academia de contabilidade, em grande 
parte por causa da influência das ciências econômicas. Nesse novo paradigma, 
o teste empírico é fundamental. Portanto, o desenvolvimento da pesquisa 
normativa, de característica dedutiva, passou a ser visto como não científico 
(Niyama, 2014). 
A segunda crítica à pesquisa normativa é o foco na prescrição em vez da 
explicação. A pesquisa normativa tem como objetivo dar orientação para a 
prática profissional sobre como a contabilidade deve ser, ou seja, sua maneira 
ideal. Portanto, a corrente normativa se preocupa com a prescrição da 
contabilidade. Ao olhar dos críticos, o foco da pesquisa contábil deve ser na 
explicação dos eventos contábeis e econômicos. Assim, explicar por que a 
divulgação da informação contábilafeta o valor de mercado das empresas é visto 
como mais importante do que dizer como a informação deve ser divulgada 
(Niyama, 2014). 
Desse modo, a partir do surgimento da teoria positiva da contabilidade, de 
inspiração econômica, a pesquisa contábil se voltava para compreender, explicar 
 
 
6 
e predizer a prática, em vez de prescrever como ela “deve ser”. Portanto, uma 
das principais características desse período é o foco em explicar e prever os 
fenômenos contábeis (Niyama, 2014). 
A expansão dos mercados de capitais foi um fator que contribuiu para a 
perspectiva da teoria positiva da contabilidade. A escola econômica da 
Universidade Chicago fundamenta-se na perspectiva que a informação contábil 
é relevante para a decisão de investimento dos stakeholders. Nesse sentido, o 
mercado de capitais contribuiu para a disseminação dessa corrente de pesquisa 
(Niyama, 2014). 
Adicionalmente, a corrente positiva da contabilidade tem as seguintes 
características: indutiva, objetiva, quantitativa, empírica e focada na validação de 
dados e hipóteses. A lógica indutiva está pautada na experiência empírica, do 
campo de pesquisa e validação dos dados e hipóteses, ou seja, o conhecimento 
é adquirido ao se conhecer a realidade. Por isso a importância da objetividade, 
para que a realidade seja apreendida pelos pesquisadores por meio dos métodos 
quantitativos (Niyama, 2014). 
Portanto, é importante compreender que, atualmente, a corrente positiva 
é a dominante nas pesquisas contábeis, em especial, na academia norte-
americana, mas também no Brasil. Assim, a partir de agora, vamos discutir 
tópicos avançados da teoria da contabilidade que se baseiam na corrente 
positiva de pesquisa, utilizando uma abordagem indutiva, empírica, objetiva e 
quantitativa. 
TEMA 3 – TEORIA DAS ESCOLHAS CONTÁBEIS 
A pesquisa contábil foi desenvolvida em duas correntes: a teoria 
normativa e a teoria positiva. Ambas tratam de modelos epistemológicos de 
pesquisa, isto é, formas ou modelos de fazer pesquisas. Para o primeiro, o 
modelo é dedutivo. Para o segundo, o modelo é indutivo. Vamos discorrer sobre 
teorias que, influenciadas pela corrente da teoria positiva, visam explicar 
fenômenos contábeis e econômicos. A primeira teoria que vamos apresentar é 
a teoria das escolhas contábeis. 
Essa teoria explica fenômenos econômicos gerados pela 
discricionariedade das normas contábeis. Assim, busca compreender, explicar e 
prever as influências da contabilidade nas relações econômicas. Silva, Martins e 
 
 
7 
Lemes (2016) retrataram os fundamentos da Teoria das Escolhas Contábeis da 
seguinte maneira: 
As normas contábeis oferecem flexibilidade para que sejam realizadas 
escolhas contábeis nas empresas, de modo que se tenha uma 
representação fidedigna da situação econômico-financeira empresarial 
por meio das demonstrações contábeis. Essa flexibilidade é 
necessária, pois o ambiente de divulgação é dinâmico e varia de 
acordo com o desenvolvimento dos mercados e os sistemas legais, 
tributários e regulatórios, aspectos esses que inviabilizam ou impedem 
a existência de normas contábeis totalmente uniformes. Por outro lado, 
a flexibilidade possibilita que os gestores busquem outros objetivos 
com as demonstrações contábeis que não necessariamente coadunam 
com a representação fidedigna. 
Conforme vimos nas palavras de Silva, Martins e Lemes (2016), as 
normas contábeis não são uniformes e têm margem para escolha dos 
procedimentos contábeis: a famosa discricionariedade normativa. Essa 
flexibilidade é necessária, pois o nível de desenvolvimento dos mercados 
financeiros globais é diferente em questões como proteção ao investidor ou ao 
credor, regulação, enforcement etc. (Silva; Martins; Lemes, 2016). 
Assim, por exemplo, o gestor tem a discricionariedade para aplicar o 
método PEPS ou o método do custo médio ponderado ao mensurar os estoques. 
A adoção de um ou outro método possibilita que os gestores busquem 
determinados objetivos com as demonstrações contábeis que, por vezes, não 
correspondem com a representação fidedigna da realidade da organização. 
Continuando o exemplo da mensuração dos estoques, o gestor poderá ter 
estoques avaliados por valores diferentes, dependendo do método escolhido. A 
implicação disso pode ser um ativo maior ou menor e/ou um lucro maior ou 
menor. Dessa forma, o gestor poderá utilizar um método ou outro, dependendo 
do objetivo que possui com a divulgação das demonstrações contábeis (Silva; 
Martins; Lemes, 2016). 
É importante salientar que a escolha contábil não constitui uma 
irregularidade, e o profissional deve escolher dentre as opções permitidas pela 
norma. Contudo, a escolha deve ser guiada pelo método que melhor reflita a 
realidade econômico-financeira da empresa. Mas como ter certeza que a 
empresa escolheu o método que reflete a realidade da empresa? É possível 
monitorar o cumprimento da norma? 
Podemos dizer que é impossível monitorar 100% o cumprimento da 
norma. Entretanto, podem-se implementar mecanismos de monitoramento. 
Esses mecanismos geram custos – por exemplo, os custos de agência – e, 
 
