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REPÚBLICA VELHA- resumo completo

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REPÚBLICA VELHA (1889-1930)
Os principais modelos de república propostos para o Brasil (Liberal, Positivista e Florianista), e que disputaram entre si o poder do novo governo. 
Modelo Liberal - Defendia o federalismo e menor interferência do Estado central, tendo como base o modelo norte-americano. Buscava evitar uma participação significativa das camadas populares. Esse modelo era representado principalmente pelos grandes cafeicultores de São Paulo e será o modelo vitorioso, influenciando a constituição de 1891. Modelo Positivista - Ligado principalmente ao exército, era baseado nas ideias do pensador Augusto Comte, que procurou explicar a sociedade de maneira exata. Esse pensamento se encaixava com as ideias militares na medida que valorizava o progresso e a disciplina. Defendia um governo centralizado (ditadura republicana) e a valorização científica, exigindo a separação entre Estado e Igreja. Modelo Florianista - Também chamado de jacobinista, era o modelo idealizado por parte da classe média e setores populares. Floriano Peixoto era visto pelos defensores desse modelo como o governante ideal devido suas medidas largamente populares (como a proteção à população na Revolta da Armada). A participação popular no governo é a principal característica desse pensamento. 
As denominações “República da Espada” e “República Oligárquica”.
A historiografia tradicional costuma dividir a República Velha em dois períodos. 
- República da Espada (1889-1894): Presença de militares na presidência (Marechal Deodoro e Floriano Peixoto). 
- República Oligárquica ou do Café (1894-1930) - Controle direto do poder pelas grandes oligarquias (grupos) cafeeiras através da Política do Café com Leite, da Política dos Governadores e do Coronelismo.
 
As principais características do governo do Marechal Deodoro da Fonseca (1889-1891).
- Presidiu o governo provisório de 1889 a 1891. Eleito indiretamente presidente em março de 1891, mas renunciou em novembro do mesmo ano. 
- Banimento da família real. 
- Naturalização de imigrantes. 
- Limitou a liberdade de imprensa. 
- Separação entre a Igreja e o Estado. 
- Implantação do casamento civil. 
- Implementação da política econômica do encilhamento. 
- Promulgação da constituição de 1891. 
- Deodoro deu um golpe de Estado e fechou o congresso que tentava limitar suas ações através da Lei de Responsabilidade. Essa medida provocou a primeira Revolta da Armada (1891), quando a marinha ameaçou bombardear o Rio de Janeiro. Isolado, Deodoro renunciou. 
A política econômica de Rui Barbosa “O Encilhamento”. 
- Política implantada por Rui Barbosa durante o governo provisório de Deodoro da Fonseca que visava alcançar o desenvolvimento industrial através da emissão de papel moeda, inclusive por bancos privados. A emissão desenfreada sem lastro (sem ter o equivalente do papel guardado em ouro) vai provocar uma intensa especulação com a criação de empresas fantasmas na bolsa de valores e elevada inflação devido a circulação excessiva de dinheiro. - O nome encilhamento vem da corrida de cavalo e refere-se ao local onde ficavam reunidos apostadores e curiosos que especulavam e observavam os jóqueis apertarem (ato de encilhar) os cavalos instantes antes da corrida. 
A Constituição de 1891. 
- Fez do Brasil uma república presidencialista federalista tendo como base os Estados Unidos da América.
 - Três poderes independentes (Executivo, Legislativo, Judiciário), acabando com o Poder Moderador e outras instituições monárquicas como o Senado Vitalício. 
- Estabeleceu maior autonomia para os estados (antes chamados de províncias), que agora poderiam ter suas próprias constituições, desde que não contrariassem a constituição federal. 
- Voto universal masculino para maiores de 21 anos. Mulheres, padres e soldados não votavam. O voto era descoberto, ou seja, não secreto, o que facilitará sua manipulação. 
- Consolidou a separação entre a Igreja e o Estado. 7.6. Cite as principais características do governo de Floriano Peixoto (1891-1894). 
