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TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 1
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
O objetivo desta aula é fazer uma introdução ao mundo teórico da contabilidade em seus
aspectos mais avançados e que tem sido discutido extensivamente pela academia contábil. Portanto,
esse conhecimento é fundamental para a formação do contador e para o desenvolvimento da própria
contabilidade, que é uma ciência social aplicada e necessita que o desenvolvimento do seu corpo de
conhecimento teórico seja disseminado e aplicado na prática profissional.
Nesta aula, iniciaremos pelos aspectos conceituais da Teoria contratual da firma, discorrendo
sobre os conceitos primordiais. O tema 2 deste material versa sobre os fundamentos da Teoria da
agência. Em seguida, o tema 3 irá descrever os elementos primordiais do conceito de conflito de
agência. O tema 4 discorrerá sobre os custos de agência. Por fim, o tema 5 explica a intersecção da
Teoria da agência e a contabilidade.
CONTEXTUALIZANDO
Ao longo dos anos, a teoria da contabilidade tem avançado sempre na mesma direção das
teorias econômicas. Desde o desenvolvimento teórico dessa disciplina, suas bases foram fundadas
nas descobertas microeconômicas, em especial no que tange ao funcionamento do mercado
financeiro. Assim, o primeiro aspecto relevante para a compreensão dessa disciplina teórica é a
compreensão da base de desenvolvimento teórico: as ciências econômicas.
Portanto, ao construirmos os tópicos aqui abordados, estaremos baseados nas teorias clássicas
da microeconomia. A função desta aula é apresentar e discutir essas teorias microeconômicas,
nomeadamente a Teoria contratual da firma e a Teoria da agência. A compreensão desses aspectos
irá proporcionar a compreensão dos conflitos em que a contabilidade está inserida e como ela se
relaciona com esse mundo retratado por ambas as teorias citadas.
Para começarmos a aquecer as discussões sobre teoria avançada da contabilidade, vamos refletir
sobre alguns aspectos relacionados ao dia a dia das empresas: como é a formação das empresas
atualmente? Como os diferentes agentes econômicos fazem acordos nas organizações? Como é a
relação entre o proprietário da empresa e a diretoria ou gerentes? É amistosa ou conflituosa? Quais
são os problemas que existem nessa relação? Quais são os mecanismos que existem para resolver
esses problemas? Quem são os agentes que possuem o poder de decisão?
Esses e outros questionamentos são importantes para o desenvolvimento desta aula. Reparem:
ainda não estamos tratando diretamente da contabilidade, contudo a compreensão das relações
econômicas e do comportamento dos diferentes agentes econômicos é essencial para o
desenvolvimento da ciência contábil, em especial em meados do século XX.
TEMA 1 – TEORIA CONTRATUAL DA FIRMA
Neste primeiro tema, trataremos da Teoria contratual da firma, teoria muito importante para o
desenvolvimento teórico da contabilidade, pois fundamenta as relações econômicas que ocorrem
dentro da firma entre diferentes pessoas (agentes).
A origem dessa teoria se deu com o nascimento das ciências econômicas no século XVIII, com a
obra de Adam Smith sobre as riquezas das nações. A teoria microeconômica clássica pressupõe que o
objetivo de uma empresa é maximizar o lucro e que os agentes são racionais e visam à maximização
de sua utilidade (Boaventura et al., 2009).
Para compreendermos melhor essa relação econômica da Teoria contratual da firma e seus
desdobramentos em relação ao comportamento das pessoas dentro das empresas, vamos descrever
os principais aspectos dessa teoria e como ela explica as relações entre os agentes.
Sob os pressupostos teóricos dessa teoria, a empresa é vista como um conjunto de contratos,
formais e informais, entre os diversos participantes das relações econômicas empresariais. Assim,
podemos pensar que cada participante contribui com algo para a firma e, em troca, recebe uma
contraprestação. Nisso consiste a relação contratual da firma: um agente contribui para a firma e, em
troca, recebe uma bonificação, estabelecida por contrato de maneira formal ou informal (Iudícibus;
Lopes, 2004).
Por exemplo, os empregados contribuem com sua força de trabalho e, em troca, recebem seus
salários; os acionistas contribuem com capital e, em troca, recebem dividendos e ganhos de capital;
os fornecedores contribuem com produtos e serviços e recebem dinheiro, enquanto o governo
contribui com a estabilidade institucional e, para isso, recebe os impostos (Iudícibus; Lopes, 2004).
É importante perceber que as relações entre os agentes, conhecidas como contrato, podem ser
estabelecidas de maneira formal, como no caso dos empregados e acionistas, ou de maneira
informal, como no caso do governo e em alguns tipos de contrato com clientes e fornecedores. Em
todos os casos, as relações econômicas entre os agentes são estabelecidas por um outro tipo de
contrato (Iudícibus; Lopes, 2004).
Na prática, essas relações contratuais geram alguns problemas devido a duas situações que
podem ser encontradas: informação imperfeita e informação incompleta. Os casos caracterizados
como de informação imperfeita são aqueles em que as regras do jogo são claramente definidas e
todos os agentes as conhecem, contudo os agentes não conhecem as ações dos outros agentes. Um
exemplo disso é um jogo de pôquer, no qual as regras são claras, mas nenhum jogador conhece as
cartas e intenções dos outros jogadores (Iudícibus; Lopes, 2004).
Informação incompleta é o caso em que nem mesmo as regras do jogo são totalmente claras.
Por exemplo, podemos citar uma partida de futebol. Nesse caso, existem regras do jogo, contudo a
aplicação mais rigorosa ou menos rigorosa depende do árbitro da partida (Iudícibus; Lopes, 2004).
Quando as relações contratuais não funcionam de forma adequada, a firma pode ter graves
problemas para seu equilíbrio e funcionamento e até mesmo quebrar, como no caso da empresa
Enron, como descrito por Iudícibus e Lopes (2004):
Essa empresa conseguiu durante muito tempo esconder do mercado e, principalmente, de seus
acionistas sua real situação financeira. Nesse caso, tem-se uma clara quebra de contratos entre os
acionistas e os executivos da empresa. Por outro lado, os auditores que deveriam contribuir para
reduzir o conflito também não cumpriram com suas obrigações.
Assim, podemos sumarizar a Teoria contratual da firma como uma teoria econômica amplamente
utilizada para explicar as relações econômicas que afetam a firma e a própria contabilidade. Dentro
desse cenário, os diferentes contratos da firma irão determinar as relações econômicas existentes, de
maneira formal ou informal. Enquanto essas relações são idealmente uma troca entre os agentes e a
firma, de recursos, capitais ou força de trabalho, por uma remuneração, problemas de dois tipos são
comumente encontrados nessas relações contratuais: informação imperfeita e informação
incompleta. Dessa maneira, com base na compreensão da Teoria contratual da firma, iremos abordar
nos próximos temas desta aula, aspectos primordiais da Teoria da agência, que pode ser
compreendida como uma extensão dos conceitos teóricos da teoria que acabamos de estudar.
TEMA 2 – TEORIA DA AGÊNCIA
Agora iremos tratar dos fundamentos da Teoria da agência. Em primeiro lugar, é preciso
compreender que uma empresa é formada por dois tipos de agentes: os que possuem o capital e os
meios de produção, que são os proprietários da firma, e os que possuem sua força de trabalho, os
demais agentes. Contudo, quando um proprietário delega a administração a um agente (que não
possui a propriedade da firma), passa a existir uma relação econômica entre o principal (proprietário
da firma) e um agente (administrador). Dessa forma, iniciamos a discussão sobre os elementos
fundamentais da Teoria da agência.
Como explicitado no parágrafo acima, a Teoria da agência surge da separação entre o
proprietário dos meios de produção e do capital e o administrador donegócio. Esse fato histórico
surge com a profissionalização da gestão e a delegação de trabalho para um administrador. Antes, a
administração da firma era de responsabilidade do proprietário, ou seja, administrador e dono da
empresa eram a mesma pessoa (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978).
Mas com essa separação entre proprietário e administrador surgiram conflitos e relações
econômicas que foram explicadas pela Teoria da agência. Um desses problemas que surgiu com a
separação entre o principal (proprietário da empresa) e o agente (administrador) foi a assimetria de
informação. Os agentes, que tinham a responsabilidade de administrar o negócio do principal e
assegurar o melhor resultado econômico para a firma, possuíam informações que o principal não
tinha acesso. Mas por quê?
É importante salientar que, ao delegar a administração da empresa para um terceiro (o agente),
o proprietário perde acesso a todas as informações da empresa porque não está diretamente
envolvido com o negócio, não está diariamente na empresa e não acompanha o dia a dia operacional
de seu negócio. Esse fato gera a assimetria de informação, ou seja, o proprietário tem menos
informações sobre sua firma do que o administrador que ele escolheu para gerir o seu negócio
(Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978).
Diante da assimetria de informação, que acabamos de discorrer, e da teoria microeconômica
clássica, existe um problema que fundamenta a Teoria da agência: o ser humano é maximizador da
sua utilidade individual e, portanto, age em benefício próprio. Isso significa que, dentro da
organização, o administrador irá priorizar seus próprios benefícios em vez da maximização do lucro
empresarial, desejado pelo proprietário.
Como exemplo desse comportamento do agente, vamos citar o caso de participação nos
resultados da empresa. Em muitas companhias, é comum os gestores receberem incentivos para
maximizarem o lucro do proprietário; assim, como um prêmio pelo alcance de um resultado desejado
pelo dono da empresa, o gestor recebe uma fatia do lucro da empresa em valores monetários.
Portanto, o gestor só irá se esforçar para alcançar os lucros desejados pelo empresário quando for
receber uma parcela do mesmo, como forma de remuneração variável (Akerlof, 1970; Watts;
Zimmerman, 1978).
De forma similar ocorre com as punições. Os agentes irão desempenhar um resultado positivo e
alcançarão as metas estabelecidas, se sua posição na companhia depender disso. Assim, se houver
uma regra clara sobre a permanência do gestor na empresa estar atrelada aos resultados econômicos
desejados, então os agentes irão se esforçar para atingir esses resultados (Akerlof, 1970; Watts;
Zimmerman, 1978).
Um dos pressupostos da Teoria da Agência é que, à medida que o direito pela propriedade do
administrador diminui, o seu incentivo a dedicar esforços significativos também diminui
consideravelmente. Isto é, quando o administrador é também o dono da empresa, ele terá maiores
incentivos para se esforçar em direção à maximização dos resultados da empresa. Agora, à medida
que o administrador não tem tanto direito sobre a propriedade ou não possui nenhum direito, seus
esforços serão direcionados cada vez mais para o aspecto individual em vez do empresarial. Os
teóricos da teoria econômica afirmam que esse problema pode ser resolvido via remuneração, em
especial a remuneração variável, como é o caso da participação nos resultados da empresa. Quanto
maior o resultado da empresa, maior a compensação que o gestor receberá, portanto esse agente se
esforçará para alcançar o melhor resultado possível (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978).
Assim, surge o questionamento em relação a como corrigir as divergências de interesse entre o
agente e o principal. Ainda, monitoramento, vigilância e garantias: compensam? Esses
questionamentos têm sido objeto de estudo dos pesquisadores, que tentam desenvolver regras de
conduta para que o agente maximize o interesse do principal. Esse seria o mundo ideal.
TEMA 3 – CONFLITOS DE AGÊNCIA
No tema anterior, discorremos sobre os aspectos gerais da Teoria da agência. Como vimos, a
relação de agência gera um conflito entre agente e principal, decorrente da divergência de interesses
entre eles, fato explicado pela teoria microeconômica clássica (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman,
1978). Neste tópico, com o intuito de compreender essa questão e os efeitos para a organização,
iremos aprofundar a discussão acerca desse conflito de agência.
Segundo a teoria microeconômica clássica, o ser humano irá sempre maximizar sua utilidade
individual. Portanto, o proprietário e o agente terão sempre interesses conflitantes dentro da
empresa, cada qual objetivando maximizar sua utilidade individual (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman,
1978).
Os administradores (agentes) irão procurar por situações vantajosas para si, de maneira geral,
com o intuito de obter cada vez mais recursos econômicos e financeiros. Como exemplo, podemos
citar situações que podem eventualmente acontecer das relações econômicas envolvendo os
gestores, que tomarão decisões que tragam benefícios diretos ou indiretos para si: ao negociar com
fornecedores ou clientes, os gestores podem tomar decisões prejudiciais para a empresa, mas que
tragam benefícios para si, monetários ou não; os gestores podem contratar funcionários que são
membros de sua família para trabalharem em sua equipe, mas estes podem não ser os melhores
candidatos para a vaga de emprego; nesse caso, a decisão do gestor não foi em benefício da
empresa, mas em benefício próprio, direta ou indiretamente etc.
E os proprietários também estão procurando oportunidades de aumentar suas riquezas.
Portanto, eles desejam que os administradores tomem decisões para maximizar o lucro da empresa.
Por exemplo, o principal pode dar ordem para a retirada do bônus dos gestores; essa decisão irá
desagradar os administradores e demonstra um interesse de maximizar sua utilidade individual, ou
seja, a riqueza da organização. Outro exemplo é quando a empresa decide diminuir a qualidade de
determinado produto para ter um lucro maior. Essa decisão visa maximizar sua utilidade, contudo irá
afetar aos clientes, que obterão produtos com qualidade inferior.
Dentro das organizações, a princípio, o administrador está na posição de atender aos interesses
da firma, ou seja, do proprietário da empresa. Deveria, portanto, se comportar de maneira a tomar as
melhores decisões para aqueles que representam: os proprietários. Contudo, ao objetivar maximizar
sua utilidade, ou seja, atingir seus próprios interesses, os agentes vão procurar tomar decisões que
aumentem seu poder dentro da organização. Dessa forma, suas decisões tendem a aumentar mais
ainda a assimetria informacional entre os agentes.
Ao tomar decisões que tendem a aumentar seu poder dentro da organização, os agentes irão
aumentar a assimetria informacional com o principal, visto que é a assimetria informacional, ou seja, a
falta de conhecimento do principal, que gera o poder do agente (administrador). Dessa maneira, o
proprietário terá que encontrar mecanismos para diminuir essa assimetria de informação, uma vez
que esse comportamento do agente pode levar a organização para caminhos diferentes daqueles
desejados pelo dono da empresa.
Ainda, esses conflitos de agência podem ser prejudiciais para a empresa, levando a companhia,
por vezes, ao caminho do fracasso. O caso da empresa Enron é um exemplo desse tipo, gerado pela
presença de conflito de agência. Os executivos da empresa (agente) conseguiram por muito tempo
esconder do mercado e, principalmente, dos seus próprios acionistas (principal) sua real situação
financeira, fato que levou à falência da empresa (Iudícibus; Lopes, 2004).
O tema 3 desta aula tratou do aprofundamento dos conflitos de agência existentes na empresa.
O que é importante gravar desse tópico é o fato de que os conflitos de agência surgem da
necessidade do ser humano de maximizar sua utilidadeindividual e da separação entre principal e
agente dentro das empresas, dois aspectos que foram tratados no tema 2 desta aula.
Dessa natureza econômica dos agentes, surge, também, a assimetria de informação. O executivo
da empresa possui maior nível de informação de qualidade e menor incerteza, comparado ao
principal; esse fato acarreta em conflitos de agência, que são as tomadas de decisão, por parte do
agente, divergentes dos interesses do principal. Como o proprietário pode tratar esses conflitos de
agência?
No próximo tema da nossa aula, iremos abordar os custos de agência, os quais são consequência
dos conflitos de agência, uma vez que o principal irá objetivar implementar mecanismos para
diminuir a assimetria de informação.
TEMA 4 – CUSTOS DE AGÊNCIA
Nos tópicos anteriores, introduzimos alguns problemas decorrentes da relação de agência e o
surgimento de questionamentos em relação a como corrigir as divergências de interesse entre o
agente e o principal, ou seja, o conflito de agência. Relembrando, conforme Niyama (2014):
Uma relação de agência pode ser definida como um contrato sob o qual uma ou mais pessoa (o
principal) designam uma outra (o agente) para executar algum serviço em seu benefício que
envolve a delegação de alguma autoridade decisória para o agente. O ponto central da Teoria da
Agência é o fato de que o agente busca maximizar a sua utilidade e, portanto, nem sempre age no
melhor interesse do principal. É desse conflito que surgem os custos de agência, que representam a
soma dos seguintes custos: monitoramento, vinculação e perda residual.
Assim, podemos assegurar que os custos de agência são decorrentes dos conflitos que surgem
naturalmente entre o agente e o principal, e que estão relacionados ao desalinhamento de seus
interesses individuais e da assimetria informacional.
A assimetria de informação existente entre o agente e o principal prejudica a conduta racional e
estratégica dos indivíduos. Ao não ter acesso a todas as informações para a tomada de decisões, os
indivíduos podem ser direcionados para decisões que não irão, necessariamente, implicar uma
maximização da utilidade individual.
É claro que essa diferença existe naturalmente, e é conhecida pelos agentes, entretanto isso gera
uma diferença nos níveis de qualidade da informação e na incerteza existente entre os diferentes
agentes. Como consequência, há um aumento dos custos de transação existentes nas relações
econômicas. Mas o que são esses custos de agência?
Como discutimos no tema anterior, os agentes têm interesses que muitas vezes conflitam com o
objetivo do principal. Desses conflitos surgem o questionamento, por parte do proprietário, de como
alinhar o comportamento dos agentes aos seus interesses. Os seguintes custos de agência
representam os principais mecanismos de alinhamento entre principal e agente, conforme Niyama
(2014):
Monitoramento: representam os custos decorrentes do monitoramento do comportamento
dos agentes, tais como: auditorias periódicas, restrições orçamentárias, controle de atividades,
estabelecimento de programas de compensação, etc.
Vinculação: são os custos relacionados aos mecanismos que visam garantir que os gerentes
atuem de acordo com os interesses do principal, ou garantir que eles compensem o principal,
caso atuem de maneira contrária a esses interesses. Tais mecanismos podem ser instituídos
pelos próprios gerentes (agentes) que, nesse caso, também arcam com tais custos. São
exemplos: divulgações voluntárias de informações contábeis adicionais, garantia de submeter
as demonstrações contábeis a auditorias, limitação do poder de decisão do agente, metas e
indicadores de desempenho organizacional.
Perda residual: é fruto da impossibilidade de garantir que ações do agente sempre serão no
melhor interesse do principal. Trata-se de um custo residual, que reduz o valor da firma, cuja
extensão dependerá da eficiência dos contratos que estabelecem o monitoramento e a
vinculação. Consiste na redução da riqueza do principal, em razão de divergências entre as
decisões que maximização e aquelas tomadas pelo agente. Como exemplo, tem-se a situação
de price protection, em que os credores impõem uma maior taxa de juros à firma, em razão da
ausência de mecanismos de vinculação ou que controlem a atuação do agente.
Em suma, os custos de agência são decorrentes da implementação de mecanismos para diminuir
a assimetria informacional decorrente do desalinhamento entre agente e principal, aspecto natural do
ser humano, que visa maximizar a utilidade individual. Em decorrência desse desalinhamento natural,
surgem três tipos de custos de agência: os custos de monitoramento, os custos de vinculação e os
custos relacionados a perdas residuais.
TEMA 5 – TEORIA DA AGÊNCIA E CONTABILIDADE
O último tópico desta aula tratará da intersecção entre a Teoria da agência e a contabilidade.
Dentro desse contexto, a contabilidade é um mecanismo de diminuição da assimetria de informação,
que visa divulgar as informações econômicas e financeiras aos usuários da informação contábil.
Assim, investidores e credores, como acionistas e fornecedores, e ainda, clientes, funcionários,
governo e a sociedade como um todo podem ter acesso às informações contábeis, fato esse que
diminui a assimetria de informação entre os agentes e o principal. E, portanto, a informação contábil
consiste em um custo de agência para a organização, mas também é um mecanismo de diminuição
dos outros custos de agência dentro da empresa.
Um dos tópicos mais estudados pela teoria da contabilidade são os mecanismos para diminuir o
poder dos agentes para manipular o resultado contábil e, assim, obter melhores resultados, ou seja,
diminuir a assimetria da informação. Dois fatos podem acontecer: primeiro, quando um resultado é
positivo, o executivo tende a deixá-lo mais positivo para obter parcelas maiores de remuneração
variável, assim irá gerenciar o resultado contábil para esse fim.
Outro caso é quando o resultado da empresa é negativo, assim o executivo tende a deixá-lo
mais negativo, uma vez que o impacto negativo no resultado contábil será sentido de uma só vez
pela empresa. Portanto, o agente descarrega em apenas um período os valores que podem afetar o
resultado contábil em outros períodos. Esse fato foi percebido nas demonstrações contábeis da
Petrobrás, que, após os escândalos da Lava Jato e com um valor de mercado já abalado, resolveu
lançar no resultado contábil um grande valor de impairment, aproveitando para “limpar” a
contabilidade. Essas ações são decorrentes de assimetria de informação entre os diferentes agentes
econômicas na relação da firma.
Iudícibus e Lopes (2004) abordam cinco funções contábeis na coordenação dos vários contratos
dentre agente e principal existente nas empresas:
Mensurar a contribuição de cada um dos participantes nos contratos: um exemplo está nos
papéis da contabilidade na remuneração dos executivos. Para reduzir os impactos do conflito
de agência, tem sido apresentada a chamada remuneração variável. A ideia consiste na
remuneração atrelada aos resultados da empresa. Dessa forma, os executivos são avaliados de
acordo com sua participação nos contratos com o principal.
Mensurar a fatia a que cada um dos participantes tem direito do resultado da empresa:
para que o tópico anterior seja efetivamente praticado, é necessário que se tenha uma métrica
de avaliação de desempenho do executivo, para que ele possa ser remunerado
adequadamente.
Informar os participantes a respeito do grau de sucesso no cumprimento dos contratos: a
contabilidade também é um instrumento de avaliação de desempenho e feedback para os
executivos, visto que a informação contábil é reconhecida como neutra e, portanto, eficaz para
medir o resultado da organização de maneira imparcial entre os diferentes agentes econômicos.
Distribuir informação para todos os potenciais participantes em contratos com a empresa
para manter a liquidez de seus fatores deprodução: a contabilidade também surge como
um mecanismo de diminuição da assimetria da informação entre a empresa e outros agentes,
como o governo, credores e a sociedade, mantendo assim a liquidez de seus ativos.
Distribuir algumas informações como conhecimento comum para reduzir o custo da
negociação dos contratos: outro mecanismo contábil para diminuir os custos de transação
entre os contratos é a divulgação voluntária de informação contábil. Esse mecanismo tem como
intuito diminuir ainda mais os custos de agência, ao tornar os demais agentes ainda mais
informados para a tomada de decisões.
