Buscar

Fund de Sociologia

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 20 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Nessa altura, já podemos começar a construir uma definição para sociologia. Sociologia é a ciência que estuda a interação do indivíduo com a sociedade, as relações que ele mantém, a sua inserção na coletividade. É o estudo da vida social, dos grupos e das sociedades. Assim, ela nos ajuda a compreender melhor as questões relativas à nossa organização social e à forma como vivemos coletivamente. Ela nos ajuda a responder questões que aparecem no nosso cotidiano, bem como a formular novas questões. Por exemplo: Por que existe tanto desemprego? Será que as mudanças na forma de produzir têm relação com o aumento ou a diminuição do número de ofertas de emprego? A violência urbana é um problema que se resolve apenas com o aumento do número de policiais nas ruas? Existe relação entre pobreza e violência? Por que o Brasil é um país tão rico com tantos pobres?
Como vimos no capítulo anterior, a sociologia surgiu na Europa como uma resposta intelectual e prática para as transformações na ordem social que as duas “grandes revoluções” provocaram. Era uma resposta intelectual, pois as transformações desafiavam os pensadores a formularem novas explicações para uma nova ordem, sob um olhar científico e racional. Mas era também uma resposta prática, uma vez que as transformações traziam novos problemas concretos à sociedade e era preciso encontrar saídas para tais problemas.
Os pensadores das ciências humanas ficaram como que fascinados com os resultados e os avanços dessas ciências naturais. Como não tinham ainda um método próprio para abordar seu objeto, resolveram adotar o método das ciências naturais. Usando esse método e acreditando no poder transformador da ciência, os primeiros pensadores da realidade social tiveram o seguinte raciocínio: já que a ciência pode transformar a produção de mercadorias, criar novos produtos e novas fontes de energia, ela pode também restabelecer a ordem na sociedade.
	Ciências humanas
	Ciências naturais
	Têm o ser humano e suas relações como objeto de estudo.
Não existe a possibilidade de separação clara entre o objeto de estudo e o pesquisador.
Sociologia, psicologia, geografia humana, história, linguística.
	O objeto de estudo é a natureza.
Existe a possibilidade da separação entre objeto de estudo e pesquisador.
Física, química, biologia, anatomia, fisiologia.
Todas essas peculiaridades e complexidade das ciências humanas ocorrem porque seu objeto é também sujeito do conhecimento (Giddens, 2005; Minayo, 2000; Santos, 1995).
Comte
A primeira denominação que a sociologia recebeu foi a de física social, que está proximamente relacionada com a maneira como os primeiros sociólogos pensavam e viam a sociedade. Eles achavam que a sociedade e os objetos das outras ciências deveriam ser abordados da mesma forma. Defendiam então um mesmo método tanto para as ciências naturais quanto para as ciências humanas. Assim, foi inaugurada uma maneira de conceber as ciências humanas que recebeu o nome de positivismo (Comte, 1983b).
A concepção positivista propôs o estabelecimento de critérios rígidos para a ciência, exigindo que ela se fundasse na observação dos fatos. Por meio dessa observação seria possível descobrir as leis gerais que permitiriam compreender o funcionamento das sociedades e, assim, prever o seu estado futuro. Da mesma forma que o químico poderia prever como se dariam as reações entre elementos químicos depois de descobrir as leis de funcionamento dessas reações, o sociólogo seria capaz também de identificar leis invariáveis de funcionamento da coletividade e prever os acontecimentos com base no entendimento dessas leis.
A metodologia da sociologia deveria comportar a observação, a comparação e a classificação de modo semelhante ao que faziam as ciências naturais e ainda apresentar uma linha evolutiva – filiação histórica – que permitisse conhecer o passado e conduzir ao futuro. Comte via a sociedade e os indivíduos marcados pela limitação dentro das leis naturais da sociedade, as quais deveriam ser conhecidas para se avançar na linha evolutiva (Comte, 1983b).
Além disso, de acordo com a concepção positivista, deve haver a separação entre o objeto e o sujeito pesquisador, bem como a neutralidade da ciência. Pense um pouco sobre essa concepção: seria possível estudarmos a sociedade sem levar em conta aquilo em que acreditamos ou a maneira como a vemos? Pois bem, a concepção positivista acreditava que sim. Assim como o químico estudava as fórmulas e os elementos sem que suas concepções influenciassem no resultado da pesquisa, os pesquisadores sociais também deveriam ter essa postura. Vamos ver mais sobre a maneira como Comte compreendia a sociedade e a sociologia e poderemos entender melhor a sua postura positivista.
	Positivismo
	Postula que a ciência deve se fundar na observação, na comparação e na classificação.
A ciência deve procurar leis gerais de validade universal.
Postula a separação rígida entre pesquisador e objeto de estudo.
Defende a possibilidade de previsão de estados futuros.
Busca a normatização e a ordenação daquilo que estuda.
Tudo aquilo que foge das “leis gerais” pode ser considerado patológico.
O surgimento da sociologia é situado por Comte (1978b) num contexto em que a sociedade apresentava dois movimentos: de desorganização e de organização. Para o autor, a sociedade passava por um momento de profunda desorganização, de anarquia e de instabilidade, cabendo à sociologia – como ciência positiva – restabelecer a ordem, colocando a sociedade novamente no seu caminho “natural” de desenvolvimento, tendo sempre como padrão, é claro, a sociedade europeia.
Na sua obra Curso de filosofia positiva, Comte (1978b) formulou a teoria dos três estágios pelos quais passaria o conhecimento humano até o seu pleno desenvolvimento: o teleológico, o metafísico e o positivo ou empírico. No primeiro estágio, os pensamentos seriam guiados pela fé e pelas crenças, e a sociedade aparece como resultado da vontade divina. No estágio metafísico, a vontade divina como fundamento da sociedade é substituída pelas causas naturais. A causa sobrenatural cede espaço às causas naturais como explicação dos fenômenos. No estágio positivo – último estágio do desenvolvimento do conhecimento humano – a ciência seria a forma de explicação do mundo e da natureza e uma ferramenta de reforma para a sociedade.