 
8 
portanto, a empresa deve analisar a relação custo/benefício do monitoramento 
(Silva; Martins; Lemes, 2016). 
Outro aspecto relevante é a assimetria de informações gerada pelas 
escolhas contábeis. A discricionariedade normativa da contabilidade gera 
assimetrias informacionais. Por sua vez, a assimetria informacional produz 
custos de agência – já mencionado neste tópico os custos de monitoramento – 
e permite a manipulação das informações contábeis: divulgação de informações 
que não reflete a realidade econômico-financeira da companhia (Silva; Martins; 
Lemes, 2016). 
Nesse sentido, as teorias econômicas explicam que os indivíduos agem 
impulsionados por interesses próprios e, também, dependem da continuidade da 
empresa ao longo do tempo. Dessa dicotomia surgem as perspectivas 
oportunistíca e da eficiência, conforme detalham Silva, Martins e Lemes (2016): 
Nas hipóteses de plano de incentivo, o gestor pode escolher uma 
política de amortização linear em vez de saldos decrescentes para, 
oportunisticamente, aumentar a remuneração, porém essa mesma 
política poderia ser escolhida sob a hipótese dos planos de incentivo 
por razões de eficiência. Supondo que a amortização linear mensure 
melhor o custo de oportunidade dos ativos da empresa, esse método 
resulta em um lucro reportado que melhora o desempenho do gestor. 
Assim, na perspectiva oportunística, podem surgir dois aspectos 
estudados na teoria da contabilidade: a hipótese do grau de endividamento e a 
hipótese dos custos políticos. No primeiro caso, as empresas com alto grau de 
endividamento tendem a aumentar seus lucros, com o intuito de diminuir o custo 
de capital. Já no segundo caso, as grandes empresas, como os bancos, tendem 
a usar técnicas contábeis para diminuir os lucros, em razão da elevada atenção 
política e social que essas empresas possuem. Porém, há um contraponto à 
perspectiva oportunística: esses indivíduos dependem da continuidade da 
empresa ao longo do tempo. Dessa forma, os indivíduos tendem a utilizar 
métodos que diminuam os custos contratuais e que tenham maior eficiência 
(Silva; Martins; Lemes, 2016). 
A teoria das escolhas contábeis constitui uma linha de pesquisa 
importante para a academia de contabilidade. Ela objetiva compreender e 
explicar como a discricionariedade normativa afeta as ações dos agentes 
econômicos e o mercado financeiro. Dessa maneira, será notável sua conexão 
com a teoria dos gerenciamentos de resultados contábeis, tópico que 
estudaremos nos próximos dois temas desta aula. 
 
 
9 
 
TEMA 4 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: ACCRUALS E PRÁTICAS 
DISCRICIONÁRIAS E NÃO DISCRICIONÁRIAS 
A teoria das escolhas contábeis introduziu-nos a perspectiva da 
discricionariedade normativa que existe na contabilidade. Essa 
discricionariedade gera assimetriainformacional entre os diferentes agentes 
econômicos. Isso permite que os gestores possam gerenciar o resultado da 
organização com objetivos que não correspondem com os interesses dos 
demais stakeholders. Sobre esse tópico, discorreremos o quarto tema desta 
aula. 
Para iniciar essa discussão, vamos apresentar alguns conceitos de 
gerenciamento de resultados. Essa compreensão é fundamental para a 
sequência desta aula e para aprendermos a diferenciar as escolhas contábeis – 
definidas como espaço de escolha das normas contábeis, visando à 
representação da realidade econômico-financeira de maneira fidedigna – e o 
gerenciamento de resultados, definido como segue: 
A intervenção proposital no processo de elaboração das 
demonstrações financeiras com a intenção de obter algum ganho. 
(Schipper, 1989) 
O gerenciamento de resultado ocorre quando os gestores usam 
julgamento no processo de elaboração das demonstrações financeiras 
para induzir ao erro alguns stakeholders sobre o desempenho 
econômico da empresa. (Healy; Wahlen, 1999) 
Portanto, podemos afirmar que o gerenciamento de resultados é uma 
intervenção proposital nas demonstrações contábeis, por parte de um agente 
econômico, com o intuito de induzir ao erro outros agentes econômicos 
(Martinez, 2008). 
4.1 Accruals: discricionários e não discricionários 
O gerenciamento de resultados ocorre pela intervenção nos accruals por 
parte dos gestores. Mas o que são os accruals? E por que esse é o mecanismo 
que permite o gerenciamento de resultados? 
Primeiro, é relevante a formação da compreensão do que são os accruals 
e Martinez (2008) define como “todas aquelas contas de resultado que entram 
 
