Buscar

Para Alem do Codigo de Hamurabi - livro Marilia Montenegro

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 266 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 266 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 266 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Organizadores
 Luciano Oliveira
Fernanda Fonseca Rosenblatt
Marilia Montenegro Pessoa de Mello
 Para além do código de Hamurabi: 
estudos sociojurídicos
Recife, 2015.
4
Créditos
Editora: Editora Universitária
Organização: Luciano Oliveira
Fernanda Fonseca Rosenblatt
Marilia Montenegro Pessoa de Mello
Design da capa: 
Composição do miolo: Ana Catarina Silva Lemos Paz 
Conselho Editorial: Alexandre Freire Pimentel (UNICAP/ UFPE)
Artur Stamford da Silva (UFPE)
Ana Cláudia Pinho (UFPA)
Érica Babini Lapa do Amaral Machado (UNICAP)
Fernanda Fonseca Rosenblatt (UNICAP)
Fernanda Frizzo Bragato (UNISINOS)
Gustavo Barbosa de Mesquita Batista (UFPB)
Gustavo Ferreira (UNICAP/UFPE)
Jayme Benvenuto (UNILA)
João Paulo Allain Teixeira (UNICAP/UFPE)
Luciano Oliveira (UNICAP)
Luiz Henrique Cadermatori (UFSC)
Marcelo Labanca Correia de Araújo (UNICAP)
Marcus Alan Melo Gomes (UFPA)
Marilia Montenegro Pessoa de Mello (UNICAP/ UFPE)
Virginia Colares (UNICAP)
 P221 Para além do código de Hamurabi : estudos sociojurídicos
 [e-book] / organizadores Luciano Oliveira, Marília 
 Montenegro Pessoa de Mello, Fernanda Fonseca Rosenblatt. 
 -- Recife : ALID, 2015. 
 267 p. : il.
 ISBN 978-85-69409-01-4 (E-Book)
 1. Sociologia jurídica. 2. Antropologia jurídica. 3.Direito.
 I. Oliveira, Luciano. II. Mello, Marília Montenegro Pessoa de.
 III. Rosenblatt, Fernanda Fonseca. IV. Título. 
 CDU 34:301 
5
APRESENTAÇÃO
Sonho que se sonha só
É só um sonho que se sonha só
Mas sonho que se sonha junto é realidade
Raul Seixas 
O Grupo Asa Branca de Criminologia1 começou a partir de um sonho de algumas amigas com várias indigna-
ções em comum. Essa angustia inicial transformou-se em encontros e debates criminológicos, reunindo estudantes e 
professoras2 da Universidade Católica de Pernambuco e da Universidade Federal de Pernambuco. A ideia inicial era de 
formamos um grupo de estudo, mas com o tempo as atividades aumentaram e se solidificaram até que o Asa Branca 
se transformou em um Grupo de Pesquisa. 
Assim, alçamos voos para outras localidades e agregamos, à nossa proposta inicial, pesquisadoras de vários 
estados do país em diálogos constantes sobre os mais diversos temas correlacionados às arbitrariedades produzidas e 
reproduzidas pelo Sistema de Justiça Criminal brasileiro. 
Lembramos da Ciranda tão bem entoada por Lia de Itamaracá, nos versos que seguem:
Minha ciranda não é minha só
Ela é de todos nós 
(...)
Pra se dançar ciranda
Juntamos mão com mão
Formando uma roda
Cantando uma canção
Embaladas por esse ritmo, as pesquisadoras do Grupo se reuniram para fazer sua primeira publicação conjun-
ta em forma de e-book. São 17 capítulos que apresentam críticas às agências de controle estatal, baseadas em dados 
da nossa realidade marginal3. Em tempo de tantos retrocessos legislativos o convite dos artigos é nos tirar da zona de 
conforto para verificarmos o quão falaciosa é a legitimação desse sistema que mortifica, quando não mata as pessoas 
envolvidas. 
Para além do Código de Hamurábi: estudos sociojurídicos apresenta um duplo significado. O primeiro é uma 
referência expressa ao texto “Não fale do Código de Hamurábi!”4 de Luciano Oliveira. Sonhar para além do Código é 
assumir o desafio de realizar trabalhos e pesquisas na área jurídica atentando aos rigores metodológicos e fugindo 
aos vícios dos “manualismos” e dos “reverencialismos” às autoridades e às teorias. É fincar o pé na árida realidade e 
procurar, com a simplicidade do olhar curioso da pesquisadora, lançar perguntas, burlando o senso comum teórico e 
1 Para mais informações acessar: http://asabrancacriminologia.blogspot.com.br/
2 Como majoritariamente o Grupo Asa branca é formado por mulheres utilizaremos o feminino como universal, com o consentimento do 
Professor Luciano Oliveira.
3 A referência aqui é ao conceito atribuído por Zaffaroni à América Latina no livro: Em busca das penas perdida. 4. ed Rio de Janeiro: Revan, 
1991.
4 O trabalho de Luciano Oliveira “Não fale do Código de Hamurabi” é fonte de inspiração de quase todos os trabalhos, pois nesta coletânea as 
autoras e os autores são: alunas/alunos, ex-alunas/ex-alunos, orientandos/orientandas, ex-orientandas/ex-orientandos de Luciano Oliveira. 
E quando não se enquadram nas categorias anteriores são influenciadas por seus trabalhos. Texto disponível em: http://www.uniceub.br/
media/180293/Texto_IX.pdf
6
as respostas prontas. O segundo significado anuncia a pretensão de nossos trabalhos de ir “para além” da conhecida 
premissa retribucionista da Lei de Talião “Olho por olho, dente por dente”5, tão presente em nossa cultura punitivista. 
É tempo ainda de agradecer às autora pela exitosa parceria, às participantes do grupo Asa Branca pela cola-
boração e, em especial, às amigas Érica Babini, Manuela Abath e Virgínia Colares pelo empenho que tornou possível o 
nosso primeiro livro.
Às leitoras, desejamos que possam sobrevoar por tamanha aridez sem perder a vontade de desnudar a realida-
de posta, para, em seguida, desconstruí-la e aí sim será possível sonharmos para além do Código de Hamurábi.
Recife, julho de 2015.
Marilia Montenegro Pessoa de Mello
5 No Código de Hamurabi encontramos no § 196 Se um awillum destruiu olho de um (outro) awillum, destruirão seu olho. E no § 197 Se 
quebrou o osso de um awillum, quebrarão o seu osso. Cf.: BOUZON, Emanuel. O Código de Hamurabi. 9. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. 
A expressão também é encontrada no Êxodo versículos 23-27: “Mas se houver morte, então darás vida por vida, Olho por olho, dente por 
dente, mão por mão, pé por pé, Queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe. E quando alguém ferir o olho do seu servo, 
ou o olho da sua serva, e o danificar, o deixará ir livre pelo seu olho. E se tirar o dente do seu servo, ou o dente da sua serva, o deixará ir livre 
pelo seu dente”.
7
Sumário
 APRESENTAÇÃO
I. A CABEÇA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO: capítulo (ou capitulação) da antropologia criminal 
brasileira
Hugo Leonardo Rodrigues Santos 14
II. A INVIABILIDADE DA REDUÇÃO DA IDADE PENAL: o empoderamento da população a 
partir da realidade brasileira
Érica Babini Machado 
Marília Montenegro Pessoa de Mello 21
III. CULTURA POLICIAL E APREENSÃO DO ADOLESCENTE SUSPEITO: a expectativa do 
controle e a inviabilidade de proteção integral
Iana Lira Pires 
Érica Babini Machado 
Maurilo Sobral 33
IV. A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA PARA SE TORNAR UMA “MULHER DE FAMÍLIA”: 
entre o discurso hegemônico de gênero e uma possível emancipação
Mariana Chies Santiago Santos 
Roberta Silveira Pamplona 
Sofia de Souza Lima Safi 56
V. SAPATARIA NA FUNDAÇÃO CASA: entre o ser e o estar lésbica
Ana Luiza Villela de V. Bandeira 
Maria Camila Florêncio-da-Silva 
Nina Cappello Marcondes 71
VI. DA LGBT À “CRISTOFOBIA”: entre o reconhecimento prometido e o simbolismo prisioneiro
Diego Lemos 84
VII. O USO DA JUSTIÇA RESTAURATIVA EM CASOS DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO 
CONTRA A MULHER: potencialidades e riscos
Fernanda Rosenblatt 
Marília Montenegro Pessoa de Mello 99
VIII. DO MOVIMENTO FEMINISTA ÀS FORMAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS 
DOMÉSTICOS: a real fundamentação da política criminal de combate à violência contra a mulher
Débora de Lima Ferreira 113
8
IX. GÊNERO: um ensaio criminológico crítico
Carolina Salazar L’armée Queiroga de Medeiros 
Helena Rocha Coutinho de Castro 126
X. RETRATOS DO EU: por uma Criminologia Crítica e Antiproibicionista
Cristhovão Fonseca Gonçalves 141XI. TRAFICANTE? CULPADO! Real funcionalidade do sistema penal e culpabilidade na análise da 
dosimetria da pena de traficantes de drogas
Vitória Dinu 153
XII. GARANTIAS PROCESSUAIS E PENAIS NAS AÇÕES INFRACIONAIS – resquícios da 
prática menorista na cidade do Recife
Keunny Ranieri Macedo 
Érica Babini Lapa do Amaral Machado 171
XIII. AOS PERIGOSOS A PRISÃO: uma análise da periculosidade como fundamento da prisão 
preventiva no Tribunal de Justiça de Alagoas 
Manoel Correia de Oliveira Andrade Neto 185
XIV. SAÍDAS RESTAURATIVAS PARA UMA JUSTIÇA EM LINHA DE MONTAGEM
Fernanda Fonseca Rosenblatt 
Manuela Abath Valença 203
XV. TRANSIÇÃO PARA A DEMOCRACIA: breve análise sobre algumas tensões entre o direito e a 
teoria política
Ricardo C. de Carvalho Rodrigues 216
XVI. O CONSERVADORISMO NA DECISÃO Nº RE 285012 DO STF
Virgínia Colares 226
XVII. “LOS NADIES”: estrangeiros encarcerados no Brasil
André Carneiro Leão 239
XVIII. A EXPERTISE POLICIAL COMO PROVA NO PROCEDIMENTO DE APURAÇÃO 
DE ATO INFRACIONAL
Helena Rocha Coutinho de Castro 
Manuela Abath Valença 258
9
Autores e Autoras
Ana Luiza V. de Viana Bandeira
Advogada, graduada em Direito pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas em 2014. 
