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Fichamento direitos reais Oficial

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Da tutela autônoma da situação possessória 
A posse dar-se mediante um contato direto entre o proprietário e o objeto seja ele móvel ou imóvel, o Código Civil art.1.196 descreve “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade”. A teoria de Jhering está de acordo com essa definição do C.C, Jehring estabelece que o direito de defesa à propriedade estaria atrelada a defesa possessória, e faz a referência ao interdito possessório com uma alternativa mais eficaz de um titular proteger a sua propriedade de riscos eminentes, já que o poder judiciário consta um vasto volume de demandas que resultariam nas respostas morosas.
Na doutrina as visões de posse e propriedade são divergentes entre Jhering e Savigny, pois para Savigny o titular que queira deter uma propriedade deverá ter o “animus domini” ou seja a vontade de ser dono, em contrapartida Jhering refere-se que para ser possuidor deverá existir propriedade havendo o contato direto para que o proprietário possa explorar e ter o aproveitamento econômico da propriedade. O STJ posicionou-se de maneira que reconhece a tutela autônoma da posse “a posse deve ser analisada de forma autônoma e independente em relação à propriedade, como fenômeno de relevante densidade social, em que se verifica o poder fático de ingerência socioeconômica sobre determinado bem da vida” isso visa facilitar para o intérprete se amparar nos mecanismo de defesa da propriedade descritos na legalidade para defender a posse conforme o que estabelece Savigny, o código civil brasileiro via de regra adota a teoria de Jhering, mas cabe em algumas exceções buscar amparo na teoria de Savigny.
Da Função social da Posse
A posse se identifica com o direito de propriedade que estão atreladas aos exercícios de domínio, mas a função social da posse não necessariamente se vincula com a de domínio, ela se conecta aos direitos subjetivos da relação jurídica á que está inserida, visando estabelecer legitimidade e limites ao possuidor como estrutura à função social. O STJ posicionou-se em aplicar segundo o principio da função social a aplicação da norma ao particular independentemente do interesse particular, uma vez que for aferível aos princípios da dignidade da pessoa humana e da função social não cabe ao proprietário o direito de ter a tutela possessória, já que se o interesse particular violar o tais princípios levando-se em conta o dispõe o art.5º inciso, XXIII “a propriedade atenderá a sua função social”.
Logo este inciso converge ao caso que fora reconhecido de um interdito possessório impetrado pelo proprietário em face de sua ex-mulher, em que coube a decisão do TJSP de que a ex-mulher deveria permanecer por mais 9 meses no imóvel, pois ela utilizava o bem para moradia junto com seus filhos menores sendo que um deles é portador de transtorno global e necessita de cuidados especiais. De acordo com o principio da função social da posse, o desembargador encarregado do caso busca cumprir o princípio da função social, isto enfatiza o que estabelece o constituinte ao incluir a função social da propriedade no rol das garantias dos direitos fundamentais para estabelecer as tutelas das relações jurídicas aos interesses não proprietários, portanto a tutela irá amparar ao titular que cumpra com o que estabelece a função cabível a sua titularidade disposta na Constituição Federal, correspondendo a função social da posse atrelada ao exercício possessório como o trabalho, moradia; saúde, entre outros direitos fundamentais.
Da Propriedade e sua função social na CF
O constituinte assegura o direito à propriedade privada que cumpra a função social como está esparso nos incisos do art 5* da CF/88, “XXII: “É garantido o direito de propriedade”; e “XXIII: “A propriedade atenderá sua função social”, essas garantias se dispõe ao proprietário urbano, além de estender essa garantia para o proprietário rural dando-lhes a proteção contra a reforma agrária sem prejudicar as terras as quais são de entidade familiar e produção desde que estas estejam cumprindo sua função social, o constituinte visa proteger a pequena propriedade tido como propriedade familiar.
Conforme o que decorre da política urbana a Constituição Federal estabelece que o poder público dos municípios conforme deveram garantir o desenvolvimento da função social das cidades e garantir o bem estar dos habitantes como emana o art.182 (caput) “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme as diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes”.
Em consonância disto o art. 183 da CF/88 dispõe que aquele que possuir em área urbana até 250 metros quadrados, por durante cinco anos ininterruptos, utilizando da área para a moradia ou de sua família terá o domínio, salvo desde que o proprietário não possua outro imóvel em área urbana ou rural. O § 2o estabelece a limitação de que o direito só será reconhecido ao possuidor uma única vez. Em suma o constituinte elaborou na matéria constitucional, o art. 184, ao qual trata da reforma agrária de imóvel rural que não esteja cumprindo função social, mediante a justa e previa indenização cabíveis em face de dividas de reforma agrária.
Esse principio converge-se no Código Civil em seu art. 1.228 “O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”. O caput retrata do direito de que o proprietário detém de sua propriedade de resguarda-la sendo cabível ao interesse social.
O parágrafo 1o  estabelece a condição para o proprietário sobre o cumprimento da função social da propriedade previsto na CF/88, § 1o  “O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a poluição do ar e das águas”.
Da Função social como elemento interno do domínio
A tutela jurisdicional somente recai em propriedades as quais o proprietário esteja cumprindo a função social, caso contrario inviabilizará na concessão de tutela pelo ordenamento jurídico. A função social poderá passar por mudanças conforme varia os seus estatutos, em decorrência dos preceitos constitucionais e conformidade dos interesses do titular, cabe a sua legitimidade para exercer sua atuação; logo é notório a justificativa que de a propriedade sem função social não se reveste de legitimidade e amparo de tutela jurisdicional.
