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59 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar Unidade III 5 CONTRATOS E CONTRATUALIZAÇÃO Antes de aprofundarmos o conteúdo deste tópico, é indispensável explicar o que é um contrato e suas características. O contrato é um acordo de livre vontade entre duas ou mais partes, conscientes e igualmente capazes, e é destinado a regulamentar seus interesses, com o objetivo de adquirir, modificar ou extinguir as relações jurídicas obrigacionais de natureza patrimonial. Os contratos são indutores de melhoria da qualidade dos serviços e conferem maior garantia aos direitos dos usuários. Representam o acordo de compromissos estabelecidos entre as partes. Devem, obrigatoriamente, destacar que todo o elenco de procedimentos contratados precisa estar disponível à regulação, e por esse motivo é considerado o primeiro instrumento da regulação do acesso. Existem alguns princípios aplicáveis aos contratos que devemos destacar: • princípio do consensualismo: o simples acordo de duas ou mais vontades livres e conscientes do que estão contratando é fundamental para gerar o contrato. • princípio da autonomia da vontade: as partes podem estipular livremente a regulação dos seus interesses – limitadas pelo princípio da função social do contrato, pelo respeito à dignidade da pessoa, pelas normas de ordem pública, pelos bons costumes e pela revisão judicial dos contratos –, o que melhor lhes convier, mediante acordo livre e consciente de vontades. • princípio da força obrigatória dos contratos: o contrato constitui lei entre as partes. Assim, as estipulações feitas pelos contratantes deverão ser fielmente cumpridas, sob pena de execução patrimonial contra o inadimplente. • princípio da relatividade dos efeitos do contrato: o contrato deriva da vontade das partes e vincula apenas os contratantes, não aproveitando nem prejudicando terceiros, salvo raras exceções. • princípio da função social do contrato: os contratos devem alcançar, além da finalidade individualmente pretendida pelos contratantes, uma finalidade social, ou seja, respeito aos valores comuns, e deverá produzir benefícios para a maioria da sociedade. • princípio da probidade e da boa‑fé: os contratantes devem agir com lealdade e confiança recíprocas, na formação, na execução e na conclusão dos contratos, ou seja, na crença da realização do avençado. 60 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III • princípio do respeito à dignidade da pessoa humana: a dignidade da pessoa humana é composta de valores que lhe asseguram a existência plena em todos os seus aspectos físicos, psíquicos, morais e patrimoniais. Assim, valores fundamentais, como a vida, a saúde física e mental, a liberdade, a imagem, a privacidade e a propriedade, devem ser respeitados em face da exigência de qualquer prestação contratual. Para que haja um contrato de fato, é necessário ter o conhecimento sobre a sua formação. As fases da formação do contrato são representadas do seguinte modo: Negociações pré‑contratuais Propostas Aceitação Figura 22 – As fases da formação do contrato • negociações pré‑contratuais: são as sondagens e os estudos prévios, de acordo com os interesses dos contratantes, com o propósito de ofertar ou aceitar um contrato futuro, sem qualquer vínculo jurídico. • proposta: é uma declaração de vontade, unilateral, que obriga o proponente perante o solicitado, se este último aceitar. O art. 427 do Código Civil dispõe que: “A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” (BRASIL, 1995). • aceitação: é a manifestação da vontade, expressa ou tácita, da parte do destinatário de uma proposta, feita dentro do prazo, que concorde livre, igual e conscientemente com todos os termos da proposta, tornando o contrato definitivamente concluído. 5.1 Classificação de contratos De acordo com a ANS (2014b), quando falamos em classificação de contratos, devemos ter em mente que existem inúmeras denominações. Vejamos algumas das mais importantes: • unilaterais: serão unilaterais se apenas uma das partes assumir obrigações em face da outra. — exemplos: no comodato e na doação. • bilaterais: cada contratante é credor e devedor do outro, havendo direitos e obrigações para ambos. — exemplos: na compra e na venda, na troca, na locação, na empreitada, na prestação de serviços ou em consórcios e sociedades. 61 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar • onerosos: são contratos que trazem ônus e proveitos para ambos os contratantes. — exemplo: locação. • gratuitos: são contratos que oneram apenas um dos contratantes. — exemplo: doação. • adesão: modalidade na qual um dos contratantes está em desigualdade com o outro para contratar, e apenas adere à vontade do outro, anuindo à sua proposta, sem condições de alterá‑la. — exemplo: planos de saúde. • contratos‑tipo: são contratos pré‑redigidos, que admitem discussão e consenso das partes para a fixação, a alteração, a substituição ou o cancelamento de determinadas cláusulas, como taxa de juros, prazos e condições de financiamento. • prazo determinado: termo final estipulado pelos contratantes ou pela lei. • prazo indeterminado: termo final não estipulado pelos contratantes ou indeterminação definida ou permitida por lei. 5.1.1 Extinção dos contratos Ainda com base na ANS (2014b), existem formas de extinção dos contratos. São elas: • extinção normal do contrato: extingue‑se o contrato pela sua execução. Neste caso, o credor atestará o pagamento pela quitação. • nulidade: a nulidade é uma sanção pela qual a lei priva o contrato dos seus efeitos jurídicos, em virtude do não cumprimento dos pressupostos de validade do negócio jurídico, previstos no art. 104 do Código Civil. — nulidade absoluta: é a sanção aplicável ao contratante que transgride preceito de ordem pública, operando de pleno direito, de sorte que o contrato não poderá ser confirmado, não convalescerá pelo decurso de tempo e não produzirá efeitos desde a formação. Segundo o Código Civil: Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: I — celebrado por pessoa absolutamente incapaz; II — for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; III — o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; 62 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III IV — não revestir a forma prescrita em lei; V — for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; VI — tiver por objetivo fraudar lei imperativa; VIl — a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir‑lhe a prática, sem cominar sanção. – nulidade relativa ou anulabilidade: é a sanção aplicável aos contratos celebrados por indivíduos relativamente incapazes ou por pessoas cujo consentimento se deu por erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Todavia, produzirão efeitos até a decretação da sua nulidade, reconhecendo o seu defeito, admitindo confirmação e purificando‑se com o decurso do tempo. A nulidade relativa tem efeitos apenas ulteriores. – condição resolutiva: é a condição para a dissolução do contrato por descumprimento da obrigação avençada, autorizando o lesado a pedir rescisão contratual, caso não prefira exigir o cumprimento e a indenização das perdas e dos danos pela mora. Pode ser tácita ou expressa. – resilição unilateral: é a dissolução do contratobaseada na declaração de vontade de uma das partes, autorizada pelo próprio contrato ou pela lei. – resolução por inexecução voluntária: é quando ocorre o descumprimento da obrigação convencionada por culpa (imperícia, imprudência e/ou negligência) de um dos contratantes. – resolução por inexecução involuntária: a inexecução poderá advir de fatos alheios à vontade dos contratantes que impossibilitem o cumprimento da obrigação por um deles. É o caso da inexecução por caso fortuito ou força maior, cujos efeitos não podem ser evitados pelo devedor, em que a resolução se opera sem ressarcimento de perdas e danos. – resolução por onerosidade excessiva: se ocorrer onerosidade excessiva induzida por evento extraordinário e imprevisível, por ocasião da formação do contrato, que dificulte o adimplemento por uma das partes na execução e gere vantagem excessiva para a outra, o lesado poderá desligar‑se da obrigação, requerendo judicialmente a rescisão do contrato ou o reajustamento das prestações recíprocas. A contratualização é o conjunto de atos que resultam na contratação de serviços de saúde, e esses atos são entendidos desde como a necessidade de complementar a rede de assistência até como a contratação do serviço, ou melhor, é o que envolve desde a detecção da necessidade de complementar a rede até o ato de contratar. Segundo a Norma Operacional da Assistência à Saúde/SUS (Noas‑SUS) nº 01/02, a compra de serviços de saúde deverá ser realizada quando a oferta de serviços de saúde da rede pública for 