No fim de sua carreira, Comte (1978a) propõe o estabelecimento de uma religião da humanidade, pela qual os dogmas e os preceitos da fé seriam substituídos pelos fundamentos científicos. Essa intenção de Comte fica evidente no ensaio que escreve intitulado Catecismo positivista, obra publicada em 1852. Note que Comte não propõe o fim da religião, pois acreditava que ela era uma necessidade do homem e da sociedade. O que ele propõe é uma “religião científica”, e a sociologia estaria no centro dessa religião, pois é ela que pode compreender e reorganizar a sociedade.
Émile Durkheim
· A sociedade que forma o indivíduo.
Os fatos sociais são maneiras de agir, de pensar, de sentir que se impõem aos indivíduos (Durkheim, 1960, 1983a). São dados pela coletividade, pela sociedade. Tais fatos são diferentes dos fatos estudados em outras ciências por terem origem na sociedade, e não na natureza (como nas ciências naturais) ou no indivíduo (como na psicologia). A sociedade aparece como um conjunto de leis, normas, ações, pensamentos e sentimentos que tem a sua existência determinada não pelas consciências individuais, mas fora delas, no meio social. Ou seja, a sociedade é um meio exterior e independente dos indivíduos, e é nesse meio que se encontram os fatos sociais. Daí a importância de sua definição de fato social e das características que estes apresentam, pois somente entendendo suas características poderemos reconhecê-lo e entendê-lo, compreendendo, assim, a sociedade em que vivemos. Vamos então às características dos fatos sociais.
Durkheim (1960) afirma que os fatos sociais têm três características básicas que permitem sua identificação na realidade: a exterioridade, a coercitividade e ageneralidade/coletividade.
Os fatos sociais são exteriores, pois existem fora das consciências individuais. As normas, as regras de conduta não são criadas pelos indivíduos isolados, mas pela coletividade, e os indivíduos já as encontram prontas quando nascem.
Os fatos sociais são coercitivos porque as regras e as condutas sociais se impõem aos indivíduos. Ninguém é obrigado a falar o português culto, mas ignorar essa regra em determinados ambientes é inviável, não existe uma lei que obrigue as pessoas a falar o português correto, mas, se as pessoas vão contra esse “fato”, a coercitividade se revela e faz sentir a sua força (Abel, 1972). Assim, muitas vezes, essa característica só se manifesta quando o indivíduo vai contra o fato social.
Quanto à generalidade/coletividade, Durkheim afirma que os fatos sociais são gerais porque são coletivos, e não o contrário. Ou seja, aparecem nas partes (indivíduo) porque estão no todo (sociedade). Por exemplo, a maioria dos habitantes de um país é de religião católica porque a coletividade assim determina; a explicação está na coletividade. Não se poderia entender esse fenômeno – a maioria dos habitantes de um país ser católica – a partir dos indivíduos, mas somente a partir do coletivo.
Esse processo de educação também recebe o nome de socialização, que nada mais é do que o processo de aprender a ser membro de uma sociedade. 
Outro conceito importante de Durkheim (1960, 1983a) é o de consciência coletiva. Esta constitui um sistema de representações coletivas independente dos indivíduos. Ela é formada pelo conjunto de normas, leis, gostos, hábitos, modos de agir, de pensar e de sentir, que são coletivos. É importante entendermos que o fundamento, a origem deste conjunto de elementos, é o meio social (Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002). É no coletivo que esses elementos se originam e daí vão para os indivíduos. Assim, a consciência coletiva não se refere apenas à reunião das consciências individuais num todo. A consciência é coletiva pois tem como substrato o social, o coletivo, e não o indivíduo. É como se a consciência coletiva pairasse sobre a sociedade como uma “nuvem” que fornecesse aos indivíduos os modos de pensar, de agir e de sentir, os hábitos e as maneiras de fazer, de entender e de falar.
Com base nessa leitura, a própria noção de individualidade que temos hoje é propiciada pelo meio social. Um cidadão só será flamenguista, de esquerda, alfabetizado, gostará de lasanha, porque o meio social lhe dá – ou impõe – essas alternativas para construir sua individualidade.
Dentro de sua orientação metodológica, Durkheim propõe tratar os fatos sociais como “coisas”. E tratá-los como “coisas” significa tratá-los como objetos do conhecimento que a percepção humana não penetra de modo imediato, necessitando do auxílio da ciência (Aron, 2003; Quintaneiro; Barbosa; Oliveira, 2002; Abel, 1972). Abordar os fatos sociais dessa maneira significa ter com eles um procedimento de análise diferente do senso comum. Com isso, Durkheim enfatiza a posição de neutralidade e objetividade que o pesquisador deve ter em relação à sociedade: ele deve descrever a realidade social sem deixar que suas ideias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais. É possível perceber, então, uma influência positivista nas reflexões de Durkheim.
Durkheim (1983a) faz uma distinção entre sociedades tradicionais e sociedades modernas. As sociedades tradicionais apresentam pouca diferenciação entre os indivíduos e pouca divisão do trabalho. Ou seja, os indivíduos são muito parecidos uns com os outros. Por exemplo, numa tribo indígena, todos os homens sabem caçar, pescar e cultivar a terra. Da mesma maneira, todas as mulheres sabem cuidar dos filhos, têm a capacidade de realizar trabalhos em argila e preparar os alimentos. Não existe alguém que seja especialista em uma só função, pois a divisão do trabalho é pouca. Já as sociedades modernas apresentam uma grande divisão do trabalho e muita diferenciação entre os indivíduos. Repare a nossa sociedade: quantas profissões e especializações existem? Inúmeras, e os indivíduos são muito diferenciados.
Segundo Durkheim (1983a), nas sociedades mais simples o sentimento de pertença ao grupo é muito maior, pois a consciência coletiva é mais forte. Ou seja, os imperativos sociais – normas, leis, modos de agir, de pensar e de sentir do grupo – se impõem com muito mais força ao indivíduo, sobrando pouco espaço para interpretações individuais. Nas sociedades modernas e industrializadas existe uma margem maior para interpretação individual dos imperativos sociais e um enfraquecimento da consciência coletiva. Mas como explicar essa diferenciação entre as sociedades sem apelar para a diferença entre os indivíduos? Como explicar essa diferença com base no social?
