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Epilepsia Lavínia Vasconcellos Patrus Pena 2022 2022 Número limitado de neurotransmissores (7) Acelerador da atividade elétrica = glutamato Freio da atividade elétrica = GABA Numa rede de milhares de circuitos elétricos, é natural que alguns curtos-circuitos aconteçam -> uma carga elétrica anormal começa a querer tomar conta dessa rede e se isso acontece, as descargas elétricas vão se tornando + intensas e + frequentes, gerando caos elétrico = disfunção da rede -> exacerbação da atividade elétrica = exacerbação da função dessa rede -> mecanismos endógenos de controle normalmente · Isso está passível de acontecer o tempo todo, mas não acontece devido aos mecanismos endógenos de regulação, de controle, de freio, impedindo que esses potenciais impulsos elétricos possam de alguma forma gerar uma disfunção elétrica Crise epiléptica: definida por sinais ou sintomas transitórios, generalizados ou focais devido à atividade neuronal anormal, síncrona ou excessiva -> pode surgir em 2 contextos: · Lesão estrutural do córtex cerebral (cicatriz de AVC, de TCE, tumor cerebral, processo inflamatório e hiperglicemia) · Região permite atividade elétricas anormais intensas que os organismos endógenos não dão conta de segurar, de controlar · Região localizada -> crise epilética focal · Crise epiléptica generalizada desde o início ou secundária de uma crise focal · Atividade cerebral não alterada, mas a barreira protetora está abaixo do normal (sistema de modulação e regulação são menos potentes que o necessário) -> predisposição familiar · Casos de pacientes com crises epilépticas sem serem epiléticos -> paciente que beberam muito álcool (diminui o limiar convulsivo -> extremo = crise epiléptica por intoxicação alcoólica) · Por fadiga cerebral intensão por privação do sono · Virose com alto pico febril Ter uma crise epiléptica não faz uma pessoa ser epilética Principais fatores de risco para ocorrência de crises sintomáticas agudas: TCE, AVC, doenças infecciosas, distúrbios toxicometabólicos e abstinência de drogas e álcool Crise focal Origina-se nas redes neuronais limitadas a um hemisfério cerebral com sinais e sintomas correspondentes à região cerebral afetada pela crise Avaliar · Nível de consciência (estado de alerta: vigil, sonolento, letárgico, torporoso ou comatoso) · Estado de consciência (qualidade da consciência: lúcido e orientado ou confuso) · Memória (capacidade de registrar ou captar informações registradas) Perceptiva (crise parcial simples): 3 características preservadas Disperceptiva (crise parcial complexa): perda de qualquer 1 das 3 características -> maioria dos adultos e idosos tem crises disperceptivas com perda de consciência (diferente da crise de ausência que é generalizada) · Crise jacksoniana = crise parcial complexa com desvio do olhar conjugado e da cabeça para o mesmo lado do movimento motor e paciente não está responsivo com alteração do estado e nível de consciência · Foco está na região frontal, contralateral à alteração motora na região do olhar conjugado Início motor: movimentação estereotipada Crise generalizada Crises generalizadas rapidamente afetam extensas redes neuronais em ambos os hemisférios cerebrais, com sinais e sintomas consistentes com envolvimento substancial de ambos os lados do cérebro Início generalizado: não significa que todo o cérebro entrou em caos -> redes neurais acometendo os ambos os lados dos cérebro Maioria das vezes são autolimitadas e de curta duração -> enquanto fenômeno, não causa dano ao cérebro em si (somente acontece caso haja uma desestruturação + grave que vai gerar um ciclo vicioso, que essa crise se auto alimenta, que não fadiga, que é o mal estar epiléptico) Crise tônico-clônica generalizada Clássica convulsão = movimento totalmente desordenado -> acomete todo o córtex cerebral -> maior emergência clínica Perda da consciência Fases (se misturam): tônica com enrijecimento de todos os músculos e clônica com movimentos repetitivos Salivação excessiva (importante colocar o paciente em decúbito lateral) e mordedura de língua e bochecha Possibilidade de liberação de esfíncteres (urina e fezes) Estado pós-comicial: como se reiniciasse o cérebro -> paciente entra num estado de coma transitória para recuperar o nível de consciência (até 30 minutos com sinais de melhora) Crise de ausência Duração de 10-30 segundos, podendo ocorrer dezenas de vezes ao dia