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Nódulos tireoidianos e tireoidites Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2022 2022 Nódulos tireoidianos Prevalência: varia de acordo com o método de avaliação Palpação 3-7% (20-48% com 1 nódulo palpável tem outros ao US) US 10-76% Necropsias 50% Não se faz US para rastreamento de rotina Desafios: identificar nódulos malignos e evitar exames e cirurgias desnecessárias Etiologia dos nódulos tireoidianos não é bem conhecida, mas sabe-se que existe uma interação entre: · Fatores ambientais: ingesta de iodo, tabagismo, drogas, bocigênicos naturais (soja), estresse, infecções · Fatores genéticos: estudos em familiares e gêmeos, marcadores genéticos (Tg, MNG-1, TSHR e NIS) · Fatores endógenos: gênero feminino Nódulos atóxicos Não causam hiperprodução de hormônio pela tireoide, não geram um quadro de hipertireoidismo Causas: · Bócio coloide ou adenomatoso · Cistos simples ou secundário a outras lesões da tireoide · Tireoidites (nas áreas de regeneração do tecido inflamado) · Doenças granulomatosas (como sarcoidose) · Neoplasias: adenomas, carcinomas, linfomas, tumores raros e lesões metastáticas Diagnóstico clínico Características sugestivas de malignidade Média suspeita Alta suspeita < 20 anos e > 70 anos -> crianças 10-26% dos nódulos são malignos HF: medular, neoplasias endócrinas múltiplas Sexo masculino: nódulos + frequentes em mulheres, mas + malignos nos homens Nódulo de crescimento rápido Irradiação prévia cabeça/pescoço Endurecido, aderido Nódulo > 4 cm ou parcialmente cístico Linfadenomegalias Sintomas de compressão: dor na parte anterior do pescoço, tosse/dispneia (compressão traqueal), hemoptise (invasão traqueal), disfonia (encarceramento do nervo laríngeo recorrente) e disfagia/odinofagia (compressão do esôfago) Paralisia de cordas vocais Metástases distantes Grande desafio: reduzir as punções desnecessárias · Câncer de tireoide presente em 5-15% dos casos, dependendo da idade, sexo, exposição prévia à radiação, história familiar e outros fatores · Tumores menores 1 cm: comportamento indolente -> raramente trazem consequências para o doente · Aumento incidência do câncer papilar -> não alterou a mortalidade · 70-80% dos casos em mulheres americanas e 45% dos casos em homens: tumores que se deixados sem tratamento não resultariam em sintomas ou morte Abordagem do paciente · Natureza: benignos Vs malignos (5-15%) · Sintomas de compressão: disfagia, disfonia, dispneia, tosse · Disfunção tireoidiana: hipertireoidismo -> maioria dos pacientes eutireoidianos, ou seja, com função tireoidiana normal (nódulos autônomos com pouca chance de serem malignos) Avaliação laboratorial · Função tireoidiana: TSH, T4 L -> geralmente eutiroidiano, hipo não exclui malignidade, pouca probabilidade se hipertireoidismo · Paciente com hipertireoidismo com presença de um nódulo frio: nódulo com maior chance de ser maligno · Calcitonina se suspeita de carcinoma medular da tireoide (origem nas células C que produzem calcitonina) -> ainda controverso como rotina Cintilografia Apenas de TSH baixo Define se o nódulo é hipercaptante, porém tem pouco valor para distinguir lesões malignas de benignas Tireoide normal: igual captação dos 2 lados da tireoide Nódulo autônomo capta + o radiofármaco = hiperfuncionante Nódulos "quentes" raramente são malignos (1-2%) e menos de 15% dos nódulos “frios” são malignos Indicação: doença nodular em pacientes com hipertireoidismo -> se nódulo normo ou hipocaptante seguir com propedêutica US/PAAF Ultrassonografia Sempre -> exame + importante para avaliar características do nódulo: 95% sensibilidade (melhor que TC/RNM) + seguro, sem radiação ionizante e meio de contraste, não causa dano aos tecidos, relativamente barato, porém examinador dependente Avaliação do tamanho do nódulo, sua composição e características + linfonodos suspeitos na região cervical + compressão ou invasão de estruturas adjacentes à tireoide · Estruturas aeradas como a traqueia não transmitem o som = escuras