Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
O Carro Triunfal do Antimônio Basílio Valentin BIBLIOTECA JUNGUIANA Prefácio do Autor Eu, irmão Basile Valentim, monge professo da Ordem de São Bento, te proponho desde o princípio, amigo leitor, a leitura de uma breve advertência concernente ao que deve conhecer previamente o alquimista que busque com escrúpulos a verdadeira Arte. Assim, o alquimista que se pretenda a possuir de maneira muito segura esta Arte Hermética considere isto com muita profundidade e uma mui alta inteligência. Com efeito, se o que vou expor-te for menosprezado, obraria muito certamente em vão, porque estas coisas devem ser observadas como segue: Antes de entrar com maior aprofundamento na matéria contida neste livro, achei necessário advertir ao leitor dos pontos principais que um verdadeiro alquimista temente a Deus deve observar exatamente e sobre os quais deve estabelecer o fundamento de sua Arte, a fim de que o edifício não se agite pela fúria das tempestades. Porque eu disse que sou monge, tenho isso por altamente necessário, e por outro lado isso continuará sendo sem dúvida, por longo tempo, muito necessário, a fim de que quando eu ou tu, seja Heinz ou Sunz, Hansel ou Hans, sejamos suprimidos da vista dos homens, deixemos uma memória honorável em honra a Deus, para que Sua Majestade Divina seja louvada e que por um treinamento adequado nos preparemos para a viagem. Porém, o estado de minha ordem requer um espírito de todo diferente de outras personalidades seculares. Nesta consideração tenho encontrado cinco coisas principais que todos os verdadeiros filósofos e amantes das ciências devem observar: A primeira é a invocação da assistência divina. A segunda é a contemplação da essência das coisas. A terceira é a verdadeira e sincera preparação da essência. A quarta é o método de servir-se dela. A quinta é a utilidade que provém dela. É preciso que um verdadeiro químico e verdadeiro alquimista considere estes cinco pontos e os conheça perfeitamente. Porque sem eles não pode ser perfeito e não pode adquirir a glória de um verdadeiro alquimista. Discutamos em particular estas coisas para produzir uma obra em geral perfeita e útil a todos. PRIMEIRO PONTO, CONCERNENTE À INVOCAÇÃO DO SANTO NOME DE DEUS A invocação de Deus se deve fazer por meio de uma devoção celestial, com um coração puro, sem falsidade, sem orgulho nem hipocrisia, muito menos outros vícios tais como a soberba, a arrogância, as maneiras mundanas, o luxo, a vaidade, a opressão do próximo e outras tiranias e abusos deste gênero. Todos estes vícios devem ser extirpados do coração e purificados, a fim de que se queira chegar ao trono da Graça para a saúde do corpo, depois de Ter separado cada grão bom do joio, seja disposto um templo sagrado e decorado o melhor possível. Porque vos digo em verdade que Deus não se deixa enganar pelos pseudo-sábios e pseudo-eruditos deste século, e sim quer ser invocado e reconhecido como o criador de todas as coisas do mundo por um reconhecimento e uma obediência recíprocas. O que é justo e razoável, porque o homem não tem mais que o que há querido dar-lhe por sua bondade infinita. Tem-lhe dado o corpo, a vida, o espírito para operar neste mundo, e a alma mui nobre. E para a conservação disto nos tem dado por sua graça o verdadeiro e eterno Verbo Divino, para alimento da alma espiritual e para sua felicidade eterna. Tem disposto para o mantimento do corpo tudo o que é necessário, o alimento, a bebida, os vestidos, os sapatos, todas as coisas que se pedem com sinceridade, humildade e desde o mais profundo de si mesmo, o ancião Pai que criou o céu e a terra, e todas as coisas visíveis e invisíveis, o firmamento, os elementos, os planetas, e todas as demais criaturas. Porque estou seguro que nenhum homem ímpio e malvado poderá obter a verdadeira ciência da medicina e muito menos gostará do Pão Celestial, verdade imutável e doce da eternidade. É por isso que, seguindo a minha doutrina, é preciso primeiramente que todos teus desejos e tuas esperanças estejam fundadas na vontade do Criador, que peças sua benção eterna, a fim de que reconheças o temor por Deus e que por sua assistência possa chegar enfim à sabedoria que deseja, porque o temor a Deus é o começo da sabedoria. Os que têm intenção e o desejo de obter esta graça que é a maior e a mais bela do mundo, conhecer todos os bens das criaturas que a bondade divina tem dado para a utilidade do homem, e as virtudes admiráveis que residem nas pedras, raízes, sementes, bestas, minerais, metais e outros semelhantes, é preciso que expulse de seu espírito todos os pensamentos mundanos, suporte pacientemente todas as adversidades aguardando com esperança em Deus, orando com humildade, que lhe outorguem o fim de seus desejos, o que o fará infalivelmente e do qual nenhum homem pode duvidar ou desesperar. Porque é o Deus de Israel, que livrou seu povo das mãos do faraó, que resolve tudo o que se consulta com retidão e boa intenção. De maneira que a ciência não se pode estabelecer de outro modo que pela invocação e a assistência divinas, o que não se deve fazer com má intenção ou coração enganoso, senão o mesmo que fez o bom capitão de Cafarnaum, com esperança firme e uma fé constante. E isto deve ser feito por amor cristão. O mesmo do Samaritano que encontrou o ferido sobre o caminho de Jericó e verteu azeite e vinho sobre suas feridas e pediu-lhe que cuidasse do mesmo. E quando se invoca a ajuda divina, é preciso ter o desejo da caridade cristã de comunicar depois a seu próximo o que se espera obter por suas preces. E por este meio terás tudo o que desejares e o fim seguro de tuas esperanças, tanto em saúde como em riquezas. SEGUNDO PONTO, CONCERNENTE À CONTEMPLAÇÃO DAS COISAS Depois da invocação a Deus, segue-se a contemplação de todas as coisas. Quer dizer que é preciso considerar desde o começo todas as circunstancias de cada coisa em particular no que concerne a sua matéria e forma, e principalmente conhecer suas operações e virtudes, como tais faculdades são comunicadas, como os astros cooperam, como os elementos concorrem e como são formados e engendrados de seus três princípios, inclusive como todas as coisas corporais podem se resolver em sua primeira matéria ou sua primeira essência, assim como se tem dito em diversos lugares de meus escritos, a fim de que da última matéria se possa fazer a primeira e semelhantemente da primeira fazer a última. Eis aí o que é preciso considerar depois da invocação de Deus, sendo esta consideração espiritual e celestial, (também como a primeira). Porque a contemplação da condição das coisas penetra o pensamento espiritual do homem no mais profundo das essências. E todos os pensamentos são efeitos de especulações, dos quais há duas classes: uma é das coisas possíveis e outra de coisas impossíveis. A de coisas impossíveis produz pensamentos inúteis e superficiais que não podem produzir nada real pela natureza e nos quais não se pode recolher nenhuma forma de essência, como quando se deseja penetrar na eternidade do Senhor, o qual não somente é impossível aos homens, senão que também é uma vaidade e um pecado contra o Espírito Santo querer alcançar a divindade incomensurável, infinita e eterna, e querer examinar os mistérios incompreensíveis de seus desejos. A outra contemplação das coisas consiste nas possibilidades destas. A teoria não é outra coisa que a contemplação de todas as coisas visíveis e palpáveis e que têm uma essência formal e temporal, que se pode aperfeiçoar ou resolver tudo o que cada corpo pode conter em si ou produzir de útil, o que contém de bom ou de mal, veneno ou medicina, e como separar o que é bom do inútil e contrário à saúde do homem. Como é preciso fazer na anatomia de todas as coisas; como é preciso dividir, romper, e retificar antes, afim de que possam separar como é necessário as impurezas do que é puro e nato. E tal separação se pode fazer por vários tipos de manipulações, com numerosas vias e meios; umas são comuns à prática, outras desconhecidas e não vulgares, como quandocalcina, sublima, reverbera, circula, putrefaz, digere, destila, faz a coobação e fixa. As quais operações se fazem uma depois das outras, por graus na prática e se aprendem trabalhando, e por meio das quais se pode conhecer o que é fixo e o que não é, o que fica branco, negro, vermelho, azul ou verde, e assim o resto em todas as operações onde os artistas trabalham bem (segundo a natureza) e com boa consideração. Porque as operações onde os mestres trabalham assim só podem ser boas porque a opção pode repousar sobre um mau fundamento e faltar no caso onde não alcance a Via, porém a natureza não se equivoca jamais quando é conduzida corretamente por aquele que opera nela. É por isso que se tem falado em governar a natureza naseparação de suas partes ou resolução das coisas, o qual é o ponto principal. É por isto que o segundo fundamento da filosofia consiste na consideração das coisas singulares e das essências, e se chama a consideração da natureza. Porque está escrito: “Busca primeiramente o reino de Deus e sua justiça” , etc., pela invocação do nome divino, e o resto será dado por acréscimo, quer dizer, os bens temporais desejados pelo homem e o que é necessário à subsistência e à conservação da saúde. TERCEIRO PONTO, CONCERNENTE A VERDADEIRA E SINCERA PREPARAÇÃO DAS COISAS. Depois de haver entendido bem, considerado todas as coisas em particular e penetrado as circunstancias relacionadas, o que não é nada mais que a teoria, segue o verdadeiro método de prepará-las, o qual se pratica por operação manual, a fim de que se operem efeitos reais, úteis e eficazes. E por tais operações adquirirás a ciência, os verdadeiros fundamentos e os meios dos verdadeiros medicamentos. As operações manuais se fazem por uma prática contínua. E a ciência se adquire e tem sua glória pela experiência, com tal distinção que uma se conhece antes da outra por certa faculdade, e a anatomia das coisas é o verdadeiro juiz destas duas. As