Pois bem, para o autor, o meio social é produzido pela cooperação entre os indivíduos, por meio de um processo de interação que chamou de divisão do trabalho social (Durkheim, 1960, 1983a). Conforme o tipo de divisão do trabalho que predomina numa sociedade em determinada época, temos um tipo de cooperação entre os indivíduos. Nas sociedades simples, em que existe pouca divisão do trabalho, prevalece a solidariedade mecânica, baseada na semelhança entre os indivíduos; por isso existe pouca divisão do trabalho. Nesse tipo de sociedade, a consciência coletiva é forte porque os indivíduos são pouco diferenciados entre si, e podemos dizer que a sociedade é mais coesa. Nas sociedades em que existe uma grande divisão do trabalho, prevalece a solidariedade orgânica, baseada na diferenciação entre os indivíduos. A coesão da sociedade é dada pela dependência que cada indivíduo tem dos outros (Abel, 1972). Nesse caso, a consciência coletiva é mais fraca, deixando uma margem maior para a interpretação grupal ou individual dos imperativos sociais. Assim, paradoxalmente, a mesma divisão do trabalho que serve para manter a sociedade coesa ao fazer com que cada indivíduo dependa dos outros, também faz com que a ordem social seja ameaçada pelo individualismo que produz.
	Sociedades tradicionais
	Sociedades modernas
	Solidariedade mecânica
	Solidariedade orgânica
	Pouca divisão do trabalho.
Pouca especialização.
A consciência coletiva é forte.
Baixa densidade populacional.
Indivíduos são muito “semelhantes”.
	Muita divisão do trabalho.
Muita especialização.
A consciência coletiva é mais fraca.
Alta densidade populacional.
Os indivíduos são mais diferenciados
De forma simplista, os dois tipos de solidariedade correspondem a dois tipos de formas jurídicas. À solidariedade mecânica corresponde o direito repressivo, que pune as faltas ou crimes. À solidariedade orgânica corresponde o direito restitutivo ou cooperativo, que repõe a ordem quando uma falta foi cometida e organiza a cooperação entre os indivíduos.
No direito repressivo, ou seja, nas sociedades de solidariedade mecânica, os fatos considerados crime são aqueles que ferem a consciência coletiva, que violam um imperativo social. A finalidade do castigo, em uma interpretação sociológica, não é prevenir ou dissuadir alguém de cometer o crime, mas reparar a consciência coletiva, ferida pelo ato criminoso. O direito repressivo pode ser exemplificado pelo pecado. O pecado é uma falta individual, mas, sobretudo, é uma falta contra as regras estabelecidas pelo todo, que é a Igreja. Ao pedir o perdão do pecado, o que é reparado é a falta contra a regra que foi burlada. Ou seja, é uma questão de reparar a consciência coletiva, retomar as regras estabelecidas que mantêm as pessoas unidas e pertencentes à religião. A punição é aplicada por causa da regra ferida, e não necessariamente por causa do indivíduo (Durkheim, 1983a; Aron, 2003).
No direito restitutivo, ou seja, nas sociedades de solidariedade orgânica, não se trata de punição e de reparação à consciência coletiva, mas de restabelecer a ordem das coisas e constituir uma forma de organização da coexistência regular e ordenada de indivíduos já diferenciados. Nesse caso, a lei e a punição agirão no sentido de manteros indivíduos em consenso. O que exige reparação não é necessariamente a consciência coletiva: mas sim o acordo entre indivíduos diferentes para que a ordem seja restabelecida
Durkheim preocupava-se com essa falta de laços que prendam o indivíduo à sociedade. Como já foi dito, ele chamava isso de anomia, que levaria, segundo sua concepção, à desintegração da sociedade. Ele entendia que faltava à coletividade uma ordem moral que permitisse à sociedade sobreviver e conservar os laços que mantêm os indivíduos unidos em um coletivo.
Como, porém, restaurar a ordem na sociedade, fortalecendo os laços de pertencimento ao grupo? Para Durkheim (1962), a forma possível de restaurar a integração do indivíduo ao grupo é por meio da educação. Nesse sentido, a educação está investida de um sentido de educação moral, pois assume a condição de elemento fundamental na preservação da coesão social.
Para Durkheim (1962), aprender a ser médico ou professor, ou qualquer outra profissão, não é somente aprender uma técnica ou uma teoria, mas aprender a agir como a sociedade espera que essas pessoas ajam.
O indivíduo apresenta, então, “maneiras de ser” comuns a todos, e “maneiras de ser” específicas suas ou do seu grupo social. Por isso, Durkheim (1962) afirma que a educação é ao mesmo tempo homogeneizadora e diferenciadora. É homogeneizadora porque deve perpetuar certos valores comuns à sociedade e diferenciadora porque deve preparar as pessoas para os vários meios morais aos quais elas se destinam. Não seria possível existir sociedade moderna sem a homogeneidade, muito menos sem a diferenciação. As pessoas precisam ter certas concepções, valores e ideias em comum, mas também outros que sejam específicos de seus grupos.
A sociologia de Karl Marx
 Ele considera a dinâmica social como portadora de uma ordem evolutiva, como faz Comte (1978a, 1978b, 1978c, 1978d, 1983a, 1983b). Ou seja, as sociedades evoluiriam seguindo uma linha (Sztompka, 2005). Assim, Marx (1968; 1978) entende que o homem e a sociedade que analisa são produtos de um homem e de uma sociedade anteriores.
Pois é isso mesmo! Segundo Marx, a contradição, a união de elementos opostos, é a condição para a realidade se concretizar. Pensemos no processo educativo para ilustrar essa questão. Podemos dizer que a educação está baseada na contradição. Alunos e professores são diferentes, pois têm em si elementos opostos. O professor possui algo que o aluno não tem, e o aluno deseja alcançar aquilo que ele ainda não é. Mas, para que a educação e a transmissão de saberes aconteçam que, esses dois sujeitos que apresentam elementos contrários – aluno e professor – entram em relação e produzem uma nova realidade, que não existiria se eles não se relacionassem. É, então, dessa maneira que Marx vê a contradição como um elemento essencial da realidade social e do capitalismo. 