63 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar insuficiente ou inexistente. Também deverá ser pautada pelas necessidades assistenciais, e não pela vontade do prestador, atendendo à legislação, às normas vigentes e ao interesse público. A formalização da contratação das ações e dos serviços realizados pelos prestadores do SUS estabelece uma relação de responsabilização do prestador com os objetivos, metas e programações definidas pelo gestor. A Lei nº 8.666/93, no artigo 55, dispõe: São cláusulas necessárias em todo contrato as que estabeleçam: I – o objeto e seus elementos característicos; II – o regime de execução ou a forma de fornecimento; III – o preço e as condições de pagamento, os critérios, data‑base e periodicidade do reajustamento de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento; IV – os prazos de início de etapas de execução, de conclusão, de entrega, de observação e de recebimento definitivo, conforme o caso; V – o crédito pelo qual correrá a despesa, com a indicação da classificação funcional programática e da categoria econômica; VI – as garantias oferecidas para assegurar sua plena execução, quando exigidas; VII – os direitos e as responsabilidades das partes, as penalidades cabíveis e os valores das multas; VIII – os casos de rescisão; IX – o reconhecimento dos direitos da Administração, em caso de rescisão administrativa prevista no art. 77 desta Lei; X – as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão, quando for o caso; XI – a vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vencedor; XII – a legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos casos omissos; 64 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III XIII – a obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas, todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na licitação (BRASIL, 1993). 5.2 Tipos de contratos Destacamos a seguir alguns dos tipos de contratos utilizados. • Contrato administrativo: — Considerado como um acordo entre o Poder Público e entidades privadas, com ou sem fins lucrativos, para a consecução de objetivos de interesse público, nas condições estabelecidas pela própria administração. — A lei nº 8.666, de junho de 1993, estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos: “Regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal, institui normas para licitações e contratos da Administração Pública e dá outras providências” (BRASIL, 1993). — Neste contrato existe uma característica específica, que é a exigência de uma licitação prévia, que só será dispensável ou inexigível nos casos expressamente previstos em lei. • Contrato de gestão: — É considerado uma maneira de ajuste entre o Poder Público e entidade da Administração Pública (indireta ou privada), estabelecendo um autêntico acordo operacional, em que são definidas metas e prazos de execução. — É estipulado por tempo determinado, ficando o contratado sujeito ao controle de resultados conforme o cumprimento das metas pactuadas. — O contrato de gestão também está previsto na Lei nº 9.637, de 15 de maio de 1998, que cita o seguinte no Capítulo III: Do contrato de gestão: Art. 5o. Para os efeitos desta Lei, entende‑se por contrato de gestão o instrumento firmado entre o Poder Público e a entidade qualificada como organização social, com vistas à formação de parceria entre as partes para fomento e execução de atividades relativas às áreas relacionadas no art. 1º (BRASIL, 1998). Art. 6o. O contrato de gestão, elaborado de comum acordo entre o órgão ou entidade supervisora e a organização social, discriminará as atribuições, responsabilidades e obrigações do Poder Público e da organização social. 65 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar Parágrafo único. O contrato de gestão deve ser submetido, após aprovação pelo Conselho de Administração da entidade, ao Ministro de Estado ou autoridade supervisora da área correspondente à atividade fomentada. Art. 7º. Na elaboração do contrato de gestão, devem ser observados os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, economicidade e, também, os seguintes preceitos: I – especificação do programa de trabalho proposto pela organização social, a estipulação das metas a serem atingidas e os respectivos prazos de execução, bem como previsão expressa dos critérios objetivos de avaliação de desempenho a serem utilizados, mediante indicadores de qualidade e produtividade; II – a estipulação dos limites e critérios para despesa com remuneração e vantagens de qualquer natureza a serem percebidas pelos dirigentes e empregados das organizações sociais no exercício de suas funções. Parágrafo único. Os Ministros de Estado ou autoridades supervisoras da área de atuação da entidade devem definir as demais cláusulas dos contratos de gestão de que sejam signatários (BRASIL, 1998). • Convênio: — É considerado a forma de ajuste entre o Poder Público e as entidades públicas ou privadas quando o objetivo for do mesmo interesse, mediante a colaboração de ambos os lados e com a mesma finalidade. Quadro 4 – Principais diferenças entre contrato e convênio No contrato, os interesses são opostos e contraditórios; no convênio, são recíprocos. Os entes conveniados têm objetivos institucionais comuns e se reúnem para alcançá‑lo. No convênio, as partes buscam um resultado comum; no contrato, as vontades “são antagônicas, se compõem, mas não se adicionam”. Para a efetivação de um contrato, é imprescindível o processo licitatório; no convênio, a licitação é inexigível, pois não há viabilidade de competição. No convênio há uma mútua colaboração, que pode ocorrer de diversas formas: repasse de recursos na forma deincentivo, cessão de uso de equipamentos, recursos humanos, materiais e imóveis, e não se menciona preço, que é uma característica dos contratos. No contrato, o valor pago a título de remuneração integra o patrimônio da entidade que o recebeu; no convênio, a entidade conveniada deve utilizar o valor recebido para a execução de determinada atividade que foi ajustada. Dessa forma, o valor repassado não perde o caráter público, só podendo ser utilizado para os fins explicitados no convênio, por isso a entidade conveniada fica obrigada a prestar contas sobre a utilização do recurso público aos órgãos de controle interno e externo. 66 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III Observação Os contratos são indutores de melhoria da qualidade dos serviços, garantindo os direitos dos usuários. O mesmo representa um acordo de compromissos estabelecidos entre as partes. 5.3 Demitidos e aposentados Tanto os aposentados como também os ex‑empregados exonerados ou demitidos sem justa causa, que contribuíam para o custeio do seu plano privado de saúde, possuem o direito de manter as mesmas condições de cobertura assistencial que tinham quando ainda estavam em vigência do contrato de trabalho. Nesse caso, eles vão manter as mesmas condições sem prejuízo de eventuais vantagens obtidas em negociações coletivas (BRASIL, 1998). Dessa maneira, a empresa que contratou o convênio é obrigada a manter o aposentado ou o ex‑empregado demitido ou exonerado sem justa causa no plano enquanto o benefício for ofertado para os empregados ativos, desde que o aposentado ou o ex‑empregado demitido ou exonerado sem justa causa tenha contribuído para o custeio do seu plano privado de saúde e que não seja admitido em novo emprego. Se o ex‑empregado demitido sem justa causa ou o aposentado decidirem manter‑se no plano, será necessário informar à empresa empregadora no prazo máximo de 30 dias, que são contados a partir da comunicação do empregador sobre o direito de manutenção do gozo do benefício. No caso dos dependentes dos aposentados ou dos ex‑empregados, o direito ao uso do plano é extensivo restritamente ao grupo familiar que estava inscrito quando da vigência do contrato de trabalho, se assim desejar o aposentado ou o ex‑empregado demitido ou aposentado (BRASIL, 1998). Quando se trata da morte do aposentado ou do ex‑empregado demitido ou exonerado, os seus dependentes continuam no plano pelo restante do tempo a que o beneficiário titular tinha direito. 5.4 Contrato entre operadoras e prestadores Em dezembro de 2014, a ANS cria novas regras para os contratos entre operadoras de planos de saúde e prestadores de serviços em todo o País, por meio da Lei nº 13.003/14. Essa lei enfatiza a obrigatoriedade de contratos por escrito e detalhados entre as operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço, permitindo transparência e constância na relação entre ambas as partes. Se não houver este contrato por escrito entre as operadoras e a rede credenciada (hospitais, clínicas, profissionais de saúde autônomos, serviços de diagnóstico por imagem e laboratórios), a ANS poderá aplicar as penalidades previstas na Resolução Normativa nº 124/2006. 