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A LLC tem origem nas células linfoides maduras, que passam a se multiplicar descontroladamente. Essas células linfoides alteradas em excesso ocupam a medula óssea, prejudicando a produção de tipos celulares normais e, além disso, podem se infiltrar em órgãos linfoides, como o baço e os linfonodos. A LLC é a mais comum dentre as doenças linfoproliferativas crônicas. Ela corresponde a 30% dos casos de leucemia, acometendo caracteristicamente a população idosa (> 60 anos), com uma predominância de 2:1 no sexo masculino. Anualmente, a incidência é de 2 a 6 casos a cada 100 mil habitantes, sendo que a incidência é mais alta quando maior a faixa etária analisada. Costuma acometer pacientes idosos, por volta da faixa etária dos 65 anos, sendo que somente 10% dos casos são de pacientes com menos de 50 anos. A doença é mais prevalente no sexo masculino, em uma proporção de dois homens afetados a cada paciente mulher. Praticamente não é vista em pessoas com menos de 30-40 anos de idade e não acomete crianças. A LLC não está relacionada à radiação ionizante, benzeno ou agentes alquilantes. Em cerca de 10% dos casos a história familiar de LLC ou outras neoplasias linfoproliferativas é positiva, sugerindo a existência de uma variante “familiar” da doença, que tende a se manifestar numa idade mais precoce. A etiologia e etiopatogenia são largamente desconhecidas. Ao contrário da LMC, não existe uma única anomalia cromossomial típica da LLC, apesar de existirem algumas alterações que modificam o prognóstico da doença (ex.: del 11q, del 17p conferem pior prognóstico por baixa resposta às drogas tradicionais). Trata-se de uma neoplasia hematológica de curso indolente, cujo clone neoplásico é um linfócito B maduro, porém, bloqueado em uma fase de diferenciação que impede a sua transformação em plasmócito, a célula produtora de anticorpos. Este linfócito possui bastante IgM no citoplasma, mas muito pouco na membrana. Além dos marcadores imuno-histoquímicos dos linfócitos B (CD19, CD20, CD21, CD23, CD24), o CD5, um marcador normalmente encontrado em linfócitos T, também está presente, sendo o grande marco imunofenotípico da doença, juntamente com a negatividade do FMC7. Diferente das outras leucemias, a LLC é uma doença “cumulativa”, e não “proliferativa”. Os linfócitos B neoplásicos CD5+ são células de turnover lento, com uma meia-vida bem superior a do linfócito B normal, provavelmente pelo fato de apresentarem um bloqueio de maturação. A evolução da doença é o acúmulo desses linfócitos clonais na medula óssea, passando em seguida para o sangue periférico e atingindo os linfonodos, baço e fígado. O paciente vai se tornando debilitado e extremamente propenso a morrer de infecções bacterianas, pois os linfócitos neoplásicos não desenvolvem competência imunológica. Pacientes com LLC tem uma maior incidência de outras neoplasias não hematológicas, principalmente Ca de pulmão e gastrointestinal. Muitos pacientes são diagnosticados na fase assintomática da doença, pelo encontro de uma linfocitose expressiva no hemograma. Os sintomas da LLC podem ser: febre, sudorese noturna, astenia, fadiga, perda ponderal e queda do estado geral. Esses sintomas são mais comuns nas fases mais avançadas da doença, e geralmente indicam a ocorrência de complicações, como infecção e anemia. EXAME FÍSICO A adenomegalia cervical é o achado mais comum, presente em 2/3 dos pacientes na apresentação da doença. Os linfonodos aumentados inicialmente são inferiores a 2 cm, móveis e de consistência elástica, sugerindo benignidade. Posteriormente, evoluem para um aumento de tamanho e confluência, podendo se apresentar como grandes massas cervicais. Marco da LLC é a associação: Linfocitose acentuada + adenomegalia A adenomegalia pode se generalizar, acometendo inclusive linfonodos viscerais. Além da adenomegalia, o exame físico pode revelar esplenomegalia em 40% dos casos, hepatomegalia em 10% e, raramente, derrame pleural e ascite (sinal de doença avançada). LINFOCITOSE: “Linfocitose” é definida por mais de 3.000 linfócitos por mm3 de sangue. Na LLC, por definição, a linfocitose é > 5.000/mm3. linfocitose é a principal característica da doença. Por definição ela está acima de 5.000/mm3, mas geralmente se encontra entre 25.000- 150.000/mm3 (podendo ultrapassar até 500.000/mm3 em alguns casos). ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO O esfregaço do sangue periférico mostra que os linfócitos são morfologicamente idênticos aos linfócitos normais – são pequenos, com núcleo arredondado, cromatina condensada e citoplasma escasso. Uma alteração que pode chamar atenção é o encontro de linfócitos destruídos ou “amassados” – denominados smudge cells ou manchas de Gumprecht. Uma anemia normocítica normocrômica hipoproliferativa (reticulócitos baixos) pode ser encontrada na apresentação do quadro em 20% dos pacientes, e a plaquetopenia, em 10%. Ambas as alterações são sinais de mau prognóstico, pois indicam maior ocupação medular pelo clone neoplásico. Entretanto, uma anemia hemolítica autoimune (Coombs direto positivo) por anticorpo “quente” (IgG) pode ocorrer em 10% dos casos em algum momento da doença. É o diagnóstico mais provável quando a anemia se instala de forma abrupta, associada à icterícia por elevação da bilirrubina