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Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2022.01-ECT-BSB SEMINÁRIO II - SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, MANDADO DE SEGURANÇA E TUTELAS PROVISÓRIAS Questões 1. No art. 151 do CTN, que significa o termo “exigibilidade”? Quando surge essa “exigibilidade”? E qual o efeito da suspensão da exigibilidade? Impede-se (i) o lançamento, (ii) a inscrição na dívida ativa, (iii) a execução fiscal; (iv) todos estes atos? (vide anexo I a IV). Primeiramente, importante destacar que para explicar o termo exigibilidade, constante no art. 151 do CTN, precisa-se esclarecer a constituição do crédito tributário. Na seara tributária, a aplicabilidade da norma geral e abstrata pode ser realizada pelo contribuinte ou pela autoridade administrativa. Efetuada por aquele tem-se o denominado lançamento por homologação, se fazendo quando o particular emite a norma individual e concreta, constituindo assim, sua própria obrigação tributária. Já em relação a obrigação tributária constituída por ato administrativo, tem-se o lançamento tributário, conforme estipulado no art. 142 do CTN. Todavia, explica Fabiana Del Padre Tomé1 que apenas a lavratura do ato de lançamento tributário ou a emissão da norma individual e concreta pelo contribuinte não encerra o ciclo da positivação, constituindo-se o crédito tributário. Acrescenta ainda a autora, que é com esses expedientes que nasce o vínculo jurídico obrigacional e com ele o direito de o Estado notar o valor da prestação tributária, aparecendo, então, o crédito tributário. Daí surgem condições normativas que suspendem a exigibilidade do crédito tributário, estabelecidas no art. 151 do CTN, quais sejam: (i) moratória, o 1 TOMÉ, Fabiana Del Padre. Exigibilidade do crédito tributário: amplitude e efeitos de sua suspensão. In: SOUZA, Priscila de (Coord.). Direito tributário e os conceitos de direito privado. São Paulo: Noeses, 2010, p. 2. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário (ii) depósito do montante integral, (iii) as reclamações e recursos administrativos, (iv) a concessão de medida liminar em mandado de segurança, (v) a concessão de medida liminar ou a tutela antecipada concedida em outras espécies de ação judicial e (vi) o parcelamento. Diante disso, a exigibilidade é um atributo no qual não cumprida a obrigação, resta a autoridade administrativa habilitada a inscrever a dívida como ativa, recorrendo ao Judiciário para que aquele crédito seja liquidado, que o dever do sujeito passivo seja exigido. Não sendo efetuado o pagamento dentro do prazo pelo sujeito passivo, o crédito se torna exigível. Porém, esse crédito (a dívida) precisa ser formalizado, o que acontecerá quando da lavratura do ato de lançamento. Importante lembrar que a suspensão da exigibilidade do crédito tributário suspende tão somente a possibilidade de ele ser exigido não o próprio crédito, conforme explica Maria Leonor Leite Vieira2, lecionando que o crédito permanece intocável, ileso, retomando seu andamento após o fim da suspensão e só sendo extinto por uma das hipóteses do art. 156 do CTN. Diante do exposto, entende-se que o efeito da suspensão da exigibilidade atinge todos os atos elencados no enunciado da questão, inclusive o lançamento, pois com ele estará constituindo o crédito tributário e com isso surgindo ônus para contribuinte, como por exemplo sob o aspecto de expedição de certidão, que sem esta, restará prejudicado o regular funcionamento da empresa e impedindo que participe de licitações ou aproveite determinados benefícios fiscais. Quanto a ideia de que não afetará o lançamento com o argumento de que trata-se de ato administrativo vinculado, cujo prazo decadencial opera-se em 5 anos, entende-se que não tem o menor fundamento, pois está repassando ao contribuinte um ônus que não cabe a ele. 2 VIEIRA, Maria Leonor Leite. A suspensão da exigibilidade do crédito tributário. São Paulo: Dialética .Capítulo V, p. 39. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Ressaltando a divergência quanto a esse tema na prática, pelos anexos trazidos pela questão em tela, fica demostrado que a jurisprudência ainda é dividida. O anexo I traz o entendimento que o efeito da suspensão da exigibilidade do crédito não em qualquer repercussão quanto à não-consecução do lançamento, máxime por estar-se diante de ato administrativo vinculado com prazo decadencial (5 anos). Os anexos II e III refletem o entendimento de que a suspensão impede que à Administração Tributária proceda qualquer ato que afronte o comando judicial, sob pena de cometimento do delito de desobediência, inclusive o lançamento, ao argumento de que possa gerar ônus ao contribuinte. Por fim, o anexo IV diz respeito ao atingimento na execução fiscal pelos efeitos da suspensão da exigibilidade. O entendimento é de que se a causa da suspensão ocorreu antes da propositura do feito executivo, a execução deve ser extinta. Porém, se a exigibilidade foi suspensa quando já proposta a execução, esta deve ser sobrestada. 