Súbita alteração de consciência, paciente “fora do ar”, com olhar vago e fixo com breve piscar de olhos, sem movimentos motores (paciente não desfalece, não cai) -> recobra consciência sem perceber o que ocorreu + comum em crianças (podem ter dificuldade de atenção e []) -> eletroencefalograma patognomônico para crise de ausência Não é associada com uma doença neurológica progressiva Crise mioclônica Contrações musculares bruscas de 1-2 segundos -> como se fosse um susto -> podem ser focais (envolvendo apenas um braço), ou bilaterais e maciças (envolvimento de face, tronco e MMSS bilateralmente) Podem ser únicas ou repetidas Pode haver perda de consciência durante a crise, mas normalmente não é percebida pela rapidez de sua duração Pessoa pode ter um fenômeno mioclônico sem que a origem desse fenômeno seja cortical · Mioclonia cortical: crise epilética de padrão mioclônico · Mioclonia subcortical: mioclonia do sono = sensação de susto, de estar caindo -> fisiológico · Mioclonia espinhal -> paciente com neuropatia com dano no nervo gerando movimentos mioclônicos 3 principais manifestações clínicas: · Epilepsia mioclônica juvenil: principal síndrome epilética do adulto jovem · Início na infância ou adolescência (2ª década de vida) e geralmente persiste até a idade adulta, indivíduos previamente “normais”, com gatilhos principalmente luminosos · Fenótipo desse quadro: inicialmente uma crise tônico-clônica generalizada, mas elas são de origem crises mioclônicas (carbamazepina pode piorar a crise mioclônica) · Epilepsia com combinações variadas de crise de ausência e crises mioclônicas · Epilepsia no cenário de síndromes degenerativas ou hereditárias com envolvimento cerebral bilateral e função cerebral anormal Tratamento contínuo Crise atônica Perda súbita do tônus muscular -> resultado = quedas e lesões com comprometimento variável da consciência Assemelha-se a um desmaio Abordagem de paciente com 1ª crise epiléptica Crise epiléptica em paciente sem epilepsia definida = vista como um sinal de alguma outra coisa -> buscar uma causa secundária: intoxicação (como medicamentosa), metabólica, infecciosa (infecção de urina importante em idosos), lesao cerebral, vascular, trauma, tumoral, inflamatória, uso ou abstinência de álcool e drogas · TC de crânio, revisão laboratorial, exame de urina (sem necessidade de colher liquor caso paciente recupere o nivel e estado se cosnciencia e não tenha rigidez de nuca) · Observar de evolução clínica e neurológica por pelo menos 6h · Paciente com uma crise epiléptica mas não teve uma outra num periodo de 6h, a chance de ter uma crise nos proximos dias é pequena mesmo que o paciente tenha epilepsia ainda não diagnosticada · Orientação e encaminhamento Paciente já epilético · Verificar motivo da crise: falha na tomada de medicação, intecorrência clínica, posologia inadequada ou interação medicamentosa · Outros fatores predisponentes · Condutas de prenvenção até a avaliação especializada Epilepsia Pré-disposição de ter crises epilépticas · Epilepsias: condições nas quais um distúrbio neurológico subjacente resulta em uma tendência crônica à ocorrência de crises recorrentes não provocadas Diagnóstico de epilepsia estabelecido se: · Ocorrem 2 ou + crises não provocadas · Ocorre 1 crise em uma pessoa cujo risco de recorrência é de pelo menos 60% em 10 anos (tumor cerebral, hemorragia ou infecção) · Ocorrem 1 ou + crises no contexto de uma síndrome epiléptica conhecida Genética Vs adquirida (processo de envelhecimento do cérebro, por intercorrências na vida como contato com cisticerco e calcificação dessa neurocisticercose, pacientes com contusões cerebrais devidoa TCE, AVC, outras intercorrências clínicas capazes de gerar alguma cicatriz ou dano cerebral) Epilepsia é um contexto clínico que pode ser puro (maioria das vezes) ou pode estar inserido numa outra doença Epidemiologia · Ocorrência em 1,8% dos adultos > 18 anos -> ~4 milhões de adultos no BRA · Risco de 3% ao longo da vida · Sem controle, aumenta em 3x o risco de morte Apresenta consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica diretamente a qualidade de vida do individuo afetado Distribuição por faixa etária · Alta incidência na 1ª infância: síndromes e complicação neonatais · Disparada a partir da 3ª idade: processo natural de degeneração do cérebro que aumenta risco de curtos-circuitos -> nessa faixa: maioria dos pacientes com crises focais, de início focal Objetivo