 
10 
no cômputo do lucro, mas que não implicam em necessária movimentação de 
disponibilidades”. 
Os accruals existem em virtude da diferença entre o regime de caixa e o 
regime de competência. São as contas de resultado que não impactam no caixa 
da organização, como a depreciação, o impairment e os lançamentos de folha 
de pagamento no mês de ocorrência quando o pagamento ocorrerá no mês 
subsequente. Portanto, nada de errado existe no lançamento de accruals. O 
objetivo dessas contas contábeis é mensurar o resultado econômico da empresa 
(Martinez, 2008). 
O gerenciamento de resultados surge quando o gestor aumenta ou 
diminui os accruals com o objetivo de influenciar o lucro, por motivos alheios à 
realidade do negócio. Assim, temos dois tipos de accruals: accruals 
discricionários e accruals não discricionários (Martinez, 2008). 
Os accruals não discricionários são naturais aos negócios da entidade e 
são registrados na contabilidade com a intenção de representar a realidade 
econômica da organização; portanto, sem a intenção de gerenciar os resultados 
contábeis (Martinez, 2008). Como exemplo podemos citar a depreciação, que 
visa representar um ativo pelo seu valor econômico. É o caso é do impairment, 
que visa reavaliar o valor econômico dos ativos. No primeiro exemplo, o ativo é 
depreciado periodicamente; no segundo, o ativo é reavaliado, visto que a 
depreciação, em alguns casos, pode não ser suficiente para refletir o valor 
econômico do ativo. 
Em contraponto, os accruals discricionários são artificiais e têm como 
único propósito gerenciar o resultado contábil. Esses registros contábeis podem 
ser negativos ou positivos, indicando se a empresa objetiva melhorar ou piorar 
seu resultado econômico. Por exemplo, podemos citar um lançamento de 
depreciação ou impairment. Em ambos os casos a empresa procederá com o 
lançamento com o intuito de desvalorizar um ativo ou superavaliar um ativo para 
obter vantagens econômico-financeira. Percebem a diferença? Tanto os 
accruals discricionários quanto os accruals não discricionários são lançamentos 
de contas que não impactam caixa e, portanto, de fácil manipulação. O que difere 
entre os diferentes accruals é a intenção. Sobre esse aspecto, discorreremos no 
próximo tema desta aula, que abordará os três modelos de gerenciamento de 
resultado, income smoothing, big bath accounting e window dressing, e explicará 
as diferentes intenções por parte dos agentes econômicos em cada caso. 
 
 
11 
TEMA 5 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: INCOME SMOOTHING, BIG 
BATH ACCOUNTING, WINDOW DRESSING 
Estamos adentrando o último tema desta aula e o tópico a ser discutido é 
gerenciamento de resultados. Conforme comentamos na seção anterior, 
gerenciamento de resultados pode ser definido como uma intervenção proposital 
nas demonstrações contábeis, por um agente econômico, com o intuito de 
induzir ao erro outros agentes econômicos. Neste quinto tema, discorreremos 
sobre os três principais modos de gerenciar resultados nas organizações: 
income smoothing, big bath accounting e window dressing. 
5.1 Income smoothing 
O income smoothing é um dos modos de gerenciar resultado nas 
organizações. É conhecido por ter como objetivo reduzir/suavizar a variabilidade 
dos resultados contábeis com o intuito de estabilizar o lucro ao longo do tempo 
(Rivera-Castro; Martinez, 2008). 
Nesse cenário, a empresa vai registrar mais ou menos accruals na 
contabilidade dependendo do resultado contábil do período. Por exemplo, se no 
período X0 o lucro for de 30.000.000,00 (valor suavizado) e no período X1 o 
resultado contábil for de 20.000.000,00, a empresa vai gerenciar o resultado 
contábil para cima, com o intuito de se aproximar do valor suavizado. E se em 
X2 o lucro for de 40.000,00? A empresa tenderá a gerenciar o resultado contábil 
para baixo, com o intuito de se aproximar do valor suavizado. 
A relação do income smoothing se estabelece com a rentabilidade da 
empresa. A explicação para se fazer income smoothing é que quando há 
suavização dos resultados contábeis, a previsão do mercado financeiro em 
relação ao resultado econômico da empresa é mais assertiva e, portanto, a 
informação contábil se torna mais relevante e reflete positivamente no valor das 
ações da empresa. 
5.2 Big bath accounting 
Outro mecanismo de gerenciamento de resultados contábeis utilizado pelos 
gestores é o big bath accounting. Mas no que ele consiste? 
 
