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artesanato e cultura brasileira2

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ARTESANATO E 
CULTURA 
BRASILEIRA
Paula Bem Olivo
Cultura brasileira
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 Explicar a formação cultural brasileira.
 Relacionar a cultura brasileira com a arte, o artesanato e a arquitetura.
 Reconhecer aspectos da diversidade cultural brasileira na arquitetura. 
Introdução
O Brasil é um país que tem fama de ser uma grande mistura de raças. Isso 
acaba se confirmando quando olhamos para nossa cultura e identificamos 
influências de diversos povos, como indígenas, africanos e europeus.
O fato de termos sido uma colônia de exploração acabou, muitas vezes, 
apagando aspectos que estavam intrinsecamente relacionados ao ter-
ritório. No entanto, o desenvolvimento da arte e da arquitetura gerou 
movimentos capazes de reconhecer essa identidade e resgatar aspectos 
culturais relacionados à nossa origem.
Neste capítulo, você aprenderá como se formou o que entendemos 
hoje como cultura brasileira, como seus aspectos aparecem na arte, no 
artesanato e na arquitetura e como a consequência dessa miscigenação 
gerou manifestações arquitetônicas extremamente diversas.
O princípio da cultura brasileira
O Brasil é um país conhecido pela sua miscigenação. É comum que se refi ra ao 
Brasil como um país bastante heterogêneo, que recebeu diversas infl uências e 
acabou com uma cultura montada a partir de um mosaico étnico. Sua história 
é a prova de que a formação cultural brasileira tem bases que permeiam vários 
continentes e povos. 
Os registros dos povos brasileiros iniciaram-se a partir do início da coloniza-
ção portuguesa, no século XVI. Nesse momento, os europeus — principalmente 
portugueses — pisaram em terras brasileiras, trazendo seus costumes, religião 
e valores. O processo de colonização acarretou a fusão entre as características 
culturais dos povos indígenas brasileiros, dos colonizadores europeus e dos 
escravos africanos. Portanto, é possível resumir a formação da cultura brasileira 
a partir de três eixos principais: o indígena, o ibérico e o africano. Em 1808. a 
família real portuguesa, fugindo das invasões de Napoleão Bonaparte, mudou-
-se para o Rio de Janeiro, tornando o Brasil sede da monarquia e vice-reino. 
Em 1822, houve a declaração de independência do Brasil, seguida da abertura 
dos portos ao comércio exterior. Essa resolução modificou muito a política e a 
economia do país, e a passagem dos novos comerciantes gerou muitos relatos a 
respeito da vida e dos costumes do Brasil. A maioria dos relatos concentra-se 
no Rio de Janeiro, onde a família real morava, e onde a cultura já era bastante 
variada, de cunho mais burguês, urbano e onde circulada a classe alta. O interior 
do País ainda tinha características culturais diferentes, onde predominavam 
nuances mais relacionadas à população nativa (OLIVEN, 2001). 
A cultura indígena brasileira tem forte influência na formação da identidade 
cultural do brasileiro. Antes da colonização, o índio tinha uma cultura bastante 
adaptada às características climáticas e ao cenário do País, desenvolvendo 
objetos e edificações com qualidades que suprissem as necessidades impostas 
por essas condições. A língua falada era o Tupi-Guarani; entretanto, esta não 
possuía escrita, o que dificultou o registro e a difusão da cultura indígena 
anterior à chegada dos portugueses. O documento escrito mais antigo é a 
carta de Pero Vaz de Caminha, em que este demonstra preocupação com a 
maneira de morar dos índios, classificando as edificações como “choupaninhas” 
sem repartimento e com apenas duas portas, onde moravam 30 a 40 pessoas 
(BRANCO, 1993). Entretanto, sabe-se que a cultura brasileira atual possui 
muitas referências indígenas. Ainda se usam muitos objetos de origem indígena, 
como a rede de descanso. A língua portuguesa tem muitos termos derivados 
do Tupi-Guarani. Durante o século XIX, foi desenvolvido o nheengatu, língua 
derivada do Guarani que foi usada por um tempo como língua geral e foi veículo 
de catequese, ações sociais e políticas, sendo mais falada que o português no 
Amazonas e no Pará até 1877. Atualmente, a língua portuguesa tem muitos 
termos Guaranis incorporados, normalmente designando animais ou plantas, 
como capivara, ipê, jacarandá, entre outros. O folclore indígena é bastante rico 
e ainda muito presente na cultura brasileira, principalmente na Região Norte, 
contando com a presença de personagens fantásticos, como o curupira, o saci-
-pererê, o boitatá, a iara, entre outros. A colonização representou a destruição 
de grande parte das tradições indígenas por meio de guerras e escravidão.