Contradições básicas do capitalismo
	Desenvolvimento das forças produtivas
×
Relações de produção (relações de
propriedade e de distribuição
de renda)
	Crescimento da riqueza
×
Aumento da miséria
As forças produtivas são formadas pelos meios de produção e pelo trabalho humano. É assim tudo aquilo que a sociedade utiliza para produzir os bens necessários à sobrevivência das pessoas. Por exemplo, durante a escravidão no Brasil, a forma de energia utilizada era a energia animal, e a mão de obra era escrava. Durante a Revolução Industrial, na Europa, era utilizada a energia a vapor e a mão de obra era assalariada. Atualmente, as formas de energia utilizadas são várias – elétrica, nuclear – e a mão de obra também é assalariada em sua maioria. Temos ainda as tecnologias, como a microeletrônica, a tecnologia digital, os melhoramentos genéticos. Enfim, as forças produtivas constituem todas aquelas forças, meios, técnicas e formas que a sociedade utiliza para produzir aquilo de que necessita.
Já as relações de produção, constituídas pelas relações de propriedade e de distribuição, referem-se às formas de distribuição das propriedades e dos bens na sociedade (Marx, 1968). Como exemplo, vamos voltar novamente ao período da escravidão. Lá, as relações de propriedade estavam organizadas de tal maneira que os escravos não possuíam nada, e tudo aquilo que produziam pertencia ao senhor. Na sociedade capitalista analisada por Marx (1968, 1978), os trabalhadores são proprietários da sua força de trabalho, enquanto os burgueses são proprietários dos meios de produção. Para sobreviver, os trabalhadores – ou proletários – alugam a sua força de trabalho aos burgueses – ou capitalistas –, recebendo em troca um salário.
É importante termos em mente que a obra de Marx não se encaixa facilmente no arcabouço teórico de uma única ciência (Lefebvre, 1979). De certa forma, esse pensador não buscou fazer sociologia, economia política, filosofia ou história; apesar de sua obra conter todas essas ciências, o que Marx pretendeu foi compreender a gênese do homem social por meio do materialismo histórico. Ou seja, ele queria compreender como o homem se forma em sociedade com base na análise da maneira como essa sociedade produz os bens necessários à sua sobrevivência.
Vamos pensar em um produto qualquer para entendermos um pouco melhor essa concepção. Por exemplo, como foi produzida a cadeira que você utiliza em sua casa ou no escritório? Por um trabalho voluntário, por um trabalho assalariado ou por um trabalho escravo? O material empregado para produzi-la pertencia a quem? Era de propriedade particular, foi retirado diretamente da natureza durante um ritual religioso ou foi produzida com um novo material, fruto das inovações tecnológicas? Perceba que todas essas questões remetem ao nível de desenvolvimento das forças produtivas e às relações de propriedade e de distribuição. Assim, as formas como os homens produzem a materialidade de que necessitam condicionam a forma como vivem (Marx, 1978). Veremos isso em mais detalhes quando estudarmos a relação entre a estrutura e a superestrutura.
Marx (1968, 1978) visava ao conhecimento de uma totalidade – a sociedade capitalista –, e o cerne da busca por essa totalidade está na relação entre o homem e suas obras. Em certo sentido, a pretensão de Marx se assemelha à de Durkheim, ou seja, descobrir as leis gerais que movem a sociedade. Para chegar ao entendimento da sociedade capitalista, Marx empreende a busca por essa “lei geral” que rege a sociedade. E julga tê-la encontrado. Para ele, o que move a história é a luta de classes.
Para entender a concepção materialista da história e de como a luta de classes é o motor da história, é preciso entender a concepção de trabalho em Marx
O trabalho é a interação do homem com a natureza para prover sua sobrevivência. É mediante o trabalho que o homem transforma a natureza e produz a materialidade, isto é, todos os objetos de que necessita, como alimentos, ferramentas, casas, mesas, carros, computadores. Ao produzir materialmente a sua sobrevivência transformando a natureza, o homem transforma-se a si próprio e a totalidade da qual faz parte. Como podemos perceber, o trabalho não se dá de maneira individual e isolada na luta do homem com a natureza, mas dentro de determinadas relações, “necessárias, independentes de sua vontade”, com outros homens (Marx, 1978). Em outras palavras, para viver, o homem precisa inicialmente transformar a natureza e nessa transformação estabelece um conjunto de relações sociais, organizando de modo específico o trabalho e a propriedade. Instituem-se, assim, formas de propriedade, de distribuição de divisão do trabalho, que são as relações sociais de produção. O conjunto destas constitui a estrutura econômica da sociedade e é a base real que condiciona todo o conjunto da sociedade. Sobre essa estrutura econômica se estabelece uma superestrutura jurídica e política, a que correspondem determinadas formas de consciência, pelas quais os homens tomam conhecimento de toda a sociedade. Assim, o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e intelectual em geral. Dessa forma, não é possívelentender a política ou a cultura de determinada época sem entender a relação básica (econômica) que condiciona todo o conjunto da sociedade. 
Ao se transformarem, os modos de produzir transformam toda a sociedade. Assim, a história da humanidade é a história dos modos de produção. Segundo Marx, podemos pensar basicamente em três modos de produção vigentes ao longo da história: o modo de produção escravista antigo, o modo de produção feudal e o modo de produção capitalista (Sell, 2002).
E é claro que cada um desses modos de produção tem níveis próprios de desenvolvimento das forças produtivas e diferentes formas de organização da propriedade e de distribuição. As forças produtivas e as relações de propriedade e de distribuição respondem às perguntas: Como produzem? O que utilizam para produzir? Quem possui o quê? Como a produção é distribuída? No modo de produção escravista antigo, as propriedades são dos senhores, e os escravos produzem as mercadorias necessárias. É importante ressaltar que os escravos também são de propriedade do senhor. E é isso que caracteriza os escravos: não ter a propriedade nem do seu corpo.