Em suma, a contabilidade surge como um mecanismo para mitigar a assimetria de informação
entre os agentes econômicos. Ao divulgar as informações econômicas e financeiras das empresas, a
contabilidade contribui para a diminuição da assimetria de informação entre os diferentes agentes
econômicos e, consequente, dos custos de agência.
TROCANDO IDEIAS
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum.
Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta aula introdutória sobre as principais bases de
desenvolvimento da teoria da contabilidade: as teorias microeconômicas clássicas, Teoria contratual
da firma e Teoria da agência. Para tanto, elabore uma opinião, expondo os principais conceitos
supracitados das duas teorias no fórum, no qual o objetivo é debater com seus colegas. Essa
atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados.
NA PRÁTICA
Caros alunos, chegamos à última tarefa da nossa primeira aula. Essa atividade tem cunho prático,
para que vocês possam desenvolver essas habilidades durante o curso. Embora esta aula tenha
envolvido basicamente questões conceituais, iremos sempre fazer exercícios de abstração e reflexão
de questões do mundo econômico.
Pense, reflita, aplique os conceitos estudados sobre assimetria da informação nesta aula e
elabore uma resposta para a seguinte questão:
Você já se perguntou o porquê de o preço de um carro diminuir só de sair da concessionária?
Em questões de minutos, um bem durável chega a perder quase um quinto de seu preço. Isso
significa que, ao comprar um veículo zero quilômetro, após minutos da retira do bem da
concessionária, ele já não possui o mesmo valor de mercado e sofre uma grande desvalorização.
Resolução: esta aula tratou das teorias clássicas da microeconomia. O aluno deverá relacionar o
ponto central de ambas as teorias, Teoria contratual da firma e Teoria da agência, que se refere à
assimetria de informação presente nas relações econômicas dos diversos agentes econômicos. Nesse
caso prático, tratamos do clássico problema do Marktet for Lemons, no qual a assimetria de
informação entre os diferentes agentes econômicos gera um efeito denominado seleção adversa.
Assim, podemos explicar por que um carro tem seu valor de mercado desvalorizado apenas uma
fração de tempo após a saída da concessionária.
No caso prático apresentado, um comprador de um veículo zero quilômetro decide vender o
bem pouco tempo depois da aquisição. Ao adentrar ao mercado de veículos seminovos, vê o valor do
bem ser muito desvalorizado, mesmo estando em estado praticamente novo. Por que isso acontece?
Esse é o típico exemplo do Market for Lemons, gerado pela assimetria da informação. O comprador
do veículo novo sabe exatamente o estado de seu bem uma fração de tempo após a sua aquisição.
Contudo, ao se tornar vendedor no mercado de automóveis usados, o novo comprador não tem
informações acerca do estado e motivos que levaram à transação econômica. Geralmente, no
mercado de automóveis usados, existem carros de má qualidade e boa qualidade, mas o comprador
não possui essa informação. Por esse motivo, o valor dos carros de boa qualidade, como no nosso
caso prático, é excessivamente desvalorizado, assim eventualmente carros de má qualidade têm seu
valor de mercado superavaliado. Nos dois casos, de má e boa qualidade, a assimetria de informação
entre os agentes econômicos, comprador e vendedor, gera um valor médio para os veículos. Isso
acarreta em desvalorização maior de carros que deveriam ser considerados como “quase novos”.
FINALIZANDO
Esta aula tratou dos aspectos teóricos da economia que impactam diretamente a visão das
ciências contábeis. A Teoria contratual da firma e a Teoria da agência são duas bases fundamentais
para compreender o papel da contabilidade dentro do mercado financeiro. Como vimos nesta aula, a
contabilidade é um importante mecanismo de diminuição da assimetria de informação e dos custos
de agência dentro das relações econômicas.
No primeiro tema desta aula, foram apresentados os principais conceitos da Teoria contratual da
firma, em especial como foi o seu surgimento e seus elementos fundamentais. Após compreender a
relação contratual da firma, os temas 2, 3 e 4 trataram da Teoria da agência, que surge da separação
entre administrador e proprietário da firma.
O tema 2 versou sobre as bases fundamentais da Teoria da agência. O tema 3 discorreu sobre o
conflito de agência. O tema 4 explicitou os custos de agência. Por fim, o tema 5 concluiu esta aula
demonstrando o papel da contabilidade dentro desse cenário da Teoria da agência, como um
mecanismo de diminuição da assimetria informacional entre os agentes econômicos.
REFERÊNCIAS
AKERLOF, G. A. The market for “lemons”: quality uncertainty and the market mechanism. The
Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, p. 488-500, 1970.
BOAVENTURA, J. M. G. et al. Teoria dos stakeholders e Teoria da firma: um estudo sobre a
hierarquização das funções-objetivo em empresas brasileiras. Revista Brasileia de Gestão de
Negócios, v. 11, n. 32, p. 289-307, 2009.
IUDÍCIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004.
NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014.
WATTS, R. L.; ZIMMERMAN, J. L. Towards a positive theory of the determination of accounting
standards. The Accounting Review, v. 53, p. 112-134, 1978.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 2
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
O objetivo deste texto é apresentar a evolução histórica do pensamento contábil: da dicotomia
normativo versus positivo, até as mais recentes teorias contábeis. A princípio, a pesquisa contábil
tinha um caráter muito normativo, isto é, baseada em desenvolver normas de atuação profissional.
Após diversas críticas a esse tipo de pesquisa, a pesquisa contábil assumiu um caráter positivo,
fortemente influenciado pelas teorias econômicas. Dessa dicotomia existente no campo teórico
contábil, surgiram algumas teorias que visam explicar o comportamento dos agentes econômicos, no
que tange as informações contábeis, como as escolhas contábeis e o gerenciamento do resultado
contábil.
Iniciaremos pelos aspectos teóricos da Teoria Normativa da Contabilidade, discorrendo sobre os
conceitos primordiais, o seu surgimento e desenvolvimento. Em seguida, versaremos sobre a Teoria
Positiva da Contabilidade, bem como suas características, surgimento, desenvolvimento e
contraposição às pesquisas normativas. Após, trataremos dos desenvolvimentos teóricos contábeis
relacionado ao comportamento econômico dos agentes, explicando os fundamentos da Teoria das
Escolhas Contábeis e o gerenciamento de resultados contábeis, abordando os tópicos de accruals,
práticas discricionárias e não discricionárias, income smoothing, big bath accounting e window
dressing.
CONTEXTUALIZANDO
A palavra teoria tem sido objeto de estudo, reflexão e controvérsia na literatura contábil. Temos
uma teoria em contabilidade? Se sim, são diversas teorias ou temos uma teoria geral da
contabilidade? Se não, surgem outros questionamentos ainda mais profundos: a contabilidade pode
ser considerada uma ciência? Há uma teoria da contabilidade na prática? Ou apenas denominamos
teoria da contabilidade um conjunto extenso de conceitos? Infelizmente,não existe uma resposta
assertiva para essa e outras questões relacionadas. Não há consenso entre os pesquisadores
(Iudicibus, 2012).
Vamos tratar dos aspectos teóricos da contabilidade, independentemente dos conceitos
epistemológicos de ciência. Partiremos do princípio de que temos teorias na área de contabilidade:
Teoria Normativa da Contabilidade, Teoria Positiva da Contabilidade, Teoria das Escolhas Contábeis e
Teorias dos Gerenciamentos de Resultados Contábeis.
Diante disso, sugerimos a reflexão sobre os seguintes pontos no decorrer do texto: como essa
teoria afeta a prática profissional? Quais as principais consequências para a qualidade da informação
contábil? E principalmente, após conhecer os impasses teóricos, questionem-se: como, nós,
profissionais de contabilidade, podemos atuar para tornar a contabilidade um instrumento cada vez
mais fidedigno? Então, aperte os cintos, vamos começar.
TEMA 1 – TEORIA CONTÁBIL NORMATIVA
O surgimento teórico da contabilidade tem como marco a formalização das práticas de registros
de operações mercantis; operações, estas, que já existiam há incontáveis períodos anteriores na
história da humanidade. Essa formalização foi obra de Luca Pacioli que, em 1494, apresentou o
método de partidas dobradas, embora a formalização de uma teoria da contabilidade, como
conhecemos hoje, tenha ocorrido apenas no início do século XX.
O início do século XX também exibiu preocupações com os seguintes temas econômicos: a
intervenção estatal, o avanço dos abusos cometidos pelas corporações, o conceito da manutenção de
capital, a determinação do lucro e os debates sobre a superioridade entre o balanço patrimonial e a
demonstração do resultado. Até o fim da década de 1920, a contabilidade era reconhecida como
uma disciplina pautada em regras flexíveis, voltada às necessidades gerenciais e que, com isso,
oferecia oportunidades de manipulação de informações. Quando, em 1929, o mundo viveu a quebra
da bolsa de Nova Iorque e uma das maiores crises econômicas vistas até o momento, a contabilidade
foi levada ao banco dos réus e nomeadamente culpada pelo período de depressão que se alastrou
pelo mundo todo; em grande parte em razão da falta de padronização e normatização dos
procedimentos contábeis que deveriam ser adotados (Niyama, 2014).
Assim, nesse contexto histórico de forte desconfiança da fidedignidade da contabilidade, inicia-
se a busca pelo estabelecimento de princípios contábeis capazes de assegurar uma resposta
adequada às necessidades da época. Concomitantemente, efeito do período da grande depressão
econômica, foi criada a Securities and Exchange Commission (SEC), em 1934, com o intuito de
assegurar a regulação estatal sobre o mercado de capitais e, consequentemente, sobre a
contabilidade. Portanto, a partir da década de 1930, inicia-se o período conhecido como normativo
(Niyama, 2014).
Em 1938, a SEC transferiu a sua competência legal de prescrição dos padrões contábeis e de
divulgação das informações financeiras para o setor privado, permitindo, assim, que os profissionais
contábeis (contadores e auditores) ficassem responsáveis pela definição dos princípios e práticas
contábeis geralmente aceitos. Contudo, a prática contábil corrente à época necessitava ser
reformulada e, portanto, a SEC buscava algo diferente do que havia praticado até a quebra da bolsa
de Nova Iorque em 1929 (Niyama, 2014).
No período normativo da literatura contábil, a normatização mostrava-se como um caminho a
ser trilhado e, para isso, uma teoria era necessária. As características dessa nova teoria da
contabilidade foram pautadas pela prescrição daquilo que se entendia como a melhor prática
contábil (Niyama, 2014).
Na década de 1960, viu-se o surgimento de uma teoria da contabilidade desvinculada das
necessidades exclusivamente teóricas. Obras dos autores Edgar Owen Edward, Philip Wilkies Bell,
George Stabus, Palle Hensen, Richard Mattessich, Norton M. Bedford, R. J. Chamber, entre outros,
apresentaram uma preocupação em determinar o que deveria ser o conteúdo das demonstrações
contábeis. O enfoque da teoria normativa da contabilidade durante o período de 1960 a 1990 foi a
mensuração dos ativos, impactos da inflação e o cálculo do lucro (Niyama, 2014).
Até o momento, estudamos os aspectos históricos do surgimento e desenvolvimento da Teoria
Normativa da Contabilidade. Também, conhecemos as características e objetivos dessa nova teoria
contábil: a prescrição de como deveria ser a prática contábil. Agora, vamos aprender quais os
principais fundamentos da pesquisa contábil nesse período? A pesquisa normativa é conhecida por
ser dedutiva, subjetiva, qualitativa e focada na construção de teorias.
A pesquisa é conhecida como dedutiva, pois segue o raciocínio dedutivo que é conhecido por
buscar definir um modelo ideal, ou seja, como deveria ser. Ainda, nomeada qualitativa, porque visa
entender como o fenômeno contábil ocorre; e subjetiva, por possuir caráter discricionário. Por fim,
também é conhecida por objetivar a construção de teorias, embora, muitas vezes, a prescrição
normatizada não siga as prescrições da teoria normativa (Niyama, 2014).
Em suma, podemos enfatizar que esse período normativo da contabilidade foi reflexo da crise
econômica de 1929, porque a falta de padronização e normatização das práticas contábeis contribuiu
para o período da grande depressão. Esse período foi seguido pela regulamentação estatal e o
movimento teórico de prescrição, ou seja, como a contabilidade deveria ser para preservar o
interesse dos usuários das suas informações. Dessa maneira, o desenvolvimento teórico da
contabilidade durante o período normativo foi marcado pelo raciocínio dedutivo, qualitativo,
subjetivo e pelo enfoque na construção de teorias.
TEMA 2 – TEORIA CONTÁBIL POSITIVA
Neste tema, vamos tratar do aparecimento da Teoria Positiva da Contabilidade, que ocorreu em
grande parte como reflexo das críticas sofridas pela corrente normativa. Assim, o primeiro
questionamento é: quais foram essas críticas sofridas pela fase normativa da pesquisa contábil?
Primeiramente, a crítica mais contundente às pesquisas normativas está relacionada à falta de
cientificidade. O paradigma de pesquisa positivista passou a ser visto como mais importante pela
academia de contabilidade, em grande parte por causa da influência das ciências econômicas. Nesse
novo paradigma, o teste empírico é fundamental. Portanto, o desenvolvimento da pesquisa
normativa, de característica dedutiva, passou a ser visto como não científico (Niyama, 2014).
A segunda crítica à pesquisa normativa é o foco na prescrição em vez da explicação. A pesquisa
normativa tem como objetivo dar orientação para a prática profissional sobre como a contabilidade
deve ser, ou seja, sua maneira ideal. Portanto, a corrente normativa se preocupa com a prescrição da
contabilidade. Ao olhar dos críticos, o foco da pesquisa contábil deve ser na explicação dos eventos
contábeis e econômicos. Assim, explicar por que a divulgação da informação contábil afeta o valor de
mercado das empresas é visto como mais importante do que dizer como a informação deve ser
divulgada (Niyama, 2014).
Desse modo, a partir do surgimento da teoria positiva da contabilidade, de inspiração
econômica, a pesquisa contábil se voltava para compreender, explicar e predizer a prática, em vez de
prescrever como ela “deve ser”. Portanto, uma das principais características desse período é o foco
em explicar e prever os fenômenos contábeis (Niyama, 2014).
A expansão dos mercados de capitais foi um fator que contribuiu para a perspectiva da teoria
positiva da contabilidade. A escola econômica da Universidade Chicago fundamenta-se na
perspectiva que a informação contábil é relevante para a decisão de investimento dos stakeholders.
Nesse sentido, o mercado de capitais contribuiu para a disseminação dessa corrente de pesquisa
(Niyama, 2014).
Adicionalmente, a corrente positiva da contabilidade tem as seguintescaracterísticas: indutiva,
objetiva, quantitativa, empírica e focada na validação de dados e hipóteses. A lógica indutiva está
pautada na experiência empírica, do campo de pesquisa e validação dos dados e hipóteses, ou seja, o
conhecimento é adquirido ao se conhecer a realidade. Por isso a importância da objetividade, para
que a realidade seja apreendida pelos pesquisadores por meio dos métodos quantitativos (Niyama,
2014).
Portanto, é importante compreender que, atualmente, a corrente positiva é a dominante nas
pesquisas contábeis, em especial, na academia norte-americana, mas também no Brasil. Assim, a
partir de agora, vamos discutir tópicos avançados da teoria da contabilidade que se baseiam na
corrente positiva de pesquisa, utilizando uma abordagem indutiva, empírica, objetiva e quantitativa.
TEMA 3 – TEORIA DAS ESCOLHAS CONTÁBEIS
A pesquisa contábil foi desenvolvida em duas correntes: a teoria normativa e a teoria positiva.
Ambas tratam de modelos epistemológicos de pesquisa, isto é, formas ou modelos de fazer
pesquisas. Para o primeiro, o modelo é dedutivo. Para o segundo, o modelo é indutivo. Vamos
discorrer sobre teorias que, influenciadas pela corrente da teoria positiva, visam explicar fenômenos
contábeis e econômicos. A primeira teoria que vamos apresentar é a teoria das escolhas contábeis.
Essa teoria explica fenômenos econômicos gerados pela discricionariedade das normas
contábeis. Assim, busca compreender, explicar e prever as influências da contabilidade nas relações
econômicas. Silva, Martins e Lemes (2016) retrataram os fundamentos da Teoria das Escolhas
Contábeis da seguinte maneira:
As normas contábeis oferecem flexibilidade para que sejam realizadas escolhas contábeis nas
empresas, de modo que se tenha uma representação fidedigna da situação econômico-financeira
empresarial por meio das demonstrações contábeis. Essa flexibilidade é necessária, pois o ambiente
de divulgação é dinâmico e varia de acordo com o desenvolvimento dos mercados e os sistemas
legais, tributários e regulatórios, aspectos esses que inviabilizam ou impedem a existência de
normas contábeis totalmente uniformes. Por outro lado, a flexibilidade possibilita que os gestores
busquem outros objetivos com as demonstrações contábeis que não necessariamente coadunam
com a representação fidedigna.
Conforme vimos nas palavras de Silva, Martins e Lemes (2016), as normas contábeis não são
uniformes e têm margem para escolha dos procedimentos contábeis: a famosa discricionariedade
normativa. Essa flexibilidade é necessária, pois o nível de desenvolvimento dos mercados financeiros
globais é diferente em questões como proteção ao investidor ou ao credor, regulação, enforcement
etc. (Silva; Martins; Lemes, 2016).
Assim, por exemplo, o gestor tem a discricionariedade para aplicar o método PEPS ou o método
do custo médio ponderado ao mensurar os estoques. A adoção de um ou outro método possibilita
que os gestores busquem determinados objetivos com as demonstrações contábeis que, por vezes,
não correspondem com a representação fidedigna da realidade da organização. Continuando o
exemplo da mensuração dos estoques, o gestor poderá ter estoques avaliados por valores diferentes,
dependendo do método escolhido. A implicação disso pode ser um ativo maior ou menor e/ou um
lucro maior ou menor. Dessa forma, o gestor poderá utilizar um método ou outro, dependendo do
objetivo que possui com a divulgação das demonstrações contábeis (Silva; Martins; Lemes, 2016).
É importante salientar que a escolha contábil não constitui uma irregularidade, e o profissional
deve escolher dentre as opções permitidas pela norma. Contudo, a escolha deve ser guiada pelo
método que melhor reflita a realidade econômico-financeira da empresa. Mas como ter certeza que a
empresa escolheu o método que reflete a realidade da empresa? É possível monitorar o cumprimento
da norma?
Podemos dizer que é impossível monitorar 100% o cumprimento da norma. Entretanto, podem-
se implementar mecanismos de monitoramento. Esses mecanismos geram custos – por exemplo, os
custos de agência – e, portanto, a empresa deve analisar a relação custo/benefício do monitoramento
(Silva; Martins; Lemes, 2016).
Outro aspecto relevante é a assimetria de informações gerada pelas escolhas contábeis. A
discricionariedade normativa da contabilidade gera assimetrias informacionais. Por sua vez, a
assimetria informacional produz custos de agência – já mencionado neste tópico os custos de
monitoramento – e permite a manipulação das informações contábeis: divulgação de informações
que não reflete a realidade econômico-financeira da companhia (Silva; Martins; Lemes, 2016).
Nesse sentido, as teorias econômicas explicam que os indivíduos agem impulsionados por
interesses próprios e, também, dependem da continuidade da empresa ao longo do tempo. Dessa
dicotomia surgem as perspectivas oportunistíca e da eficiência, conforme detalham Silva, Martins e
Lemes (2016):
Nas hipóteses de plano de incentivo, o gestor pode escolher uma política de amortização linear em
vez de saldos decrescentes para, oportunisticamente, aumentar a remuneração, porém essa mesma
política poderia ser escolhida sob a hipótese dos planos de incentivo por razões de eficiência.
Supondo que a amortização linear mensure melhor o custo de oportunidade dos ativos da
empresa, esse método resulta em um lucro reportado que melhora o desempenho do gestor.
Assim, na perspectiva oportunística, podem surgir dois aspectos estudados na teoria da
contabilidade: a hipótese do grau de endividamento e a hipótese dos custos políticos. No primeiro
caso, as empresas com alto grau de endividamento tendem a aumentar seus lucros, com o intuito de
diminuir o custo de capital. Já no segundo caso, as grandes empresas, como os bancos, tendem a
usar técnicas contábeis para diminuir os lucros, em razão da elevada atenção política e social que
essas empresas possuem. Porém, há um contraponto à perspectiva oportunística: esses indivíduos
dependem da continuidade da empresa ao longo do tempo. Dessa forma, os indivíduos tendem a
utilizar métodos que diminuam os custos contratuais e que tenham maior eficiência (Silva; Martins;
Lemes, 2016).
A teoria das escolhas contábeis constitui uma linha de pesquisa importante para a academia de
contabilidade. Ela objetiva compreender e explicar como a discricionariedade normativa afeta as
ações dos agentes econômicos e o mercado financeiro. Dessa maneira, será notável sua conexão com
a teoria dos gerenciamentos de resultados contábeis, tópico que estudaremos nos próximos dois
temas desta aula.
TEMA 4 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: ACCRUALS E
PRÁTICAS DISCRICIONÁRIAS E NÃO DISCRICIONÁRIAS
A teoria das escolhas contábeis introduziu-nos a perspectiva da discricionariedade normativa
que existe na contabilidade. Essa discricionariedade gera assimetria informacional entre os diferentes
agentes econômicos. Isso permite que os gestores possam gerenciar o resultado da organização com
objetivos que não correspondem com os interesses dos demais stakeholders. Sobre esse tópico,
discorreremos o quarto tema desta aula.
Para iniciar essa discussão, vamos apresentar alguns conceitos de gerenciamento de resultados.
Essa compreensão é fundamental para a sequência desta aula e para aprendermos a diferenciar as
escolhas contábeis – definidas como espaço de escolha das normas contábeis, visando à
representação da realidade econômico-financeira de maneira fidedigna – e o gerenciamento de
resultados, definido como segue:
A intervenção proposital no processo de elaboração das demonstrações financeiras com a intenção
de obter algum ganho. (Schipper, 1989)
O gerenciamento de resultado ocorre quando os gestores usam julgamento no processo de
elaboração das demonstrações financeiras para induzir ao erro alguns stakeholders sobre o
desempenho econômico da empresa. (Healy; Wahlen, 1999)
Portanto, podemos afirmar que o gerenciamento de resultados é uma intervençãoproposital nas
demonstrações contábeis, por parte de um agente econômico, com o intuito de induzir ao erro
outros agentes econômicos (Martinez, 2008).
4.1 ACCRUALS: DISCRICIONÁRIOS E NÃO DISCRICIONÁRIOS
O gerenciamento de resultados ocorre pela intervenção nos accruals por parte dos gestores. Mas
o que são os accruals? E por que esse é o mecanismo que permite o gerenciamento de resultados?
Primeiro, é relevante a formação da compreensão do que são os accruals e Martinez (2008)
define como “todas aquelas contas de resultado que entram no cômputo do lucro, mas que não
implicam em necessária movimentação de disponibilidades”.