na US · Tecidos calcificados como ossos e algumas cartilagens e depósitos cálcicos bloqueiam a passagem do som (muito eco) e resultam em um sinal muito brilhante com uma sombra acústica posterior sem eco Guia para procedimentos diagnósticos (PAAF dirigida) e terapêuticos (aspiração de cistos, injeção de etanol, terapia com laser), e monitoramento do crescimento do nódulo Tireoide normal · Traqueia e artérias: estruturas hipoecogênicas · Músculos + hipoecogênicos que os tecidos tireoidianos · Volume normal num adulto 10-15 cm3 · Tireoide em geral + hiperecogênica que os tecidos vizinhos · Cada lobo tem um contorno globular e tem em torno de 3-4cm de altura, 1-1,5cm em largura e 1cm de profundidade · Istmo é identificado anteriormente à traqueia e tem ~0,5cm de altura e 2-3mm de profundidade · Lobo piramidal não é visto, a não ser que esteja aumentado · Volume normal da tireoide em um adulto varia de 10-15cm3 Achados associados a maior risco de malignidade do nódulo: hipoecogenicidade (principalmente se acentuada), microcalcificações, margens irregulares, vascularização predominante ou exclusivamente central no Doppler, diâmetro anteroposterior maior que o transverso e encontro de linfonodos cervicais com características suspeitas Sem distinção absoluta entre lesões benignas e malignas Pseudonódulos: alteração da textura da glândula tireoide, muito comum em pacientes com Tireoidite de Hashimoto, formando uma área irregular que, à palpação, é semelhante a um nódulo Características dos nódulos tireoidianos avaliadas: · Ecogenicidade: como o nódulo reflete o som · Nódulo hipoecogênico: reflete pouco o som, muito celulares e com pouco líquido · Valor preditivo de malignidade: 50-63% -> se muito hipoecóico: 41,4-92,2% · Nódulo hiperecogênico: brilho do nódulo à US representa a maior reflexão do som do tecido avaliado · Nódulos isoecogênicos: ecogenicidade semelhante ao do parênquima tireoidiano · Conteúdo sólido ou líquido · Nódulos espongiformes: agregação de múltiplos componentes microcísticos (áreas líquidas) em + de 50% do volume do nódulo -> aspecto de colmeia (somente 1/360 nódulos espongiformes são malignos) · Anecoico-cístico: conteúdo líquido e não gera eco (estrutura preta no US) -> tratamento em casos de questões estéticas ou quando paciente apresenta sintomas compressivos · Margens: regulares ou não · Halo: presença ou não de halo (área de edema) hipoecogênico contornando o nódulo · Vascularização: se é um nódulo hipervascularizado e se essa vascularização é + central ou + periférica · Forma · Calcificações · Calcificação em Casca de Ovo: periférica, em torno de todo o nódulo, com sombra acústica posterior, normalmente benigna · Calcificação grosseira: grande, com sombra acústica posterior · Calcificação em Rabo de Cometa: característica de um grumo de coloide, de característica benigna · Calcificação Puntiforme/Microcalcificações: sem sombra acústica posterior, + chance de malignidade Classificação ultrassonográfica ATA: · Lesão benigna: chance de malignidade < 1% -> nódulos puramente císticos · Lesão de muita baixa suspeição: chance de malignidade <3% -> nódulos espongiformes e cistos com áreas sólidas em seu interior, mas sem características malignas · Lesão de baixa suspeição: chance de malignidade entre 5-10% -> nódulos hiperecogênicos, com margens regulares, nódulos isoecoicos sólidos e nódulos parcialmente císticos, com áreas sólidas sem característica de malignidade · Lesão de suspeição intermediária: chance de malignidade entre 10-20% -> nódulos hipoecogênicos sólidos, com margens regulares · Lesão de alta suspeição: chance de malignidade >70-90% -> nódulos hipoecogênicos, sólidos, de margens irregulares e mal definidas, com presença de microcalcificações, + altos do que largos e com um linfonodo suspeito adjacente · Alguns nódulos não são classificáveis pela ATA Classificações TIRADS: avalia composição, ecogenicidade, forma, margens e focos de ecogênicos, pontuando o nódulo de acordo com as suas características Composição