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Gestão Escolar e Práticas de Gestão Prof.ª Marina Caprio Descrição Descrição e análise do conceito e da prática da gestão escolar de educação básica. Propósito Compreender que a escola é uma organização social complexa, com normas estabelecidas pelo poder público, que demanda uma organização dos processos, das pessoas e dos procedimentos para garantia de seu bom funcionamento. Preparação Antes de iniciar o estudo da gestão escolar, é importante relembrar os conceitos de educação básica e de gestão democrática previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/1996). Leia atentamente os art. 3º, 14 e 21 dessa lei, cuja versão atualizada está disponível no site do Governo Federal. Objetivos Módulo 1 A escola como um sistema Identificar a escola como um sistema parte da sociedade. Módulo 2 Gestão escolar na prática Analisar o conceito e a gestão escolar na prática. Módulo 3 Instrumentos de gestão escolar Analisar os principais instrumentos de gestão escolar participativa ou democrática. Toda escola tem uma estrutura interna que a organiza. No entanto, como se dá esse processo de organização e quais são as normas que o regem? Gestão escolar é o nome dado a essa organização. Nesse caso, iremos analisar e entender como a escola se relaciona com a sociedade e como podemos participar da gestão da escola para que seu funcionamento vise à qualidade e atenda aos objetivos de formação social e humana de crianças, jovens e adultos. Atenção! Este estudo carrega em si a simplicidade necessária de ser um manual rápido da ação. Desse modo, não se iluda: ler sobre o que fazer é diferente de executar. Então, pense sob essa perspectiva sempre que apresentarmos uma informação que você julgue ser simples. A intenção é levarmos você a experimentá-la. Vamos lá? Introdução 1 - A escola como um sistema Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car a escola como um sistema parte da sociedade. Sistema escolar: objetivos e relação A ideia de que a escola é uma parte fundamental da sociedade é um consenso entre quase todas as pessoas. A escola ensina os conteúdos fundamentais para a inserção social, transmite regras e normas para a convivência em grupo e imprime habilidades e competências para o mundo do trabalho. Compreendendo esses fatores, vamos analisar as interações a seguir: Convivência familiar Aquisição de habilidades e competências Relação em grupo Ao observarmos esses contextos, concluímos que, a escola é alimentada pela própria sociedade da qual faz parte e, por consequência, também alimenta a comunidade. Segundo Dias (1998), o sistema escolar tem como objetivo proporcionar educação, considerando-a como um aspecto específico, sinônimo de escolarização, com caráter intencional e sistemático, enfatizando o desenvolvimento intelectual assim como o físico, o emocional, o moral e o social. Por que intencional e sistemático? Intencional O sistema escolar tem como objetivo a transmissão dos conhecimentos e da cultura historicamente construídos, a formação humana etc. Sistemático Está organizado em níveis de ensino, em séries (ou anos) e em disciplinas distintas, isto é, sistematizado. Já a educação proporcionada pelos demais agentes sociais — aquela que, em geral, o indivíduo obtém fora da escola, como nas igrejas e nas organizações sociais e familiares — é quase sempre informal e assistemática. Cabe considerar que o sistema escolar, por ser imerso em um sistema maior — a sociedade —, deve ser compreendido como parte dessa sociedade e com o objetivo de formação integral do homem, que vive nela. Exemplo Quando falamos que a escola do bairro X é violenta, precisamos sempre considerar que a escola está imersa em um bairro com uma realidade social que produz violência. Como consequência, toda violência vivenciada naquela comunidade será também vivenciada dentro da escola. O que siginifica dizer “a escola x é violenta”? Quando falamos, portanto, que a escola X é violenta, estamos afirmando que a sociedade é violenta ou que aquela comunidade produz violências. É preciso deixar claro que a escola não é apenas uma reprodutora das condições sociais, nesse espaço também se produz muitas coisas e relações. No entanto, não podemos negar a influência do contexto social no contexto escolar. Da mesma forma, não é possível negar a influência do contexto escolar na sociedade. É sobre isso que iremos tratar a seguir. Caso do bairro Santa Misericórdia No bairro da Santa Misericórdia, zona periférica, uma grave luta começou. O tráfico de drogas local, historicamente dominado pelos moradores locais, viu a chegada de uma grande e nova facção. Na entrada da comunidade, no limite onde acaba a rua e começam as vielas, existe uma escola. Até esse momento, a escola sempre havia sido respeitada. Muitos dos traficantes haviam estudado ali e tinham boas lembranças, de forma que não deixavam as pessoas “vacilarem”. Com a chegada do novo comando, dois fenômenos afetaram a direção: os novos bandidos iam para porta da escola no momento de saída, assediavam e queriam conversar, enquanto estavam armados, com os estudantes. Nos conflitos, a escola antes era terreno neutro. Agora, quando o tiroteio começava, o número de projéteis que atingiam a escola se multiplicaram. Talvez sua resposta seja “não sei”! Agora não é o momento de buscar soluções, mas o exercício de tentar encontrar soluções já foi legal. Parabéns! Perceba, por meio dessa situação, que não existe decisão de gestão escolar efetiva sem o diálogo com sua realidade. Função social É importante compreender que todo sistema escolar é montado para cumprir uma função social. Desse modo, os seus objetivos devem, necessariamente, expressar os anseios, as aspirações, os valores, os conceitos e as tradições da sociedade. E onde encontramos os objetivos do sistema escolar brasileiro? Cada escola define seu objetivo? Existem objetivos comuns delineados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), estabelecida pela Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Além disso, cada escola tem autonomia para ampliar os objetivos propostos na legislação. Por se tratar de uma lei, todas as escolas são obrigadas a cumpri-la. O que cada escola pode fazer é ampliar e acrescentar. Observe os objetivos comuns a todas as escolas: Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores. (LEI Nº 9394/1996) O art. 22 indica que toda a escola de educação básica — seja na etapa da educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio — tem de construir e elaborar seus projetos pedagógicos com foco nas finalidades estabelecidas pela lei. O que a direção deve fazer, com base no que você aprendeu? Traduzindo para a vida escolar, deve-se sempre questionar: 1. De que forma a escola está desenvolvendo o educando? 