Os accruals existem em virtude da diferença entre o regime de caixa e o regime de competência.
São as contas de resultado que não impactam no caixa da organização, como a depreciação, o
impairment e os lançamentos de folha de pagamento no mês de ocorrência quando o pagamento
ocorrerá no mês subsequente. Portanto, nada de errado existe no lançamento de accruals. O objetivo
dessas contas contábeis é mensurar o resultado econômico da empresa (Martinez, 2008).
O gerenciamento de resultados surge quando o gestor aumenta ou diminui os accruals com o
objetivo de influenciar o lucro, por motivos alheios à realidade do negócio. Assim, temos dois tipos
de accruals: accruals discricionários e accruals não discricionários (Martinez, 2008).
Os accruals não discricionários são naturais aos negócios da entidade e são registrados na
contabilidade com a intenção de representar a realidade econômica da organização; portanto, sem a
intenção de gerenciar os resultados contábeis (Martinez, 2008). Como exemplo podemos citar a
depreciação, que visa representar um ativo pelo seu valor econômico. É o caso é do impairment, que
visa reavaliar o valor econômico dos ativos. No primeiro exemplo, o ativo é depreciado
periodicamente; no segundo, o ativo é reavaliado, visto que a depreciação, em alguns casos, pode
não ser suficiente para refletir o valor econômico do ativo.
Em contraponto, os accruals discricionários são artificiais e têm como único propósito gerenciar
o resultado contábil. Esses registros contábeis podem ser negativos ou positivos, indicando se a
empresa objetiva melhorar ou piorar seu resultado econômico. Por exemplo, podemos citar um
lançamento de depreciação ou impairment. Em ambos os casos a empresa procederá com o
lançamento com o intuito de desvalorizar um ativo ou superavaliar um ativo para obter vantagens
econômico-financeira. Percebem a diferença? Tanto os accruals discricionários quanto os accruals não
discricionários são lançamentos de contas que não impactam caixa e, portanto, de fácil manipulação.
O que difere entre os diferentes accruals é a intenção. Sobre esse aspecto, discorreremos no próximo
tema desta aula, que abordará os três modelos de gerenciamento de resultado, income smoothing,
big bath accounting e window dressing, e explicará as diferentes intenções por parte dos agentes
econômicos em cada caso.
TEMA 5 – GERENCIAMENTO DE RESULTADOS: INCOME
SMOOTHING, BIG BATH ACCOUNTING, WINDOW DRESSING
Estamos adentrando o último tema desta aula e o tópico a ser discutido é gerenciamento de
resultados. Conforme comentamos na seção anterior, gerenciamento de resultados pode ser definido
como uma intervenção proposital nas demonstrações contábeis, por um agente econômico, com o
intuito de induzir ao erro outros agentes econômicos. Neste quinto tema, discorreremos sobre os três
principais modos de gerenciar resultados nas organizações: income smoothing, big bath accounting e
window dressing.
5.1 INCOME SMOOTHING
O income smoothing é um dos modos de gerenciar resultado nas organizações. É conhecido por
ter como objetivo reduzir/suavizar a variabilidade dos resultados contábeis com o intuito de
estabilizar o lucro ao longo do tempo (Rivera-Castro; Martinez, 2008).
Nesse cenário, a empresa vai registrar mais ou menos accruals na contabilidade dependendo do
resultado contábil do período. Por exemplo, se no período X0 o lucro for de 30.000.000,00 (valor
suavizado) e no período X1 o resultado contábil for de 20.000.000,00, a empresa vai gerenciar o
resultado contábil para cima, com o intuito de se aproximar do valor suavizado. E se em X2 o lucro
for de 40.000,00? A empresa tenderá a gerenciar o resultado contábil para baixo, com o intuito de se
aproximar do valor suavizado.
A relação do income smoothing se estabelece com a rentabilidade da empresa. A explicação para
se fazer income smoothing é que quando há suavização dos resultados contábeis, a previsão do
mercado financeiro em relação ao resultado econômico da empresa é mais assertiva e, portanto, a
informação contábil se torna mais relevante e reflete positivamente no valor das ações da empresa.
5.2 BIG BATH ACCOUNTING
Outro mecanismo de gerenciamento de resultados contábeis utilizado pelos gestores é o big
bath accounting. Mas no que ele consiste?
Este é um tipo de gerenciamento de resultados que tem como objetivo piorar um resultado ruim
com o intuito de obter um resultado melhor no futuro. Como assim? O objetivo consiste em piorar o
resultado da empresa?
Sim, exato! Vamos pensar no seguinte caso: a empresa Alfa possui accruals que, ao serem
registrados, vão afetar negativamente o resultado da empresa, assim, evitam o lançamento desses
accruals enquanto o resultado for positivo. Contudo, no momento de uma crise financeira e/ou de
um resultado operacional ruim, a empresa lança esses accruals que vão piorar o resultado do
exercício, com o intuito de, nos próximos períodos, obter resultados mais favoráveis.
Um outro caso em que pode ocorrer big bath accounting é com a mudança de gestão na
organização. O novo gestor pode utilizar esse mecanismo para atribuir ao antigo gestor um
desempenho ruim e, assim, garantir resultados futuros melhores, que serão atribuídos à nova gestão.
5.3 WINDOW DRESSING
O window dressing é um mecanismo de gerenciamento de resultados que visa maquiar os
resultados contábeis tornando-os mais positivos. O exemplo mais comum relatado pela literatura é a
operação de window dressing realizada pelos fundos de investimentos.
Imagine o seguinte caso: um fundo de investimentos investe em ações A, B, C e D. Ainda, o
fundo de investimentos usualmente divulga o desempenho do fundo de forma trimestral. No quarto
trimestre, as ações A e B superaram o índice total, mas representavam pouco dentro do peso do
fundo de investimentos, enquanto as ações C e D ficaram abaixo do índice total, mas representavam
muito dentro do peso do fundo de investimentos. Assim, o gestor do fundo de investimentos decide
“maquiar os resultados” e, portanto, vende as ações C e D, substituindo por ações com maior índice.
Essas decisões dos gestores vão levar os stakeholders a avaliarem o rendimento do fundo de
investimentos de forma positiva, induzindo os demais agentes econômicos a tomarem decisões de
maneira equivocada.
TROCANDO IDEIAS
Estamos caminhando para o final desta aula. Vamos agora trocar ideias com os colegas sobre os
principais aspectos tratados?
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum.
Você deverá articular os conceitos aprendidos sobre os tópicos teóricos da teoria das escolhas
contábeis e o gerenciamento de resultado contábil, com o intuito de diferenciar as práticas de cada
tema estudado. Reflita: escolha contábil e gerenciamento de resultados correspondem a mesma
prática? Para responder a esse questionamento, exponha a sua opinião na plataforma AVA,
elaborando um texto com base nos principais conceitos das teorias supracitadas. Essa atividade
auxiliará na fixação dos conteúdos estudados.
NA PRÁTICA
Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver habilidades. O tema de
discussão da atividade prática é gerenciamento de resultados, o qual discutimos nos Temas 4 e 5
desta aula.
Para Martinez (2008, p. 13), é crucial entender que o gerenciamento dos resultados contábeisnão é fraude contábil. No gerenciamento dos resultados contábeis, opera-se dentro dos limites do
que prescreve a legislação contábil, entretanto nos pontos em que as normas contábeis facultam
certa discricionariedade para o gerente, este realiza suas escolhas não em função do que dita a
realidade concreta dos negócios, mas em função de outros incentivos. Enquanto a fraude contábil é
caracterizada pelo ato intencional de falsificar e/ou alterar documentos contábeis, registro e
demonstrações contábeis. Reúna os conhecimentos adquiridos durante esse curso e vamos fazer um
exercício de abstração:
O Sr. João Paulo é contador da empresa Alfa e trabalha sob a gerência do Sr. Henrique Cardoso,
CEO da empresa Alfa. O Sr. Henrique Cardoso recebe remuneração variável atrelada ao desempenho
da organização. O indicador utilizado para mensurar o desempenho é o lucro contábil.
O Sr. João Paulo decide registrar um número elevado de accruals no período X4 que antecede a
avaliação de desempenho do CEO. Esses accruals elevam o resultado contábil do período, reportando
um lucro três vezes maiores.
Agora, vocês deverão refletir e decidir se o ato praticado pelo Sr. João Paulo se caracteriza como
fraude contábil ou gerenciamento de resultados. Apresente uma posição em relação ao cenário
apresentado e justifique sua escolha. (A sugestão de resposta está ao fim deste documento).
FINALIZANDO
Esta aula nos auxiliou a adentrar ao mundo teórico contábil e compreender como surgiram e se
desenvolveram as duas principais correntes de pesquisa da área: a teoria normativa e a teoria
positiva. Ainda, discutimos alguns tópicos avançados derivados da corrente positiva da contabilidade,
como a teoria das escolhas contábeis e os estudos de gerenciamento de resultados.
Nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentadas as duas correntes teóricas que guiaram
o desenvolvimento das pesquisas nas ciências contábeis: a teoria normativa e a teoria positiva.
Discorremos, também, sobre o desenvolvimento histórico de ambas as perspectivas, suas
características e as principais críticas.
Nos três últimos temas, o enfoque esteve em tópicos avançados da teoria contábil,
desenvolvidos sob influência da corrente positiva. No tema 3, foi apresentada a teoria das escolhas
contábeis e as implicações da discricionariedade normativa. No tema 4, expressamos os conceitos e
definições de gerenciamento de resultados e a sua relação com a discricionariedade normativa. O
último tema aprofundou os principais mecanismos de gerenciamento de resultados: income
smoothing, big bath accounting e window dressing.
REFERÊNCIAS
HEALY, P. M.; WAHLEN, J. M. A review of the earnings management literature and its implications
for standard setting. Accounting Horizons. v. 13, n. 1, p. 365-383, 1999.
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evolução e tendências. Revista de Contabilidade do
Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 5-13, 2012.
MARTINEZ, A. L. Detectando earnings management no Brasil: estimando os accruals
discricionários. Revista Contabilidade & Finanças, v. 19, n. 46, p. 7-17, 2008.
NIYAMA, J. K. Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014.
RIVERA-CASTRO, M. A.; MARTINEZ, A. L. Income smoothing como critério para montagem de
carteiras: evidências empíricas no mercado brasileiro. In: XXXII EnANPAD. Anais... Rio de Janeiro,
2008.
SCHIPPER, K. Commentary on earnings management. Accounting Horizons, v. 3, n.1, p. 91-102,
1989.
SILVA, D. M.; MARTINS, V. A.; LEMES, S. Escolhas contábeis: reflexões para a pesquisa. Revista
Contemporânea de Contabilidade, v. 13, n. 29, p. 129-156, 2016.
resposta
Considerando o conflito de interesses existente entre o contador e o CEO, uma vez que o
primeiro está abaixo na hierarquia organizacional do segundo e o João Paulo é responsável pela
elaboração dos demonstrativos contábeis, existe uma grande possibilidade de o lançamento
representar um gerenciamento de resultados. O segundo elemento é que não há evidências de
alteração ou destruição de documentos contábeis, o que poderia caracterizar uma fraude contábil.
Assim, o cenário indica um possível gerenciamento de resultados.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 3
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
O objetivo desta aula é introduzi-los aos conteúdos mais atuais do mundo da academia contábil
no que tange ao tópico de divulgação voluntária das informações contábeis. Perpassaremos algumas
teorias desenvolvidas nessa área de estudos nos últimos anos, que têm sido de grande relevância
para a compreensão dos mecanismos de atuação da informação contábil no mercado financeiro e de
capitais.
Iniciaremos pela exposição da teoria dos stakeholders, discorrendo sobre os seus conceitos e
definições primordiais. O tema 2 versa sobre a teoria da legitimidade e suas principais
fundamentações. Em seguida, os temas 3 e 4 tratarão dos mecanismos de divulgação voluntária das
informações contábeis. No tema 3, o objetivo é conhecer os artifícios inerentes ao mundo da
divulgação voluntária das informações contábeis, ou seja, o que é a divulgação voluntária e as suas
relações com o mercado financeiro e de capitais. No tema 4, o enfoque recai sobre as motivações dos
agentes econômicos para a divulgação voluntária das informações contábeis. Por último, o tema 5
apresenta as principais tendências da pesquisa contábil no Brasil.
CONTEXTUALIZANDO
A contabilidade financeira tem como finalidade o reconhecimento, a mensuração e a divulgação
de informações de natureza contábil-econômico-financeira. Os procedimentos e métodos adotados
para reconhecer e mensurar os elementos patrimoniais e econômicos são direcionados pelas normas
de contabilidade, no Brasil vigente as IFRSs. Assim como o reconhecimento e a mensuração, a
divulgação também é orientada pelas normas brasileiras de contabilidade. Portanto, essas normas
estabelecem o conteúdo e o formato de divulgação dessas informações de cunho obrigatório.
Além da divulgação obrigatória, existe a prática de divulgação voluntária das informações
contábeis e esse é o foco de estudos desta aula. Assim, queridos alunos, de antemão já vamos
informar que a divulgação voluntária não ocorre de maneira completa. Reveste-se, portanto, de
elevada relevância os estudos sobre o impacto das informações adicionais em métricas de mercado,
como o valor de mercado da empresa e o custo de capital, e as motivações que levam as
organizações a fazerem divulgações voluntárias, mesmo estando atreladas a custos adicionais de
divulgação.
Diante disso, sugerimos que vocês reflitam sobre os seguintes pontos: O que é divulgação
voluntária? Por que ela não acontece de maneira completa? Quais são as bases teóricas que
fundamentam essas explicações? Como esses aspectos impactam o dia a dia profissional dos
contadores? A divulgação voluntária acontece só para empresas de capital aberto?
São muitos questionamentos, mas essa reflexão inicial auxiliará no andamento desta aula. Para
tanto, sugerimos que leiam o artigo A divulgação voluntária e o gerenciamento de resultados
contábeis: evidências no mercado de capitais brasileiro”, da Silvia Consoni, do Romualdo Douglas
Colauto e do Gerlando Augusto Sampaio Franco de Lima, publicado no ano de 2017.
TEMA 1 – TEORIA DOS STAKEHOLDERS
Iniciamos, agora, a nossa discussão teórica sobre os aspectos contábeis e as relações com o
mercado financeiro e de capitais. A primeira teoria a ser discutida nesta aula é a teoria dos
stakeholders. Mas o que são stakeholders?
Para trabalharmos com uma definição precisa do termo, a partir desse momento, precisamos
entender os stakeholders como “todas as partes interessadas na empresa, as quais são definidas
como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da
empresa” (Niyama, 2014, p. 151). Assim, podemos citar como stakeholders os acionistas da empresa,
os investidores e credores,o governo, os funcionários e as comunidades que são afetadas pelas
ações das organizações.
A teoria dos stakeholders é uma teoria baseada nos preceitos da microeconomia clássica,
conforme discutimos anteriormente. Essa teoria tem como fundamento o reconhecimento da
importância da gestão dos stakeholders, isto é, “os gestores devem tomar decisões que levem em
conta todos os círculos que podem afetar o valor da empresa” (Niyama, 2014, p. 152). Estamos
falando da gestão dos interesses de agentes econômicos que podem afetar o valor da empresa, ou
seja, em especial, investidores e credores da organização. Niyama (2014) retratou a teoria dos
stakeholders da seguinte maneira:
A teoria dos stakeholders da empresa requer não só uma compreensão dos tipos de influência das
partes interessadas, mas também como as empresas respondem a essas influências. As partes
interessadas se envolvem com a empresa, porque é do seu interesse fazê-lo, reconhecendo a
capacidade de influenciar nas ações da empresa e resguardar a promoção do seu bem-estar. A
busca é por uma situação de equilíbrio de poder entre stakeholders e a organização, para que assim
a empresa possa ganhar legitimidade aos olhos dos atores relevantes (ou sociedade), de forma que
a interação possa realmente ser mútua.
Dessa maneira, é importante que as empresas tenham um bom relacionamento com seus
stakeholders e isso implica bons resultados financeiros. A literatura contábil aponta que um contexto
de harmonia entre empresa e stakeholders acarreta em um maior valor para a empresa, e mesmo que
isso não signifique lucro no curto prazo, implica a sobrevivência da organização no longo prazo.
Portanto, para manter esse equilíbrio das relações com os stakeholders, é necessário a compreensão
de como gerenciar os interesses das partes relacionadas (Niyama, 2014).
A teoria dos stakeholders prevê e explica os mecanismos nos quais a gestão adequada desses
agentes econômicos acarreta em uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização da
empresa. A teoria também prevê que o diálogo entre as partes relacionadas gera interesses
compartilhados que levarão a maximização do valor da empresa para todos os participantes do
processo.
Em suma, a teoria dos stakeholders versa sobre a importância da gestão dos agentes econômicos
que afetam e são afetados pela organização, uma vez que uma harmonização entre os interesses da
empresa e dos stakeholders provoca uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização
da empresa.
TEMA 2 – TEORIA DA LEGITIMIDADE
A outra teoria que sustenta os preceitos da divulgação voluntária – tópico a ser discutido nos
próximos dois temas dessa aula – é a teoria da legitimidade. Essa teoria assevera que as empresas
buscam meios de se legitimar perante a sociedade. Algumas dúvidas importantes para vocês
refletirem: o que é legitimidade? Por que a legitimidade é importante? Quais são os meios utilizados
pelas empresas para se legitimar?
Vamos começar pela apresentação do conceito de legitimidade. Para Niyama (2014, p. 149), “a
legitimidade deve ser definida como uma condição ou estado do sistema que se verifica quando o
valor de uma entidade é congruente com o valor do sistema social da qual a entidade é uma parte”.
Nesse sentido, alunos, a legitimidade pode ser compreendida como um estado ou condição pelo
qual a empresa é “aceita” pelo sistema social do qual faz parte (Niyama, 2014). Por exemplo, vamos
discutir a legitimidade de uma empresa mineradora X, responsável por um crime ambiental que
ocorreu na comunidade em que estava inserida. Após o episódio da tragédia ambiental e social, a
empresa passou a ser vista como uma empresa ruim para a comunidade que vive ao entorno da
organização. Assim, a sua aceitação ou valor do sistema social passou a ser muito pequena e a
empresa viu sua legitimidade se tornar ilusória.
Um dos pilares fundamentais da legitimidade é a comunicação socioambiental entre empresa e
sociedade. “Nessa perspectiva, a sociedade aceita e aprova os posicionamentos tomados pela
organização. É importante para a legitimidade que a empresa seja vista como um ente social e
ambientalmente responsável” (Niyama, 2014, p. 150). Portanto, a preocupação com a comunicação
entre empresa e sociedade, no que tange aos aspectos sociais e ambientais, se configura como uma
importante estratégia para conferir legitimidade.
E por que a legitimidade é tão importante?
As organizações só existem na medida em que a sociedade confere sobre as organizações o
estado de legitimidade. Niyama (2014, p. 150) assevera que “as organizações não são consideradas
detentoras de qualquer direito inerente aos recursos, ou mesmo de existir”. Dessa maneira, podemos
pensar na empresa mineradora, responsável pelo crime ambiental, conforme supracitado, caso a
sociedade decida que a empresa não deve existir naquele local ou que os serviços prestados para a
sociedade são irrisórios perto dos riscos ambientais, essa empresa deixará de existir.
Outro elemento importante para a teoria da legitimidade são os contratos sociais. Neles, estão
implícitas ou explícitas a aceitação dos agentes a respeito da forma como as empresas devem atuar e
se posicionar na sociedade (Niyama, 2014). Como vimos na teoria contratual da firma, se um contrato
for quebrado, pode ameaçar a harmonia existente no sistema empresarial e a própria continuidade
da organização. Assim, conforme Niyama (2014, p. 150):
Quando um evento negativo ocorre, se tem uma ameaça presente ou potencial à legitimidade da
entidade, os gestores devem procurar ferramentas que mudem ou amenizem tais efeitos, tentando
assim recuperar a percepção sobre os objetivos da organização.
Retomando o caso da empresa mineradora, após o incidente ambiental, provavelmente a
empresa tomou decisões e ações que amenizaram o efeito do evento sobre a legitimidade, uma vez
que ela foi capaz de se manter operando no mercado.
Mas quais são os mecanismos utilizados para assegurar a legitimidade das empresas? São eles:
disclosure social e disclosure voluntário.
O disclosure social visa atuar como um instrumento de legitimação da empresa perante a
sociedade, e apresenta informações de cunho socioambientais e econômico-financeiras. Esse
relatório visa apresentar essas informações para um grande número de stakeholders, os quais vão
legitimar e aceitar as decisões tomadas pela companhia. Dessa maneira, frequentemente, pode ser
visto como um elemento estratégico para a implementação de objetivos pela organização.
O disclosure, ou divulgação, voluntário será tópico de discussão dos próximos temas. Contudo,
alunos, podemos adiantar que ele também atua como um instrumento de legitimidade para as
organizações, como veremos a seguir.
Em suma, a teoria da legitimidade versa sobre a aceitação de uma organização em seu sistema
social, bem como essas implicações e os mecanismos de gestão da legitimidade. Finalizamos, assim,
os dois primeiros tópicos desta aula, que objetivaram discorrer sobre duas teorias que embasam e
dão fundamentos para a prática de divulgação voluntária das informações contábeis.
TEMA 3 – DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS INFORMAÇÕES
CONTÁBEIS
Conforme apresentado anteriormente, a divulgação das informações contábeis se configura
como um importante mecanismo para gestão dos stakeholders e da legitimidade das organizações.
Neste tópico, vamos abordar as definições de divulgação voluntária e suas inter-relações com as
teorias microeconômicas, nomeadamente a teoria da agência e a teoria contratual da firma.
O primeiro aspecto a ser compreendido é: no que consiste a divulgação voluntária das
informações contábeis? Nesse sentido, podemos definir divulgação voluntária como as informações
contábeis que não têm obrigatoriedade para serem divulgadas, segundo as normas em vigor no país
ou os órgãos reguladores. Contudo, essas informações são divulgadas para os stakeholders no
conjunto das demonstrações financeiras. Como exemplo podemos citaro número de funcionários do
gênero feminino na diretoria executiva da empresa. Essa informação não possui obrigatoriedade de
divulgação, porém, a empresa pode optar por divulgá-la – a decisão, de divulgar ou não essas
informações adicionais, será discutida no próximo tema.
Retomando o conceito de divulgação voluntária, vamos relembrar a teoria da agência, já
discutida. A teoria da agência tem como premissa que as relações entre os diferentes agentes
econômicos são conflituosas, motivadas pela assimetria das informações. Nesse contexto, a
assimetria de informação entre insiders – agente econômicos que estão dentro da organização e,
portanto, têm informações privilegiadas – e outsiders – agentes econômicos que estão de fora das
discussões e decisões operacionais da companhia e, por isso, têm menor nível de acesso a
informações estratégicas – caracteriza-se como o elemento principal das relações conflituosas de
agência (Consoni; Colauto; Lima, 2017). A divulgação voluntária é um mecanismo de diminuição
desses conflitos de agência.