Assim, no modo de produção feudal, existem senhores e servos. Diferentemente dos escravos, os servos não são de propriedade dos senhores. Apenas o meio de produção é de propriedade do senhor, que no caso do feudalismo é basicamente a terra. O servo pertence à terra e serve ao senhor, por meio de uma trama de fidelidades e obrigações entre os dois. Existe uma relação de servidão, e não de escravidão. No modo de produção capitalista, os meios de produção pertencem ao capitalista, os trabalhadores possuem a força de trabalho, e o trabalho é assalariado. O capitalista compra a parte da força de trabalho de que necessita (Aron, 2003).
A classe social define-se a partir da inserção dos indivíduos na produção da vida material, ou seja, o que os indivíduos são no momento do trabalho, se são escravos ou senhores, trabalhadores ou patrões. Com base nessas inserções, teremos uma determinada posição em relação às formas de propriedade. O escravo não tem propriedade alguma e o senhor tem a propriedade dos meios de produção e dos escravos. Os trabalhadores têm como propriedade a sua força de trabalho e o patrão tem a propriedade dos meios de produção.
Antes, o trabalho era executado do começo ao fim por um só artesão, e na fábrica ficou dividido. Vários trabalhadores passaram a executar parcelas de um mesmo processo de trabalho. O trabalhador transformou-se no que Marx (1968) chama de trabalhador parcial. Na divisão do trabalho que ocorre na fábrica, as várias operações que formam o processo de trabalho são separadas umas das outras e atribuídas a trabalhadores diferentes. Assim, quando o capitalista divide o processo de trabalho em etapas, retira esse processo do controle do trabalhador e o reconstitui sob seu poder.
Para Marx (1978), o capitalismo é um modo de produção que contrasta com os demais modos de produção da história. Sua especificidade está em produzir mercadorias visando à acumulação e à reprodução da riqueza social, assegurando os meios para a apropriação privada da riqueza por aqueles que são proprietários dos meios de produção.
Ideologia é o conjunto de representações características de uma época e de uma sociedade, produzidas pela prática social. Contudo, segundo Marx, essas representações não correspondem à realidade tal qual ela é; elas são, sim, uma aparência da realidade. A ideologia é como uma “cortina de fumaça” que distorce a visão que os homens têm da realidade (Aron, 2003; Sell, 2002; Bottomore, 2001).
É mais ou menos isso que Marx (1978) quer dizer quando afirma que a consciência que os homens têm não corresponde às reais condições que se apresentam na vida social. Diz ele ser necessário distinguir as transformações materiais das condições econômicas de produção das formas pelas quais os homens tomam consciência da realidade. Contudo, A consciência que os homens têm dessas relações, segundo Marx, não condiz com as relações materiais que de fato vivem. As ideias, as concepções sobre como funciona o mundo são representações que os homens fazem a respeito de suas vidas, do modo como as relações aparecem na sua experiência cotidiana. Essas representações são, portanto, aparência. Para Marx essas representações implicam, num primeiro momento, uma falsa consciência, uma consciência invertida, pois se prendem à aparência e não são capazes de captar a essência das relações às quais os homens estão de fato submetidos.
Ou seja, a maneira como as coisas acontecem concretamente é diferente da maneira como os homens percebem esses acontecimentos. Vamos tomar emprestado um exemplo da ótica para entendermos melhor essa ideia. Observe a figura a seguir. As retas A e B na realidade têm o mesmo tamanho. No entanto, o que percebemos é que a reta A é menor do que a reta B. Pegue uma régua, meça as duas retas e você verá que elas têm o mesmo tamanho. Ou seja, o que percebemos não corresponde à realidade tal qual ela é.
Quando a base econômica se transforma, passa a ocorrer uma mudança em toda a superestrutura social, com suas formas jurídicas, intelectuais e culturais (Aron, 2003; Sell, 2002). É dessa forma que Marx (1968, 1978) afirma que a luta de classes é o motor da história, pois é ela que faz a história se desenvolver ao transformar o modo de produção. Podemos perceber como a maneira pela qual os homens produzem a sua materialidade condiciona toda a vida social. É isso que Marx chama de materialismo histórico ou concepção materialista da história.
Na produção social da própria vida, os homens contraem relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suas forças produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política, e à qual correspondem formas sociais de consciência. O modo de produção da vida material condiciona o processo em geral da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, ao contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência.
As classes sociais estão em constante conflito, sempre numa relação de oposição e complementaridade. Entretanto, a análise de Marx mostra que em determinado momento os conflitos já não podem mais ser resolvidos. Ocorre uma contradição muito grande entre o desenvolvimento das forças produtivas e as relações de produção e de distribuição. Existe, então, a necessidade de mudança, de se estabelecerem novas relações de propriedade e de distribuição. Os modos de produção se transformam mediante a oposição entre os dois principais grupos (ou classes sociais) que compõem a sociedade. Assim, o modo de produção escravista se transforma e dá origem ao modo de produção feudal. Este, por sua vez, se transforma e dá origem ao modo de produção capitalista, que também irá se transformar e originar outro modo de produção.
Pelo materialismo histórico, a maneira como os homens produzem a materialidade do mundo condiciona a vida social. As grandes transformações são as transformações na forma de produzir – estrutura econômica –, que, por sua vez, transformam toda a sociedade.
Aqui entra em cena o conceito de ideologia de Marx (1978). A ideologia designa um conjunto de representações características de uma época e de uma sociedade. Essas representações são produzidas pela prática social em estruturas sociais e modos de produção determinados (Mészaros, 2006). Porém, essa prática social produz representações que são aparências da realidade. A ideologia seria, então, uma falsa representação da realidade, uma representação errônea da história. A consciência que o homem como ser consciente possui reflete uma forma que ele não é.
Assim, o capitalismo é a história da expropriação - Expropriação: desapropriação, ação de retirar algo da posse de alguém -. do trabalhador, que, com isso, fica dependentedo capitalista. O trabalhador atual, segundo Marx (1968, 1978), não percebe que foi expropriado do seu saber, pois essa relação se dá de forma encoberta pela ideologia. O trabalhador vê como “normal” o fato de trabalhar, receber um salário no final do mês e não ser dono daquilo que produz nem dos meios que utiliza para produzir, enquanto o capitalista fica com o lucro da produção. O trabalhador é separado do saber do seu trabalho e também do resultado dele, mas não percebe sua condição. Marx chama esse trabalho de alienado.