André Carneiro Leão
Doutorando em Direito na Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em Direito Penal pela Universidade 
Federal de Pernambuco-UFPE. Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal pela ARIC-Faculdade 
Damas de Instrução Cristã em convênio com a Escola Superior de Advocacia-ESA/OAB-PE. Professor da Fa-
culdade Damas de Instrução Cristã. Defensor Público Federal. Coordenador Estadual do Instituto Brasileiro 
de Ciências Criminais-IBCCRIM. 
Carolina Salazar L’Armée Queiroga de Medeiros
Mestre em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco (2015), com período sanduíche na UNISINOS. 
Advogada. 
Cristhovão Fonseca Gonçalves 
Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica de Pernambuco. Membro da 
Associação Brasileira de Redução de Danos( ABORDA). 
Débora de Lima Ferreira 
Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Católica de Pernambuco. Professora 
de Direito Penal da Faculdade Marista do Recife-PE. Advogada.
Diego Lemos 
Mestrando em direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Pernambuco. 
Advogado. 
Érica Babini Lapa do Amaral Machado
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco. Doutora em Direito pela Universidade Federal 
de Pernambuco. Professora da Universidade Católica de Pernambuco. Advogada Autárquica do Instituto de 
Assistência Social e Cidadania do Recife.
Fernanda Cruz da Fonseca Rosenblatt (Organizadora)
Doutora em Criminologia pela University of Oxford, Reino Unido (2014) (diploma revalidado nacionalmen-
te). Mestre em Criminologia pela Universiteit Katholieke Leuven, Bélgica (2005) (diploma revalidado nacio-
nalmente). Professora de Direito Penal e Direito Processual Penal da Universidade Católica de Pernambuco. 
Membro do Comitê Executivo da World Society of Victimology (Sociedade Mundial de Vitimologia) desde 
julho de 2012. Membro da Comissão de Educação Jurídica da OAB/PE desde fevereiro de 2014. 
Helena Rocha Coutinho de Castro
Mestranda em Ciências Criminais pela PUC/RS. Bolsista FAPERGS.
10
Hugo Leonardo Rodrigues Santos
Doutorando e Mestre em Direito Penal pela UFPE; Pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela 
ESMAPE; Professor de Direito Penal e Criminologia em cursos de Graduação e Pós-graduação em Direito em 
Maceió (AL); Membro da Associação Internacional de Direito Penal (AIDP) e Coordenador estadual do Insti-
tuto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM) em Alagoas. E-mail: hugoleosantos@yahoo.com.br
Iana Lira Pires
Graduanda do curso de Direito da Universidade Católica de Pernambuco.
Luciano Oliveira (Organizador)
Mestre em sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (1984) e doutor em Sociologia pela École des 
Hautes Études en Sciences Sociales (1991). Professor aposentado da Universidade Federal de Pernambuco. 
Professor da graduação e do programa de pós-graduação em direito da Universidade Católica de Pernambuco. 
Keunny Raniere Carvalho de Macêdo Filho
Graduando em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco. 
Manuela Abath Valença 
Doutoranda em Direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade de Brasília (UnB). Mes-
tre em direito pelo Programa de Pós-Graduação em Direito da UFPE (2012). E-mail: manuelaabath@gmail.
com 
Maria Camila Florêncio-da-Silva 
Doutoranda do Programa de Administração Pública e Governo da Escola de Administração de Empresas da 
Fundação Getúlio Vargas - EAESP - FGV (início em 2014). Mestra em Direito pela Escola de Direito de São 
Paulo da Fundação Getúlio Vargas - DIREITO GV (2014). Integra o Centro de Estudos em Administração 
Pública e Governo - CEAPG, Núcleo de Pesquisas em Gênero e Masculinidades - GEMA da Pós-Graduação de 
Psicologia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (desde 2010), o Grupo de Pesquisas em Direito e 
Gênero da FGV DIREITO (desde 2013) e o Núcleo de Pesquisa Democracia e Ação Coletiva - NDAC do CEBRAP 
(desde 2014). 
Mariana Chies Santiago Santos 
Cursou a Pós-graduação lato-sensu - especialização em Ciências Penais pela PUCRS. Mestra em Ciências Cri-
minais na PUCRS. Doutoranda em Sociologia no PPGS da UFRGS. Realizou o doutorado-sanduíche na Univer-
sité de Versailles - Saint-Quentin-en-Yvelines, no Centre de Recherche sur le Droit et les Institutions Pénales/
Ministério da Justiça. 
Marília Montenegro Pessoa de Mello (Organizadora)
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2002) e doutora em Direito pela Universidade 
Federal de Santa Catarina (2008). É professora do curso de mestrado em direito na Universidade Católica de 
Pernambuco, professora da graduação da Universidade Católica de Pernambuco e da Faculdade de Direito do 
Recife (UFPE) e professora da Escola Superior de Magistratura de Pernambuco (ESMAPE).
Maurilo Sobral
Mestrando no programa de pós-graduação em Direito na Universidade Católica de Pernambuco. Educador 
Social do Instituto de Assistência Social e Cidadania. 
11
Ricardo Carvalho 
Doutorando e Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (2010). Especialista em Direito 
Penal e Processo Penal pela Escola de Magistratura de Pernambuco (2007). Atualmente é professor da Estácio 
do Recife. 
Roberta Silveira Pamplona 
Acadêmica do curso de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 
Atua como assistente jurídica no Serviço de Assessoria Jurídica Universitária da UFRGS no grupo Assessoria 
à Adolescentes Selecionados pelo Sistema Penal Juvenil (G10). 
 
Sofia de Souza Lima Safi 
Psicóloga pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2013/2). Trabalha como psicóloga no Serviço de 
Atendimento à Família (SAF) Núcleo Espírita Fraternidade, serviço conveniado à Fundação de Assistência 
Social e Cidadania - FASC/ Porto Alegre. 
Nina Cappello Marcondes 
Advogada. Graduada em Direito pela Faculdade de Direito de Ribeirão Preto - FDRP/ USP 
Virgínia Colares Soares Figueirêdo Alves
Metre (1992) e doutora (1999) em Linguística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente, 
é professora, adjunta IV, da Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), atuando na graduação e mestra-
do em Direito. É líder do Grupo de Pesquisa Linguagem e Direito (Plataforma Lattes). Integra a International 
Language and Law Association (ILLA). É participante do Grupo de Pesquisa em Linguística Forense da Uni-
versidade Federal de Santa Catarina (UFSC). 
Vitória Caetano Dreyer Dinu
Mestranda em Direito pela Universidade Católica de Pernambuco, na linha de pesquisa de Direitos Humanos, 
com bolsa da CAPES/PROSUP. Pós-graduanda em Direito Constitucional pela Universidade Anhanguera/Uni-
derp. Advogada. 
I
Capítulo
14
A CABEÇA DE ANTÔNIO CONSELHEIRO: 
capítulo (ou capitulação) da antropologiacriminal brasileira
Hugo Leonardo Rodrigues Santos
Desenterraram-no cuidadosamente. Dádiva preciosa – único prêmio, únicos despojos opi-
mos de tal guerra! – faziam-se mister os máximos resguardos para que não se desarticulas-
se ou deformasse, reduzindo-se a uma massa angulhenta de tecidos decompostos (...)
Restituíram-no à cova. Pensaram, porém, depois, em guardar a sua cabeça tantas vezes 
maldita – e como f malbaratar o tempo exumando-o de novo, uma faca jeitosamente bran-
dida, naquela mesma atitude, cortou-lha; e a face horrenda, empastada de escaras e de 
sânie, apareceu ainda uma vez ante aqueles triunfadores... (CUNHA, 2003, p. 360).
A partir do fim do século XIX, os conceitos penais no Brasil foram profundamente marcados 
pelo positivismo criminológico italiano. A nuova scola assumiu uma metodologia que destacava o em-
pirismo e a negação da metafísica. Como consequência desse novo paradigma, o foco da compreensão 
criminal passou a ser o estudo do criminoso, e não do delito como instituto jurídico abstrato. Esse 
novo método baseado nessas medições e tipologias ficou conhecido por antropologia criminal. 
Como prova de suas afirmações científicas, Lombroso, principal representante do positivismo 
italiano, deu enorme importância às medições de crânios de delinquentes (DARMON, 1991, p. 16). 
Pretendia demonstrar que a frenologia (craniometria) era um método seguro para a constatação de 
que o delinquente não seria igual aos demais indivíduos, e sim uma classe diferenciada de ser huma-
no. Deu tanta atenção ao tema, que dedicou a ele um capítulo inteiro de seu famoso trabalho (LOM-
BROSO, 2011, p. 43 e seguintes). 
No entanto, a tese era controversa. Nesse sentido, veja-se um episódio acontecido por ocasião 
dos preparativos do Segundo Congresso de Antropologia Criminal, em Paris, no ano de 1889, no 
qual vários dos eminentes pensadores da criminologia de então discutiram a respeito do crânio de 
Charlotte Corday, criminosa famosa à época, conhecida por anjo do crime. Lombroso, ao analisar as 
suas características, deu a entender que se tratava de um exemplar indicativo de criminoso nato, pois 
“trata-se de anomalias patológicas e não de anomalias individuais” (DARMON, 1991, p. 16). 
A polêmica sobre o crânio ainda iria se prolongar por mais alguns meses, com a publicação de 
artigos científicos por parte de Lombroso, Topinard e Benedikt, defendendo suas posições. Ocorre 
que, como ficou comprovado posteriormente, havia ocorrido um equívoco quando da exposição do 
crânio, pois ele, de fato, não era o da assassina famigerada. Isso repercutiu rapidamente em todo o 
meio acadêmico, pondo em xeque os ensinamentos dos positivistas, e trazendo dúvidas sobre a ca-
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
15
pacidade de averiguar o comportamento delitivo por meio do exame cranial. Tal celeuma significava 
duvidar do próprio método de investigação do positivismo criminológico. 