2. Em que sentido a expressão “crédito tributário” foi utilizada no art. 151 do CTN? Essa expressão congrega também liames decorrentes da prática de atos ilícitos (e.g. multa por desrespeito aos deveres instrumentais)? Nas palavras do Professor Paulo de Barros Carvalho3 o crédito tributário deve ser compreendido, em sentido estrito, “como o direito subjetivo do sujeito ativo, ao qual se contrapõe o débito tributário, entendido como o dever jurídico do sujeito passivo”. O professor Paulo de Barros ainda explica que como elemento indissociável da obrigação tributária, o crédito tributário surge no mundo jurídico no instante em que se opera o fenômeno da incidência, com a aplicação da regra-matriz do tributo. 3 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e método. 8ª ed. São Paulo: Noeses, 2021, p. 520. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Assim, entende-se que a expressão crédito tributário, utilizada pelo legislador no art. 151 do CTN, se refere ao obrigação tributária, nascida da concretização, no mundo jurídico, da hipótese de incidência prevista em lei. Em relação a segunda parte da questão, ao analisar o art. 139 do CTN, aduz que “o crédito tributário decorre da obrigação principal e tem a mesma natureza desta.” O mesmo Código, em seu art. 113, expressa que a obrigação tributária pode ser principal ou acessória e o § 1º deste dispositivo menciona que tal obrigação “tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se juntamente com o crédito dela decorrente”. Todavia, analisando as obrigações mencionadas acima, apesar de ambas consubstanciarem o crédito tributário, surgem de atos administrativos diferentes e decorrem de relações jurídicas distintas. De forma semântica, seria inviável a ideia de que crédito tributário comporta liames decorrentes da prática de atos ilícitos, pois o art. 3º do CTN conceitua tributo como “toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito.” 3. As hipóteses de “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” previstas no art. 151 do CTN são taxativas? (vide anexo V) Inicialmente, as hipóteses de suspensão contidas no art. 151, do CTN são taxativas. Pode-se extrair tal entendimento conforme estipula o art. 111, inciso I, do CTN: Art. 111. Interpreta-se literalmente a legislação tributária que disponha sobre: I - suspensão ou exclusão do crédito tributário; Outrossim, também depreende desse entendimento o art. 141 do mesmo Código: Art. 141. O crédito tributário regularmente constituído somente se modifica ou extingue, ou tem sua exigibilidade suspensa ou excluída, nos casos previstos nesta Lei, fora dos quais não podem ser dispensadas, sob pena de responsabilidade funcionalna forma da lei, a sua efetivação ou as respectivas garantias. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Em relação ao anexo V do presente trabalho, verifica-se a suspensão da exigibilidade do crédito tributário quando efetuada consulta fiscal, entretanto, quando tal consulta efetuada antes da constituição do crédito tributário. 3.1. Considerando que não houve alteração nos art. 151 do CTN, pergunta-se: a) A equiparação, prescrita pelo §2º do art. 835 do CPC/15, a dinheiro da fiança bancária e do seguro garantia, tem o condão de consagrar a hipótese de suspensão da exigibilidade do crédito tributário prevista no art. 151, II, do CTN? Muito se houve a respeito da suspensão da exigibilidade de crédito tributário quando relacionados a equiparação de fiança bancária e seguro garantia à dinheiro. A Súmula 112 do STJ é clara nesse tema: “o depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for integral e em dinheiro.” O que há na verdade é uma confusão de créditos tributários com créditos não tributários. O entendimento da Súmula 112 do STJ não se estende aos créditos não tributários, como por exemplo os originados de multa administrativa imposta no exercício do poder de polícia, conforme se extrai do REsp 1.381.254: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. MULTA