Como consequência dessa forma de trabalho, os homens adquirem uma falsa consciência da realidade em que estão inseridos. Eles veem a dominação a que estão submetidos como um fato natural, como se sempre fora assim. Essa falsa consciência é fornecida pela superestrutura jurídica e política e obriga os homens a se comportarem de determinada maneira, como se fosse a sua própria vontade. E essa é outra característica do capitalismo: o dominado pensar com a cabeça daquele que o domina, pois o trabalhador acha justo que o capitalista se aproprie do fruto do trabalho enquanto ele recebe apenas o salário (Rodrigues, 2004).
O salário representa apenas uma parte da riqueza que o trabalhador produz; o resto da riqueza é apropriada pelo capitalista na forma daquilo que Marx (1968) chama de mais-valia.
No sistema capitalista, o trabalhador é, dessa maneira, alguém que confere valor, ou o que Marx (1968) chama de força de trabalho. Ele é assim denominado porque não planeja mais o que vai produzir, não tem mais o saber sobre o trabalho, não possui os meios de produção nem é dono daquilo que produz. Apenas confere valor aos produtos ao utilizar os meios de produção do capitalista. O homem trabalhador se esvazia de sua humanidade e passa a ser apenas força de trabalho. Por outro lado, as mercadorias que produz como que “adquirem vida”. Mas como isso é possível?
Da seguinte maneira: Marx diz que as relações que se estabelecem nas trocas dos valores de uso não se dão entre aqueles que produzem e aqueles que necessitam de um produto qualquer. Isso porque o produto não pertence àquele que o produziu; logo, a relação não se dá entre os produtores das mercadorias, mas entre as mercadorias. No sistema de corporações, era o próprio mestre artesão que vendia seu produto a outra pessoa. No capitalismo, a mercadoria é vendida no mercado e já não tem mais nenhuma relação com quem a produziu. Uma cadeira passa a ser igual a um valor em uma determinada moeda. A isso Marx chama de fetichismo da mercadoria e reificação do homem. Ou seja, as mercadorias criam vida, e o homem se torna uma “coisa”, um objeto, a força de trabalho que confere valor à mercadoria.
A mercadoria é misteriosa simplesmente por encobrir características sociais do próprio trabalho dos homens, apresentando-as como características materiais e propriedades sociais inerentes aos do trabalho; por ocultar, portanto, a relação social entre os trabalhos individuais dos produtores e o trabalho total, ao refleti-la como relação social existente, à margem deles, entre os produtores do seu próprio trabalho [...]. Uma relação social definida estabelecida entre os homens assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisa [...]. Chamo a isto de fetichismo, que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como mercadorias.
SARAMAGO, J. Coisas. In: _____. Objeto quase: contos. São Paulo: Cia das Letras, 1994.
MORAES, V. de. Operário em construção. In: _____. Antologia poética. São Paulo: Cia das Letras, 1992.
CAP 4 - Weber
	Racional com relação a fins
	Racional com relação a valores
	Afetiva
	Tradicional
	O ator age racionalmente, selecionando e utilizando os meios mais adequados para alcançar o fim desejado.
	O ator age racionalmente, com base em um valor, para alcançar o fim desejado. O valor pode ser estético, moral ou religioso.
	O ator age emotiva e emocionalmente para alcançar o fim desejado. Pode ser considerada “irracional”.
	O ator age com base na tradição e nos costumes para alcançar o fim pretendido.
	Agir em comunidade
	Agir em sociedade
	Tem por base expectativas e probabilidades. O ator baseia o seu agir esperando que o outro se comporte de determinada maneira.
	Tem por base regulamentos e normas sociais vigentes. O ator baseia o seu agir nas regras estabelecidas.
	Carismática
	Tradicional
	Racional-legal
	Baseia-se em um poder mágico, religioso. O líder carismático encarna um herói, um salvador.
	Baseia-se em um poder herdado na tradição. O líder tradicional governa por uma “herança”.
	Baseia-se na legitimidade das leis e na posição que os indivíduos ocupam na estrutura burocrática.
O indivíduo em sociedade
A sociedade impõe a nós – à semelhança do fato social de Durkheim – as regras, os padrões e as normas que ela possui. Mesmo nas nossas funções fisiológicas existe “a mão da sociedade”, regulando e colocando regras.
Essa imposição dos padrões sociais, das regras, das normas e dos valores da sociedade e sua assimilação pelo indivíduo recebem o nome de processo de socialização (Berger; Berger, 1977b).
Vejamos um exemplo da imposição dos padrões sociais nas funções fisiológicas entre os membros de uma sociedade e, ao mesmo tempo, relativizemos essa noção.
O uso do banheiro é um exemplo de como as funções fisiológicas são submetidas aos padrões de conduta social. Na nossa sociedade existe a preocupação em ensinar as crianças a usar o banheiro. Ele é o local específico para realizar as necessidades fisiológicas. O aprendizado para seu uso acontece quando ainda somos crianças. Se nos distanciarmos um pouco daquilo que consideramos “natural” – o uso do banheiro –, poderemos perceber como esse aprendizado é um tanto rígido. A criança aprende a ir ao banheiro forçada pela mãe ou pelo pai e pode ser alvo de medidas punitivas se não realizar a tarefa com sucesso. Imagine o que aconteceria a uma criança de 6 anos de idade que começasse a frequentar a escola e ainda não soubesse usar o banheiro. Provavelmente seria discriminada ou pelo menos se tornaria alvo de brincadeiras dos colegas. Nesse caso, poderíamos dizer que a socialização é um processo extremamente rígido, mas necessário.
Por outro lado, quanto à alimentação, por exemplo, a socialização não configura um processo de aprendizado tão rígido.
Vamos recorrer a outro contexto social, apresentado por Berger e Berger (1977b) a respeito desses dois elementos: o uso do banheiro e a alimentação. No exemplo a seguir, serão apresentadas as práticas de um grupo étnico do Quênia, os gusii. Vejamos primeiro as práticas alimentares da criança nessa sociedade:
Os gusii não conhecem qualquer horário de alimentação. A mãe amamenta a criança toda vez que esta chora. De noite, dorme nua sob uma coberta, com a criança nos braços. Na medida do possível a criança tem acesso ininterrupto e imediato ao seio materno [...].