 
12 
Este é um tipo de gerenciamento de resultados que tem como objetivo piorar 
um resultado ruim com o intuito de obter um resultado melhor no futuro. Como 
assim? O objetivo consiste em piorar o resultado da empresa? 
Sim, exato! Vamos pensar no seguinte caso: a empresa Alfa possui accruals 
que, ao serem registrados, vão afetar negativamente o resultado da empresa, 
assim, evitam o lançamento desses accruals enquanto o resultado for positivo. 
Contudo, no momento de uma crise financeira e/ou de um resultado operacional 
ruim, a empresa lança esses accruals que vão piorar o resultado do exercício, 
com o intuito de, nos próximos períodos, obter resultados mais favoráveis. 
Um outro caso em que pode ocorrer big bath accounting é com a mudança 
de gestão na organização. O novo gestor pode utilizar esse mecanismo para 
atribuir ao antigo gestor um desempenho ruim e, assim, garantir resultados 
futuros melhores, que serão atribuídos à nova gestão. 
5.3 Window dressing 
O window dressing é um mecanismo de gerenciamento de resultados que 
visa maquiar os resultados contábeis tornando-os mais positivos. O exemplo 
mais comum relatado pela literatura é a operação de window dressing realizada 
pelos fundos de investimentos. 
Imagine o seguinte caso: um fundo de investimentos investe em ações A, B, 
C e D. Ainda, o fundo de investimentos usualmente divulga o desempenho do 
fundo de forma trimestral. No quarto trimestre, as ações A e B superaram o índice 
total, mas representavam pouco dentro do peso do fundo de investimentos, 
enquanto as ações C e D ficaram abaixo do índice total, mas representavam 
muito dentro do peso do fundo de investimentos. Assim, o gestor do fundo de 
investimentos decide “maquiar os resultados” e, portanto, vende as ações C e D, 
substituindopor ações com maior índice. Essas decisões dos gestores vão levar 
os stakeholders a avaliarem o rendimento do fundo de investimentos de forma 
positiva, induzindo os demais agentes econômicos a tomarem decisões de 
maneira equivocada. 
TROCANDO IDEIAS 
Estamos caminhando para o final desta aula. Vamos agora trocar ideias 
com os colegas sobre os principais aspectos tratados? 
 
 
13 
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar 
uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos sobre os 
tópicos teóricos da teoria das escolhas contábeis e o gerenciamento de resultado 
contábil, com o intuito de diferenciar as práticas de cada tema estudado. Reflita: 
escolha contábil e gerenciamento de resultados correspondem a mesma 
prática? Para responder a esse questionamento, exponha a sua opinião na 
plataforma AVA, elaborando um texto com base nos principais conceitos das 
teorias supracitadas. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos 
estudados. 
NA PRÁTICA 
Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver 
habilidades. O tema de discussão da atividade prática é gerenciamento de 
resultados, o qual discutimos nos Temas 4 e 5 desta aula. 
Para Martinez (2008, p. 13), é crucial entender que o gerenciamento dos 
resultados contábeis não é fraude contábil. No gerenciamento dos resultados 
contábeis, opera-se dentro dos limites do que prescreve a legislação contábil, 
entretanto nos pontos em que as normas contábeis facultam certa 
discricionariedade para o gerente, este realiza suas escolhas não em função do 
que dita a realidade concreta dos negócios, mas em função de outros incentivos. 
Enquanto a fraude contábil é caracterizada pelo ato intencional de falsificar e/ou 
alterar documentos contábeis, registro e demonstrações contábeis. Reúna os 
conhecimentos adquiridos durante esse curso e vamos fazer um exercício de 
abstração: 
O Sr. João Paulo é contador da empresa Alfa e trabalha sob a gerência 
do Sr. Henrique Cardoso, CEO da empresa Alfa. O Sr. Henrique Cardoso recebe 
remuneração variável atrelada ao desempenho da organização. O indicador 
utilizado para mensurar o desempenho é o lucro contábil. 
O Sr. João Paulo decide registrar um número elevado de accruals no 
período X4 que antecede a avaliação de desempenho do CEO. Esses accruals 
elevam o resultado contábil do período, reportando um lucro três vezes maiores. 
Agora, vocês deverão refletir e decidir se o ato praticado pelo Sr. João 
Paulo se caracteriza como fraude contábil ou gerenciamento de resultados. 
Apresente uma posição em relação ao cenário apresentado e justifique sua 
escolha. (A sugestão de resposta está ao fim deste documento). 
 