2. Quais conhecimentos estão sendo ensinados para que ele se desenvolva plenamente? 3. Como a escola está formando o cidadão e a cidadã? 4. De que modo se trabalha as habilidades e competências exigidas na vida social? 5. O que o mundo do trabalho espera que a escola ensine para o cidadão? Vamos retomar a escola citada anteriormente, localizada no bairro Santa Misericórdia. Suponha que você seja o diretor, tenha um adjunto e um corpo administrativo de gestão composto por professores reformados. Vamos analisar a posição de alguns deles sobre a questão estudada! Professor João Diz que é preciso conversar com “os caras” e exigir respeito. Professora Ana Sugere a ameaça de fechar a escola por falta de segurança. Professor Pedro Percebendo-se como funcionário mais antigo, diz que basta esperar passar. Agora, você pode pensar: o que estou fazendo aqui? Entretendo os alunos? Permitindo que os pais possam trabalhar? Como a escola está formando o cidadão e a cidadã? Formando mão de obra qualificada? Transformandopessoas? Sabemos que a escola tem um ofício, uma função, um compromisso. Desse modo, quem “briga” pela educação precisa perceber que os alunos estão mais abandonados do que a escola. Por isso, é para eles que as ações precisam estar direcionadas, de forma que tenham opções de vida além daquela realidade. Ao respondermos as perguntas propostas anteriormente, traduzimos para a prática o que a legislação coloca como objetivo da escola. Da teoria à prática modelo de sistema Da teoria à prática — modelo de sistema escolar Como se dá a relação entre sistema escolar e sociedade? De acordo com Dias (1988), um sistema escolar que funcionasse em sua plenitude deveria apresentar as seguintes características: Do ponto de vista dos inputs (entrada) • Conteúdo cultural ou conhecimentos. Nesse caso, todos os conhecimentos existentes são produções humanas e culturais. Trata-se de insumos indispensáveis para o funcionamento das instituições escolares, pois toda escola ensina algo a alguém. • Objetivos são a função e a finalidade da escola, ou seja, todo o sistema escolar é montado para cumprir uma função social. Cabe à sociedade, por meio de seus órgãos legítimos de decisão, estabelecer os objetivos a serem buscados, que devem exprimir os anseios, as aspirações, os valores e as tradições da própria sociedade. • Entrada de recursos financeiros em quantidade suficiente para manter o sistema em plena atividade. • Recrutamento de pessoal em número e qualidade adequados para os diferentes postos. • Recursos materiais fundamentais para a escola — cadeiras, mesas, lousas, livros, livros didáticos, canetas, computador. Todos os materiais utilizados são fruto da produção do trabalho. • Admissão de alunos de maneira que não houvesse falta nem excesso de vagas, com atendimento de 100% da clientela, na idade certa. Nas palavras de Dias (1998) “os sistemas escolares existem porque existem alunos”. Do ponto de vista do processo educacional das escolas • Currículos e programas constantemente atualizados, em função das necessidades individuais e sociais. • Pessoal — em especial pessoal docente — com qualificação adequada às suas atribuições. • Índices satisfatórios de desempenho dos estudantes, respeitadas as diferenças individuais — ausência de evasão e reprovação. Do ponto de vista dos outputs (saída) • Formação de profissionais dos vários níveis em quantidades adequadas às necessidades sociais. • Desenvolvimento cultural da população em nível suficiente para que cada indivíduo possa se expressar — oralmente ou por escrito — com fluência e elegância, a fim de participar de nosso patrimônio artístico e científico. • Orientação individual satisfatória para empregar os próprios recursos na fruição de uma vida plena. • Resultados de pesquisas, isto é, produção de pesquisas e conhecimentos nas instituições. Em especial, nas universidades, há uma ênfase importante da atividade do docente como pesquisador. Vejamos como Dias (1988) representa tais conceitos: Fluxo: Modelo de sistema escolar No modelo apresentado por Dias (1998), dois itens importantes merecem destaque — o sistema escolar e a rede de escolas. Sistema escolar — estrutura de sustentação Trata-se da estrutura administrativa do sistema escolar, que é constituída dos elementos não materiais, das entidades mantenedoras e da administração. Vejamos: Elementos não materiais São as normas, tais como disposições legais (Constituição, leis e decretos), as disposições regulamentares (regimentos, portarias e instruções) e a disposição consuetudinária (ética, costumes, praxe e coerção social). Há também os conteúdos e as metodologias de ensino. Entidades mantenedoras As escolas encontradas no sistema escolar podem ser mantidas pelos seguintes tipos de entidades: Poder público — federal, estadual e municipal. Entidades privadas. Entidades comunitárias (filantrópicas ou confessionais). Administração do sistema A administração e a gestão do sistema serão abordadas no próximo tópico. Rede de escolas Em um sistema escolar, a rede de escolas constitui seu subsistema de produção, ou seja, é o subsistema que se dedica à atividade-fim do sistema. A rede de escola se distribui em uma estrutura didática de duas dimensões. Vejamos: Dimensão vertical São os chamados níveis de ensino. Nessa dimensão, as escolas vão se diversificando para acompanhar o crescimento biológico e psicológico dos alunos. Quando ainda muito pequeno, o aluno frequenta as chamadas escolas de educação infantil. Por volta dos 6 ou 7 anos de idade, começa sua escolaridade obrigatória e, conforme cresce, passa para escolas de maior complexidade quanto ao conteúdo da aprendizagem. Dimensão horizontal São consideradas as modalidades de ensino, ou seja, formas distintas para oferecer o processo de escolarização. Dessa forma, as escolas assumem diferentes modalidades para atender a aspectos psicológicos dos alunos — interesse, vocação, habilidade — e a necessidades sociais — formação de técnicos e profissionais para os diferentes setores da economia. Atualmente, são consideradas modalidades de ensino: educação de jovens e adultos, educação a distância, educação especial e educação profissional e tecnológica. A organização da educação brasileira Neste vídeo, a especialista aborda sobre a organização da educação e seus aspectos fundamentais. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam alguns assuntos do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 1 - Vem que eu te explico! Sistema educacional Módulo 1 - Vem que eu te explico! Estrutura administrativa Módulo 1 - Vem que eu te explico! Entidades mantenedoras Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 A escola X foi considerada a melhor a escola da região Sul de uma cidade importante do Brasil. A escola Y, que fica em uma zona central, foi considerada uma das piores escolas da mesma cidade. Ao investigar, notaram que 40% dos professores de X ministravam aulas em Y. Nesse caso, podemos presumir que A a escola X tem melhores alunos. B a escola Y tem uma gestão mais eficiente. C a escola X tem recursos materiais melhores do que a escola Y. D a escola Y é pública, e a X é particular. E a escola X tem um contexto diverso da Y. Parabéns! A alternativa B está correta. A escola dialoga e vivencia seus espaços. Sempre que nomearmos um agente, o olhar estará incompleto, por vezes, preconceituoso, como na determinação de que a pior escola é pública. Uma escola está no mundo e dialoga com o contexto do mundo. Questão 2 O sistema escolar é complexo. Essa afirmativa é forte e recorrente, mas seu sentido é, muitas vezes, mal compreendido. A escola é complexa porque: I – É composta por alunos diversos, de famílias diversas e, por essa dimensão, já aponta um dos graus de complexidade. II – A escola é uma representação da própria sociedade, suas dinâmicas e dificuldades. III – A escola está inserida em um sistema educacional complexo e dependente de sua função social. Está correto o que se afirma em A I, apenas. B II, apenas. C III, apenas. D I e II. E I e III. Parabéns! A alternativa D está correta. As afirmativas são complementares, demonstram o cunho diverso da complexidade de pessoas, funções e administração — tudo isso é fundamental. 2 - Gestão escolar na prática Ao �nal deste módulo, você será capaz de analisar o conceito e a gestão escolar na prática. Administração escolar Será que o diretor é um pagador de contas ou alguém que manda? Você pode estar pensando na autoridade máxima do filme: vou chamar o diretor ou a diretora! Uma escola pode disputar aluno a aluno, pode chamá-los de clientes, ter como seu maior problema a falta de alunos por sala ou o excesso de alunos por sala. Uma escola pode ter uma dificuldade terrível de encontrar professores ou ter dezenas de pessoas, em sua porta, querendo lecionar. Pode ter ampla participação dos pais ou um abandono triste e distante. Seja qual for a situação, todastêm de ser administradas, todas devem achar soluções para seus problemas e, para isso, dialogam com o mundo da gestão. Além disso, existe um ponto em comum, algo em que todas as escolas são aproximadas: seu princípio formador. Em termos administrativos, ainda há outro ponto importante — a regulação. Todas as escolas devem seguir os parâmetros da LDB, as legislações educacionais decorrentes e as regras dos estados e dos municípios nos quais elas se encontram. Vamos tentar entender como isso funciona? Formas de gestão da educação Vamos pensar um pouco sobre gestão. Formas de gestão da educação A administração do sistema escolar é fundamental para o funcionamento da rede escolar, como vimos anteriormente. Mas como podemos entender esse conceito? De acordo com Dias (1998), há algumas décadas, falávamos e estudávamos sobre administração escolar. Gradativamente, essa terminologia foi-se alterando para gestão escolar. A administração (escolar) sempre esteve associada às atividades de planejamento, organização, direção, coordenação e controle. A gestão envolve, necessariamente, essas atividades. No entanto, em suas formas mais radicais, parece ir além, incorporando também certa dose de filosofia e política, que vêm antes e acima da administração. Em outras palavras, a gestão é um conceito mais abrangente e envolve outras questões. Dias (1998) ainda estabelece que os estudos de administração têm sua atenção voltada para a atuação do administrador ou líder, considerando-o principal responsável pelo êxito das ações do grupo sob seu comando. Em certas formas de gestão, a figura do administrador tende a ser enfraquecida ou até mesmo eliminada, surgindo, com maior destaque, os colegiados, as decisões grupais e o consenso. A gestão é, dessa forma, tomada aqui como expressão mais ampla do que administração, que é uma de suas formas. Consiste na condução dos destinos de um empreendimento, levando-o a alcançar seus objetivos. As formas mais conhecidas de gestão — levadas ao mundo da escola — são a administração, a cogestão e a autogestão. Administração O ponto de partida dos estudos de administração foi a preocupação com a eficiência: como obter o máximo de resultados com o menor dispêndio de energia. Com o tempo, foi-se impondo o conceito de eficácia: como alcançar os objetivos propostos. Faça uma pausa e reflita: você conhece um bom exemplo do que acabamos de tratar? Vejamos como isso funciona na prática! A administração escolar é percebida de maneira muito viva nas escolas particulares, em especial nas que compõem redes de ensino. Por terem corpo de gestores fortemente vinculado à administração do grupo, passam a desenhar processos eficientes para que as escolas sejam atrativas, tenham boa formação e bom quadro docente, além de velocidade na resolução de demandas. Tais escolas são criticadas por serem excessivamente eficientes e pouco democráticas. Administração escolar Nesse contexto, as escolas particulares são notórias e geralmente conseguem: Fidelização de professores Fidelizar professores — principalmente pela ação na rede. Contas equilibradas Apresentar as contas equilibradas, devido ao foco nas metas e à gestão dos números. Eficiente distribuição de materiais Ter eficiência na distribuição de materiais e plataformas digitais aos alunos. Muitos alunos em sala de aula Alocam muitos alunos por sala, em razão de sua proposta de ensino. Apresentação de sistemas Apresentam sistemas que dependem muito de novas injeções financeiras para as atividades. Formação modelar Possuem dificuldades em lidar com a heterogeneidade dos alunos, tentando e fomentando uma formação modelar. Compreendendo esses aspectos sobre adiminstração, agora abordaremos o processo de cogestão. Cogestão A cogestão se baseia no princípio da participação. É ainda uma forma de administração em que permanece a figura do administrador, mas com autoridade mais limitada. O administrador já não é o único responsável pelas decisões, uma vez que elas somente são consideradas legítimas quando tomadas com a colaboração dos demais elementos sob seu comando. Um local em que a cogestão aparece intensamente, por exemplo, é na educação pública. Via de regra, os conjuntos administrativos são compostos por professores, oriundos de processos eleitorais. As secretarias mantêm uma hierarquia, e as formas de gestão são mantidas pelos órgãos internos. Ao mesmo tempo, a adaptação, as tomadas de decisões, as colaborações são mais efetivas, marcadas por eleições e participações comunitárias. Exemplo Na escola abordada neste estudo, por exemplo, percebe-se que a gestão tem autonomia para lidar com a situação, mas o processo é circunscrito e mantido administrativamente por um grupo. Autogestão A ideia de autogestão é fascinante. Consiste na anarquia, em seu sentido legítimo de