- Foi um governo contraditório, inclusive considerado por muitos de caráter ilegal. A constituição defendia novas eleições presidenciais caso houvesse término do mandato antes de dois anos, o que havia ocorrido com a renúncia de Deodoro. Floriano, vice-presidente, argumentou que essa medida só seria válida se o presidente tivesse sido eleito por voto direto, e Deodoro havia sido eleito de forma indireta. 
- Governo forte e centralizador. 
- Estímulo a indústria com abertura de linhas de crédito. 
- Enfrentou a Segunda Revolta da Armada e a Revolução Federalista no Sul. 
- Medidas populares como redução de aluguéis, do preço da carne e da construção de moradias para os desabrigados da Revolta da Armada fizeram com que Floriano se tornasse o símbolo dos republicanos mais radicais (jacobinos), que passariam a utilizar o nome florianismo para identificar os ideais desse grupo. 
As Revoltas da Armada. 
- A marinha brasileira, de tendências monarquistas, não estava de acordo com as medidas do exército no início do período republicano, se sentindo desprestigiada na República, e mostrou seu descontentamento através de duas importantes revoltas. 
- A Primeira Revolta da Armada, liderada por Custódio de Melo, ocorreu em novembro 1891 no Rio de Janeiro e foi contra o fechamento do congresso por Deodoro da Fonseca exigindo sua renúncia e ameaçando bombardear a capital. 
- Contrária a posse de Floriano Peixoto, considerada ilegal, a marinha liderada por Saldanha da Gama e Custódio de Melo (desejoso do cargo de presidente) bombardearia o Rio de Janeiro na chamada Segunda Revolta da Armada, entre 1893 e 1894. Derrotados, alguns oficiais ainda continuariam a luta contra o governo central prestando ajuda na Revolução Federalista no Sul. 
A Revolução Federalista no Sul (1893-1895). 
- Conflito entre o Partido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, cujos defensores eram chamados de Maragatos, contra a forte centralização e perpetuação do poder por Júlio de Castilhos, presidente do Rio Grande do Sul e membro do Partido Republicano Riograndense. Os defensores de Castilho eram chamados de Pica-Paus e simpatizantes do positivismo. 
- Os federalistas receberiam apoio da marinha brasileira, que continuaria a Revolta da Armada pelo sul do país, aumentando a gravidade da disputa. Floriano Peixoto, aliado de Júlio de Castilhos, enviaria tropas para retomar o controle da situação, obtendo fundamental vitória na cidade de Desterro, que passaria a se chamar Florianópolis. Os Maragatos seriam derrotados pelo exército e pelos Pica-paus em 1895. 
A política do Café-com-Leite.
 - Política de controle de nível federal aplicada na República Oligárquica (1894-1930) pelas poderosas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais. Essas oligarquias escolheriam o presidente da República alternadamente. Como esses poderosos tinham o controle das eleições através das fraudes e do Coronelismo, os candidatos escolhidos teriam praticamente vitória certa. 
- Apenas em dois momentos houve a quebra da política do Café-com-Leite. Em 1910 com a eleição do militar Hermes da Fonseca, que praticaria a Política das Salvações contra as oligarquias que estavam no poder, e em 1929 quando a oligarquia paulista não respeita a vez de Minas Gerais escolher o candidato por causa da grande crise capitalista. - Porém, seria um erro grave reduzirmos a política brasileira do período a apenas articulações entre esses dois estados. 
A Política dos Governadores. 
- Política de controle de nível federal e estadual aplicada na República Oligárquica (1894-1930). Implantada inicialmente pelo presidente Campos Salles (1898-1902) e chamada por ele de Política dos Estados. É uma prática de troca de favores entre o presidente e os governadores estaduais. Em troca de apoio no congresso, o presidente da República evitaria intervir no poder das fortes oligarquias regionais, controladoras dos governos estaduais. Salles havia adquirido um volumoso empréstimo internacional (funding-loan) e precisava de aliados. 
O Coronelismoe suas permanências.