 
14 
FINALIZANDO 
Esta aula nos auxiliou a adentrar ao mundo teórico contábil e 
compreender como surgiram e se desenvolveram as duas principais correntes 
de pesquisa da área: a teoria normativa e a teoria positiva. Ainda, discutimos 
alguns tópicos avançados derivados da corrente positiva da contabilidade, como 
a teoria das escolhas contábeis e os estudos de gerenciamento de resultados. 
Nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentadas as duas 
correntes teóricas que guiaram o desenvolvimento das pesquisas nas ciências 
contábeis: a teoria normativa e a teoria positiva. Discorremos, também, sobre o 
desenvolvimento histórico de ambas as perspectivas, suas características e as 
principais críticas. 
Nos três últimos temas, o enfoque esteve em tópicos avançados da teoria 
contábil, desenvolvidos sob influência da corrente positiva. No tema 3, foi 
apresentada a teoria das escolhas contábeis e as implicações da 
discricionariedade normativa. No tema 4, expressamos os conceitos e definições 
de gerenciamento de resultados e a sua relação com a discricionariedade 
normativa. O último tema aprofundou os principais mecanismos de 
gerenciamento de resultados: income smoothing, big bath accounting e window 
dressing. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
HEALY, P. M.; WAHLEN, J. M. A review of the earnings management literature 
and its implications for standard setting. Accounting Horizons. v. 13, n. 1, p. 
365-383, 1999. 
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evolução e tendências. Revista de 
Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 
5-13, 2012. 
MARTINEZ, A. L. Detectando earnings management no Brasil: estimando os 
accruals discricionários. Revista Contabilidade & Finanças, v. 19, n. 46, p. 7-
17, 2008. 
NIYAMA, J. K. Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014. 
RIVERA-CASTRO, M. A.; MARTINEZ, A. L. Income smoothing como critério para 
montagem de carteiras: evidências empíricas no mercado brasileiro. In: XXXII 
EnANPAD. Anais... Rio de Janeiro, 2008. 
SCHIPPER, K. Commentary on earnings management. Accounting Horizons, 
v. 3, n.1, p. 91-102, 1989. 
SILVA, D. M.; MARTINS, V. A.; LEMES, S. Escolhas contábeis: reflexões para a 
pesquisa. Revista Contemporânea de Contabilidade, v. 13, n. 29, p. 129-156, 
2016. 
 
 
 
16 
RESPOSTA 
Considerando o conflito de interesses existente entre o contador e o CEO, 
uma vez que o primeiro está abaixo na hierarquia organizacional do segundo e 
o João Paulo é responsável pela elaboração dos demonstrativos contábeis, 
existe uma grande possibilidade de o lançamento representar um gerenciamento 
de resultados. O segundo elemento é que não há evidências de alteração ou 
destruição de documentos contábeis, o que poderia caracterizar uma fraude 
contábil. Assim, o cenário indica um possível gerenciamento de resultados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA AVANÇADA DA 
CONTABILIDADE 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O objetivo desta aula é introduzi-los aos conteúdos mais atuais do mundo 
da academia contábil no que tange ao tópico de divulgação voluntária das 
informações contábeis. Perpassaremos algumas teorias desenvolvidas nessa 
área de estudos nos últimos anos, que têm sido de grande relevância para a 
compreensão dos mecanismos de atuação da informação contábil no mercado 
financeiro e de capitais. 
Iniciaremos pela exposição da teoria dos stakeholders, discorrendo sobre 
os seus conceitos e definições primordiais. O tema 2 versa sobre a teoria da 
legitimidade e suas principais fundamentações. Em seguida, os temas 3 e 4 
tratarão dos mecanismos de divulgação voluntária das informações contábeis. 
No tema 3, o objetivo é conhecer os artifícios inerentes ao mundo da divulgação 
voluntária das informações contábeis, ou seja, o que é a divulgação voluntária e 
as suas relações com o mercado financeiro e de capitais. No tema 4, o enfoque 
recai sobre as motivações dos agentes econômicos para a divulgação voluntária 
das informações contábeis. Por último, o tema 5 apresenta as principais 
tendências da pesquisa contábil no Brasil. 
CONTEXTUALIZANDO 
A contabilidade financeira tem como finalidade o reconhecimento, a 
mensuração e a divulgação de informações de natureza contábil-econômico-
financeira. Os procedimentos e métodos adotados para reconhecer e mensurar 
os elementos patrimoniais e econômicos são direcionados pelas normas de 
contabilidade, no Brasil vigente as IFRSs. Assim como o reconhecimento e a 
mensuração, a divulgação também é orientada pelas normas brasileiras de 
contabilidade. Portanto, essas normas estabelecem o conteúdo e o formato de 
divulgação dessas informações de cunho obrigatório. 
Além da divulgação obrigatória, existe a prática de divulgação voluntária 
das informações contábeis e esse é o foco de estudos desta aula. Assim, 
queridos alunos, de antemão já vamos informar que a divulgação voluntária não 
ocorre de maneira completa. Reveste-se, portanto, de elevada relevância os 
estudos sobre o impacto das informações adicionais em métricas de mercado, 
como o valor de mercado da empresa e o custo de capital,e as motivações que 
 