A recepção das ideias positivistas no Brasil já foi objeto de vários estudos (FREITAS, 2002). 
A doutrina jurídico-penal, quase que inteiramente, se voltou para o estudo do positivismo italiano, 
sendo que a maior parte dos autores brasileiros defendeu a nova concepção (CASTIGLIONE, 1962, 
p. 269-290). A Escola do Recife, naquele momento, exercia papel de grande importância, como dis-
seminadora do pensamento moderno, muito embora não se possa dizer que tenha havido a adesão 
irrestrita de todos os seus membros ao positivismo. Por exemplo, Tobias Barreto, principal lente da 
Escola do Recife, assumiu uma posição moderada, com relação ao novo pensamento, pois não concor-
dou integralmente com a ideia de determinismo do comportamento humano (tão característica do 
positivismo criminológico). 
De outro lado desse embate situou-se Nina Rodrigues, que, concordando com o determinismo 
apregoado pelo positivismo italiano, criticou severamente a opinião de Tobias Barreto (RODRIGUES, 
1957, p. 51). Esse médico maranhense, radicado na Bahia, foi o mais destacado entre os estudiosos 
da antropologia criminal no Brasil. De fato, sua importância foi tão grande que os seus seguidores, 
reunidos em torno de seus ensinamentos, denominavam-se adeptos da Escola Nina Rodrigues (COR-
RÊA, 1998, p. 13-14). 
É nítida a influência das ideias lombrosianas na obra de Nina Rodrigues. Chegou mesmo a lhe 
homenagear, com uma dedicatória em um de seus principais trabalhos (RODRIGUES, 1957, p. 21). 
Por sua vez, o italiano também conhecia sua obra, e a admirava. Chegou até mesmo a classificar Nina 
Rodrigues como apóstolo da antropologia criminal no novo mundo (RIBEIRO, 1995, p. 64). 
Como bem observado por Afrânio Peixoto, Nina Rodrigues destacou-se por suas preocupa-
ções científicas terem como objeto os problemas brasileiros. Utilizou as teses positivistas para tentar 
compreender as mazelas típicas de nosso país, como doenças tropicais, além de outros temas, como 
a questão das raças que formaram o Brasil –interessou-se particularmente sobre a herança cultural 
africana (ALVES, s.d.) e a miscigenação. Aliás, essa sua originalidade, aliada à qualidade de suas pes-
quisas, fizeram com que se tornasse tão conhecido na Europa (PEIXOTO, 1957, p. 10). Nesse sentido, 
e seguindo os passos de Lombroso, várias análises craniais de criminosos brasileiros foram realizadas 
por Nina Rodrigues, no afã de explicar as causas dos comportamentos delitivos. Fez, por exemplo, 
observações no crânio de Lucas da feira, um negro, ex-escravo fugido, que era bem conhecido na 
época por seu comportamento extremamente violento. Também teceu comentários sobre crânios de 
menores delinquentes (RODRIGUES, 1957, p. 189)1.
1 Assim, não tem razão Enrique Bacigalupo, por ter afirmado que não foram realizadas na América Latina novas investigações 
para confirmar o caráter atávico dos delinquentes, mediante considerações antropomórficas e antropométricas (BACIGALUPO, 
2011, p. 161).
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
16
Ora, por ter dado tamanha atenção às questões brasileiras, não poderia o médico maranhense 
descuidar de um dos temas mais comentados de sua época, o conflito de Canudos. E é nesse particular 
que se destaca sua originalidade, por ter divergido bastante da ênfase dada por Lombroso à cranio-
metria (frenologia) como técnica de investigação do comportamento criminoso. Como adepto do 
ideário positivista, Nina Rodrigues procurou explicar a criminalidade em nossas terras por meio de 
uma característica tipicamente brasileira, a miscigenação. Em sua visão, a distribuição racial no Brasil 
influenciaria as práticas delitivas. Por isso, “(...) em decorrência da constatação científica da inferio-
ridade da raça negra, o processo civilizacional brasileiro não poderia deixar de enfrentar dificuldades 
por causa da existência de uma considerável população negra em nosso país” (FREITAS, 2012, p. 367). 
Pelo mesmo motivo, defendeu a existência de um código penal para cada uma das raças brasileiras 
(RODRIGUES, 1957, passim). Essa visão positivista também influenciou Euclides da Cunha, principal 
comentador da guerra de Canudos (FREITAS, 2012, p. 369) ((ALVES, s.d., p. 23-26). Por isso, em sua 
obra Os sertões, nota-se claramente a adesão ao positivismo naturalista.
Seria possível, então, compreender Canudos por meio da investigação do seu principal líder, 
Antônio Conselheiro. Conforme a visão positivista, Conselheiro seria um documento raro de atavismo 
(CUNHA, 2003, p. 97). Um antropologista que o analisasse, o apontaria “(...) como fenômeno de in-
compatibilidade com as exigências superiores da civilização – um anacronismo palmar, a revivescên-
cia de atributos psíquicos remotíssimos” (CUNHA, 2003, p. 97). Ele seria o grande vetor da loucura 
epidêmica de Canudos. 
Vários traços da vida de Conselheiro foram destacados, para tentar compreender seu compor-
tamento fanático. Primeiramente, seus antecedentes familiares, vez que era de um clã (Maciel) envol-vido em lutas sangrentas com outra família do interior do Ceará. Sua infância e, principalmente, seu 
casamento frustrado também foram muito comentados. Seu misticismo arcaico e radical. Sobretudo, 
o fato de que Conselheiro era um mestiço. Ora, a mistura de raças era entendida como prejudicial, 
pois o mestiço “é, quase sempre, um desequilibrado (...) o desequilíbrio nervoso, em tal caso, é in-
curável: não há terapêutica para este embater de tendências antagonistas, de raças repentinamente 
aproximadas, fundidas num organismo isolado” (CUNHA, 2003, p. 73).
Por isso, era natural esperar que o crânio de Antônio Conselheiro servisse como prova irrefu-
tável das teses positivistas de então. Nesse sentido, tendo se encerrado o combate, o corpo de Antô-
nio Conselheiro foi localizado, e sua cabeça, guardada cuidadosamente (ver o relato de Euclides da 
Cunha, na epígrafe), como prova do fim da guerra, e também para que pudesse ser submetida à opi-
nião dos cientistas da época. Ninguém seria melhor que Nina Rodrigues para atestar a anormalidade 
de tal crânio, que seria o indicador da morbidade atávica do fanático. Assim, o crânio do beato foi 
enviado para Salvador, onde seria cuidadosamente observado pelo principal professor da Faculdade 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
17
de medicina da Bahia, além de fundador da medicina legal no Brasil, Nina Rodrigues (1939, p. 131). 
Tal análise cuidadosa resultou em um estudo clássico, postumamente publicado, intitulado As Collec-
tividades anormaes, no qual surpreendentemente afirmou que “o craneo de Antonio Conselheiro não 
apresentava nenhuma anomalia que denunciasse traços de degenerescência: é um craneo de mestiço onde 
se associam caracteres anthropologicos de raças diferentes”, e conclui, em definitivo, emendando que 
“é pois um craneo normal” (RODRIGUES, 1939, p. 131-133, com destaques nossos).
Com isso, queremos indicar um traço particularmente notável da obra de Nina Rodrigues. 
Muito embora nunca tenha se afastado da doutrina positivista, contribuiu enormemente para a con-
sideração de aspectos sociais e psíquicos na causação dos delitos, em detrimento de traços biológicos 
e/ou hereditários. Dessa forma, aproximou-se de uma concepção positivista mais coerente com as 
ideias de Ferri que as de Lombroso, enfocando a importância da sociologia do crime. Isso é admirá-
vel, ainda mais levando-se em consideração sua formação de médico, a qual, por óbvio, naturalmente 
faria com que se inclinasse para aquelas explicações de cunho biologicista.
Nesse sentido, Artur Ramos observou que Nina Rodrigues, surpreso por não ter encontrado 
traços de degenerescência após fazer o exame antropométrico em Antônio Conselheiro e Lucas da 
feira, foi levado a pesquisar as causas sociais e psicológicas que provocaram o comportamento antis-
social do beato (RAMOS, 1939, p. 14). Sobre o fato, ensina que Nina Rodrigues “destaca o papel do 
ambiente social na eclosão da epidemia mystica, assignalando os factores sociológicos, como o ad-
vento da República, os conflitos de concepção política, as luctas feudaes nos sertões, etc. no primeiro 
plano das causas deflagradoras daquele fenômeno” (RAMOS, 1939, p. 13). Também Mariza Corrêa 
aponta esse dado relevante da obra de Nina Rodrigues, que passara quase despercebido para muitos 
de seus estudiosos. Os exames periciais realizados em criminosos pobres, ou que cometiam atos de 
grande violência (homicídios ou estupros, por exemplo), demonstravam uma aparente normalidade. 
“É aí que a sua argumentação vai se apoiar cada vez menos nos sinais físicos da doença e cada vez mais 
numa análise das relações sociais do examinado” (CORRÊA, 1998, p. 142).
Isso denota a honestidade intelectual de Nina Rodrigues. Como era uma das poucas vozes 
científicas avalizadas no Brasil, à época, poderia ter insistido em trilhar os caminhos consensuais, 
mas muitas vezes incertos2, de Lombroso e outros mestres. Em vez disso, ao verificar inconsistências 
nas teses de Lombroso, com relação às perícias que realizava, buscou outras explicações para a violên-
cia, chegando às causas psíquicas e sociais. 
Por isso, abriu caminho para uma ciência social brasileira de caráter culturalista, e mais desa-
pegada dos cânones positivistas do século XIX (e cujo exemplo mais marcante, no século seguinte, 
seria a obra de Gilberto Freire). Além disso, possibilitou estudos posteriores dos conflitos messiâni-
2 Ver o episódio relacionado à análise do crânio de Charlotte Corday, já referido no texto.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
18
cos nordestinos, os quais partiam de uma ótica eminentemente social (FACÓ, 1978). Nina Rodrigues 
foi, portanto, um médico excêntrico, que se afastou de uma análise exclusivamente antropométrica e 
contribuiu definitivamente para a consideração de aspectos sociológicos e psicológicos, como causas 
da criminalidade. Considerando o contexto sociopolítico em que escreveu sua obra, isso não é um 
avanço pequeno. 