ADMINISTRATIVA. CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO. NATUREZA JURÍDICA SANCIONADORA. UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS INTERPRETATIVAS E INTEGRATIVAS VOCACIONADAS À PROTEÇÃO DO INDIVÍDUO (GARANTISMO JUDICIAL). AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL DE SUSPENSÃO DE EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO. MÉTODO INTEGRATIVO POR ANALOGIA. É CABÍVEL A SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO NÃO TRIBUTÁRIO A PARTIR DA APRESENTAÇÃO DA FIANÇA BANCÁRIA E DO SEGURO GARANTIA JUDICIAL, DESDE QUE EM VALOR NÃO INFERIOR AO DO DÉBITO CONSTANTE DA INICIAL, ACRESCIDO DE TRINTA POR CENTO (ART. 151, INCISO II DO CTN C/C O ART. 835, § 2o. DO CÓDIGO FUX E O ART. 9o., § 3o. DA LEI 6.830/1980). RECURSO ESPECIAL DA ANTT DESPROVIDO. Por outro lado, tal entendimento não é aplicado quando relacionados a crédito tributários, conforme se verifica pelo julgamento do REsp 1.156.668: TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. CAUÇÃO E EXPEDIÇÃO DA CPD-EN. POSSIBILIDADE. SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. ART. 151 DO CTN. INEXISTÊNCIA DE EQUIPARAÇÃO DA FIANÇA BANCÁRIA AO DEPÓSITO DO Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário MONTANTE INTEGRAL DO TRIBUTO DEVIDO PARA FINS DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE. SÚMULA 112/STJ. VIOLAÇÃO AO ART. 535, II, DO CPC, NÃO CONFIGURADA. MULTA. ART. 538 DO CPC. EXCLUSÃO. 1. A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112 desta Corte, cujos precedentes são de clareza hialina. b) As espécies de tutela provisória, identificadas segundo o fundamento do pedido, se de urgência ou de evidência, previstas no CPC/15 se aplicam ao Processo Tributário? Tais medidas têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário? As espécies de tutela provisória, elencadas no art. 294 do CPC/15, se aplicam do Processo Tributário, forte no art. 151, inciso V, do CTN, incluído pelo LC 104/01. Dessa forma, tais tutelas devem ser incorporadas no Processo Tributário, desde que respeitados os requisitos estipulados no CPC/ para sua concessão. Assim ensina Camila Vergueiro Catunda4: Bem, se o processo tributário toma como pano de fundo a relação jurídica material tributária, as tutelas provisórias previstas no CPC/2015 devem respeitar as peculiaridades da relação tributária e osefeitos que decisões desse quilate podem produzir no âmbito do direito material tributário. [...] Isto significa que o requerimento de tutela provisória no processotributário dependerá da constatação da existência de perigo, ou da evidência dodireito invocado pelo sujeito passivo, ou do intuito protelatório da Fazenda Pública,no caso concreto, tal como exige o CPC/2015, mas, o efeito promovido pelaconcessão da tutela provisória fundada no perigo ou na evidência do direito nasregras condutoras do processo de aplicação da regra-matriz de incidência tributáriaserá o mesmo: suspender a exigibilidade da obrigação tributária nos termos do artigo151, V do Código Tributário Nacional. 4. Sobre o depósito judicial efetuado nos autos de uma ação declaratória proposta antes da constituição do crédito tributário, pergunta-se: (a) Trata-se de faculdade do contribuinte? Haverá o crédito tributário após o lançamento, não pode ser exigível a sua cobrança antes de sua constituição. 4 CATUNDA, Camila Vergueiro. Tutela provisória no novo CPC/15 e as lides tributárias. In: XII Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses, 2015. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Dessa forma, o depósito judicial na ação declaratória proposta antes da constituição de tal crédito é uma faculdade do sujeito passivo, ou seja, do contribuinte. Todavia, quando efetuado em seu montante integral e em dinheiro, além de sustar uma eventual exigibilidade do crédito tributário, impede a incidência de juros e atualização monetária, os quais ficarão a cargo da instituição depositária. (b) Há distinção entre depósito judicial para fins do art. 151, II do CTN e prestação de caução? Entende-se pela diferença entre o depósito judicial elencado no art. 151, II do CTN e a prestação de caução. Tal diferença se dá justamente pela taxatividade do rol do art. mencionado, quando se fala em suspensão da exigibilidade do crédito. O depósito judicial, para que surta efeito na suspensão da exigibilidade do crédito tributário, deverá acatar o estipulado na Súmula 112 do STJ, a qual já explanada no presente estudo. Dessa forma, o depósito judicial do