Mas existem outros aspectos das práticas alimentares dos gusii que nos impressionam por um ângulo totalmente diverso. Poucos dias após o nascimento, a criança passa a receber um mingau como complemento alimentar ao leite materno. Segundo indicam os dados de que dispomos, a criança não demonstra muito entusiasmo por esse mingau. Mas isso não lhe adianta nada, pois é alimentada à força. E a alimentação à força é realizada duma maneira bastante desagradável: a mãe segura o nariz da criança. Quando esta abre a boca para respirar, o mingau é empurrado dentro da mesma. (Berger; Berger, 1977b, p. 202)
O processo de socialização é acompanhado do processo de interiorização. Eles são indissociáveis; sem a interiorização não existe socialização. A interiorização ocorre quando os significados, os valores e as normas do mundo social são interiorizados na consciência dos indivíduos; aquilo que anteriormente era experimentado fora da consciência passa a fazer parte dela. Com a interiorização o indivíduo começa a se identificar com as normas sociais e as toma como suas. A criança que sempre ouve sua mãe dizendo para não se sujar, cresce e se torna um adulto que não mais necessitade uma voz externa que o lembre dessa regra, pois ela passa a fazer parte dele. 
A identidade refere-se à forma e aos elementos que possibilitam uma compreensão sobre o que o indivíduo é e sobre o que é significativo para ele. É dada por essas formas de compreensão e significação e é formada com a exclusão de outras formas de compreensão e significação. Assim, a identidade diz ao mesmo tempo sobre o que o indivíduo é e sobre o que ele não é (Giddens, 2005).
	Socialização primária
	Socialização secundária
	Ocorre na infância, quando a criança aprende a língua, os padrões básicos de comportamento, as posturas corporais. O principal agente de socialização é a família.
	Ocorre a partir da infância, com o contato com outros agentes de socialização, como a escola, o trabalho, o grupo de iguais, a mídia.
A socialização é, então, o processo de aprender a ser membro da sociedade, adquirindo todos os elementos mencionados anteriormente; nada mais é então do que adquirir cultura (Berger; Berger, 1977b). A antropologia é o ramo das ciências sociais especializado no estudo da cultura.
A cultura
Na sociologia, cultura se refere a um sistema de símbolos e significados, compartilhados por membros de uma sociedade, que torna possível a vida em comum. Compreende todos aqueles elementos que fazem parte do processo de socialização: os gostos, os gestos, os sentimentos, os hábitos, as tradições, as maneiras. A cultura compreende tanto aspectos materiais – objetos, símbolos, tecnologia – quanto aspectos imateriais – crenças, hábitos, ideias e valores (Giddens, 2005; Johnson, 1997).
Assim, muito daquilo que sentimos, pensamos e fazemos nos é fornecido pela cultura. Quando afirmamos isso, não estamos considerando um ato de forma isolada, sem nenhum significado. Uma pessoa que faz uma oração na sua casa o faz porque aquilo tem um sentido para ela e para outras pessoas. Desse modo, no conceito de cultura, é importante ressaltar o aspecto do compartilhamento. Cultura sempre se refere a aspectos, significados, valores e símbolos compartilhados.
Os padrões de comportamento de uma cultura são sempre estranhos às pessoas que dela não compartilham. Essa disposição exacerbada pode desembocar no etnocentrismo. O etnocentrismo é a tendência em julgar as outras culturas pelo próprio padrão cultural, comparando-as, ou ainda a tendência em considerar determinada cultura a mais correta ou a melhor (Laraia, 1993). Um caso extremo de etnocentrismo foi o massacre dos judeus na Segunda Guerra Mundial, quando os alemães se consideravam uma raça superior e os judeus, uma raça inferior, impura. O etnocentrismo abre caminho para a intolerância com as diferenças, para o racismo e as várias formas de preconceito.
Outro ponto problemático em relação às formas de ver as diferentes culturas se refere ao evolucionismo. O antropólogo britânico Eduard Burnett Tylor (1832-1917) tinha uma concepção evolucionista a respeito da cultura, considerando que existiria uma linha de evolução que explicaria o desenvolvimento da humanidade. Segundo essa concepção, todas as culturas passariam pelos mesmos estágios, até atingir o ápice da sua evolução. Isso possibilitaria hierarquizar as culturas, colocando-as numa escala que iria da menos evoluída até a mais evoluída. O problema dessa concepção é que não podemos julgar o aparato cultural de uma sociedade ou grupo, pois sempre estaremos julgando pelos nossos padrões culturais. O evolucionismo considerava a cultura europeia a mais desenvolvida, e isso abriu caminho para a exploração de outros povos considerados menos desenvolvidos, bem como para a imposição de padrões culturais europeus, que seriam os mais corretos (Laraia, 1993).
	Etnocentrismo
	Evolucionismo
	É a tendência em julgar a própria cultura como a mais correta ou a melhor e julgar as outras por um parâmetro estabelecido a partir da sua.
	É a concepção segundo a qual existe uma linha evolutiva entre as culturas, o que permite traçar uma escala da cultura menos evoluída para a mais evoluída.
Para a sociologia, as instituições sociais são formas de organização estáveis, baseadas em regras e regulamentos padronizados, que não precisam ser escritos em forma de leis, mas que são socialmente reconhecidos e aceitos. Têm a função de manter a organização do grupo e satisfazer as necessidades dos indivíduos. Além disso, servem como elementos de regulação e controle das atividades dos membros da coletividade (Berger; Berger, 1977a).
O conceito de instituição social se aproxima muito do conceito de fato social de Durkheim. Podemos mesmo afirmar que as instituições sociais são fatos sociais cristalizados. Berger e Berger (1977a) definem cinco características fundamentais das instituições sociais. São elas: a exterioridade, a objetividade, a coercitividade, a autoridade moral e a historicidade. Analisar cada uma das cinco características das instituições sociais nos ajudará a retomar o que já foi dito sobre os fatos sociais no capítulo 2.