- Política de controle de nível local aplicada na República Oligárquica (1894-1930) mas que até hoje influencia os rumos políticos nacionais. O Coronel detém o poder local de uma zona rural e através da manipulação eleitoral consegue eleger seus aliados, utilizando a troca de favores e pressionando a população com o chamado voto de cabresto. Os eleitores controlados pelo Coronel formavam o seu "curral eleitoral" e era comum a briga entre poderosas famílias de coronéis pelo poder. 
- Há uma íntima ligação entre o Coronelismo e a Política dos Governadores. - O Coronelismo marca presença no Brasil até hoje, principalmente em locais interioranos, mesmo com o advento do voto secreto. 
O Convênio de Taubaté (1906) e suas principais consequências. 
- Ocorrido em 1906 reuniu representantes de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro com o objetivo de valorizar o café, que estava em crise provocada principalmente pela superprodução. 
- Sua principal consequência foi a intervenção do governo federal, que agiu comprando o excedente da produção à preço fixo visando manter os preços estáveis. O café estocado pelo governo nessas compras seria destruído.
1- Guerra de Canudos (1896 – 1897)
“ A história da guerra ou do movimento de Canudos marcou tragicamente o processo de transição política que deu origem ao regime republicano brasileiro. Dos chamados movimentos messiânicos brasileiros, Canudos foi certamente o mais estudado por cientistas sociais, literatos acadêmicos e populares, militares e curiosos.[...] Nesse longo percurso para explicar Canudos, é possível identificar pelo menos duas grandes vertentes de interpretação: a euclidiana, derivada do clássico Os sertões, de Euclides da Cunha, e a que chamo de “progressista”, surgida na década de 1960 e identificada com as questões políticas próprias desse outro momento conturbado da História brasileira. 
Os sertões, inspirado nos debates intelectuais do final do século XIX, reflete sobre uma guerra fraticida que opunha o litoral do país – considerado avançado e civilizado – ao interior de um Brasil ainda mergulhado no mais profundo atraso. Euclides da Cunha expôs de forma contundente uma fratura quase irremediável para o projeto nacional pensado pelos republicanos. [...] A destruição de Canudos parecia fronteira incontornável para a consolidação da República proclamada em 1889. A longa e inexplicável resistência dos conselheiristas provocou rumores variados, dentre os quais o de que se tratava de uma possível conspiração apoiada por monarquias europeias. 
O conflito iniciou-se com um problema local. Comerciantes de Juazeiro não teriam entregado certa quantidade de madeira comprada pelo Conselheiro para o término da nova igreja do arraial. O atraso teria provocado a ira dos conselheiristas e os rumores de que um bando se preparava para atacar Juazeiro. O tom hipotético aqui adotado justifica-se pela falta de documentação segura sobre esses acontecimentos. [...]
Depurado de sua base cientificista, a obra de Euclides da Cunha foi considerada “a história de Canudos” até fins de 1950, quando os primeiros artigos de Rui Facó, reunidos no livro Cangaceiros e fanáticos, indicaram nova direção de análise, Facó deu início a uma corrente que passou a rivalizar com a leitura euclidiana na busca de uma interpretação definitiva para Canudos. A partir de então, a explicação mais recorrente para o sentido da luta sertaneja passou a associar a luta sertaneja dos canudenses à luta pela terra, contra o latifúndio e a opressão, transformando Antônio Conselheiro em líder dos sem terra avant la lettre(antes do termo existir). Nessa perspectiva, a atualidade dessa chave interpretativa tornaria o movimento sertanejo destruído armas do exército em referência obrigatória e secular da trágica história dos conflitos de terra no Brasil. A partir de então, uma verdadeira “escola” deu continuidade a essa linha de argumentação, cujo vigor ainda se mantém. 
Essa nova versão para o sentido de Canudos apontou para uma análise oposta à euclidiana. A célebre afirmação de que o sertanejo é antes de tudo um forte, máxima sempre citada para resumir a interpretação euclidiana, com pouco destaque para a condenação do cruzamento racial nefasto combinado na figura de Antônio Conselheiro, foi substituída por interpretações sociológicas que passaram a perceber o movimento a partir de seus aspectos positivos: luta contra a opressão, luta dos excluídos da terra contra o latifúndio.”
