Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Imposto extraordinário de guerra x empréstimo compulsório Tributos criados no nosso ordenamento jurídico visando buscar uma segurança do poder administrativo federal em casos emergentes dos quais possa necessitar de mais receita a fim de manter o equilíbrio da nação, como por exemplo, guerra ou sua iminência. INTRODUÇÃO A guerra é inevitável, existe desde o início, afinal, Lúcifer declarou guerra contra Deus, pois queria ocupar seu lugar. Ao longo dos tempos, a história nos demonstra várias espécies de guerras que nós, seres humanos, já nos submetemos, algumas justas, outras injustas, algumas motivadas, outras por simples capricho de algum líder de alguma nação. Falando em lideranças, verificamos que os governos precisam se posicionar quanto ao tema, ou para patrocinar seus soldados em meio ao caos, ou para ajudar seu povo com ao menos, os elementos básicos para a manutenção da vida, tais como alimentos, remédios, segurança, uma vez que em momentos de batalhas as dificuldades gerais aumentam e a necessidade de a administração nacional funcionar com mais competência também, a fim de proporcionar dignidade humana. Em casos de guerras há muitos gastos e muitas perdas que precisam ser emergentemente reparados, por isso se institui tributos, forma coercitiva de o Estado cobrar dos contribuintes valores para auxiliar na administração e, sendo o Governo quem os institui, a população tem de cumprir com suas responsabilidades tributárias sem questionamento, afinal, o inadimplemento acarreta mais prejuízos, como por exemplo, multas. DOS TRIBUTOS O tributo é conceituado pelo artigo 3º do Código Tributário Nacional. Vejamos: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Como demonstrado no artigo descrito acima, os tributos devem ser recolhidos por meio de prestação pecuniária, ou seja, apenas em moeda corrente nacional. A segunda parte diz “ou cujo valor nela se possa exprimir”, pois há casos, por exemplo, quando a dívida ativa é da União em que sua liquidação pode ser feita por meio de dação em pagamento, que é quando se pode oferecer um imóvel em troca da quitação do débito tributário, neste caso é necessária concordância entre as partes (credor e devedor) em transposição do débito original que era o pagamento mediante prestação pecuniária para o pagamento em bens imóveis. É o que dispõe a Portaria PGFN nº 32, de 08 de fevereiro de 2018. Nesse sentido Tributária - certidão positiva de débito, com efeitos de negativa - suspensão do crédito tributário - inocorrência - apelação não provida. A expedição da certidão negativa é possível nos casos de extinção do crédito tributário, conforme disposto no artigo 156 do CTN, e a expedição da certidão positiva com efeito de negativa é possível nos casos de existência de créditos não vencidos, de créditos em curso de cobrança executiva na qual se tiver efetivado a penhora e de créditos cuja exigibilidade esteja suspensa, conforme disposto no artigo 151 do CTN, não havendo qualquer previsão que a dação em pagamento suspenda o crédito tributário. O artigo 4º da Lei nº 13.259 prescreve que o crédito tributário, inscrito em dívida ativa da União, poderá ser extinto, mediante dação em pagamento de bens imóveis, a critério do credor. Ocorre que, a União (credora), após ser regularmente intimada para se manifestar sobre o pedido da dação em pagamento para quitação do crédito tributário, informou que não tinha interesse na dação. Portanto, havendo recusa do credor não há como efetivar a extinção do crédito tributário. Os tributos são instituídos por lei, seja ela complementar, a qual institui a maioria dos tributos, ou por lei ordinária, sendo que é a Constituição quem determinará. A prestação pecuniária, como regra, é o pagamento realizado por moeda corrente nacional, isso exclui pagamento in labore (mediante algum trabalho em troca da liquidação da dívida), bem como in natura (mediante troca) e, para essa regra não há exceção. Igualmente, devido a sua compulsoriedade, é possível que incapazes e empresas irregulares sejam obrigadas a pagar tributos, pois são responsáveis pelo fato gerador do tributo. Por exemplo, um incapaz que recebeu imóvel de herança detém capacidade de contribuinte, contudo, por não ter capacidade para os atos da http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10570420/artigo-156-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984008/c%C3%B3digo-tribut%C3%A1rio-nacional-lei-5172-66 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10571538/artigo-151-da-lei-n-5172-de-25-de-outubro-de-1966 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/111984008/c%C3%B3digo-tribut%C3%A1rio-nacional-lei-5172-66 http://www.jusbrasil.com.br/topicos/98658276/artigo-4-da-lei-n-13259-de-16-de-marco-de-2016 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/321968615/lei-13259-16 vida civil, seu responsável tornar-se-á o contribuinte em seu lugar a fim de quitar o débito. O mesmo ocorre com empresas irregulares, pois, detêm fato gerador, então são contribuintes e, quanto à sua irregularidade não será matéria de direito tributário e sim, possivelmente de direito penal. Tributo é gênero