ausência de ordem. Embora persista a necessidade de coordenação dos esforços, desaparece a hierarquização. Em um regime de autogestão, as pessoas ou os grupos atuam com autonomia e procuram contribuir para o bom andamento dos trabalhos. Agem, não por obediência a alguma autoridade, que não reconhecem, mas por convicção. O problema da autogestão é que não pode ser um ponto de partida, pois exige uma lenta e cuidadosa preparação. Até o presente, não se conhece uma experiência bem-sucedida e duradoura de autogestão. Será que não existe nada que se aproxime de modelos de autogestão que possamos destacar? Sim, existem as escolas indígenas. Como projeto, muitas vezes se fomentou a implementação de modelos em que o senso de valor e a conquista daquele espaço passam por uma percepção diferenciada dessa escola. Muitas saíram dos núcleos dos próprios grupos e de seus anseios, rompendo o modelo de escolas implementadas de dentro para fora a partir de órgãos governamentais. Essas experiências, em sua maioria, têm menos que uma dezena de anos, mas já sinalizam possibilidades. Você percebeu as diferenças entre os conceitos de cogestão e autogestão? Entendido isso, vamos avançar e compreender para quem se digirem esses processos. Gerir para quem? Como já foi enfatizado, a escola é a instituição social responsável por promover a escolarização, isto é, a educação escolar, relacionada aos conceitos científicos, políticos, éticos e sociais, conforme descrito na Constituição Federal, no art. 205. Assim sendo, a escola é organizada para alcançar determinados objetivos (sistematização), e são esses objetivos que dão sentido e que orientam a organização e a gestão da escola. Quem se propõe a trabalhar em uma escola, segundo Dias (1998), precisa se informar sobre seus objetivos e dar sua própria contribuição para o aperfeiçoamento da instituição. Vamos tentar entender como isso funciona? Atenção Precisamos ter o cuidado em notar a confusão gerada pela palavra instituição. Muitas vezes, o termo se refere a lugar, fundação, organização ou entidade. Ainda que esses sinônimos sejam possíveis em alguns casos, quando lidamos com educação, eles não são apropriados. Em uma organização (como uma empresa), o foco é o trabalho, a autoridade, a hierarquia, o produto a ser controlado e gerido. Uma instituição educacional é um ambiente em que todos os objetivos se voltam ao seu processo comum, ao desejo formativo, ao processo da formulação e ao valor a ser buscado — nesse caso, a educação e o valor da educação. Elas não são somente resultado da sociedade, mas regem o funcionamento social e são fundamentais a uma sociedade. Ao se propor um modelo de gestão, portanto, deve-se ter em mente que não se trata de um resultado, de uma empresa, mas de parte de um projeto nacional no qual cada ente envolvido deve ser compreendido e considerado de forma singular. A estrutura da escola, para Dias (1998), é constituída de elementos sujeitos à influência da gestão e intencionalmente dispostos de forma a conduzir a consecução dos objetivos da escola. Nessa estrutura, podemos observar quatro áreas, vejamos a seguir: Corpo discente Dias (1998) afirma ocorpo discente (alunos) define a natureza da instituição: escola de educação infantil, de ensino fundamental, profissionalizante, e assim por diante. De acordo com o progresso alcançado nos estudos, o corpo discente costuma ser classificado. Exemplo Todos chamamos instituições de educação infantil de creche — por nossa percepção, lá estão os alunos dessa faixa etária. Desse modo, é em função do corpo discente que são definidos os objetivos da escola. É preciso compreender que não existe escola sem alunos. Então, vamos lá, gestores! Seus alunos serão nosso objeto de debate agora. A seguir, vejamos o que você precisa oferecer a eles. Programação A programação de uma escola consiste no cronograma, na previsão das atividades a serem realizadas e nas inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser alcançados. Portanto, a programação é estabelecida em função dos objetivos. As suas diretrizes estão contidas na legislação — geral e escolar — e no regimento da escola (DIAS, 1998). Fazem parte da programação o mecanismo administrativo, o plano didático e os planos de trabalho. Vejamos cada um deles a seguir. Mecanismo administrativo O mecanismo administrativo é o conjunto de órgãos e posições existentes na escola, os quais estão dispostos de acordo com certa hierarquia, são interdependentes, comunicam-se entre si conforme normas preestabelecidas e desempenham funções definidas. A representação gráfica do mecanismo administrativo recebe o nome de organograma. Plano didático O plano didático é composto de currículos e programas, e estabelece as atividades-fim da escola. Os currículos e programas são, em geral, organizados de acordo com uma seriação, que acompanha o desenvolvimento dos alunos em seus vários aspectos — físico, intelectual, emocional etc. É importante notar que os pilares da pedagogia — didática, currículo e planejamento — estão presentes quando lidamos com gestão. Plano de trabalho Os planos de trabalho são, de certa forma, o mecanismo administrativo e o plano didático postos em ação. Em outras palavras, planos de trabalho constituem o resultado do planejamento do trabalho escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo e as metas estabelecidas no plano didático. Os planos de trabalho podem ser de longo, médio ou curto prazos, podem referir-se ao trabalho global da escola ou de certos setores, ou ao trabalho de um só professor (DIAS, 1998). A seguir, vamos praticar um pouco do que aprendemos! Você se lembra da escola mencionada anteriormente, que está em meio a uma guerra do tráfico? Então, vamos fazer o seu planejamento! Você, como diretor, já comunicou a situação à sua coordenadoria, que lamentou e disse esperar que você não desista. Com isso, você mandou uma mensagem para sua equipe, comunicou os eventos e pediu para iniciar o ano, querendo saber com quem contar e as funções de cada um. As ações passadas foram: Data Evento Data Evento 19 de fevereiro Início e reapresentação dos professores 25 de fevereiro Retorno dos alunos Monte a programação para o primeiro bimestre de acordo com o detalhamento a seguir.Como se trata da educação infantil, temos: 10 pedagogos 12 auxiliares 20 crianças (limite de 7 por turma) faixa etária de 3–4 anos 21 crianças (limite de 12 por turma) faixa etária de 5–6 anos É necessário contratar docentes e montar a planilha? Considere que cada professor trabalha por 40 horas semanais — 30 horas em sala e 10 horas de preparação. O organograma já definiu que há um diretor, um adjunto, quatro secretários escolares e quatro apoios administrativos. Lembre-se de que é preciso ter equipe na recepção, na cozinha, na contabilidade etc. Agora, vamos para o plano de didático. É preciso consultar a BNCC para educação infantil e fazer as devidas adaptações para a realidade da escola. Calma! Você não precisa fazer isso agora, mas é preciso saber que isso faz parte da gestão. Um desafio: o que você faria se fosse o gestor dessa escola? Você pode pensar: “Mas isso não é para os alunos? Por que tenho que ver isso tudo?”