REFERÊNCIAS
ALVES, Henrique L. Nina Rodrigues e o negro do Brasil. São Paulo: Associação Cultural do Negro, 
[s.d.].
BACIGALUPO, Enrique. La influencia del pensamento de Cesare Lombroso en España y Latinoameri-
ca. PICOTTI, Lorenzo; ZANUSO, Francesca (Orgs.). L’antropologia criminale di Cesare Lombro-
so dall’ottocento al dibattito filosofico-penale contemporaneo. Napoli: Edizioni scientifiche 
italiane, 2011.
CASTIGLIONE, Teodolindo. Lombroso perante a criminologia contemporânea. São Paulo: Sa-
raiva, 1962.
CORRÊA, Mariza. As ilusões da liberdade. Bragança Paulista: Edusf, 1998.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. São Paulo: Nova Cultural, 2003.
DARMON, Pierre. Médicos e assassinos na belle époque. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
FACÓ, Rui. Cangaceiros e fanáticos. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1978.
FREITAS, Ricardo de Brito A. P. As razões do positivismo penal no Brasil. Rio de Janeiro: Lumen 
Juris, 2002.
______. Condenados à civilização: o positivismo naturalista no alvorecer da República. BRANDÃO, 
Cláudio et al. História do direito e do pensamento jurídico em perspectiva. São Paulo: Atlas, 
2012.
LOMBROSO, Cesare. L’uomo delinquente: studio in rapporto all’antropologia, ala medicina legale 
ed ala discipline carcerarie. Bologna: Il Mulino, 2011.
PEIXOTO, Afrânio. Prefácio. RODRIGUES, Nina. As raças humanas e a responsabilidade penal 
no Brasil. Salvador: Livraria Progresso, 1957.
RAMOS, Artur. Prefácio. RODRIGUES, Nina. As collectividades anormaes. Rio de janeiro: Civili-
zação brasileira, 1939.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
19
RIBEIRO, Marcos A. P. A morte de Nina Rodrigues e suas repercussões. Afro-Ásia, n. 16. Salvador: 
Centro de estudos Afro-orientais, 1995.
RODRIGUES, Nina. As collectividades anormaes. Rio de janeiro: Civilização brasileira, 1939. 
______. As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil. Salvador: Livraria Progresso, 
1957.
II
Capítulo
21
A INVIABILIDADE DA REDUÇÃO DA IDADE PENAL: 
o empoderamento da população a partir da realidade brasileira
Érica Babini Machado
Marília Montenegro Pessoa de Mello
Nos últimos dias do primeiro semestre de 2015, os brasileiros têm assistido a diversas discus-
sões sobre a redução da idade penal, tendo a Tv Câmara protagonizado esse cenário nas votações da 
PEC 171 e seus apensos.
De um lado, potenciais vítimas e dores de vítimas reais reclamam segurança pública, especial-
mente devido aos números de homicídios que tem crescido (53.646 mortes violentas em 2013, o que 
representa que a cada 10 min. Uma pessoa é assassinada no país – FBSP, 2014). 
Face esta realidade, a população, acredita que a proposta da redução da idade penal é a melhor 
alternativa. Ocorre que, as discussões sobre o assunto não são construídas com base em informações 
reais, as quais, na maioria das vezes são distorcidas pelo diversos meios de comunicação.
Antes, porém, é importante pontuar que democracia não significamaioria e quantidade. Ao 
reverso, a compreensão da democracia perpassa a salvaguarda de direitos fundamentais como consa-
gração da Dignidade da Pessoa Humana. Não se restringe à números em votação. Reduzir o conceito 
de democracia neste sentido consagra apenas a forma, sem conteúdo (OLIVEIRA, 2010). 
Quer-se dizer que a democracia convive com a indeterminação (LEFORT, 1991), cujo funda-
mento último é o reconhecimento da dignidade da pessoa (RABENHORST, 2001, p. 48), a qual, nem 
mesma pela maioria pode ser aviltada. 
É neste sentido do debate político que se entende que a população deve ser “empoderada” de 
argumentos sobre as suas reivindicações, a fim de que os esforços da monopolização da comunidade 
seja mais frutífera.
O que não se pode perder de vista é que a pluralidade é essência da democracia (e por isso va-
riadas as reclamações políticas), que em seus fundamentos não dispõe de valores absolutos, exceto o 
valor que a faz existir: o próprio homem – eis “o ethos da moralidade democrática” (RABENHORST, 
2001, p. 48). 
Neste sentido, é importante aprofundar o debate para um melhor conhecimento da realidade 
e, consequentemente, melhor avaliação das reinvindicações, para não se correr o risco dos esforços 
serem em vão. Vejamos:
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
22
a) O adolescente é um ser em desenvolvimento da sua personalidade. Extremamente infor-
mado, cada vez mais cedo se depara com uma gama de escolhas e decisões a tomar. No entanto, é im-
portante ponderar que informação não se confunde com maturidade, ponderação de consequências 
antes as escolhas. Os adolescentes são impulsivos, subestimam riscos, suscetíveis ao stress, são mais 
instáveis no sentido de controlar suas emoções. Desse modo, as decisões são impulsivas e contam 
apenas com os efeitos a curto prazo, sem mencionar a necessidade de condutas específicas para in-
tegração, num movimento de pertencimento (MERCURIO, 2010). Os jovens parecem procurar uma 
obtenção de prestígio e saliência social, as quais passam a ser alcançadas por condutas de riscos, jus-
tificadas como a busca de novas experiências de prazer e emoção. Afirma-se que “sem rebeldia e sem 
contestações não há adolescência normal” (OSÓRIO, 1992). Por isso é viável afirmar que a normalida-
de da adolescência é contestadora, arredia, desbravadora e ousada, especialmente em realidades ad-
versas como a brasileira, cujo comportamento “infrator” é às vezes, necessário para a sobrevivência. 
Sob este olhar é possível afirmar que a adolescência é infratora (isto é um pleonasmo); no entanto, o 
que se costuma afirmar é que somente alguns o são. Na verdade, nem toda transgressão é delinquên-
cia, razão pela qual este status (delinquente) além de transitório, não está incorporado na estrutura 
cognitiva-emocional; até porque com o amadurecimento dos adolescentes, pequenas infrações são 
deixadas de lado, ao passar por uma fase chamada peack-age (ALBRECHT , 1990), sem necessidade de 
cerco punitivo.
b) A Convenção dos Direitos da Criança de 1989 é um marco de superação do paradigma tu-
telar, quando “menores” eram objeto de tutela do Estado e não sujeitos de direito. À CDC somam-se 
vários outros documentos que se convencionou denominar de Doutrina das Nações Unidas de Pro-
teção Integral à Criança, os quais têm por fundamentos os valores em Direitos Humanos. O Brasil 
é pioneiro na América Latina em aderir à Convenção, por meio do Decreto 99.710/90, de modo que 
crianças e adolescentes têm direitos e garantias fundamentais atribuídos a qualquer cidadão brasilei-
ro (art. 5° da CF e art. 3°). Pela primeira vez na história das constituições, o Brasil prevê dois artigos 
específicos (227 e 228) para crianças e adolescentes, em que neste último estabelece a idade penal aos 
18 anos, adequando-se às recomendações internacionais.
c) A pretensão social de redução da idade penal decorre de um falso conhecimento da realidade 
da infância e juventude brasileira, seja porque a alta criminalidade não é praticada por adolescentes, 
seja porque os atos infracionais não são graves. Segundo o IBGE de 24.461.666 de adolescentes no 
Brasil, apenas 0,1425% representa a população dos que se encontram em conflito com a lei,; bem dife-
rente do que passa a mídia, no seu contexto de alarme social. Além disso, a maioria dos atos infracio-
nais são roubo 26% (Região Sul) a 40% (Região Sudeste); tráfico de entorpecentes, com representação 
de 32% e 24% nas regiões Sudeste e Sul; homicídio no Sudeste a 7% e nas regiões Sul, Centro-Oeste, 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
23
Nordeste e Norte, o percentual varia de 20% a 28%. Outros delitos com proporções muito menores 
(CNJ, 2011)
d) Há um mito da impunidade. Os adolescentes em conflito com a lei são devidamente 
responsabilizados por seus atos infracionais, e na maioria das vezes, até mais do que os adultos. A 
afirmativa decorre do desconhecimento jurídico e da realidade das medidas socioeducativas. tratam 
da realidade das medidas socioeducativas, seja o tratamento jurídico dado a elas, seja a execução das 
mesmas; e porque as diversas pesquisas acumulam esses conteúdos, serão apresentadas conjunta-
mente. 
Desde a década de 70, com o trabalho pioneiro sobre delinquência juvenil de MISSE (1973), 
se discute a forma de responsabilização de adolescentes, conduzida pelo Judiciário que, à época, não 
cumpria os preceitos estabelecidos na legislação menorista. 
Atualizando a problemática, com estudo em sede de recursos, pesquisa encomendada pelo 
Ministério da Justiça, na Série Pensando O Direito, em 2010 também são apontadas sérias críticas 
sobre a razão pela qual as internações são justificadas pelo Poder Judiciário: 
[…] a pobreza não seria causa de crime, mas sim o foco favorito do sistema criminal. Por 
uma ou outra razão, a questão da internação de adolescentes socialmente excluídos ou des-
favorecidos ganha especial importância, seja para impedir que a internação ocorra como 
o resultado (ainda que inconsciente) da necessidade de controle social, seja porque não 
parece justa a segregação de uma pessoa a quem o Estado nada deu e, no caso, tudo toma 
(MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2010, p. 61). 
No que tange à execução das medidas, ficou contatado que, na prática, as mesmas reproduzem 
as problemáticas do sistema prisional (seletividade e estigmatização), funcionando como um braço 
do Direito Penal, como um subsistema, composto por agências de menor hierarquia, destinado a ope-
rar com punição aparentemente menor, razão pela qual goza de maior discricionariedade e arbitra-
riedade. Porém, tal qual o punitivo, admite técnicas (ilícitas) subterrâneas normalizadas em termos 
estatais dado o fim que promete cumprir (ZAFFARONI, 2003).