EcogenicidadeForma Margens Focos Ecogênicos/ Calcificações 0 Cístico ou quase completamente cístico ou espongiforme Anecóico + largos que altos Lisas/ regulares/ bem definidas Nenhum/ artefato em Rabo de Cometa 1 Sólido cístico (misto) Hiperecogênicos/ isoecogênicos Macro calcificações (grosseiras) 2 Sólido ou quase completamente sólido Hipoecogênicos Lobuladas/ irregulares Calcificações periféricas (em ferradura) 3 Muito/ completamente hipoecogênicos + altos que largos Invasão extratireoidiana Micro calcificações pontuadas · TI-RADS 1: 0 pontos = nódulo benigno, sem indicação para realização da PAAF · TI-RADS 2: 2 pontos = não é um nódulo suspeito e PAAF não está indicada · TI-RADS 3: 3 pontos = nódulo suspeito intermediário, PAAF indicada se > 2,5cm e, > 1,5cm, é preciso acompanhar o seu crescimento · TI-RADS 4: 4-6 pontos = nódulo moderadamente suspeito, sendo necessário realizar a PAAF se > 1,5cm, com + 1cm ele precisa ser acompanhado · US no 1º, 2º, 3º, e 5º ano · TI-RADS 5: 7 pontos ou + = nódulo considerado altamente suspeito, PAAF já indicada se >1cm, caso <1cm é preciso apenas acompanhar o seu crescimento · US anual por 5 anos Considerações · Medidas acuradas (3 dimensões) -> maior reprodutibilidade · Localização dos nódulos · Descrição de não + que 4 nódulos, com as maiores classificações TI RADS, independente do tamanho · Definição de crescimento: 20% de aumento em pelo menos 2 dimensões ou 50% do volume · Seguimento: não antes de 1 ano, exceto para câncer confirmado que estão em vigilância ativa · Número de nódulos a serem biopsiados: não + que 2, com maiores TI RADS · Não recomenda uso de nódulo dominante -> o maior pode não ser o pior Punção aspirativa por agulha fina (PAAF) Exame citológico -> melhor exame para distinguir entre lesões malignas e benignas Sensibilidade média 82% e especificidade média 92% Guiada por ultrassom, fácil, baixo custo e risco Principal limitação: neoplasias foliculares e células Hürtle (presentes tanto em nódulos benignos quanto malignos) ATA Categoria risco Benigno Muito baixo risco Baixo risco Risco intermediário Alto risco Risco malignidade <1% < 3% 5-10 % 10 – 20% > 70 – 90% Indicação PAAF Não recomendada ≥ 2 cm (ou OBS sem PAAF) ≥ 1,5 cm ≥ 1,0 cm ≥1,0 cm TIRADS Categoria risco TR1: Benigno TR2: não suspeito TR3: baixa suspeita TR4: suspeita intermediária TR5: Alta suspeita Risco malignidade 0% 0% 5,5 % 26% 100% Indicação PAAF Não recomendada Não recomendada > 2,5 cm > 1,5 cm > 1,0 cm · Excluído nódulo hipercaptante ou puramente cístico, a indicação da PAAF deve considerar a história clínica, o tamanho do nódulo e os achados ultrassonográficos (B) · Quando repetir: · Resultado insatisfatório (B-I) ou indeterminado (B-III, IV): após 3 meses · Resultado benigno (B-II): Diretrizes atuais · US 6 a 24 meses após a PAAF inicial · Se aumento > 20% em pelo menos 2 dimensões · Se aumento > 50% volume · Se surgirem características de malignidade · Falsos negativos: 1-2% Paneis moleculares Para Bethesda III e IV (15-30% dos casos / 10-40% malignos) Mutações conhecidas: · BRAFV600E papilíferas menos diferenciados e anaplásicas · RET/PTC meta linfonodal; também em benignos · RAS folicular · PAX8/PPARγ folicular · TERT maior agressividade Tratamento Risco de malignidade: acompanhamento Vs cirurgia · Bócio volumoso com sintomas compressivos, bócio mergulhante, suspeita de malignidade Categorias BETHESDA Risco de malignidade (%) Conduta I Amostra não diagnosticada (> 6 grupos com 10 células epiteliais) Líquido cístico que não apresenta quase nenhuma célula tireoidiana 1-4 Nova PAAF dará o diagnóstico em 60-80 % dos casos Cirurgia ou acompanhamento, dependendo das características US e condições clínicas do paciente II Benigno Bócio coloide ou tireoidite de Hashimoto 0-3 Acompanhamento (exceto se bócio muito volumoso com sintomas compressivos, desejo do paciente) III Atipia de significado indeterminado ou lesão folicular de significado indeterminado Quando algumas células apresentam algumas mutações (alterações no