. Você deve levar em consideração que, para pensar nos alunos, é preciso pensar na sala. Pessoal escolar O pessoal escolar pode ser classificado da seguinte forma: Administração Administração Diretor, coordenador, vice-diretor e demais auxiliares da direção. Corpo docente Professores, recreadores e auxiliares. Pessoal técnico Orientador educacional, orientador pedagógico, bibliotecário e outros. Pessoal de serviços auxiliares Secretário, escriturários, inspetores de alunos, serventes, merendeiro e outros. Vamos ver como isso funciona na prática? Você, como diretor, teve uma ideia genial: decidiu transformar sua pequena escola de bairro em uma escola construtivista. Você viu que essa é uma tendência de mercado e que, dessa forma, pode multiplicar a clientela. A quem interessa essa informação? Somente à gestão, já que se trata de um slogan? Aos professores, pois só diz respeito ao método de preparo das aulas? Aos alunos antigos, para não estranharem? Diz respeito a todo o corpo administrativo e docente, que precisa ler e debater, bem como à equipe pedagógica, que passa a ter o papel de liderar a transformação. Nesse caso, o erro mais comum é o entendimento de que método é apenas um jeito de dar aula. Uma escola que se proponha a mudar sua abordagem precisa de um direcionamento coletivo, um projeto político pedagógico, além de estabelecer diálogo com os pais e os professores, e acreditar em um novo projeto. Recursos materiais Os recursos materiais devem ser a expressão física da programação e dos objetivos da escola (DIAS, 1998). Fazem parte dos recursos materiais o prédio escolar, as instalações, o mobiliário, os equipamentos didáticos e as matérias de consumo, tais como materiais de escritório, entre outros. Os recursos materiais devem existem em função da programação e dos objetivos. Desse modo, por exemplo, antes de construir um prédio escolar, é preciso examinar as atividades a que ele se destina — se irá atender crianças de 3 anos ou jovens de 15 anos. Com isso, a estrutura deve contemplar, necessariamente, o projeto da instituição. Vejamos um exemplo a seguir: Imagine que seu desejo seja fazer uma escola em modelo aberto — o que muitos chamam escola-parque —, onde a integração com a natureza e o autoaprendizado são valorizados. O que é preciso comprar de recursos físicos? Ainda, suponha que você esteja na escola, em pleno tiroteio, e alguém fale em reformar a escola, em mandar o pedido para prefeitura. Nesse caso, você alega que isso é bobagem, uma vez que a escola está em crise, ou a ideia da reforma pode ter um sentido? Não espere respostas certas, pois não viemos aqui vendê-las, mas refletir sobre informações e princípios. É importante fazer esse exercício de imaginação, pois tais situações também têm relação com a educação. Gestão para os alunos Neste vídeo, a especialista apresenta um estudo de caso que aborda questões relacionadas à gestão para os alunos. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam alguns assuntos do conteúdo que você acabou de estudar. Módulo 2 - Vem que eu te explico! Administração escolar Módulo 2 - Vem que eu te explico! Plano didático Módulo 2 - Vem que eu te explico! Professores / Alunos / Apoio Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 O gestor de uma unidade escolar do município precisava solicitar a mudança de endereço. Para isso, ele precisa estabelecer algumas métricas a fim de organizar o novo ano letivo. Nesse caso, é fundamental que ele saiba: I. Se há mobiliário suficiente para atender à quantidade prevista de alunos. II. A carga horária dos docentes disponíveis e a possibilidade de alocação no novo espaço. III. Organizar os murais e os organogramas para que fiquem explícitos no novo espaço. IV. Comunicar ao MEC a mudança de endereço. Estão corretas as afirmativas A II e III somente. B I, II e IV somente. C III eIV somente. D II, III e IV somente. E I e IV somente. Parabéns! A alternativa A está correta. A resposta correta é a que aponta as três primeiras assertivas como corretas, que são decisões de gestão e estão no escopo do processo de administração da escola. A última afirmativa está errada, já que as unidades federativas respondem por seus segmentos educacionais, de forma que não é o MEC, mas a secretaria municipal que deve estar articulada com a mudança. Questão 2 Podemos afirmar que fazem parte do pessoal escolar e devem ser objetos diretos da gestão A es alunos. B a comunidade do entorno e os professores. C as secretarias de educação e a equipe de gestão. D os alunos e os professores. E os professores, a equipe pedagógica e a equipe de apoio. Parabéns! A alternativa E está correta. A gestão lida com todos os grupos citados, no entanto, no que tange ao pessoal escolar, estamos falando de professores, equipe pedagógica e apoio — aqueles que atuam para que a escola funcione administrativamente em seu cotidiano. 3 - Instrumentos de gestão escolar Ao �nal deste módulo, você será capaz de de�nir os principais instrumentos de gestão escolar participativa ou democrática. Democracia e educação Neste vídeo, a especialista relaciona a lógica da gestão democrática com o princípio de gestão. Democracia Democracia O princípio democrático na gestão educacional não é uma escolha, mas um compromisso. Na Pedagogia, há estudos específicos sobre a cogestão ou gestão democrática, pois estão previstas na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – Participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – Participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.” (LEI Nº 9394/1996) A lei prevê que as escolas tenham gestão com a participação de todos. De acordo Libâneo, Oliveira e Toschi (2007), a gestão diz respeito a todas as atividades de coordenação e acompanhamento do trabalho das pessoas, envolvendo os papéis e funções de cada membro da equipe, a efetivação do trabalho em grupo, a formação do clima de trabalho e a avaliação de todo o desempenho, bem como o que foi planejado e executado. Os autores ainda afirmam que dirigir e coordenar significa assumir, no grupo e na instituição, a responsabilidade por fazer a escola funcionar mediante o trabalho conjunto. Para isso, no entanto, é preciso que haja (LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSCHI, 2007, p. 349): Execução coordenada e integral de atividades As atividades dos setores e dos indivíduos da escola devem ser executadas de forma coordenada e integral, conforme decisões coletivas anteriormente tomadas. Gestão democrática