operações manuais dão a conhecer como todas as coisas escondidas se podem fazer manifestas e notórias. A ciência nos dá a prática e os verdadeiros fundamentos para prevenir bem o praticante, e não é outra coisa que a confirmação das operações manuais, quando têm procedido bem e descoberto os segredos da natureza que estavam antes escondidos. Pois, assim como no que concerne às coisas espirituais da alma se deve preparar o caminho que leva ao senhor, do mesmo modo para estas coisas é preciso que um rumo seja previamente preparado e aberto, a fim de que o bom caminho seja alcançado e tomado para a saúde temporal, sem vagar nem dar rodeios e de uma maneira aproveitável. Tal é a preparação. QUARTO PONTO, CONCERNENTE AO MÉTODO DE SERVIR-SE DOS BONS MEDICAMENTOS. Havendo-se feito a preparação das coisas pela separação do bom e do mau por resolução, é preciso observar o método de servir-se. Primeiramente, é preciso ter em consideração a medida e o peso das doses, notar e observar suas operações, ver se são demasiado fortes ou débeis, se são proveitosas ou trazem prejuízo. O que um médico deve saber antes de receitá-las, se não quer abrir novos cemitérios, perder sua alma e sua reputação. QUINTO E ÚLTIMO PONTO, CONCERNENTE A UTILIDADE DOS BONS MEDICAMENTOS. Depois que os medicamentos tenham feito sua operação e sejam levados aos membros do corpo para combater a enfermidade e proporcionar os efeitos destinados, é necessário finalmente observar a utilidade e o prejuízo que tal operação haverá produzido. Porque se podem fazer medicamentos que operem mais para o mal que para o bem, e em tal caso não são medicamentos e sim venenos. É por causa deles que é preciso marcar bem o último ponto, e colocar por escrito tudo o que se examine no tocante à utilidade e aos danos que os medicamentos fazem aos enfermos, a fim de que em casos semelhantes estes possam ser evitados. Ademais, para o uso e utilidade, é preciso notar se o mal está aberto ou possui somente uma sede interna não aberta. Com efeito, os males externos diferem dosinternos, e seus remédios são diferentes. É por isso que convém buscar se os males possam ser cuidados por remédios puramente externos ou se devem ser expulsos do interior. Porque se os males existem no centro do corpo é preciso receitar medicamentos tais que possam penetrar até o centro da enfermidade, dissipar as causas mórbidas e restaurar em seguida a saúde. Nota-se que todas as enfermidades externas que têm sua origem no interior e que se detêm em algumaspartes não se devem curar somente por medicamentos externos, ou de outro modo a morte é segura. É o mesmo que se alguém quisesse expulsar até seu centro as flores de uma planta que estão impelidas ao exterior: não somente nenhum fruto sairia da flor, senão que o suco, havendo sido rechaçado contra a natureza, indo para o centro de onde havia saído, extraindo sua nutrição da terra, não seria de nenhuma utilidade para a planta, a causa desta violenta expulsão. Além disso, a planta se sufocaria porque a umidade proveniente do alimento terrestre não poderia escapar-lhe. É por isso que é preciso diferenciar úlceras e tumores antigos procedentes de alguma indisposição interna. Porque as feridas externas se podem curar por medicamentos tópicos e exteriores, porém as úlceras têm a necessidade de medicamentos internos para atingir a origem de tais enfermidades. Não há habilidade alguma em curar uma ferida recente feita por uma causa externa. Porque um simples camponês a pode medicar com um pedaço de toucinho. O artifício consiste em impedir os sintomas que podem chegar a escoar a origem dos que procedem de algumas partes internas feridas. Prestais atenção todos vós, médicos e doutores que exerceis a medicina sobre a terra. Mestres em uma e outra medicina, quero dizer a externa e a interna, reflitais sobre vosso título honorífico e em vossa consciência, examinais se o tende de Deus ou se não é somente de pura forma e usurpado por ambição. Porque há uma tão grande diferença entre a medicina interna e a externa, tal como vos foi indicado, como há entre o céu e a terra. Se tendes vosso título de Deus, então o eterno vos prestará assistência, bendirão felicidade, saúde, prosperidade e opulência. Porém se é recebido e concedido sem Deus e somente com vistas a saciar um excesso de orgulho, então caireis de vossa grandeza e preparareis vós mesmos o fogo eterno e indizível do inferno. O senhor Cristo nosso Salvador, disse a seus queridos discípulos: “Vós me chamais de Senhor e Mestre, e fazeis bem”. Assim, qualquer um que queira levar legitimamente seu título honorífico deve refletir a fim de trabalhar bem, quer dizer, de não abusar de seu título e de não superestimá-lo nem se jactar de mais coisas do que as que tenha aprendido. O que quer ter a reputação de professor ou mestre em uma ou em outra medicina deve estar versado em uma e outra, a do interior e a do exterior, a fim de que saiba a disposição interna dos corpos, graças à anatomia, e dali extirpe a enfermidade de não importa que membro e possa saber indicar a razão, a causa e a maneira com que se deve afrontar o mal, e exteriormente que possa combater os males abertos e as feridas. Deus meu! De onde se reconheceria este título e de onde seria um mestre em uma e outra medicina se fosse feito passar por um sério exame a maioria dos que o levam. Longo tempo antes de mim e nos tempos antigos, os médicos cuidavam com suas mãos das enfermidades, particularmente as externas, posto que este ofício médico o exige. Porém, em nosso século, alugam criados e domésticos que exercem a cirurgia! E assim esta arte mui nobre se tornou um trabalho vil, que não podem apenas ter vergonha de a cumprir aqueles que não sabem ler e escrever. Eles mesmos, os mesmos que são incapazes de fazer sair um asno de um campo lavrado, são agora mestres em medicina externa e os doutores médicos seus discípulos, e eles podem exercer com mais consciência esta arte, para dizer livremente a verdade, que tu médico cirurgião, ignorante, que te glorificas de teus títulos adquiridos por pura ambição.Que raio de doutor és? Que raio de médico? Não te irrites pelos meus discursos e pela minha opinião porque estás forçado a reconheceres tua ignorância se te interrogo cuidadosamente a respeito de feridas infligidas por cortes e picadas; pois existem tantos julgamentos sobre essas coisas em teu cérebro como na cabeça de uma galinha pintada para as criancinhas sobre um abecedário. Vos aconselho pois, a todos, eruditos, sejais pobres ou ricos, a considerar em primeiro lugar, em virtude da ciência e da consciência que são exigidas dos doutores e dos mestres, a verdadeira doutrina que consiste na preparação das coisas, e depois o método de se servir delas. Então podereis exigir com direito um título honorífico adequado, levareis com confiança e eficácia socorro aos homens, e rendereis graça ao vosso Criador com um coração puro. Em função do que dissemos, cada um deve examinar e ver se pode legitimamente usar seu título. Porque o que deseja reivindicar um título deve compreendê-lo completamente e justificar a sua posse. Não basta de fato, dizer ao vulgo: “Há aqui uma merda mui hedionda” - sem querer judiar dos ouvidos ilustres e ignorar a causa da sua hediondez, já que um homem pode ter comido manjares de odor e sabor muito suaves e expulsar um excremento fétido ao extremo. O que convém é saber o porquê um manjar de doce fragrância se transformou em uma coisa monstruosa, cuja causa é a putrefação natural. E, inversamente, ocorre o mesmo no que concerne aos aromas. Não se deve considerar simplesmente o odor; o verdadeiro filósofo precisa ir mais além. Agora bem seja dito, para engajar discursos de nossa convenção, é preciso remarcar que o odor dos corpos deve ser observado cuidadosamente pelos que são verdadeiros filósofos. Os quais devem buscar se tal cheiro é bom ou ruim, de onde provém, em que consiste sua virtude, e como se pode extrair sua utilidade para a saúde humana. Porque ocorre que um excremento, que tem um odor extremamente desagradável, fertiliza e alimenta a terra, de maneira tal que produz frutos cheios de perfume. Descrever todas as causas em particular, tais como a alteração, a corrupção e as admiráveis gerações da natureza implicaria escrever vários volumes. Mas a causa principal das transmutações e mudanças de uma forma em outra é esta, a digestão da putrefação, na qual o fogo e o ar produzem uma maturidade natural das coisas, a fim de que da água e da terra haja uma mudança. Pode-se separar um bálsamo de doce fragrância do esterco e reciprocamente de um bálsamo perfumado produzir uma matéria hedionda. Podes dizer com razão que trago à tona comparações grosseiras: é verdade, o reconheço. Mas os que buscam as causas das coisas não devem ceder às formalidades, posto que devemos aprender a transformar as coisas vis em coisas preciosas, conhecer como se pode degenerar um bom medicamento em veneno e alterar um veneno para torná-lo um útil medicamento. De uma coisa doce e agradável produzir uma amarga e corrosiva, e das corrosivas fazer coisas boas e úteis. Santa inspiração e oração do autor ao senhor nosso Deus: Ó meu Deus! A Natureza deixa sempre aberto o gabinete de seus segredos para cada um, embora tenha dado uma vida tão breve aos homens que estes não podem chegar a descobrir totalmente teus mistérios naturais. Fazes bem em ocultar os mistérios maiores, a fim de que cada um se contente em admirá-los e possa dar-te a glória que mereces como Criador de todas as coisas. Que eu possa sempre, eternamente em meu coração, admirar-te em tuas obras; que possa, além da saúde e do alimento corporal que me deste, obter a saúde da alma em tua celeste morada, da qual não tenho dúvida alguma, posto que na Árvore da Cruz derramaste o verdadeiro bálsamo e o enxofre da alma, por mim, pobre pecador, e por todos os demais. É o enxofre admirável, verdadeiro medicamento para almas pecadores e penitentes, que as cura da morte eterna e que dá a felicidade aos seus eleitos, assim como