67 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar Esse contrato deve estabelecer com clareza as seguintes condições para a sua execução: • objeto; • natureza do contrato (descrever serviços contratados); • valores dos serviços contratados; • identificação dos atos, eventos e procedimentos assistenciais que necessitem de autorização da operadora; • prazos e procedimentos para faturamento dos pagamentos e quitação dos serviços prestados; • critérios, forma e periodicidade dos reajustes dos preços a serem pagos pelas operadoras, que deverão ser obrigatoriamente anuais; • penalidades pelo não cumprimento das obrigações estabelecidas; • vigência do contrato; • critérios para a prorrogação, renovação e rescisão (BRASIL, 2006b) 5.4.1 Rede de prestadores de serviços Antes de ser comercializado, o “produto” ou plano de saúde deve ser registrado de maneira provisória, por exigência legal, junto à ANS. Esse produto é o resultado de um conjunto de características, podendo ser contratado de forma individual ou coletiva, além de ser caracterizado por uma segmentação (ambulatorial, hospitalar, odontológica e suas diversas combinações), por uma abrangência geográfica de área de cobertura (municipal, regional, estadual ou nacional) e por uma rede de prestadores de serviços hospitalares. Além desses aspectos, é exigida uma Nota Técnica de Registro de Produto (NTRP), que define a base de preço para as características desejadas. Essa nota técnica é considerada um documento que justifica a formação inicial dos preços dos planos de saúde por meio de cálculos atuariais, devendo acompanhar a solicitação de registro do produto – ficando vigente até que seja efetuada sua atualização. Então, os valores definidos anteriormente são reavaliados e serão válidos apenas para as vendas efetuadas a partir da data do seu recebimento na ANS, desde que processada com sucesso. A obrigatoriedade de registro dos planos de saúde comercializados após a Lei nº 9.656/98 possibilitou a criação de um banco de dados com essas variáveis descritas, o qual recebeu o nome de Registro de Produtos de Saúde (RPS). Independentemente da forma pela qual o consumidor terá acesso ao conjunto 68 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III de prestadores de serviço ou quaisquer que sejam os mecanismos de regulação da operadora, a rede é uma das características do produto e deve ser identificada quando de seu registro na ANS. Atualmente, só há exigência de vinculação, no sistema, das unidades hospitalares, e são encontráveis produtos com a mesma cobertura assistencial, que se diferenciam entre si pela qualificação da rede de prestadores hospitalares. De acordo com Cunha (2003), a regulação dos produtos possui aspectos normativos, executivos e judicantes. É normativa no que tange à exigência de atendimento a alguns conjuntos de procedimentos médicos, aos quais as operadoras devem submeter‑se nas definições de segmentações e contratações distintas; é executiva quando exige o registro do produto junto à ANS; por fim, é judicante quando da atuação desta ao aplicar penalidade às irregularidades desses produtos. Como consequência, as características atuais de regulação dos produtos trazem certos pontos relevantes à consolidação do regime regulatório, o que requer estudo específico. O conhecimento prévio da oferta é um fator que, sem dúvida, gera impacto na utilização dos serviços, possibilitando a definição de prognósticos sobre barreiras de acesso e a imediata ampliação do processo de regulação. Lembrete Importante ressaltar a obrigatoriedade de contratos por escrito e detalhados entre as operadoras de planos de saúde e prestadores de serviço. 5.4.2 Contratação do plano de saúde A ANS faz o acompanhamento da garantia do atendimento do beneficiário e de seu prazo máximo para consultas, exames e cirurgias. Esse controle junto às operadoras de planos de saúde é permanente e contínuo, e a divulgação dos dados apurados é feita pela ANS a cada três meses. A suspensão da comercialização dos planos mais reclamados ocorre pelo descumprimento reiterado, por parte das operadoras, dos prazos máximos para realização de consultas, exames e cirurgias e por recusa de cobertura assistencial aos beneficiários de planos de assistência médica e odontológica. A ANS (2014b) destaca o guia prático para contratação doplano de saúde: 1) Se o plano for contratado por uma pessoa física, será um plano individual ou familiar; por uma empresa, sindicato ou associação, será coletivo. Em alguns casos, as regras são diferentes para cada um desses tipos de contrato. 2) As necessidades de quem vai usar os serviços do plano de saúde devem ser avaliadas: número de pessoas, condições de saúde, idade, tipo de atendimento, locais e disponibilidade financeira. 69 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar 3) A segmentação do plano deve ser a mais adequada às necessidades de quem vai contratá‑lo. O plano de saúde pode ser: ambulatorial (para consultas, inclusive pré‑natal, exames e cirurgias sem internação); hospitalar (internação); odontológico; ambulatorial + hospitalar, com ou sem serviços de odontologia e obstetrícia (pré‑natal, parto e pós‑parto); ou plano‑referência. 4) Se a opção for por um plano hospitalar, a acomodação poderá ser individual (quarto, pagando mais e tendo mais privacidade) ou coletiva (enfermaria, economizando mais e ficando no mesmo ambiente que outros pacientes). 5) Abrangência do local de atendimento: apenas na cidade, no Estado, em grupos de cidades ou Estados, em todo o País ou até fora dele. 6) Rede credenciada do plano: hospitais, clínicas, laboratórios e profissionais de saúde para prestar o atendimento. 7) As faixas de idade e as escolhas destacadas anteriormente serão determinantes para definir o preço final do plano de saúde. 8) Há planos de saúde que cobram um valor fixo por mês: usando ou não os serviços do plano, a mensalidade será a mesma. Outros cobram uma mensalidade menor, porém acrescentam um valor adicional a ser pago por cada atendimento, consulta ou exame realizado naquele período (planos com coparticipação). 9) As opções de planos de saúde podem ser pesquisadas no seguinte endereço eletrônico: <www. ans.gov.br>. 10) Antes de assinar o contrato, deve‑se verificar se a operadora escolhida tem registro na ANS (ANS, 2014a). A ANS realiza um monitoramento com base nas reclamações recebidas e na quantidade de beneficiários das operadoras dos planos de saúde, que são analisadas conforme o tipo de mercado em que atuam. Dessa maneira, é processada de forma eletrônica e sistematizada – segundo critérios estritamente objetivos, predefinidos e publicados nos normativos. Depois, a análise comparativa apresenta aquelas operadoras que estão na pior situação possível nos últimos dois períodos. Então, essas instituições perdem o direito de comercializar os produtos mais reclamados até que apresentem resultados melhores – reativando suas atividades. Quando ocorrer a suspensão da comercialização de um plano de saúde em decorrência do monitoramento da garantia de atendimento, a operadora: • não poderá registrar nenhum novo produto que seja análogo aos que estiverem na lista de suspensão; 70 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III • não poderá receber novos beneficiários nos planos de saúde com comercialização suspensa (com exceção de novo cônjuge ou filho e de ex‑empregados demitidos ou aposentados, na forma da regulamentação). Vejamos o que dispõe o artigo 12‑A da Resolução Normativa nº 259, de 17 de junho de 2011: Art. 12‑A. Ao constatar o descumprimento reiterado das regras dispostas nesta Resolução Normativa, que possa constituir risco à qualidade ou à continuidade do atendimento à saúde dos beneficiários, a ANS poderá adotar as seguintes medidas: (Acrescentado pela RN nº 268, de 2/9/2011) I – suspensão da comercialização de parte ou de todos os produtos da operadora de planos privados de assistência à saúde; e (Acrescentado pela RN nº 268, de 02/09/2011) II – decretação do regime especial de direção técnica, respeitando o disposto na RN nº 256, de 18 de maio de 2011. (Acrescentado pela RN nº 268, de 2/9/2011) § 1º Na hipótese de adoção da medida prevista no inciso II, a ANS poderá determinar o afastamento dos dirigentes da operadora, na forma do disposto no § 2º do art. 24, da Lei 9.656, de 3 de junho de 1998. (Acrescentado pela RN nº 268, de 2/9/2011) § 2º O disposto neste artigo não exclui a aplicação das penalidades cabíveis, conforme previsto no art. 12 da presente resolução. (Acrescentado pela RN nº 268, de 2/9/2011) § 3º Durante o período de suspensão da comercialização de parte ou de todos os produtos da operadora de planos privados de assistência à saúde, não serão concedidos registros de novos produtos que apresentem características análogas ao do produto suspenso, tais como: (Incluído pela RN nº 334, de 1º de agosto de 2013) I – Segmentação assistencial; (Incluído pela RN nº 334, de 1º de agosto de 2013) II – Área Geográfica de Abrangência; e (Incluído pela RN nº 334, de 1º de agosto de 2013) III – Área de Atuação do Produto. (Incluído pela RN nº 334, de 1º de agosto de 2013) (BRASIL, 2011b). 