O termo democracia pode parecer desgastado no século XXI, mas fosse na Constituição de 1988 ou na LDB de 1996, as lembranças do período de exceção durante a Ditadura Civil Militar eram duras e faziam com que modelos democráticos fossem uma defesa e um pressuposto. Por que a gestão democrática e participativa é tão importante? É para diferenciar mesmo. Uma escola pode ser um negócio, ter acionistas, ter funções em uma comunidade e despertar identidade. No entanto, antes de tudo, como previsto na Constituição, é educação, logo, é um direito fundamental. A fórmula constitucional deixa claro que a responsabilidade pela educação não é do País, da escola ou do professor, mas de toda a sociedade. Sendo assim, independentemente da forma que a educação assuma, ela deve ser a garantia de cidadania para as pessoas, um direito que todos têm o compromisso de observar. Por isso, não pode ser administrada, e seus sistemas de regulação cobram essa integração. Uma empresa e uma organização podem ser administrada para sua eficiência financeira. Já na escola, eficiência é gerar oportunidades de aprendizado, integração e cidadania. Vejamos um exemplo, a seguir, para ilustrar o tema de que tratamos aqui. Processo participativo de tomada de decisões As decisões devem ser tomadas em um processo participativo, cuidando para que se convertam em medidas concretas e efetivamente cumpridas pelo setor ou pelas pessoas em cujo trabalho são aplicadas. Articulação das relações interpessoais As relações interpessoais devem ser articuladas tanto na escola e quanto no âmbito em que o dirigente desempenha suas funções. Durante a pandemia da covid-19, muito tem-se discutido sobre a abertura ou o fechamento das escolas. Entre os argumentos a favor da reabertura, um deles deixa sensibilizado todos os educadores. De qual dos seguintes argumentos você acha que se trata? 1. Os alunos perderiam um conteúdo para toda a vida. 2. O apartheid digital iria impossibilitar que a maior parte tivesse acesso à educação. 3. Os professores não podem ser privilegiados como a única categoria que parou de trabalhar. 4. A função da escola e das crianças na escola fica seriamente comprometida em termos de sociabilização, alimentação e proteção com esse ambiente fechado. A falta da disponibilização descrita no último item é crítica, e é sobre ela que a gestão escolar se vê em crise durante esse período. É ruim mudar o meio e a modalidade, a desigualdade é complicada, perder para vida toda é um equívoco pedagógico, mas só o debate já vale muito. Uma gestão democrática pode ser feita de muitas formas, com instrumentos diversos e uma criatividade ampla. Mas dois instrumentos são básicos e vamos tratar sobre eles. Projeto político pedagógico PPP e a gestão Neste vídeo, a especialista relaciona a lógica da gestão democrática como princípio de gestão e o ponto vital do PPP para esse fim. Resposta O que é o projeto político pedagógico? Toda a escola tem de ter um? O projeto político pedagógico (PPP) é o instrumento norteador de toda a operação de uma unidade escolar. Suas construções apontam para a participação efetiva da comunidade, dos corpos docente e discente, bem como da direção, visando pensar o que a escola deseja de si mesma. Desse modo, sim, toda escola deve ter um PPP. Entretanto, observamos, cada vez mais, um volume de materiais copiados e recopiados, repetindo trechos inteiros e equivocados. Projetos que são construídos por terceiros, que são pagos para “livrar” a escola do problema. Será tão difícil construir o PPP? Vejamos os itens básicos de um projeto: 1. Identificação da instituição, do seu contexto e da sua história. 2. Caracterização social e econômica do entorno. 3. Caracterização da comunidade escolar, do perfil dos alunos e de seus anseios. 4. Descrição do que a escola oferece, do que ela almeja oferecer e das prioridades de transformação física. 5. Caracterização da equipe pedagógica e do corpo docente — seu perfil, o desenho proposto, as metodologias defendidas. 6. Descrição dos demais espaços, gestão, equipe pedagógica, disponibilização de tecnologia e bibliografia. 7. Sistemas de alimentação. 8. Diretrizes pedagógicas. 9. Inclusão. 10. Programas regulares e complementares de aprendizagem. Atenção Todos os aspectos mencionados podem ser desdobrados. Note que o PPP permite, em debate, fazer uma radiografia da escola. Nesse sentido, o projeto não deve ser feito e guardado, mas deve ser um exercício de olhar para si. Vamos lidar com a gestão democrática agora. Para isso, é vital que você perceba que a gestão democrática e o PPP andam lado a lado. Gestão democrática e PPP Você participou da elaboração de algum PPP quando era estudante? Se sim, foi uma exceção. Caso tenha dito “não”, o que mudaria em sua escola se tivesse a oportunidade de participar? Conforme já afirmamos, a gestão democrática está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A lei também prevê um instrumento fundamental para a participação da comunidade escolar, que é o projeto pedagógico da escola. Está determinado, na lei, a participação dos profissionaisda educação, bem como das comunidades escolares e locais na elaboração de tal projeto. Dessa forma, a escola deve ter instâncias de gestão com a participação da comunidade da escola e da comunidade local, tal como o conselho de escola. Antes de falarmos das instâncias e dos instrumentos, vamos pensar o que seria a gestão democrática! Souza (2009) estabelece que a gestão democrática é um processo político no qual as pessoas que atuam na/sobre a escola identificam problemas, discutem, deliberam, planejam, encaminham, acompanham, controlam e avaliam o conjunto das ações voltadas ao desenvolvimento da própria escola na busca da solução daqueles problemas. Esse processo político, sustentado no diálogo, na alteridade e no reconhecimento das especificidades técnicas das diversas funções presentes na escola, tem como base a participação efetiva de todos os segmentos da comunidade escolar, o respeito às normas coletivamente construídas para os processos de tomada de decisões e a garantia de amplo acesso às informações aos sujeitos da escola (SOUZA, 2009, p. 125-126). Resumindo Podemos entender, então, que a gestão democrática é fundamentada na participação coletiva. Por sua vez, tal participação é efetivada por instâncias criadas pela própria comunidade escolar, tal como o conselho de escola (ou conselho escolar). Conselho escolar Conselho escolar O conselho de escola é uma instância consultiva e deliberativa fundamental para o funcionamento da escola: o conselho opina e decide sobre as ações e o futuro da escola. Essa instância deve ter um regulamento elaborado pela própria comunidade escolar, e seus membros devem ser eleitos com representantes de todos os segmentos — professores, funcionários, diretor, família de alunos, alunos