O elemento funcional tem força para alterar a estrutura do domínio como uma forma de inserir os deveres essenciais que atendem a função social, no entanto essa regra incide além dos poderes ligados ao proprietário de usar; gozar; e dispor induzindo-o a cumprir os elementos essenciais do domínio. Se caso houver a modificação da estrutura do domínio a função social poderá implicar perda da proteção possessória por parte do titular que não usa-la; podendo a propriedade sofre a suscetibilidade de reforma agrária como é o caso do proprietário rural.
A função social equivale a compreensão da propriedade que correspondem à moradia, trabalho, educação correlacionados aos ditames sociais. Logo a função social embora seja uma medida imposta ao proprietário, mas que não podem limitar as liberdades constitucionais do individuo pois estas não podem ser tomadas de maneira isolada por estarem dispostas na constituição. Na visão de Pietro Perlingieri, “a autonomia não é livre-arbitrio: os atos e as atividades não somente não podem perseguir fins antissociais ou não sociais, mas, para terem reconhecimento jurídico, devem ser valorados como conforme à razão pela qual o direito de propriedade foi garantido e reconhecido”.
Das Novas perspectivas da função social
Após a promulgação da CF/88, foram ensejados diversosdebates a respeito dos bens comuns coligados aos direitos fundamentais em desrespeito ao acesso aos bens essenciais para os exercícios de direitos. Esta questão discutida visa uma discussão jurídica entre a pessoa e o bem que satisfaçam a necessidade da pessoa humana, tendo como base não sujeitar-se ao “individualismo proprietário”, pois trata de discussão de diversas pessoas ligadas ao mesmo bem. Na perspectiva da função social é cabível que diversos sujeitos possam discutir a fins de das decisões relacionadas, surtindo a reflexão do esquema dualístico entre propriedade pública e privada.
Na Itália o desenvolvimento dos bens comuns desperta interesse das autoridades brasileiras, para desenvolver métodos em pertinência à bens na comunidade jurídica brasileira. Assegura-se que os bens comuns possam fortalecer o feixe de poderes pessoais na participação democrática. Em suma as conquistas alcançadas pela função social da posse e da propriedade afigura-se possível aperfeiçoar a tutela privilegiada das situações existências mediante ao reconhecimento de bens inerentes a pessoa e sua cidadania, cujo o acesso não seja por meio de recursos financeiros e de coisas que estejam a disponíveis no mercado.
Muito importante ressaltar que a magna carta de 1988 instaurou ordem jurídica que clama instrumentos de efetivação dos direitos fundamentais, no que se refere aos cidadãos terem acesso à bens. Neste caso pode ser inserido a água, como dispõe a lei 9.433/1997, a qual trás a previsão “a água é um bem de domínio público” e que deve ser apartada pela gestão de recursos hídricos para proporcionar uso múltiplo das águas. O STJ posicionou-se a respeito de que á água por ser um recurso utilizado por todos em sociedade, atinge a concepção dela ser um bem “comum” para atender as necessidades de todos em sociedade não cabendo domínio proprietário de apenas um titular atrelada a este recurso.
O art. 182 da Constituição Federal desencadeou o estatuto da cidade buscando instituir insumos para “cidade democrática”, estimulando que a noção de posse busque tangenciar o desenvolvimento sustentável da cidade, em desrespeito a cidade moradia, transportes, serviços públicos; lazer, entre outros. Em 2016 o STJ ensejou um debate acerca da apropriação de bens abandonado sem apropriação e sem cumprir a sua função social, o relator Luis Felipe Salomão colocou em destaque “a ocupação por particular de um bem público abandonado/desafetado – isto é sem, destinação ao uso público em geral ou a uma atividade administrativa -,acaba por conferir justamente a função social da qual o bem está carente em sua essência“. O relator ressaltou o conceito de posse para este caso levando em conta o direito social primário à moradia relacionados ao acesso à bens vitais como garantia da dignidade da pessoa humana dispostos na Constituição Federal, com resguardo à pessoa e a entidade familiar. Em suma o STJ, posiciona o seu reconhecimento de uso de bens públicos por particulares, embora possa ser utilizada de forma coletiva como nos casos de composse.
Conclusões
Com o advento da constituição federal de 1988, é notório que houveram inovações correspondente à propriedade, onde a jurisprudência juntamente com a inovação constitucional trouxeram uma série de suportes para os direitos de proteção de propriedade em face de seu titular. O importante papel da função social ligada a concepção de posse que visa a concessão de tutelas ao proprietário em face da proteção da propriedade desde que haja relação concreta entre ele e o bem, com a ressalva que possa ou não caber ao mesmo, pois importa em atender aos requisitos de função social para que se tenha a concessão de tutela.
No tocante das discussões a respeito ao uso dos bens comuns o qual o acesso independe de domínio proprietário diante do posicionamento do STJ, é cabível entender que estes são bens de usos comuns do povo, não sendo limitado tão somente à um respectivo titular por conta disto a jurisprudência busca enfatizar a reflexão dos direitos fundamentais em relação aos bens de uso comum. No ordenamento jurídico brasileiro, à água e a cidade são reflexões de bens comuns, isto faz com que as autoridades busquem instrumentos para desenvolver mecanismos com relação a participação e acesso em relação aos bens comuns.

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