71 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar 6 INDICADORES DE SAÚDE Os indicadores de saúde foram desenvolvidos para facilitar a quantificação e a avaliação das informações produzidas com tal finalidade, para então serem compreendidos por gestores e pelos que atuam no controle dos sistemas de saúde. Esse dispositivo pode ser considerado como uma variável ou um instrumento com o intuito de mensurar o gerenciamento e o planejamento das ações voltadas para a saúde. Na prática, esses indicadores são utilizados quando apresentam uma relevância e uma possibilidade de execução, assim como necessitam ser fidedignos e práticos em relação aos aspectos da saúde individual ou coletiva. Desse modo, são medidas que possuem informações sobre atributos e dimensões do estado de saúde, assim como todo o desempenho do sistema de saúde. Por meio desses indicadores, é permitida a realização de mudanças tanto nos processos como nos resultados, de maneira que ocorra o estabelecimento de ações que propiciem a melhoria contínua de determinada situação. Os indicadores utilizam fontes de dados, recursos, prioridades e necessidades específicas em cada região para obterem as frequências. Para que os dados relativos a essas informações transmitam confiança, é imprescidível a monitorização da qualidade dos indicadores. A fim de que tudo ocorra de forma correta, é preciso revisar periodicamente a consistência dos dados e divulgar as informações de maneira regular em todos os níveis da saúde. Em termos gerais, os indicadores são medidas‑síntese, que contêm informação relevante sobre determinados atributos e dimensões do estado de saúde, bem como do desempenho do sistema de saúde. Vistos em conjunto, devem refletir a situação sanitária de uma população e servir para a vigilância das condições de saúde. A construção de um indicador é um processo cuja complexidade pode variar desde a simples contagem direta de casos de determinada doença até o cálculo de proporções, razões, taxas ou índices mais sofisticados, por exemplo, a esperança de vida ao nascer. Os indicadores da saúde são classificados em seis grupos: Demográficos Morbidade Socioeconômicos Fatores de risco Cobertura Mortalidade Recursos Figura 23 – Classificação dos indicadores da saúde 72 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III Seguem os exemplos de cada indicador. • Demográficos: as fontes primárias dessas informações são instituições que atuam na área de demografia, como o IBGE – em nível nacional – e outras, geralmente estaduais.Ter o conhecimento das características da população do território sobre o qual se pretende atuar é o primeiro passo em qualquer processo de planejamento. Nesse ínterim, destacam‑se: — população total; — razão de sexos; — proporção de idosos; — grau de urbanização. • Socioeconônimcos: esses indicadores podem ser utilizados para estimar a proporção de possíveis usuários do SUS na população, mas sua maior utilidade reside na sua associação com alguns agravos e doenças e para o planejamento de ações de promoção da saúde. A maioria desses indicadores não é calculada para municípios, considerando os seguintes aspectos: — taxa de analfabetismo; — proporção de pobres; — níveis de escolaridade; — taxa de desemprego; — taxa de trabalho infantil. • Mortalidade: durante anos, os indicadores de mortalidade foram os únicos empregados para a identificação de problemas prioritários de saúde da população. Mesmo que outros indicadores venham sendo a eles associados, sua importância continua inquestionável. Vejamos sua abrangência: — taxa de mortalidade infantil; — taxa de mortalidade por causa específica; — taxa de mortalidade por causas externas; — taxa de mortalidade por acidentes de trabalho. 73 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar • Morbidade: esses indicadores estão associados aos indicadores de mortalidade e são de extrema importância para as análises de situação de saúde. Elencamos os seguintes pontos: — incidência de febre amarela; — taxa de incidência de doenças relacionadas ao trabalho; — prevalência de pacientes em diálise (SUS); — proporção de nascidos vivos por idade materna. • Recursos: aqui são incluídos os indicadores utilizados para monitoramento e avaliação dos recursos disponíveis para a saúde, quais sejam: recursos humanos, financeiros e de infraestrutura. Ressaltamos os seguintes itens: — número de leitos por habitante; — gasto médio por atendimento ambulatorial; — gasto público com saúde, como proporção do PIB; — gasto federal com saneamento. • Cobertura: além de se prestarem ao monitoramento e à avaliação do desempenho quantitativo de serviços em relação à população, os indicadores de cobertura são frequentemente utilizados na elaboração de parâmetros para programação, considerando os seguintes aspectos: — proporção de partos cesáreos; — número de consultas médicas no SUS por habitante; — cobertura de planos e seguros privados de saúde suplementar; — cobertura vacinal no primeiro ano de vida. Cada indicador é caracterizado na matriz pela sua denominação, conceituação, seu método de cálculo, suas categorias de análise e fontes de dados. A produção de cada indicador é de responsabilidade da instituição‑fonte melhor identificada com o tema, a qual fornece anualmente os dados brutos utilizados no cálculo, em planilha eletrônica padronizada, que é preparada pelo Datasus ou obtida diretamente das bases de dados dos sistemas nacionais de informações de saúde. 74 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III O Datasus é o nome do departamento de informática do SUS do Brasil. Disponibiliza informações que podem servir para subsidiar análises objetivas da situação sanitária, tomadas de decisão baseadas em evidências e elaboração de programas de ações de saúde. Os resultados dos indicadores da saúde podem ser expressos de três maneiras: Frequência absoluta Frequência relativa Em índice Figura 24 – Meios para destacar os resultados dos indicadores da saúde • Frequência absoluta Representa o número total de casos por meio de números absolutos, sendo a forma mais simples de expressar os resultados. Citemos um exemplo: foram detectados trinta casos de dengue durante o ano na cidade de Sorocaba. Contudo, essa afirmação possui limitações, pois não permite o conhecimento específico da situação. • Frequência relativa Em geral, a frequência relativa é a relação entre dois valores absolutos. Desse modo, há três maneiras de expressá‑la: — A: em relação à população (coeficiente ou taxa), apresenta‑se o coeficiente entre a frequência absoluta e o número total. Os coeficientes são estruturados conforme demonstrado a seguir, e os casos são relacionados de acordo com o tamanho da população da qual procederam. Coeficiente = número de casos x constante população de risco — B: em relação ao total de óbitos – proporção Os casos incluídos no denominador são também subconjuntos do denominador, mas não expressam risco. Ex.: mortalidade proporcional; letalidade. — C: em relação a um outro evento – razão. • Em índice Destacam relações entre frequências atribuídas da mesma unidade. Os índices são apresentados sob forma percentual. Coeficientes e índices são valores geralmente menores do que a unidade, devido ao fato de serem as frequências dos eventos registrados no numerador muito menor do que aqueles do denominador. 