Jacqueline Hermann, A Guerra de Canudos à sombra da República. In: História do Brasil para ocupados. Org:Luciano Figueiredo. Com adaptações feitas pelo professor.
Roteiro para estudo
· Movimento messiânico liderado pelo beato Antônio Conselheiro. 
· A crença em eventos milagrosos que trariam uma nova era é chamada de messianismo, por analogia ao anúncio bíblico da vinda de um messias, um salvador (pregava o retorno de D. Sebastião, rei de Portugal morto em 1578, após liderar uma cruzada contra os árabes no norte da África)
· Rotulado de monarquista.
· Criticava o estado laico e os novos impostos municipais.
· Tido por alguns historiadores como um movimento de luta social pela terra. 
· Estabelecimento do Arraial de Canudos no interior da Bahia.
· Comunidade autossuficiente. 
· Exploração coletiva da terra (milho, feijão, mandioca, batata, cana e criavam cabras). 
· Intimidava os latifundiários (perda da mão de oba barata e diminuição dos currais eleitorais) e o clero local (afastamento dos fieis). 
· Depois de três expedições fracassadas, o Arraial foi arrasado por uma quarta expedição militar formada de aproximadamente quatorze mil homens e comandada pelo general Artur Oscar.
2- Revolta da Vacina (1904)
“Com 800 mil habitantes, o Rio de Janeiro de 1904 era uma cidade perigosa. Espreitando a vida dos cariocas estava todo o tipo de doenças bem como autoridades capazes de promover, sem qualquer cerimônia, uma invasão de privacidade. [...] enfermidades contagiosas vitimavam a população e assustavam os estrangeiros A capital da jovem República era uma vergonha para a nação. [...]
Em junho de 1904, o governo propôs uma lei que tornou obrigatória a vacinação, motivando petições contrárias assinadas por cerca de 15 mil pessoas. Esta lei foi aprovada em 31 de outubro. No dia 9 de novembro, Oswaldo Cruz propôs uma drástica regulamentação, exigindo comprovação de vacinação para viagem, casamento, alistamento militar, matrícula em escolas públicas, hospedagem em hotéis e admissão em emprego público. Estava até previsto o pagamento de multas para quem resistisse. A proposta vazou para a imprensa e, indignado, o povo do Rio disse “não” na maior revolta urbana já vista na capital.
O motim começou no Largo de São Francisco, em torno da estátua de José Bonifácio. Estudantes protestavam contra a vacina, quando um delegado de polícia prendeu um deles, levando-o para a Praça Tiradentes, onde ficava a Secretaria de Justiça. Houve confrontos entre os manifestantes e a cavalaria. Foi então que se ouviram os primeiros gritos de “morra a polícia!”, “abaixo a vacina!”. No dia 12, segundo o Correio da Manhã, quatro mil pessoas “de todas as classes sociais” concentraram-se no Centro das Classes Operárias para fundar uma Liga Contra a Vacinação Obrigatória. Depois, a multidão seguiu rumo ao Palácio do Catete, já fortemente guardado, trocando tiros com a polícia no caminho. O Exército entrou em prontidão. 
No dia 13, a Praça Tiradentes virou um campo de batalha. Partindo de lá, a luta se estendeu por toda a região [...]. Ouviam-se descargas de revolver e carabina, bondes começaram a ser queimados, barricadas foram erguidas na avenida Passos. A população assaltou delegacia, quartéis, casas de armas.[...] As autoridades estavam tão inseguras que convocaram tropas do Exército de Niterói, Lorena (São Paulo) e São João Del Rei (Minas Gerais)
Na esteira da rebelião popular contra a invasão de privacidade e a obrigatoriedade da vacina, surgiram outras reivindicações de grupos sociais distintos. Declarações do presidente do Centro das ClassesOperárias e líder da revolta, Vicente de Souza, atestam isso. Ele dizia que o levante contra a vacinação fora uma reação popular, que elementos belicosos da “classe temerosa” souberam aproveitar. [...]