A catequese também acabou eliminando algumas tradições e impondo rituais 
relacionados à Igreja Católica. 
Cultura brasileira2
A língua nheengatu é falada ainda hoje por alguns povos no vale do Rio Negro, na 
Amazônia. Existem algumas iniciativas de recuperar a língua Tupi-Guarani por alguns 
povos, como os potiguaras da Paraíba e do Rio Grande do Norte e os tupiniquins da 
cidade de Aracruz, no Espírito Santo.
A cultura africana foi inserida no contexto brasileiro por meio dos povos 
escravizados trazidos da África pelos colonizadores europeus. Estes falavam 
línguas diferentes e tinhas tradições distintas. Assim como os indígenas, os 
africanos tiveram sua cultura diluída pelos europeus colonizadores. Eles eram 
obrigados a aprender português, eram batizados com nomes portugueses 
e deveriam se converter ao catolicismo. Mesmo assim, a cultura africana 
conseguiu se inserir no contexto brasileiro e é parte importante da trama que 
compõe a cultura desse país. As religiões de origem africana firmaram raiz 
principalmente na Região Nordeste do Brasil, baseadas em cultos de orixás e 
praticadas ainda hoje. A mais conhecida e difundida é a umbanda. A cultura 
africana também teve muita influência no desenvolvimento da dança e da 
música de identidade brasileira. A música popular, como maxixe, samba, 
choro e bossa nova, tem como base ritmos de origem africana. A capoeira tem 
origem africana, mistura dança e artes marciais, bem como foi responsável 
pela introdução de instrumentos musicais, como o berimbau. 
A cultura ibérica foi a pauta de todas as adaptações culturais decorren-
tes da colonização do Brasil. A catequização de índios e escravos africanos 
acabou por apagar alguns traços dessas culturas e começar a criar uma iden-
tidade brasileira, que foi o resultado de uma combinação de várias vertentes.
A herança mais evidente é a língua portuguesa. Da mesma forma, a mudança 
da família real para o Brasil acabou desenvolvendo uma cultura urbana e 
elitista em algumas áreas, especialmente o Rio de Janeiro. A partir dessa 
relação, acabaram sendo introduzidos no Brasil os grandes movimentos ar-
tísticos, como renascimento, maneirismo, barroco, rococó e neoclassicismo. 
O Brasil desenvolveu algumas linhas desses movimentos com características 
próprias, mas a influência das características europeias ainda era muito grande.
O desenvolvimento da cultura brasileira ainda era muito relacionado a pessoas 
formadas na Europa, que voltavam para o Brasil trazendo as tendências de 
comportamento e arte. Além disso, durante os séculos XIX e XX, o Brasil 
recebeu muita imigração europeia de outros locais, principalmente italianos 
3Cultura brasileira
e alemães. A maioria destes se fixou no sudeste e no sul do País, tentando 
aproximar-se dos climas de seus países e manter suas técnicas de cultivo. 
Dessa forma, o Brasil acaba desenvolvendo culturas bastante distintas nas 
suas diversas regiões, fator facilitado pela larga extensão de seu território. 
O Brasil começa a reconhecer sua identidade cultural específica no iní-
cio do século XX. Acompanhando as tendências das vanguardas artísticas 
europeias, os artistas brasileiros organizam a Semana de Arte Moderna, em 
1922 (Figura 1). O evento aconteceu no Teatro Municipal, em São Paulo, e 
contou com artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Víctor 
Brecheret, Plínio Salgado, AnitaMalfatti, Menotti Del Picchia, Guilherme de 
Almeida, Sérgio Milliet, Heitor Villa-Lobos, Tácito de Almeida e Di Cavalcanti.
A pauta era baseada principalmente na intenção de renovação da poesia pro-
duzida no Brasil, que esse grupo considerava arcaica e excessivamente formal. 
A apresentação do poema Os sapos, de Manuel Bandeira, foi um marco na 
contestação da estrutura literária vigente. Da mesma maneira, outras formas 
de arte foram constatadas durante o evento. Anita Malfati foi uma importante 
personagem para a atualização da pintura, exibindo quadros com influências 
expressionistas e cubistas.
Figura 1. Cartaz da Semana de Arte Moderna 
de 1922.