75 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar Os coeficientes mais utilizados na área da saúde baseiam‑se em dados sobre doenças (morbidade) e sobre eventos vitais (nascimentos e mortes). Apresentaremos a seguir suas subdivisões: – Coeficiente de mortalidade geral: todos os indivíduos da população se encontram expostos ao risco de óbito. – Coeficiente de mortalidade específica: categorizados por critérios, podem ser classificados por: sexo, idade, estado civil, causa e localização. – Coeficiente de morbidade: prevalência, incidência e letalidade. – Coeficiente de prevalência: permite medir a morbidade, e então é possível calcular qual a quantidade de indivíduos doentes que existe em determinado período e lugar, de acordo com uma população específica. – Coeficiente de incidência: mensura o número de novos casos de pacientes que contraem doenças. É um indicador da velocidade de ocorrência de uma enfermidade ou outro evento de saúde na população e, consequentemente, é um estimador do risco absoluto que essas pessoas têm de padecer tal adversidade. – Coeficiente de letalidade: a letalidade mede a severidade de uma doença e é definida como a proporção de mortes dentre aqueles doentes por uma causa específica e em determinado período de tempo. Desse modo, representa a proporção de óbitos entre os casos da doença, sendo um indicativo da gravidade da enfermidade ou do agravo na população, podendo ser uma característica da própria disfunção ou de fatores que aumentam ou diminuem a letalidade da doença nas pessoas. Coeficientes de saúde Mortalidade Geral Específica Incidência Prevalência Letalidade Morbidade Figura 25 – Coeficientes mais utilizados em saúde 76 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III 6.1 A importância dos indicadores Para Rouquayrol (1993), Os indicadores de saúde são parâmetros utilizados internacionalmente, com o objetivo de avaliar, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos planejamentos de saúde, permitindo o acompanhamento das flutuações e tendências históricas do padrão sanitário de diferentes coletividades consideradas à mesma época ou da mesma coletividade em diversos períodos de tempo. O uso desses indicadores de saúde permite que padrões sejam estabelecidos, bem como o acompanhamento de sua evolução no decorrer dos anos. Embora o uso de um único indicador isoladamente não possibilite o domínio da complexidade da realidade social, a associação devários deles e, ainda, a comparação entre diferentes indicadores de distintas localidades facilitam sua compreensão. Para a OMS, esses indicadores gerais podem subdividir‑se em três grupos: 1) Aqueles que tentam traduzir a saúde ou sua falta em um grupo populacional. Exemplo: razão de mortalidade proporcional, coeficiente geral de mortalidade, esperança de vida ao nascer, coeficiente de mortalidade infantil, coeficiente de mortalidade por doenças transmissíveis. 2) Aqueles que se referem às condições do meio e que têm influência sobre a saúde. Exemplo: saneamento básico. 3) Aqueles que procuram medir os recursos materiais e humanos relacionados às atividades de saúde. Exemplo: número de unidades básicas de saúde, quantidade de profissionais, leitos hospitalares disponíveis e o número de consultas em relação a determinada população. Dadas as inúmeras definições de saúde, sua imprecisão e a dificuldade de mensurá‑la, os indicadores mais empregados têm sido aqueles referentes à ausência de saúde. Esses indicadores são bastante abrangentes, embora tenham sido utilizados para comparar países em diferentes estágios de expansão econômica e social. Há necessidade de desenvolvimento de indicadores mais específicos e capazes de traduzir com fidedignidade a realidade e a complexidade da saúde, apontando, quando preciso, aspectos de maior interesse para uma dada realidade. Considerando‑se os serviços de saúde em geral, é possível empregar indicadores que analisem as várias dimensões da qualidade propostas por Donabedian (1990), com os sete pilares: eficiência, eficácia, efetividade, otimização, aceitabilidade, legitimidade e equidade. O enfoque tradicional considera principalmente a estrutura, objeto muito mais fácil de ser caracterizado, avaliado e medido. A ênfase nos indicadores de resultados da assistência sempre foi uma aspiração, mas esbarrava na exigência de definição sobre como construí‑los. Sabe‑se que resultados 77 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar guardam íntima relação com os processos, mas esse conhecimento não é suficiente para identificar indicadores apropriados. Segundo De Geyndt (1996), a transposição dessa categorização para programas, por exemplo, o de planejamento familiar, pode ser feita da seguinte maneira: • estrutura: políticas existentes, recursos alocados, gerenciamento dos programas; • processo: escolha dos métodos; informação fornecida aos usuários; competência técnica; relações interpessoais; mecanismos de incentivo à continuidade; oferta adequada de serviços; • resultado: intermediários (desempenho) – novas adesões; taxa de continuidade e abandono; usuários atuais; conhecimento do cliente; saúde dos clientes; satisfação do cliente; • resultado: final (demográfico) – taxa de fertilidade; nascimentos evitados; crescimento da população. Os indicadores podem e devem ser utilizados como ferramentas para auxiliar o gerenciamento da qualidade. Indicadores de saúde da população associados a indicadores econômicos, financeiros, de produção, de recursos humanos e de qualidade da assistência propriamente dita, isto é, relacionados a determinadas doenças, auxiliam na avaliação de programas e de serviços. Indicadores devem ressaltar padrões agregados à estrutura, ao processo e ao resultado desejáveis de um sistema. Eles fornecem uma base quantitativa para médicos, instituições prestadoras de serviços, fontes pagadoras e planejadores, como o objetivo de atingir melhoria da assistência e dos processos relacionados à assistência. Ainda hoje, determinações precisas da qualidade da assistência carecem de revisões sistemáticas, tanto de processos quanto de resultados. Conceitos como os de boa prática, por mais clara que seja sua compreensão, são interpretados de maneiras diferentes. Há mais de uma boa prática possível, e não se pode esquecer que sua utilização não garante resultados satisfatórios. Para Mainz (2001), os indicadores podem ser usados para: • documentação da qualidade da assistência; • comparação entre instituições e análise de uma delas ao longo do tempo; • avaliação; • definição de prioridades; • demonstração da confiabilidade e transparência dos serviços prestados à sociedade; • melhoria contínua da qualidade. 78 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III Em relação às características dos indicadores, inúmeras vezes eles são apresentados sob a forma de taxas, e há um intervalo definido para a vigilância de cada indicador. Alguns indicadores se referem a casos corriqueiros; outros, a episódios indesejáveis, que nunca deveriam ter ocorrido – são os eventos‑sentinela (exemplo: casos de hepatite A repetidas vezes num mesmo bairro, queda de leito). Os indicadores avaliam estrutura, processo e resultado da assistência médica. Relembrando as definições de Donabedian (1990), estrutura refere‑se à planta física, a recursos humanos e materiais disponíveis e a características organizacionais da instituição; processos dizem respeito às atividades desenvolvidas na assistência médica propriamente dita; resultado significa o produto final da assistência, isto é, envolve, além da satisfação do paciente, o impacto do tratamento sobre seu estado de saúde. De acordo com Laurenti et al. (1987), existem pré‑requisitos a observar quando da construção e seleção de indicadores: • existência e disponibilidade de dados; • definições e procedimentos empregados para construir esses indicadores devem ser conhecidos: deve‑se conhecer todo o processo, de modo a possibilitar comparação entre localidades ou organizações diferentes, ou na mesma instituição, em períodos distintos; • construção fácil e interpretação simples; • reflexo do maior número possível de fatores que reconhecidamente influem no estado de saúde; • poder discriminatório, possibilitando comparações. O indicador ideal deve detectar o maior e o menor número de casos em que existe um problema (no caso) de qualidade, ou seja, preferencialmente, o indicador deve apresentar alta sensibilidade e alta especificidade. Exemplo: elevado número de atestados de óbito por causa maldefinida. Para cada realidade, é preciso examinar os indicadores mais apropriados para atender às necessidades daquele serviço. A sua escolha deve basear‑se ainda na aprovação do grupo que deverá utilizá‑los, isto é, em se tratando de um indicador clínico, deverá atender às expectativas dos médicos da especialidade; caso se refira à assistência à saúde, deverá ser escolhido e aprovado pelo grupo de sanitaristas envolvidos. Para Mainz (2001), existem características desejáveis de um indicador, como: • especificidade: associação clara a determinado evento; • validade: baseado em definições consensadas, sendo submetido à validação para a realidade em questão; 79 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar • poder discriminatório: relação clara entre o que se está avaliando e o que se quer avaliar; • ajuste de risco: permite comparações; • comparabilidade; • evolução ao longo do uso: possibilidade de aprimoramento do indicador; • significância ou relevância para o que se quer avaliar; • aceitação: por parte dos vários envolvidos em sua análise e uso; • facilidade na coleta dos dados: factibilidade; • adequação à realidade social, econômica e cultural; • respeito à confidencialidade das informações do paciente; • custo‑efetividade; • disponibilização para o público: desde que seja minuciosamente testado e validado. Lembrete Indicadoresde saúde têm a função de acompanhar as flutuações e tendências históricas do padrão sanitário, fornecendo subsídios ao planejamento de saúde, avaliando, sob o ponto de vista sanitário, a higidez de agregados humanos. 