montante integral e em dinheiro, por si só, acarretará a suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Por outro lado, a caução, não suspenderá automaticamente a exigibilidade do crédito tributário, apesar de ter como uma das finalidades garantir o juízo em uma medida liminar. O que acontece em alguns casos, é a suspensão da exigibilidade deferida pela própria concessão da liminar e não propriamente pela caução, inclusive, muitas vezes feita por meio de seguro garantia ou fiança bancária. Isso se dá pela faculdade atribuída ao juiz, conforme previsão do art. 7º, III da Lei 12.016/09: Art. 7o Ao despachar a inicial, o juiz ordenará: III - que se suspenda o ato que deu motivo ao pedido, quando houver fundamento relevante e do ato impugnado puder resultar a ineficácia da medida, caso seja finalmente deferida, sendo facultado exigir do impetrante caução, fiança ou depósito, com o objetivo de assegurar o ressarcimento à pessoa jurídica. Como outro embasamento, podemos citar o art. 300, § 1º do CPC/15: Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. § 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. Nota-se, que diferente do depósito judicial, a caução não representa, por si só, condição para suspensão da exigibilidade do crédito tributário, mas um dos instrumentos que integram o instituto da tutela de urgência, e, que por meio dessa tutela, é facultado ao juízo conceder a suspensão da exigibilidade. (c) O levantamento do depósito judicial vincula-se ao êxito (com trânsito em julgado) da ação proposta pelo contribuinte ou o juiz podea qualquer tempo autorizar o levantamento? (vide anexo VI) Forte no art. 32, § 2º, da Lei 6.830/80, o depósito judicial, após o trânsito julgado da decisão, será devolvido atualizado monetariamente ao depositante ou entregue à Fazenda Pública, mediante ordem do juízo competente. Pela interpretação do dispositivo acima entende-se que o levantamento do depósito pelo contribuinte está vinculado ao êxito, pois quando impõe a devolução após o trânsito em julgado ao contribuinte, subentende-se em procedência da ação, ao passo que quando remete a Fazenda, subentende-se pela improcedência da ação do contribuinte. Em que pese o entendimento acima, a Lei não resta clara quanto a hipótese de extinção do processo sem resolução de mérito. E essa imprecisão abre espaço para divergências na prática, conforme de depreende do anexo VI, o qual traz julgamentos com posicionamentos diferentes, inclusive, embargos de divergência, o que resta provado a discordância dos colegiados do Turbinais. Há casos em que o entendimento é que quando a sentença extingue o processo sem julgamento do mérito, pode o depósito ser imediatamente devolvido ao contribuinte, que fica assim privado da suspensividade, inexistindo a possibilidade de haver, em favor da Fazenda, a conversão do depósito em renda. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Todavia, o entendimento majoritário é de que: O cumprimento da obrigação tributária só pode ser excluída por força de lei ou suspensa de acordo com o que determina o art. 151 do CTN. Fora desse contexto o contribuinte está obrigado a recolher o tributo. No caso de o devedor pretender discutir a obrigação tributária em juízo, permite a lei que faça o depósito integral da quantia devida para que seja suspensa a exigibilidade. Se a ação intentada, por qualquer motivo, resultar sem êxito, deve o depósito ser convertido em renda da Fazenda Pública. É essa a interpretação que deve prevalecer. O depósito é simples garantia impeditiva do fisco para agilizar a cobrança judicial da dívida, em face da instauração de litígio sobre a legalidade da sua exigência. Extinto o processo sem exame do mérito contra o contribuinte, têm-se uma decisão desfavorável. O passo seguinte, após o trânsito em julgado, é o recolhimento do tributo. Precedentes: EREsp 479.725/BA, DJU 26/09/05; Resp 273.860/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, DJ 13/03/06; Resp 490.641/PR, Rel. Min. Luiz Fux, DJ de 03/11/2003; Resp 258.752/SP, Rel. Min. Milton Luiz Pereira, DJ de 25/02/2002; Resp 251.350/SP, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de 12/03/2001; Resp 227.958, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 7/2/2000; Resp 163.045/SP, Rel. Min. Hélio Mosiman, DJ de 09/11/98. 