Fonte: São Paulo (1922, documento on-line).
Cultura brasileira4
A partir de então, formou-se um grupo de artistas de vanguarda que se 
preocupavam com a produção cultural brasileira. Apesar das influências 
europeias, começou a se identificar uma estética e temática tipicamente bra-
sileiras. Tarsila do Amaral, apesar de não ter participado da Semana de Arte 
Moderna de 1922, foi uma pintora que representou os cenários e a estética 
brasileira neste novo período. É importante ressaltar que a cultura brasileira, 
tanto erudita quanto popular, já era produzida de forma extensa por todo o 
território, cada um com suas nuances. Os grupos de vanguarda tiveram papel 
importante em reconhecer essa cultura como identidade brasileira e incentivar 
a propagação e a exaltação daquilo que é tipicamente deste país. 
Durante o século XX, essa cultura foi se desenvolvendo e o Brasil foi 
se reconhecendo como um país com uma identidade cultural. Nos anos de 
1960, surge o tropicalismo, movimento que enaltece a brasilidade e exalta as 
características culturais brasileiras. O tropicalismo se desenvolveu em diversas 
áreas, sendo a música uma das principais áreas. Em 1968, é lançado o álbum 
Tropicália ou Panis et circencis, por Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, 
Nara Leão, Os Mutantes e Tom Zé. Esse álbum foi um marco para a música 
popular brasileira e teve como objetivo demonstrar uma produção com identi-
dade cultural. As artes plásticas contaram com Helio Oiticica, que apresenta, 
em 1969, a obra Tropicália, montando uma instalação com materiais, texturas 
e objetos tipicamente brasileiros, como o tecido de chita, a areia e as palmeiras. 
Da mesma forma, o cinema, o teatro e outras artes se desenvolvem buscando 
esta carga de nacionalismo. Assim, o reconhecimento da identidade brasileira, 
nessa época, é de extrema importância para a formação de uma consciência 
cultural nacional, em que o brasileiro consegue identificar suas características 
e estabelecer uma identidade relacionada com sua história e seu território.
Arte, artesanato e arquitetura brasileira
A formação da cultura brasileira ocorreu, portanto, por meio da infl uência 
dos diversos povos que passaram por nosso território. Cada grupo trouxe suas 
referências, e estas foram unifi cadas e adaptadas ao novo contexto. Dessa 
forma, o Brasil teve suas manifestações culturais permeadas de nuances 
de muitas outras culturas, até que reconheceu, nessa mistura, sua própria 
identidade. 
5Cultura brasileira
A produção do artesanato, por exemplo, é uma manifestação cultural que 
retrata mais comumente as características da cultura popular de um local, e 
está historicamente ligada à produção de utensílios e adornos, trabalhos feitos 
de forma manual, sem a utilização da indústria. No século XIX, os mestres 
criaram as Corporações de Ofício, a fim de transmitir seus conhecimentos a 
respeito de trabalhos manuais. A Revolução Industrial acabou desvalorizando 
muito o trabalho de artesãos, já que a indústria conseguia produzir de forma 
mais rápida e barata. O movimento de Artes e Ofícios, surgido em meados 
do século XIX e liderado pelo inglês William Morris, tinha como objetivo 
a valorização dos trabalhos manuais. Atualmente, ainda existe a dicotomia 
entre artesanato e indústria, porém já parece ser bastante claro a diferença 
entre os dois. Enquanto a indústria produz produtos em larga escala de forma 
utilitária, o artesanato produz em pequena escala, considerando cada objeto 
como único e sendo a tradução dos costumes e das tradições de uma região. 
O artesanato brasileiro é uma grande expressão da cultura local. Ele garante 
o sustendo de muitas famílias e representa bem a história da cultura nacional. 
O artesanato indígena foi um dos primeiros a exprimir a identidade brasileira. 
Existem relatos dos portugueses quando desembarcaram no País e se depara-
ram com uma grande gama de pigmentos naturais, cestaria e cerâmica. Além 
disso, a arte plumária (i.e., a confecção de cocares e outros adereços com 
plumas de aves) era bastante expressiva. A cerâmica se desenvolveu bastante 
em regiões em que havia barro disponível. No nordeste, é possível encontrar 
representações de barro de figuras locais, como cangaceiros e rendeiras.