a condenação a Satã e seus seguidores. Cuido espiritualmente de meus irmãos por meio das minhas orações e corporalmente por remédios ordinários. É por isso que espero que eles também velem espiritualmente por mim, a fim de que habitemos todos juntos e pela eternidade a morada de Deus Todo Poderoso. Análise das grandes virtudes do Antimônio Vamos agora ao nosso Antimônio. E antes é preciso saber que todas as coisas do mundo contêm nelas mesmas espíritos ativos e vivificantes que habitam nos corpos, os quais se alimentam destes, se nutrem, se mantém; os próprios elementos não estão sem espíritos. Esta morada é preciso buscá-la em todos os corpos, seja boa ou má. Os homens e todos os animais têm neles um espírito ativo e vivificante, o qual estando separado de seus corpos não deixa mais que um cadáver. Todas as plantas contêm nelas um espírito da saúde humana, de outro modo não poderia alguém se servir delas na medicina; os metais, semelhantemente, e todos os minerais, mantêm com eles um espírito imperceptível no qual residem principalmente todas suas faculdades e virtudes, no que podem servir à vida do homem. Porque tudo o que está despojado destes espíritos não é mais do que um corpo morto e não pode produzir nenhuma ação ou operação vivificante. É por isso que é preciso concluir que há no antimônio um espírito que reina. O qual deve executar todas as operações e virtudes que vemos sair de tal corpo mineral, o que se faz no entanto invisivelmente; as magnetitas também têm uma virtude oculta de atrair para si o ferro, que conserva totalmente em seus espíritos, dos quais trataremos no meu tratado sobre os ímãs. Os espíritos dos corpos são de diversas classes. Porque há os que são visíveis aos sentidos externos, que têm alguma inteligência e um raciocínio espiritual. Os quais, no entanto, se tornam imperceptíveis quando querem e despojam-se de seus corpos; tais são os espíritos dos elementos e os que habitam perto deles, como os espíritos que parecem chispas no ar e possuem diversos tipos de formas. Há outros que são os espíritos do ar, que permanecem sempre nele. Pelo mesmo motivo há espíritos na água, que se chamam aquáticos. Enfim há os da terra que se mostram em lugares rochosos, ao redor das minas e nas montanhas. Todos estes possuem entendimento, artes particulares e sabem alterar suas formas. Eu os deixaria tais como são até o dia do juízo universal, no qual deverão receber sua sentença como nós as nossas. Deixo esse segredo à inescrutável e divina sabedoria do Todo Poderoso. Os outros espíritos, que não falam e não podem aparecer em formas visíveis ou perceptíveis, são os que habitam nos corpos dos homens, dos animais, das plantas e de todos os seres inanimados, assim como os minerais, que não deixam de ter uma virtude ativa e uma natureza vivificante, que se manifesta pelas operações que exercem, e que se evidencia quando são separados de seus corpos por meio da Arte. Semelhantemente, o espírito ativo do antimônio manifesta suas admiráveis virtudes e as comunica aos homens quando anteriormente, para ser mais penetrante, este tenha sido extraído de seu corpo como de uma prisão e lhe tenha sido dada a liberdade de exercer suas forças com maior amplitude; para isso é muito útil a disposição do mestre e da natureza. Porque é preciso que Vulcano e o químico se acomodem juntos. O fogo separa os espíritos e o mestre forma a matéria. Um ferreiro não se serve mais que do fogo e de uma só matéria, que é o ferro, do qual forma diversos instrumentos, de maneira que uma só matéria prepara diversas formas para diferentes usos. Do mesmo modo, se podem formar do antimônio várias coisas úteis. O Artista é o ferreiro que forma (a matéria); Vulcano fornece a chave; a operação e utilidade provêem a preparação e a experiência. Santa exclamação do autor sobre a loucura e cegueira dos seres humanos: Oh, meu Deus! Por que o mundo está tão perdido que não tem nem vista, nem orelhas, nem espírito? Por que não se faz diferença entre os enganadores e charlatães e a verdadeira ciência que se conhece para o uso dos medicamentos?Se há tão pouco juízo não deveria abandonar o jarro que está continuamente derramando para beber as águas vivas da saúde no verdadeiro manancial da vida? Quero que todo o mundo saiba que desmascararei vários supostos mestres, ignorantes, e que, ao contrário, muitos pobres aprendizes que são rechaçados e menosprezados se tornarão sábios pelos efeitos das minhas experiências, e inclusive grandes médicos. Porque, seguindo meus ensinamentos, obterão tudo o que desejam e terão uma lembrança perpétua da minha memória quando eu já tenha ido. Após o meu falecimento, estou certo que os verdadeiros seguidores da minha doutrina não esquecerão meus preceitos. Porque conquistarão o império da verdade, que é o fundamento das minhas observações, e que será sempre triunfante contra todos os embustes e permanecerá sempre vitorioso. Ademais, o leitor deve ser advertido de que há varias classes de antimônio. Porque um é belo, puro e tem uma propriedade do ouro, pois contém em si muito mercúrio. O outro contém muito enxofre e não se aproxima tanto da natureza do oro como o primeiro, que possui vários pequenos raios brancos e resplandecentes. É por isso que o primeiro é melhor que o outro para o uso na medicina química, do mesmo modo que a carne de peixe é pior para o corpo humano do que a de a dos animais terrestres, embora sejam todos animais. Assim a mesma diferença se encontra de um antimônio ao outro. Além disso se deverá advertir que há varias pessoas que escrevem sobre as faculdades do antimônio. Porém a maioria destas não entende as razões de suas virtudes e não aprenderam nem encontraram jamais nada efetivo; portanto não escrevem mais do que teorias e opiniões e pela glória que buscam escrevendo. E não é preciso se surpreender se não se obtêm os efeitos desejados. Porque para falar efetivamente do antimônio é necessário fazer várias observações de suas virtudes, levando a cabo um grande trabalho em sua preparação, e ter encontrado o verdadeiro espírito no qual reside sua virtude, a fim que se resulte em documentos verdadeiros e ter e uma ciência infalível para conhecer o que é bom ou ruim, o que é veneno ou medicinal. Não é necessário mais que saber fazer um bom exame do antimônio para penetrar em sua essência e encontrar por experiência como é preciso separar dele sua malignidade (arsênico), da qual se queixam tantas pessoas, e torná-lo um medicamento benigno sem contra-indicações. Muitos anatomistas realizaram buscas aqui e acolá e afligiram, torturaram ou crucificaram o antimônio até um grau que ultrapassa tudo o que se possa humanamente dizer e imaginar. Porém encontraram eproduziram, de fato, poucas coisas úteis, pois estão desviados do verdadeiro fim. É por isso que não puderam alcançar esse branco ao qual queriam chegar, porque a linha de tiro fora encoberta de seus olhos por uma cor negra, de maneira tal que não puderam observá-lo, nem reconhecê-lo, nem tomá-lo em consideração. O antimônio pode com razão ser comparado a um círculo que não tem fim, de igual maneira que o mercúrio é qualificado. É de todas as cores do mundo, e quando mais se buscam suas virtudes, mais se podem apreciar, supondo que proceda como é necessário. Enfim, um homem não pode conhecer todas as suas propriedades benéficas devido à sua vida por demais curta. É verdade que é um veneno, e inclusive um veneno de último grau. No entanto, pode-se dizer também que é o remédio dos remédios e o primeiro tesouro da vida, aplicado exteriormente e tomando interiormente. O que não podem ver os que estão cegos pela ignorância...Esse defeito lhes deveria ser perdoado se fosse o único; contudo o pior é que não querem ver nem aprender nada neste caso nem em outros semelhantes. O antimônio tem em sai as quatro extremidades e qualidades com suas propriedades. É frio e úmido, quente e seco. Regula-se de acordo com as quatro estações do ano. É volátil e fixo. O que é volátil é venenoso e o que é fixo está livre de todo veneno. É por isso que vários escrevem diversas ficções a respeito do antimônio quando falam de suas faculdades malignas. Porque não entendem sobre o que escrevem. É verdade que é um mineral admirável, muito difícil de conhecer bem, pode-se considerá-lo inclusive um dos sete milagres do mundo, tanto que até o presente não se encontrou ninguém, nem de meu tempo, que tenha podido conhecer inteiramente seu poder, sus virtudes e sus operações, e que tenha penetrado totalmente em sua essência até o ponto de encontrar alguma novidade. No caso de que se encontre tal pessoa, mereceria ser levado sobre um carro triunfal, como antigamente se tinha o costume de fazer entrar na cidade de Roma os grandes heróis que haviam obtido alguma grande vitória sobre os inimigos. Porém não creio que se encontrem nunca muitos obreiros dispostos em fazer tal carro do triunfo com esse motivo. É preciso reconhecer que além da saúde se pode encontrar mais riqueza no antimônio do que eu e vós imaginamos. Porque embora eu tenha visto, aprendido e experimentado mais as virtudes do antimônio do que vós e vossos semelhantes que crêem saber muito, considero-me sempre um aprendiz na busca de suas propriedades. Portanto não invejo a fortuna dos que buscam os segredos da Natureza, e que têm encontrado e descoberto neste mineral segredos admiráveis. Porque a Bondade divina dá suas graças particulares a quem as merece. No entanto, como o mundo está cheio de ingratidão e não reconhece os benefícios do seu Criador ocorre com freqüência que Sua justiça venda os olhos da maioria, a fim de que não possa conhecer as propriedades e os segredos da sua natureza que se encontram em suas formas metálicas. Todos os homens não fazem mais que desejar riquezas, e cada um diz: “Eu queria me tornar rico e opulento, como dizem os epicureus; supondo que possa adquirir bens materiais, encontrarei em abundância os espirituais”. O mundo inteiro se parece hoje a esse rei Midas, que segundo a fantasia dos poetas não