É possível comprovar tal afirmativa em trabalhos específicos de dissertações e teses, como a de 
MELLO (2004) que constatou na realidade das unidades de internação de Pernambuco que o caráter 
pedagógico da medida não a torna mais branda que a pena, porque privar a liberdade de pessoa em 
desenvolvimento, no auge da conquista e do gozo da liberdade é uma resposta pior do que a própria 
pena. FACHINETTO (2008) se debruçou sobre a realidade do sistema socioeducativo de adolescentes 
do sexo feminino no Rio Grande do Sul; MALLART (2014), em versão antropológica, retratou a 
realidade de unidade de internação de adolescentes do sexo masculino em São Paulo e MACHADO 
(2014) se debruçou sobre a realidade da unidade de internação de adolescentes do sexo feminino em 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
24
Pernambuco, apontando as mesmas conclusões: a medida socioeducativa de internação, em essência, 
em nada se diferencia da pena privativa de liberdade.
Em 2011, um dado estarrecedor da Associação Nacional dos Centro de Defesa da Criança e 
do Adolescente - ANCEDE, aponta a omissão da mídia na divulgação do número de setenta e três 
(73) adolescentes mortos no interiorde unidades de internação de onze estados país, sem qualquer 
atendimento às famílias, sendo essa realidade “coerente com uma lógica de encarceramento” (2011, 
p. 101). 
Mas não acaba por aí. Institucionalmente, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ, 2015), com 
o objetivo de atualizar pesquisa de 2012 que já apontava por diversas formas de violações de direitos 
no âmbito da Justiça da Infância e da Juventude, mapeou a realidade das instituições de internação 
para adolescentes do sexo feminino em PE, PA, SP, DF e RS, apontando que 
O Estado, no exercício da proteção e diretos, falha na consagração dos direitos mínimos 
à cidadania e na execução das medidas socioeducativas, faz das unidades de internação 
depósitos de contenção de adolescentes demonizadas em suas trajetórias, rotuladas como 
incapazes de viver socialmente. Sob esse prisma, a medida socioeducativa de internação 
tem o mesmo sentido da prisão: castigo (CNJ, 2015, p. 212) 
E mais, o Mapa da Violência (WAISELFISZ, 2015) analisou as casas de mortes de jovens entre 
16 e 17 anos, no Brasil, concluindo que são as causas externas e violentas que mais vitimam esse pú-
blico - 54,9% a cada 100 jovens, colocando o país
a ocupar a 3a posição entre os 85 países do mundo analisados, contrastando dramatica-
mente com países que não registram nenhum homicídio na faixa de 15 a 19 anos de ida-
de, como Dinamarca, Escócia, Eslovênia, Suíça e outros. Considerando outros casos, nossa 
taxa de 54,9% por cada 100 jovens de 15 a 19 anos de idade, resulta 275 vezes maior do 
que a de países como Áustria, Japão, Reino Unido ou Bélgica, que ostentam índices de 0,2 
homicídios por 100 mil. Ou 183 vezes maior que as taxas da Coreia, da Alemanha ou do 
Egito (WAISELFISZ, 2015)
Ou seja, não apenas são verdadeiramente punidos os adolescentes, me cumprimento de me-
dida socioeducativa de internação, como também são vítimas do próprio Estado, em sua omissão, de 
modo que – como manter a afirmativa de que os adolescentes não são responsabilizados, porque o 
ECA é complacente e que três anos de internação é um período curto?
e) A crença popular de que a lei penal é capaz de promover defesa social, ampara-se na promes-
sa de prevenção geral, a qual, porém, já é vetustamente comprovado que a mesma não cumpre efeitos 
intimidatórios da violência. 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
25
O Brasil, ainda falando de dados de junho de 2014, chegou à margem de 600 mil presos, cuja 
população carcerária cresceu quase sete vezes em 25 anos, ao passo que a população do país aumen-
tou por volta de 40% (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2015), resultando num déficit de cerca de 200 mil 
vagas, em um “preocupante processo de hiperencarceramento”, como apontou em entrevista o Minis-
tro da Justiça José Eduardo Cardozo. 
Não obstante essa realidade, não é possível apontar que a violência diminuiu, pois o efeito 
dissuasório da pena seria cumprido. Ao reverso, como já apontado acima. O Anuário Brasileiro de 
Segurança Pública (FBSP, 2014) apontou que em 2013, foi de 1,1% superior a 2012, o número de 
mortes violentas, sendo registradas 53.054. 
Não obstante esse quadro, é importante apontar que a população que compõe esse quadro de 
mortes e encarceramento é mesma: negra, pobre e jovem (BRASIL, 2015; FBSP, 2014), o que pode ser 
visto no gráfico extraído do Anuário de Segurança Pública.
Ou seja, a crença no efeito intimidatórios da pena não possui qualquer substrato empírico, é 
meramente simbólico que funciona, tão somente, para acalmar a população.
f) A sociedade desconhece a realidade socioeconômica e o grau de vitimização da população 
infanto-juvenil. Segundo o IBGE em 2005 e 2006, o Brasil tinha 24.461.666 de adolescentes entre 12 
e 18 anos, representando 15% da população nacional, dentre os quais existe discrepantes diferenças 
sociais: há maior pobreza nas famílias dos adolescentes não brancos do que nas de brancos - cerca 
de 20% dos adolescentes brancos vivem em famílias cujo rendimento mensal é de até dois salários-
mínimos, enquanto a proporção correspondente a adolescentes não brancos é de praticamente o 
dobro, 40%. Além disso, enquanto aproximadamente 40% dos adolescentes brancos estão em famílias 
com faixa de renda mensal superior a cinco salários-mínimos, apenas 18% dos adolescentes não 
brancos vivem em famílias nessa situação de rendimento mensal. Por fim, no extrato das famílias sem 
rendimento mensal ou com rendimento de até um salário-mínimo, encontram-se aproximadamente 
6% de adolescentes brancos, ao passo que a proporção de adolescentes não brancos correspondente 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
26
a esta faixa de rendimento é o dobro do universo de adolescentes brancos. Outrossim, mais de 8.600 
crianças e adolescentes foram assassinados no Brasil em 2010, ficando o Brasil na quarta posição 
entre os 99 países com as maiores taxas de homicídio de crianças e adolescentes de 0 a 19 anos, um 
índice que cresce vertiginosamente ao longo dos anos (WAISELFISZ, 2012, p. 47). Em 2012, mais de 
120 mil crianças e adolescentes foram vítimas de maus tratos e agressões. Deste total de casos, 68% 
sofreram negligência, 49,20% violência psicológica, 46,70% violência física, 29,20% violência sexual 
e 8,60% exploração do trabalho infantil. 
g) Muitos argumentam que países desenvolvidos têm suas idades penais bem diferentes do 
Brasil, razão pela qual o país deveria seguir essa atualização. Ocorre que, esquecem os defensores da 
redução que a análise comparativa não pode ser realizada apenas por um único dado, para que uma 
comparação seja, metodologicamente viável, diversos elementos têm que ser considerados.
Vejamos.
Primeiro, como apontou nota técnica da Organização das Nações Unidas aqui temos uma le-
gislação de vanguarda. O Estatuto da Criança e do Adolescente é uma conquista de direitos humanos, 
valores libertários de uma sociedade democrática.
A redução da maioridade penal opera em sentido contrário à normativa internacional e às 
medidas necessárias para o fortalecimento das trajetórias de adolescentes e jovens, repre-
sentando um retrocesso aos direitos humanos, à justiça social e ao desenvolvimento so-
cioeconômico do país. Salienta-se, ainda, que se as infrações cometidas por adolescentes e 
jovens forem tratadas exclusivamente como uma questão de segurança pública e não como 
um indicador de restrição de acesso a direitos fundamentais, o problema da violência no 
Brasil poderá ser agravado, com graves consequências no presente e futuro (ONU, 2015, p. 
3)
Além disso, a realidade de outros países que tentam comparar, como a Dinamarca, Inglaterra, 
Estados Unidos entre outros, possuem níveis sociais absurdamente diferentes da América Latina. Só 
de antemão, como os dados apontados acima, o índice de mortalidade de jovens beira à zero, quando 
a nossa é assustadora.
A história, aqui, é marcada por um imenso genocídio iniciado na colonização e aprofundado 
no escravismo, apresentando “as veias abertas de homens animais, mercadorias ou mercadorias ani-
mais”, em que cada ciclo econômico correspondeu um moinho de moer gente. “O capital precisa de 
corpos para extrair mais-valia, que se realiza na expropriação da energia vital que emana do trabalho 
do homem” (BATISTA, 2011, p. 33).
Na realidade marginal, o controle de índios, negros, pobres e marginalizados, hoje mais nota-
damente por meio da criminalização do tráfico de jovens pobres e negros da periferia, mesmo sendo 
a pena declarada público estatal, o que se vê é o exercício arbitrário do poder privatizado. 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
27
A justificativa do genocídio (os índios somavam 70 milhões, na América Latina, ou mais e um 
século e meio após os conquistadores, reduziram-se a 3,5 milhões), não obstante os decretos estabe-
lecendo igualdades de direitos dos índios (apenas formais), conforme GALEANO (2013, p. 64, 65, 67) 
Na fala da igreja - “não negamosque as minas consomem um número considerável de índios, mas isto 
não resulta do trabalho deles nas minas de prata e mercúrio, e sim da libertinagem em que vivem” ou 
[os índios] “são preguiçosos, não acreditam nos milagres de Jesus Cristo e não são agradecidos aos 
espanhóis por todo o bem que eles lhes fizeram”.
Quer dizer, tratava-se de uma armadilha intelectual sem saída - índios viviam na ignorância 
da fé, suas humanidades eram da Coroa. Se eram hereges, a competência era da igreja e portanto a 
Inquisição aplicava-se a eles. De qualquer forma estavam apropriados (ANITUA, 2008, p. 82).
