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CANCER COLO DE ÚTERO: PREVENÇÃO, RASTREIO E DETECÇÃO PRECOCE O câncer do colo do útero, também chamado de câncer cervical, é causado pela infecção persistente por alguns tipos do Papiloma vírus humano (HPV) (chamados de tipos oncogênicos) (INCA, 2019). A infecção genital pelo HPV é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes. Entretanto, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer. Essas alterações são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolaou) e são curáveis na quase totalidade dos casos. Sabe-se que o câncer de colo uterino é a quarta forma de neoplasia mais frequente no mundo na população feminina. No Brasil, ele ocupa o terceiro lugar, sendo responsável pela morte de 6.385 mulheres em 2017, assumindo a quarta posição no número de mortes ocasionadas por câncer em pessoas do sexo feminino (INCA, 2019). O número de casos novos de câncer do colo do útero esperados para o Brasil, para cada ano do triênio 2020-2022, será de 16.590, com um risco estimado de 15,43 casos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer do colo do útero é o segundo mais incidente nas Regiões: Norte (21,20/100 mil), Nordeste (17,62/100 mil) Centro-Oeste (15,92/100 mil). Sul (17,48/100 mil), ocupa a quarta posição Região Sudeste (12,01/100 mil), a quinta posição. INCIDÊNCIA – Em todo o Brasil, é esperada, anualmente, uma incidência de 16.370 casos novos da doença. Em termos de mortalidade, no Brasil, em 2017, ocorreram 6.385 óbitos, e a taxa de mortalidade bruta por câncer do colo do útero foi de 6,17/100 mil Outros fatores que aumentam o risco de desenvolver esse tipo de câncer são: início precoce da atividade sexual e múltiplos parceiros; tabagismo (a doença está diretamente relacionada à quantidade de cigarros fumados); e uso prolongado de pílulas anticoncepcionais O câncer de colo uterino tem cura e é facilmente prevenível. Pode ser evitado tanto com o uso de preservativos quanto pelas vacinas, que estão disponíveis na rede pública de saúde para meninas e meninos. Desenvolvimento do câncer do colo do útero O câncer do colo do útero inicia-se a partir de uma lesão precursora, curável na quase totalidade dos casos. Trata-se de anormalidades epiteliais conhecidas como neoplasias intraepiteliais cervicais de graus II e III (NIC II/III), além do adenocarcinoma in situ (AIS). Apesar de muitas dessas lesões poderem regredir espontaneamente, sua probabilidade de progressão é maior, justificando seu tratamento. As mulheres que desenvolvem infecção persistente por HPV do tipo 16 têm cerca de 5% de risco de desenvolverem NIC III ou lesão mais grave em três anos e 20% de risco em dez anos. Quando a infecção persistente for por outros tipos de HPV oncogênico, esse risco reduz pela metade. Já a NIC I, por ter maior probabilidade de regressão ou persistência do que de progressão, não é considerada uma lesão precursora do câncer do colo do útero Quando a OMS estabeleceu as recomendações que deram origem às normas brasileiras, um estudo publicado um ano antes havia demonstrado que a proteção conferida por um exame prévio negativo era de 58% e de 80% se dois exames fossem negativos. Essas informações serviram de base para estabelecer controles trienais após dois exames negativos com intervalo de um ano. Estudos mais recentes reforçaram estas informações Os resultados e as correspondentes condutas sobre como interpretar o resultado e como proceder em cada caso estão descritos na Nomenclatura Brasileira para Laudos Cervicais e Condutas Preconizadas. NOMENCLATURA BRASILEIRA PARA LAUDOS CERVICAIS E CONDUTAS PRECONIZADAS Recomendações para profissionais de saúde Classificação citológica de Papanicolaou (1941) Classificação histológica da OMS (1952) Classificação histológica de Richart (1967) Classificação Citológica Brasileira (2006) Classe I - - Classe II - - Alterações benignas - - - Atipias de significado indeterminado Classe III Displasia leve NIC I Lesão intraepitelial escamosa de baixo grau (LSIL) Displasia moderada e acentuada NIC II e NIC III Lesão intraepitelial escamosa de alto