desejava outra coisa que converter em ouro tudo o que tocava. É por isso que a maior parte estuda como encontrar os meios para enriquecer pelo antimônio. Porém, como se esqueceram do Criador em seus comentários, omitem as ações de graças que devem previamente ser rendidas e descuidam a caridade devida a seu próximo, tocam a boca de um cavalo do qual ignoram a idade e a força, parecendo- se aos que estavam presentes durantes as dodas de Canaã na Galiléia, quando nosso divino Salvador mudou a água em vinho. No caso o Cristo não quis alardear a sua onipotência nem que o admirassem. É por isso que afirmo que cabe a todos buscar os Mistérios postos pelo Criador em sua criação. Porque embora não se possa imaginar que alguém alcance o conhecimento perfeito assim como os milagres do Salvador, não está proibido buscá-lo, pois é preciso que se aprenda tudo isso com trabalho e dedicação assíduas, com o fim de não ter que se queixar por sofrer uma enfermidade ou perda de suas riquezas e da saúde, mas que se possa sempre dar graças e regozijar-se. É por isso que qualquer um que queira se tornar um verdadeiro especialista no antimônio deve em primeiro lugar observar a decomposição ou a abertura dos corpos, a fim de alcançá-lo pela via adequada, em seu lugar e sem erro. Em segundo lugar, deve observar o regime do fogo, a fim de que não aumente ou diminua em demasia, que não se gele ou seja demasiado ardente, porque no fogo consiste o ponto principal, a fim de que os espíritos sejam expulsos, desunidos ou deixados livres para operar, e que essa virtude ativa não arda nem pereça. Em terceiro lugar, deve fazer uso de uma certa medida, como disse mais acima, a propósito das cinco coisas fundamentais necessárias aos químicos, que repito como parábola. Na divisão do antimônio em suas partes consiste o ponto principal. E para se servir dele é preciso preparar o fogo fazendo como o açougueiro que, tendo matado um boi, o divide em suas partes e distribuiu ao público para cozinhá-las se as quer comer. Porque não se pode extrair a utilidade que se deseja se não a faz cozer por meio suaspartes, e nisso consiste o ponto principal. E para servir-se dele é preciso preparálo pelo fogo que retira a crueza. Caso se comam cruas as partes, não há dúvida que nos servirão mais de veneno que de alimento, em tanto que o calor natural do estômago humano é fraco demais para digerir a crueza de um corpo. O mesmo ocorre com o antimônio, o qual, tendo um corpo muito duro e cheio de veneno, não pode ser digerido pelo nosso calor se antes não é devidamente preparado, e como veneno logo conduz os homens à morte. É por isso que antes de tudo é preciso separar o veneno do antimônio e proceder de tal maneira que nunca possa voltar à sua propriedade maléfica, o mesmo que o vinho, uma vez mudado em vinagre por meio da putrefação, não pode jamais produzir o espírito do vinho, se não que persistirá como vinagre. E, ao contrário, caso se destile o espírito do vinho e se trabalhe a aquosidade (ou a fleuma), não se converterá jamais em vinagre, mesmo que se passem cem anos. A transformação de vinho em vinagre é uma transmutação admirável, posto que se converte em outra essência que não era antes. Quando se destila o vinho, o espírito sai primeiro, porém quando se destila o vinagre a sua fleuma sobe primeiro e seu espírito por último. É por esse motivo que o espírito do vinho torna os corpos fluidos e voláteis, tal como ele mesmo o é; enquanto que o espírito do vinagre coagula e torna sólidos todos os medicamentos, a fim de que possam extirpar as enfermidades de natureza coagulada. O que é preciso remarcar tanto mais cuidadosamente por que tudo isso nos esclarecerá muito na preparação do antimônio, que contêm também seu vinagre, do qual se podem extrair os malefícios e torná-lo um medicamento tão benigno e tão admiráveis que não tem nenhum veneno, aliás bem longe disso, porque caça e dissipa o expulso dos corpos toda classe de venenos. A verdadeira preparação do antimônio se faz por meio da alquimia, a qual divide suas partes e o reduz aos seus princípios, calcinando-o, reverberando-o e sublimando-o; fazendo um extrato de sua essência eextraindo dele um mercúrio vivo. O qual se deve precipitar depois em uma poeira fixa. Se pode também por meio da Arte preparar dele um azeite que tenha a virtude de dissipar essas novas enfermidades desconhecidas que os soldados franceses nos trouxeram. Esse azeite se faz utilizando o antimônio, e por outras preparações que a arte espargírica e a alquimia nos ensinam. Por exemplo, quando um cervejeiro quer fazer a cerveja com cevada ou algum tipo de trigo, é preciso que passe por todos os graus de preparações antes de extrair a virtude do trigo e apropriá-la em bebida. Primeiramente, é preciso colocar a cevada na água para fazê-la abrandar, assim como observei cuidadosamente, quando adolescente, na Bélgica e na Inglaterra, e esse não é mais que um processo de putrefação. Depois, esta é extraída da água, deixada gotejar e posta em uma pilha até que se aqueça e comece a germinar por meio do calor; aí ocorre uma digestão. Em seguida, estende-se a pilha de cevada, trigo ou outro, se deixa secar ao ar ou ao fogo, e eis a reverberação ou coagulação. Similarmente, se faz moer o trigo que está bem seco, o que não é outra coisa que a calcinação. De maneira tal que o cervejeiro faz passar por todos esses graus de preparação a matéria da qual queira extrair a essência para preparar a cerveja, e ferve tudo junto com a água; e isso se pode chamar, a grosso modo, de destilação. O lúpulo que se adicione à cocção é o sal vegetal e um preservativo para conservar a bebida por um longo tempo e impedir a putrefação. Os espanhóis e italianos não sabem fazer cerveja, da mesma maneira que na Alta Alemanha, minha pátria, são poucos que conhecem este ofício. Depois que a cerveja está feita, deixar-se-á que ela espume e se assente, e se faz pela clarificação uma nova separação das coisas puras e impuras, o que se faz pelo movimento natural dos espíritos agitados que separam a borra do corpo e jogam fora a espuma ou a levedura, antes do qual a cerveja não é boa para beber e os homens não podem aproveitá-la porque os espíritos estão mesclados com a borra, o que impede sua operação. O mesmo se observa no vinho, o qual, enquanto está turvo e não clarificado, não cumpre os efeitos relacionados à sua natureza. Nem o vinho nem a cerveja antes de sua clarificação dão um espírito destilado perfeito. Ademais de todas estas preparações, pode-se fazer uma nova separação por uma sublimação vegetal, ou seja, separando os espíritos do vinho e da cerveja, e por destilação produzir uma nova bebida como a água da vida, assim como se pode extrair também das borras restantes dos dois. Separam-se os espíritos organizadores de seus corpos por meio do fogo, e os espíritos deixam a morada que tinham em seus corpos ainda vivos, mas que depois de tal separação tornam-se corpos mortos e sem alma. A exaltação dos espíritos se faz por retificação da água da vida, a qual se destila até que seja pura, sem nenhuma fleuma nem aquosidade, da qual uma gota tem mais força e mais atividade que vinte das que não estão retificadas, porque esta penetra antes e opera mais prontamente. Vejas pois que se queres aprender alguma coisa em meus escritos e obter as riquezas e os verdadeiros medicamentos do antimônio, e neste caso trata de observar bem o meu pensamento mencionado, porque não há nem uma letra neste exemplo que seja supérflua e que não tenha algum significado particular para a tua instrução. Encontrarás várias palavras reiteradas que parecerão repetições supérfluas, mas das quais é preciso observar e aprender. Porque nelas está escondido o principal fundamento da Arte. E ninguém deve se cansar de refletir várias vezes sobre todo o livro. Porque ainda que pagasses por cada palavra um escudo de oro, não igualarias o seu valor. Verás que meus exemplos, embora grosseiros, contêm grandes mistérios. Não quero no entanto exaltar eu mesmo meus escritos, porque na execução dos efeitos estes demonstrarão por si sós seus méritos e seu valor. Mostrei-vos exemplos de por que as virtudes do antimônio e suas forças estão escondidas; é preciso buscá-las no mais profundo da sua essência, o que não se compreenderá facilmente no início. É necessário introduzir-se em tal conhecimento pelas coisas mais notórias e conhecidas, a fim de que sendo compreendidos todos os princípios se possa chegar ao fim desejado. O antimônio é o mesmo que um pássaro que voa no ar, o qual pela ajuda dos ventos vai para onde quer. O operador ou artista se pode comparar ao vento, com a função de conduzir o antimônio. Pode torná- lo vermelho, amarelo, branco, negro e como queira, segundo a disposição que seu fogo lhe dê. Porque o antimônio contém todas as cores, como o mercúrio. Coisa da qual não se deve assombrar porque a Natureza tem recursos admiráveis, que não podemos apreender na totalidade nem hoje nem depois. Quando um iletrado toma um livro, não sabe o que esse escrito pode conter em si ignora o significado dos signos como uma vaca olha para uma porta nova. Agora bem, quando esse ignorante recebe de outro sua inteligência e uso, não toma isso por ciência, mas é algo que é para ele comum e fácil, do qual conhece bem o uso. Porém pode compreender verdadeiramente até o ponto que não restará nada secreto ou obscuro neste livro, quando o mesmo tenha dominado sua leitura e compreensão. O antimônio é um livro no qual os que não sabem ler são advertidos de que, se desejam aprender e conhecer seus mistérios e suas utilidades, começarão comigo a conhecer as letras e os primeiros elementos, a fim de que possam ler eles mesmos e passar de uma classe a outra. No que a experiência nos servirá de reitor para julgar o exame, e dar os prêmios que terá merecido cada um segundo seu aprendizado. Não pode passar em silêncio aos que gritam diariamente: "Crucifige! Crucifige!" contra todos os que receitam venenos aos enfermos, que preparam venenos, e que mostram como