A confecção de rendas ainda é uma das produções de artesanato mais típicas 
e se desenvolveu também no norte, nordeste e sul. O tipo de renda e a forma 
de confecção varia conforme a região. O artesanato em madeira é proveniente 
da confecção de armas, embarcações, instrumentos musicais, etc. Por meio 
do entalhamento, pode-se produzir máscaras e reproduzir cenas. Além disso, 
pode-se usar a técnica na fabricação de móveis e outros utensílios domésticos.
Os índios também deixaram como herança a técnica de trançar fibras, produ-
zindo cestas e esteiras. Essa técnica era utilizada na confecção de redes, balaios, 
chapéus, etc. Também foi muito utilizada na decoração, sendo explorado um 
trançado com figuras geométricas ou outros desenhos. 
A arte brasileira começa a criar identidade própria a partir da Semana 
de Arte Moderna de 1922. Antes disso, encontram-se vestígios de pinturas 
rupestres em alguns locais na Região Norte. Existem registros arqueológicos 
de vasos relacionados a figuras mitológicas, mas a falta de um registro escrito 
Cultura brasileira6
impede que se tenham maiores detalhes do cenário artístico indígena anterior à 
chegada dos portugueses. Com a chegada dos europeus, a arte desenvolveu-se 
muito pautada pelas tendências da Europa. Brasileiros iam para a Europa para 
aprender pintura e voltavam para o País trazendo as novas tendências. Nomes 
como Pedro Américo e Victor Meirelles receberam incentivo do governo 
brasileiro para se formarem na Academia imperial de Belas Artes de Paris, na 
França. Eles voltaram ao Brasil munidos das técnicas de pintura neoclássicas 
e românticas e foram os responsáveis pelo desenvolvimento do academicismo 
no Brasil. Os dois receberam muito reconhecimento de Dom Pedro II, então 
imperador residente no Brasil. Dessa forma, pintaram cenas históricas muito 
importantes na história do País. O quadro A primeira missa no Brasil (Figura 
2), de Victor Meirelles, pintado em 1861, e o quadro Independência ou Morte 
(Figura 3), de Pedro Américo, pintado em 1888, são importantes registros de 
acontecimentos relevantes. Existem algumas manifestações de artistas que 
não tiveram formação na Europa, como é o caso de Antônio Francisco Lisboa, 
mais conhecido como Aleijadinho. Não há muito certeza a respeito de sua 
biografia, mas este teve formação em um seminário em Ouro Preto. Durante 
sua vida, produziu esculturas atreladas a igrejas de caráter barroco e rococó. 
Sua obra é vastamente conhecida e apreciada. 
Figura 2. A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles.
Fonte: Meirelles (1860, documento on-line).
7Cultura brasileira
Figura 3. Independência ou Morte, de Pedro Américo.
Fonte: Meirelles (1860, documento on-line).
A Semana de Arte Moderna de 1922 deu visibilidade à identidade ar-
tística brasileira. As vanguardas artísticas do início do século XX tinham 
como pauta o abandono do academicismo e do historicismo. No Brasil, 
isso representou o afastamento da pintura e da literatura mais relacionadas 
ao meio acadêmico europeu e a busca por um nacionalismo e uma identi-
dade própria. Neste contexto, surgirampintores como Tarsila do Amaral.
Ela estudou em academias europeias e teve contato com mestres, como 
Pablo Picasso e Fernand Léger. De volta ao Brasil, em 1924, Tarsila come-
çou a pintar elementos que considerava tipicamente brasileiros e iniciou 
uma fase que se chama “Pau-Brasil”. Pintava com cores vivas e tropicais, 
enfatizando elementos da fauna e da flora brasileiras. Também retratou má-
quinas e símbolos da nossa modernidade latente. Seu quadro mais famoso, 
o Abaporu, originou o Movimento Antropofágico no Brasil (Figura 4).
Esse movimento tinha como objetivo a digestão das características es-
trangeiras, como um ritual canibal, e a liberação de uma arte com uma 
atmosfera mais brasileira. A partir de então, a arte brasileira começou a 
criar sua feição, e suas manifestações iniciaram um movimento de exaltação 
das características nacionais. 
Cultura brasileira8
Figura 4. Abaporu, de Tarsila do Amaral.
Fonte: Amaral (1929, documento on-line).
Dentro da arquitetura, o movimento ocorreu basicamente da mesma forma. 
A produção arquitetônica estava muito atrelada a influências europeias.
As manifestações barrocas, neoclássicas e ecléticas são quase cópias do que 
estava sendo produzido na Europa. Pode-se destacar o barroco mineiro, que 
teve um desenvolvimento bastante peculiar e com características nacionais. 