e possui 5 espécies, sendo que, sempre que falarmos em tributo temos que entender que nenhuma das espécies constituem sanção a ato, não podendo confundir nenhum deles com multa ou ato ilícito. Das Espécies Tributárias Inicialmente, cumpre ressaltar que, o Código Tributário Nacional é de 1966, sendo assim, ele constituiu apenas 3 espécies tributárias, posteriormente, a nossa Carta Magna, promulgada em 1988, constituiu mais 2 espécies (artigos 145 a 162), trazendo a teoria quinquipartite ou pentapartite que foi adotada pelo Supremo Tribunal Federal que a reconheceu e validou as 5 espécies tributárias, quais sejam: Impostos Descrito no artigo 153 (União), 155 (Estados) e 156 (Municípios), todos da Constituição Federal. Há também o imposto extraordinário em caso de guerra e o residual (respectivamente, artigo 154, II, e 154, I, ambos da Carta Magna) Taxas Existe a taxa de polícia (artigo 145, II, da Constituição Federal e artigo 78 do Código Tributário Nacional), bem como a taxa de serviço público (artigo 145, II da Carta Magna e artigo 79 do mesmo diploma legal acima). Contribuição de melhoria Está fundada no artigo 145, III, da Constituição Federal e também no artigo 81 do Código Tributário Nacional. Empréstimo compulsório Pode ser instituído em caso de guerra ou de calamidade pública, artigo 148, I, da Constituição Federal, ou investimento público urgente e de grande interesse nacional, artigo 148, II, da Carta Magna. IMPOSTO EXTRAORDINÁRIO EM CASO DE GUERRA O imposto extraordinário em caso de guerra somente pode ser instituído pela União, por meio de Lei Ordinária, em caso de guerra ou sua iminência, ainda que externa. O artigo 154, II, da Constituição Federal descreve que: Art. 154. A União poderá instituir: [...] II - na iminência ou no caso de guerra externa, impostos extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária, os quais serão suprimidos, gradativamente, cessadas as causas de sua criação. O fato gerador poderá ser de qualquer imposto já criado, ou seja, é possível instituir IPTU de guerra, ICMS de guerra, entre outros. Sendo que, a arrecadação não pode ser vinculada à guerra, podendo, sua receita ir para qualquer setor como saúde, educação, entre outros. Como demonstrado acima, pode ocorrer o bis in idem que é permitido pelo Sistema Tributário Nacional e deve estar expressamente previsto na Constituição Federal, devendo, deste modo, respeitar a competência, os princípios e as imunidades previstas. No bis in idem há um excesso de competência, visto queos tributos são iguais (como é o caso do Imposto Extraordinário em caso de Guerra), o poder contribuinte é o mesmo, o fato gerador também, e há duas leis distintas, exemplo é a cobrança do PIS e da COFINS de uma mesma empresa. Já a bitributação, em regra, é vedada pelo Sistema Tributário Nacional, sendo permitida somente em uma hipótese: a do Imposto Extraordinário de Guerra, que permite que União e Estado instituam tributo sobre o mesmo fato gerador de outro ente federado, neste caso há conflito de competência, exemplo é a União tributar sobre ITR e o Município IPTU, ambos sobre o mesmo imóvel. O prazo do Imposto Extraordinário de Guerra é determinado, visto que será instituído por necessidades devido à guerra, e será cessado pelo mesmo motivo. O Imposto Extraordinário de Guerra foi fundado na Inglaterra, no século XX, quando esta se viu cercada pelo exército de Napoleão Bonaparte, sendo, portanto, instituído o Imposto de Renda motivado pela guerra daquele momento e, como descrito no nosso ordenamento legal vigente, cessando a guerra, cessava-se a cobrança de referido tributo. No Brasil, instituído em 1946, teve modificações necessárias até chegar ao modelo tributável que conhecemos hoje, inclusive na Constituição de 1946, em seu artigo 76, havia uma permanência de 05 anos deste tributo após a assinatura da paz, após cessar sua necessidade, o que foi derrogado posteriormente, sendo que, como já demonstrado, os valores arrecadados não necessariamente serão utilizados para beneficiar a guerra, e sim, devido à guerra, para sanar problemas que sejam emergentes. EMPRÉSTIMO COMPULSÓRIO O Empréstimo Compulsório foi constituído na Carta Magna de 1946, em seu artigo 4º, sendo que somente a União detinha poderes para instituí-lo. Por meio da teoria coativista, a súmula 418 do STF que está superada, declarava que o empréstimo compulsório não era tributo, e sim, um contrato coativo da União em face dos contribuintes, nos casos previstos em lei. Em 1965, por meio da Emenda Constitucional nº 18/65, fora atribuído ao Código Tributário Nacional o artigo 15 que descrevia as hipóteses autorizadoras do Empréstimo Compulsório, contudo, ainda assim não era considerado totalmente um tributo, e a dúvida aumentou quando foram dispostos, pela Emenda Constitucional 1/69, os artigos 18, §3º e 21, §2º, II, ambos do mesmo diploma legal, pois aquele trazia a idéia de uma figura não tributária, enquanto este detinha natureza tributária. O Empréstimo Compulsório atualmente está previsto no artigo 148 da Constituição Federal vigente, continua sendo a União o único ente federativo que detém competência para instituí-lo e somente por meio de Lei