indireta e reticulocitose no sangue periférico. Outro achado típico é a hipogamaglobulinemia, decorrente do bloqueio de maturação dos linfócitos B neoplásicos. Ou seja, apesar de se ter uma quantidade elevada de linfócitos B maduros, eles não fazem a devida função – transformar-se em plasmócitos, as células produtoras de anticorpos. A hipogamaglobulinemia ocorre na apresentação da doença em 25% dos casos, mas, na medida em que a doença avança, acomete a maioria dos pacientes. As consequências são infecções de repetição por bactérias encapsuladas (S. pneumoniae, H. influenzae), geralmente sinusite e pneumonia. O diagnóstico é confirmado por um dos seguintes critérios: 1. Linfocitose persistente > 10.000/mm3 + aspirado de medula óssea com > 30% de linfócitos (normal: até 10%), ou; 2. Linfocitose persistente > 5.000/mm3 + aspirado de medula óssea com > 30% de linfócitos + imunofenotipagem revelando marcadores de linfócito B maduro em conjunto com o marcador CD5. Baseia-se no exame físico e hemograma. Os elementos utilizados são: 1. Linfadenopatia; 2. Hepatoesplenomegalia; 3. Anemia; 4. Plaquetopenia. O mais utilizado é o estadiamento de Rai, embora também exista o estadiamento de Binet. Pacientes com LLC em estágios iniciais (Rai “zero” ou I), assintomáticos, não necessitam de tratamento específico, apenas acompanhamento (watch and wait). Em tal contexto, a sobrevida média relacionada à doença é longa e, como em geral se tratam de indivíduos idosos, a morte acaba ocorrendo por causas não diretamente relacionadas à LLC. Os efeitos adversos da quimioterapia não compensam os potenciais benefícios. A indicação de tratar a LLC passa a existir quando o paciente desenvolve um ou mais dos seguintes: 1. Fadiga progressiva; 2. Linfadenopatia sintomática; 3. Anemia; 4. Trombocitopenia. De um modo geral, tais indicações se farão presentes ao longo do estágio Rai II e, por definição, nos estágios Rai III e IV. PACIENTES COM < 70 ANOS Pacientes com < 70 anos de idade, sem comorbidades significativas, têm como esquema de primeira escolha na atualidade a combinação de Fludarabina + Rituximab (esquema FR), podendo ou não associar Ciclofosfamida (esquema FCR). A adição de ciclofosfamida aumenta a eficácia anti- leucêmica, particularmente em portadores de fatores de mau prognóstico, porém aumenta também a toxicidade, acarretando,por exemplo, uma maior incidência de infecções oportunistas. Usuários de esquemas contendo fludarabina devem receber quimioprofilaxia contra infecções oportunistas. Outra opção nestes indivíduos seria a associação de Bendamustina + Rituximab, mas muitos preferem reservá-la como “resgate” para os pacientes com as características citadas que recidivam ou não respondem ao esquema inicial contendo fludarabina. PACIENTES COM > 70 ANOS Já os pacientes com > 70 anos de idade, ou com comorbidades significativas, têm como esquema de primeira escolha na atualidade a combinação de Clorambucil + Obinutuzumab (ou Ofatumumab). Tal esquema é mais bem tolerado neste subgrupo de doentes (em comparação com o FCR), e seus resultados são bastante satisfatórios. TERAPIA DE RESGATE É empregada na vigência de uma ou mais das seguintes situações: o Recidiva da LLC após o tratamento inicial; o Refratariedade ao tratamento inicial; o Presença de fatores de prognóstico altamente adverso, como a del 17p. Utiliza-se o Ibrutinibe, um inibidor de tirosinaquinase específico de linfócitos B, ministrado por via oral. Este fármaco inibe a tirosina- quinase de Bruton, uma enzima citoplasmática que exerce importante papel nos processos de sinalização intracelular exclusivos dos linfócitos B. Um dos maiores efeitos colaterais do ibrutinib é o agravamento transitório da linfocitose durante o início do tratamento, o que é explicado por uma “mobilização” dos linfócitos neoplásicos presentes no interior dos linfonodos para a circulação periférica. Outra opção para o tratamento da LLC recidivada é o idelalisib (inibidor de uma enzima intracelular chamada PI3-delta-quinase). TRANSPLANTE O transplante alogênico tem sido estudado devido ao potencial curativo em pacientes mais jovens (< 50 anos) e com doença de alto risco. Embora sejam descritas taxas de cura de 40-50%, a mortalidade relacionada ao transplante é alta (25-50%). TERAPIAS ADJUVANTES A esplenectomia também pode ser indicada em caso de citopenias significativas associadas a uma grande esplenomegalia. A radioterapia local é indicada para reduzir grandes massas linfonodais. A leucoferese é raramente realizada em casos de síndrome de leucostase. A reposição de imunoglobulina humana endovenosa (a cada 3-4 semanas) está indicada no caso de infecções graves de repetição na vigência de hipogamaglobulinemia. A maioria dos pacientes morre de seu estado debilitado associado a infecções bacterianas, que se transformam rapidamente em sepse. Uma complicação geralmente fatal da LLC é a síndrome de Richter, descrita em 5% dos casos. Trata-se de uma transformação neoplásica da LLC em um linfoma não Hodgkin agressivo, geralmente o linfoma B difuso de grandes células. O paciente evolui com grandes massas linfonodais de crescimento rápido, febre, emagrecimento e acometimento extranodal. A sobrevida média é de poucos meses, pois a resposta à quimioterapia é precária.
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