do tratamento · Controle das crise convulsivas · Evitar ou minimizar os efeitos colaterais do tratamento · Manter ou restaurar a qualidade de vida do paciente · Resgatar a sensação de segurança e liberdade · Maioria das vezes com pacientes adultos, tem indicação de tratamento por tempo indeterminado, por apresentarem um risco de terem já uma predisposição Estado de mal epiléptico (status epilepticus) Conceito clínico-prático para evitar a morte neuronal Crise convulsiva com duração de + de 5-10 minutos (provavelmente paciente que não cessa a crise depois de 10 minutos, não vai cessar depois de 30 -> já entrar com intervenção médica) ou crises convulsivas reentrantes (para de ter o fenômeno motor, mas volta a ter antes de recuperar a consciência) sem recuperação da consciência entre elas · Cérebro em extrema atividade elétrica por + de 30 minutos = risco aumentado de morte neuronal por hipóxia, por hipoglicemia celular = necrose cortical Convulsão = fenômeno motor de crise (crise epiléptica: todas as alterações elétricas, motoras e não motora) Tipos · Tônico-clônico generalizado (estado epiléptico) · Mioclônico · Parcial complexo (DD de coma persistente em pacientes em CTI) ou não convulsivo · Parcial simples (frequente em lesões ativas corticais como tumor ou abscesso) · “Psicogênico”: quadros conversivos relacionados a crises de ansiedade complexa, a transtorno de personalidade e a outros transtornos psiquiátricas Epidemiologia: 100.000-200.000 casos/ano nos EUA e mortalidade geral de 20% (69-85% nos casos pós-anóxia) Fatores prognósticos: etiologia do status e duração do quadro Complicadores diretamente relacionados ao tempo de crise: rabdomiólise (sobrecarga muscular pelo alto grau de contração muscular), acidose lática, pneumonite aspirativa, edema pulmonar neurogênico, insuficiência respiratória e morte neuronal Emergência médica -> condutas iniciais influenciam diretamente o prognóstico final EME – protocolo de atendimento Inicialmente, por + que a situação seja grave, preciso estabilizar o paciente · Importante não entrar em pânico, ter calma para pensar e agir da melhor forma possível · Estabilizar vias aéreas, respiração e circulação e fazer o exame neurológico direcionado de urgência · No momento em que cessar a crise, é importante analisar: pupila, rigidez de nuca, déficit focal e Babinski · Identificação do tempo de crise, monitorização dos dados vitais · Sempre ofertar oxigênio (ideal é a máscara facial) · Monitorização ECG contínua · Glicemia: obrigatório administrar tiamina antes para que não tenha encefalopatia de Wernick Crise convulsiva cessou nessa 1ª assistência: sem necessidade de fazer um medicamento de ação imediata e de curta ação para cortar uma crise que já acabou -> parte diretamente para suporte clínico e administração de uma anticonvulsivante de meia-vida longa (fenitoína -> hidantal) Crise não cessou nesse 1º atendimento: administração de benzodiazepínico (alto poder anticonvulsivante, mas com tempo de ação curto, serve para cortar a crise, não para evitar uma nova crise depois -> usar anticonvulsivante de meia vida longa depois de estabilização) = Diazepam (IV) ou Midazolam (IM) · Caso não haja nenhuma dessas opções, utiliza-se o fenobarbital (IV) em uma dose de 15mg/Kg/dose, capaz de gerar depressão respiratória, podendo haver a necessidade de entubar o paciente · Quando o paciente sai da crise: suporte clínico, com uso da fenitoína Mesmo assim paciente não sai da crise: ataque de fenitoína -> também evitar uma nova crise · Nesse caso, quando cessar a crise, inicia-se o suporte clínico Mesmo assim crise não cessou: paciente entra para um contexto de status refratário: administrar infusões altas e contínuas de medicamentos para gerar uma depressão total da atividade elétrica cerebral, que é o coma induzido = Midazolam, tiopental, pentobarbital ou propofol (sempre monitorar com EEG contínuo) No Brasil Diazepam IV -> na prática: pode repetir diazepam venoso em 4 ataques até a dose máxima de 40mg (risco de intubação alto) Paciente não melhorou com Diazepam IV: administrar fenitoína venosa, mas se o paciente não respondeu a 4 doses de Diazepam, o quadro dele é grave e pode ir direto para o Midazolam IM Se todo esse esquema não funcionar: Tiopental, Pentobarbital ou Propofol, monitorando com EEG Referência Goldman-Cecil. Medicine. 26ed. 2020 3 lAVÍNIA VASCONCELLOS PATRUS pena
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