grau (HSIL) Classe IV HSIL / AIS Classe V Carcinoma invasor Carcinoma invasor Carcinoma invasor Faixa etária para o rastreamento do câncer de colo de útero e das lesões precursoras Recomendações para a coleta de exame citopatológico, de acordo com faixa etária e quadro clínico da usuária. Idade Início: 25 anos para mulheres que já tiveram atividade sexual a até 64 anos para mulheres com ao menos dois exames negativos consecutivos nos últimos 5 anos. Intervalo entre os exames Após dois exames negativos com intervalos anuais, o exame deverá ser feito a cada 3 anos. Mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame citopatológico: realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais. Para que seja conferida a cobertura do rastreamento da população definida como alvo e sua efetividade, é necessário que haja uma taxa de cobertura de, no mínimo, 80% da população. Isso pode interferir diretamente na mortalidade por câncer de colo do útero, reduzindo pela metade a ocorrência de óbito por esta causa. Adequabilidade da amostra Na atual nomenclatura citológica brasileira, a adequabilidade da amostra é definida como satisfatória ou insatisfatória. Amostra insatisfatória para avaliação É considerada insatisfatória a amostra cuja leitura esteja prejudicada pelas razões expostas abaixo, algumas de natureza técnica e outras de amostragem celular, podendo ser assim classificada (SHIRATA et al, 1998): 1. Material acelular ou hipocelular (menos de 10% do esfregaço). 2. Leitura prejudicada (mais de 75% do esfregaço) por presença de: sangue, piócitos, artefatos de dessecamento, contaminantes externos ou intensa superposição celular. Recomendação: a mulher deve repetir o exame entre seis e 12 semanas com correção, quando possível, do problema que motivou o resultado insatisfatório. Amostra satisfatória para avaliação Designa amostra que apresente células em quantidade representativa, bem distribuídas, fixadas e coradas, de tal modo que sua observação permita uma conclusão diagnóstica. Células presentes na amostra Podem estar presentes células representativas dos epitélios do colo do útero: • Células escamosas. • Células glandulares (não inclui o epitélio endometrial). • Células metaplásicas. Embora a indicação dos epitélios representados na amostra seja informação obrigatória nos laudos citopatológicos, seu significado deixa de pertencer à esfera de responsabilidade dos profissionais que realizam a leitura do exame. As células glandulares podem ter origem em outros órgãos que não o colo do útero, o que nem sempre é identificável no exame citopatológico. A presença de células metaplásicas ou células endocervicais, representativas da junção escamocolunar (JEC), tem sido considerada como indicador da qualidade da coleta, pelo fato de essa coleta objetivar a obtenção de elementos celulares representativos do local onde se situa a quase totalidade dos cânceres do colo do útero. Uma metanálise de estudos que abordaram a eficácia de diversos dispositivos de coleta mostrou que o uso da espátula de Ayre e da escova de canal aumenta em cerca de três vezes a chance de obtenção de células endocervicais (MARTIN-HIRSCH et al, 2000). Estudo realizado no Brasil, entre 1992 e 1996, mostrou que a detecção de NIC foi cerca de dez vezes maior no grupo em que as células da JEC estavam representadas (SHIRATA et al, 1998). É muito oportuno que os profissionais de saúde atentem para a representatividade da JEC nos esfregaços cervicovaginais, sob pena de não propiciar àmulher todos os benefícios da prevenção do câncer do colo do útero. Recomendação: esfregaços normais somente com células escamosas devem ser repetidos com intervalo de um ano, e, com dois exames normais anuais consecutivos, o intervalo poderá ser de três anos (B). Para garantir boa representação celular do epitélio do colo do útero, o exame citopatológico deve conter amostra do canal cervical, preferencialmente, coletada com escova apropriada, e da ectocérvice, coletada com espátula tipo ponta longa (espátula de Ayre) (A). ATRIBUIÇÕES DO ENFERMEIRO DURANTE O RASTREAMENTO DE CÂNCER DE COLO DE ÚTERO (NA