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017, p. 251), as pesquisas na área contábil
demonstram que:
A assimetria informacional reduz a medida que o nível de divulgação voluntária de informações
aumenta, isso porque, pode reduzir o componente de seleção adversa do bid-ask spread (o
mecanismo de proteção do preço quando os títulos são vendidos ou comprados).
Consequentemente, o volume de negociações e a liquidez de mercado das ações aumentam,
reduzindo potencialmente o custo de capital.
Relacionamos esse trecho dos autores com a apresentação do conceito de assimetria
informacional das aulas anteriores. Como vimos, ao diminuir a assimetria de informações, isto é, a
diferença no nível de informação a que os diferentes agentes econômicos têm acesso, os agentes
econômicos podem tomar decisões de maneira mais racional, visando maximizar a sua utilidade
individual e, assim, diminui-se a seleção adversa do mercado (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Ao reduzir a seleção adversa os agentes econômicos têm mais informações assertivas sobre os
diferentes ativos da organização e podem ofertar melhores condições, elevando a negociação do
mercado de capitais, aumentando a liquidez dos papéis e, consequentemente, diminuindo o custo de
capital (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Por exemplo, podemos pensar em um caso da negociação de um automóvel seminovo. Ambos
os agentes econômicos, comprador e vendedor, têm informações completas sobre o estado do ativo
(veículo). Esse fato acarreta em possibilidade para uma negociação racional, na qual ambos os
agentes ofertam suas melhores condições. Assim, a seleção adversa é diminuída e os veículos são
negociados muito próximo de seu valor real de mercado, e não pelo seu valor médio. Esse é um
exemplo de diminuição da seleção adversa por meio da divulgação voluntária.
Esse mesmo exemplo, se transposto para o mercado de capitais, leva ao entendimento de que a
seleção adversa diminui os riscos e, portanto, aumenta o número de negociações de ativos. Esse fato
acarreta em um menor custo de capital para as organizações.
Portanto, os gestores têm incentivos suficientes para divulgar todas as informações adicionais
com o intuito de se distinguirem no mercado e diminuírem os custos de capital. Contudo, isso não
acontece. A literatura demonstrou que os gestores tendem a divulgar parcialmente as informações
voluntárias. Por que não acontece a divulgação voluntária das informações contábeis de maneira
completa? Esse questionamento será tratado no próximo tema.
TEMA 4 – MOTIVAÇÕES PARA A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS
INFORMAÇÕES CONTÁBEIS
Por que os gestores não divulgam as informações adicionais de maneira completa? Essa
discussão tem ocupado a agenda de pesquisa contábil desde os anos 2000 e tem se apresentado
como um questionamento complexo. Os pesquisadores apontaram cinco aspectos que tem se
mostrado relevante dentro dessa discussão: os gestores não divulgam informações essencialmente
verdadeiras, existe o gerenciamento de resultados, existem custos de divulgação, há efeitos da
informação sobre o valor da companhia e os efeitos explicados pela teoria dos jogos (Consoni;
Colauto; Lima, 2017).
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017), “a ideia de que a divulgação voluntária é eficaz e
contribui para a alocação eficiente de recursos no mercado de capitais está vinculada à credibilidade
das informações financeiras divulgadas”. Dessa maneira, se a informação divulgada não for
essencialmente verdadeira, ela perde relevância para os stakeholders e não adiciona valor aos
demonstrativos da empresa.
Outro aspecto importante refere-se ao gerenciamento de resultados. Um fator determinante na
credibilidade das informações adicionais é o nível de gerenciamento de resultados praticados pela
companhia. Empresas que gerenciam muitas informações podem ter um retorno negativo do
mercado de capitais, assim como nos casos de informações não essencialmente verdadeiras, no
longo prazo. Contudo, outro aspecto que é considerado pelos gestores refere-se ao custo da
informação, de maneira geral, se a informação não contém viés, ela tem um custo elevado e,
portanto, a divulgação voluntária acaba não acontecendo (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Dessa maneira, conforme discutidos nos dois primeiros aspectos que podem motivar a
divulgação voluntária, é comum que os gestores apresentem informações não verdadeiras ou
gerenciem as informações adicionais, pois os custos de divulgação só compensarão se obtiverem um
efeito positivo sobre o valor de mercado da empresa (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Assim, como apresentado nos parágrafos anteriores, é salutar compreender que a divulgação de
informações gera custos para as organizações. Vale a pena divulgar informação adicional? Qual o
custo dessa divulgação?
Esses questionamentos são produzidos pelos gestores no processo de decisão da divulgação de
informações adicionais. “Os custos de divulgação variam de acordo com a natureza do que for
divulgado” (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Dessa maneira, o gerenciamento dos stakeholders e da
legitimidade – tópicos 1 e 2 desta aula – serão determinantes na decisão da divulgação voluntária
completa, uma vez que existem custos envolvidos (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Os gestores também avaliam os efeitos da informação adicional sobre o valor de mercado da
companhia. Na prática, temos o seguinte resultado: os investidores não sabem com certeza se os
gestores estão retendo informações privilegiadas, portanto, não conseguem interpretar se a empresa
possui más notícias, que estão sendo retidas. Dessa forma, os investidores não conseguem distinguir
entre empresas com más notícias e empresas que não fazem divulgação adicional. Nesse caso, ambas
perdem valor de mercado (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Assim, podemos afirmar que as empresas
podem utilizar o mecanismo de divulgação voluntária para gerenciar os stakeholders e elevar seu
valor de mercado.
O último ponto a ser mencionado refere-se à teoria dos jogos. Consoni, Colauto e Lima (2017, p.
252) afirmam que “para interpretar corretamente a ação do gestor, é necessário identificar os
incentivos que este tem para divulgar boas e más notícias e o conjunto de informações que poderia
ter divulgado, porém escolheu não o fazer”. Por essa razão a divulgação voluntária é um caso
especial da teoria dos jogos: não se sabe quais os incentivos para a divulgação de determinadas
informações; para compreendê-los, é necessário avaliar todo o conjunto de informações disponíveis
para divulgação e qual foi a escolha feita pelo executivo (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Por exemplo, uma boa notícia geralmente é divulgada com o objetivo de aumentar o valor de
mercado da organização em momentos de negociação de seus papéis ou de captação de recursos.
Contudo, más notícias podem ser divulgadas com o intuito de reduzir o valor do lucro ou resultados
operacionais futuros em momentos de negociaçãocom sindicato, no qual a empresa deseja
apresentar dificuldades operacionais e econômico-financeiras (Consoni; Colauto; Lima, 2017).
Em suma, as motivações que influenciam na decisão dos gestores de divulgarem as informações
adicionais nos demonstrativos financeiros são essas: os gestores não divulgam informações
essencialmente verdadeiras; existe o gerenciamento de resultados; existem custos de divulgação; há
efeitos da informação sobre o valor da companhia e os efeitos explicados pela teoria dos jogos.
Vimos, também, que a propensão maior é que os gestores selecionem as informações adicionais que
vão divulgar, em razão dos cinco aspectos supracitados. Portanto, podemos afirmar que o full
disclosure (divulgação completa) não acontece nas empresas estudadas pelos pesquisadores.
TEMA 5 – TENDÊNCIAS DA PESQUISA CONTÁBIL NO BRASIL
Adentramos, agora, um tema muito importante para os pesquisadores e futuros pesquisadores
da academia contábil brasileira: as tendências da pesquisa contábil no Brasil. Neste tópico,
apresentaremos sete temas de pesquisa que tem despontado como fundamentais para o
desenvolvimento científico da contabilidade: intangíveis criados internamente, capital intelectual,
pesquisas históricas, contabilidade gerencial e teoria da contabilidade, adequações das IFRSs, relato
integrado e filosofia da contabilidade (Iudicibus; Lopes, 2004; Iudicibus, 2012).
Intangíveis criados internamente (goodwill): O goodwill é um elemento patrimonial que
ainda não tem mecanismos para reconhecimento e mensuração. Iudicibus (2012) aponta como
um elemento que deve ser estudado pela contabilidade normativa. A indicação de um “modo
de fazer ideal”, ou seja, um modelo de reconhecimento e mensuração, é fundamental para que
esse item passe a ser incorporado aos demonstrativos contábeis.
Capital intelectual: Assim como o goodwiil, o capital intelectual é um item que ainda não é
reconhecido e mensurado no balanço patrimonial. Isso acontece, em grande parte, em virtude
de a contabilidade não ter desenvolvido uma metodologia adequada para esses intangíveis. Por
serem itens gerados internamente, a empresa pode utilizar como meios para gerenciamento de
resultados contábeis, podendo afetar gravemente o valor dos ativos das companhias. Portanto,
um estudo aprofundado deve ser realizado pela corrente normativa, a fim de encontrar
métodos seguros e confiáveis de reconhecer e mensurar esses ativos.
Pesquisas históricas: As pesquisas históricas têm surgido com força na área de contabilidade
em âmbito internacional. Portanto, desponta, também, como um tópico a ser tratado pela
academia brasileira. As ciências contábeis são uma ciência social e, portanto, sua própria
existência está atrelada a existência da humanidade. Se não existirem sociedades, a
contabilidade também deixa de existir. Dessa maneira, para compreender a evolução dessa
ciência e os caminhos percorridos, faz-se indispensável o aprofundamento em pesquisas
históricas.
Contabilidade gerencial e a teoria da contabilidade: A contabilidade gerencial tem sido
pouco discutida dentro do espectro da teoria da contabilidade e negligenciada durante anos.
Os tópicos abordados pela teoria da contabilidade, tanto pela corrente normativa quanto pela
corrente positiva, são exclusivamente preocupados com os usuários externos e, em especial, o
enfoque recai sobre o mercado financeiro e de capitais. Iudicibus (2012) coloca a inserção da
contabilidade gerencial dentro da teoria geral da contabilidade como uma tendência de
pesquisa que contribuirá para o desenvolvimento do corpo teórico desta.
Adequações das IFRSs: Um outro aspecto apontado por Iudicibus (2012) é a adequação das
normas brasileiras de contabilidade às normas internacionais. Esse tópico de pesquisa vem
sendo estudado nos últimos anos e já se constitui como um dos principais tópicos da agenda
de pesquisa da área. Alguns questionamentos giram em torno de: a forma adotada de
internacionalização foi a melhor? Os benefícios da adequação às normas internacionais
compensam os custos? Qual a relação entre as IFRSs e o custo de capital?
Relato integrado: O relato integrado constitui um conceito moderno dentro da contabilidade
financeira que visa aprimorar e aumentar a qualidade da informação contábil-econômico-
financeira. Esse relatório tem como intuito implementar um pensamento integrado como
estratégia de negócio. Nesse modelo, a comunicação corporativa se torna conectada em cinco
aspectos: materialidade, geração de valor, capitais, modelo de negócio e conectividade, e
promove, assim, melhorias no valor de mercado da empresa e em seu custo de capital.
Filosofia da contabilidade: O tema filosofia da contabilidade se configura como um aspecto
fundamental para o desenvolvimento científico. Estudos que se preocupam com esse tópico
devem direcionar esforços para a compreensão dos fundamentos da ciência contábil e das
ontologias e epistemologias que guiam a nossa ciência. Abrir a mente para esse tipo de estudo
significa evoluir para patamares superiores no campo científico. Só dessa maneira seremos
capazes de desenvolver modelos epistemológicos próprios e nos abrimos para outras correntes
epistemológicas, por exemplo, vertentes críticas e interpretativas.
Assim, encerramos mais uma aula, apresentando perspectivas futuras de pesquisas para guiarem
o desenvolvimento do corpo teórico da contabilidade e, assim, contribuírem para o direcionamento
da agenda de pesquisa dos cientistas da área.
TROCANDO IDEIAS
Estamos caminhando para o final desta aula! Vamos trocar ideias com os colegas sobre os
principais aspectos?
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum.
Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta aula sobre o que é divulgação voluntária e as
motivações para praticar a divulgação voluntária das informações contábeis. Para tanto, reflita sobre a
utilização dos conceitos da teoria dos jogos como explicação para as motivações dos gestores
divulgarem más notícias. Descreva pelo menos dois casos em que os gestores podem divulgar más
notícias e o intuito dessa divulgação. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados.
NA PRÁTICA
Chegamos na última tarefa desta aula. Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam
desenvolver habilidades. O tema de discussão da atividade prática é divulgação voluntária, o qual
discutimos de forma explícita nos temas 3 e 4 desta aula, mas que está embasada na teoria dos
stakeholders, tema 1 e na teoria da legitimidade no tema 2. Reúna os conhecimentos adquiridos
durante esse curso e vamos fazer um exercício de abstração.
A empresa mineradora está no período de fechamento das demonstrações contábeis. Esta
empresa passou por um episódio de desastre ambiental no ano anterior. Após esse episódio, a
legitimidade da empresa ficou abalada, pois a sociedade começou a ver a empresa como uma
ameaça ao meio ambiente. Para tratar esse problema, no período atual, a empresa se comprometeu a
tomar diversas ações de controle ambiental com o intuito de diminuir os riscos associados.
Os gestores da empresa não conseguiram cumprir uma parte do contrato social de controle
ambiental, 15% das barragens de rejeitos não foram tratadas de maneira adequada, conforme previa
o contrato social. Contudo, os gestores decidiram informar aos stakeholders que todas as ações
relacionadas ao projeto ambiental foram implementadas com sucesso. O intuito do corpo executivo
era aumentar o preço das ações da companhia, visto que a empresa precisará captar investimentos
no mercado no próximo período para ampliar sua fatia no mercado internacional.
Questionamento: a divulgação das informações ambientais vai gerar um impacto positivou ou
negativo no preço das ações da empresa? Justifique sua resposta com base nos conceitos aprendidos
nesta aula.
Resolução: se pensarmos isoladamente, considerando apenas esse fator ambiental, a resposta é
sim. Isso porque, ao informarao mercado de capitais que todas as ações acordadas com a sociedade
foram cumpridas, a legitimidade da organização será recuperada.
Nesse aspecto, o aluno estará utilizando os conceitos da teoria da legitimidade, que afirma que
esta é alcançada quando a empresa é aceita pelo sistema social do qual faz parte. Portanto, ao
informar a sociedade que a empresa está cumprindo o seu contrato social, a legitimidade é
recuperada.
O outro aspecto refere-se à teoria dos stakeholders. A empresa optou por mentir aos
stakeholders sobre o cumprimento do contrato social. Esse fato é explicado por essa teoria, visto que
os stakeholders são agentes econômicos que podem afetar o valor da empresa. Assim, ao mentir, a
empresa está ocultando uma informação e divulgando um resultado positivo, com o objetivo de
aumentar seu valor de mercado. O outro lado da moeda, tratado por essa teoria, é que esses agentes
também sofrem influência da organização, que, nesse caso, é o possível dano ambiental, uma vez que
a organização optou pelo elevado risco ambiental.
FINALIZANDO
Esta aula contribui para a sedimentação dos conhecimentos que estamos adquirindo, por isso,
inserimos as teorias do stakeholder e da legitimidade com o intuito de embasar as discussões sobre
divulgação voluntária.
Portanto, nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentados os principais conceitos das
teorias do stakeholder e da legitimidade. A primeira tratou da importância da gestão dos stakeholders
para conquistar e manter a legitimidade das organizações. A segunda explicou o que é legitimidade e
a importância da harmonia da empresa com o sistema social na qual está inserida.
O terceiro e quarto tema da aula abordaram a divulgação voluntária. No terceiro tópico
versamos sobre os fundamentos da divulgação voluntária e o que ela representa para o mercado
financeiro e de capitais. No quarto tema discorremos sobre as motivações que levam os gestores a
divulgarem as informações adicionais. Por fim, a aula apresentou as tendências de pesquisa na área
de contabilidade e que devem figurar como itens da agenda de pesquisa dos próximos anos.
REFERÊNCIAS
CONSONI, S.; COLAUTO, R. D.; LIMA, G. A. S. F. A divulgação voluntária e o gerenciamento de
resultados contábeis: evidências no mercado de capitais brasileiro. Revista Contabilidade &
Finanças, v. 28, n. 74, p. 249-263, 2017.
IUDICIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004.
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evolução e tendências. Revista de Contabilidade do
Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 5-13, 2012.
NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 4
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
Nesta aula, entraremos no mundo da governança corporativa. Ela surgiu como um mecanismo
para equalizar o conflito de agência dentro das organizações, essencialmente entre fornecedores de
capital e executivos da empresa. No geral, essa linha de pesquisa da contabilidade é relativamente
nova e tem atraído muita atenção dos pesquisadores.
Iniciaremos pelos aspectos conceituais da governança corporativa, discorrendo sobre seus
conceitos e valores primordiais, além de introduzir a relação entre contabilidade e governança
corporativa. No tema 2 desta aula, trataremos das estruturas de poder e práticas de governança
corporativa. Em seguida, nos temas 3 e 4 abordaremos os órgãos responsáveis por implementar a
estrutura de poder de governança corporativa. No tema 3, o tópico é relativo aos órgãos de auditoria
e fiscalização, já no tema 4 discorreremos sobre o papel do conselho de administração dentro dessas
organizações. No tema 5 trataremos da Lei Sarbanes-Oxley (SOX), que surgiu para criar mecanismos
de auditoria e segurança confiáveis, com regras para criação dos comitês com membros
independentes.
CONTEXTUALIZANDO
A disciplina Teoria Avançada da Contabilidade é essencialmente teórica e tem como objetivo
apresentar as principais discussões e desenvolvimentos das ciências contábeis. A governança
corporativa é um desses tópicos. Contudo, o surgimento desse debate na academia foi decorrente
dos escândalos contábeis que ocorreram no início dos anos 2000, portanto, esta aula tem estrita
relação com o mundo prático contábil.
A governança corporativa vem sendo amplamente divulgada no mundo empresarial e há um
grande número de materiais sobre a implementação dos mecanismos de governança corporativa
desenvolvidos por empresas de auditoria e consultoria. Sugerimos acessar os seguintes links para
compreender como a Endeavor Brasil (<https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/governanca-corp
orativa-empresa/>) e o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) (<http://www.ibgc.org.b
r/userfiles/files/melhores_praticas_sp_16.pdf>) tratam do tema.
Diante disso, reflita sobre os seguintes pontos: O que é governança corporativa? Porque ela é tão
relevante para o mundo empresarial? No que consistem as práticas de governança corporativa? Ela é
obrigatória? Para quais tipos de empresas?
Sugerimos também a leitura do artigo “Governança corporativa: nível de evidenciação das
informações e sua relação com a volatilidade das ações do Ibovespa” (Malacrida; Yamamoto, 2006),
disponível no link: <http://www.revistas.usp.br/rcf/article/view/34196>.
TEMA 1 – GOVERNANÇA CORPORATIVA: CONCEITOS E VALORES
O que é governança corporativa?
No momento histórico inicial da evolução da governança corporativa, ela desponta como um
conjunto de mecanismos e práticas de auditoria e controle confiáveis, com o intuito equalizar os
conflitos de agência das organizações (Iudícibus; Lopes, 2004).
Conceitualmente expressando, a governança corporativa tem suas bases nas teorias
microeconômicas clássicas que discutimos anteriormente, a teoria da agência e a teoria contratual da
firma. A separação entre principal e agente, ou seja, proprietário da firma (controle) e administrador
(gestão), é o evento histórico responsável pelo surgimento do conflito de agência. Após a crise de
2008, o mercado financeiro e de capitais percebeu a importância de criar meios para diminuir a
assimetria de informação e o poder econômico dos executivos (insiders) da empresa. Esses
mecanismos ficaram conhecidos como práticas de governança corporativa.
A Comissão de Valores Mobiliários define governança corporativa como:
O conjunto de práticas que tem por finalidade otimizar o desempenho de uma companhia ao
proteger todas as partes interessadas, tais como investidores, empregados e credores, facilitando o
acesso ao capital. (Malacrida; Yamamoto, 2006)
Já o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) afirma que:
https://endeavor.org.br/estrategia-e-gestao/governanca-corporativa-empresa/
http://www.ibgc.org.br/userfiles/files/melhores_praticas_sp_16.pdf
http://www.revistas.usp.br/rcf/article/view/34196
Na teoria econômica tradicional, a governança corporativa surge para procurar superar o chamado
“conflito de agência”, presente a partir do fenômeno da separação entre a propriedade e a gestão
empresarial. O “principal”, titular da propriedade, delega ao “agente” o poder de decisão sobre essa
propriedade. A partir daí surgem os chamados conflitos de agência, pois os interesses daquele que
administra a propriedade nem sempre estão alinhados com os de seu titular. Sob a perspectiva da
teoria da agência, a preocupação maior é criar mecanismos eficientes (sistemas de monitoramento
e incentivos) para garantir que o comportamento dos executivos esteja alinhado com o interesse
dos acionistas. (Malacrida; Yamamoto, 2006)
Portanto, podemos declarar que as práticas de governança corporativa surgem com o objetivo
de monitorar e controlar os negócios, por parte dos executivos, mas principalmente por parte dos
acionistas, que passam a ter acesso a mais informações das decisões operacionais, econômicas e
financeirasdo corpo diretivo da organização.
Dentro desse cenário, o papel da contabilidade tem sido reconhecido como fundamental na
implementação das práticas de governança corporativa. Isto porque, como a contabilidade tem a
função de diminuir a assimetria de informações, esta pode atuar como ferramenta de governança
corporativa, tanto para a diminuição da assimetria informacional quanto para o estabelecimento de
contratos entre agentes econômicos (Malacrida; Yamamoto, 2006).
Adicionalmente, a governança corporativa tem como fundamentos quatro conceitos já
incorporados à contabilidade: disclosure, equidade, prestação de contas e responsabilidade
corporativa (Malacrida; Yamamoto, 2006).
O disclosure refere-se à divulgação de informações relevantes para todos as partes
interessadas no negócio da companhia. As informações divulgadas não devem se restringir
àquelas exigidas por normas, regulamentos e legislações, ou seja, de natureza contábil-
econômico-financeira, mas também informações de cunho social, humano e ambiental,
tornando possível a tomada de decisão de maneira racional para todos os stakeholders da
organização.
Equidade representa o tratamento igualitário de todos os sócios e partes relacionadas.
Portanto, as informações devem atender às necessidades, direitos e deveres, interesses e
expectativas de todos os stakeholders.
O accountability ou a prestação de contas é o dever da organização em comunicar suas
decisões de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo responsabilidade
pelas informações prestadas aos stakeholders da organização.
A responsabilidade corporativa estabelece que os agentes econômicos insiders devem se
responsabilizar pela viabilidade econômico-financeira, levando em conta os capitais envolvidos,
a curto e longo prazo: financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental,
reputacional etc.