No Brasil, índios cativos, (“bem semovente, desgastado com a maior indiferença (...) porque 
havia um estoque aparentemente inesgotável [...] para repor os que se gastavam”), negros desapro-
priados de seu povo e de si, “reduzido à condição de animal de carga [que] deixa de trabalhar bem se 
não for convenientemente espancado”, foram a matéria prima do “moinho de gastar gente” (RIBEI-
RO, 1995, p. 112) na formação da sociedade brasileira.
Mas tudo se justificava para uma burguesia que se formava como instrumento do capitalismo 
internacional, como “prósperas peças da engrenagem mundial que sangrava as colônias e as semico-
lônias” (GALEANO, 2013, p. 159).
Assim, como indica Dussel, é preciso negar “o mito civilizatório e a inocência da violência 
moderna” (2005, p. 61, 65), porque é preciso reconhecer que o “mundo periférico, colonial, o índio 
sacrificado, o negro escravizado, a mulher oprimida, a criança e a cultura popular alienadas etc. foram 
reais vítimas da modernidade (como contradição do ideal racional da própria modernidade)”. 
Não se encontram abismos entre o evolucionismo oficial do passado e o moderno – “o que 
subsiste é um continuum metódico punitivo, desde a colonização, o mercantilismo e a escravidão, até 
a globalização do capitalismo” (ANDRADE, 2012, p. 108).
É preciso, portanto, reconhecer que a América Latina adentrou na modernidade explorada e 
espoliada, tendo que se adequar ao mito da superioridade da civilização moderna, em que desde a 
guerra colonial, tudo estava justificado por um aparelho teórico e ideológico. Pois se a modernidade 
foi a emancipação da Europa e sacrificial em relação aos explorados, é possível “chama-los de bárbaros 
com relação às nossas regras de razão” (DUSSEL, 2005, p. 61, 67).
Na América Latina, há práticas que se generalizam “como consequência de sua absorção/in-
tegração no mercado mundial, sob a égide do imperialismo [...] (cujo território) desenvolveu ao mais 
alto nível a tecnologia da violência” (SANTOS, 1984, p. 70-71). Porém, é preciso resistir o conformis-
mo e as explicações seletivas do sistema de justiça criminal e assumir que nós brasileiros temos que 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
28
conviver com a ideia de que nossas carnes são descendentes de senhores, escravos, índios e portugue-
ses, e mais do que isso, a “aventura brasileira” de se fazer um povo como uma “Nova Roma”1 é
[...]levar sempre conosco a cicatriz de torturador impressa na alma e pronta a explodir 
na brutalidade racista e classista. Ela é que nos incandesce, ainda hoje, em tanta auto-
ridade brasileira predisposta a torturar, seviciar e machucar os pobres que lhes caem às 
mãos [...] servos da malignidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento de dor 
intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre 
homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto da nossa fúria (RIBEIRO, 
1995, p.120.)
Portanto, é essa a nossa história e a nossa realidade, absolutamente diferente dos países cen-
trais, com os quais pretendem simplesmente comparar. Sem mencionar o PIB, o investimento na 
juventude, com políticas específicas e as diversas alternativas, no sistema de Justiça, de como lidar 
com o conflito, que não somente a forma retributiva, tal como se impõe ainda no Brasil. Porém, esses 
elementos são desconsiderados.
E mesmo com toda essa realidade de diferentes matizes, o estado de Nova Iorque, nos Estados 
Unidos, onde a idade penal é de 16 anos, tem, na figura de seu representante legal, lutado para elevar 
a idade para 18 anos2, assim como a Espanha e a Alemanha: “A Espanha e a Alemanha voltaram atrás 
na decisão de criminalizar menores de 18 anos. Hoje, 70% dos países estabelecem 18 anos como ida-
de penal mínima” (BETTO, 2014).
Portanto, é preciso antes discutir esses elementos, antes de simplesmente realizar compara-
ções, apontando o alinhamento com outros países, como forma de progresso. 
g) Não obstante todas estas questões, nada adianta a tranferência do menor para o sistema 
carcerário, o qual, no país já tem um déficit de 84,9% de vagas. Isso significa que há 262.427 pessoas 
a mais para o número existente de vagas (MINISTÉRIO DA JUSTIÇA 2012). Sem levar em conta a 
cultura violenta e criminógena do cárcere a qual, se instalará fortemente nos adolescentes, que estão 
no momento de formação da sua personalidade.
Por fim de tudo o que foi discutido, resta um ponto fundamental que consiste em transmitir 
informações sobre o real funcionamento do sistema penal que em si é um “mecanismo sem alma” e 
este funcionamento, que se resume em tudo o que não foi dito na discussão na Câmara dos Deputados, 
precisa ser divulgado, porque, na medida em que for publicizado e a sociedade passar a conhecer seus 
efeitos, “ela mesma reinvindicará sua abolição” (HULSMAN, 1993), ou aqui, na melhor das hipóteses, 
não admitirá a redução da idade penal.
1 Expressão que consta no hino do estado Pernambuco, indicando a postura aguerrida que o povo desse rincão marca e marcou 
na história da construção do país.
2 Disponível em <http://www.portalmetropole.com/2015/07/governador-de-nova-york-propoe-aumentar.html> . Acesso em 
06.07.2015.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
29
REFERÊNCIAS
ALBRECHT, P.A. El Derecho penal de menores. traducción de la primera edición alemana por Bus-
tos Ramírez, Barcelona, 1990.
ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Pelas mãos da Criminologia. O controle penal para além da 
(des)ilusão. Rio de Janeiro: Revan, 2012.
ANITUA, Gabriel Ignacio. História dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: Revan, 
2008.
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS CENTRO DE DEFESA DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. Pelo 
Direito de Viver com Dignidade. Relatório Final de Pesquisa. Homicídio de Adolescentes em cum-
primento de medida socioeducativa de internação. São Paulo, 2011.
BATISTA, Vera Malaguti. Introdução Crítica à Criminologia brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 
2011.
BETTO, Frei. Todos os países que reduziam a idade penal não reduziram a violência. Disponí-
vel em: < http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/04/todos-os-paises-que-reduziram-maiori-
dade-penal-nao-diminuiram-violencia.html>. Acesso em 06.07.2015.
BRASIL. Presidência da República. Secretaria Geral. Mapa do encarceramento: os jovens do Brasil 
/ Secretaria-Geral da Presidência da República e Secretaria Nacional de Juventude. Brasília: Presidên-
cia da República, 2015.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Relatório de Pesquisa. Dos espaços aos direitos: a realidade 
da ressocialização na aplicação das medidas socioeducativas de internação das adolescentes do sexo 
feminino em conflito com a lei nas cinco regiões. Brasília, 2015.
_____. Programa Justiça ao Jovem. Relatório Nacional 2010. Brasília, 2011.
DUSSEL, Enrique. Europa, modernidade e eurocentrismo. In: LANDER, Edgardo. A colonialidade 
do saber. Eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLA-
CSO, 2005.
FACHINETTO, Rochele Fellini. A “casa de bonecas”: um estudo de caso sobre a unidade de atendimen-
to sócio-educativo feminino do RS. Dissertação. UFRGS. Programa de Pós Graduação em Sociologia. 
Porto Alegre, 2008.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Ano 
8. São Paulo, 2014. 
GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Trad.Sergio Faraco. Porto Alegre: L 
&PM, 2013.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
30
HULSMAN, Louk; CELIS, Jaqueline Bernat de. Penas Perdidas. O sistema penal em questão. Rio de 
Janeiro: Luam, 1993.
LEFORT, Claude. Pensando o político. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.
MACHADO, Érica Babini L. Do A. Medida socioeducativa de internação: do discurso (eufemista) à 
prática judicial (perversa) e à execução (mortificadora): um estudo do continuum punitivo sobre ado-
lescentes do sexo feminino em conflito com a lei na cidade do Recife, PE. Tese (Doutorado em Direi-
to) – UFPE, 2014.
MALLART, Fábio. Cadeias Dominadas. A fundação Casa, suas dinâmicas e trajetórias de jovens 
internos. São Paulo: Terceiro Nome, 2014.
MELLO, Marília Montenegro Pessoa de. (In)imputabilidade penal. Adolescentes infratores: punir 
e (res)socializar. Recife: Nossa Livraria, 2004.
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Levantamento nacional de atendimento socioeducativo ao ado-
lescente em conflito com a lei 2010. Brasília: (SPDCA / SEDH / PR) – 2011.
_____. DEPEN / InfoPen, 2012
N. MERCURIO, Ezequiel. Hacia un regimen penal juvenile. Fundamentos neuro-científicos. Revista 
de Derecho Penal y Processo Penal. N. 5, p. 771- 791, Buenos Aires, 2010.
MISSE, Michel. Delinquência juvenil na Guanabara. Rio de Janeiro: Tribunal de Justiça da Gua-
nabara, 1973.
OLIVEIRA, Luciano. O enigma da democracia. O pensamento de Claud Lefort. Piracicaba: Jacin-
tha Editores, 2010.
OSÓRIO, L. C. Adolescência hoje. Porto Alegre: Artes médicas, 1992.
PAIVA, Denise Maria Fonseca. Mapeamento Nacional Da Situação Do Atendimento Dos Ado-
lescentes em Cumprimento de Medidas Sócioeducativas. Brasília, 2002.
RABENHORST, Eduardo Ramalho. Dignidade humana e moralidade democrática. Brasília: Bra-
sília Jurídica, 2001.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. A formação e o sentido do Brasil. 2 ed. São Paulo: Companhia 
das Letras, 1995.
SANTOS, Juarez Cirino dos. As raízes do crime. Um estudo sobre as estruturas e as instituicoes de 
violência. Rio de Janeiro: Forense, 1984.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 2010.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
31
SPOSATO, Karyna Batista. A constitucionalização do direito da criança no Brasil como barreira à re-
dução da idade penal: visões de um neoconstitucionalismo aplicado. Revista Brasileira de Ciências 
Criminais, São Paulo, ano 17, n. 80, set.-out., p. 81- 118, 2009.
ZAFFARONI, R. E. Criminología: aproximación desde una márgen.Colombia: Editorial Temis, 2003.
WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência. Adolescentes de 16 e 17 no Brasil. 