núcleo/nucléolo), mas não fecham diagnóstico de lesão maligna 5-15 Repetir a PAAF -> persistindo BIII: cirurgia · Dependendo das características do US e dos riscos do paciente, acompanhar · Testes moleculares IV Neoplasia folicular ou suspeito de neoplasia folicular 15-30 Repetir PAAF e, se persiste essa classificação, paciente encaminhado para cirurgia ou testes moleculares V Suspeito de malignidade 60-75 Cirurgia = tireoidectomia total VI Maligno 97-99 Acompanhamento: · Nódulos benignos · Bethesda 2 · Bethesda 3: deve-se repetir a PAAF Cirurgia: em casos de disfunção tireoidiana, bócio volumoso com sintomas compressivos, bócio mergulhante e lesões malignas ou com suspeita de malignidade Nódulos tóxicos Bócio uninodular tóxico, Adenoma tóxico, Doença de Plummer Tumor benigno monoclonal, que cresce e produz T3 e T4 de forma autônoma, independente do TSH, sendo que os quadros de hipertireoidismo aparecem em nódulos >3cm De malignidade <1%, pico de incidência entre 30-60 anos, acometendo 5 mulheres para cada homem Geralmente, inicia-se como um nódulo hipercaptante à cintilografia, mas o paciente em eutireoidismo -> com o passar do tempo e crescimento, o nódulo se torna autônomo e o paciente desenvolve hipertireoidismo Maioria é um adenoma folicular, monoclonal, com mutação somática no gene do receptor do TSH Sintomas: · Aparecimento de nodulação na região cervical anterior, notado pelo paciente ou familiares · Geralmente sintomas do hipertireoidismo, quando presentes, menos exuberantes que na doença de graves · Não apresentam as manifestações típicas de autoimunidade, como oftalmopatia e dermopatia pré-tibial Diagnóstico: · TSH suprimido, T4 livre e T3 altos · Hipertireoidismo subclínico: T4 e T3 normais com TSH baixo · Ultrassonografia feita apenas para caracterização do nódulo, sem necessidade de PAAF · Cintilografia: caracteristicamente, observa-se área de hipercaptação, com apagamento do restante da glândula tireoide Tratamento: · Tireoidectomia (lobectomia + istmectomia): nódulos volumosos com sintomas compressivos, pacientes + jovens (<18 anos) e aqueles que necessitam uma obtenção rápida do eutireoidismo -> reversão em 100% dos casos · Radioiodoterapia: nódulos de até 5cm, paciente com contraindicação cirúrgica e aqueles + idosos -> reversão do hipertireoidismo em 75-85% dos casos · Risco de hipotireoidismo: 11% no 1º ano, 33% em 5 anos e 49% em 10 anos -> risco menor do que para tratamento da Doença de Graves, uma vez que apenas o nódulo capta e sofre as consequências do iodo · Drogas antitireoidianas: utilizadas, principalmente, em pacientes idosos, sem sintomas compressivas e com risco cirúrgico aumentando -> tratamento não curativo · Injeção percutânea de etanol: múltiplas injeções dentro do nódulo tireoidiano, que geram dor local -> baixo custo · Ablação térmica com laser ou radiofrequência -> tem um bom resultado, mas são procedimentos caros Bócio multinodular tóxico Aumento progressivo e nodular da tireoide, na ausência de doença autoimune, malignidade ou inflamação, associado clinicamente a + de um nódulo Associado fatores genéticos (mutações de origem policlonal, gene TSH-R etc.), ambientais e deficiência de iodo Alta prevalência, principalmente em mulheres, idosos e pessoas com deficiência de iodo Normalmente doença apresenta, incialmente, vários nódulos tireoidianos que vão aumentando ao longo da vida e alguns desses nódulos ficam autônomos e começam a produzir T3 e T4 por conta própria Sintomas de início progressivo -> predominam os sintomas cardíacos (arritmias e IC) e compressivos Diagnóstico: · Ultrassonografia: geralmente, encontram-se 2 ou + nódulos · TSH baixo e T3 e T4 que se elevam progressivamente, à medida que os nódulos se tornam autônomos · Cintilografia: tireoide de aspecto heterogêneo, com áreas de autonomia funcional, com hipercaptação em um ou poucos nódulose hipocaptação no restante da glândula · Se esses nódulos que se mostraram hipocapitantes (“frios”) apresentarem características suspeitas de malignidade ao US, deve-se