6.1.1 Os indicadores no SUS A informação é vital para a democratização da saúde e o aprimoramento de sua gestão. A informatização das atividades do SUS, dentro de diretrizes tecnológicas adequadas, é essencial para a descentralização das ações de saúde e a viabilização do controle. O Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES) é a base para operacionalizar os sistemas de informações em saúde. Tal ferramenta propicia ao gestor o conhecimento da realidade da rede assistencial existente e suas potencialidades. Tem como intuito auxiliar no planejamento em saúde em todos os níveis de governo, bem como prover maior visibilidade ao controle social a ser exercido pela população. O CNES almeja conceder referências das atuais condições de infraestrutura de funcionamento das unidades de saúde em todas as esferas, ou seja: federal, estadual e municipal. Esse sistema integra todos os 80 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III dados pertinentes aos recursos físicos e humanos disponíveis para o uso do SUS, autorizando os gestores a saber qual o volume de equipamentos disponíveis para prestar assistência à saúde da população. Com esse dispositivo, é possível saber, por exemplo, os consultórios disponíveis, a quantidade de equipamentos para suporte à vida, o número de profissionais que atuam na unidade com carga horária semanal, quais modalidades de assistência são prestadas etc. Em parceria entre a Organização Pan‑Americana da Saúde (Opas) e o Ministério da Saúde, em 2006 foi criado o Painel de Indicadores do SUS. Este painel possui como objetivo democratizar a informação em saúde, e seu público‑alvo são os conselheiros de saúde (usuários, trabalhadores e gestores) de todo o País. Como uma organização internacional, a Opas possui a missão de orientar os esforços de colaboração entre países e parceiros, para promover a equidade na saúde, combater doenças, melhorar a qualidade e elevar a expectativa de vida no continente. De acordo com o Ministério da Saúde, os principais objetivos desse painel são: • apoiar o planejamento, a implementação, o monitoramento e a avaliação das ações e dos serviços de saúde nas três esferas do SUS; • disseminar informação, visando promover a participação e o controle social no SUS; • facilitar a tomada de decisões, na perspectiva de uma gestão democrática e participativa, fundada nos princípios e diretrizes do SUS. Saiba mais Para ter acesso ao painel, acesse: <www.redeblh.fiocruz.br>. 6.2 Planejamento em saúde Planejamento é um termo muito empregado na política e na administração, tanto em competência pública como na esfera privada. O ato de planejar consiste em desenhar, executar e acompanhar um conjunto de propostas de ação com vistas à intervenção sobre um determinado recorte da realidade. Essa delineação pode ser vista como uma ferramenta de racionalização da ação humana e como uma atividade realizada por atores sociais. Assim, essa conduta é orientada por um propósito relacionado com a manutenção ou modificação de uma determinada situação. De acordo com Teixeira (2010), o interesse pelo planejamento das ações de saúde apareceu como decorrência da complexificação crescente do processo de trabalho nessa área, haja vista a necessidade 81 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar de enfrentar as mudanças que foram se desenvolvendo nas condições de vida e saúde da população em diversos países. Desse modo, a execução de campanhas sanitárias e a elaboração de programas de controle de doenças podem ser consideradas atividades que já incluíam a prática do planejamento. Apenas com o avanço científico e tecnológico é que a prática dessa concepção tornou‑se uma necessidade amplamente reconhecida, tornando‑a interesse de organismos internacionais de cooperação técnica para desenvolver propostas metodológicas que pudessem subsidiar a administração pública dos serviços e sistemas de saúde. Na área da saúde, o planejamento é o instrumento que possibilita melhorar o desempenho, otimizar a produção e elevar a eficácia e a eficiência dos sistemas no desenvolvimento das funções de proteção, promoção, recuperação e reabilitação da saúde. Desse modo, o desenvolvimento integrado é o cenário discursivo em que aparece o planejamento de saúde, exposto por meio do esforço metodológico criado pelo Centro de Desenvolvimento (Cendes) e apoiado pela Opas. No setor da saúde, esse ideal nasce na América Latina na década de 1960 com o método Cendes‑Opas de Programação em Saúde, o qual propõe uma metodologia de gerenciamento da escassez de recursos a fim de promover ações com maior efetividade. Essa estratégia suscitou discussões no setor da saúde em relação ao uso eficiente dos recursos públicos, e isso foi feito por meio de uma cuidadosa análise de prioridades e do cálculo prévio dos resultados esperados com o uso de cada instrumento de ação. No início dos anos 1970, vieram à tona as primeiras críticas ao método Cendes‑Opas. Então, a partir dos questionamentos que ocorreram ao longo dos anos, irromperam outras alteranativas de planejamento do setor da saúde, como o Pensamento Estratégico em Saúde, de Mario Testa, e o Planejamento Estratégico Situacional (PES), de Carlos Matus. O PES é um método de planejamento por problemas; aborda principalmente os reveses mal‑estruturados e complexos, para os quais não existe solução normativa ou previamente conhecida, como no caso daqueles bem‑elaborados. 6.2.1 Níveis de planejamento De acordo com Tancredi, Barrios e Ferreira (1998), o planejamento se dá em três níveis: segundo o grau de complexidade do processo de tomada de decisões, o nível hierárquico no sistema em que esse processo ocorre e a amplitude das decisões decorrentes. Veja o esquema a seguir: 82 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III Planejamento Planejamento normativo ou de políticas Planejamento tático Planejamento estratégico Figura 26 – Os níveis de planejamento • Planejamento de políticas: — é responsabilidade do nível central do sistema; no caso do setor da saúde, de competência do secretário municipal. — é destinado a promover mudanças sociais deliberadas ou pretendidas para o futuro. • Planejamento estratégico: — indica os meios pelos quais se julga que seja possível atingir as metas desejadas de médio e longo prazos; — define a estrutura sistêmica para a ação organizacional e as medidas de efetividade (indicadores) para análise dos resultados. • Planejamento operacional: — refere‑se ao desenvolvimento de ações que permitam organizar a execução das estratégias planejadas em outro nível de planejamento; — designa como “colocar em prática” as ações previstas. 6.3 Fontes de informação em saúde As fontes de informação representam qualquer recurso que responda a uma demanda de nota por parte dos usuários, incluindo produtos e serviços de notícias de pessoas ou de rede de pessoas, entre outros. O Ministério da Saúde e a Opas realizaram um acordo para cooperar tecnicamente na área de informação em saúde, a fim de atender dois objetivos convergentes: 83 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar 1) potencializar a utilização das bases de informação disponíveispara apoiar a construção do SUS; 2) contribuir para a sistematização de dados produzidos pelos países da região das Américas, a partir da Iniciativa Regional de Dados Básicos em Saúde. Essa estratégia de cooperação centrou‑se na criação da Rede Interagencial de Informações para a Saúde (Ripsa), que viabiliza parcerias entre entidades representativas dos segmentos técnicos e científicos nacionais envolvidos na produção, análise e disseminação de dados, com o intuito de sistematizar informações úteis ao conhecimento e à compreensão da realidade sanitária brasileira e de suas tendências. A Ripsa conta com instrumentos operacionais que foram desenvolvidos para apoiar o processo de trabalho conjunto, a consecução e a documentação dos produtos, o acesso aos usuários e a cooperação técnica. Destacam‑se os seguintes: – Matriz de indicadores: organiza o conjunto de indicadores e define as suas características essenciais. Esse instrumento constitui a base comum de trabalho das instituições integradas na Rede, nele se expressando a contribuição específica de cada instituição representada. Pressupõe revisão periódica e aperfeiçoamento continuado, mediante esforços institucionalmente articulados. – Planejamento Operacional de Produtos (POP): estabelece a programação anual de produtos, atividades e tarefas da Rede, com as correspondentes responsabilidades institucionais pelo seu desenvolvimento. É o instrumento principal de trabalho conjunto da Secretaria Técnica da Ripsa. – Base comum de dados e indicadores: sediada no Departamento de Informática do SUS (Datasus), órgão incumbido de sistematizar, consolidar e veicular a informação produzida coletivamente na Rede, mediante a transferência eletrônica de dados. O caráter oficial dessa base assegura a sua legitimidade perante as instituições produtoras. – Biblioteca Virtual de Saúde (BVS‑Ripsa): sediada na Bireme, promove acesso on‑line, universal e equitativo a informações relevantes para a tomada de decisões em saúde. Disponibiliza conteúdos específicos sobre os produtos e processos interinstitucionais de trabalho, propiciando a interação da Ripsa com experiências similares de âmbito nacional e internacional (RIPSA, 2008). Apresentamos a seguir algumas das bases de dados nacionais e internacionais de maior relevância: • Nacionais: Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Portal Capes (portal brasileiro de informação cientifica desenvolvido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação). 