e membros da comunidade (líderes religiosos, comerciantes, artesãos, líderes comunitários etc.). Cada conselho irá determinar quantos membros de cada segmento e por quanto tempo será o mandato. No regulamento do conselho, também devem ser explicitadas suas funções, tais como: Projeto versus planejamento Ainda sobre a gestão democrática, a lei citada também determina a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. E o que é o projeto pedagógico? De acordo com Gadotti (2003), a noção de projeto é muito mais ampla do que a noção de planejamento e de plano. O conceito de projeto é polissêmico, é vivo, construído de forma coletiva. Quando falamos sobre o projeto político- pedagógico da escola, estamos pensando no exercício que a escola faz para saber o que é e para onde deseja ir. O projeto político-pedagógico da escola é, por isso, um projeto que implica, acima de tudo, um certo referencial teórico-filosófico e político. Ele não fica, contudo, no referencial. Ele implica estratégias e propostas práticas de ação. Para educar, não basta indicar um horizonte e um caminho para se chegar lá. É preciso indicar como se chega lá e fazer o caminho juntos. É o escopo do projeto da escola. O projeto da escola deve indicar grandes perspectivas, quais os valores que orientam a ação educativa, as ideologias em jogo, uma discussão do contexto local, nacional e internacional. Ele deve retratar as aspirações, ideais e anseios da comunidade escolar, seus sonhos em relação à escola. Mas ele deve, sobretudo, permitir que a escola faça suas escolhas em relação ao que deseja para a melhor educação de todos. Projetar é escolher, decidir. A escolha e a decisão são categorias pedagógicas essenciais ao ato educativo (GADOTTI, 2003, p.3) Leu o Gadotti? Trata-se de um dos grandes nomes da Pedagogia brasileira. Vamos fazer uma pausa para refletir: se você fosse novamente aquela diretora ou diretor da escola em conflito, como Gadotti poderia ajudar? A direção deve entender que ela não tem um problema, mas a sociedade toda tem, de forma que a resolução não será feita somente pela direção, pelos professores ou pelos alunos, mas pela escola. Dessa forma, é preciso dar os sinais e envolver representantes da associação de moradores, pais e alunos. A ideia é mostrar para a comunidade que a escola é dela, e não apenas um prédio. Você duvida? Em uma escola do Rio de Janeiro, considerada periférica, menor e crítica, próxima a uma comunidade bastante famosa, assumiu uma identidade e envolveu a comunidade e o entorno com esse princípio. A escola — chamada de Nação Mangueirense — assumiu cores, projetos, valores e teve presença em desfiles marcantes, como o do título da escola sobre as mulheres brasileiras. PPP para além da burocracia É fundamental compreender que o PPP não pode ser um instrumento burocrático, tampouco enrijecer as relações entre pessoas e procedimento. Ao contrário, ele deve ser flexível e se adaptar às mudanças. Para Veiga (2001), o projeto pedagógico deve apresentar as seguintes características: Resposta Esquema: Características de um PPP. Compreendendo bem essas características, agora analisaremos a estrutura de um PPP. Estrutura do PPP A Resolução da CNE nº 4, de 2010, institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. No documento, é apresentado um detalhamento sobre a estrutura do projeto pedagógico: Art. 44. O projeto político-pedagógico, instância de construção coletiva que respeita os sujeitos das aprendizagens, entendidos como cidadãos com direitos à proteção e à participação social, deve contemplar: I – o diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, contextualizados no espaço e no tempo; II – a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da aprendizagem e mobilidade escolar; III – o perfil real dos sujeitos – crianças, jovens e adultos – que justificam e instituem a vida da e na escola, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo, socioeconômico, como base da reflexão sobre as relações vida- conhecimento-cultura-professor-estudante e instituição escolar; IV – as bases norteadoras da organização do trabalho pedagógico; V – a definição de qualidade das aprendizagens e, por consequência, da escola, no contexto das desigualdades que se refletem na escola; VI – os fundamentos da gestão democrática, compartilhada e participativa (órgãos colegiados e de representação estudantil); VII – o programa de acompanhamento de acesso, de permanência dos estudantes e de superação da retenção escolar; VIII – o programa de formação inicial e continuada dos profissionais da educação, regentes e não regentes; IX – as ações de acompanhamento sistemático dos resultados do processo de avaliação interna e externa (Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, Prova Brasil, dados estatísticos, pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), incluindo dados referentes ao IDEB e/ou que complementem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e outros; X – a concepção da organização do espaço físico da instituição escolar de tal modo que este seja compatível com as características de seus sujeitos, que atenda as normas de acessibilidade, além da natureza e das finalidades da educação, deliberadas e assumidas pela comunidade educacional.” Podemos entender que o projeto pedagógico, que prevê participação ativa da comunidade, apresenta o presente, mas também organiza o futuro. A participação real da comunidade escolar nesse processo enriquece e transforma a escola. A comunidade precisa entender que o projeto pedagógico não é apenas um documento, uma formalização da burocracia, mas a sistematização e a organização da vida da escola, das ações, da transformação e do futuro. Regimento escolar Agora, vamos compreender outro instrumento de gestão democrática: o regimento escolar. Ao contrário do projeto pedagógico, o regimento é elaborado uma única vez, e sua revisão ocorre quando a comunidade julgar necessário. Desse modo, o PPP é revisado ou refeito a cada ano ou dois anos, já o regimento é entendido como algo mais duradouro. E o que é o regimento escolar? É no regimento escolar que encontramos a resposta para perguntasdo tipo: 1. Quantos turnos a escola tem? 2. Qual a duração de cada aula — 50 ou 60 minutos? 3. Como o professor lida com um estudante que descumpriu uma regra? 4. Como é feita a promoção ou a reprovação dos estudantes? 5. Como será feita a recuperação dos estudantes com dificuldades de aprendizagem? 6. Quais são as demais regras, os direitos e os deveres dos estudantes e da comunidade? 