A partir do início do movimento artístico moderno brasileiro, a arquitetura 
também se desenvolveu, no sentido de encontrar uma identidade própria.
A primeira manifestação modernista é a Casa Modernista, de Gregori Warcha-
vchik, construída em 1928, em São Paulo. Esta ainda tinha um caráter genérico, 
característico do que o movimento moderno pregava. O projeto do Ministério da 
Educação e Saúde, ou Palácio Capanema, feito por Lucio Costa e equipe (entre 
eles Oscar Niemeyer) marca o início do modernismo brasileiro. Le Corbusier 
visitou o Brasil, em 1929, e fez um esboço para esse edifício, porém em um 
terreno que não foi o final. Lucio Costa e equipe, entretanto, desenvolveram 
o projeto de forma bem autoral, criando uma implantação diversificada e 
uma estética própria. Burle Marx teve seu papel em tornar o edifício ainda 
mais brasileiro com os projetos de paisagismo. A partir desse ponto, Lucio 
9Cultura brasileira
Costa e Oscar Niemeyer foram personagens cruciais para a formação de uma 
arquitetura brasileira. Os dois desenvolveram projetos com características 
nacionais e que se destacavam no cenário arquitetônico mundial. Em 1943, o 
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque faz uma exposição chamada “Brazil 
Builds”, que mostra construções brasileiras de 1652 a 1942, uma demonstração 
da consolidação da arquitetura brasileira. A construção de Brasília, em 1960, 
foi o ápice deste nacionalismo. A cidade é a materialização do que significa a 
arquitetura moderna brasileira. A partir de então, esta ganhou características 
próprias muito claras e reconhecidas em todo o mundo. 
Arquitetura brasileira e a diversidade cultural
A Semana de Arte Moderna de 1922 foi um importante marco nas expressões 
culturais do Brasil. Por um lado, as vanguardas rejeitavam o historicismo e 
as referências a tempos passados. Por outro, o movimento brasileiro buscava 
uma retomada do nacionalismo. Segundo Oliven (2001, p. 5): 
Nesse sentido, a partir da segunda parte do modernismo (1924 em diante), o 
ataque ao passadismo é substituído pela ênfase na elaboração de uma cultura 
nacional, ocorrendo uma redescoberta do Brasil pelos brasileiros. Apesar de 
um certo bairrismo paulista, os modernistas recusavam o regionalismo, pois 
acreditavam que era através do nacionalismo que se chegaria ao universal. 
Assim, para os modernistas, a operação que possibilita o acesso ao universal 
passa pela afirmação da brasilidade.
Existe, portanto, um viés que tenta negar as diversas manifestações ao longo 
do território e tenta unificar a cultura brasileira como apenas uma. Em 1926, é 
lançado, no Recife, a capital mais desenvolvida da Região Nordeste na época, o 
Manifesto Regionalista de Gilberto Freyre. O manifesto tem como objetivo con-
testar o modernismo que estava sendo desenvolvido na Região Sudeste. Gilberto 
Freyre enfatiza a importância das regiões como unidades de organização nacional 
e ressalta a importância da valorização das tradições regionais. Ainda, ressalta 
a vastidão do território e demonstra a diversidade de manifestações culturais. 
Freyre traz como exemplo de contribuição à cultura brasileira os mocamos, 
aldeias de escravos (Figura 5). O autor diz que esta é a representação de uma 
edificação econômica, de natureza regional, representada pela materialidade 
(madeira, palha, cipó e capim). Também defende a preservação da culinária 
como tradição. Seu texto é todo voltado para o nordeste, porém pode ser 
compreendido como uma consideração às diferenças regionais que existem 
Cultura brasileira10
em nosso país. Entretanto, o manifesto acaba tendo uma conotação contrária 
ao modernismo que surgia, apesar de não fazer essa referência específica.
O território brasileiro, por ser muito vasto, ainda tem esta questão divergente 
a respeito de uma unidade cultural e da valorização do regionalismo. Apesar 
das duas coisas parecerem excludentes, ainda se consegue pensar que o regio-
nalismo possa ser um caminho para o nacionalismo. Freyre diz que o único 
modo de ser nacional é ser, primeiro, regional. É o que os modernistas a partir 
da segunda fase do movimento (depois de 1924) pensaram quando entenderam 
que a única maneira de ser universal é ser nacional antes (OLIVEN, 2001).