No alto do Morro da Mortona, na Saúde, foi hasteada uma bandeira vermelha. Um novo foco de rebelião surgiu no Jardim Botânico, onde seiscentos operários das fábricas de tecido Corcovado e Carioca e da fábrica de meias São Carlos atacaram a delegacia de polícia. No dia seguinte, o presidente Rodrigues Alves decretou estado de sítio. [...]
Assim que os manifestantes se dispersaram, a polícia iniciou a varredura das áreas atingidas pela revolta, prendendo quem lhe parecesse suspeito. A caçada se prolongou pelos dias seguintes. Seu ato final foi uma batida no Morro da Favela, no dia 23. O nome fora dado por soldados retornados da Guerra de Canudos e depois acabou se generalizando, sendo atribuído a todas as comunidades pobres dos morros do Rio.
A classificação dos revoltosos variava. Para a oposição o povo – estudantes, operários, comerciantes e militares – é que tinha se rebelado. Para os que apoiavam o presidente, a revolta tinha sido obra de desordeiros, arruaceiros, desocupados. A elite intelectual concordava. O poeta Olavo Bilac atribuía os acontecimentos à “matula desenfreada”, à “turba – multa irresponsável de analfabetos”. 
Na raiz dos distúrbios estava um problema sanitário sério. Oswaldo Cruz escolheu três doenças como foco de sua empreitada: a febre amarela, a peste bubônica e a varíola. Combater o mosquito transmissor da febre era fundamental para conter o avanço da doença. Brigadas de mata-mosquitos saíram pela cidade invadindo residências, cortiços, casas de cômodos. [...] Quanto à peste bubônica, o controle da epidemia exigia o extermínio dos ratos e das pulgas. O governo, acreditando poder assim tornar mais eficaz o trabalho, decidiu comprar ratos. Não demorou para que o carioca começasse a criá-los para faturar uns trocados.
[...] Uma coisa é certa: houve várias revoltas dentro da revolta. Uma delas foi, sem dúvida, a dos militares. Outra, a dos operários. E ainda uma terceira, a do “povão” do Sacramento e da Saúde, reunindo capoeiras, prostitutas da rua de São Jorge, portuários e gente com passagens pelas delegacias de polícia.
[...] A análise de documentos e jornais da época revela a presença desproporcional do grupo de operários entre as vítimas. Do total de feridos, o operário representa 71%. E do total de mortos, 86%. Esses números ganham proporções ainda mais relevantes se levarmos em conta que os operários representam apenas 20% da população carioca. É por isso que, para entender os motivos da Revolta da Vacina de 1904, temos de voltar os olhos para os trabalhadores.
Naquele momento, outros grupos se aproveitavam da revolta dos pobres. Os militares e políticos da oposição queriam derrubar o governo, queriam acabar com o que chamavam de “república prostituída dos fazendeiros” e restaurar a pureza que viam em Floriano Peixoto e Benjamin Constant. Para o “povão” do Sacramento e da Saúde, talvez a intervenção sanitária de Oswaldo Cruz não fosse exatamente o principal motivo das manifestações. É possível que tenha aproveitado a revolta para bater em seu tradicional inimigo, a polícia. Mas e os operários e os que poderíamos chamar de pobres honestos, por que se rebelaram? 
Não foi por motivos econômicos. Haviam passado os anos duros do governo de Campos Sales (1898 – 1902) e a economia voltara a crescer e a gerar empregos. Teria sido por causa dos deslocamentos de pessoas causados pelas obras na cidade? Não parece. Quase não se fez referência à reforma nos discursos, nos jornais operários e nas manifestações de rua.[...]
Para entendermos por que a intervenção sanitária revoltou a todos, é preciso ter em mente os valores e os costumes do início do século XX. O líder dos operários, o socialista Vicente de Souza, argumentava que era uma ofensa à honra do chefe de família ter seu lar, em sua ausência, invadido por um desconhecido. E, muito pior, saber que diante dele sua mulher e filhas seriam obrigadas as desvendar seus corpos.