ASSISTÊNCIA, NOS GRUPOS EDUCATIVOS E EM DOMICÍLIO): Realizar consulta de enfermagem e registrar sistematicamente os dados coletados; Solicitar exames de acordo com os protocolos e diretrizes do Ministério da Saúde/Inca; Avaliar resultados dos exames solicitados e coletados, e de acordo com os protocolos e diretrizes clínicas; Prescrever tratamento para outras doenças detectadas, conforme protocolo de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) ou normas técnicas estabelecidas em protocolos; Realizar cuidado paliativo, na Unidade Básica de Saúde ou no domicílio, de acordo com as necessidades da usuária; Estimular ações de prevenção dos fatores de risco, encorajando a prática de sexo seguro por meio de abordagem da prevenção combinada (múltiplos parceiros aumentam o risco da doença); Monitorar as coberturas de vacinação contra o HPV na faixa etária preconizada pelo Ministério da Saúde; Incentivar hábitos de vida saudáveis, como alimentação adequada, abandono do uso de álcool, tabagismo (a doença está diretamente relacionada ao número de cigarros fumados) e outras drogas, e prática de exercícios físicos regulares; Contribuir, realizar e participar das atividades de educação permanente para todos os membros da equipe; Supervisionar (planejar, coordenar, executar e avaliar) a assistência de enfermagem no preparo e esterilização de materiais para assistência à mulher; Participar do gerenciamento dos insumos necessários para a realização da coleta de material para exame do rastreamento do câncer de colo; Realizar a coleta do exame citopatológico do colo pelo método de Papanicolaou, atividade privativa do enfermeiro; Monitorar população feminina na faixa etária para rastreamento no território; Acompanhar fluxos com os laboratórios de referência atentando-se para o prazo dos laudos, a necessidade de recoleta, a inserção nos sistemas de produção e acompanhamento (SISCOLO ou SISCAN); Supervisionar equipe na busca de casos avaliados de risco que não comparecerem à Unidade Realizar visita domiciliar a usuária quando necessário. Realizar cuidado norteado por um plano assistencial elaborado pelo enfermeiro na Unidade de Saúde ou no domicílio, de acordo com as necessidades da usuária; Participar do gerenciamento dos insumos necessários para a adequada realização do exame citopatológico; Contribuir, participar e realizar atividades de educação em saúde; Auxiliar no encaminhamento dos exames (logística da unidade). CONSULTA DE ENFERMAGEM O enfermeiro tem um papel singular no processo de promoção à saúde, prevenção e acompanhamento do câncer de colo uterino, sendo a consulta de enfermagem uma ferramenta importante para adesão a acompanhamento à saúde da mulher. É necessário que as barreiras entre as mulheres pertencentes às populações vulneráveis como as em situação de rua, privadas de liberdade, população lésbica, gays, bissexuais, travestis, transexuais ou transgêneros, queers e intersex (LGBTQI+), dentre outras, sejam minimizadas, para que elas tenham um acolhimento integral e resolutivo levando em conta suas particularidades Desta forma, a equipe de enfermagem tem papel fundamental neste atendimento. ANAMNESE: ENTREVISTA Na entrevista focada, devemos coletar os dados pessoais, como o nome completo ou nome social, idade, peso, altura, raça/cor, escolaridade, estado civil e ocupação atual. Com relação aos antecedentes pessoais, se possui alguma doença crônica, ou se já teve algum tipo de câncer, se já fez alguma cirurgia, se faz uso de algum medicamento de uso contínuo, se possui alergias, se a situação vacinal está atualizada, os antecedentes ginecológicos, idade da menarca, idade da primeira relação sexual, se já teve alguma IST, data da última menstruação, tipo de fluxo, regular ou não, se utiliza algum método contraceptivo, orientação sexual, se tem vida sexual ativa, o tipo de parceria sexual, o número de parceiros nos últimos 12 meses, avaliar se a usuária se encaixa em algum quadro de vulnerabilidade, seja ela por violência psicológica, econômica, física, sexual, emocional, abandono familiar ou do parceiro, se vive em situação de rua, se faz uso de