se servir deles na Medicina, e por meio dos quais acreditam que tantas pessoas morrem, como pelomercúrio, pelo arsênico e pelo antimônio. Todos os que dão tais gritos e fazem tanto ruído não são ordinariamente mais que ignorantes que se dizem médicos, e que não sabem eles mesmos o que é venenoso, o que é venenoso ou medicinal; e é isso que os incita a declamar contra os que são sus mestres e que não sabem reconhecer como tais. Contudo tenho melhor razão para gritar eu mesmo contra os que verdadeiramente receitam os venenos antes de tê-los preparado, em tanto que eles não têm seu espírito. Porque se o mercúrio, o arsênico, o antimônio e outros semelhantes permanecem em sua substância tais como são sem estarem bem preparados, são realmente venenos. Porém quando são preparados metodicamente, toda sua virulência é apagada e dissipada, e são convertidos em medicamentos saudáveis, os quais resistem contra todos os outros venenos e os expulsam quando se encontram engendrados em nossos corpos. Porque um veneno bem preparado, de maneira que não retenha nenhuma qualidade ruim, resiste e extirpa outro veneno quando o encontra. E se não o expulsa tem ao menos a virtude de fazê-lo perder suas qualidades prejudiciais e torná-lo conforme sua natureza, pese a que ambos foram venenos antes. Quero crer que o que acabo de dizer suscitará grandes disputas entre os doutores, os quais examinarão se a verdade das coisas é possível ou não. E seus julgamentos serão muito diferentes. Uns serão da opinião de que isso é tudo impossível, que não se pode despojar inteiramente um veneno de todas as suas qualidade, o que não me assombrará em nada, já que esta ciência lhes é desconhecida e que não entra de maneira nenhuma em seu pensamento a possibilidade de aprender tal mistério. Porém haverá sem dúvida alguns que reconhecerão a possibilidade, por meio da Arte, de mudar uma coisa ruim em uma benéfica, e defenderão a minha opinião. Não reconheceis, senhores médicos, que sois desta opinião que as enfermidades e causas mórbidas de nossos corpos, que são todas venenos, podem mudar para um bom estado, e tornar-se próprias da saúde? Por que então não quereis confessar que as propriedades malignas que certos medicamentos contém podem ser separadas de sua bondade e que depois tais medicamentos sejam úteis e necessários à saúde do homem? Porém em tanto que a experiência e a ciência da operação ainda é desconhecida para vários, a maioria não deixará de gritar: “é veneno, é veneno!”, como os judeus: "Crucifige! Crucifige!" contra nosso Senhor e Redentor Jesus Cristo, rechaçando-o e considerando-o como o maior, o pior e o mais maldito veneno de todos os homens, visto que era o mais nobre, o mais rico e o mais precioso medicamento de nossas almas para libertá-las do pecado, da morte, do Demônio e do inferno. O qual não queriam reconhecer nem aprovar os doutores e os fariseus, embora fosse verdadeiro e continuará confirmado por toda a eternidade; e inclusive vós, senhores, grandes doutores e famosos personagens que persuadem a imperadores, reis, príncipes e outros potentados de que é preciso guardar- se bem de se servir de tais medicamentos, a causa de que são nocivos e venenosos, devereis perdoar-me se ouso dizer-vos ou escrever quão ridícula me parece vossa opinião. Porém não falo disso, em tanto que não saiam jamais dos princípios que aprenderam uma vez e que não querem fazer outras observações que as que já viram. É assim que não deveriam pedir as dos outros. Porque ainda se tenha dado tal veneno, que vocês chamam extremo, a alguém me bastaria dar com a ajuda de Deus um contraveneno preparado em público, que lhe salvaria a vida expulsaria no ato todo o veneno pelo qual deveria morrer precocemente. E ainda que os doutores não possam nem queiram compreender essa verdade e a creiam impossível não importa, sei que os meio de me defender e de mostrar as provas quando se queira, tornando-as fatos diante das pessoas. E se me fosse preciso entrar em disputas com tais doutores, que não sabem fazer eles mesmos tais preparações, tanto que as encomendam de outros, estou certo de que na verdadeira escola obteria um posto por em cima deles e estariam obrigados, em sua desonra, a se colocarem abaixo. Porque não conhecem os medicamentos, nem o que receitam aos seus doentes, e inclusive desconhecem as cores e se são brancos, negros, vermelhos, amarelos, cinzas ou azuis, se são quentes ou frios, úmidos ou secos. Lêem somente, e tendo isso não desejam saber mais. Oh, meu Deus! Que consciência tem esses senhores? Como tratam seus doentes? Não encontrarão no dia do Juízo a Justiça, se não há nenhuma no presente para eles? Não pedem mais que o dinheiro, mas se pensam nos deveres que são exigidos, empregariam noite e dia para descobrir os segredos da natureza. Porém os trabalhos lhes parecem difíceis e penosos; não se inquietam por eles, contentando-se com superficialidades; acreditam fazer grandes curas enganando com grandes discursos e deixando a cura à parte. O carvão é por demais raro, é por isso que o usam muito pouco, agradando-lhes mais empregar o dinheiro que seria necessário empregar para encontrar as maravilhas da natureza com coisas supérfluas. É o bastante o que gastam com os alambiques que encontram nas casas de boticários, onde eles vão algumas vezes para receber receitas, mas o som dos morteiros que faz em pedaços a garrafa pode lançar ao vento todas essas receitas... Ó Deus clementíssimo! Muda os tempos, ponha fim à soberba, opõe- te as árvores para que não cresçam até os céus, aos gigantes, a fim que não amontoem montanhas sobre montanhas! Dê algum fim a esta vã glória e presta sua assistência aos que têm confiança no senhor, a fim que possam ultrapassar os que os perseguem e os odeiam. Quero incitar a todos os companheiros que tenho neste mosteiro a rezar a Deus dia e noite para que lhes possa esclarecer o entendimento de todos esses perseguidores, levá-los a conhecer sua onipotência em suas criaturas, e iluminá-los, de maneira que comecem a buscar pela anatomia das coisas e as virtudes escondidas em sua profundidade. Espero também que sua misericórdia, que criou todas as coisas visíveis e invisíveis, concederá as nossas preces, e se não em meu tempo ou no de meus irmãos, será depois de nossa morte. Quem sabe então se realizará uma penitência à qual Deus cederá sua graça, para que as nuvens espessas e sombrias sejam retiradas dos olhos de todos, que cada um volte a encontrar a vista e por uma verdadeira iluminação recobre o verdadeiro groschen (moeda alemã de 10 centavos). Que Deus o faça! Assim seja. Fim do prefácio do autor CAPITULO I TRATADO DO ANTIMÔNIO Para começar o tratado do antimônio pela etimologia de seu nome, é preciso saber que os árabes o chamam Asinat. Os Caldeus o têm chamado Sibium. Os Latinos Antimonium. Os Alemães Spiessglass, em razão de que tal matéria é fluida, e se faz dela um vidro que retém todas as cores que se possa formar. É por ele que se há de extrair a conseqüência de que, pela mesma razão que os árabes, caldeus e latinos, nossos primeiros pais, e outros povos hão dado um nome particular ao antimônio, não o têm feito sem razão, nem sem haver respeitado a coisa e observado suas faculdades. Porém não há de duvidar que devido às diferenças naturais não se hão destruído ou suprimido as escrituras que davam fé de suas virtudes, para enterrá-las. Porque seus inimigos hão podido mui facilmente corromper as impressões e os livros que as declaram, e tanto que o diabo pode fazer muitas coisas com a permissão de Deus, a causa de nossos pecados e de nossa ignorância, porque Satã, que é inimigo jurado do gênero humano, fez até o presente todo o possível e empenhou todas as suas astúcias a fim de que a verdadeira medicina fosse suprimida e sepultada, e para tratar de acabar com a Glória de Deus que é o autor de todos os bens, e que os homens não possam render-lhe graças, assim como para privar a natureza humana de tal assistência. Em tanto que a disputa dos homens sobre as coisas é inútil porque não contribui nem diminui nada de sua essência, não direinada sobre os diferentes nomes do antimônio. A glória que se pode adquirir de tudo o que fazemos consiste unicamente na verdadeira preparação dos medicamentos e no reconhecimento da bondade divina que lhes há infundido as virtudes que encontramos por nossos trabalhos. É por ele que é apropriado começar a demonstrar a preparação do antimônio e a descrever suas faculdades, a fim de quese dêem graças Àquele que as tem disposto. Porém como vos hei confessado antes que o antimônio era um veneno, antes de dar-vos a conhecer suas virtudes, vou mostrar-vos por um exemplo que um veneno atrai a si outro veneno, e o expulsa de nosso corpo antes que todos os demais antídotos ou contravenenos. Isto ocorre por causa da simpatia e da semelhança das naturezas. Porque é preciso que saiba que a verdadeira licórnia expulsa toda classe de venenos e não só pode suportar. Eis aqui uma prova: tomeis uma aranha viva, fazeis um círculo em volta dela com a licórnia; vereis que não sairá do círculo que haveis demarcado, já que evita o que resiste e é contrário a sua natureza. Porém põe qualquer outra coisa ao redor dela que coincida com a sua natureza venenosa: não terá antipatia em passar por cima. Nota ademais que se puseres uma moeda de prata que seja oca (como a que há na Alemanha), com a marca de uma flor de lis, a flutuar sobre a água como se fosse um pequeno barco, e aproximar a esta última um pouco de licórnia, sem que se toquem, verás que a licórnia, por sua virtude espiritual, fará retroceder a moeda de prata, da mesma forma de um pato que quer evitar o golpe de um caçador. E, ao contrário, se achares um pequeno pedaço de pão duro e bom, sem nenhuma mescla, em um vaso cheio de água até a borda e colocares a verdadeira na água, porém sem que se toquem, verás que a licórnia atrairá pouco a pouco a migalha de pão para si. De maneira que é uma maravilha ver a simpatia de duas coisas naturais, como uma atrai a que a