 
3 
levam as organizações a fazerem divulgações voluntárias, mesmo estando 
atreladas a custos adicionais de divulgação. 
Diante disso, sugerimos que vocês reflitam sobre os seguintes pontos: O 
que é divulgação voluntária? Por que ela não acontece de maneira completa? 
Quais são as bases teóricas que fundamentam essas explicações? Como esses 
aspectos impactam o dia a dia profissional dos contadores? A divulgação 
voluntária acontece só para empresas de capital aberto? 
São muitos questionamentos, mas essa reflexão inicial auxiliará no 
andamento desta aula. Para tanto, sugerimos que leiam o artigo A divulgação 
voluntária e o gerenciamento de resultados contábeis: evidências no mercado 
de capitais brasileiro”, da Silvia Consoni, do Romualdo Douglas Colauto e do 
Gerlando Augusto Sampaio Franco de Lima, publicado no ano de 2017. 
TEMA 1 – TEORIA DOS STAKEHOLDERS 
Iniciamos, agora, a nossa discussão teórica sobre os aspectos contábeis 
e as relações com o mercado financeiro e de capitais. A primeira teoria a ser 
discutida nesta aula é a teoria dos stakeholders. Mas o que são stakeholders? 
Para trabalharmos com uma definição precisa do termo, a partir desse 
momento, precisamos entender os stakeholders como “todas as partes 
interessadas na empresa, as quais são definidas como qualquer grupo ou 
indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da empresa” 
(Niyama, 2014, p. 151). Assim, podemos citar como stakeholders os acionistas 
da empresa, os investidores e credores, o governo, os funcionários e as 
comunidades que são afetadas pelas ações das organizações. 
A teoria dos stakeholders é uma teoria baseada nos preceitos da 
microeconomia clássica, conforme discutimos anteriormente. Essa teoria tem 
como fundamento o reconhecimento da importância da gestão dos stakeholders, 
isto é, “os gestores devem tomar decisões que levem em conta todos os círculos 
que podem afetar o valor da empresa” (Niyama, 2014, p. 152). Estamos falando 
da gestão dos interesses de agentes econômicos que podem afetar o valor da 
empresa, ou seja, em especial, investidores e credores da organização. Niyama 
(2014) retratou a teoria dos stakeholders da seguinte maneira: 
A teoria dos stakeholders da empresa requer não só uma compreensão 
dos tipos de influência das partes interessadas, mas também como as 
empresas respondem a essas influências. As partes interessadas se 
envolvem com a empresa, porque é do seu interesse fazê-lo, 
 
 
4 
reconhecendo a capacidade de influenciar nas ações da empresa e 
resguardar a promoção do seu bem-estar. A busca é por uma situação 
de equilíbrio de poder entre stakeholders e a organização, para que 
assim a empresa possa ganhar legitimidade aos olhos dos atores 
relevantes (ou sociedade), de forma que a interação possa realmente 
ser mútua. 
Dessa maneira, é importante que as empresas tenham um bom 
relacionamento com seus stakeholders e isso implica bons resultados 
financeiros. A literatura contábil aponta que um contexto de harmonia entre 
empresa e stakeholders acarreta em um maior valor para a empresa, e mesmo 
que isso não signifique lucro no curto prazo, implica a sobrevivência da 
organização no longo prazo. Portanto, para manter esse equilíbrio das relações 
com os stakeholders, é necessário a compreensão de como gerenciar os 
interesses das partes relacionadas (Niyama, 2014). 
A teoria dos stakeholders prevê e explica os mecanismos nos quais a 
gestão adequada desses agentes econômicos acarreta em uma influência 
positiva no resultado financeiro e na valorização da empresa. A teoria também 
prevê que o diálogo entre as partes relacionadas gera interesses compartilhados 
que levarão a maximização do valor da empresa para todos os participantes do 
processo. 
Em suma, a teoria dos stakeholders versa sobre a importância da gestão 
dos agentes econômicos que afetam e são afetados pela organização, uma vez 
que uma harmonização entre os interesses da empresa e dos stakeholders 
provoca uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização da 
empresa. 
TEMA 2 – TEORIA DA LEGITIMIDADE 
A outra teoria que sustenta os preceitos da divulgação voluntária – tópico 
a ser discutido nos próximos dois temas dessa aula – é a teoria da legitimidade. 
Essa teoria assevera que as empresas buscam meios de se legitimar perante a 
sociedade. Algumas dúvidas importantes para vocês refletirem: o que é 
legitimidade? Por que a legitimidade é importante? Quais são os meios utilizados 
pelas empresas para se legitimar? 
Vamos começar pela apresentação do conceito de legitimidade. Para 
Niyama (2014, p. 149), “a legitimidade deve ser definida como uma condição ou 
estado do sistema que se verifica quando o valor de uma entidade é congruente 
com o valor do sistema social da qual a entidade é uma parte”. Nesse sentido, 
 