5. A partir da vigência do CPC/15 foi instituído um novo fundamento para a concessão de tutela provisória, a evidência do direito, tal como preveem os arts. 294 e 311. Pergunta-se: a) Identifique a diferença entre tutela antecipada e tutela cautelar. É possível a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança? Ou em mandado de segurança tão somente é admissível medidas provisórias de natureza cautelar? Conforme dispõe o art. 294, § único do CPC/15, a tutela provisória, antecipada ou cautelar, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental, ou seja, tais tutelas podem ser concedidas tanto no início do processo quanto no decorrer do litígio. Ambas as tutelas possuem requisitos comuns a serem demonstrados para sua concessão, conforme ensina Camila Vergueiro5: Nos termos do CPC/2015, a concessão da tutela de urgência, seja ela cautelar ou antecipada, depende da demonstração pela parte requerente (i) da probabilidade do direito invocado; e (ii) ou o perigo de dano ao bem da vida que se pretende protegercom a provimento final; (iii) ou o risco de dano ao resultado útil do processo. 5 CATUNDA, Camila Vergueiro. Tutela provisória no novo CPC/15 e as lides tributárias. In: XII Congresso Nacional de Estudos Tributários do IBET. São Paulo: Noeses, 2015. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Tais tutelas possuem o condão da provisoriedade, porém, trazem diferenças quanto a finalidade. A tutela antecipada tem natureza satisfativa, é a antecipação dos efeitos que viriam somente ao final da ação. Por sua vez, a tutela cautelar tem a finalidade conservativa, é garantir a eficácia da prestação jurisdicional, garantindo o resultado útil do processo, é o que aduz o art. 301 do CPC/15: “A tutela de urgência de natureza cautelar pode ser efetivada mediante arresto, sequestro, arrolamento de bens, registro de protesto contra alienação de bem e qualquer outra medida idônea para asseguração do direito.” Partindo dessas explicações, em que pese o art. 7º, § 2º e § 5º da Lei 12.016/09 estender às tutelas vedações relacionadas com a concessão de liminar em mandados de segurança, entende-se que é possível tanto a concessão de tutela provisória antecipada em mandado de segurança quanto é admissível medidas provisórias de natureza cautelar, até porque, em mandado de segurança deverá haver o direito líquido e certo, bem como provas pré- constituídas, assim, estendendo também, o entendimento de ser cabível tutela provisória de evidência (art. 311 do CPC/15). b) É cabível o requerimento de liminar em mandado de segurança fundada na evidência do direito a partir da vigência do CPC/15? Ou diante das disposições da Lei Federal n. 12.016/09, apenas é cabível o requerimento de liminares fundadas em urgência, a outra espécie de tutela provisória prevista no CPC/15? A liminar em mandado de segurança fundada na evidência do direito, ainda pode ser compreendida por alguns com incabível, conforme se analisa pela decisão proferida pelo STJ no MS nº 23.050/DF de relatoria da Ministra Laurita Vaz, a qual entende que “os requisitos para a concessão de liminares na via do mandado de segurança encontram-se expressamente insculpidos na Lei 12.016/09, diploma legal esse que não contém prescrição no tocante à tutela de evidência.” Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Todavia, apesar do entendimento dos autos acima, tenho entendimento diverso, conforme já demonstrado na questão da alínea “a”. Aqui, fico com a louvável e clara explicação de Paulo Cesar Conrado6: “[…] esse importante instrumento processual, embora disciplinado em lei própria, deve ser interpretado em contexto com o CPC/2015, e não isoladamente, como se alheio estivesse — o que é especialmente relevante se (re)lembrarmos que a tutela de evidência, na mencionada hipótese do inciso II do artigo 311, pauta-se na existência (i) de prova cabal dos fatos (ideia que coincide com a de direito líquido e certo; até ai, portanto, nenhuma novidade) e (ii) de tese firmada em julgamento de recursos, especial ou extraordinário, repetitivos ou em súmula vinculante; vale dizer: quando se propõe a aplicação, em mandado de segurança, de parâmetros tais como os da tutela de evidência (notadamente a fundada no decantado inciso II), garante-se a incidência, também nessa espécie processual, de um de uma dos principais pilares do CPC/2015, sabidamente relacionado à vinculação/prevalência da orientação jurisprudencial assentada.” 