[...] O escritor josé Vieira nos conta, no Romance O bota-abaixo, que, no Largo de São Francisco, eles radicalizaram, dizendo que “cafajestes de esmeralda” (referiam-se à pedra que representava a profissão de médico) invadiriam os lares para “inocular o veneno sacrílego nas nádegas das esposas e das filhas”.
A Revolta da Vacina se distinguiu de protestos anteriores por sua amplitude e intensidade. O que lhe deu esta característica foi a força da justificação moral. Houve um trágico desencontro de boas intenções, as de Oswaldo Cruz e as da população.
Mas em nenhum momento podemos acusar o povo de falta de clareza sobre o que acontecia à sua volta. Embora não se interessasse por política, embora não votasse, ele tinha razão clara dos limites da ação do Estado. Seu lar e sua honra não eram negociáveis. A revolta deixou entre os participantes um forte sentimento de autoestima, indispensável para formar um cidadão. 
José Murilo de Carvalho, O povo contra a vacina. In: In: História do Brasil para ocupados. Org:Luciano Figueiredo. Com adaptações feitas pelo professor.
Roteiro de estudo
· Falta de planejamento urbano na cidade do Rio de Janeiro.
· Falta de esgoto, água encanada, coleta precária de lixo e falta de moradia adequada (cortiços superpovoados) fazia da cidade um foco de doenças (febre amarela, peste bubônica, varíola, tuberculose, malária, tifo, cólera e etc.). 
· Tentando fugir do apelido de “soneca”, o presidente Rodrigues Alves estabeleceu como meta do seu mandato a modernização e o saneamento da capital do Brasil (a exemplo de Paris no séc.XIX). 
· A reforma urbana incluía também uma série de leis proibindo, por exemplo, ordenhar vacas na rua, mendigar, cuspir no bonde e acumular lixo no quintal.
· Oswaldo Cruz foi nomeado diretor de saúde.
· Plenos poderes para enfrentar as epidemias.
· Brigadas mata-mosquitos.
· O governo começou a comprar ratos mortos pelo povo.
· Criou-se o cargo de comprador de ratos, pagando 300 mil réis por animal. 
· Lei da vacina obrigatória (1904)
· O governo passou a exigir atestado de vacinação para viagem, casamento, alistamento militar, matrícula em escolas públicas, hospedagem em hotéis, admissão em emprego público e etc. 
· Remodelação da cidade para abertura de avenidas e construção de esgotos.
· Demolição de cortiços e desapropriação de casas e prédios fora dos padrões exigidos pelo governo.
· A vacina simbolizava o autoritarismo da República. 
· Políticos oposicionistas tentaram aproveitar a desordem para derrubar o governo. Estimularam um levante dos cadetes da Escola Militar. Mas eles se renderam depois que a marinha bombardeou o edifício da escola. 
· Rodrigues Alves decretou estado de sítio e revogou a obrigatoriedade da vacinação. A rebelião foi contida deixando 30 mortos e 110 feridos.
· Deportação de alguns envolvidos na Revolta para o Acre. 
3- Organização Operária brasileira
· Surgimento dos bairros operários em várias cidades brasileiras.
· Maioria de imigrantes estrangeiros.
· Forte politização, influenciados pelas ideias socialistas e anarquistas.
· Os operários tinham uma situação precária de vida.
· Baixos salários, longas e estafantes jornadas de trabalho e inexistência de benefícios (férias, descanso semanal e aposentadoria).
· Trabalho infantil.
· Ambiente de trabalho insalubre.
· Os trabalhadores não tinham direito a tratamento médico, não tinham seguro acidente de trabalho ou qualquer outro auxílio dos empregadores. 
· Ventilação e iluminação insuficientes.
· Excesso de pó e poluição industrial.
· Espaço inadequado entre as máquinas. 
· Ausência de vestiários e banheiros separados para as mulheres.
· Formação das primeiras organizações operárias.
· Lutar por melhores condições de trabalho, como jornada de trabalho de oito horas, descanso semanal remunerado, proibição do trabalho infantil e aumento de salários.
· Criação de partidos socialistas. 
· Anarcosindicalismo (doutrina que destacava o sindicatocomo base para a implantação da sociedade anarquista.).
