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Estudos Pós ou Decoloniais - Resenha

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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Sociais 
Departamento de Sociologia
Aluna: Laura Cereza Reis
Matrícula: 17/0015441
Estudos Pós ou Decoloniais
No livro “Quando foi o pós decolonial? Pensando no limite.” de Stuart Hall, publicado em 2003, apresentou-se uma problemática acerca do sistema colonial que transformou o Estado e o comportamento das sociedades latino-americanas colonizadas. O autor ressalta que aconteceram vários modos de dominação, exploração e expropriação impostos aos povos conquistados pelos povos dominadores, que argumentaram que a diferença étnica servia de motivo para a injunção de valores e de costumes culturais. Hall, ainda, considera que a diversidade cultural foi composta em ameaça e abandonou a possibilidade de desenvolvimento destes povos, pois a colonização reconstruiu e modificou o espaço tão profundamente que o próprio conceito de mundo formado por identidades avulsas e multiculturais, além de economia separadas e autossuficientes, tiveram que abandonar uma variedade de modelos dedicados a aprender as formas diferenciadas a fim de se relacionarem socio-culturalmente. 
 Essa situação representa a configuração atual de dispersão e adensamento que a colonização pôs em voga na América Latina. Hall registra que a expressão “colonialismo” aponta a uma situação histórica singular, um período difícil e individualizado, no entanto tal situação também foi encenada e seu valor de escrita continuou organizado na essência de um modelo teórico e determinador qualificado. O autor também relata que a oportunidade de sucessão de definições plausíveis criadas para categorizar o conceito de colonialismo, mostra-se com uma intensidade com a qual relevantes embasamentos políticos, conceituais e epistemológicos estavam sumariamente ligados. Insta ressaltar que isso deve ser compreendido discursivamente mediante entendimento de cinco termos cruciais apontados por Stuart: colonização, imperialismo, neocolonial, dependência e, por fim, Terceiro Mundo. Em sua finalização, Stuart Hall aponta que a dificuldade se encontra na compreensão destes termos escritos acima em suas dicotomias internas e suas afinidades erguidas historicamente em países dominados. 
Já no texto “Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia de saberes”, de Boaventura Santos, publicado em 2007, afirma-se que o pensamento abissal continuará a autorreproduzir-se a menos que se defronte com uma resistência ativa, ou seja, necessita-se de um novo pensamento, uma concepção pós-abissal. Desta forma, o autor propõe que a resistência política deve ter como postulado a resistência epistemológica e declara que não existe justiça social global sem justiça cognitiva global. Isso significa que a tarefa crítica que se avizinha não pode ficar limitada à geração de alternativas. A investigação sobre essas condições explica a atenção ao contramovimento resultante do abalo que as linhas abissais globais vêm sofrendo desde os anos 1970 e o que se designa como “cosmopolitismo subalterno”. Este conceito contém uma promessa real e, como apontado por Santos, para se apropriar é necessário realizar aquilo que se chama de “sociologia das emergências”, a qual consiste numa amplificação simbólica de sinais, pistas e tendências latentes que, embora dispersas, embrionárias e fragmentadas, apontam para novas constelações de sentido referentes tanto à compreensão como à transformação do mundo. 
O cosmopolitismo subalterno se manifesta mediante os diversos movimentos e organizações que configuram a globalização contra hegemônica, lutando contra a exclusão social, econômica, política e cultural gerada pelo mais recente movimento, denominado como “globalização neoliberal”. Tendo isso em mente, a exclusão social é tida sempre como o produto das relações de poder desiguais e tais iniciativas são animadas por um “ethos” redistributivo no sentido mais amplo da expressão. Santos revela que desde o início século XXI o Fórum Social Mundial tem sido a expressão mais cabal da globalização contra hegemônica e do cosmopolitismo subalterno, além disso, ele aponta que entre as entidades que dele participam, os movimentos indígenas são aqueles cujas concepções e práticas representam a mais convincente emergência do pensamento pós-abissal, já que os povos indígenas são os habitantes paradigmáticos do outro lado da linha, no campo histórico do paradigma “apropriação e violência”. 