simboliza e expulsa e repele de si o que lhe é contrário. Do qual os médicos podem extrair uma justa conseqüência: que os venenos atraem para eles o que lhes é de natureza semelhante, e o que não é veneno atrai semelhantemente para si o que está e associado a ele. É assim que se podem combater os venenos de duas maneiras: primeiramente, por seus contrários que lhes resistem e lhes combatem, assim como se acaba de dizer da licórnia. Em segundo lugar se lhes pode expulsar de nossos corpos por seus semelhantes, em razão que um veneno atrai outro para si, como o ímã atrai o ferro. É preciso que tal antídoto deva combater o veneno, que seja o próprio veneno, sendo assim precedentemente preparado de maneira que sua malignidade se converta em medicina ou em antídoto, e seja também suficiente para expulsar ao outro veneno em razão do qual se dispõe deste. De forma parecida, o sabão atrai para si e limpa as impurezas e a graxa dos trapos e da roupa porque o sabão não foi antes mais que uma graxa. Porque se faz do talco azeite de oliva e outras coisas parecidas. E a causa disto é que se hão preparado as matérias gordurosas do sabão pela separação e se somou sal ao fazê-lo, que é a principal causa de sua virtude abstersiva. Tem nele o poder de atrair para si e de purgar a si mesmo as imundícies untuosas das roupas. Por que pois se nega que os venenos possam perder e abandonar sua malignidade por uma preparação conveniente e produzir um antídoto que tenha a faculdade de atrair os outros venenos, expulsá-os de nossos corpos e restabelecer a saúde primeva? Porém a fim de que os possa demonstrar as propriedades desconhecidas da natureza e fazê-os conhecer as matérias boas e más, venenosas e outras, propor-lhes-ei alguns exemplos pelos quais a verdade se manifesta, assim como a falsidade dos grandes e relevantes médicos, e também sua negligencia, se verá claramente manifesta. Toma um ovo gelado que tenha ficado exposto a um grande frio e ponha-o em água extremamente fria por algum tempo e verá que a gelatina ou o gelo que estava antes dentro do ovo será atraído para fora por meio da água fria e toda a substância interior do ovo voltará ao seu primeiro estado como se nunca houvesse estado gelado. Da mesma forma, se alguém tem alguma parte de seu corpo gelado ou congelado, que se tome água o mais fria que possa encontrar, como a da neve fundida, e que se aplique sem perda de tempo sobre a parte afetada: uma frescura atrairá a outra e a parte afetada permanecerá em seu estado primitivo de saúde. E, ao contrário, se alguém tem muito calor ou inflamação em alguma parte de seu corpo, que aplique sobre o mal uma matéria quente, como o espírito de vinho retificado, o melhor que se possa encontrar, quer dizer, que seja quase todo fogo, ou da quintessência do enxofre, e mui seguramente verá que um ardor atrai para si o outro em razão da semelhança de sua natureza, e não sentirá somente o alívio refrescante da parte, senão a inteira restauração da saúde. Para maior confirmação desta verdade toma ovos de rã, que aparecem no mês de março, e faça-os secar ao sol sobre uma prancha e depois pulveriza-os e ponha-os na forma de pó sobre a ferida de alguém que foi mordido por uma víbora ou serpente, e verá que este pó tirará o veneno da mordedura, de maneira que depois disso se possa curar facilmente com os medicamentos ordinários, os quais de outro modo não serviriam para nada. A mesma virtude desse pó se pode utilizar pondo-lhe sobre um pano branco que umedecerás várias vezes, e que secarás depois com os ovos de rã. O pano deve ser cortado em pequenos pedaços para aplicá-os sobre a mordedura. Semelhantemente toma um sapo vivo, coloca-o amarrado por uma das patas de trás ao sol para fazê-lo secar como é preciso, ponha-o depois em um pote bem coberto e reduza-o a cinzas pelo fogo e depois a um pó muito fino. Sirva-se deste pó para as feridas venenosas e os asseguro que atrairá o veneno. E porquê? É que por meio da calcinação do sapo sua virtude medicinal de atrair o veneno se torna mais rápida e mais ativa, e própria a executar suas forças para atrair para si seu semelhante. Se alguém for infectado pela peste que tome exemplo das coisas venenosas a respeito das quais acabo de falar e que as observe para a moléstia. Porque encontrará que tudo o que vos digo neste escrito é verdadeiro, porque podereis servir-vos das coisas venenosas aqui ditas em tempos de peste para os que estão infectados, suposto somente que se some o astro do sol e o espírito de mercúrio. Porque o espírito de mercúrio atrai para si seus semelhantes, tendo a faculdade atrativa de todas as enfermidades venenosas. Do mesmo modo que o - astrum solis -do qual do mesmo modo que pela virtude do sol celeste vivificante tudo é engendrado - in genere universali - ultrapassa a todos os demais em faculdade, creio também que o maior de todos os remédios consiste no sol, quero dizer, em sua natureza e em seus espíritos que são o astro do sol terrestre, dos quais espíritos de todos os minerais e metais no começo de sua geração hão retirado seus princípios. Falaremos de tudo isto mais amplamente quando vos revelar como age o astro do sol sobre a vossa consciência (porque é o segredo dos segredos). Verdadeiramente o antimônio nesses casos sucedidos tem a mesma virtude que o ouro. É preciso entender corporalmente, porque não posso afirmar que seja semelhante ao astrum solis, embora em diversas coisas o antimônio tenha muito mais virtudes que ele. Porém não se pode dizer que o que pode o astrum solis, o antimônio possa também. Não falo do astro de mercúrio. Pode-se em efeito ser desenvolvido da mesma matéria que eles, porém ele cede a prerrogativa ao astro sol de ser a causa de sua penetrabilidade. Bem, agora para confirmar tudo o que temos dito, é preciso notar que Vulcano é o primeiro mestre e principal agente de todas nossas operações e preparações. Portanto, tomas uma peça de aço ou de ferro duro, e com um martelo o golpeies junto e verás que sairá fogo, o qual se acenderá pela força do movimento e da colisão. O enxofre e o fogoque estão escondidos nos corpos duros se mostram por meio da colisão e do ar, e se mostram dispostos a arder. O sal permanece na cinza, e o mercúrio escapa ao mesmo tempo com o enxofre ardente. O mesmo há de crer do antimônio quando é preparado, porque seu mercúrio se separa de seu enxofre e de seu sal pelos meios que a natureza nos ensina. Da mesma forma que o fogo que reside nas matérias duras não se mostra se não o excita, assim os medicamentos têm suas virtudes escondidas, as quais não se conhecem antes que hajam separado as coisas impuras e más das boas por meio do fogo. Explico assim sumariamente a natureza do antimônio, posto que todas as coisas escondidas, em tanto que estão escondidas, são assuntos das artes. Sendo revelado o arcano, a arte cessa e o trabalho começa, como o tenho ensinado em outra parte. As abelhas nos dão fé desta verdade quando por sua indústria separam o doce mel das flores e das plantas (que são às vezes venenosas e amargas), a qual serve para vários usos, tanto em medicina como para a alimentação. Porém, do mel que é doce e agradável, se pode extrair o pior e mais corrosivo dos venenos. O que ninguém crê senão os que o têm experimentado, e ninguém toma precaução senão os que fazem uma atenta observação disto. Não há de menosprezar o mel nem afastá-lo como inútil por isso. Porque embora a ignorância ou malícia dos que o preparam possam torná-lo um grande veneno, não deixa de ter grandes virtudes e utilidades em medicina. O mel, pois se forma desta maneira: os excrementos e o esterco dos animais servem para adubar a terra e dar-lhe umidade untuosa, da qual esta produz diversas classes de flores, ervas e outras plantas. O que mostra claramente que se faz das plantas das quais as abelhas extraem o suco ou a quintessência, a partir da qual se faz a alteração ou geração, que é o mel, do qual se fazem vários medicamentos úteis e bebidas. Não obstante, disto se pode também preparar uma essência tóxica extremamente perniciosa, que pode matar os homens e os animais. É por isto que te rogo a refletir sobre estas verdades. E estejas seguro que se és amante da ciência, sejas jovem, velho, doutor, ou ignorante, rico, pobre, artista, ou qualquer outra qualidade que podes ter, se seguires meus preceitos e os movimentos da natureza te esclarecerei da verdade e te ensinarei como é preciso separar as coisas boas das más, e as preciosas das inúteis. Quanto ao antimônio, se pode preparar com ele um medicamento no qual está excluído todo veneno e de todo perigo. Porque sua malignidade se converte e se transforma em bondade por meio da arte, que o torna capaz de remediar toda classe de enfermidades, penetrar e digerir, achar e expulsar todas as causas mórbidas como um fogo que tudo consome. Sabe que é por isso que há de preparar o antimônio e transformá-lo em pedra, da qual é por sua faculdade parecida ao fogo. É por ele que esta quintessência de antimônio é chamada em todos meus escritos lapis ignis ou pedra de fogo. A qual, fazendo-se por coagulação e sendo preparada como direi no final deste tratado, tem a virtude de consumir todos os maus humores do corpo, purgar o sangue até o último grau de pureza, e faz tudo o que o ouro potável faz. É pois por ele que os que não sabem nada e não tem nenhum conhecimento, que ignoram todas as experiências e não sabem de nenhum modo a preparação, e que muito menos hão penetrado nas minas, lhes rogo não censurar seguindo a paixão de seus pensamentos, senão antes aprender o verdadeiro método de preparar o antimônio, como é preciso separar o veneno e produzir o medicamento mais nobre do mundo. Então poderá julgar livremente e da sua opinião de quanto vale, e conhecerá a diferença de haverá entre o seu saber e o que tinha antes. Ó Miseráveis sofistas mundanos que os fazeis engrossar com uma falsa sabedoria, apoiando-os sobre um falso fundamento, voem nas nuvens com vãos pensamentos e ignorais o fim de vosso repouso! Digo-vos que tereis