· Greve de 1917
· Foi iniciada por anarquistas que trabalhavam em fábricas têxteis da Mooca, do Ipiranga e se estendeu para outros segmentos fabris. 
· A paralisação foi violentamente reprimida pela polícia, houve invasão de sindicatos e residências, e o anarquista José Martinez foi assassinado pela polícia. 
· Embora o movimento tenha fracassado, aconteceram algumas conquistas importantes, como aumento de 20% no salário dos trabalhadores e promessa de fiscalização das instalações fabris e do trabalho de mulheres e crianças. 
4- Revolta da Chibata (1910)
“[...] A rebelião de marinheiros eclodida em 22 de novembro de 1910 nas águas da Baía de Guanabara toca em pelo menos quatro temas até hoje mal resolvidos na sociedade brasileira: a democratização das Forças Armadas, a violência cotidiana do Estado sobre as camadas pobres da população, o racismo e a noção de que existiria uma tradição pacífica e sem violência na História do Brasil.[...]
O movimento serviu como golpe de misericórdia nos resquícios da escravidão que ainda permaneciam arraigados na sociedade brasileira duas décadas após a Lei Áurea promulgada em 1888. Os castigos corporais continuavam frequentes na Marinha mesmo depois da Proclamação da República (1889). [...] Junte-se a isso a prática dos alistamentos forçados e o fato de que a maior parte da marujada era composta por homens pobres e negros, enquanto que a oficialidade tinha origem social privilegiada, composta por homens brancos, ou que se pretendiam como tal.
Os marinheiros estavam dispostos a matar e a morrer. A rebelião foi preparada com antecedência em comitês clandestinos que se reuniam nos bairros de Santo Cristo, Saúde e Gamboa, e também nos arredores da Praça Onze, nas regiões portuária e central do Rio. Os marujos, que viajavam pelos quatro cantos do mundo, estavam informados de muita coisa, inclusive da revolta dos marinheiros de encouraçado Potemkin, ocorrida em 1905 na Rússia. 
O fato que deflagrou o movimento foi o castigo infligido ao marujo Marcelino Rodrigues, que, ao ser punido por uma falta, levou 250 chibatadas diante da tripulação perfilada. [...] Para que os marinheiros tomassem conta das embarcações houve luta e quatro oficiais foram mortos. Ficaram em poder dos revoltosos os couraçados Minas Gerais, São Paulo e Bahia, além do navio de patrulha Deodoro. [...]
[...] O Congresso, reunido às pressas, aprovou de imediato o fim dos castigos corporais e a anistia para os revoltosos – as duas principais exigências apresentadas. A oposição, tendo à frente Rui Barbosa (1849 – 1923), fazia eco às denúncias das precárias condições de trabalho dos marinheiros, tirando, a seu modo, proveito da situação. 
[...] Quatro dias depois de iniciada a revolta, os marujos retiraram os lenços vermelhos do pescoço e devolveram as embarcações, de forma pacífica, aos oficiais. [...] João Cândido e mais 17 companheiros de revolta foram jogados numa masmorra da Ilha das Cobras feita para receber apenas dois presos. Ficaram ali três dias sem comer e beber e cobertos de cal, que era atirado pelos carcereiros para “higienizar” o ambiente. No final havia apenas dois sobreviventes, soterrados entre os cadáveres dos companheiros: João Cândido e outro marujo apelidado de “Pau da Lira”. 
Depois disso ocorreu a impressionante viagem do navio Satélite, que seguiu carregado de prisioneiros para a Amazônia. A maioria era de marujos que participaram da revolta. Ao longo do trajeto, vários foram fuzilados e seus corpos lançados ao mar, ninguém foi punido pelas mortes. Os que restaram forma deixados na floresta, realizando trabalhos forçados para a Comissão Telegráfica então comandada pelo capitão Cândido Rondon. [...]
A anistia para os participantes da Revolta da Chibata, aprovada logo em 1910, não foi respeitada. Muitos deles acabaram expulsos da corporação, presos e mortos.[...] 