Complementar. As hipóteses que ensejam esse tributo são três: guerra, calamidade pública ou investimento público. Vejamos: Art. 148. A União, mediante lei complementar, poderá instituir empréstimos compulsórios: I - para atender a despesas extraordinárias, decorrentes de calamidade pública, de guerra externa ou sua iminência; II - no caso de investimento público de caráter urgente e de relevante interesse nacional, observado o disposto no art. 150, III, "b". Parágrafo único. A aplicação dos recursos provenientes de empréstimo compulsório será vinculada à despesa que fundamentou sua instituição. O doutrinador Leandro Paulsen leciona que: Os empréstimos compulsórios são tributos cujo critério de validação constitucional está na sua finalidade: gerar recursos para fazer frente a uma situação de calamidade ou guerra externa ou para investimento nacional relevante e urgente, conforme se extrai do art. 148 da CF. No mesmo sentido, é o que ensina o doutrinador Amílcar de Araújo Falcão: “Empréstimo compulsório é a prestação em dinheiro que o Estado ou outra entidade pública de direito interno coativamente exige, nos termos da lei, para custeio de suas próprias atividades, daqueles que possuam determinada capacidade contributiva denotada por fatos geradores legalmente previstos, condicionando-se o seu pagamento à promessa de ulterior restituição em prazo certo ou indeterminado (amortizável ou perpétuo) e, eventualmente, de fluência de juros”. Em caso de guerra ou calamidade pública não se respeita o princípio da anterioridade, nem a anual e nem a nonagésima, uma vez que se trata de casos emergentes, ou seja, tem exigência imediata e é de relevante interesse social. A Lei Complementar irá estabelecer o fato gerador correspondente, sendo que a arrecadação se vincula ao motivo de sua instituição e a restituição se dará ao término da necessidade de referido tributo. Nesse sentido: Vale frisar, em tempo, que o empréstimo compulsório destaca-se como tributo finalístico, ou seja, um gravame afetado a um propósito, com total irrelevância do fato gerador que o corporifica e com ampla prevalência da finalidade para a qual tenha sido instituído. Não se deve confundir a destinação dos recursos com o fato imponível, ou seja, a situação material sobre a qual incidirá o empréstimo compulsório. Nesse sentido, com relação às outras espécies tributárias, o que distingue o Empréstimo Compulsório é que ele é o único que restitui ao contribuinte os valores cobrados e, a essa evidência Pontes de Miranda chamou de “tributo com cláusula de restituição”. CONCLUSÃO Apesar de previstos na Carta Magna, ambos tributos nunca foram instituídos no Brasil pelo implemento guerra, contudo, caso seja necessário, a União, após votação, poderá imediatamente instituir o que lhe for mais conveniente. Como mencionado, tais tributos podem ser instituídos em caso de guerra, sendo que o Imposto Extraordinário de Guerra é a criação de um novo imposto, que gerará cobrança bis in idem, ou seja, na iminência do caos, a União pode instituir impostos já existentes e prefixados em lei para a guerra, então teremos, por exemplo, o ICMS normal e o ICMS de guerra. Já o Empréstimo Compulsório, que por um tempo não era considerado um tributo, e sim um contrato de empréstimo, é um tributo em que a União cobra dos contribuintes um valor de maneira emprestada, devendo restituí-los posteriormente a cessação das causas que a fez serem instituído. Assim, ao ente federado, ambos os tributos são importantes, afinal, diferentemente das outras espécies, tais tributos aqui descritos podem ser instituídos a qualquer momento pela União em casos emergentes relacionados à guerra, mas não necessariamente para financiá-la e, sim, para utilizar onde for necessário, sendo que a lei declarará qual será o fato gerador, uma vez que a receita não está vinculada a nenhum órgão e, como podemos observar, o Imposto Extraordinário em caso de Guerra é mais benéfico à União porque além de não ser necessária a restituição aos contribuintes, sua instituição se dá por maioria simples de votos, já que é por Lei Ordinária sua promulgação. Em relação ao contribuinte, o Empréstimo Compulsório é mais favorável, pois, além de ser mais delicada sua aprovação (maioria absoluta – Lei Complementar), a União deve restituir corrigida monetariamente os valores cobrados. Atualmente, ambos tributos cessam no momento em que cessar a necessidade de cobrá-los. BIBLIOGRAFIA Constituição Federal de 1946; FALCÃO, Amílcar. Conceito e espécies de empréstimo compulsório; HARADA, Kiyoshi. Direito financeiro e tributário, 7. Ed; PAULSEN, Leandro; Curso de direito tributário completo / Leandro Paulsen. – 8. Ed. – São Paulo: Saraiva 2017. 1. Direito tributário. 2. Direito tributário - Brasil I. Título. 16- 1563 CDU 34:336.2; PONTES DE MIRANDA, apud BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitucionais ao poder de tributar, 7. Ed; V. AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, 14. Ed; V. MARTINS, Ives Gandra da Silva. Os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais. In: MARTINS, Ives Gandra da Silva, (Coord.).Curso de direito tributário. 5. Ed. Belém: Cejup, 1997, v. 2.
Compartilhar