84 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III • Internacionais: Medline, Lilacs, Pubmed, SciELO e Cochrane. O Portal de Periódicos, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, é uma biblioteca virtual que reúne e disponibiliza a instituições de ensino e pesquisa no Brasil o melhor da produção científica internacional. Ele conta com um acervo de mais de 37 mil títulos com texto completo, 126 bases referenciais, 11 bases dedicadas exclusivamente a patentes, além de livros, enciclopédias e obras de referência, normas técnicas, estatísticas e conteúdo audiovisual. Saiba mais Para ter acesso a informação e consultar as revistas científicas que se encontram no portal de periódicos da Capes, acesse: <www.periodicos.capes.gov.br>. A Biblioteca Regional de Medicina (Bireme), também chamada de Centro Latino‑Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, é um centro especializado da Opas/OMS, orientado à cooperação técnica em informação científica em saúde. O objetivo da Bireme é contribuir para o desenvolvimento da saúde das populações das Américas, promovendo a cooperação entre países, a democratização do acesso à informação científica e técnica, legislação e o intercâmbio de conhecimento e evidências em prol da contínua melhoria dos sistemas de saúde, educação e de pesquisa. A sede da Bireme está localizada no Brasil, no campus central da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), desde a sua criação, em 1967, conforme acordo entre a Opas e o governo do Brasil. Observação A Bireme é uma biblioteca regional, e sua cooperação técnica se realiza por meio da Biblioteca Virtual em Saúde. Lembrete A Ripsa viabiliza parcerias entre entidades representativas envolvidas na produção, análise e disseminação de dados, com o intuito de sistematizar informações úteis ao conhecimento. Em relação às fontes de dados, teremos como base o Guia da Biblioteca da Virtual de Saúde (2011). A organização de informação da BVS reúne e estrutura esses informes de acordo com a natureza e 85 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar as características de cada um deles, resultando em estantes virtuais da biblioteca, que agrupam as diferentes coleções. A Biblioteca Virtual em Saúde é reconhecida como a base distribuída do conhecimento científico e técnico em saúde. A classificação das fontes de informação segundo uma tipologia é também fator relevante para o estabelecimento da cooperação entre as instituições, pois é utilizada tanto para a definição da divisão das responsabilidades como para a operação integrada. A seguir vamos abordar as seguintes fontes utilizadas na área da saúde: a) fontes primárias; b) fontes secundárias; c) fontes terciárias; d) serviço de disseminação e inclusão informacional; e) comunicação e colaboração; f) componentes integradores. As fontes primárias são aquelas relacionadas com os produtos originados pela pesquisa científica (artigos científicos, teses, ensaios etc.). Também incluem as bases de dados numéricas de pesquisa e censos estatísticos. Exemplos: Coleções SciELO (Scientific Electronic Library On‑line) e repositórios institucionais de textos completos. A SciELO é um modelo para a publicação eletrônica cooperativa de periódicos científicos na internet. Especialmente desenvolvido para responder às necessidades da comunicação científica nos países em desenvolvimento, sobretudo na América Latina e no Caribe, o modelo proporciona uma solução eficiente para assegurar a visibilidade e o acesso universal a sua literatura científica, contribuindo para a superação do fenômeno conhecido como “ciência perdida”. O modelo SciELO contém ainda procedimentos integrados para medir o uso e o impacto dos periódicos científicos. As fontes secundárias são os registros de correspondência das fontes primárias sistematizados em índices, bases de dados referenciais e diretórios. Nelas, estão incluídos todos os índices, base de dados referenciais, diretórios, entidades, eventos ligados à área da saúde e serviços de informação associados com essas fontes. Dentre as fontes secundárias, destacamos a Literatura Latino‑americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e suas características: • registra a obra técnico‑científica de saúde produzida por autores latino‑americanos e do Caribe – é publicada a partir de 1982; 86 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III • é uma base de dados cooperativa do Sistema Bireme, contendo artigos de cerca de 670 revistas mais conceituadas da área da saúde, atingindo mais de 150 mil registros e outros documentos, tais como teses e capítulos de teses; • os principais objetivos dessa base de dados são o controle bibliográfico e a disseminação da literatura técnico‑científica latino‑americana e do Caribe na área da saúde, ausente das bases de dados internacionais; • na Lilacs são descritos e indexados livros, teses, capítulos de livros, anais de congressos ou conferências, relatórios técnico‑científicose artigos de revistas relacionados à área da saúde. Outra fonte secundária que merece menção é a Medline: • é a base de dados mais conhecida na área médica; • é uma base de dados da literatura internacional das áreas médica e biomédica. É produzida pela National Library of Medicine (NLM), EUA, que contém referências bibliográficas e resumos de mais de 4.500 títulos de revistas biomédicas publicadas nos Estados Unidos e em outros setenta países; • seu acesso pela internet é gratuito. Por fim, apresentamos as fontes terciárias, que se referem aos conteúdos organizados para fins didáticos, como os objetos de aprendizagem do Campus Virtual em Saúde Pública, e para apoio à tomada de decisão, como as revisões sistemáticas de evidências científicas. Um excelente exemplo é a Biblioteca Cochrane. Vejamos suas peculiaridades: • coleção de fontes de informação (em inglês) de boa evidência em atenção à saúde; • inclui as revisões sistemáticas da Colaboração Cochrane, em texto completo, além de ensaios clínicos, estudos de avaliação econômica em saúde, informes de avaliação de tecnologias de saúde e revisões sistemáticas resumidas críticas; • tem periodicidade trimestral e é atualizada nos meses de janeiro, abril, junho e outubro; • todas as bases de dados da Cochrane podem ser pesquisadas por meio de uma interface trilíngue (português, espanhol e inglês), desenvolvida pela Bireme. Outra fonte que destacamos relaciona‑se ao serviço de disseminação e inclusão informacional. Este é formado pelo conjunto de empreendimentos de inclusão informacional e promoção de acesso a BVS, direcionados tanto para usuários conectados à internet como para comunidades sem conexão, por exemplo, a instalação de espaços públicos e coletivos como as Estações BVS. Incluem‑se também as atividades de atualização e atendimento ao usuário, como o de comutação bibliográfica, Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos (Scad), e os serviços de acesso personalizado, como “Minha Biblioteca”, buscando atender às necessidades de informação de cada usuário de forma individual. 