algum tipo de substância química como álcool, drogas ilícitas, tabagismo, qual a queixa dela naquele momento e qual a duração, os antecedentes obstétricos, e familiares. Exame físico específico: O exame físico deve focar na investigação de sinais e sintomas que possam ser detectados e tratados precocemente, na própria unidade ou através de encaminhamento a serviços de referência Exame específico para rastreamento do câncer do colo do útero Exame das mamas: inspeção e palpação, seguindo procedimentos descritos no RASTREAMENTO DE CÂNCER DE MAMA; Exame do abdome: inspeção e palpação em busca de sinais de peritonite, massas abdominais, sinais dolorosos; Exame da genitália externa: inspeção da distribuição dos pelos pubianos, grandes lábios, monte pubiano e períneo; com as mãos enluvadas, separar os grandes lábios e inspecionar clitóris, meato uretral e abertura vaginal, observando cor da pele, se há ulcerações, nódulos labiais, secreção, prolapso uterino. Observar a área das glândulas de skene (estão localizadas adjacentes à uretra distal, com função de secreção mucoide para lubrificação do meato uretral – vide infográfico na sequência); Exame vaginal e de colo uterino: observar características do colo e parede vaginal, presença de secreção ou lesões, conforme descrição na técnica de coleta de exame citopatológico; Toque vaginal bi manual: não deve ser realizado rotineiramente pelo enfermeiro, tendo sua execução restrita quando houver suspeita de doença inflamatória pélvica (DIP), sangramentos disfuncionais, presença de massas ou alterações detectadas à palpação de abdome. Quando recomendado, deve ser realizado após exame especular. Deve-se afastar lábios maiores e menores, introduzindo os dedos médio e indicador no canal vaginal, explorando as paredes vaginais, cérvice e fundo de saco, pesquisando alterações e tumorações. A outra mão é posicionada sobre o baixo ventre da mulher, realizando leve compressão, a fim de delimitar útero para posterior descrição de sua forma, tamanho, posicionamento, consistência e mobilidade. A dor à mobilização do útero pode ser sugestiva de DIP ou endometrite/pelviperitonite; Por fim, avaliar os tônus e a capacidade contrátil da musculatura do assoalho pélvico. EXAME CITOPATOLÓGICO DO COLO UTERINO As lesões precursoras do câncer do colo do útero são assintomáticas e podem ser detectadas através da realização periódica do exame citopatológico, principal estratégia de rastreamento utilizada no Brasil, e confirmadas pela colposcopia e exame histopatológico. O exame citopatológico é composto pela citologia cervical associado a outras técnicas, tais como: exame clínico especular, inspeção visual com ácido acético (IVA) e teste de Schiller. Além disso, faz-se necessário que sejam acrescidos a esses exames outros testes complementares para aumentar a precisão do diagnóstico das lesões apresentadas pelas usuárias, tais como: colposcopia, cervicografia digital, citologia em meio líquido (CML) e teste do DNA do HPV. Tal fato se justifica pela baixa sensibilidade que a citologia oncótica possui, quando executada de formaisolada, chegando a apresentar 58% de amostras falso-positivo. Além disso, este exame é dependente do processamento clínico-laboratorial, que envolve a coleta inadequada, preparação defeituosa da lâmina ou em erros de rastreio microscópico e variação na interpretação das amostras coletadas pelos patologistas, que prejudicam as ações de rastreamento na população Inspeção visual com ácido acético (IVA) é um exame de diagnóstico que consiste na embrocação de todo colo e vagina com um chumaço de algodão embebido em solução de ácido acético a 5%. Após um minuto e com o auxílio de foco clínico comum direcionado para a abertura do espéculo, todo o colo deve ser inspecionado em busca de lesões acetorreati-vas. O teste IVA é categorizado como positivo quando do aparecimento de qualquer lesão aceto-branca, opaca ou brilhante, plana ou sobrelevada, de aspecto verrucoso ou não, no colo. É considerado negativo se o colo permanece com sua coloração normal (rósea, lisa e uniforme) após aplicação da solução. O teste de Schiller