 
5 
alunos, a legitimidade pode ser compreendida como um estado ou condição pelo 
qual a empresa é “aceita” pelo sistema social do qual faz parte (Niyama, 2014). 
Por exemplo, vamos discutir a legitimidade de uma empresa mineradora X, 
responsável por um crime ambiental que ocorreu na comunidade em que estava 
inserida. Após o episódio da tragédia ambiental e social, a empresa passou a 
ser vista como uma empresa ruim para a comunidade que vive ao entorno da 
organização. Assim, a sua aceitação ou valor do sistema social passou a ser 
muito pequena e a empresa viu sua legitimidade se tornar ilusória. 
Um dos pilares fundamentais da legitimidade é a comunicação 
socioambiental entre empresa e sociedade. “Nessa perspectiva, a sociedade 
aceita e aprova os posicionamentos tomados pela organização. É importante 
para a legitimidade que a empresa seja vista como um ente social e 
ambientalmente responsável” (Niyama, 2014, p. 150). Portanto, a preocupação 
com a comunicação entre empresa e sociedade, no que tange aos aspectos 
sociais e ambientais, se configura como uma importante estratégia para conferir 
legitimidade. 
E por que a legitimidade é tão importante? 
As organizações só existem na medida em que a sociedade confere sobre 
as organizações o estado de legitimidade. Niyama (2014, p. 150) assevera que 
“as organizações não são consideradas detentoras de qualquer direito inerente 
aos recursos, ou mesmo de existir”. Dessa maneira, podemos pensar na 
empresa mineradora, responsável pelo crime ambiental, conforme supracitado, 
caso a sociedade decida que a empresa não deve existir naquele local ou que 
os serviços prestados para a sociedade são irrisórios perto dos riscos 
ambientais, essa empresa deixará de existir. 
Outro elemento importante para a teoria da legitimidade são os contratos 
sociais. Neles, estão implícitas ou explícitas a aceitação dos agentes a respeito 
da forma como as empresas devem atuar e se posicionar na sociedade (Niyama, 
2014). Como vimos na teoria contratual da firma, se um contrato for quebrado, 
pode ameaçar a harmonia existente no sistema empresarial e a própria 
continuidade da organização. Assim, conforme Niyama (2014, p. 150): 
Quando um evento negativo ocorre, se tem uma ameaça presente ou 
potencial à legitimidade da entidade, os gestores devem procurar 
ferramentas que mudem ou amenizem tais efeitos, tentando assim 
recuperar a percepção sobre os objetivos da organização. 
 
 
6 
Retomando o caso da empresa mineradora, após o incidente ambiental, 
provavelmente a empresa tomou decisões e ações que amenizaram o efeito do 
evento sobre a legitimidade, uma vez que ela foi capaz de se manter operando 
no mercado. 
Mas quais são os mecanismos utilizados para assegurar a legitimidade 
das empresas? São eles: disclosure social e disclosure voluntário. 
O disclosure social visa atuar como um instrumento de legitimação da 
empresa perante a sociedade, e apresenta informações de cunho 
socioambientais e econômico-financeiras. Esse relatório visa apresentar essas 
informaçõespara um grande número de stakeholders, os quais vão legitimar e 
aceitar as decisões tomadas pela companhia. Dessa maneira, frequentemente, 
pode ser visto como um elemento estratégico para a implementação de objetivos 
pela organização. 
O disclosure, ou divulgação, voluntário será tópico de discussão dos 
próximos temas. Contudo, alunos, podemos adiantar que ele também atua como 
um instrumento de legitimidade para as organizações, como veremos a seguir. 
Em suma, a teoria da legitimidade versa sobre a aceitação de uma 
organização em seu sistema social, bem como essas implicações e os 
mecanismos de gestão da legitimidade. Finalizamos, assim, os dois primeiros 
tópicos desta aula, que objetivaram discorrer sobre duas teorias que embasam 
e dão fundamentos para a prática de divulgação voluntária das informações 
contábeis. 
TEMA 3 – DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS 
Conforme apresentado anteriormente, a divulgação das informações 
contábeis se configura como um importante mecanismo para gestão dos 
stakeholders e da legitimidade das organizações. Neste tópico, vamos abordar 
as definições de divulgação voluntária e suas inter-relações com as teorias 
microeconômicas, nomeadamente a teoria da agência e a teoria contratual da 
firma. 
O primeiro aspecto a ser compreendido é: no que consiste a divulgação 
voluntária das informações contábeis? Nesse sentido, podemos definir 
divulgação voluntária como as informações contábeis que não têm 
obrigatoriedade para serem divulgadas, segundo as normas em vigor no país ou 
os órgãos reguladores. Contudo, essas informações são divulgadas para os 
 