O mercado de capital brasileiro divide a governança corporativa em três níveis: nível 1 (N1), nível
2 (N2) e novo mercado. Mas por que isso é importante?
Embora a governança corporativa não seja exclusividade de empresas de capital aberto – visto
que todas podem aderir a esse modelo de gestão, inclusive as de pequeno porte –, empresas que
operam no mercado de capitais recebem enforcement para adotar a governança corporativa.
Considerando que existe um custo para adotá-la, a adoção tem-se mostrado mais comum em
grandes empresas de capital aberto e fechado e em empresas estatais.
Enforcement é o processo de assegurar o cumprimento de leis, regulamentos, regras, padrões e
normas sociais. As duas formas de enforcement aplicado nesse cenário são: as legislações e
regulações, por exemplo, a lei SOX, para empresas que atuam no mercado americano, ou os próprios
regulamentos e exigências da CVM para empresas que atuam no Brasil. A outra maneira são as
normas, regras e padrões exigidos pelos stakeholders da empresa, como nos casos de empresas que
não têm obrigação legal e optam pela adoção do modelo de governança corporativa. Em ambos os
casos, o intuito é diminuir a assimetria de informação entre os stakeholders da empresa.
Dessa maneira, surgiram os níveis de governança corporativa administrados pela CVM, que
indicam ao mercado financeiro qual o nível, ou qualidade, da governança corporativa apresentada
pela empresa. Quanto mais elevado o nível, mais a empresa apresenta boas práticas de governança e
diminui a assimetria de informação entre os agentes econômicos. Esse processo acarreta em
resultados econômicos positivos para a empresa, e, por isso, a empresa aceita pagar os custos
relacionados a esse modelo de gestão.
O nível 1 e o nível 2 da bolsa de valores são etapas preparatórias para o novo mercado, no qual
as empresas evoluem ao adicionarem práticas que visam melhorar a relação com os investidores.
No N1, as empresas devem apresentar informações acerca da dispersão acionária, ou seja, da
concentração de capital (propriedade) na mão dos acionistas ou de um grupo de acionistas.
No N2, as empresas incluem informações para melhorar a relação com os acionistas minoritários
– aqueles que não detêm o controle da empresa, visto que a quantidade de ações ordinárias (com
direito a voto) que possuem é muito pequena –, estabelecem mandato de um ano para o conselho
de administração e adotam a implementação das normas internacionais de contabilidade.
O novo mercado é o nível mais elevado e indica que a empresa possui boas práticas de
governança corporativa, que, além das iniciativas já indicadas em N1 e N2, conta com apresentação
do fluxo de caixa da organização e a emissão exclusiva de ações ordinárias, ou seja, ações que dão
direito a voto.
TEMA 2 – ESTRUTURA DE PODER E PRÁTICAS DE GOVERNANÇA –
GOVERNANÇA COMO SISTEMA DE RELAÇÕES
Agora que já conhecemos o que é a governança corporativa e sua importância para a
harmonização das relações econômicas entre os diferentes agentes, podemos nos questionar: como
implementar esses conceitos sobre controle e monitoramento dos negócios?
O aspecto principal a ser considerado é a formatação da estrutura de poder da organização, que
permitirá que as práticas de governança corporativa sejam implementadas. Portanto, apresentaremos
dois pontos importantes: a estrutura de poder que a organização deverá adotar e as práticas de
governança corporativa que devem ser adotadas.
A estrutura de poder ou estrutura organizacional que deverá ser empregada pela organização
deve considerar os seguintes aspectos, para que os conflitos de interesse sejam minimizados e a
independência das partes sejam asseguradas: propriedade, controle, administração e auditoria e
fiscalização.
A propriedade é dividida pelos diferentes acionistas da organização: os acionistas controladores,
que detêm o controle da organização, geralmente por meio da maior quantidade de ações ordinárias
(com direito a voto); e os acionistas preferenciais, aqueles que detêm ações preferenciais e possuem,
portanto, direito a receber dividendos – mas não tem o poder de participar das decisões da
companhia. O controle é executado pelos acionistas controladores, o que não inclui os minoritários e
os acionistas preferenciais. A administração é exercida pelos diretores executivos e conselho da
administração. E a auditoria e fiscalização é exercida pelo conselho fiscal, auditoria independente,
comitê de auditoria e auditoria interna.
A figura a seguir sintetiza as relações estabelecidas entre essas quatro esferas:
Figura 1 – Relações entre conselho fiscal, auditoria independente, comitê de auditoria e auditoria
interna
Fonte: A Estrutura, S.d.
Assim, os acionistas com o controle da organização dão diretrizes do caminho a ser trilhado por
ela, a curto e longo prazo, em reuniões da assembleia geral. A administração é exercida pela diretoria
executiva e pelo conselho de administração. O primeiro órgão é composto pelos diretores e gerentes
da organização e trabalha em conjunto com o segundo; ainda, a diretoria executiva tem a função de
executar as estratégias da organização. Já o segundo órgão deve trabalhar fiscalizando a diretoria
executiva com o intuito de defender os interesses dos proprietários. Adicionalmente, o conselho de
administração também deve planejar as diretrizes estratégicas e decidir sobre questões relacionadas
aos aspectos gerencias da empresa. Por fim, os órgãos de controle e auditoria funcionam de forma
independente, garantindo fidedignidade ao processo de gestão da organização. Sobre cada um
desses órgãos, suas funções e atribuições, discorreremos nos próximos temas desta aula.
Agora, descreveremos o que constitui as principais práticas de governança corporativa:
reconhecer e proteger o direito dos acionistas, tratar todos os acionistas equitativamente, adotar
processos e procedimentos para corrigir a violação de direitos, proibir a negociação de ações com
base em informações privilegiadas, reconhecer e proteger o direito de outras partes interessadas e
desenvolver mecanismos de informaçãopara que todas as partes participem do processo de
governança.
Reconhecer e proteger o direito dos acionistas: uma organização com boas práticas de
governança corporativa deve enunciar de maneira clara os direitos de todos os acionistas,
incluindo os minoritários. Ainda, a empresa deve ter meios de proteger o direito e interesse dos
acionistas, para que todos os proprietários sejam considerados nas decisões organizacionais.
Tratar todos os acionistas equitativamente: a equidade prevê o tratamento justo e igualitário
de todos os acionistas da empresa. Assim, a empresa que implementa a governança corporativa
deve se atentar ao tratamento justo e igualitário em todas as decisões organizacionais, visando
os interesses e direitos de todos.
Adotar processos e procedimentos para corrigir a violação de direitos: é fundamental a
inclusão de ferramentas, processos e procedimentos que, além de garantir o tratamento justo e
igualitário para todos os acionistas, permita a correção de possíveis violações aos direitos dos
acionistas.
Proibir a negociação de ações com base em informações privilegiadas: um procedimento
importante para garantir esses direitos é a proibição da negociação das ações com base em
informações privilegiadas. Esse tipo de negociação privilegia alguns acionistas em detrimento
de outros e, portanto, deve ser proibida.
Reconhecer e proteger o direito de outras partes interessadas: além dos direitos e interesse
dos acionistas, conforme tratamos nos tópicos anteriores, uma empresa com bons níveis de
governança corporativa deve, também, se preocupar e proteger o direito dos demais
stakeholders da organização.
Desenvolver mecanismos de informação para que todas as partes interessadas participem
do processo de governança: outro aspecto muito importante para ser implementado por
empresas com bons níveis de governança corporativa são mecanismos que permitam que
todos os stakeholders participem do processo de governança. Nesse quesito, atenção principal
tem sido dada à inclusão dos acionistas minoritários nesse processo. Contudo, não podemos
esquecer dos demais stakeholders, como funcionários, credores, meio ambiente e comunidade.
Em suma, podemos afirmar que a governança corporativa é efetivada quando práticas de
governança inspiradas em princípios contábeis – equidade, disclosure, accountability e
reponsabilidade corporativa – são implementadas em conjunto com uma estrutura de poder capaz
de garantir a efetividade dessas práticas. Essa estrutura de poder está baseada em quatro pilares:
propriedade, administração, controle e auditoria e fiscalização.
TEMA 3 – ÓRGÃOS DE AUDITORIA E FISCALIZAÇÃO NO PROCESSO
DE GOVERNANÇA
Neste tema apresentaremos o pilar de controle, auditoria e fiscalização. Os órgãos de auditoria e
fiscalização têm papel essencial na sustentação da governança corporativa, assim como o conselho
de administração, que abordaremos no próximo tema. O objetivo dos órgãos de auditoria e
fiscalização é manter um equilíbrio entre a propriedade e a gestão, garantindo o controle e auditoria
dos processos para que sejam fidedignos e alinhados aos objetivos organizacionais. Em seguida
apresentaremos os dois principais órgãos desse pilar: o conselho fiscal e o comitê de auditoria.
3.1 CONSELHO FISCAL
É o órgão responsável por garantir o direito dos proprietários de fiscalizar a gestão dos negócios,
opinar sobre relatórios de resultados e sobre a proposta da administração à assembleia geral.
Portanto, é um instrumento importante para implementar as práticas de governança, visando
especialmente o controle interno e a transparência, no que diz respeito aos interesses dos
proprietários.
Este órgão é eleito pela assembleia geral (composta pelos proprietários da firma) e, portanto,
tem a função de examinar, verificar, fiscalizar e avaliar as contas e atos da administração. Contudo, o
papel desse órgão não é administrativo. Apenas, informa, opina, sugere, denuncia, garantindo o
exercício do direito dos proprietários de fiscalizar a gestão do negócio, o resultado apresentado pelos
administradores e as variações patrimoniais.
Especificamente, o conselho fiscal tem as seguintes atribuições: fiscalizar os atos dos
administradores; opinar sobre os relatórios anuais da administração; analisar trimestralmente
balancetes e demonstrações financeiras do exercício social; denunciar aos órgãos da administração
crimes, fraudes ou erros e sugerir providências; analisar e opinar sobre recomendações de auditores
internos e externos; fiscalizar transações entre partes interessadas; convocar assembleia geral
ordinária (se houver retardamento da convocação por parte dos órgãos da administração) e
extraordinária (quando houver ocorrência de motivos graves ou urgentes) etc.
Embora seja um órgão importante para as boas práticas de governança corporativa, não é
obrigatório em algumas legislações; como é o caso da americana, britânica, alemã e francesa. No
Brasil, a presença desse órgão é facultativa e a decisão é efetuada pela assembleia geral.
3.2 COMITÊ DE AUDITORIA
É outro órgão importante para a estrutura de governança da organização, e é exigido pela SOX
(lei que estudaremos no último tópico desta aula). Sua função é acompanhar e avaliar o ambiente de
controle, abrangendo a auditoria interna e a auditoria independente. Nesse sentido, o comitê de
auditoria é um órgão de controle, considerado pilar essencial na supervisão da gestão, auxiliando o
conselho de administração na execução de sua missão.
Esse órgão é constituído pelo conselho de administração e tem como principais atribuições:
supervisão da integridade e qualidade das práticas contábeis e demonstrações de resultados;
verificação da conformidade dos atos da administração em relação à legislação e estatutos;
direcionamentos das relações da firma com analistas de mercado e investidores; análise e
gerenciamento de riscos corporativos, como riscos de conformidade, contratuais, financeiros,
tecnológicos, ambientais e de marca, imagem e reputação.
Dentro desse comitê, temos ainda a figura da auditoria independente, um órgão externo e que
atende aos interesses dos proprietários, analistas de mercado e investidores, do conselho de
administração e do próprio comitê de auditoria. Os auditores externos são responsáveis por analisar
demonstrações contábeis, com o intuito de verificar a conformidade da contabilidade às normas
exigidas no país e no exterior (para aquelas que emitem títulos no mercado financeiro externo) e
proceder às correções das DFs quanto à realidade da empresa, seus resultados e variações
patrimoniais, se necessário.
No Brasil, a Lei das SA exige a presença da auditoria das demonstrações financeiras para as
empresas de capital aberto e aquelas consideradas de grande porte, e esta deve ser realizada por
auditores externos/independentes registrados na CVM. Ainda, a auditoria externa deve ser contratada
e avaliada pelo conselho de administração e possuir tais características: ser independente em relação
à empresa, passar por rotatividade e ter competência técnica.
Outra figura desse comitê é a auditoria interna. Embora relacionada ao comitê de auditoria, tem
como característica a estrita prestação de serviço corporativo de apoio à diretoria executiva e ao
conselho de administração; não tendo como atributo principal a independência da auditoria externa.
Sua função principal é a organização do ambiente interno com foco em compliance. Pode ser
relacionada como parte do comitê de auditoria, por ter relações significativas com os órgãos de
governança de auditoria e fiscalização, além de focar suas atividades na adequação e efetividade do
gerenciamento de riscos operacionais em relação a exigências internas e externas (Biscalquim; Vieira,
2015).
TEMA 4 – CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO NO PROCESSO DE
GOVERNANÇA
Outro pilar relevante para a estrutura de governança corporativa é o conselho de administração.
A governança é de fato exercida pelo conselho de administração epela diretoria executiva, embora
submetida às decisões dos acionistas, formalizadas e definidas na assembleia geral. Nessa relação, a
diretoria executiva é o órgão responsável pelas decisões gerenciais e execução das estratégias da
companhia, e se subordina ao conselho de administração. Contudo, é o conselho de administração
que seleciona o comitê executivo, o qual deve se reportar e ser avaliado por esse órgão. Assim, cabe
ao conselho de administração resguardar os interesses dos proprietários da firma, monitorando a
ação e comportamento do comitê executivo; e, portanto, agindo como o elo entre acionistas e
administradores da empresa.
Mas como é composto o conselho de administração? Quem tem direito a cadeira nesse órgão
tão importante? São três tipos de membros que devem integrar o conselho de administração:
proprietários (insiders), independentes (outsiders) e outsiders relacionados. Os insiders são
representantes dos proprietários, controladores e minoritários. Os outsiders são conselheiros externos
independentes. E os outsiders relacionados são representantes de outros stakeholders da empresa,
como membros da comunidade, empregados, sindicatos (em empresas estatais) e membros de
grupos que possam ser afetados pela empresa.
A estrutura do conselho de administração é formada com o objetivo de garantir a independência
e a inexistência de conflito de interesses entre este órgão e o diretor-executivo (CEO) e os acionistas
controladores da empresa. Assim, as melhores práticas de governança corporativa indicam que o
conselho de administração deve ser constituído por aproximadamente 7 membros, com a presença
dos três tipos (insiders e os dois tipos de outsiders). Os conselheiros devem possuir capacitação
complementar e deve haver uma programação para substituição periódica de seus membros.
Já a legislação societária das sociedades anônimas prevê os seguintes pontos a serem
obrigatoriamente cumpridos quanto à governança corporativa: deliberação colegiada (não
individual); mínimo de três membros; presença máxima de 1/3 de diretores da companhia;
programação de substituições dos membros do conselho de administração; acionistas controladores
podem eleger a maioria de seus membros, ao passo que os acionistas minoritários possuem a
prerrogativa para eleger um membro do conselho, se possuírem pelo menos 15% da ações com
direito a voto ou 10% das ações preferencias.
Aprenderemos agora quais são as principais missões, papéis, atribuições e responsabilidades do
conselho de administração. Começaremos pela missão. O conselho de administração tem como
objetivo proteger e valorizar o patrimônio da entidade, otimizar o retorno sobre investimentos, zelar
pelos valores e crenças da organização, trabalhar em conjunto com a diretoria executiva para alcançar
os propósitos estratégicos e avaliar o desempenho da diretoria executiva. Assim, podemos sintetizar a
missão desse órgão como sendo o guardião dos interesses das partes interessadas na organização,
como proprietários, acionistas, credores e membros da comunidade, decidindo sobre as grandes
questões do negócio e monitorando a diretoria executiva com o intuito de diminuir os conflitos de
agência.
Em relação aos papéis, atribuições e responsabilidades desse órgão de governança, podemos
citar: planejar diretrizes estratégicas e decidir sobre questões relacionadas à gestão, finanças,
aspectos fiscais e de auditoria, compreendendo, ainda, aspectos legais, societários e institucionais.
Especificamente, podemos citar: decisões sobre investimentos e financiamentos; destinações de
resultados, como distribuição de dividendos e pacote de remuneração aos executivos; planejamento
da sucessão do corpo executivo da empresa; processo estruturado para nomeação de novos
conselheiros; políticas de gerenciamento de riscos; escolha e monitoramento da auditoria; e
investigação de possíveis fraudes e corrupções, assegurando a presença e cumprimento do código
de ética da organização.
TEMA 5 – SOX
Falaremos, enfim, sobre a legislação que fundamentou e deu as primeiras diretrizes legais para a
aplicação dos conceitos da governança corporativa: a Lei Sarbanes-Oxley (SOX). Salienta-se, contudo,
que atualmente diversas empresas adotam os princípios do modelo de governança corporativa, mas
não são todas que precisam seguir a SOX.
O desenvolvimento dessa lei foi resultado da crise instaurada no mercado de capitais norte-
americano, decorrente das fraudes e escândalos contábeis que, em 2002, atingiram grandes
empresas como a Enron, Arthur Andersen, WorldCom, Xerox etc. O intuito da lei foi trazer mais
segurança aos investidores no que concerne as demonstrações e procedimentos contábeis e, assim,
evitar a fuga de capital do mercado de capitais.
A SOX deve ser aplicada às empresas que possuem ações registradas na SEC (comissão de
valores mobiliários americana); assim, para negociar no mercado de capitais americano, todas as
empresas, americanas ou não, devem seguir a Lei Sarbanes-Oxley. Nesse sentido, o objetivo da SOX é
obrigar as empresas a instaurarem mecanismos de auditoria e segurança, com membros
independentes, garantindo a fidedignidade do processo para os investidores.
As diretrizes da SOX incluem a reestruturação de processos com o intuito de aumentar os
controles e a transparência, na condução dos negócios, na administração financeira e contábil e na
gestão e divulgação das informações. Assim, torna-se obrigatória a efetivação de práticas
consideradas como boa governança corporativa. Ao tornar os diretores executivos e financeiros
responsáveis por estabelecer e monitorar a eficácia dos controles internos e das informações
divulgadas, a aplicação da lei torna-se mais certa. Ainda, os advogados e auditores ganham
independência nesse processo, mas também maiores responsabilidades. E, para garantir a
independência, a regulamentação sobre a contratação desses serviços independentes passa a existir.
Mas quais são os principais aspectos trazidos pela Lei Sarbanes-Oxley? Podemos citar o PCAOB,
a independência do auditor, a responsabilidade da empresa, o aprimoramento das demonstrações
financeiras, a responsabilidade por fraudes corporativas ou criminais e o aumento das penalidades
para crimes de colarinho branco.
O PCAOB é um conselho de auditores de companhias abertas e tem como objetivo estabelecer
normas de auditoria, controle de qualidade, ética e independência na emissão dos pareceres. Todos
os auditores que prestam serviços às empresas sujeitas à Lei SOX devem estar registrados no PCAOB.
A independência do auditor é assegurada pelos artigos de número 201 a 204, que versam sobre
os serviços permitidos aos auditores, determinam a rotatividade do sócio responsável por cada
cliente em período de pelo menos cinco anos e estabelecem as regras para a comunicação entre o
comitê de auditoria e a auditoria independente.
A responsabilidade da empresa é atribuída em relação ao corpo executivo. Este deve assinar os
relatórios das informações contábeis e financeiras e declarar que divulgaram todos os fatos
controversos, medidas de controle e fraudes ao comitê de auditoria. A Lei também proíbe medidas
que possam influenciar os auditores, como presentes, jantares e viagens, e define as
responsabilidades e penalidades aos diretores que agirem de maneira ilegal. Também cria regras para
os advogados, obrigando-os a relatar ao comitê de auditoria evidências de violações importantes na
empresa.
A SOX dá diretrizes sobre a obrigatoriedade da divulgação das informações financeiras,
trimestral e anualmente, sobre todos os fatos materiais que não estão demonstrados nas
demonstrações contábeis, por exemplo, transações, acordos, obrigações realizadas com entidades
não consolidadas, contingências e outros fatos materiais. Fica também exigido que as principais
transações envolvendo a diretoria e os principais acionistas sejam comunicadas aos stakeholders.
Outras determinações em relação à estrutura de governança são exigidas:nenhum diretor ou
funcionário graduado poderá receber, direta ou indiretamente, empréstimos de companhia aberta;
avaliação anual dos controles e procedimentos internos para emissão dos reports financeiros, com a
emissão de parecer de auditor independente; divulgação tempestiva de informações adicionais
relevantes para a compreensão das mudanças na situação financeira ou operacional da organização.
A responsabilidade por fraude corporativa ou criminal é definida nos artigos 802, 806 e 807. A
SOX trata das penalidades criminais para a alteração, destruição ou falsificação de documentos a
serem utilizados nas vistorias da SEC; cria os mecanismos de proteção aos funcionários de empresas
de capital aberto que denunciarem fraudes nas empresas em que trabalham; e define as penalidades
criminais por prejudicar acionistas minoritários de empresas de capital aberto com informações
inverídicas.
Por fim, em relação ao aumento das penalidades para crimes de colarinho branco, o artigo 906
estabelece o aumento das penas sob a responsabilidade da diretoria quanto às demonstrações
financeiras e define as penalidades para as infrações.
TROCANDO IDEIAS
Chegou a hora de trocar ideias com os colegas sobre os principais aspectos tratados nesta aula.
Para consolidar os conhecimentos adquiridos, vamos realizar uma atividade de fórum. Você
deverá articular os conceitos aprendidos sobre o que é governança corporativa, suas práticas e
estrutura de poder, considerando especialmente o conselho de administração e o comitê de
auditoria. Para tanto, elabore uma opinião, em um texto de uma página, demonstrando a importância
da estrutura de governança para a efetivação de seus objetivos. Essa atividade auxiliará na fixação
dos conteúdos estudados.
NA PRÁTICA
Esta última atividade tem cunho prático, para que possa desenvolver as habilidades durante o
curso. Reúna os conhecimentos adquiridos e resolva:
A empresa Alfa negocia suas ações no mercado de capitais brasileiro e norte-americano. Devido
às exigências legais, segue os procedimentos e práticas de governança corporativa, com o intuito de
manter a segurança e confiabilidade de seus investidores. No mês de novembro de 2010, você,
funcionário do departamento de contabilidade, verificou um procedimento estranho do diretor
financeiro: este solicitou que uma caixa com alguns documentos fiscais fosse transferida a outro
endereço, que não era da própria empresa, e que algumas planilhas eletrônicas tivessem valores
alterados.
Agora, descreva como esse caso de suspeita de fraude corporativa deve ser tratado e aponte se
há alguma legislação que suporte seu posicionamento.