é um exame de diagnóstico que consiste na aplicação de uma solução com iodo, o Lugol, na região interna da vagina e no colo do útero e tem como objetivo verificar a integridade das células dessa região. Quando a solução reage com as células presentes na vagina e no colo do útero e ficam marrons, diz-se que o resultado está normal, no entanto quando não consegue colorir uma área específica, é sinal de que há alteração, sendo necessária a realização de exames mais específicos. Normalmente, o teste de Schiller é realizado durante a colposcopia, sendo, por isso, indicado para mulheres sexualmente ativas ou que tiveram resultados alterados no exame preventivo, o Papanicolau. Cuidados iniciais: atentar para o tamanho do espéculo (considerar: mulheres sem práticas sexuais introdutivas, pós quimioterapia local) ETAPAS DA CONSULTA GINECOLÓGICA: A COLETA DE EXAME CITOPATOLÓGICO 1º - Preparar o ambiente e material para o exame de prevenção Organizar o ambiente e checar o material necessário: Mesa ginecológica, escada de dois degraus, mesa auxiliar, banqueta, foco de luz com cabo flexível, biombo, cesto de lixo, espéculos de tamanhos variados, lâminas de vidro com extremidade fosca, frasco porta-lâmina contendo álcool a 96%, espátula de Ayre, escova Campos da Paz (endocervical), pinça de Sharon, algodão, gaze, avental para a paciente, lençóis (preferência que sejam descartáveis), luvas de procedimento, óculos de proteção e máscara cirúrgica. Caso fizer parte do planejamento inspeção visual com ácido acético (IVA) e teste de Schiller, juntar ao material ácido acético a 5%, lugol. Espátula de Ayre, escova endocervical, lâmina e meio úmido Espéculos de vários tamanhos 2º - Realizar as etapas necessárias que antecedem a coleta • Lavar as mãos antes do atendimento; • Chamar a usuária pelo nome, confirmar dados pessoais, orientar sobre os procedimentos que serão realizados; • Orientar a mulher (na padronização, orientamos não usar o termo paciente, pois indica subserviência sobre o procedimento). • Esclarecer dúvidas e reduzir a ansiedade e medo; • Preencher os dados no formulário de requisição do exame citopatológico durante a consulta de enfermagem; • Descrição do histórico familiar, histórico ginecológico e histórico obstétrico; • Identificar a lâmina na parte fosca com lápis (iniciais do nome da mulher, nº do prontuário e data da coleta); • Solicitar à mulher que esvazie a bexiga e vista o avental com abertura para frente; • Orientar para que ela sente na beira da mesa ginecológica, fique relaxada; • Realizar o exame clínico das mamas – vide rastreamento câncer de mamas REVISÃO ANATÔMICA 3º - Realizar a coleta do exame citopatológico • Colocar a mulher na posição litotômica (decúbito dorsal, com a cabeça e os ombros ligeiramente elevados, coxas bem flexionadas sobre o abdome, afastadas uma da outra e as pernas sobre as coxas) na mesa ginecológica, o mais confortável possível; • Cobrir parcialmente o abdome e os membros inferiores da paciente com um lençol; • Posicionar o foco de luz; • Calçar as luvas, pôr os óculos de proteção, a máscara e se posicionar de modo que permita uma adequada visualização; • Realizar a inspeção da genitália externa (vulva, períneo e monte púbico ou de Vênus). • Separar os grandes lábios e observar: • Clitóris: tamanho e forma • Meato uretral: presença de secreção. • Grandes e pequenos lábios: simetria, coloração, integridade do tecido, presença de secreção. • Introito vaginal: Em mulheres que não tiveram relações sexuais, está recoberto pelo hímen; e em mulheres que já tiveram relações sexuais, encontra-se entreaberto. Obs.: Neste introito vaginal podem ser observadas anormalidades ou ter: • Colpocele anterior: protusão da parede anterior vaginal, sugestiva de deslocamento de bexiga (cistocele); • Colpocele posterior: protusão da parede posterior vaginal, sugestiva de deslocamento do reto (retocele) • Colpocele anterior e posterior. • Condições do períneo: integridade, lacerações, cicatrizes de parto ou cicatrizes. 