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Crise Convulsiva Febril

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Juliana Silva | Pediatria | 1
Crise Convulsiva Febril 
A crise convulsiva febril é um distúrbio convulsivo 
mais comum na infância e é definida como “uma 
crise epiléptica que ocorre entre 6 meses e 6 
anos de idade, associada a doença febril, não 
causada por uma infecção do sistema nervoso 
central (SNC), sendo excluídas as crianças que 
apresentaram crise neonatais ou crises não 
provocadas ou, que se encaixam nos critérios de 
outra crise sintomática aguda”. 
• Ocorre geralmente nas primeiras 6-8-10 horas 
da febre (mais comum) 
• Corresponde a um dos problemas neurológicos 
mais frequentes observados na população 
pediátrica. 
• A curta duração da febre antes da CF e a 
baixa temperatura são associadas a um 
aumento do risco de recorrência 
Acomete de 2 a 5% das crianças pequenas 
* Pelo menos uma crise convulsiva na vigência de 
febre nos primeiros cinco anos de vida. 
As crises pode ser simples (benignas) ou 
complexas. 
História familiar de crises febris em mães e pais. 
* Pelo menos 10 genes predisponentes mapeados 
Crise febril!
Crise convulsiva que ocorre na infância 
geralmente entre 5 meses e 5 anos de idade. 
Maioria tem curta duração! 
Dados!
• Se a crise tiver cessado com < 15 minutos em 
consequência direta do tratamento com 
anticonvulsivante, deve-se presumir que ela foi 
complexa. 
• As crises febris complexas representam 20 a 
30% do total 
• 80% das crises febris são simples 
• Se ocorrer após 72 horas da febre se deve 
suspeitar de outra etiologia 
• Na maioria das vezes quando a criança chega 
no hospital já acabou a crise 
• As crises febris complexas representam 20 a 
30% do total 
Deve-se avaliar os sinais vitais, se ela se 
recuperou bem. Também deve-se pesquisar os 
sinais meníngeos. 
* De 100 crianças com idade < 2 anos com 
quadro de febre alta, a maioria é de causa 
infecciosa. 
É uma convulsão de caráter benigno 
- não causa sequelas e não leva a 
morte. São autolimitadas.
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Crise Febril Simples!
• Manifestações tônico clônica generalizada 
• Duração da crise de até 15 minutos 
• Crise tônico-clônica generalizada desde o início 
• É a crise que assusta (criança revira o olho, 
relaxa esfíncteres, se revira..) 
• Incomum recorrerem. Em menos de 14 horas. 
• Idade entre 6 a 60 meses 
• Uma única crise em 24 horas 
• A criança não tem epilepsia 
• Consciência e comportamento recuperados 
após um período pós-ictal breve 
• A causa da febre não é uma doença aguda do 
sistema nervoso central 
• São generalizadas - ocorrem no corpo todo. 
Nas crianças pequenas pode ter hemiparesia 
Crise tônico clônica generalizada: é uma 
junção de fatores. 
* C o n t r a ç õ e s m u s c u l a r e s v i o l e n t a s 
acompanhadas de perda de consciência, 
cianose, liberação de esfíncteres, desvio de 
olhar fixo, movimentos mastigatórios 
* No pós crise evolui com sonolência e confusão 
mental 
* Recuperação tem tempo relativamente curto 
ao estado normal 
Crise Febril Complexa!
É definida por uma ou mais das seguintes 
características: crises focais; crises seguidas de 
alterações neurológicas pós-ictais, como a 
Paralisia de Todd; duração superior a 15 minutos; 
e, recorrência em menos de 24 horas 
As manifestações podem ser tônico clônicas 
generalizadas, focais ou parciais. 
* Focal: um olho piscando, um dedo mexendo 
* Parcial: uma parte do corpo (exemplo: hemilado) 
• 80% das crises febris são simples (isso é bom, 
curta duração exceto pelo pânico). 
• Ocorrem nas primeiras 24 horas de febre 
• Se ocorrer após 72 horas da febre -> 
suspeitar de outra etiologia (principalmente no 
SNC) 
O estado de mal epiléptico febril é uma CF com 
duração acima de 30 minutos, podendo se 
caracterizar por uma única crise prolongada, ou 
então, crises subentrantes, ou seja, crises 
recorrentes entre as quais não há recuperação 
completa do nível de consciência. 
Etiologia e Prevalência!
A etiologia da CF é multifatorial, associando 
fatores ambientais e genéticos, determinando 
suscetibilidade de ocorrência de CFs. 
• Vulnerabilidade do SNC em desenvolvimento aos 
efeitos da febre 
• Predisposição genética entre 5 meses - 5 anos 
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* < 5 meses e > 5 anos não consideramos 
uma crise febril 
* Predisposição genética -> é comum história 
de pais ou irmãos mais velhos 
Fatores de risco!
• 80% dos casos são causados por infecções 
virais 
• Infecções bacterianas 
• Reação vacinal 
• História familiar 
• Epilepsia 
Conduta!
A conduta inicial é baseada no controle da crise. 