6. Dado o seguinte caso concreto: Gênesis Waves Ltda. obteve liminar em Mandado de Segurança para suspender a exigibilidade do crédito tributário que posteriormente foi “cassada” pela sentença de denegação da segurança. Pergunta-se: a) na hipótese de a empresa apelar da sentença que “cassou” a liminar, o recebimento de sua apelação nos efeitos suspensivo e devolutivo tem o condão de afastar os efeitos da sentença e reconstituir os efeitos da liminar? Responder a pergunta considerando as disposições do CPC/15 a respeito dos efeitos da apelação (vide anexo VII) O recurso de apelação é regido pelos arts. 1.009 a 1.014 do CPC/15. Nesses dispositivos encontra-se quais são os requisitos e quais osefeitos do recurso em comento. Tal recurso tem como finalidade impugnar e atacar uma decisão que põe fim a fase de conhecimento do processo, sentença que o extingue ou até mesmo que extingue a execução. A apelação é o único recurso do CPC/15, que via de regra, apresenta dois efeitos, suspensivo e devolutivo. 6 CONRADO, Paulo César. Tutela de evidência em mandado de segurança afeta Direito Tributário. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2016-mai-25/paulo-conrado-tutela- evidencia-ms-afeta-direito-tributario. Acesso em: 30 de março de 2022. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário O efeito suspensivo evita a execução da sentença enquanto o recurso não for julgado, salvo as exceções estabelecidas no art. 1.012, § 1º e seus incisos, todavia o apelante poderá requerer a suspensão dessas exceções se comprovar que a produção dos efeitos dos mesmos apresente risco de dano grave ou de difícil reparação, conforme preceitua o § 4º do mesmo dispositivo. Por outro lado, o efeito devolutivo significa que a matéria é devolvida para julgamento pelo Tribunal, mesmo depois de proferida sentença, isto é, essa sentença será avaliada pela próxima instância. Dessa forma, tendo em vista o duplo efeito do recurso, salvo as exceções estipulas por lei, interposta a apelação os efeitos da sentença devem ser suspensos, voltando ao status antes de sua prolação. Sendo assim, entende-se que no caso em tela a apelação recebida nos efeitos suspensivo e devolutivo tem o condão de afastar os efeitos da sentença e reestabelecer os efeitos da liminar. Todavia, tal entendimento ainda é tido pela jurisprudência como caso excecional, assim como no exemplo do anexo VII, o qual o STJ “orienta pela possibilidade de ser concedido duplo efeito à apelação interposta em face de decisão que denegou a segurança – restabelecendo-se a liminar anteriormente deferida – quando presentes circunstâncias peculiares na espécie que autorizem a tomada dessa providência excepcional.” b) Há incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa, por força de liminar concedida em Mandado de Segurança posteriormente cassada por ocasião da sentença? E se a liminar foi concedida depois de vencido o prazo para pagamento do tributo? (vide anexos VIII e IX) Quando há a prolação de uma sentença, subentende-se que tal sentença substitui decisão anterior, mesmo que essa decisão tenha concedido liminar. Todavia, deve-se analisar os efeitos daquela liminar concedida, tendo como base o direito escrito e princípios constitucionais ou mesmo aqueles introduzidos por outras leis ou de forma doutrinária ou jurisprudencial. Nesse Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário arcabouço pode-se citar vários princípios para podermos estudar a questão em tela, moralidade, segurança jurídica, razoabilidade, irretroatividade, entre tantos outros. Importante destacar o art. 63, § 2º da Lei 9.430/96: Art. 63 § 2º A interposição da ação judicial favorecida com a medida liminar interrompe a incidência da multa de mora, desde a concessão da medida judicial, até 30 dias após a data da publicação da decisão judicial que considerar devido o tributo ou contribuição. Fazendo uma breve análise do dispositivo acima, tem-se uma compreensão que o contribuinte está resguardado quanto a aplicação de multa e juros moratório enquanto a liminar estive vigente até 30 dias após a publicação da decisão que julgar devido o tributo. Dessa forma, rápido o entendimento de que não há a incidência de multa e juros moratórios em relação ao período em que o crédito tributário esteve com sua exigibilidade suspensa por força de liminar concedida em Mandado de Segurança, mesmo que posteriormente cassada por ocasião da sentença. Inclusive esse é o entendimento do julgado trazido no anexo VIII, no qual a Segunda Turma do STJ explica que é certa a incidência dessa regra para afastar a cobrança nesses casos. Todavia, não é unânime o entendimento acima. A Primeira Turma do próprio STJ tem entendimento divergente, conforme traz o anexo IX, em que o colegiado evocam a Súmula 405 do STF “Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.” Entretanto, é de imenso absurdo a utilização dessa súmula em casos como discuto nesta questão. Isso, pelos princípios supracitados e pelo fato de que não pode o contribuinte arcar com tais encargos em momento que o Estado- juiz por meio da sua suspensão da exigibilidade o autorizou a ficar sem quitar o tributo naquele momento, isso não é mora. Ainda, vejamos que a questão traz duas situações. Mesmo na segunda situação entende-se que enquanto a liminar estiver vigente não deve incidir os Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário encargos discutidos, porém, após cassada a liminar devem retroagir somente no momento entre o vencimento do pagamento do tributo e o deferimento de concessão da liminar. Ademais, ressalto que a atualização monetária deve-se ocorrer em ambas as situações. 7. Antes de responder a esta pergunta aponte a distinção entre tutela antecipada e tutela cautelar tal como colocada na resposta à questão “5. a)”. Fixados esses conceitos, responda à seguinte pergunta: diante do novo cenário das tutelas provisórias do código de processo civil de 2015, a ordem judicial suspensiva da exigibilidade da obrigação tributária, tenha fundamento na urgência ou na evidência, assume natureza antecipada ou cautelar? Conforme exposto na questão “5”, a tutela antecipada e a tutela cautelar são tutelas provisórias que podem ser concedidas em caráter antecedente ou incidental, ou seja, podem ser concedidas tanto no início do processo quanto no decorrer do litígio. Todavia, se distinguem quanto a sua finalidade. Ao passo que a tutela antecipada tem natureza satisfativa, objetivando a antecipação dos efeitos que viriam somente ao final da ação, a tutela cautelar tem natureza conservativa, é garantir a eficácia da prestação jurisdicional, garantindo o resultado útil do processo. Rodrigo Dalla Pria7 ensina que a tutela provisória suspensiva da exigibilidade do crédito tributário trabalha diretamente na persuasão do ato de fala constitutivo do crédito tributário, mitigando-o de forma a obstar seus efeitos sobre a conduta do sujeito passivo. Entretanto, levando em consideração o aspecto técnico-processual, a questão que se coloca diz com a natureza processual (acautelatória ou antecipada) da tutela que emana eficácia suspensiva da exigibilidade do crédito tributário. 7 DALLA PRIA, Rodrigo. Direito Processual Tributário. São Paulo: Noeses, 2021, p. 232. Módulo Exigibilidade do Crédito Tributário Em relação ao tema, Dalla Pria8 traz importantes esclarecimentos sobre essa dúvida: A eficácia obstativa da cobrança emanada da tutela provisória tributária – materialmente traduzida pela expressão “suspensão da exigibilidade do crédito tributário” –, independentemente do momento do processo de concretização em que haja sido concedida, sempre consubstanciará efeito normativo secundário a ser produzido pelo provimento principal deduzido em ações antiexacionais preventivas e repressiva, o que equivale a dizer que sempre produzirão eficácia acautelatória. Dessa forma, com base nos ensinamentos do professor acima citado, a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, advinda de tutela provisória concedida, seja com fundamento na urgência ou na evidência, no âmbito de ações tributárias preventivas ou repressivas, nunca poderá ser qualificada como antecipatória do efeito central das respectivas tutelas principais pretendidas, declaratório negativo ou anulatório do débito fiscal. E com isso, naturalmente rechaça a possibilidade de aplicação do art.304 do CPC/15, dispositivo esse processual que dispõe a respeito da estabilização do efeitos emanados por pronunciamentos de cunho antecipatório. Porém, não é o caso, quando falamos da tutela provisória concedida em ação que tenha por objeto principal a realização de atos concretos do Fisco em face do contribuinte, como por exemplo, em que foi concedida em processo que tenha como matéria principal a emissão de certidão negativa ou em ação que determina a apreciação de pedidos de compensação. Nesses casos, Dalla Pria9 explica que “a implementação da tutela provisória se volta à concreta realização dos efeitos principais da tutela principal pretendida, o que nos leva à inexorável conclusão de que estamos a tratar de típicas tutelas antecipatórias.” 8 DALLA PRIA, Rodrigo. Direito Processual Tributário. São Paulo: Noeses, 2021, p. 233. 9 DALLA PRIA, Rodrigo. Direito Processual Tributário. São Paulo: Noeses, 2021, p. 233.
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