que vos justificar diante do Filho de Deus no dia do juízo terrível, que esta já muito próximo. Busca, estuda o que deseja utilizar, e assim sereis recompensados por seu trabalho. Confia o resto a Deus, que vos enviará sua bênção e não vos privará se seu socorro. Indivíduos perigosos e arrogantes, bacantes que tenham cuidado de não aprender nada e que temeis sujar as mãos com o carvão não julgueis, por temor a que mais tarde apareça a ocasião de levar contra vós uma sentença que os filhos de seus filhos possam escrever sobre um livro incorruptível. Todos os médicos devem observar não fazer nada que repugne e seja contrário a natureza das coisas por temor a perder toda a esperança de restabelecer a saúde. Quer dizer que não se sirvam de meios repugnantes juntos para executar suas intenções. Como por exemplo, se verteis espírito de vinho em água forte se fará um grande constrangimento, a causa de que os corpos não concordam juntos, porém se os sabe unir juntos destilando- os de maneira filosófica encontrareis neles efeitos maravilhosos. Semelhantemente, o azeite de tártaro ou seu licor não deve mesclar-se com vinagre que foi feito de vinho. Porque se contrariam um ao outro e se agridem reciprocamente, como o fazem a água e o fogo, embora sejam extraídos os dois do mesmo princípio, a saber do vinho. É assim que na cura de nossas enfermidades é preciso considerar todas as circunstâncias do mal do paciente, e perguntar-lhe tudo para examinar de sua parte, depois do qual é preciso apropriar-lhe os remédios convenientes a seu mal, a fim de que a bondade de seus medicamentos não seja escandalizada em lugar da glória que se merecem, e que não sejam censurados. Como por exemplo quando quereis dissolver ferro em água fervente, se verter azeite de tártaro quando a água forte faz sua operação, não somente vereis que vosso vazo se romperá, senão que tereis que guardá-os bem para não abrasá-os. Porque a contrariedade destes dois licores acenderá um fogo, o mesmo que a pólvora no carvão, que queimará tudo o que encontrar. O senhor Doutor, com sua grande perícia, não se salvaria de tal fogo, porque ele não sabe nada de todos os segredos da natureza. Homens miseráveis, doutores ignorantes médicos inexperientes, vocês que escrevem livros e receitas, vocês boticários têm potes tão grossos como os que se utilizam nas cortes dos grandes senhores para servir de alimento para uma centena de homens, vocês que estão cegos desde há muito tempo, permiti que se limpe os olhos com colírio e bálsamo, a fim de que cessem seus deslumbramentos e que obtenham o verdadeiro espelho da clara visão, e que Deus os acordem a fim de que reconheçam seu milagres e que considerem suas obras. Sua caridade impulsiona suas raízes em vocês para que escrutem a verdadeira medicina que o Príncipe celeste de todas as coisas há formado com sua mão todo poderosa, e por sua sabedoria eterna, e a há dado para sua utilidade à mais nobre das criaturas, ao homem, como socorro na extrema necessidade ou para sua saúde. Ó miserável! Ó podre e fétido saco de misérias! Serpente da terra vil criatura! Porque olhar tão intensamente a casca e descuidar da polpa? Jamais dará graças a teu criador que te formou a sua imagem, jamais lhe renderá graças por seus milagres! Volta-te para ti mesmo, representa-te a ti mesmo e a forma de tua efígie, a fim de que se dê conta de sua vergonha e de sua ingratidão, porque não buscas o que Deus há escondido nos bens que há concebido e que tem estendido em suas criaturas. Porém me calarei e deterei de deplorar esta miséria, esta cegueira e este erro por temor a que minhas lágrimas que retenho com esforço estraguem meus escritos caindo sobre eles. Sou um eclesiástico que forma parte de uma ordem na qual me submeterei totalmente de coração e de palavra, pelo longo tempo que minha alma viva em meu miserável corpo, e não me permito escrever mais que o que é compatível com minha ordem. De outra forma, elevaria a voz como trombeta. E se fosse juiz secular marcaria uma audiência nas casas desses personagensorgulhosos que não somente não conhecem a verdade, senão que, ignorantes, a perseguem, mentindo, caluniando, vituperando e oprimindo- a com todas suas forças. Deus Todo Poderoso e Altíssimo, Senhor das multidões, que está sentado sobre um trono sublime, governando o céu e a terra que criou, conservando as estrelas, dispondo os elementos e o firmamento para que permaneçam em seu curso, faz que trema todo o universo e espantem os espíritos infernais, olha o jugo deste mundo ingrato, ensina ao filhos dos homens a conhecer mais interiormente o que Tu lhes propões mais exteriormente, a fim de que sejas glorificado em teu trono, verdadeiramente reconhecido em teu poder e adorado em tua sabedoria infinita. Eu, em verdade, rendo graças a tua mui alta majestade por teus milagres e benefícios imensos, pela saúde e as riquezas, porque não posso testemunhar mais nada neste mundo temporal e corrupto. Ó! Se eu não fosse religioso como sou, de coração e de boca, o que serei durante toda minha vida como fiz voto disso, e me estivesse permitido dizer meus sentimentos e declamar contra os ignorantes e os perseguidores da verdade, os poria muito abaixo. Porém meu estado me ensina que é preciso Ter paciência. Por isso deixemos todos estes discursos aparte e comecemos a preparar nosso antimônio. CAPITULO II DA DESCRIÇÃO DO ANTIMÔNIO A fim de escrevermos sobre o antimônio e estabeleçamos seu fundamento, no qual tem seu trono e seu império e pelo qual é elevado à sua glória e à sua perfeição, é preciso antes de tudo demonstrar a origem de sua raiz e de seus princípios, como opera e se forma nas entranhas da terra, a que disposição dos astros se encontra submetido, e os elementos que o produzem. Saiba pois, que o antimônio não é outra coisa que uma fumaça ou um vapor excitado pelos astros nas entranhas da terra, e por meio dos elementos reduzido a uma coagulação formal. E as mesmas constelações que produzem o mercúrio produzem também o antimônio, comunicam-lhe sua essência, suas virtudes suas operações e suas qualidades do começo, e não há nenhuma outra diferença em seus princípios de geração, senão que o antimônio é mais duro e está mais coagulado que o mercúrio em seu começo. A razão desta coagulação maior do antimônio é que tem mais sal em seus três princípios materiais, embora o sal seja a menor parte de seus três princípios. Porém, respectivamente, tem mais mercúrio e é o que o coagula. Porque o sal endurece todas as coisas e as coagula, o qual falta ao mercúrio que tem muito pouco dele. É por isso que em razão de que o mercúrio contém em si um espírito quente e sulfuroso, que não aparece sem trabalho, é sempre fluido e não pode coagular-se se não lhe somarem outros espíritos metálicos que os mais próprios para este efeito se encontram na mãe de Saturno, e sem estes não se pode fixar. E não pode ser de outro modo se o mercúrio não tem ele mesmo a pedra filosofal pela qual reduzir os seus três princípios em uma proporção tão concordante que tenha depois um corpo fundível, sólido e que possa resistir ao martelo e ao fogo como os outros metais. De outro modo, permanece sempre fluido (como é naturalmente) até que lhe seja tirado este princípio. É por ele que todos os animais, e vegetais são demasiados débeis para coagulá-lo e torná-lo fixo, como certas pessoas estudam em vão, porque não são espécies metálicas. Porque o mercúrio é fogo por todas as suas partes. É também por isso que resiste a todo fogo e não se deixa fixar por ele, ou se evapora, e foge rapidamente pelos seus espíritos e se transforma em azeite incombustível, ou permanece de tal modo coagulado depois de sua fixação que é impossível rompê-lo. Por demais, tudo o que se pode fazer com o ouro se faz também com o mercúrio preparado como é preciso. Porque depois de sua verdadeira coagulação, se parece inteiramente ao ouro, em razão de que tem os mesmos princípios originais que este. Embora meu desejo não seja introduzir aqui uma discussão falando muito abundantemente do mercúrio, senão simplesmente, claramente, descrever a partir de seu verdadeiro fundamento o princípio do antimônio, o mercúrio pode ser útil para prosseguir o estudo do antimônio. O que tenho induzido por parábola sobre o mercúrio não tem sido senão fruto para meditação seguindo um sinal para que o antimônio seja compreendido mais corretamente já que tem uma origem mercurial. É preciso pois, notar e observar bem que os minerais e os metais não são outra coisa que um vapor que é extraído por algum astro predominante do elemento terra, como por uma destilação do mundo universal. Qual influencia celeste opera até o centro da terra, por sua propriedade aérea e suas qualidades cálidas, de maneira que tal constelação opera espiritualmente e de suas qualidades o vapor lhe eleva, o qual se transforma em um licor do qual todos os minerais e metais tomam sua origem, e se formam um ou outro segundo o predomínio dos três princípios (segundo tenha mais mercúrio, enxofre e sal), ou menos de um ou de outro, ou que se encontrem por igual, de maneira que alguns metais são fluidos e outros fixos. Os fixos são comumente o ouro, a prata o cobre, o ferro, o estanho, e o chumbo. Além destes metais se formam também dos mesmos três princípios, segundo a proporção desigual de sua mescla, outros minerais como vitríolo, o antimônio, a marcassita, o âmbar e outros que não é necessário reproduzir aqui. Porém como o ouro em seu astro no começo é infectado recebendo uma propensão para um enxofre e um mercúrio mais duro e mais perfeito que todos os outros metais e minerais, sua virtude operativa é por conseqüência mais estendida e mais poderosa em ato que os outros metais e minerais, e é por isto que no astro do sol se encontra o que possui os outros astros, só que muito mais, por causa de sua maior perfeição. Além disso creio que quando se haja reduzido este enxofre à sua perfeição por meio do fogo, se encontrará em grande quantidade em todos os outros metais e minerais. Há um mineral