Marco Morel, Abaixo a chibata. In: In: História do Brasil para ocupados. Org:Luciano Figueiredo. Com adaptações feitas pelo professor.
Roteiro para estudo: 
· Em 1904, a Marinha de Guerra brasileira se modernizou comprando novos navios de guerra, porém manteve um regimento disciplinar antiquado. 
· Os marinheiros era submetidos a trabalhos excessivos, recebiam alimentação insuficiente, os soldos eram muito baixos e sofriam castigos físicos, entre eles, a chibata.
· Punir os trabalhadores com castigos físicos era comum no Brasil. As maiores vítimas eram os negros e os mulatos, sobre os quais ainda pesava a mentalidade escravista.
· Durante o treinamento na Inglaterra para o manejo dos novos navios, os marinheiros brasileiros puderam comparar as suas condições de trabalho com a dos marinheiros de outros países.
· No dia 22 de novembro de 1910, diante da tortura sofrida por um colega, os marinheiros do encouraçado Minas Gerais se revoltaram. 
· Os revoltosos enviaram uma mensagem para o então presidente Hermes da Fonseca exigindo o fim dos castigos físicos, anistia para os revoltosos e melhores condições de trabalho (comida e salário).
· Depois de quatro dias de negociação, o presidente aceitou as reivindicações e os rebeldes depuseram as armas.
· O governo federal descumpre a sua parte do acordo e desconsidera a anistia aos revoltosos.
· Os rebeldes foram presos, expulsos ou deportados para a Amazônia. 
· Apesar do desfecho desfavorável, a revolta conseguiu acabar com os castigos físicos e melhoraram as condições de trabalho dos marinheiros. 
5- Guerra do Contestado (1912 – 1916)
· Envolveu uma vasta área entre o Paraná e Santa Catarina conhecida como Contestado por ser disputada pelos dois Estados.
· Área concedida à empresa estadunidense Brazil Railway Company, para a construção de parte da ferrovia que ligava Porto Alegra a São Paulo.
· Expulsão de indígenas e camponeses que moravam na região.
· Formação de uma massa de desterrados (excluídos em nome da modernização)
· Após a conclusão das obras, a empresa Southern Brazil Lumber &Colonization decidiu explorar a madeira da região e demitiu boa parte dos operários (8 mil trabalhadores).
· Ambas as empresas pertenciam ao norte-americano Percival Farquhar. 
· Expulsão de agricultores locais e proprietários. 
· Em 1912, os prejudicados pela empresa estadunidense se uniram a um líder messiânico, o beato José Maria. 
· José Maria se dizia escolhido por Deus para construir, na Terra, a monarquia celeste.
· A crítica à República feita em Canudos e no Contestado mostra que, para a população pobre, a mudança de regime não trouxe nenhuma melhoria; ao contrário, até gerou mais dificuldades e misérias, como resultado do fortalecimento do poder dos coronéis. 
· Assim como Canudos, a Guerra do Contestado também é um movimento messiânico. E temendo um episódio parecido com Canudos, o governo federal enviou tropas para expulsar os sertanejos.
· José Maria morreu no confronto, porém os seus seguidores continuaram mobilizados gerando diversas batalhas, até serem definitivamente derrotados pelas tropas do governo.
· Em setembro de 1914, lutavam no Contestado 7 mil soldados do Exército (80% de todo o Exército nacional). 
· Em outubro de 1916, os governos de Santa Catarina e Paraná assinaram um acordo de limites, pondo fim ao Contestado. 
6- Cangaço (1877 – 1938)
· O Cangaço, surgido na época do Império, difundiu-se com a grande seca de 1877.
· O cangaceiro era o homem do povo que se tornou fora da lei como forma de vingança por ofensa, desonra ou injustiça cometida por fazendeiros ou policiais contra ele ou sua família. 
· Por assaltarem de preferência os ricos e as autoridades e, algumas vezes, darem aos pobres parte do que roubavam, os cangaceiros eram vistos pelo povo como “justiceiros” e heróis. 
· Por sua origem, atitude e objetivo de luta, os cangaceiros se tornaram bandidos sociais.

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