Resolução: A empresa está inserida no mercado de capitais norte-americano e, como vimos,
está sujeita à legislação SOX. Com base no artigo 802 da Lei Sarbanes-Oxley, deve-se apontar como
fraude corporativa a decisão do corpo executivo da organização em alterar e destruir documentos
contábeis que seriam investigados pelo órgão regulador.
FINALIZANDO
Nesta aula, adentramos no mundo das boas práticas empresariais e vimos como são complexas,
dinâmicas e extremamente normatizadas e legalizadas, o que implica em muitas responsabilidades
por parte da companhia que atua no mercado de capitais.
O primeiro tema desta aula nos apresentou conceitos e valores primordiais da governança
corporativa, sua intersecção com a contabilidade e os níveis de governança corporativa presentes no
mercado de capitais brasileiro. No segundo tema foram apresentadas as principais práticas de
governança e a estrutura de poder, assim como as condições para a efetivação das práticas de boa
governança e a importância da estruturação dos órgãos de governança.
Os temas 3 e 4 trataram das duas estruturas de governança importantes para assegurar a
independência e confiabilidade da corporação: o conselho de administração e o comitê de auditoria.
O tema 3 tratou dos órgãos de auditoria e fiscalização, que abarcam o comitê de auditoria e o
conselho fiscal, os quais, por sua vez, asseguram a fidedignidade dos controles e das informações
divulgadas, visando o interesse dos proprietários e acionistas da empresa. O tema 4 teve como
preocupação o conselho de administração, órgão responsável por fiscalizar o corpo executivo e fazer
cumprir as decisões da assembleia geral, mediando os conflitos de agência entre principal e agente.
Por fim, o tema 5 discorreu sobre a Lei Sarbanes-Oxley, a qual surgiu em meio a uma crise de
escândalos corporativos no ambiente norte-americano e gerou muita incerteza nos investidores. Com
o intuito de manter o capital dos investidores no mercado de capitais, a SEC (órgão regulador norte-
americano) instaurou a Lei SOX. Ela dá diretrizes para a atuação das empresas e adoção de práticas
de governança corporativa que objetivam diminuir os prejuízos informacionais e financeiros para os
demais stakeholders, em especial, os investidores. Ainda, estabelece as responsabilidades corporativas
e as penalidades criminais para os crimes cometidos nesse âmbito empresarial.
REFERÊNCIAS
BISCALQUIM, A. C.; VIEIRA, E. T. V. A auditoria interna como fortalecimento da governança
corporativa nas empresas de capital aberto. Redeca, p. 56-72.
A ESTRUTURA de poder, o processo e as práticas de governança corporativa. Quinto capítulo.
Governança Corporativa. Disponível em: <http://governancacorporativa.com/?page_id=120>.
Acesso em: 23 abr. 2019.
INTRODUÇÃO à lei Sarbanes-Oxley (SOX). Disponível em:
<https://portaldeauditoria.com.br/introducao-lei-sarbanes-oxley-sox/>. Acesso em: 23 abr. 2019.
IUDÍCIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2004.
MALACRIDA, M. J. C.; YAMAMOTO, M. M. Governança corporativa: nível de evidenciação das
informações e sua relação com a volatilidade das ações do Ibovespa. Revista Contabilidade &
Finanças, p. 65-79, 2006.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 5
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
A contabilidade é um instrumento eficaz na diminuição da assimetria de informações. Por essa
razão, tem sido muito utilizada no mercado financeiro com o intuito de auxiliar credores e
investidores na tomada de decisões com maior nível de assertividade. Nesta aula, o objetivo é
compreender como a contabilidade tem atuado no mercado financeiro como um mecanismo de
diminuição de assimetrias de informação e, portanto, maior equilíbrio para o mercado financeiro.
Dessa maneira, podemos pensar na contabilidade como um mecanismo extremamente relevante
para as transações que ocorrem no mercado financeiro. Ao diminuir a assimetria de informação, ela
tornará a informação no mercado financeiro mais simétrica, isto é, acessível para todos os agentes
econômicos de maneira igual. Consequentemente, a contabilidade diminui as falhas de mercado e
permite que as transações entre os agentes econômicos sejam mais justas e com menos custos de
transação.
Iniciaremos pela discussão da relação entre lucro (medida contábil) e preço das ações (medida
de mercado): será que ela existe? O tema 2 desta aula versa sobre as respostas do mercado financeiro
à informação contábil, ou seja, é uma reflexão sobre como o mercado reage às informações
divulgadas pela contabilidade. Em seguida, o tema 3 expõe a importância da informação contábil no
mercado financeiro, ao passo que o tema 4 discorre sobre o comportamento da relação lucro e
retorno ao longo do tempo. Por fim, o tema 5 trata da comparação entre relevância das informações
contábeis e demais informativos financeiros e não financeiros para o mercado financeiro.
CONTEXTUALIZANDO
A contabilidade e o mercado financeiro possuem uma estreita relação. Como a contabilidade é
um instrumento eficaz na diminuição da assimetria de informação, ela diminui também a incerteza,
os riscos e os custos de agência inerentes às negociações dos agentes econômicos. Portanto, a
ciência contábil se reveste de suma importância para a negociaçãono mercado financeiro dos
agentes econômicos.
Pensem no seguinte cenário: dois agentes econômicos estão negociando a compra de um lote
de ações. Entre o comprador e vendedor das ações, investidor e proprietário, respectivamente, existe
assimetria de informação. Como vimos anteriormente, a assimetria de informação sempre existe nos
diferentes mercados, contudo, em alguns deles, é maior, e em outros, menor. Mas o que determina
essa diferença? A qualidade da informação disponível para os diferentes agentes. Nesse sentido, a
contabilidade é um mecanismo de diminuição da assimetria da informação. No cenário descrito,
quanto melhor for a qualidade da informação contábil, mais transparente tende a ser a negociação
entre comprador e vendedor, considerando que a informação contábil é um instrumento eficaz de
diminuição da assimetria de informação. Consequentemente, menor será o custo de transação, risco
moral e seleção adversa, conceitos que vimos anteriormente.
Dessa forma, percebe-se que existe uma expectativa quanto a possíveis relações entre a
contabilidade e o mercado financeiro. Nos últimos anos, a Teoria da Contabilidade tem se dedicado a
compreender se há essa relação de fato. Alguns estudos se desenvolveram sobre a importância da
informação contábil e como o mercado financeiro reage. Para isso, estudamos a relação entre lucro
(informação contábil) e preço das ações (reflexo do entendimento do mercado financeiro). Ainda, é
importante compreender como o mercado financeiro reage a esse tipo de informação: será que o
mercado financeiro valoriza a informação contábil? Métricas para capturar essa relação têm sido
desenvolvidas pela academia com o intuito de afirmar a existência dessa relação.
Diante disso, sugerimos que você reflita sobre os seguintes pontos: a contabilidade é um eficaz
instrumento de diminuição da assimetria de informações? De que maneira e em que circunstâncias
ela pode diminuir essa assimetria? Nesse sentido, como o mercado financeiro tem percebido a
relevância da contabilidade? Ela tem sido aproveitada ou subaproveitada? Qual o status das
pesquisas que estão sendo desenvolvidas nesse campo do conhecimento? São muitos
questionamentos, mas essa reflexão inicial auxiliará no andamento desta aula.
TEMA 1 – LUCRO E PREÇO DAS AÇÕES
A compreensão da relação entre lucro e preço das ações é uma discussão muito relevante para a
academia contábil. Isso porque compreender a relação entre essas duas métricas – o lucro, que é
uma medida contábil, e o preço das ações, que é uma medida de mercado – permite refletir sobre as
expectativas futuras de retorno da empresa, ou seja, torna possível afirmar a importância da
informação contábil para o mercado financeiro. Assim, a constatação de uma relação da informação
contábil (lucro) e do preço das ações daria uma outra magnitude para a ciência contábil devido ao
seu poder preditivo.
Antes de adentrarmos os estudos desenvolvidos nessa área do conhecimento, é importante
comentar que pesquisas e trabalhos os quais objetivaram compreender a relação entre lucro e preço
da ação referem-se ao comportamento das empresas que operam no mercado de capitais. Isso
porque o desenvolvimento dos estudos só poderia ser efetuado com as informações disponibilizadas
por essas empresas, que possuem obrigatoriedade de divulgação de diversas informações. Assim, os
conceitos e definições discutidos nesta aula são aplicados apenas às empresas que operam no
mercado de capitais.
O surgimento dos conceitos de Hipóteses do Mercado Eficiente (HME) ou em inglês, Efficient
Markets Hypotesis (EMH), e de Modelo de Precificação de Ativos Financeiros (MPAF), que é mais
conhecido por sua sigla em inglês, CAPM (Capital Asset Pricing Model), nas ciências econômicas, no
final da década de 1960, foram fundamentais para o avanço na pesquisa contábil empírica, porque
esses conceitos são capazes de explicitar como a informação contábil é útil na previsão do valor
futuro das empresas e na tomada de decisão dos agentes do mercado de capitais (Iudícibus; Lopes,
2004; Galdi; Lopes, 2008).
O conceito de HME assevera que os preços das ações refletem todas as informações relevantes
disponíveis e se ajustam aos riscos e retornos esperados, que podem ser obtidos por meio dessas
informações. Portanto, é razoável presumir que existe uma relação entre a informação contábil e o
preço das ações. Coube aos pesquisadores contábeis comprovarem tal relação, bem como descobrir
como se dá essa relação e como é a magnitude na qual ela ocorre (Iudícibus; Lopes, 2004), visto que
o conceito foi desenvolvido na área de economia e, consequentemente, o objeto contábil é foco
secundário de pesquisa nas ciências econômicas.
Assim, a pesquisa na área contábil pautou-se em perguntas importantíssimas, tais como: existe
conteúdo informativo para o mercado de capitais nas informações contábeis? Qual é a reação do
mercado perante essas informações? Quanto da informação contábil é adiantada por fontes
alternativas de informação? Os lucros inesperados geram retornos inesperados no que tange ao
preço das ações? Quais são as fontes de informação alternativa que competem com a informação
contábil? (Iudícibus; Lopes, 2004). Essas perguntas pautam a agenda de pesquisa em contabilidade, e
a apresentação e discussão dos avanços teóricos, no que tange a essas questões, serão apresentadas
ao longo desta aula.
Portanto, os pesquisadores da área contábil têm se pautado na existência de uma provável
relação entre a informação contábil e o preço das ações. O tema é importante porque a afirmação da
relação entre lucro e preço da ação indicaria que a informação contábil facilita a previsão do fluxo de
caixa futuro das empresas, tal como ajuda na determinação de riscos e retornos esperados (Iudícibus;
Lopes, 2004). Dessa maneira, isso seria de vital relevância para todos os agentes econômicos que
operam no mercado de capitais, tais como pequenos e grandes investidores, credores e proprietários.
TEMA 2 – RESPOSTA DO MERCADO À INFORMAÇÃO CONTÁBIL
A maneira como o mercado financeiro reage às informações contábeis é determinante no poder
preditivo da contabilidade. Mas como diferenciar, dentre tantas informações, qual é a informação
relevante nas decisões de crédito e investimento? Essa foi a agenda de pesquisa pautada pela
academia contábil, no que tange às relações entre lucro e preço das ações.
Para que comprovem a influência da contabilidade no mercado financeiro, as pesquisas
empíricas, primeiro, devem comprovar a importância da informação contábil quando comparada às
demais informações disponíveis para os tomadores de decisão (relatórios de especialistas,
demonstrações de empresas concorrentes, anúncio de contrato de vendas etc.). Para isso, é
necessário analisar a variação no preço das ações que cada tipo de informação gera isoladamente
(Iudícibus; Lopes, 2004).
De maneira geral, devido ao fator tempo, as demais informações não contábeis buscam
antecipar o conteúdo informacional da contabilidade para o mercado, visto que a periodicidade de
divulgação das demonstrações contábeis é relativamente longa (normalmente as empresas possuem
essas informações em um período mensal, contudo, a sua divulgação pode ocorrer até em período
trimestral no mercado de capitais). Assim, as expectativas futuras do fluxo de caixa e do valor da
empresa começam a ser formadas antes do anúncio das informações contábeis no mercado
financeiro. Por consequência, não é correto afirmar que a simples variação no preço das ações prova
a importância das informações contábeis, visto que é elementar a compreensão do efeito de outras
informações no valor de mercado (Iudícibus; Lopes, 2004).
Por exemplo, a empresa Vale teve suas ações desvalorizadas no período após os desastres
ambientais que ocorreram em Mariana (2015) e Brumadinho (2019). A variação no valor de mercado
é decorrente da antecipação da informação contábil, uma vez que o mercado financeiro consegue
precificar a perda decapacidade operacional da companhia e os custos financeiros associados ao
desastre ambiental.
Dessa maneira, para avaliar se a informação contábil possui valor informativo, ou seja, apresenta
alguma informação adicional ao mercado financeiro, é necessário analisar a variação dos preços das
ações na data do anúncio da informação contábil (ou em um período bastante próximo). Se
ocorreram variações importantes nos preços dentro desse período, pode-se dizer que a informação
contábil adicionou informação ao mercado (Iudícibus; Lopes, 2004).
Por exemplo, no caso da empresa Vale, se na data da divulgação das demonstrações contábeis
houver variação no preço das ações, pode-se concluir que a contabilidade proveu informações
adicionais ao mercado, ou seja, informações que não foram apresentadas por fontes não contábeis.
Em suma, as respostas do mercado às informações contábeis dependem do poder da
contabilidade de gerar informações adicionais, visto que as fontes não contábeis tentam antecipar
seu conteúdo informacional. Essa antecipação é decorrente da tempestividade na qual a informação
contábil é apresentada, em geral trimestralmente. De forma conclusiva, pode-se dizer que esses
estudos ainda estão sendo desenvolvidos no campo contábil; contudo, já se pode afirmar que existe
uma relação entre lucro e preço das ações, mas existem outros fatores que influenciam nessa
resposta do mercado, por exemplo, o fator temporal.
TEMA 3 – IMPORTÂNCIA DA INFORMAÇÃO CONTÁBIL PARA O
MERCADO
Podemos afirmar que a informação contábil é importante para o mercado financeiro? No
decorrer deste tema, discorreremos sobre importantes autores que estudaram e buscaram comprovar
a relevância da informação contábil e a reação que ela causa no mercado financeiro. Diversas
pesquisas buscaram evoluir a teoria da contabilidade nesse sentido, e o trabalho de Ball e Brown
(1968) é muito importante para compreender como a informação contábil passou a ter maior
relevância (Iudícibus; Lopes, 2004).
Ball e Brown (1968, citados por Iudícibus; Lopes, 2004) são dois economistas da Escola de
Chicago considerados pioneiros no desenvolvimento de pesquisas que buscam compreender a
relação entre a informação contábil e o mercado de capitais. Os autores buscaram investigar se o
lucro contábil refletia apenas os fatores já incorporados pelas ações ou se o anúncio dos lucros
continha valor informativo para o mercado de capitais. Isto é, será que a contabilidade adiciona valor
ao mercado de capitais?
Vamos, nesse momento, definir dois conceitos fundamentais para a compreensão do estudo de
Ball e Brown: retorno anormal e lucro anormal.
Um retorno anormal é um retorno gerado por determinado título ou carteira de investimentos
durante um período de tempo diferente da taxa esperada de retorno. Por exemplo, ganhar 15% em
um fundo de investimento do qual é esperado em média 5% ao ano criaria um retorno anormal
positivo de 10%. Se, no entanto, o retorno real fosse de 2%, isso geraria um retorno anormal negativo
de 3%.
Um lucro anormal é o lucro acima (ou abaixo) do requerimento mínimo de remuneração do
capital próprio. Por exemplo, a empresa tinha a expectativa de um lucro de 300 mil reais, mas o
resultado foi 280 mil reais. Isso significa que os lucro anormais são negativos em 20 mil reais. O
contrário também é verdadeiro, se a empresa possui lucros de 330 mil reais, nesse mesmo cenário,
significa que o lucro anormal representa 30 mil reais positivo.
Retornando ao trabalho de Ball e Brown, após conceituar lucros e retornos anormais, podemos
dizer que a intenção por trás dessa pesquisa era demonstrar a relação de sinal (positivo ou negativo)
da variação do lucro inesperado e das variações nas taxas de retornos anormais médios. Os
pesquisadores suspeitavam que um acréscimo nos lucros inesperados acompanharia uma taxa de
retorno anormal positiva, sendo que um decréscimo nos lucros desencadearia uma taxa de retorno
negativa (Iudícibus; Lopes, 2004).
Os resultados da pesquisa de Ball e Brown apontaram os seguintes aspectos: (1) que os retornos
anuais ajustam-se de forma gradual; (2) como nem toda informação contábil é antecipada, existe
uma reação do mercado após o anúncio, embora ela seja pequena (cerca de 10% a 15% de variação
ocorre na data do anúncio e cerca de 85% a 90% ocorre por antecipação de notícias); (3) existe uma
tendência de movimento que persiste após os anúncios, ou seja, os preços continuam subindo por
um tempo após o anúncio das informações anormais, ou continuam descendo, caso os lucros sejam
inferiores aos “normais” (Iudícibus; Lopes, 2004).
O que podemos inferir com esses resultados? Eles demonstram a utilidade da informação
contábil? Só podemos concluir que os relatórios anuais possuem conteúdo informativo e que
induzem a um comportamento nos retornos anuais em magnitude de sinal. Ou seja, os resultados da
pesquisa demonstram a utilidade da informação contábil.
Dessa maneira, até o presente momento, percebemos que as pesquisas empíricas estão
preocupadas em comprovar a relação dos sinais (positivo e negativo) entre as variações de lucros
anormais e as variações de preço das ações, o que demonstra que existe utilidade nas informações
de lucro contábil e que o mercado reage a esses dados. Ao assumir que os lucros estimulam o fluxo
de caixa futuro, então é correto afirmar que há uma relação direta entre a magnitude da variação do
lucro anormal e do retorno anormal das ações.
TEMA 4 – COMPORTAMENTO DA RELAÇÃO LUCRO E RETORNO AO
LONGO DO TEMPO
No tema anterior desta aula, vimos que o conteúdo do lucro é informativo. Após essa
constatação teórica, o passo seguinte da evolução da teoria da contabilidade foi compreender como
é o comportamento da relação lucro e retorno ao longo do tempo.
Nesse sentido, os pesquisadores Board e Walker (1990, citado por Iudícibus; Lopes, 2004)
buscaram entender a relação entre o lucro e o retorno das ações no período de 1965 a 1982 por
meio da medida ROCE (Lucro Líquido/Patrimônio Líquido) e ROVAL (Lucro Líquido/Valor de
Mercado). A primeira medida se refere ao retorno em relação ao valor contábil, e a segunda medida é
relativa ao retorno sobre o valor de mercado. Para compreender como essas medidas se
comportavam ao longo do tempo, os autores adotaram a seguinte metodologia: os índices
inesperados de retorno foram calculados pela diferença entre o índice correspondente ao período
atual e o índice do período anterior. Como os autores consideravam o lucro como sendo de caráter
aleatório, o valor do índice anterior funciona como um ótimo instrumento de previsão para o índice
futuro do lucro (Iudícibus; Lopes, 2004).
Outro aspecto fundamental na compreensão do comportamento dessa relação são os
componentes do lucro contábil. O comportamento do lucro deve ser analisado em relação à
atividade-fim da empresa, portanto, é importante considerar o lucro antes de itens extraordinários e
não operacionais. Assim, temos o lucro extraordinário, que representa o lucro que inclui valores com
características transitórias e que também é obtido da atividade-fim da empresa; e o lucro não
operacional, que representa o lucro advindo de atividades que não são da atividade-fim da empresa
em análise. Essa separação é fundamental, visto que os estudos relataram que, quando o lucro é
padronizado, isto é, quando se divide o valor do lucro antes dos itens extraordinários e operacionais
pelo valor de mercado, a magnitude do relacionamento entre lucro e preço das ações melhora
drasticamente em relação aos estudos que utilizaram números absolutos (Iudícibus; Lopes, 2004).
Os autores concluem que a relevância da relação entre o lucro e o patrimônio aumentam de
forma lenta ao longo do tempo, com o lucro líquido perdendo seu poder de explicação quando
analisado de maneira isolada, e o patrimônio líquido aumentando seu poder de explicação durante o
período que foi analisado. Com esse estudo, o que somos levados a pensar?
Esse estudo apresenta uma tendênciaainda mais clara nos dias de hoje. Portanto, é importante
contextualizar os estudos apresentados, especialmente porque as características das empresas
mudaram. O que se tem percebido é que o poder de explicação do lucro está sendo reduzido, devido
ao aumento da importância das empresas de serviço e alta tecnologia. Essas empresas possuem um
nível reduzido de ativos mensurados na contabilidade devido aos problemas enfrentados pela
contabilidade para a mensuração dos ativos intangíveis, se formos comparar com empresas de
produção intensiva, por exemplo. Ao ter seus ativos e resultados contábeis subavaliados, o poder de
explicação do lucro passa a ser menor, portanto, em empresas de serviço e alta tecnologia, o valor de
mercado é uma representação (proxy) mais aproximada da realidade econômica dessas organizações.
Por fim, podemos citar, também, o fator frequência e magnitude das despesas extraordinárias e o
aumento de pequenas empresas na bolsa de valores. No primeiro caso, o número elevado dessas
despesas pode distorcer o valor do lucro e seu poder preditivo. No segundo caso, a falta de acurácia
informacional pode também gerar dificuldades na previsão do lucro. O patrimônio líquido é uma boa
medida quando existe iminente dissolução de empresa ou o lucro não é uma boa referência, como é
o caso das pequenas empresas. Assim, em algumas situações, o patrimônio líquido tem aumentado o
poder de explicação em detrimento do lucro contábil.
TEMA 5 – COMPARAÇÃO ENTRE A RELEVÂNCIA DAS
INFORMAÇÕES CONTÁBEIS E DEMAIS INFORMATIVOS
FINANCEIROS OU NÃO
No último tema desta aula, discorreremos sobre a relevância da informação contábil em
comparação com outras fontes de informação. Já vimos até o momento que a contabilidade tem uma
medida de lucro correlacionada com o preço das ações, ou seja, com as expectativas de caixa futuro,
segundo a percepção do mercado financeiro. Vimos também que, embora outras fontes de
informação antecipem a informação contábil, esta tem relevância para o mercado, pois, ainda assim,
possui conteúdo informacional. Dentre as fontes que antecipam a informação contábil, abordaremos
dois tipos: a informação de analistas de mercado e as informações não financeiras.
A competição entre as informações contábeis e as informações de analistas gera dúvidas se a
última elimina ou não a importância das informações contábeis no mercado. Estudos vêm sendo
desenvolvidos nesse campo do conhecimento com o intuito de compreender se os analistas de
mercado conseguem antecipar as informações fundamentais para a tomada de decisões no mercado
financeiro. De maneira geral, os analistas de mercado utilizam informações do ambiente (notícias
sobre o ambiente econômico, político, social, ambiental, em âmbito nacional e internacional) para
compor um conjunto de informações capaz de fornecer subsídios para os agentes econômicos do
mercado, como credores e investidores.