do qual tenho feito menção várias vezes, no qual o enxofre do sol se encontra tão perfeito e tão poderoso, mais que no próprio ouro. Encontrei também duas classes de metais que contém a mesma virtude sulfurosa do sol e dos quais não direi nada mais no presente. O antimônio não é pois outra coisa que um mineral feito por um vapor elevado e transformado em licor. Esta emanação espiritual dos astros é o verdadeiro astro do antimônio. E este licor atraído do elemento da terra pelos astros celestes e sendo dissecado por uma forma e essência palpável, da qual nasce formalmente o antimônio, em cuja forma o enxofre predomina, depois o mercúrio e a menor parte dos três princípios é o sal, do qual no entanto há tanto quanto o necessário para dar-lhe uma forma sólida. As qualidades primeiras e elementares do antimônio são secas e quentes e não participam da frescura e da umidade senão em um grau muito baixo, o mesmo que o mercúrio, o azougue comum, e o ouro corporal têm mais calor que frescura. E isto é suficiente sobre a matéria e os três princípios do antimônio, assim como o modo em que pelo ar se formam no elemento da terra. No entanto, importa pouco a muitos saber de todos estes meus discursos precedentes e não se preocupam de em que centro se encontra o astro do antimônio, ou de que princípios está formado, e que se deseja unicamente saber sua utilidade, seu uso e sua preparação, a fim de poder vê-lo perfeito e ver suas faculdades, das quais se tem escrito tanto até o presente, que não há rico ou pobre, nem doutor ou ignorante, que não tenha falado dele e que não espere com grande desejo uma última descrição, vou acabar todos este preâmbulos e os instruirei simples e fielmente com toda a doutrinadeste, tanto como meus trabalhos e minhas observações me permitem. É certo que tenho empenhado nisto muito tempo e trabalho, e se não obstante não hei conhecido todas suas virtudes, é porque em sua preparação depois de uma maravilha sobrevém outra: cores virtude e operações infinitas,uma depois da outra, de maneira que não se encontra jamais seu final. Assim o Antimônio é um veneno, não benigno, senão particular e violentamente mortífero para os homense os animais. É por isso que a maioria dos médicos e a plebe ignoram a verdadeira medicina, não tendo nenhum conhecimento que hajam refletido do antimônio, visto que o rechaçam como um veneno e que os grandes médicos o proíbem como perigoso, e que os professores repetem até ficarem roucos aos estudantes das universidades. Guardem-se, guardem-se do antimônio, é puro veneno. Comovidos por estas opiniões, os cidadãos dos pequenos povos proíbem o uso do antimônio. Porque a maioria dos homens está tão transtornada por estes clamores que até minha época ninguém havia querido ouvir ao antimônio ou dar confiança aos inumeráveis e inefáveis remédios que encerra. Em verdade, em verdade vos digo, meus escritos são verdadeiros. Porém os asseguro em verdade, tão verdade como Deus é o criador do céu e da terra e de todas as criaturas, que não há mais soberano nem mais precioso remédio sobre o céu que o antimônio. Por isto, meu querido discípulo e vós amigo leitor, compreende bem meus discursos e observa as experiências que tenho feito com o antimônio. Porque minha teoria procede dos fundamentos da natureza e minha prática da experiência, a qual pode demonstrar aos incrédulos as maravilhas e utilidade que tenho produzido com ele. E se alguns desses doutores, desses mestres, desses bacharéis, desses médicos com o boné roxo, me diz que não há de usá-lo em razão de que é incerto mesmo preparado como é preciso, lhes pergunto por que se servem tão facilmente e livremente da triaca na composição da qual, além de outros venenos, entra a serpente chamada thyrus, que é um veneno extremo. Não devo dizer pela mesma razão: Guarde-se bem de usá-la, há veneno na triaca? Me responderam que estes venenos são preparados como é preciso e servem de contraveneno. Igualmente responderia também que o antimônio não se deveria usar mas que depois de sua verdadeira preparação, a qual se tira todo seu veneno. O futuro discípulo do antimônio, havendo dito suas orações antes de tudo, freqüentará a escola de Vulcano que é o mestre e doutor de todos os segredos de que se riem os médicos e sábios, quando não hão aprendido do fogo nenhum arcano, em razão de sua perícia, e que impedem por sua inércia, sua manifestação. E estes louco podem clamar que se podem fazer bem certos remédios sem Vulcano. Preocupo-me muito pouco de tudo o que possam dizer, e embora sejam perseguidores do antimônio não saberiam mostrar-me nem melhor remédio nem tão bom quanto ao que se faz com o antimônio. Porque se de ciência certa que com o antimônio se fazem remédios tão bons como com o ouro e o mercúrio (exceto o astro do sol) e que se prepara com este ouro potável para curar a lepra e o espírito de mercúrio, que é o soberano remédio das novas enfermidades desconhecidas, como o mal venéreo e a sífilis, e outros medicamentos salutares. Porém, estes cientistas não o podem saber nem observar. O ignorante não pode julgar, o mesmo que um burrico que ignora a música não pode ensinar ao pastor como fabricar uma flauta. É por isto que aquele que queira fazer um julgamento correto deve antes conhecer sobre o que deverá pronunciar-se e saber, através dos livros e da experiência, o que é verdadeiro e o que é falso, a fim de ter um julgamento objetivo. Porém, antes que o os faça sábios e os ensine a preparação do antimônio, posto que é tão venenoso, alguém poderia perguntar-me como pode acontecer que os minerais sejam venenosos, qual é a essência do veneno, de que pode proceder tal malignidade e também como se pode separar de uma matéria metálica para fazer com ela bons remédios que sejam úteis e sem perigo. Ao que responderei sucintamente, que é preciso considerar de duas maneiras a essência dos venenos, a saber: natural e sobrenatural. A primeira razão, é que o Senhor que governa todos os céus, os astros e a terra, há criado venenos entre suas criaturas e principalmente nos minerais, para fazer parecer a ordem, as maravilhas, a onipotência e a bondade de sua majestade, propondo-nos diante dos olhos tais coisas para fazer-nos conhecer o bem e o mal, havendo-nos dado também o julgamento e a razão para compreender o livre arbítrio de seguir o bem e o mal se quisermos. Da mesma maneira se teria em meio ao paraíso a árvore de nossos primeiros pais, cujo uso conduzia ao bem e o abuso ao mal, posto que por causa dele, o mandato de Deus foi violado e a morte foi introduzida no mundo. A outra causa é que, para se conhecendo o bem e o mal, se fuja do mal e se dirija somente para o bem. Porque Deus não quer que os homens sumam com a morte e pereçam totalmente, senão que se afastando do mal avancem para melhores coisas e evitem perder sua alma. Assim nos expôs o bem e o mal através de semelhanças que se encontram de novo tanto no preceito de seu verbo como na obra de sua criação, a fim de que escolhamos o que é útil à nossa saúde e o que é nocivo evitemos. Em segundo lugar, os venenos se desenvolvem nas entranhas da terra ou em outros lugares por certas constelações, quando se fazem operações contrárias e malignas dos planetas e estrelas, pelas quais os elementos são infectados e podem produzir no pequeno mundo disposições contagiosas e outras enfermidades malignas, o mesmo se deve entender dos cometas. Em terceiro lugar, os venenos se formam pela conjunção de duas coisas contrárias, como quando se está em possuído por cólera ou tristeza, ou estando quente de algum modo se bebe frio: pela antipatia destas duas qualidades se faz um veneno em nossos corpos que nos conduz a morte. Finalmente se alguém está ferido mortalmente por qualquer arma que seja, tal arma é o veneno com respeito a nós porque ataca contra nossa vida, tal arma será o antídoto contrário se nos servirmos para defendermos quando somos atacados. Conhece-se toda classe de venenos pelo instinto da natureza. Porque tudo o que é contrário a algo e o repugna é veneno. Como quando certas pessoas têm horror a certos lugares que não podem suportar. Porque então tais lugares são seu veneno, porque são contrários à sua natureza, e ao contrário não são nocivos para quem gosta deles. Todos os venenos se desenvolvem principalmente na terra como uma essência mercurial (falo dos venenos dos minerais), no qual não é perfeito e bem digerido em sua forma, que é contrária e repugnante à natureza, em tanto que esta essência mercurial não alcançou sua perfeição e cocção inteira, penetra em todo o corpo e não pode ser digerido por nosso calor natural. O mesmo que se comermos trigo cru e verde sem nenhuma preparação nosso estômago teria trabalho para digeri-lo e todo o corpo se debilitaria, em tanto que nosso calor natural é demasiado débil para lhe reduzir a uma cocção tal como é requerido. Porém o trigo que é reduzido ao amadurecimento pelo calor do grande mundo deve ter além uma cocção e perfeição maior pelo fogo do pequeno mundo, a fim de que o homem possa digeri-lo mais facilmente. O que há de entender também do antimônio. Pois por não ser todavia fixo e perfeito quando o tira da mina, é demasiado potente e demasiado cru para nosso estômago. O que é universalmente verdadeiro de todo medicamento laxativo, seja mineral, animal ou vegetal, os quais são todos venenos por causa de sua natureza e da matéria volátil e mercurial que contém e predomina também neles. Os espíritos voláteis são a causa destes medicamentos purgativos expulsarem para fora todo o que encontrem. Não quero com isto dizer que todos os medicamentos purguem da mesma forma, ou que se apliquem todos diretamente a extrair os humores que são as causas mortíferas. Pois há uma grande diferença entre eles. Os que caçam e atraem as raízes das enfermidades devem ser fixos. Porque os que são fixados pelo artifício o são de natureza e buscam também em nossos corpos as enfermidades fixas e as extirpam inteiramente, algo que não podem executar os remédios laxativos
Compartilhar