CONTROLE DA CRISE: 
Temos que tirar da crise (medicações anti 
convulsivantes) 
* Posicionar o paciente de maneira adequada e 
conter ele 
* Diazepam de 0,1 a 0,3 mg/Kg/dose - 
medicação de escolha 
* Midazolam de 0,1 a 0,2 mg/Kg/dose - 
depressão respiratória com mais intensidade 
* Pode fazer até 3 doses 
* Tranquilidade e paciência (as vezes não 
conseguimos tirar da crise na 1ª dose, deve 
ser infundida IV e lentamente 
- Infusão muito rápida pode levar a 
depressão respiratória (cuidado) 
- Após a infusão pode esperar até 15 
minutos para repetir a outra dose 
* Segunda escolha (se após todas as medicações 
a criança continuar convulsionando) - 
fenobarbital sódico ou fenitoína 
- Obrigatoriamente EV 
- Fenobarbital sódico só pode ser feito EV 
- Medicações de resgate com efeito 
prolongado de 24 horas 
* Se não conseguir acesso venoso = administrar 
via retal 
- Diazepam e Midazolam 
* Suporte de oxigênio (devido a cianose). 
Conduta após o controle da crise: 
História completa: 
* Estado da criança 
* Tempo de febre (muitos dias de febre = 
buscar outras causas) 
* Alteração de comportamento 
* Caso anterior 
• Deve-se fazer avaliação clínica detalhada 
Diagnóstico!
O diagnóstico de CF é de muito importante, pois 
diversas etiologias podem estar envolvidas. 
Na maior parte das vezes o diagnóstico é clínico e 
se trata de uma crise generalizada, ou seja, com 
perda de consciência, podendo ter apresentação 
tônico-clônica, tônico ou atônica. 
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Exames 
Exames laboratoriais: hemograma, PCR, urina 
I, eletrolíticos.. 
Raio x de tórax: pneumonia.. 
Punção Lombar: 
A British Pediatric Association propõe que a 
punção lombar seja realizada em toda criança 
com: 
* Primeira crise febril complexa 
* Sinais meníngeos 
* Alteração do estado mental (sonolência, 
irritabilidade) 
OU 
* Toxemia (doença sistêmica 
Indicações adicionais: 
* Uso recente de antibióticos orais 
* Idade inferior a 12 meses com imunização 
incompleta 
* Idade ≤ 18 meses: se a punção lombar não for 
realizada, observação por 24 horas 
* Presença de sinais meníngeos 
Eletroencefalograma: 
* Sem valor diagnóstico ou prognóstico. 
* Não precisa fazer, pois não existem evidências 
que demonstrem que EEG anormais após uma 
primeira crise febril sejam predicativos de 
risco de recorrência ou desenvolvimento 
subsequente de epilepsia. 
TC DE CRÂNIO: 
* Sem contribuição para o diagnóstico 
* Não precisa fazer 
Na criança com crise febril simples: 
Não há necessidade de solicitar exames de sangue 
(hemograma, bioquímica), eletroencefalograma ou 
exames de neuroimagem 
Na criança com crise febril complexa: 
Além da punção lombar, os exames de sangue 
(hemograma, bioquímica), eletroencefalograma e 
exames de neuroimagem podem ser necessários 
para esclarecer a etiologia da crise e orientar o 
tamanho. O grande medo da convulsão é que 
seja de causa do SNC. 
Por exemplo: meningite.
Quais são os sinais que podem chamar 
a atenção por uma meningite? 
Abaulamento de fontalena (principal 
menor que 1 ano) 
De resto é difícil diferenciar. 
Deve-se avaliar se a criança de 2 anos com 
quadro de febre alta e com convulsões tomou 
as vacinas da meningite, do haemophilus, 
pneumococo 10. Se tiver tomado, exclui-se a 
hipótese de meningite.
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Epilepsias associadas a 
crises febris!
GEFS+: 
• Epilepsia generalizada com crises febris plus 
• Síndrome autossômica dominante• Associada a mutações em 3 genes: SCN1A, 
SCN1B e GABGR2 
• As crises febris podem surgir somente após 5 
anos de idade, mas são sucedidas por crises 
afebris que remitem antes do final da infância 
SÍNDROME DE DRAVET: 
• Epilepsia mioclônica grave da lactância 
• Frequentemente se manifesta nos primeiros 
dois anos de vida com crises febris, que 
tendem a ser complexas e envolver um dimidio 
corporal 
• No 2º ano de vida, surgem mioclonias e perda 
cognitiva 
• Associada a mutações esporádicas no gene 
SCN1A (canal de sódio) 
Esclerose mesial temporal: 
• Causa uma forma de epilepsia do lobo temporal 
de difícil tratamento 
• Inicio aos 4-16 anos de idade 
• A associação as crises febris é controversa 
(estudo FEBSTAT -> anormalidades hipocampais 
em 11,5%) 
• O tratamento pode incluir cirurgia (lobectomia 
temporal) 
Quando se deve internar 
a criança?!