Rio de Janeiro: Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais – FLACSO, 2015.
_____. Mapa da violência. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, 2012.
III
Capítulo
33
CULTURA POLICIAL E APREENSÃO DO ADOLESCENTE SUSPEITO: 
a expectativa do controle e a inviabilidade de proteção integral
Iana Lira Pires
Érica Babini Machado
Maurilo Sobral
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho foi compreender, teoricamente, se a estrutura de atuação dos órgãos 
policiais sobre os adolescentes que praticam um ilícito penal, especialmente diante dos mecanismos 
da sociedade do controle, respeita a legislação, atendendo aos postulados da doutrina da proteção 
integral.
A problemática do trabalho surge a partir do marco teórico da criminologia crítica e da sociolo-
gia do crime, numa perspectiva de que a polícia, enquanto agência oficial de controle social, reproduz 
as demandas e os valores da sociedade que dela exige controle da criminalidade (BARATTA, 2002), 
porém, sendo essa instituição extremamente desacreditada seja diante do Judiciário, seja diante da 
população, ela precisa demonstrar que sua atividade é indispensável (KANT DE LIMA, 2004). 
Neste sentido, se colocou como a hipótese a ideia de que a polícia precisa reafirmar para o ob-
servador (a sociedade e o Judiciário) que seu trabalho é útil, é necessário; e, se assim o é, a instituição 
precisa confirmar que o adolescente apreendido em situação flagrancial é necessariamente infrator, 
caso contrário, seu trabalho não faria nenhum sentido. Desse modo, não faria a polícia um trabalho 
de investigação do fato ocorrido, mas de confirmação de que o adolescente é infrator, ocasião em que 
a instituição ratifica a sua importância social. 
A hipótese de trabalho foi manejada por revisão bibliográfica dos marcos teóricos que orienta-
ram a pesquisa e o pressuposto da hipótese é a adolescência - uma fase que marca a transição entre a 
infância e a vida adulta, época em que o indivíduo passa a ganhar uma maior notoriedade dentro do 
meio social, sendo reconhecido como um sujeito plenamente capaz de exercer seus direitos.
Com este reconhecimento, passam a ser atribuídas aos adolescentes uma série de responsabi-
lidades, dentre as quais se encontra a responsabilidade criminal, ainda que esta esteja fundamentada 
em preceitos normativos distintos dos quais os maiores de idades estão suscetíveis. Trata-se da Dou-
trina da Proteção Integral.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
34
2. DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL
A Convenção dos Direitos da Criança (CDC) de 1989 representou o marco de superação do 
paradigma punitivo, cientificista, tutelar, eufêmico e excludente do período antecedente.
O documento teve a mais rápida e ampla aceitação da história (com exceção dos Estados Uni-
dos e da Somália que, segundo os críticos, tal não foi efetivado pelo país norte-americano, devido 
ao fato de os americanos admitirem a pena de morte e a prisão perpétua aos menores de 18 anos de 
idade, procedimentos terminantemente proibidos para todas as crianças menores de 18 anos pela 
Convenção - art. 37) (DOLINGER, 2003, p. 108). 
A Convenção dos Direitos da Criança representa, portanto, um compromisso entre sensibili-
dades culturais de uma comunidade, em nítido comprometimento à filosofia dos Direitos humanos 
das crianças e dos adolescentes (MARTIN-CHENUT, 2003).
Apesar de esse não ter sido cronologicamente o primeiro documento internacional a tratar 
da nova postura protetiva, foi o marco mais significativo, englobando vários outros documentos in-
ternacionais que se convencionou denominar de Doutrina das Nações Unidas de Proteção Integral 
à Criança. São os documentos, além da CDC, as Regras Mínimas das Nações Unidas para a Adminis-
tração dos Direitos dos Menores (Regras de Beijing), as Regras Mínimas das Nações Unidas para a 
proteção dos jovens privados de liberdade (Regras de Tóquio) e as Diretrizes das Nações Unidas para 
a prevenção da Delinquência (Diretrizes de Riad).
Todas essas legislações são fundadas nos valores dos Direitos Humanos, assim como apresen-
tado no preâmbulo do documento: 
Considerando que, em conformidade com os princípios proclamados pela Carta das Nações 
Unidas, o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e 
dos seus direitos iguais e inalienáveis constitui o fundamento da liberdade, da justiça e da 
paz no mundo (CDC, 1989).
O conjunto das legislações internacionais impulsiona perspectivas de autonomia e garantia, 
afastando-se dos métodos repressivos para uma orientação educativa, constituindo um programa 
de ação – seja como princípio, seja como teoria – que assegura, com absoluta prioridade, os direitos 
individuais e as garantias fundamentais inerentes à criança e ao adolescente por serem sujeitos de 
direitos. Tudo isso implica uma dedicação protetiva diferenciada. 
O sistema legal regente da criança e do adolescente acolhe a concepção de desenvolvimento 
integral da criança, reconhecendo-lhe absoluta prioridade, resguardando o melhor de seus interesses, 
obrigando os Estados a respeitarem as responsabilidades, direitos e obrigações dos pais, posto que, 
não mais menores, objetos de tutela, passam a ser sujeitos de direitos.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
35No Brasil, em conformidade com a ordem internacional, houve, pela primeira vez na história 
das Constituições, a inserção de dois artigos específicos sobre a criança no documento maior (arts. 
227 e 228).
Com a Carta Maior, o Código de Menores, vigente desde 1979, passava a conflitar com o pa-
radigma assumido pelo Estado. Era imprescindível a elaboração de um novo diploma legislativo pau-
tado na perspectiva da enunciação de direitos, opondo-se ao modelo de encarceramento em massa e 
punitivista vivenciado até então.
Assim, em 1990 foi promulgada a Lei 8.069/90, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, 
visando propiciar as condições para que os direitos consagrados na Carta Magna pudessem ser con-
cretizados, de modo que tentava romper completamente com os sistemas anteriores (de submissão 
ao Direito Penal e de tutela menorista).
A regulamentação constitucional e infraconstitucional deixou evidente as pretensões da Con-
venção dos Direitos da Criança: as políticas públicas de proteção devem seguir uma ordem hierár-
quica de observação. No primeiro nível, está a realização das políticas públicas básicas de educação e 
saúde. Estas são complementadas, no segundo nível, pela política social, tanto de vertente positiva 
(por exemplo, prestação de serviços), como de vertente negativa (tida como abstenção da interseção 
do Estado na liberdade). Por fim, no terceiro nível, está a política correcional, seguida pelas políticas 
institucionais de processamento e garantia – sendo que essas últimas devem ser manejadas apenas 
quando as das ordens anteriores já estiverem sido contempladas (BARATTA, 1999). 
Ou seja, pode-se compreender que as políticas públicas de proteção à infância e à juventude 
se executa em três segmentos: políticas sociais básicas (direitos fundamentais, definidos no art. 4 do 
ECA); políticas de proteção especial, relacionada com a vinculação das crianças e adolescentes com a 
sua família e a comunidade em que está inserido, concretizada pelos arts. 101, 129 e 23, parágrafo 
único, além do art. 34 do ECA; e, por fim, as políticas socioeducativas, regulamentadoras das medidas 
socioeducativas, objeto do art. 112 do Estatuto.
Como se observa, é uma rede voltada à promoção integral do Direito da Criança e do Adoles-
cente, em que primeiro se procura subsidiar socialmente a cidadania da criança, para somente depois, 
em caso de deficiente socialização, ter-se a intervenção estatal. Porém esta mesma intervenção execu-
ta-se por meio do Sistema de Garantias, que tem por objetivo promoção, defesa e controle social, tal 
como preconiza o art. 86 do ECA.
Nesse sentido, o Sistema de Garantias tem que observar as mesmas regras das políticas bási-
cas, o que significa seguir as mesmas diretrizes de proteção em rede; naturalmente, resguardando as 
peculiaridades do adolescente.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
36
 A proteção jurídica especializada é fundamentada no respeito à peculiar condição de desen-
volvimento, devendo ser, desse modo, integral a proteção ao desenvolvimento individual da persona-
lidade nos seus aspectos físico, mental, moral, espiritual e social (MACHADO, 2003).
Tal perspectiva é fruto do reconhecimento da especialidade dos sujeitos, trazendo consigo 
uma nova concepção principiológica, expressa pelos princípios do Interesse Superior da Criança e da 
Prioridade Absoluta, isto é, o rápido atendimento das demandas, e transversalidade, demandando 
sinergia de todos os atores sociais: Estado, comunidade e família, os quais, participativamente con-
cretizam a democracia. 
Esse avanço pode ser observado, principalmente, pelo fato de não mais haver uma intervenção 
punitiva ou educativa sobre os “menores” abandonados, pois, agora, mais que nunca, há um procedi-
mento em que devem ser respeitadas as diversas garantias processuais básicas, tais quais presunção 
de inocência e direito de defesa por intermédio de um advogado. 
Cabe destacar que apreensão, e não prisão, é o termo utilizado pelo ECA ao se referir àqueles 
adolescentes que estariam em estado de flagrância, cuja disciplina se encontra no art. 302 do Código 
de Processo Penal (CPP).
É importante notar que, ao se apropriar de determinadas palavras em detrimento de outras, 
o legislador deixa claro o caráter garantista, e não punitivo, desta legislação. Pois bem, no âmbito 
policial, o adolescente, uma vez apreendido, é levado à autoridade policial competente, que deverá 
comunicar imediatamente à autoridade judiciária e à família do adolescente (art. 107 c/c art. 172, 
ECA).
Caso a repartição policial para onde o adolescente estiver sendo levado não seja especializada 
para o seu atendimento, este será apresentado em dependência separada da destinada as maiores, 
não podendo exceder a sua permanência por tempo superior a vinte e quatro horas (art. 174 § 2º c/c 
§ 1º, ECA).
Na repartição, caso o adolescente tenha praticado o ato infracional com o emprego de violên-
cia ou grave ameaça, será lavrado o auto de apreensão. Na ausência destas circunstâncias, a legislação 
permite a substituição deste auto pelo termo de ocorrência circunstanciada, sendo este um procedi-
mento mais simplificado (art. 173, ECA).