Contudo, os estudos empíricos da teoria da contabilidade têm apontado que as informações de
analistas e os relatórios contábeis não são substitutos e que a importância de ambas vem
aumentando para o mercado de capitais (Iudícibus; Lopes, 2004). Isso significa dizer que tanto os
analistas de mercado quanto os demais stakeholders (como credores e investidores) utilizam as
informações contábeis para compor as informações necessárias para tomar as melhores decisões.
Pensando um pouco de modo mais aplicado, pense no seguinte cenário: a empresa Alfa está
adentrando o mercado de capitais e os agentes econômicos precisam decidir se o investimento nas
ações da empresa Alfa trará um retorno desejado. Quais são as principais fontes de informação
utilizadas nesse contexto?
Agora, vamos pensar na empresa Petrobras, que já opera no mercado há bastante tempo. Quais
são as informações utilizadas pelos agentes econômicos para a decisão de investimento ou crédito?
Em ambos os casos, as informações contábeis e as informações dos analistas serão combinadas
para compor uma base de informações confiáveis para a tomada de decisões. No primeiro caso, as
informações contábeis dão um panorama do resultado econômico passado da organização, o que
permite aos agentes econômicos compreenderem o padrão de operação da companhia (volume de
produção, venda, eficiência etc.). Contudo, os agentes econômicos precisam acessar informações
futuras, principalmente relacionadas ao ambiente enfrentado por essa companhia, em especial
devido às mudanças que podem ser provocadas pela entrada no mercado de capitais.
No segundo caso, estamos discorrendo sobre uma organização já estabelecida no mercado de
capitais e, portanto, de conhecimento dos diferentes agentes econômicos. Nesse cenário, a
informação contábil apresenta o padrão operacional da companhia, mas, adicionalmente, permite
que mudanças significativas no resultado econômico possam ser percebidas, como foi o caso do
grande volume de impairment registrado na contabilidade. De maneira complementar, a Petrobras
será analisada com base em informações de analistas, que podem acrescentar informações mais
tempestivas sobre os fatores ambientais.
E em relação à competição entre as informações contábeis e as informações não financeiras? A
informação contábil, assim como a informação financeira, precisa ser medida de forma mais
quantitativa e tem como característica principal o curto prazo. Isso significa dizer que ela fornece
subsídios para o agente econômico tomar decisões que impactarão em um período curto de tempo.
As informações não financeiras possuem a característica mais qualitativa e de longo prazo, ou seja,
serão capazes de informar o agente sobre o prazo mais longo, a sustentabilidade e a continuidade do
negócio. Como exemplo de medidas financeiras, podemos citar o lucro, a receita de vendas, a receita
financeira, a despesas de marketing etc. Como exemplo de medidas não financeiras, podemos citar o
número de funcionárias mulheres no corpo executivo da empresa, a quantidade de retrabalho do
setor de produção, o número de projetos sociais da comunidade afetada pela empresa etc. Combinar
as informações contábeis e financeiras com as informações não financeiras aumenta o poder de
explicação e predição dos fluxos de caixa futuros (Faria, 2017).
Para finalizar esse tópico, é relevante enfatizar que as discussões apresentadas nesta aula são
atuais e ainda estão em desenvolvimento. Como comentamos em algumas partes do texto, não
existem resultados definitivos e a academia contábil tem se debruçado em questões como essas: qual
a relevância da informação contábil? Como o mercado financeiro reage às informações contábeis? As
informações disponibilizadas por analistas são competidoras? E em relação às informações não
financeiras? Além disso, novas abordagens sobre o efeito da divulgação de outras informações tem
sido objeto de estudos da contabilidade, como é o caso do Relato Integrado.
TROCANDO IDEIAS
Vamos agora trocar ideias com os colegas sobre os principais aspectos tratados nesta aula?
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula conceitual sobre a relação da
informação contábil com o mercado financeiro, vamos realizar uma atividade de fórum. Você deverá
articular os conceitos teóricos aprendidos nesta aula sobre a evolução da pesquisa contábil em
relação à relevância da informação contábil para o mercado financeiro. Para tanto, exponha sua
opinião e argumente se a informação contábil pode ser considerada relevante em empresas de alta
tecnologia, como Google e Apple, comparativamente a outras fontes de informação. Essa atividade
auxiliará na fixação dos conteúdos estudados.
NA PRÁTICA
Caros alunos, chegamos à última tarefa da aula de contabilidade e mercado financeiro. Essa
atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver essas habilidades durante o curso.
Reúna os conhecimentos adquiridos e vamos fazer um exercício prático:
A empresa Alfa é do setor tecnológico e negocia suas ações no mercado de capitais brasileiro.
Após perdero mercado para um grande grupo econômico, a companhia mudou seu core business
para outro ramo tecnológico: atualmente trabalha com o conceito de one-stop-shop, isto é, os
clientes encontram tudo que precisam na área de tecnologia com a Alfa, desde compra, venda,
aluguel, manutenção de aparelhos eletrônicos. A Alfa atua com manutenção de coletores de dados,
celulares, tablets, computadores, drones, câmeras fotográficas profissionais, no geral, toda a área do
parque móvel de tecnologia, sendo mais de 3 mil itens no portfólio dos seus distribuidores. No ano
de 20x0, ocorrem os seguintes eventos com a empresa Alfa.
A empresa reportou uma informação contábil negativa em novembro de 20X0: a perda de
grandes valores monetários devido a erros operacionais em uma operação de trade com
compra de dólar.
A empresa está em fase de conclusão de um novo produto, que deverá ser lançado no final do
ano 20X1.
O mercado reagiu positivamente à entrada dessa empresa em um novo marketshare.
Os relatórios contábeis anuais de 20X0 apresentam um retorno anormal positivo de 10%.
No caso estudado, pode-se afirmar que a informação contábil pode ser considerada relevante
para o mercado? Articule os quatro elementos apresentados para justificar sua resposta.
Resolução: A empresa estudada é uma empresa do setor de alta tecnologia, e como discutimos
no decorrer desta aula, o lucro e as informações contábeis não refletem adequadamente o seu valor
de mercado, especialmente devido às dificuldades da contabilidade na mensuração de ativos
intangíveis. Ao analisarmos os quatro elementos apresentados, verificamos que o primeiro se refere a
uma informação negativa proveniente da contabilidade, contudo, o impacto no mercado financeiro é
irrelevante; isso porque, mesmo com uma informação contábil negativa, os retornos anormais são
positivos em 10%. Verificamos que, nesse mesmo período, a empresa tem a perspectiva de lançar um
novo produto tecnológico e obter o aumento de marketshare. Em suma, podemos afirmar que nessa
empresa de tecnologia as informações não financeiras são mais relevantes para o mercado financeiro
em comparação às informações contábeis.
FINALIZANDO
Esta aula adentrou a agenda de pesquisa do mundo contábil, em especial, no que se refere ao
tópico contabilidade e mercado financeiro, no qual discutimos a importância da informação contábil
para o mercando financeiro.
Nos dois primeiros temas desta aula, discorremos sobre a relação entre o lucro (medida contábil)
e o preço das ações (medida de mercado), ou seja, como o mercado financeiro reage à informação
contábil. Para tanto, apresentamos as principais pesquisas empíricas nesse contexto. O terceiro tema
apresentou uma discussão sobre a importância da informação contábil ao mercado financeiro. Em
seguida, discutimos sobre como o lucro e o retorno se comportam ao longo do tempo. E por fim,
tratamos da importância da informação contábil comparada às informações não financeiras e às
informações de posse dos analistas de mercado, e chegamos à conclusão de que não há provas
científicas de que as demais fontes de informação serão substitutas pelas informações contábeis.
REFERÊNCIAS
FARIA, M. J. da S. Tipos de divulgação da informação financeira e não financeira de
responsabilidade social empresarial. Caderno EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 15, Edição Especial, n. 9,
set. 2017. Acesso em: <http://www.scielo.br/pdf/cebape/
v15nspe/1679-3951-cebape-15-spe-00534.pdf>. Acesso em: 28 abr. 2019.
GALDI, F. C.; LOPES, A. B. Relação de longo prazo e causalidade entre o lucro contábil e o preço
das ações: evidências do mercado latino-americano. Revista de Administração, v. 43, n. 2, p. 186-
201, 2008. Disponível em: <http://www.spell.org.br/documentos/ver/4410/relacao-de-longo-prazo-e-
causalid
ade-entre-o-lucro-contabil-e-o-preco-das-acoes--evidencias-do-mercado-latino-a
mericano>. Acesso em: 28 abr. 2019.
IUDÍCIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria Avançada da Contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004.
PAULO, E.; SARLO NETO, A.; SANTOS, M. A. C. Reação do preço das ações e intempestividade
informacional do lucro contábil trimestral no Brasil. Advances in Scientific and Applied Accounting,
São Paulo, v. 5, n. 1, p. 54-79, 2012. Disponível em: <http://www.atena.org.br/revista/ojs-2.2.3-
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SANTOS, M. A. C.; LUSTOSA, P. R. B. O efeito dos componentes do lucro contábil no preço das
ações. Revista UnB Contábil, Distrito Federal, v. 11, n. 1-2, p. 87-103, jan./dez. 2008. Disponível em:
<https://cgg-amg.unb.br/index.php/
contabil/article/view/30/39>. Acesso em: 28 abr. 2019.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA
AULA 6
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof.ª Tassiani Aparecida dos Santos
CONVERSA INICIAL
Olá, aluno(a), vamos iniciar nossa última aula! O objetivo desta aula é introduzir aspectos
normativos que sofreram alterações recentemente, como é o caso da norma de receita CPC 47 (CPC,
2016a). Qualquer mudança normativa requer não só uma imersão nas novas regras que sustentam o
reconhecimento, a mensuração e a divulgação das informações contábeis, mas, principalmente, um
aprofundamento conceitual para compreender o funcionamento e a natureza das relações
econômicas. Portanto, relembrar os conceitos primordiais de receita, despesa, ganhos e perdas é
relevante para entender as mudanças no ambiente normativo introduzidas pelo CPC 47 (CPC, 2016a).
Nesta aula, iremos tratar de tópicos avançados das normas contábeis. Iniciaremos pelos aspectos
conceituais da receita, despesa, ganhos e perdas. Em seguida, discorreremos sobre a nova norma
para mensuração e reconhecimento de receitas, esta que foi alterada em 2018 e introduzida pelo CPC
47, respectivo IFRS 15 (CPC, 2016a). O Tema 2 deste material versa sobre os aspectos conceituais do
reconhecimento de receitas. Em seguida, o Tema 3 trata dos aspectos conceituais da mensuração da
receita. O Tema 4 aborda os custos do contrato e divulgação. Por fim, o Tema 5 discorre sobre a
contabilização de receitas e despesas com variações cambiais e ganhos e perdas com itens
monetários. Ufa! Muito assunto, não? Então, mãos à obra!
CONTEXTUALIZANDO
A mudança normativa do CPC 47 surgiu para acomodar a demanda normativa de unificação e
simplificação das normas contábeis que tratavam do reconhecimento e mensuração das receitas.
Assim, o International Accounting Standards Boards (Iasb) optou por modificar a estrutura normativa
da contabilização das receitas, fato este que acarretou a publicação do IFRS 15. No Brasil, a Comissão
de Valores Mobiliários (CVM) e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) emitiram o CPC 47,
correspondente do IFRS 15 no Brasil (CPC, 2016a).
Diante disso, sugerimos que você, caro(a) aluno(a), reflita sobre os seguintes pontos: o que muda
com a nova estrutura normativa para a mensuração e reconhecimento das receitas? Essa norma
impacta diferentemente os vários tipos de empresa? O que difere, no caso de empresas de serviço? E
como é a melhor tratativa para operacionalizar essa nova estrutura normativa, ou seja, o que muda na
prática das organizações?
São muitos questionamentos, mas essa reflexão inicial lhe auxiliará no andamento desta aula.
Saiba mais
Sugerimos que leia os artigos: O impacto do CPC 47 nas empresas de capital aberto, de
autoria de Lorenna Freitas Vasconcelos e Editinete Andre da Rocha Garcia (2018), link para
acesso: <http://www.periodicos.ufc.br/eu/article/view/36567/83879>; e Reconhecimento da
receita nos contratos de construção civil com a adoção do CPC 47: percepção dos contadores sobre
a implementação da norma, de autoria de Rafaella Duarte Miranda et al. (2018), link para acesso:
<http://adcont.net/index.php/adcont/adcont2018/paper/view/2944/925>.
TEMA 1 – CARACTERIZAÇÕES DE RECEITAS, DESPESAS, GANHOS E
PERDAS
Caro(a) aluno(a), nesta aula iremos discutir aspectos conceituais e normativos da contabilidade.
Neste Tema 1, em específico, iremos discorrersobre os conceitos de receita, despesa, ganhos e
perdas.
1.1 RECEITA
Os conceitos e definições de receita são diversos na literatura contábil e, inclusive, entre os
diferentes órgãos normativos (Iudícibus, 2010). Em geral, a definição de receita está associada à
entrada de elementos no ativo, em contraprestação à venda de mercadorias, produtos e serviços. As
receitas são os fluxos de benefícios da empreitada da entidade. A seguir, iremos apresentar algumas
definições utilizadas por pesquisadores e pelo CPC:
Receita é a expressão monetária, validada pelo mercado, do agregado de bens e serviços da
entidade, em sentido amplo, em determinado período de tempo e que provoca um acréscimo
http://www.periodicos.ufc.br/eu/article/view/36567/83879
http://adcont.net/index.php/adcont/adcont2018/paper/view/2944/925
concomitante no ativo e no patrimônio líquido, considerado separadamente da diminuição do ativo
(ou do acréscimo do passivo) e do patrimônio líquido provocados pelo esforço em produzir tal
receita (Iudícibus, 2010).
Em seu nível mais fundamental, receita é um aumento de lucro. Tal como o lucro, trata-se de um
fluxo – a criação de bens ou serviços por uma empresa durante um período (Hendriksen; Breda,
1999).
Receitas são aumentos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da
entrada de recursos ou do aumento de ativos ou diminuição de passivos, que resultam em
aumentos do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com a contribuição dos
detentores dos instrumentos patrimoniais (CPC, 2011).
A primeira definição é feita pelo pesquisador brasileiro Iudícibus (2010). A sentença evidencia a
visão do autor, segundo a qual a receita é a expressão monetária do valor pago pelo mercado por um
determinado produto ou serviço oferecido pela empresa. Aluno(a), vamos pensar que a empresa Alfa
vende chinelos. O modelo de chinelo X custa R$ 22. Um determinado cliente resolve comprar 2 pares
de chinelo X, totalizando R$ 44. A expressão monetária unitária de R$ 22 é a receita unitária do
produto chinelo X. Transportando esse caso para a discussão teórica, teremos que a receita do
chinelo é a expressão do valor que o mercado aceita pagar por esse produto. Complementarmente,
essa receita causa aumento no ativo ou patrimônio líquido da empresa e no seu passivo derivado do
esforço de produzir tal receita (conceito de despesa, que será discutido na próxima seção).
Agora, ao analisarmos o conceito de Hendriksen e Breda (1999), dois autores estrangeiros,
verificaremos que a definição se refere ao aumento do lucro. Portanto, os autores se baseiam em um
montante líquido que, assim como no caso anterior, causa um aumento no ativo ou patrimônio
líquido. Assim, se formos considerar essa definição, a receita da empresa Alfa é o valor líquido da
venda do chinelo X, R$ 22, e do esforço de venda e produção desse produto. Supondo que o esforço
de venda e produção representa um montante de R$ 15, assim teremos a receita no valor de R$ 7. Ou
seja, a receita é o valor da venda (R$ 22) menos o esforço de venda e produção desse produto (R$
15).
Já a definição de receita do CPC (2016a) estabelece a receita como um aumento de benefício
econômico, ou seja, o aumento do ativo ou a diminuição do passivo, quando causarem impacto no
patrimônio sem serem derivados de operações com sócios (por exemplo, aporte de capital, emissão
de ações etc.). Portanto, em relação ao exemplo anterior, a receita equivale ao montante de R$ 22.
Logo, conforme ora discutido, a definição de receita efetuada pelos diferentes agentes é
caracterizada pela ausência, com base em sua natureza. Assim, o enfoque recai no momento do
reconhecimento e da mensuração. Por exemplo, quando ocorre a entrega de bens e serviços ao
cliente ou, ainda, quando existe um efeito da receita no patrimônio ou nos ativos líquidos.
1.2 DESPESA
O conceito de despesa é visto, de forma geral, como recursos sacrificados para a obtenção de
benefícios. Ou seja, os recursos gastos no decorrer da atividade da entidade, para obter receitas. A
seguir, vamos apresentar os conceitos de despesa com base no entendimento de pesquisadores e do
CPC (2011).
Despesa, em sentido estrito, representa a utilização ou o consumo de bens e serviços no processo
de produzir receita. [...] o que caracteriza a despesa é o fato de ela tratar de expirações de fatores
de serviços, direta ou indiretamente relacionados com a produção e a venda do produto (ou
serviço) da entidade (Iudícibus, 2010).
Tal como o termo receita, o termo despesa também é um conceito de fluxo. As despesas, porém,
representam as variações desfavoráveis dos recursos da empresa, ou seja, são as reduções de lucro
(Hendriksen; Breda, 1999).
Despesas são decréscimos nos benefícios econômicos durante o período contábil, sob a forma da
saída de recursos ou da redução de ativos ou assunção de passivos, que resultam em decréscimo
do patrimônio líquido, e que não estejam relacionados com distribuições aos detentores dos
instrumentos patrimoniais (CPC, 2011).
Aluno(a), é importante perceber que o conceito de despesa é caracterizado com base no próprio
conceito de receita. De maneira ampla, as duas definições dos pesquisadores apresentam o conceito
de despesa como sendo a utilização de recursos na produção e na venda de produtos ou serviços e
que permitirão a obtenção de benefícios econômicos (as receitas). O órgão normativo foca na
definição de despesa como sendo uma redução dos benefícios econômicos da entidade. Em ambos
os casos, podemos exemplificar da seguinte maneira: a empresa Alfa vende chinelo do modelo X por
R$ 22 e utiliza recursos para a produção e venda desse produto no montante de R$ 15. Assim, o valor
da despesa é de R$ 15, isso porque é o quanto a empresa utiliza de recursos para obter sua receita
de R$ 22, com o chinelo X.
1.3 GANHOS
Os ganhos são entradas de recursos geralmente desvinculados das atividades normais da
empresa. Vamos analisar as definições apresentadas pela literatura e pelo CPC (2011):
Muitos dizem que é necessário distinguir receitas de ganhos. [...] Os autores deste livro preferem
distinguir entre as atividades produtoras de riqueza da empresa e as transferências inesperadas de
riqueza decorrentes de doações ou eventos imprevistos. Em outras palavras, todas as atividades,
sejam importantes ou não, relacionadas às atividades produtoras de riqueza da empresa, seriam
incluídas na categoria geral de receita (Hendriksen; Breda, 1999).
4.29. A definição de receita abrange tanto receitas propriamente ditas quanto ganhos. A
receita surge no curso das atividades usuais da entidade e é designada por uma variedade de
nomes, tais como vendas, honorários, juros, dividendos, royalties, aluguéis.
4.30. Ganhos representam outros itens que se enquadram na definição de receita e podem ou
não surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando aumentos nos benefícios
econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das receitas. Consequentemente, não são
considerados como elemento separado nesta Estrutura Conceitual (CPC, 2011, grifos nossos).
Aluno(a), como vimos nas definições anteriores, os ganhos são entradas de recursos geralmente
desvinculados das atividades normais da empresa e são, portanto, definidos com base na definição
de receita. Os ganhos são um tipo de receita, contudo, têm essa designação para diferenciar as
entradas de recursos derivadas das atividades-fim da empresa e as entradas de recursos de itens
extraordinários. Ambos os itens, receitas e ganhos, são caracterizados pelo aumento que
proporcionam nos benefícios econômicos da entidade, diferindo, portanto, a origem desses recursos.
O Quadro 1 exemplifica essa discussão.
Quadro 1 – Diferenciação entre receitas e ganhos
Descrição Fonte ou Origem Prazos de Ocorrência
RECEITAS Resultam das atividades normais da empresa Rotineiras e repetitivas
GANHOS
Geralmente desvinculados das atividades
normais da empresa
Não fazem parte da rotina operacionale, portanto, não são
repetitivos (eventuais)
Fonte: Adaptado de Coelho; Lins, 2010.
1.4 PERDAS
As perdas são definidas com base no conceito de despesa, sendo compreendidas como o
resultado líquido desfavorável que não surge das operações normais da empresa. A seguir,
apresentamos a definição utilizada pelo CPC (2011):
4.33. A definição de despesas abrange tanto as perdas quanto as despesas propriamente ditas que
surgem no curso das atividades usuais da entidade. As despesas que surgem no curso das
atividades usuais da entidade incluem, por exemplo, o custo das vendas, salários e depreciação.
Geralmente, tomam a forma de desembolso ou redução de ativos como caixa e equivalentes de
caixa, estoques e ativo imobilizado.
4.34. Perdas representam outros itens que se enquadram na definição de despesas e podem ou não
surgir no curso das atividades usuais da entidade, representando decréscimos nos benefícios
econômicos e, como tais, não diferem, em natureza, das demais despesas. Consequentemente, não
são consideradas como elemento separado nesta Estrutura Conceitual (CPC, 2011).
Assim como no caso dos ganhos, em relação às receitas, as perdas são definidas pelo CPC (2011)
como uma categoria de despesas. Portanto, as perdas são um tipo de despesa que surge de maneira
extraordinária, no curso das atividades da empresa ou não. Por exemplo, aquelas ocasionadas por um
incêndio na fábrica, que ocorra durante uma atividade-fim da empresa; ou por um alagamento, que
decorra de fatores climáticos.
TEMA 2 – ASPECTOS CONCEITUAIS DO CPC 47: RECEITA DE
CONTRATO COM CLIENTE (MENSURAÇÃO)
Em junho de 2016, foi aprovado o CPC 47, no Brasil, que tem correlação com a IFRS 15, norma
do Iasb sobre reconhecimento de receitas. A norma entrou em vigência no ano de 2018. O novo
modelo normativo de receitas é uma mudança de paradigma e, portanto, constitui um importante
objeto a ser estudado pela teoria avançada da contabilidade. De acordo com a nova norma, as
entidades devem reconhecer a receita pela transferência de bens ou serviços para o cliente e o
montante deve refletir a contraprestação que elas esperam receber em troca desses bens ou serviços
(CPC, 2016a).