Na 1º crise febril: 
• Crianças > 18 meses: 
Crise febril simples -> não é necessário 
internar 
Crise febril complexa -> internar 
• Crianças < 18 meses: 
Crise febril simples -> sem punção lombar, 
observar por 24 horas 
Crise febril complexa -> internar 
Nas crises febris subsequentes: 
• Não internar, mas ter em mente que a crise 
atual pode advir de uma doença do SNC 
Risco de recorrência!
• Taxa de recorrência geral = 30% 
• Alguns fatores de risco elevam a taxa: 
* 1º crise antes de 1 ano de idade 
* Febre baixa (T ax < 38,5ºC) 
* Crise com febre há < 24 horas 
* História familiar de crises febris 
* Crise febril complexa 
✔ Apenas de 2 a 7% das crianças que tiveram 
crise febril terão epilepsia no futuro. 
* História familiar de epilepsia 
* Crises febris complexas 
* Desenvolvimento neurológico anormal 
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Tratamento!
✔ Frisar e tranquilizar os pais de que é um 
evento benigno apesar de assustador pela 
família 
✔ Informar os familiare sobre: 
* Baixo risco de recorrência (não quer dizer 
que sempre que ele tiver febre ele vai 
convulsionar) 
* Natureza benigna do evento 
* Manejo da crise (caso se repita em casa, 
explicar os pais maneiras de proteger a 
criança) 
✔ Terapia antipirética não previne recorrência 
da crise febril 
✔ O principal tratamento é tranquilizar a família! 
✔ As crianças com crises febris simples não 
necessitam de tratamento anticonvulsivante, 
independentemente do número de crises 
febris, salvo exceções. 
✔ No entanto, se a criança chegar no pronto-
socorro tendo uma crise febril, deve-se 
instituir o tratamento com anticonvulsivantes 
✔ Na criança com crise febril complexa, temos 
várias opções: 
* Dependendo das características da crise, 
apenas orientação dos pais 
* Uso contínuo de fenobarbital ou ácido 
valproico -> atualmente desfavorecido 
Opções adicionais para a criança com crise febril 
complexa: 
• Uso intermitente de diazepam, clobazam ou 
nitrazepam oral -> reduz o risco de 
recorrência, mas não o elimina 
• Tratamento agressivo da febre -> não previne 
a recorrência de crises febris. 
Esquema de diazepam oral intermitente: 
• A criança começa a tomar a medicação tão 
logo se detecte a febre (T ax ≥ 37,5ºC) 
• Dose: 0,33 mg/Kg por vira oral a cada 8 
horas, até febril por 24 horas 
• Efeitos colaterais: letargia, ataxia, irritabilidade 
Esquema de diazepam retal intermitente: 
• Indicado quando a crise febril se prolonga por 
mais de 5 minutos 
• Dose: 0,5 mg/kg por via retal, se necessário 
repetida 2 vezes a intervalares de 15 a 30 
minutos 
• Efeitos colaterais: letargia, ataxia, irritabilidade, 
parada cardiorrespiratória 
• Opção: midazolam intranasal 
Se a crise febril estiver ocorrendo há mais de. 
Minutos, deve-se instituir o tratamento: 
• Equipamento de reanimação à mão 
• Usar doses de ataque plenas 
• Idade < 12 meses: fenobarbital 
• > 12 meses: diazepam + fenitoína 
• Verificar níveis séricos 
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✔ O pediatra deve instruir os pais sobre como 
agir na eventualidade de uma segunda crise 
✔ Ressaltar que a ocorrência de crises febris 
não significa que a criança tenha epilepsia 
✔ É importante abordar o risco de recorrência a 
luz dos fatores de risco do paciente 
✔ Pode-se fornecer por escrito uma lista 
sucinta de instruções para a família ter em 
casa e levar a escola 
Informações essenciais aos pais: 
• Manter a criança em decúbito lateral direito, 
para evitar a aspiração da saliva/vômitos 
• Não tentar segurar a língua e nem abrir a boca 
da criança 
• Não fornecer líquidos nem medicamentos pela 
boca 
• Registrar a duração e as características da 
crise 
• Levar a criança ao pronto socorro se a crise 
for > 5 minutos, crise focal, crises 
recorrentes, alteração persistente da 
consciência 
• Não agasalhar a criança 
• Proteger a criança durante a crise, mas nao 
restringir seus movimentos 
• Afrouxas as roupas que estiverem apertadas 
• Não se deve tentar respirar boca a boca ou 
massagem cardíaca em casa 
• Controle rigoroso e precoce da febre com uso 
de antitérmicos e/ou meios físicos 
Prognóstico!
• Quando a crise ocorre em crianças < 12 
meses, ela tem 50% de chance de nova crise 
no 1º ano de idade 
• Acima de 1 ano de idade = 30% de chance a 
mais de ter uma nova crise 
• 3% das crianças com crise febril tem risco de 
epilepsia 
Há um risco aumentado de desenvolver epilepsia 
se houver convulsão febri l complexa, 
anormalidade neurológica prévia ou história 
familiar de distúrbio convulsivo!
O risco de convulsão febril recorrente aumenta 
se houver história familiar positiva ou as 
convulsões ocorrem com idade menor de 1 ano 
e/ou com temperatura corporal < 40 graus.
	Exames

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