 
7 
stakeholders no conjunto das demonstrações financeiras. Como exemplo 
podemos citar o número de funcionários do gênero feminino na diretoria 
executiva da empresa. Essa informação não possui obrigatoriedade de 
divulgação, porém, a empresa pode optar por divulgá-la – a decisão, de divulgar 
ou não essas informações adicionais, será discutida no próximo tema. 
Retomando o conceito de divulgação voluntária, vamos relembrar a teoria 
da agência, já discutida. A teoria da agência tem como premissa que as relações 
entre os diferentes agentes econômicos são conflituosas, motivadas pela 
assimetria das informações. Nesse contexto, a assimetria de informação entre 
insiders – agente econômicos que estão dentro da organização e, portanto, têm 
informações privilegiadas – e outsiders – agentes econômicos que estão de fora 
das discussões e decisões operacionais da companhia e, por isso, têm menor 
nível de acesso a informações estratégicas – caracteriza-se como o elemento 
principal das relações conflituosas de agência (Consoni; Colauto; Lima, 2017). A 
divulgação voluntária é um mecanismo de diminuição desses conflitos de 
agência. 
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017, p. 251), as pesquisas na 
área contábil demonstram que: 
A assimetria informacional reduz a medida que o nível de divulgação 
voluntária de informações aumenta, isso porque, pode reduzir o 
componente de seleção adversa do bid-ask spread (o mecanismo de 
proteção do preço quando os títulos são vendidos ou comprados). 
Consequentemente, o volume de negociações e a liquidez de mercado 
das ações aumentam, reduzindo potencialmente o custo de capital. 
Relacionamos esse trecho dos autores com a apresentação do conceito 
de assimetria informacional das aulas anteriores. Como vimos, ao diminuir a 
assimetria de informações, isto é, a diferença no nível de informação a que os 
diferentes agentes econômicos têm acesso, os agentes econômicos podem 
tomar decisões de maneira mais racional, visando maximizar a sua utilidade 
individual e, assim, diminui-se a seleção adversa do mercado (Consoni; Colauto; 
Lima, 2017). 
Ao reduzir a seleção adversa os agentes econômicos têm mais 
informações assertivas sobre os diferentes ativos da organização e podem 
ofertar melhores condições, elevando a negociação do mercado de capitais, 
aumentando a liquidez dos papéis e, consequentemente, diminuindo o custo de 
capital (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
 
 
8 
Por exemplo, podemos pensar em um caso da negociação de um 
automóvel seminovo. Ambos os agentes econômicos, comprador e vendedor, 
têm informações completas sobre o estado do ativo (veículo). Esse fato acarreta 
em possibilidade para uma negociação racional, na qual ambos os agentes 
ofertam suas melhores condições. Assim, a seleção adversa é diminuída e os 
veículos são negociados muito próximo de seu valor real de mercado, e não pelo 
seu valor médio. Esse é um exemplo de diminuição da seleção adversa por meio 
da divulgação voluntária. 
Esse mesmo exemplo, se transposto para o mercado de capitais, leva ao 
entendimento de que a seleção adversa diminui os riscos e, portanto, aumenta 
o número de negociações de ativos. Esse fato acarreta em um menor custo de 
capital para as organizações. 
Portanto, os gestores têm incentivos suficientes para divulgar todas as 
informações adicionais com o intuito de se distinguirem no mercado e diminuírem 
os custos de capital. Contudo, isso não acontece. A literatura demonstrou que 
os gestores tendem a divulgar parcialmente as informações voluntárias. Por que 
não acontece a divulgação voluntária das informações contábeis de maneira 
completa? Esse questionamento será tratado no próximo tema. 
TEMA 4 – MOTIVAÇÕES PARA A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS 
INFORMAÇÕES CONTÁBEIS 
Por que os gestores não divulgam as informações adicionais de maneira 
completa? Essa discussão tem ocupado a agenda de pesquisa contábil desde 
os anos 2000 e tem se apresentado como um questionamento complexo. Os 
pesquisadores apontaram cinco aspectos que tem se mostrado relevante dentro 
dessa discussão: os gestores não divulgam informações essencialmente 
verdadeiras, existe o gerenciamento de resultados, existem custos de 
divulgação, há efeitos da informação sobre o valor da companhia e os efeitos 
explicados pela teoria dos jogos (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017), “a ideia de que a 
divulgação voluntária é eficaz e contribui para a alocação eficiente de recursos 
no mercado de capitais está vinculada à credibilidade das informações 
financeiras divulgadas”. Dessa maneira, se a informação divulgada não for 
essencialmente verdadeira, ela perde relevância para os stakeholders e não 
adiciona valor aos demonstrativos da empresa. 
 
 
9 
Outro aspecto importante refere-se ao gerenciamento de resultados. Um 
fator determinante na credibilidade das informações adicionais é o nível de 
gerenciamento de resultados praticados pela companhia. Empresas que 
gerenciam muitas informações podem ter um retorno negativo do mercado de 
capitais, assim como nos casos de informações não essencialmente 
verdadeiras, no longo prazo. Contudo, outro aspecto que é considerado pelos 
gestores refere-se ao custo da informação, de maneira geral, se a informação 
não contém viés, ela tem um custo elevado e, portanto, a divulgação voluntária 
acaba não acontecendo (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
Dessa maneira, conforme discutidos nos dois primeiros aspectos que 
podem motivar a divulgação voluntária, é comum que os gestores apresentem 
informações não verdadeiras ou gerenciem as informações adicionais, pois os 
custos de divulgação só compensarão se obtiverem um efeito positivo sobre o 
valor de mercado da empresa (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
Assim, como apresentado nos parágrafos anteriores, é salutar 
compreender que a divulgação de informações gera custos para as 
organizações. Vale a pena divulgar informação adicional? Qual o custo dessa 
divulgação? 
Esses questionamentos são produzidos pelos gestores no processo de 
decisão da divulgação de informações adicionais. “Os custos de divulgação 
variam de acordo com a natureza do que for divulgado” (Consoni; Colauto; Lima, 
2017). Dessa maneira, o gerenciamento dos stakeholders e da legitimidade

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