7. É obrigatório o uso de uniforme? O regimento também deve ser elaborado de forma democrática e deve ser aprovado pelo conselho da escola. Também é o conselho de escola que indica a necessidade de revisão ou atualização do regimento. A Resolução nº 4 de 2010, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica, também apresenta as orientações para a construção do regimento. Vejamos: “O regimento escolar, discutido e aprovado pela comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um dos instrumentos de execução do projeto político pedagógico, com transparência e responsabilidade. Parágrafo único. O regimento escolar trata da natureza e da finalidade da instituição, da relação da gestão democrática com os órgãos colegiados, das atribuições de seus órgãos e sujeitos, das suas normas pedagógicas, incluindo os critérios de acesso, promoção, mobilidade do estudante, dos direitos e deveres dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos e funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e função das suas instâncias colegiadas.” Desse modo, concluímos que uma escola que efetivamente democratiza a sua gestão tem como consequência dessa participação e construção coletiva a democratização da sociedade. A democracia não é aprendida apenas pela teoria, mas pela vivência e experiência do respeito, do diálogo, da empatia e da solidariedade. Regimento e gestão democrática Neste vídeo, a especialista relaciona a lógica da gestão democrática com o Regimento escolar. Vem que eu te explico! Os vídeos a seguir abordam alguns assuntos do conteúdo que você acabou de estudar. Art. 45 Módulo 3 - Vem que eu te explico! PPP Módulo 3 - Vem que eu te explico! Regimento escolar Módulo 3 - Vem que eu te explico! Gestão democrática Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 (VUNESP – Prefeitura de São José dos Campos – SP – 2015) Olga e Ester trabalham como agentes educadoras em centros municipais de educação infantil na mesma cidade, em bairros vizinhos. São amigas e sempre comentam situações vividas no trabalho. Desse modo, constataram corretamente que, na unidade onde Ester atua, o princípio da gestão democrática do ensino é seguido conforme determina o artigo 14 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação n° 9.394/96, uma vez que A todos os envolvidos no processo educativo participam da elaboração da proposta pedagógica da A unidade escolar. B o diretor da unidade escolar e também o seu coordenador pedagógico são eleitos pela comunidade, a cada dois anos. C cada professor tem total liberdade de ensinar os conteúdos que considerar importantes e do jeito que preferir. D os pais podem escolher a professora que querem para os filhos e ajudam nas campanhas e festas para arrecadar fundos. E a programação da educação infantil segue os interesses dos pais e os das crianças, de acordo com as suas idades. Parabéns! A alternativa A está correta. A gestão democrática implica a participação de toda a comunidade na elaboração do projeto pedagógico da escola. Por essa lógica, todas as demais alternativas perdem o sentido, pois elencam somente um agente. Questão 2 (VUNESP – Prefeitura de Suzano – SP – 2015 – Diretor de escola) A educação e a sua gestão, no Brasil, desenvolvem-se em um processo lento, ambíguo e contraditório. As escolas, da mesma forma que outras instituições, precisam se adaptar à nova forma de administrar e adotar, como premissa básica, a mudança na forma de um processo de transformação contínua por meio do planejamento. Na perspectiva das considerações elencadas, avalie as seguintes asserções: I. O planejamento é um ato isolado que tem como propósito o desenvolvimento de processos, técnicas e atitudes administrativas e diz respeito às decisões futuras a serem tomadas a partir do seu exame de impacto no presente, consubstanciado em um projeto. PORTANTO II. Projeto educacional é um empreendimento de duração finita, com objetivos claramente definidos na solução de problemas, oportunidades, necessidades, desafios ou interesses de um sistema educacional, de um educador ou grupo de educadores, com a finalidade de planejar, coordenar e executar ações voltadas para melhoria de processos educativos e de Considerações finais Pudemos observar que a sociedade e a escola se inter-relacionam e se influenciam, de modo que a sociedade faz parte da escola e a escola faz parte da sociedade. Também vimos que a escola, para atender às necessidades e aos objetivos estabelecidos pela sociedade — tais como formação de profissionais de vários níveis, desenvolvimento cultural da população, orientação individual para emprego dos próprios recursos na fruição de uma vida plena e resultados de formação humana, em seus diferentes níveis e contextos. A respeito dessas afirmações, assinale a alternativa correta. A As duas afirmações são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta da primeira. B As duas afirmações são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa da primeira. C A primeira afirmação é verdadeira, e a segunda falsa. D A primeira afirmação é falsa, e a segunda verdadeira. E Tanto a primeira quanto a segunda afirmação são falsas. Parabéns! A alternativa D está correta. O planejamento não é um ato isolado, pelo contrário, o planejamento deve ser coletivo, envolver toda a comunidade escolar, de modo a identificar a realidade e projetar o futuro. pesquisas — precisa ser bem administrada, por meio de uma gestão participativa e democrática. A gestão democrática, que está prevista na lei, é realizada pela participação ativa em instâncias colegiadas, tais como o conselho de escola, e se efetiva por meio do planejamento pedagógico expresso no projeto pedagógico da escola. O principal objetivo da gestão democrática é transformar a escola em um espaço que gere aprendizagem para todos: alunos, professores, pais e comunidade em geral. Podcast Neste podcast, o especialista retorna aos principais tópicos estudados. Referências DIAS, J. A. Sistema escolar brasileiro. In: MENESES, J. G. C. et. al. Estrutura e funcionamento da educação básica. São Paulo: Pioneira, 1998, p. 127-136. GADOTTI, M. Dimensão política do projeto pedagógico da escola. Abceducatio, São Paulo, v. 4, n. 24, p. 36-41, 2003. LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F. de; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2007. 408p. SOUZA, A. R. Explorando e construindo um conceito de gestão escolar democrática. Educação em Revista, v. 25, n. 3, p. 123-140, 2009. Consultado na internet em: jul. 2021. VEIGA, I. P. (Org.) Projeto político pedagógico da escola: uma construção possível. 23. ed. Campinas: Papirus, 2001. Explore + Explore + Leia os artigos: Gestão democrática escolar: relato de uma experiência pedagógica, de Julia Trojahn Bolzan e Mara Lucia T. Brum, e conheça uma experiência de gestão democrática em uma escola pública. Relato de experiência sobre o conselho de escola: Conselhos escolares para quê? Análise de uma experiência com gestão escolar democrática, de Antonio Euzébios Filho. Baixar conteúdo javascript:CriaPDF()
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