Para a aplicação do CPC 47 (CPC, 2016a), podemos vislumbrar esse processo em cinco etapas:
1. Identificar o contrato;
2. Identificar a obrigação de desempenho;
3. Determinar o preço da transação;
4. Alocar o preço da transação
5. atender a obrigação de desempenho.
O modelo de cinco etapas é ilustrado na Figura 1 e tem como objetivo auxiliar a entidade a
determinar quando reconhecer a receita e por qual valor.
Figura 1 – O modelo de cinco etapas
Neste Tema 2, trataremos da etapa de mensuração da receita com cliente. Esse processo abrange
as fases 1, 2, 3 e 4.
Fase 1: identificar o contrato. Para identificar a existência de um contrato, é necessário:
1. que exista uma essência comercial;
2. que o acordo esteja aprovado e as partes, comprometidas com suas obrigações;
3. existência da contraprestação (ao menos é provável que assim o seja);
4. que os direitos aos produtos ou serviços e a condição de pagamento possam ser
identificados.
Assim, de maneira geral, um contrato é um acordo entre duas ou mais partes que cria direitos e
obrigações exigíveis. E a exigibilidade dos direitos e obrigações é matéria legal. Eles podem ser
escritos, verbais ou sugeridos pelas práticas usuais de negócios da entidade. A Figura 2 sintetiza as
características necessárias para a identificação de um contrato que irá gerar receita.
Figura 2 – Características para identificação de um contrato
Fase 2: identificar as obrigações de desempenho. Em primeiro lugar, aluno(a), vamos definir o
que seja uma obrigação de desempenho. Segundo o CPC 47, o termo obrigação de desempenho
diz respeito à obrigação da entidade vendedora de desempenhar a sua obrigação de repassar o
controle do bem ou serviço à entidade compradora. Por exemplo, existindo um contrato, a
empresa Alfa tem a obrigação de entregar x pares do chinelo X para a empresa Beta. Portanto,
uma obrigação de desempenho constitui uma promessa de entregar um bem ou prestar um
serviço. Por fim, para determinarmos se existe uma obrigação de desempenho, os seguintes
critérios devem ser atendidos:
1. o cliente pode se beneficiar do bem ou serviço por conta própria ou juntamente com
outros recursos que estão prontamente disponíveis para ele;
2. a promessa da entidade de transferir o bem ou o serviço para o cliente é separadamente
identificável de outras promessas, no contrato (KPMG, 2017).
Fase 3: determinar o preço das transações. O preço da transação é o valor da contraprestação à
qual a entidade espera ter direito em troca da transferência dos bens ou serviços prometidos
aos clientes (CPC, 2016a). Assim, para uma empresa determinar qual o valor a que ela tem
direito, decorrente de um contrato, é preciso considerar os seguintes fatores:
1. contraprestação a pagar a um cliente: esse item pode ser uma redução de um preço de
uma transação, um pagamento de um bem ou serviço ou a combinação de ambos. Por
exemplo: se a empresa Alfa precisa pagar um montante x para o cliente, decorrente de
negociações anteriores, pode realizar um acordo para pagar em entrega de bem ou
prestação de serviço; ou a contraprestação pode ser realizada em valores monetários; ou
em uma combinação de ambas as possibilidade (KPMG, 2017);
2. contraprestação não monetária: esse item é mensurado por um valor justo, se for passível
de ser estimado. Se não for possível, o preço de venda é decorrente do bem ou serviço
que foi prometido em troca da contraprestação não monetária. Por exemplo: a empresa X
vende um terreno para o senhor João. João decide realizar o pagamento com a
contraprestação de três apartamentos. Ambos entram em acordo. Como determinar o
preço da transação? A primeira tentativa é pelo valor justo do bem. Caso não seja
possível, uma opção é identificar o valor de mercado do terreno e dos apartamentos para
identificar o preço da transação (KPMG, 2017);
3. valor da contraprestação variável: primeiro questionamento é em relação ao que é uma
contraprestação variável. Consideramos os seguintes itens: descontos, créditos,
concessões de preço, devoluções ou bônus/penalidades por desempenho. Quando existe
esse valor, a empresa deve atuar da seguinte maneira: apenas o incluirá na determinação
do preço se for altamente provável que uma reversão do valor da receita para baixo não
acontecerá. Por exemplo: o valor da contraprestação a pagar foi identificado no montante
de R$ 1.200 e o valor da contraprestação variável foi identificado no valor de R$ 200
positivo, decorrente de uma penalidade. Assim, o valor total do preço da transação é de
R$ 1.400. A empresa deverá considerar os R$ 200 apenas se for altamente provável que
esse valor não diminuirá, ou seja, que o valor da receita não será menor que R$ 1.400.
Portanto, a empresa deverá avaliar:
a. a probabilidade de um estorno da receita ocorrer, por um evento incerto;
b. a magnitude do estorno, se esse evento incerto ocorrer (KPMG, 2017);
4. componente de financiamento significativo: se o contrato possui um componente de
financiamento significativo, ou seja, contraprestações em um longo período de tempo,
que causem distorções do valor presente do contrato, deve-se ajustar o valor das
contraprestações. Por exemplo, a empresa X vende uma máquina no valor de R$ 300 mil,
à vista. Contudo, em um contrato com o cliente Alfa Peças, decide vender essa máquina
em contraprestações de cinco anos. O valor presente dessa máquina poderá sofrer
impacto do tempo no valor presente do dinheiro. Se isso ocorrer, a empresa X precisará
ajustar os valores das contraprestações de cinco anos para que elas reflitam, no valor
presente, os R$ 300 mil. Mas, como identificar se há um componente de financiamento
significativo? A norma dá o seguinte direcionamento: esse cálculo pode ser complexo;
contudo, de forma simplificada, se a empresa espera receber essesvalores em até 12
meses após a transferência do bem ou prestação do serviço, considera-se que não há
componente de financiamento significativo (KPMG, 2017).
Assim, para determinar o preço das transações, a empresa deverá considerar os quatro aspectos
apontados: se a contraprestação será monetária, não monetária ou uma combinação de ambas; se
existe uma contraprestação variável; e se existe um componente de financiamento significativo.
Fase 4: alocar o preço das transações. A fase 4 permite à empresa mensurar, de fato, o valor da
receita. Nessa etapa, ela alocará o preço das transações a cada obrigação de desempenho
individual. Mas, e se o valor não for diretamente observável, seguindo os passos anteriores? A
empresa deve estimá-lo da seguinte maneira:
a. avaliação de mercado ajustada;
b. custo esperado, mais uma margem (KPMG, 2017).
TEMA 3 – ASPECTOS CONCEITUAIS DO CPC 47: RECEITA DE
CONTRATO COM CLIENTE (RECONHECIMENTO)
Aluno(a), o modelo de cinco etapas irá direcionar os aspectos essenciais para a mensuração da
receita (etapas de 1 a 4) e o reconhecimento da receita (etapa 5). Após a fase de mensuração da
receita, a empresa deve proceder ao reconhecimento desse valor na contabilidade. Mas, em qual
momento deve-se reconhecer a receita?
Fase 5: reconhecer a receita. A receita deve ser reconhecida no momento em que (à medida
que) o controle de um bem ou serviço é transferido para o cliente. Importante salientar que o
controle pode ser transferido em um momento do tempo ou ao longo do tempo e o
reconhecimento deve respeitar essa característica. Portanto, o aspecto primordial para atender à
quinta etapa do modelo de cinco etapas é o reconhecimento do momento da transferência de
controle, em especial se ele ocorre ao longo do tempo ou não.
Como identificamos se a transferência do controle ocorre ao longo do tempo?
o cliente recebe e consome simultaneamente os benefícios gerados; por exemplo, num serviço
de consultoria;
o cliente tem seu ativo criado ou melhorado à medida que o produto ou serviço lhe é
transferido; por exemplo, na construção de um anexo na fábrica do cliente X, à medida que
essa construção acontece, o ativo do cliente é melhorado/criado;
a empresa transfere ao cliente um serviço ou produto específico, ou seja, que só esse cliente
pode utilizar. Assim, a entidade deve utilizar um método que melhor reflita a transferência de
controle para o cliente. Essa transferência será o direcionador do reconhecimento da receita.
Por fim, quando a empresa deve aplicar o CPC 47 (CPC, 2016a)? A Figura 3 ilustra o caminho que
deve ser percorrido para obter essa resposta, visto que outros CPCs dão tratativas para
reconhecimento de receitas, de maneira específica.
Figura 3 – Decisões do modelo de cinco etapas
Fonte: Adaptado de KPMG, 2017.
Assim, se o contrato seguir o workflow de decisão para aplicação dessa norma (CPC, 2016a),
então a empresa deve seguir o modelo de cinco etapas apresentados anteriormente. Contudo, quais
são os casos específicos em que o CPC 47 não se aplica?
arrendamento mercantil, tratado pelo CPC 06 (R2) (CPC, 2017);
seguros, tratado pelo CPC 11 (CPC, 2008);
instrumentos financeiros, por exemplo derivativos, tratado pelos CPCs 38, 39 e 48 (CPC, 2009a,
2009b, 2016b).
Importante salientar que os itens anteriores se constituem como exemplos. A empresa deve
verificar se sua operação está sendo regida por outra norma contábil. Entretanto, de maneira geral, o
CPC 47 é o pronunciamento contábil utilizado para regular a mensuração e reconhecimento de
receitas a partir do ano de 2018 (CPC, 2016a).
TEMA 4 – ASPECTOS CONCEITUAIS DO CPC 47: RECEITA DE
CONTRATO COM CLIENTE (CUSTOS DO CONTRATO E DIVULGAÇÃO)
Aluno(a), nos Temas 2 e 3 desta aula, aprendemos os aspectos fundamentais do CPC 47, no que
tange à mensuração e reconhecimento das receitas, a partir de 2018 (CPC, 2016a). O Tema 4 deste
material irá discorrer sobre aspectos adicionais: custos do contrato e divulgação.
O que são custos do contrato? Para o CPC 47, é necessário identificar e contabilizar os custos
incrementais para obtenção de um contrato, ou seja, de uma receita, e os custos relacionados ao
cumprimento do contrato, ou seja, de transferência do controle do bem ou serviço (obrigação de
desempenho) (CPC, 2016a).
Custos para obtenção de um contrato: esses custos estão relacionados ao esforço de venda ou
prestação de serviço da empresa, como a comissão de venda. Esse custo só pode ser
contabilizado ao longo do tempo de execução de um contrato, se a empresa espera recuperá-
lo. Para fins de praticidade, o CPC 47 permite a contabilização, em um único período, se o
período de amortização do ativo (bem ou serviço) for inferior a 12 meses, como ocorre no caso
de componente de financiamento significativo (KPMG, 2017). Para exemplificar a contabilização
do custo para obtenção de um contrato, imagine a seguinte situação: um contrato de prestação
de consultoria por um período de 36 meses. O custo para obtenção desse contrato foi estimado
pela empresa em R$ 2.600. A contabilização desse custo deve ser amortizada em um período
de 36 meses e não em um único período contábil.
Custos para cumprir um contrato: esses custos são identificados e reconhecidos atendendo aos
seguintes critérios:
a. se se relacionam diretamente a um contrato existente;
b. se geram ou aumentam os recursos da entidade para efetivar a obrigação de
desempenho do contrato;
c. se se estima que possam ser recuperados.
Exemplos de custos que podem e não podem ser capitalizados são apresentados no Quadro 2.
Quadro 2 – Custos que podem (ou não) ser capitalizados
Custos diretos que são elegíveis para capitalização se
outros critérios forem atendidos
Custos a serem lançados como despesas, quando
incorridos
– Mão de obra direta: por exemplo, salários
– Materiais diretos: por exemplo, suprimentos
– Alocação de custos que se referem diretamente ao
contrato: por exemplo, despesas de depreciação e
amortização
– Custos que são expressamente cobráveis do cliente, de
acordo com o contrato
– Outros custos que incorram somente porque a entidade
celebrou o contrato: por exemplo, os custos com
subcontratantes
– Custos gerais e administrativos: a menos que
explicitamente cobráveis, nos termos do contrato
– Custos que se referem a obrigações de desempenho
satisfeitas
– Custos de desperdício de materiais, mão de obra ou
outros
– Custos que não estão diretamente relacionados às
obrigações de desempenho remanescentes, ainda não
satisfeitas
Fonte: Adaptado de KPMG, 2017.
De maneira geral, os custos que podem ser capitalizados são aqueles diretamente relacionados a
uma obrigação de desempenho e que não existiriam se o contrato não fosse celebrado entre as
partes.
Sobre a amortização e capitalização dos custos, o método de amortização dos custos
capitalizados deve seguir uma base sistemática, de acordo com o padrão de transferência do bem ou
serviço ao qual o ativo se refere (KPMG, 2017). A capitalização dos custos relacionados à obrigação
de desempenho é uma mudança de paradigma para as empresas, que estavam habituadas a
lançarem esses montantes como despesas do período. Portanto, constitui-se como um importante
aspecto a ser analisado pela teoria da contabilidade.
Aluno(a), agora vamos falar da divulgação desses itens, de acordo com o CPC 47 (CPC, 2016a)?
Para cumprir a nova norma, a empresa deverá divulgar um número maior de informações sobre
as receitas. A principal mudança refere-se à receita desagregada por obrigações de desempenho, que
visa mostrar como os fatores econômicos podem afetar a natureza do contrato, o valor, o momento
de reconhecimento e as incertezas do fluxo de caixa relativos àquela obrigação de desempenho.
Assim, as seguintes categorias devem ser divulgadas pelas empresas:
Contratos com clientes: desagregação das receitas por obrigações de desempenho; alterações
nos ativos, passivos e custos contratuais e preço das transações alocadas à obrigação de
desempenho(etapa 4) (KPMG, 2017).
Julgamentos significativos ou mudanças nos julgamentos: método de determinar o momento e
o valor das obrigações de desempenho (KPMG, 2017).
Ativos reconhecidos pelos custos de obtenção ou cumprimento de um contrato com um
cliente.
TEMA 5 – CONTABILIZAÇÃO DE RECEITAS E DESPESAS COM
VARIAÇÕES CAMBIAIS (CPC 02) E GANHOS E PERDAS COM ITENS
MONETÁRIOS
Por fim, vamos tratar, no último tema, sobre a contabilização de receitas e despesas com
variações cambiais e os ganhos e perdas com itens monetários. Bora lá?
Antes de abordamos a contabilização de receitas e despesas com variações cambiais, precisamos
definir o que é variação cambial. A variação cambial é definida como a diferença resultante da
conversão de um número específico de unidades em uma moeda para outra moeda, a diferentes
taxas cambiais, conforme o CPC 02 (R2) (CPC, 2010). Vamos verificar o exemplo a seguir.
Uma empresa brasileira adquire um ativo em moeda estrangeira (US), em X1. O valor em dólar é
US$ 500 mil e a taxa de câmbio é de R$ 3,50 por US$ 1. Portanto, o valor é registrado em reais, no
montante de R$ 1,75 milhão. Ao pagar essa dívida em X2, a taxa cambial aumentou para R$ 4 por
US$ 1. Assim, o valor da dívida em moeda local foi para R$ 2 milhões, valor em dólar (US$ 500 mil)
multiplicado pela taxa de câmbio em X2 (R$ 4). Essa operação gera uma variação cambial, que, nesse
caso, foi de R$ 250 mil. E, como houve o aumento da dívida em moeda estrangeira, isso corresponde
a uma despesa de variação cambial.
Agora, vamos considerar que em X2 houvesse uma valorização do real e a taxa de câmbio fosse
de R$ 3,25 por US$ 1. Qual seria o valor da variação cambial? Seria uma despesa ou uma receita?
O cálculo é o mesmo: em X1 a dívida foi adquirida em dólares, no montante de US$ 500 mil, e a
taxa cambial era de R$ 3,50, registrando em X1 uma dívida de R$ 1,75 milhão. Em X2, a taxa de
câmbio foi para R$ 3,25. Assim, o valor da dívida a ser pago em X2, em moeda local, foi de R$ 1,625
milhão. A dívida diminui devido à variação cambial, portanto temos que registrar uma receita de
variação cambial.
Agora, vamos falar dos itens monetários? Bom, os itens monetários são definidos pelo CPC 02
(R2) como aqueles “representados por dinheiro ou por direitos a serem recebidos e obrigações a
serem liquidadas em dinheiro” (CPC, 2010). Os ganhos ou perdas com itens monetários, que podem
ser variações cambiais, devem ser registrados no período em que ocorrem.
Vamos considerar que a variação do item monetário em análise é um instrumento financeiro
adquirido em dólar. No período de X1, um investidor adquire um instrumento financeiro por US$ 10
mil e, nessa data, a taxa cambial era de R$ 2,25 por US$ 1. Portanto, o seu desembolso foi de R$ 22,5
mil. Logo, na data de balanço X1, o ativo será registrado no valor de R$ 22,5 mil. Em X2, o
instrumento tem seu valor em dólar mantido, contudo a taxa cambial cai para R$ 1,90. Nesse
momento, o valor do ativo em reais é de R$ 19 mil. Assim, a empresa deve registrar em X2 uma perda
com itens monetários no valor de R$ 3,5 mil, que se refere à diferença entre o valor em reais em X1 e
o valor em reais em X2. Aluno(a), é importante perceber que a variação nesse item monetário foi
decorrente da variação do preço da moeda. No caso de o valor da moeda ter se desvalorizado,
teríamos uma alta do dólar e, consequentemente, um reconhecimento de ganho com item
monetário.
TROCANDO IDEIAS
Aluno(a), estamos caminhando para o final da nossa última aula! Vamos agora trocar ideias com
os colegas sobre os principais aspectos tratados nesta aula?
Para consolidar os conhecimentos adquiridos, vamos realizar uma atividade de fórum. Você
deverá refletir sobre os conceitos aprendidos nesta aula sobre as alterações advindas do CPC 47 para
a mensuração e reconhecimento de receitas. Para tanto, apresente um setor que será fortemente
impactado devido às mudanças ocorridas na mensuração e reconhecimento de receitas do CPC 47.
Argumente com base nas alterações do CPC 47 (CPC, 2016a).
NA PRÁTICA
Caro(a) aluno(a), chegamos à última tarefa da nossa última aula. Essa atividade tem cunho
prático, para que você possa desenvolver suas habilidades. Reúna os conhecimentos adquiridos nesta
aula para aplicarmos o CPC 47 (CPC, 2016a) à situação que se segue.
Uma empresa do setor de construção civil é contratada para a construção de um edifício no
terreno da empresa Alfa. O contrato foi firmado no final de X1 e a prestação do serviço deve ocorrer
em 7 anos, conforme Tabela 1. A empresa receberá a contraprestação do serviço total em 4 parcelas
iguais, a cada 20 meses, no montante total de R$ 1,96 milhão.
Tabela 1 – Relação entre período e percentual de execução do serviço contratado por Alfa
Período Percentual de execução do serviço
X2 12%
X3 7%
X4 31%
X5 8%
X6 14%
X7 6%
X8 22%
Como devemos contabilizar a receita dessa empresa de prestação de serviço (valor e momento)?
Resposta: segundo o CPC 47 (CPC, 2016a), a receita deve ser reconhecida com base na
transferência de controle do bem ou serviço. O terreno é da empresa Alfa, portanto a construção do
edifício constitui uma transferência de controle permanente, pois a cada momento da construção
temos uma transferência de controle de parte do ativo. Sendo assim, o valor da receita deve ser
calculado com base na transferência do ativo para a empresa Alfa, em cada momento do tempo.
Portanto, independentemente das quatro parcelas que configuram o pagamento monetário, a receita
deve ser reconhecida com base na execução do serviço de construção civil. O montante total do
serviço é de R$ 1,96 milhão.
Tabela 2 – Relação entre período, percentual de execução do serviço e valor da receita
Período Percentual de execução do serviço Valor da receita
X2 12% R$ 235.200,00
X3 7% R$ 137.200,00
X4 31% R$ 607.600,00
X5 8% R$ 156.800,00
X6 14% R$ 274.400,00
X7 6% R$ 117.600,00
X8 22% R$ 431.200,00
Portanto, o valor e o momento do reconhecimento estão apresentados na Tabela 2, sendo o
valor o resultado do percentual do período multiplicado pelo valor total da receita do serviço de
construção civil.
FINALIZANDO
Olá, aluno(a), agora sim estamos finalizando nossa disciplina. Esperamos que as discussões e
tópicos apresentados no decorrer dessas seis aulas tenham sido importantes para complementar e
atualizar o conhecimento desenvolvido neste curso. Para isso, esta disciplina apresentou as principais
discussões existentes no campo teórico e prático da contabilidade, atualmente.
O primeiro tema desta aula apresentou os principais conceitos e definições de receita, despesa,
ganhos e perdas, tanto considerando os pesquisadores brasileiros e estrangeiros quanto o mundo
prático dos normatizadores contábeis (Iasb e CPC).
Ao Tema 1, que serviu de base para a discussão posterior, se seguiu a apresentação do CPC 47,
que passou a figurar no cenário brasileiro em 2018 (CPC, 2016a). Assim, o Tema 2 discorreu sobre o
modelo de cinco etapas para aplicação da norma de receita CPC 47, no que tange às etapas de
mensuração da receita (valor) (CPC, 2016a). O Tema 3 abordou a quinta etapa do modelo, que se
refere ao reconhecimento da receita (momento). O Tema 4 tratou das novas especificidades da norma
de receitas (CPC, 2016a), em especial no que tange aos custos contratuais e ao modelo de
divulgação. Por fim, o Tema 5 dissertou sobre o CPC 02 (R2) (CPC, 2010), itens monetários (perdas e
ganhos) e variação cambial (receitas e despesas).
REFERÊNCIAS
COELHO, C. U. F.; LINS, L. S. Teoria da contabilidade: abordagem contextual, histórica e
gerencial. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
CPC – Comitê de Pronunciamentos Contábeis. CPC 00 (R1): estrutura conceitual para elaboração
e divulgação de relatório contábil-financeiro. Brasília, 15 dez. 2011. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/147_CPC00_R1.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2019.
_____. CPC 02 (R2): efeitos das mudanças nas taxas de câmbio e conversão de demonstraçõescontábeis. Brasília, 7 out. 2010. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/62_CPC_02_R2_rev%2013.pdf>. Acesso em: 3 jun.
2019.
_____. CPC 06 (R2): operações de arrendamento mercantil. Brasília, 21 dez. 2017. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/533_CPC_06_(R2).pdf>. Acesso em: 3 jun. 2019.
_____. CPC 11: contratos de seguro. Brasília, 17 dez. 2008. Disponível em:
<http://www.cpc.org.br/Arquivos/Documentos/215_CPC_11_rev%2013.pdf>. Acesso em: 3 jun. 2019.
_____. CPC 38: instrumentos financeiros – reconhecimento e mensuração. Brasília, 19 nov. 2009a.
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