87 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar Ressaltamos, ainda, a comunicação e colaboração, que são fontes de informações destinadas à socialização da informação e ao intercâmbio de conhecimento por meio da colaboração on‑line. Exemplos: Newsletter, Rede de Notícias BVS, Espaços Colaborativos BVS, blogs, boletins, fóruns, reuniões on‑line, chats e comunidades virtuais. Por fim, citamos os componentes integradores, que são normas, padrões, metodologias e aplicativos comuns adotados por todas as instâncias BVS para sua integração numa única rede. Incluem as terminologias, por exemplo, o vocabulário Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), manuais e softwares para a gestão e operação das fontes e fluxos de informação na BVS. Nesses componentes, podemos incluir as palavras‑chave: • Medical Subject Headings (MeSH) — é um sistema de metadados médicos em língua inglesa que dizem respeito à nomenclatura, baseando‑se na indexação de artigos no campo das ciências da saúde. — é mantida pela biblioteca nacional de medicina dos EUA, e apoia‑se no sistema Medline‑PubMed. • DeCS — vocabulário estruturado feito em três línguas (português, inglês e espanhol); — foi criado pela Bireme para servir como uma linguagem única na indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios técnicos e outros tipos de materiais, como também para ser usado na pesquisa e recuperação de assuntos da literatura científica nas fontes de informação disponíveis na BVS, como Lilacs, Medline etc.; — foi desenvolvido a partir do Medical Subject Headings (MeSH) da NLM, com o objetivo de permitir o uso de terminologia comum para pesquisa em três idiomas, proporcionando um meio consistente e único para a recuperação da informação – independentemente do idioma. • Localizador de Informação em Saúde (LIS) — é o portal da Biblioteca Virtual em Saúde, contendo o catálogo de fontes de informação em saúde disponíveis na internet e selecionadas segundo critérios de qualidade; — descreve o conteúdo dessas fontes e disponibiliza seus links; — a metodologia LIS é o resultado da cooperação técnica entre o Centro Nacional de Información de Ciencias Médicas (CNICM) em Cuba, a Red Telemática de Salud de Cuba (Infomed) e a Bireme. 88 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III Observação Os descritores da área da saúde têm grande importância para a padronização dos conteúdos publicados, que podem ser consultados de maneira mais fácil. Por fim, podemos dizer que a pesquisa bibliográfica na área da saúde possui como objetivo conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno. É de extrema importância que a pesquisa seja realizada em bases de dados nacionais e internacionais confiáveis, que possibilitem um conhecimento histórico e atual, a fim de proporcionar ao pesquisador fatos relevantes dentro do assunto desejado. A figura a seguir destaca resumidamente como fazer a pesquisa nas bases de dados: 1 • Selecione os DeCS referentes ao assunto que desejar pesquisar por meio do site: <http:/decs.bvs.br>. 2 • Utilize as bases de dados para iniciar a busca com as palavras‑chave selecionadas previamente. 3 • Caso queira fazer uma busca de artigo científico em uma revista específica, consulte o site: <http://www.periodicos.capes.gov.br>. 4 • Caso necessite ampliar a busca em bases de dados internacionais, pode utilizar também a base de dados PubMed em: <http://www.ncbi.nih.gov/pubmed>. Figura 27 – Etapas de como realizar pesquisa nas bases de dados Resumo Iniciamos esta unidade com o estudo sobre o contrato, que é um acordo de livre vontade, destinado a regulamentar os interesses entre ambas as partes, almejando adquirir, modificar ou extinguir as relações jurídicas obrigacionais de natureza patrimonial. Também destacamos os tipos de contratos (contrato administrativo, contrato de gestão, convênio). Quando falamos sobre a contratualização, precisamos ter em mente que se trata de um conjunto de atos que resultam na contratação de serviços de saúde; esses atos são entendidos desde como a necessidade de complementar a rede de assistência até como a 89 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar contratação do serviço, ou, melhor dizendo, é o que envolve de detecção da carência de acrescer ao ato de contratar. Abordamos nesta unidade os indicadores de saúde. Eles são parâmetros utilizados internacionalmente com o objetivo de avaliar a higidez de agregados humanos, bem como fornecer subsídios aos planejamentos de saúde. Esse indicador deve exibir o maior número de casos em que existe falta de qualidade e o menor número de casos possível em que haja incapacidade. Como decorrência da complexidade crescente do processo de trabalho, o planejamento irrompeu na área da saúde. O ato de planejar consiste em desenhar, executar e acompanhar um conjunto de propostas de ação com vistas à intervenção sobre um determinado recorte da realidade. Essa ação pode ser encarada como uma ferramenta de racionalização da ação humana e como uma tarefa realizada por atores sociais, sempre orientados por um propósito relacionado com a manutenção ou modificação de uma situação particular. No fim desta unidade, analisamos as fontes de informação, que representam qualquer recurso que responda a uma demanda de dados por parte dos usuários, incluindoprodutos e serviços de informes, pessoas ou rede de pessoas, entre outros. Ressaltamos, ainda, que a pesquisa deve realizada em bases de dados nacionais e internacionais confiáveis, que possibilitem um conhecimento histórico e atual, a fim de proporcionar ao pesquisador fatos relevantes dentro do assunto desejado. Entre as principais bases de dados nacionais, destacamos BVS e Portal Capes; e, entre as internacionais, Medline, Lilacs, Pubmed, SciELO e Cochrane. Exercícios Questão 1. Nos trabalhos realizados por um auditor independente em uma seguradora, identificaram‑se vários procedimentos adotados pela Cia. Calada. No decorrer dos trabalhos, os seguintes fatos foram destacados: I – A provisão para crédito de liquidação duvidosa foi constituída tendo como base o índice de inadimplência apresentado nos últimos cinco anos. II – O registro das receitas foi realizado pelo regime de caixa. III – As taxas de depreciação foram calculadas pelo método da soma dos dígitos, diferentemente do último exercício – em que foi adotado o método das quotas constantes, sem evidenciar em notas explicativas. 90 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Unidade III IV – Os estoques estavam avaliados acima do valor de mercado, sem a provisão correspondente. V – As despesas pagas antecipadamente foram registradas como ativo circulante. Diante dos fatos encontrados na Cia. Calada, sob o ponto de vista da condução do trabalho de auditoria, a conduta correta do auditor independente responsável será: A) Considerar como não relevantes todos os fatos encontrados. B) Oferecer serviço de consultoria para corrigir os fatos encontrados. C) Solicitar da empresa correções para os fatos I, II e V. D) Solicitar da empresa correções para os fatos II, III e IV. E) Solicitar da empresa correções para todos os fatos encontrados. Resposta correta: alternativa D. Análise das afirmativas I – Afirmativa incorreta. Justificativa: a provisão para devedores duvidosos deve ser feita com base no registro histórico das ocorrências de não recebimento de vendas a prazo. Tal sistemática procura estabelecer uma média estatística da inadimplência dos últimos três ou cinco anos. II – Afirmativa incorreta. Justificativa: o registro das receitas do período deve ser feito com base no método de competência, e não no de caixa (vide art. 9° da Resolução CFC n° 750/93). III – Afirmativa correta. Justificativa: as Instruções Normativas SRF nº 162/98 e nº 130/99 fixam o prazo de vida útil e a taxa de depreciação de vários bens. As empresas podem utilizar taxas diferentes das fixadas pela legislação, desde que apresentem laudo pericial. IV – Afirmativa incorreta. Justificativa: pelo princípio da prudência, os estoques devem estar avaliados pelo menor valor, considerando os custos de aquisição ou de mercado (vide art. 10 da Resolução CFC n° 750/93). 91 Re vi sã o: V ito r - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 1 4/ 12 /1 5 Gestão de plano de saúde e auditoria hospitalar V – Afirmativa incorreta. Justificativa: as despesas pagas antecipadamente devem ser registradas no ativo. Questão 2. A Camurati S.A. é uma empresa de médio porte que produz embalagens para medicamentos. Seus clientes são grandes indústrias farmacêuticas. O produto da Camurati S.A. é altamente padronizado, a concorrência é intensa e a competição se dá unicamente por preço. Qual das seguintes alternativas descreve a situação competitiva para a Camurati S.A.? A) A rivalidade entre as empresas do setor é baixa, por isso a situação da empresa a longo prazo é estável. B) Existe uma elevada diferenciação dos produtos da empresa, por isso apresenta uma vantagem competitiva perante os concorrentes. C) Existe uma elevada homogeneidade entre as empresas do setor, por isso necessita ser operacionalmente eficiente ou ter economias de escala. D) Possui grande poder de barganha perante seus fornecedores e, em consequência, consegue comprar a mercadoria a custos inferiores aos dos seus concorrentes. E) Tem grande poder de barganha com seus clientes, por isso consegue vender a mercadoria a preços superiores aos de seus concorrentes. Resolução desta questão na plataforma.
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