Tanto no auto como no boletim, são assegurados aos adolescentes os direitos dispostos no art. 
5º LXIII, LXVI e LXII da Carta Magna, que, por sua vez, também se encontram reproduzidos nos arts. 
106 e 107 do Estatuto da Criança e do Adolescente.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
37
Uma vez realizada a apreensão e lavrado o auto ou o boletim de ocorrência, a autoridade poli-
cial, após a verificação das circunstâncias do ato infracional, poderá proceder com a liberação imedia-
ta do adolescente, devendo, para tanto, realizar os seguintes procedimentos, in verbis: 
Art. 174 Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamen-
te liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua 
apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, 
no primeiro dia útil imediato, exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercus-
são social, deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal 
ou manutenção da ordem pública (grifos nosso).
Assim como ocorre no Código de Processo Penal, a prevalência da liberdade sobre a sua priva-
ção é regra a ser seguida no Estatuto da Criança e do Adolescente, devendo esta ser aplicada apenas 
em caráter excepcional. 
Entretanto, não sendo possível haver a liberação do adolescente, a autoridade policial o enca-
minhará ao representante do Ministério Público, com a cópia do auto de flagrante ou do boletim de 
ocorrência circunstanciada. Havendo óbice à sua apresentação perante o membro do Ministério Pú-
blico, o adolescente será encaminhado à entidade de atendimento, que ficará encarregada de realizar 
esta apresentação (art. 175, ECA). 
Todo este arcabouço garantista deve ser compreendido à luz da criminologia crítica, que per-
mite a compreensão da dinâmica dos órgãos policiais em relação aos adolescentes em conflito com a 
lei.
3. O OLHAR DA CRIMINOLOGIA CRÍTICA E A PROBLEMATIZAÇÃO DO “DEVER SER” 
NO ECA
A teoria do etiquetamento – labeling approach - leva ao extremo a orientação de que o mundo 
social não é um dado, mas construído “aqui e agora”, isto é, a crença de que o desvio é criado por um 
conjunto de definições instituídas pelas relações sociais:
O desvio não é a qualidade do ato cometido por alguém, mas antes a consequência da apli-
cação, por outros, de regras e sanções a um ‘ofensor’. O desviante é uma pessoa a quem este 
rótulo pôde ser aplicado com sucesso. O comportamento desviante é o comportamento 
designado como tal (BECKER, 1963, p. 55).
 Esta concepção implica considerar que as forças do controle social ao designar certas pessoas 
como desviantes, causa-lhes estigmas e as conformam como desviantes por causado estigma que se 
apega na definição, num processo de construção social.
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
38
O interacionismo simbólico tem como ponto de partida que indivíduo e sociedade constituem 
unidades indispensáveis e estão em mutual interdependência, de modo que o controle social formal 
e informal realizam-se numa espécie de continuum. Ou seja, o homem é visto numa perspectiva dual, 
sem prevalência da estrutura social, mas que determina fenômenos sociais por um processo de in-
teração com o meio. Nem meio, nem indivíduo se sobrepõem, ambos se inter-relacionam, de modo 
que são produzidos significados sociais independentemente do indivíduo, ou seja, há identidades 
próprias dentro da realidade concreta.
Neste sentido, o estudo da realidade social segundo as perspectivas do interacionismo simbó-
lico é o estudo dos processos de definições e tipificações. Aplicando-se ao conceito de desvio, tem-se 
que o delito é resultado da atribuição de um determinado significado social dentro da interação. Ou 
seja, para o labeling, o que importa é compreender como e por que pessoas e comportamentos rece-
bem a significação de desviados (SCHUR, 1971).
A partir do labeling, a Criminologia tomou o controle social como objeto de estudo, afastando 
as teorias etiológica para construção de uma teoria (criminologia crítica) que se preocupasse com a 
compreensão de como esse processo de rotulação é efetivado, ou seja, como se dá o processo de cri-
minalização primária e secundária. Isto é, a projeção da critica criminológica atinge os processos de 
definição de crime, seu caráter seletivo e estigmatizante e, sobretudo, a inadequação das instituições 
de privação de liberdade para atingir os objetivos oficiais que justificam a sua razão de existir (BA-
RATTA, 1999).
Explicando melhor, a criminologia crítica compreende que o crime não é um dado ontológi-
co do homem, nem que o Direito penal se reduz a complexo estático de normas, mas resulta de um 
processo articulado e dinâmico de criminalização, concorrendo todas as agências do controle social 
formal - o legislador (criminalização primária), Polícia, Ministério Público e a Justiça (criminalização 
secundária), e o informal - família, escola, mercado de trabalho, mídia. Conforme segue:
[...] a lei penal configura tão-só um marco abstrato de decisão, no qual os agentes do con-
trole social formal desfrutam ampla margem de discricionariedade na seleção que efetuam, 
desenvolvendo uma atividade criadora proporcionada pelo caráter ‘definitorial’ da crimi-
nalidade [...] pois, entre a seleção abstrata, potencial e provisória operada pela lei penal e a 
seleção efetiva e definitiva operada pelas instâncias de criminalização secundária, medeia 
um complexo e dinâmico processo de refração (ANDRADE, 1997, p. 260).
A partir da perspectiva interacionista apresentada, o Direito Penal é um elemento no sistema 
dinâmico de funções como o é o sistema penal, cuja observância pelo olhar normativo é insuficiente, 
porque dispensa o processo de etiquetamento. Como consequência, a hipótese é a de que os limites 
do jus puniendi não são somente dirigidos à faculdade do Estado de punir, mas também deve ser 
completada com a de persecução da infração, isto é, os limites existem tanto a nível de criação da 
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
39
norma como de aplicação. E neste caso, o destinatário não é o legislador, mas o juiz (HORMAZÁBAL 
MALARÉE, 2006). 
O fluxo do processo de rotulação (que depende do grau de reação social para imputação de um 
status) é guiado pela lógica da estereotipação, um conceito que permeia a forma de conhecimento – 
primeiro define-se para depois ver-se o que é o mundo – processo de caracterização que se realiza na 
socialização na ordenação de expectativas de comportamentos.
As associações estereotipadas são integradas com meios estabelecidos no pensamento sobre 
o desvio, como se encontrasse terreno fértil no costume de se pensar que o desviante é alguém dife-
rente. Neste sentido, estas associações permanecem porque favorece o conforto da lógica de que o 
delinquente é o outro e este é uma pessoa doente – é funcional manter a moral posta. Isto é, “Agências 
de controle refletem os estereótipos da opinião pública” (SCHUR, 1971, p. 51).
Esta análise aplicada ao crime, e nesta vertente, ao ato infracional, tem-se que o desvio é uma 
realidade construída a partir da reação dos interesses prevalentes na sociedade; razão pela qual maior 
será a criminalidade quanto maior for a reação aos atos de transgressão. Nesse sentido:
O ato infracional não é uma realidade ontologicamente pre-constituída, mas realidade so-
cial construída por juízos atributivos do sistema de controle, determinados menos pelos 
tipos penais legais e mais pelas metaregras – o elemento decisivo do processo de crimina-
lização –, aqueles mecanismos atuantes no psiquismo do operador jurídico, como estereó-
tipos, preconceitos e outras idiossincrasias pessoais que decidem sobre a aplicação das re-
gras jurídicas e, portanto, sobre o processo de filtragem da população criminosa (SANTOS, 
2000a, p. 173).
A teoria do Labeling Approach parte do pressuposto que a intervenção punitiva é pautada por 
rótulos que identificam os adolescentes como criminosos. Esta identificação além de perversa, produz 
a assimilação do rótulo que lhe é atribuído, produzindo um espiral de reincidência.
A partir da lógica interacionista, é possível perceber uma relação cíclica no esforço institucional 
para administrar o desvio através de um processo de tipificação que se desenvolve em etapas, tal qual 
uma máquina, como uma espécie de “corredor do desvio”. Incialmente há a imposição dos padrões 
sociais populares sobre o desvio, em segundo a definição formal do rótulo burocraticamente, que ter-
mina por produzir dados sobre o desvio que ao ser conhecido pelo público influencia o conhecimento 
sobre a violência e as concepções, terminando por influir na reação ao desvio (SCHUR, 1971).
Compreendido o marco teórico orientador, problematiza-se a atuação da polícia, quando da 
apreensão do adolescente que age sob diversas pressões, em termos de segurança pública, especial-
mente, imersa na lógica da sociedade do controle.
4. SOCIEDADE DO CONTROLE E A ATUAÇÃO POLICIAL: A CONSTRUÇÃO DO 
ADOLESCENTE SUSPEITO
PARA ALÉM DO CÓDIGO DE HAMURABI: ESTUDOS SOCIOJURÍDICOS
40
Como visto, a atuação das agências oficiais de controle social reproduzem, em processo de 
retroalimentação, os elementos da construção da cidadania individual, de modo que a fuga a padrões 
normalizados, do ponto de vista coletivo, implica a rotulação de desviante, cujo regime de controle 
articula as estruturas de suas instituições, como a polícia, a partir de um modus operandi de repressão, 
desconfiança e punição, onde tais mecanismos são direcionados a quem, de certa forma, foge a tais 
perspectivas. 
Constrói-se assim, a figura do suspeito. Suspeito, disciplina e controle são elementos que per-
meiam as estruturas sociais de uma sociedade inserida em relações de fluxo cada vez mais dependen-
tes dos olhares desconfiados e amedrontados das pessoas. 
Impende-se ressaltar, entretanto, que o objetivo da presente análise não é explicar diretamen-
te mecanismos de criminalização desses adolescentes, apenas traçar observações acerca da identifi-
cação desses indivíduos como suspeito e o intenso processo de mortificação que eles são submetidos, 
dentro das diretrizes da sociedade de controle1. 
As relações e construções sociais passam a ser montadas a partir de estruturas que não se 
restringem à sociedade disciplinar, sob uma perspectiva Foucaultiana, e do direcionamento de hie-
rarquias e disciplinas contra o corpo dócil e saudável. Passetti (2003) entende que a sociedade disci-
plinar cede à sociedade de controle de modo que o interesse não é mais sobre o corpo propriamente 
dito, mas a um processo de produção e participação

Continue navegando