4º - Realizar a inspeção visual do colo uterino • Avisar a mulher que irá introduzir o espéculo; • Existem vários tamanhos de espéculos (pequeno, médio e grande e o espéculo de virgem); • Abrir o espéculo (rotação da borboleta no sentido da paciente) procurando individualizar o colo. • Introduzir o espéculo; • Expor o introito vaginal afastando as formações labiais com dois dedos da mão esquerda; • Introduzir, com a mão direita, o espéculo suavemente na vagina no sentido longitudinal-oblíquo (oblíquo), tomando cuidado com o meato urinário, girando para o sentido transversal. ATENÇÃO! Não se deve lubricar. • A borboleta do espéculo deve estar posicionada • Observar o canal vaginal e o colo uterino. 5º - Realização das coletas Coleta Ectocervical Encaixar a ponta mais longa da espátula de Ayres no canal endocervical, apoiando-a firmemente. Fazer rotação completa (360º) para a coleta de células da ectocérvice pela raspagem com a parte côncava da espátula. Dispor o esfregaço de maneira uniforme, com fina espessura no sentido transversal, na metade superior da lâmina, no lado onde fica a região fosca. Desprezar a espátula. Coleta Endocervical Inserir a escova Campos da Paz por completo na endocérvice e fazer movimento giratório de 360º. Dispor o material no sentido longitudinal da lâmina da metade para o final, fazendo movimento giratório da escovinha, especialmente da ponta da escova. Depois desprezá-la. • Armazenar a lâmina do frasco porta-lâmina com álcool a 96%; 6º - Realizar a finalização do exame preventivo • Avisar que o exame terminou e que irá retirar o espéculo; • Fechar cuidadosamente o espéculo evitando pinçar o colo, retirando delicadamente, inclinando levemente para cima; • Desprezar o espéculo em local adequado; • Retirar as luvas e lavar as mãos; • Auxiliar a mulher a descer da mesa ginecológica orientando a troca de roupa; • Explicar os achados visuais do exame e orientar as condutas necessárias; • Enfatizar a data do retorno para o recebimento do resultado do exame. 1. Enfatizar a importância do retorno para o resultado e se possível agendar conforme rotina da unidade básica de saúde. Pontua-se a recomendação de que, no máximo em 30 dias, o resultado do exame citopatológico seja liberado pelo laboratório. 2. As lâminas devem ser enviadas para o laboratório o mais breve possível, devidamente acondicionadas e acompanhadas dos formulários de requisição. Não foram encontrados, na literatura, estudos referentes ao tempo máximo entre a coleta da amostra e a chegada ao laboratório capaz de preservar os detalhes citológicos da célula. Se a amostra for fixada com álcool,poderá permanecer na solução durante alguns dias ou mesmo semanas. Esfregaços que forem fixados com fixador de cobertura devem chegar ao Laboratório de Citopatologia no máximo em 15 dias. RECOMENDAÇÕES DA COLETA DO EXAME CITOPATOLÓGICO DO COLO DO ÚTERO DIANTE DAS ESPECIFICIDADES DAS MULHERES Situações especiais --> gestantes têm o mesmo risco que não gestantes de apresentarem câncer do colo do útero ou seus precursores. O achado destas lesões durante o ciclo grávido puerperal reflete a oportunidade do rastreio durante o pré-natal. Apesar de a junção escamocolunar no ciclo gravídico-puerperal encontrar-se exteriorizada na ectocérvice na maioria das vezes, o que dispensaria a coleta endocervical, a coleta de espécime endocervical não parece aumentar o risco sobre a gestação quando utilizada uma técnica adequada (HUNTER; MONK; TEWARI, 2008). Recomendação: o rastreamento em gestantes deve seguir as recomendações de periodicidade e faixa etária como para as demais mulheres, sendo que a procura ao serviço de saúde para realização de pré-natal deve sempre ser considerada uma oportunidade para o rastreio (A). Pós-menopausa --> Mulheres na pós-menopausa, sem história de diagnóstico ou tratamento de lesões precursoras do câncer do colo uterino, apresentam baixo risco para desenvolvimento de câncer (SASIENI; CASTAÑON; CUZICK, 2006, 2010). O rastreamento citológico em mulheres na menopausa pode levar a resultados falso-positivos causados pela atrofia secundária ao hipoestrogenismo, gerando ansiedade na paciente e procedimentos diagnósticos desnecessários. Mulheres no climatério devem ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais mulheres; e, em casos de amostras com atrofia ou ASC- US, deve-se proceder à estrogenização local ou sistêmica. É fato que o diagnóstico de casos novos de câncer do colo uterino está associado, em todas as faixas etárias, com a ausência ou irregularidade do rastreamento. O seguimento de mulheres na pós-menopausa deve levar em conta seu histórico de exames. Recomendação: mulheres na pós-menopausa devem ser rastreadas de acordo com as orientações para as demais mulheres. Se necessário, proceder à estrogenização prévia à realização da coleta Histerectomizadas Em caso de histerectomia subtotal (com permanência do colo do útero), deve seguir rotina de rastreamento. Em caso de histerectomia total: não se faz mais rastreamento, pois a possibilidade de encontrar lesão é desprezível. ⚠ Exceção: se a histerectomia foi realizada como tratamento de câncer de colo do útero ou lesão precursora (ou foram diagnosticados na peça cirúrgica), seguir o protocolo de controle de acordo com o caso coletando material da mucosa vaginal com espátula (lesão precursora – controles cito/colposcópicos semestrais até dois exames consecutivos normais; câncer invasor – controle por cinco anos (trimestral nos primeiros dois anos e semestral nos três anos seguintes); se controle normal, citologia de rastreio anual. Na requisição do exame, informar que a coleta ocorreu em mulher histerectomizada e a lesão tratada (indicação da histerectomia). Imunossuprimidas É parte deste grupo: mulheres infectadas pelo vírus HIV, imunossuprimidas por transplante de órgãos sólidos, em tratamentos de câncer e em uso crônico de corticosteroides. O exame citopatológico deve ser realizado após o início da atividade sexual, com intervalos semestrais no primeiro ano e, se normais, manter seguimento anual enquanto se mantiver o fator de imunossupressão. Em mulheres HIV positivas com CD4 abaixo de 200 células/mm³, deve ter priorizada a correção dos níveis de CD4 e, enquanto isso, deve ter o rastreamento citológico a cada seis meses. Considerando a maior frequência de lesões multicêntricas, é recomendado cuidadoso exame da vulva (incluindo região perianal) e da vagina. A Cirurgia de Alta Frequência (CAF) é um procedimento cirúrgico no qual uma área doente pode ser retirada com mínimo dano ao órgão. Trata-se de um termo genérico que tem sido empregado no Brasil para denominar vários procedimentos realizados com um eletro bisturi de alta frequência. Na maioria dos serviços brasileiros, refere-se à exérese da zona de transformação, e também é conhecida como LLETZ (Large Loop Excision of the Transformation Zone – exérese da zona de transformação por grande alça) ou LEEP (Loop Electrosurgical Excision Procedure – excisão eletrocirúrgica por alça). Desde 2011 esses procedimentos têm sido denominados Excisão da Zona de Transformação, podendo ser dos tipos I, II ou III, na dependência da visibilidade da zona passível de doença (zona de transformação). Trata-se de um tipo de cirurgia que utiliza um bisturi elétrico de baixa voltagem e alta frequência de corrente, capaz de retirar partes de tecido sem causar grande queimadura. É considerado atualmente o melhor tratamento para as lesões pré-malignas do colo uterino, recomendado em todo o mundo, pois é de baixo custo e pode ser feita sob anestesia local, e nas excisões dos tipos I e II, sem internação. Cirurgia de alta frequência, realizada com um bisturi elétrico, que permite a remoção da lesão no próprio consultório, praticidade e rapidez do procedimento, que é indolor. Além disso, a paciente não precisa ser internada após a cirurgia. O objetivo do procedimento de CAF é excisar as lesões e a zona de transformação na sua totalidade e enviar o tecido comprometido ao laboratório anatomopatológico para exame. REFERÊNCIAS Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2020 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. – Rio de Janeiro : INCA, 2019. Protocolo de enfermagem na atenção primária à saúde - Módulo 1: Saúde da Mulher. São Paulo. Coren-SP -2019
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