realizar a PAAF -> PAAF não deve ser feita nos nódulos “quentes”, pois a chance de malignidade nesse caso é muito pequena Tratamento: · Cirurgia: maioria dos casos, principalmente nos bócios volumosos ou mergulhantes, com sintomas compressivos, suspeita de malignidade, necessidade de correção de hipertireoidismo e hiperparatireoidismo concomitante · Iodo radioativo: nos paciente sem condições cirúrgicas, com risco cirúrgico elevado, que não desejam operar ou que tenham idade avançada -> permite reversão do hipertireoidismo e redução do tamanho do bócio (em 30-50%), mas paciente precisa continuar sendo acompanhado, pois nódulo tireoidiano permanece · Drogas antitireoidianas: tratamento contínuo, indicado para pacientes muito idosos, com baixa expectativa de vida e sem sintomas compressivos Recomendações Indivíduos com história pessoal ou familiar de câncer de tireoide, passado de exposição à radiação na infância ou adolescência, ou nódulo incidentalmente detectado no FDG-PET (captação focal), são considerados de alto risco para malignidade tireoidiana B O TSH sérico deve ser solicitado na avaliação inicial do nódulo tireoidiano, principalmente para excluir a possibilidade de ele ser autônomo ou hipercaptante A Exceto em pacientes com suspeita clínica ou história familiar de CMT ou NEM 2, a dosagem da calcitonina sérica não é necessária C Medida da Tg sérica não é recomendada para definição da natureza benigna ou maligna do nódulo tireoidiano B A US cervical deverá ser realizada em todo paciente com nódulo tireoidiano A A cintilografia tireoidiana está indicada na suspeita de nódulo funcionante (TSH subnormal) (A) ou quando a citologia é sugestiva de neoplasia folicular (B) A/ B Cirurgia é recomendada se a citologia for suspeitar para malignidade (Bethesda V) ou maligna (Bethesda VI) A Quando a citologia sugere neoplasia folicular (Bethesda IV), a cintilografia com radioiodo é útil. Se o nódulo for hipercaptante, sua retirada não é necessária. Entretanto, nódulo hipocaptante ainda constitui uma indicação de cirurgia. B Se a citologia revela lesão folicular ou atipia de significa- do indeterminado (Bethesda III), recomenda-se a repetição da PAAF com intervalo de 3-6 meses. Se esse resultado persiste, a cirurgia está indicada em pacientes com alta suspeita clínica ou ultrassonográfica de malignidade ou nódulo > 2 cm. Pacientes com nódulo ≤ 2 cm e baixa suspeita clínica e ultrassonográfica para câncer devem ser acompanhados C Se a amostra for inadequada para análise citológica (Bethesda I), recomenda-se a repetição da PAAF com intervalo de 3-6 meses, sempre guiada por US (B). Se o resultado persiste, a cirurgia está indicada em pacientes com alta suspeita clínica ou ultrassonográfica de malignidade ou nódulo > 2 cm. Pacientes com nódulo ≤ 2 cm e baixa suspeita clínica e ultrassonográfica para câncer devem ser acompanhados (C). B/ C Tireoidite Tipo Etiologia Aguda ou supurativa Bacteriana, raramente fungos ou protozoários Subaguda Granulomatosa (de Quervain) Viral Linfocítica (indolor) Autoimune Pós-parto Autoimune Crônica Tireoidite de Hashimoto Autoimune Tireoidite de Riedel idiopática Tireoidite aguda Infecciosa, rara (glândula capsulada, muito vascularizada, rica em Iodo), incidência aumentada devida imunossupressão Bacteriana (70% dos casos) -> Staphylococcus e Streptococcus Início súbito, acometimento em geral assimétrico -> dor local, febre, sudorese e astenia -> geralmente sem sintomas de tireotoxicose + eritema de pele, intensa dor à palpação, flutuação Leucocitose com desvio à esquerda, aumento VHS -> geralmente eutireoidiano US para localização do abcesso ou processo supurativo (área hipoecogênica), PAAF com cultura do aspirado Tratamento: antibioticoterapia específica, geralmente para cobrir germes gram positivos Tireoidite subaguda granulomatosa de Quervain (TSAG) Causa + comum de dor na tireoide anterior Processo inflamatório autolimitado, maioria na 3ª-5ª década de vida, causado direta ou indiretamente por infecção viral -> geralmente IVAS -> tipicamente um paciente que teve quadro gripal, depois de 2/3 semanas, evoluiu com dor forte na região cervical anterior Fases: · Dolorosa, aguda inicial com tireotoxicose (2-6 semanas): tireotoxicose transitória resulta da liberação descontrolada de hormônio tireoidiano a partir da glândula inflamada que resolve espontaneamente -> paciente pode apresentar taquicardia, perda de peso e agitação · Hipotireoidismo (devido destruição glandular, de semanas a meses): capacidades biosintéticas da glândula permanecem comprometidas · Eutireoidismo · Hipotireoidismo permanente (15%) Dor no pescoço com ou sem irradiação para mandíbula e região superior do pescoço -> com sintomas sistêmicos + leves: febre, fraqueza, astenia, anorexia e mialgia · Dor à palpação cervical, aumentada de tamanho, consistência firme Hemograma (geralmente normal ou leucocitose leve), VHS (geralmente > 50 mm), função tireoidiana (varia com a fase) Captação iodo (RAIU) caracteristicamente suprimida (geralmente < 1% e sempre < 5%) Tratamento: AINES (alívio de dor e inflamação), corticoterapia (em caso de dor refratária), betabloqueadores (controle da tireotoxicose) -> não indicadas drogas antitireoidianas Tireoidite subaguda linfocítica indolor Também pode cursas com 4 fases da Tireoidite de Quervain, mas paciente não apresenta dor na fase inicial Captação do iodo 24h sempre baixa, anticorpos positivos em ~60% dos casos, VHS normal, sem leucocitose Diagnóstico diferencial com doença de Graves (sem exoftalmia e captação baixa de iodo) Hipotireoidismo residual em 30% dos casos, recidivas + frequentes Tratamento sintomático com betabloqueadores Tireoidite subaguda pós-parto Prevalência de 1,1-16% Desenvolvimento de disfunção tireoidiana em mulheres previamente eutireoidianas com 12 meses de gestação -> condição autoimune caracterizada pela infiltração linfocítica na glândula tireoidiana · + comum em mulheres com anticorpos positivos no início da gravidez ou logo após o parto -> comum em mulheres com outras doenças autoimunes 3 apresentações: apenas tireotoxicose transitória (20-40%), apenas hipotireoidismo transitória (40-50%), tireotoxicose transitória seguida de hipo transitório e recuperação com eutireoidismo (20-30%) RAIU baixa na fase de tireotoxicose 85% das mulheres com altos títulos de anticorpos Hipotireoidismo permanente: 30-50% em 9 anos Tratamento sintomático ou reposição de LT4 na fase de hipotireoidismo Tireoidite de Hashimoto + frequente, origem autoimune, fatores genéticos Pode ser precipitada por excesso de iodo, drogas 5-20x + em mulheres, qualquer idade, principalmente 40-60 anos Hipotireoidismo, bócio / atrofia A-TPO em 80-99%, A-Tg em 60% US alterações morfológicas, pseudonódulos Tratamento: LT4 Tireoidite de Riedel Rara (0,05%), etiopatogênese desconhecida Fibrose extensa da glândula, podendo acometer tecidos adjacentes Clinicamente semelhante a linfoma ou carcinoma anaplásico da tireoide, bócio com consistência endurecida Sintomas compressivos -> dor na região da glândula incomum Hipotireoidismo se acometimento extenso PAAF de difícil execução, diagnóstico geralmente por biopsia com exame histopatológico, que mostra fibrose extensa, comprometendo toda a glândula Tratamento cirúrgico, curso lento e benigno Tireoide e COVID-19 Destruição glandular direta pelo SARS-CoV-2 causando tireoidite subaguda atípica, indolor, tireotoxicose, às vezes com hipotireoidismo a seguir Precipitação de mecanismos imunomediados · Graves desencadeado pela tempestade de citocinas Hipofisite, eutireoideano doente (resposta fisiológica do organismo a um processo de estresse orgânico grave -> como se fosse um mecanismo de adaptação) -> TSH, T4 e T3 baixos -> de maneira transitória · Sem benefício clínico de reposição Referências Goldman-Cecil. Medicine.26ed. 2020 Thyroid nodules and differentiated thyroid cancer: update on the Brazilian consensus Arq Bras Endocrinol Metab.2013; 57/4 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
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