Figura 5. Mocamos, aldeias de escravos.
Fonte: Santos (2014, documento on-line).
Portanto, dentro do Brasil, existem diversas variáveis a serem consideradas 
quando se fala em identidade cultural. Existe a ideia de que nossa cultura é uma 
fusão entre a indígena, a africana e a europeia. Existe a questão de que cada 
região do País tem um clima e, portanto, características diferentes. A mudança 
de clima gerou uma diferença no recebimento de imigrantes — os europeus 
tendiam a ir para o sul, em busca de um clima mais parecido com o de seu 
país. A proximidade com outros países latinos ou com o mar também causou 
diferenças culturais. Além disso, os cenários de fauna e flora são extremamente 
diferentes em todo o País. Outra variável importante é a diferença entre os 
centros urbanos e o interior. Mesmo dentro de uma região, essa diferença pode 
ser bastante considerável em termos de estilo de vida e costumes. 
11Cultura brasileira
Considerando-se a presença de tantas variações, fica difícil aceitar que 
seria possível produzir apenas uma arquitetura. As mudanças de clima, por 
exemplo, já geram, por si só, situações arquitetônicas completamente dife-
rentes. A relação com o contexto também pode influenciar muito no processo 
de criação. Além disso, as referências históricas e culturais de proveniências 
diferentes acabam produzindo edificações diferentes. 
É natural, portanto, que tenhamos manifestações arquitetônicas bastante 
distintas. No nordeste, existe uma vertente que valoriza bastante a cultura 
local, enaltecendo o artesanato e técnicas mais manuais. O clima mais quente 
permite edificações com influências de locais onde faz mais calor, como países 
de origem árabe. O sudeste tem uma arquitetura com um caráter bastante 
urbano, diferindo muito, inclusive entre o eixo Rio-São Paulo. A escola Carioca 
produz edificações mais abertas e leves, talvez relacionadas à presença do 
mar na cidade. A Escola Paulista desenvolveu o brutalismo, com edificações 
pesadas de concreto. O norte tem ainda a característica da herança indígena, 
reproduzindo técnicas e estética. O centro-oeste tem um caráter mais rural, 
com exceção da inserção de Brasília, uma manifestação bastante urbana. 
O sul muitas vezes copiou o que estava sendo produzido no eixo Rio-São 
Paulo. Entretanto, existe uma unidade entre as adaptações feitas, muitas vezes 
considerando o clima e a paisagem diferentes. Além disso, os imigrantes 
alemãese italianos tiveram grande influência na produção dos estados do 
sul, principalmente fora dos centros urbanos. 
Apesar de existirem diferenças tão grandes entre as regiões do Brasil, é 
possível entender a arquitetura brasileira como uma constante, com adaptações 
regionais. O que Gilberto Freyre quis dizer em seu manifesto pode ainda 
ser aplicado atualmente, ou seja, a valorização das identidades regionais é o 
caminho para se entender a identidade nacional.
AMARAL, T. Abaporu. 1929. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Abaporu.
jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.
AMÉRICO, P. Independência ou morte. 1888. Disponível em: https://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Pedro_Am%C3%A9rico_-_Independ%C3%AAncia_ou_Morte_-_Goo-
gle_Art_Project.jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.
BRANCO, B. C. Arquitetura indígena brasileira: da descoberta aos dias aluais. Revista de 
Arqueologia, São Paulo, v. 7, n. 1, p. 69–85, 1993.
Cultura brasileira12
MEIRELLES, V. The first mass in Brazil. 1860. Disponível em: https://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Meirelles-primeiramissa2.jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.
OLIVEN, R. G. Cultura e modernidade no Brasil. São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 
15, n. 2, p. 3–12, abr./jun. 2001.
SANTOS, C. G. Mocambos em Santo Amaro, Recife/PE. 2014. Disponível em: https://
www.researchgate.net/figure/Figura-1-Mocambos-em-Santo-Amaro-Recife-PE_
fig1_320570129. Acesso em: 09 jul. 2019.
SÃO PAULO. Prefeitura. Cartaz da Semana de Arte Moderna. Brasil, cidade de São Paulo, 
1922. 1922. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Arte-moderna-8.
jpg. Acesso em: 09 jul. 2019.
Leituras recomendadas
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
MOTA, C. G. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974): pontos de partida para uma revisão 
histórica. São Paulo: Editora 34, 2008.
ORTIZ, R. Cultura brasileira e identidade nacional. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006.
13Cultura brasileira

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