A novidade do cosmopolitismo subalterno reside acima de tudo em seu profundo sentido de incompletude, sem, contudo, ambicionar a completude. Por um lado, defende que a compreensão do mundo excede largamente a compreensão ocidental do mundo, e que a nossa compreensão da globalização é muito menos global do que a própria globalização. Por outro lado, Santos defende que quanto mais compreensões não-ocidentais forem identificadas mais evidente se tornará o fato de que ainda restam muitas outras por identificar, e que as compreensões híbridas, com elementos ocidentais e não-ocidentais, são virtualmente infinitas. O pensamento pós-abissal parte da ideia de que a diversidade do mundo é inesgotável e continua desprovida de uma epistemologia adequada, de modo que a diversidade epistemológica do mundo está por ser construída. 
Como apresentado na obra, necessita-se de uma construção de um novo arranjo de equilíbrio social, não é nem no capitalismo com humanização, nem no socialismo com distribuição de riqueza que está a apropriação do futuro, pois ambos têm a mesma premissa de crescimento permanente, que é incompatível com os recursos naturais. Santos registra que o pensamento pós-abissal parte do reconhecimento de que a exclusão social, no seu sentido mais amplo, assume diferentes formas conforme seja determinada por uma linha abissal ou não-abissal. Além de existir na noção de que enquanto persistir a exclusão, definida abissalmente não será possível qualquer alternativa progressista. Durante um período de transição, confrontar a exclusão abissal será um pré-requisito para abordar de modo eficiente as muitas formas de exclusão não-abissal que têm dividido o mundo moderno. 
O reconhecimento da persistência do pensamento abissal é condição indispensável para começar a pensar e a agir para além, ou seja, sem esse reconhecimento, o pensamento crítico permanecerá um pensamento derivativo, que continuará a reproduzir as linhas abissais por mais anti-abissal que se autoproclama. O pensamento pós-abissal é um pensamento não-derivativo, pois envolve uma ruptura radical com as formas conhecidas de elaboração da modernidade ocidental. Este pensamento pode ser sintetizado como um aprender com o Sul, ele confronta a monocultura da ciência moderna com uma “ecologia de saberes”, na medida em que se funda no reconhecimento da pluralidade de conhecimentos heterogêneos e em interações sustentáveis e dinâmicas entre eles sem comprometer sua autonomia. Santos assinala que a emergência do ordenamento da apropriação e violência só poderá ser enfrentada se a perspectiva epistemológica na experiência social do outro lado da linha, a Sul do global, for concebida como a metáfora do sofrimento humano sistêmico e injusto. 
O autor aponta que a ecologia de saberes se baseia na ideia de que a ideia de conhecimento é, na verdade, interconhecimento e que a primeira condição para um pensamento pós-abissal é a “co-presença radical”, práticas e agentes de ambos os lados da linha contemporâneos em termos igualitários. Esta ideia implica em conceber simultaneidade como contemporaneidade, ou seja, abandonar a concepção linear de tempo. Como ecologia de saberes, o pensamento pós-abissal tem por premissa a ideia da inesgotável diversidade epistemológica do mundo, o reconhecimento da existência de uma pluralidade de formas de conhecimento além do conhecimento científico e isto implica renunciar a qualquer epistemologia geral. Desta forma, existem em todo o mundo não só diversas formas de conhecimento da matéria, da sociedade, da vida e do espírito, mas também muitos e diversos conceitos e critérios sobreo que conta como conhecimento. 
Ao final, Santos cita José Ortega y Gasset, que propuseram uma distinção radical entre crenças e ideias, entendendo por estas últimas a ciência ou a filosofia. A distinção feita pelos autores reside em que as crenças fazem parte de nossa identidade e subjetividade, enquanto as ideias nos são exteriores. Enquanto nossas ideias nascem da dúvida e permanecem nela, nossas crenças nascem da ausência de dúvida e, no fundo, a distinção é entre ser e ter, somos as nossas crenças, temos ideias. O que é característico do nosso tempo é o fato de a ciência moderna pertencer simultaneamente ao campo das ideias e ao campo das crenças. A crença na ciência excede em muito o que as ideias científicas nos permitem realizar, assim, a relativa perda de confiança epistemológica na ciência durante a segunda metade do século XX ocorreu de par com a crescente crença popular na ciência. Na conclusão do texto, o autor expõe que a relação entre crenças e ideias como duas entidades distintas passa a ser uma relação entre duas maneiras de experienciar socialmente a ciência e, após a transgressão da abissalidade, legitima a ciência popular como uma forma tão válida de conhecimento como qualquer outra.

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