As instituições sociais são exteriores porque possuem uma realidade exterior, encontram-se fora dos indivíduos. Sua existência é independente da existência dos indivíduos. Tal característica se assemelha à de um objeto físico. Entretanto, temos de ter cuidado com as generalizações. As instituições sociais não são necessariamente físicas, como uma empresa ou uma prisão.
A segunda característica das instituições sociais – a objetividade – é uma reafirmação da primeira. As instituições sociais existem de fato na realidade e de determinada maneira. Por exemplo, o casamento monogâmico é uma instituição social. Todos sabem que existe e como deve ser. Ou seja, existe uma maneira “correta” de casar, que é aceita pelos membros de uma sociedade.
Da mesma forma que os fatos sociais, as instituições sociais são dotadas de coercitividade, ou seja, exercem um poder de coerção sobre os indivíduos, que muitas vezes só se manifesta quando eles vão contra as regras e as normas estabelecidas pela instituição.
A quarta característica das instituições sociais é a autoridade moral. Sua legitimidade lhes reserva o direito de repreender os indivíduos que infringirem suas normas. O grau de repreensão varia de instituição para instituição. O Estado, por exemplo, pode punir quem infrinja as regras estabelecidas por ele.
A última característica das instituições sociais é sua historicidade. Todas elas possuem uma história. Ao longo do tempo, consolidam suas regras, regulamentos e valores, que permanecem mesmo depois de os indivíduos que colaboraram na sua elaboração desaparecerem. Outro ponto importante da historicidade das instituições e que as torna semelhantes aos fatos sociais refere-se ao fato de que os indivíduos, ao nascerem, já encontram prontas as instituições e que elas continuam a existir depois da morte destes.
Outro exemplo pode ajudar a entender melhor o conceito de instituição social: a língua falada por um povo. É importante ressaltar que não estamos falando de gramática, mas de linguagem. O fato de não conhecer a gramática de uma língua não significa que o indivíduo não consiga dominá-la como falante.
Assim, a língua é uma forma estável baseada em regras e regulamentos e apresenta uma historicidade. Foi construída ao longo do tempo e já se encontra pronta quando os indivíduos nascem, permanecendo quando eles morrem. Apesar de ser possível considerar que o indivíduo de um país possui sua língua, ela tem uma existência fora dele. Isso se percebe pelo fato de que ela foi aprendida por meio da socialização e por isso é também objetiva. A língua exerce ainda um poder de coerção sobre o indivíduo: aquele que não se expressa de acordo com a língua exigida por seu grupo social pode sofrer sanções, que vão de simples recriminações a medidas punitivas. Por exemplo, o imigrante que continua a usar a língua do grupo social ao qual pertencia pode sofrer discriminação pela forma como fala. Isso não significa que esteja cometendo um erro, mas que a língua reconhecida como legítima é outra. Assim, pode sofrer a punição da discriminação, o que revela aautoridade moral de uma língua.
Outros exemplos de instituições sociais são a família, a Igreja, o casamento monogâmico, pois todas elas apresentam as características básicas que as definem como tal.
A sociologia e a sociedade contemporânea 
O trabalho na fábrica
A divisão manufatureira do trabalho refere-se ao fracionamento do ofício, dividindo-o em várias etapas executadas por trabalhadores diferentes. Vamos pensar, por exemplo, no ofício do sapateiro. Com a divisão manufatureira, as várias etapas da produção de um sapato são divididas e executadas separadamente. Um trabalhador irá cortar o couro, outro irá costurar, outro irá pregar a sola etc. Isso é a divisão manufatureira do trabalho.
Tal divisão é distinta daquela que se dá na sociedade, chamada divisão social do trabalho, em que os homens se encontram em ofícios, ocupações ou profissões (Marx, 1968; Braverman, 1987). Nos ofícios ou profissões os homens ainda podiam exercer e construir sua individualidade, criatividade e humanidade no ato de trabalho. Mas, quando o trabalho passou a ser dividido na fábrica, o ofício ou profissão foi substituído como elemento central da organização do trabalho pelas parcelas desse ofício ou profissão. As várias operações que formavam o processo de trabalho foram separadas umas das outras e atribuídas a trabalhadores diferentes. Assim, quando o capitalista dividiu o processo de trabalho em etapas, retirou esse processo do controle do trabalhador e o reconstituiu sob seu poder. A divisão manufatureira do trabalho abriu caminho, então, à desespecialização do trabalhador. Isso fez com que, além de obter ganhos de tempo na execução do conjunto das tarefas, ocorresse o aumento da produtividade.
A organização industrial racional, orientada para um mercado real, e não para oportunidades políticas ou especulativas de lucro, não é, entretanto, a única criação particular do capitalismo ocidental. A moderna organização racional da empresa capitalista não teria sido viável sem a presença de dois importantes fatores de seu desenvolvimento: a separação da empresa da economia doméstica, que hodiernamente domina por completo a vida econômica, e, associado de perto a este, a criação de uma contabilidade racional.
Até aqui podemos vislumbrar o seguinte quadro: os trabalhadores reunidos na fábrica, tendo seus trabalhos divididos pela divisão manufatureira e submetidos a uma racionalidade que até então não conheciam. Entretanto, mesmo nesse novo quadro, o controle ainda é aplicado somente ao trabalhador. Ainda não existe o controle sobre o trabalho. Esse aspecto só será observado com a gerência científica. É o que veremos no próximo tópico.
A gerência científica: o taylorismo e o fordismo 
Quando Taylor propôs e sistematizou seus princípios de organização do trabalho, ele partiu de uma série de elementos que já tinham espaço no interior da fábrica e cujo objetivo era controlar o trabalhador durante sua permanência na oficina (Braverman, 1987). A reunião de trabalhadores dentro de uma fábrica, a fixação de uma jornada de trabalho, a supervisão incidindo sobre os trabalhadores, as normas de conduta rígidas no local de trabalho eram alguns elementos que se voltavam, sobretudo, ao trabalhador.
É essa espécie de disciplina fabril que Taylor já encontrou presente e atuante no local de trabalho. O trabalhador com o qual Taylor se deparou já estava submetido a um controle gerencial, que incide sobre o que se poderia chamar de conduta do trabalhador. Estar sujo, assobiar, fumar e conversar no local de trabalho, como vimos no exemplo trazido por Huberman (1986) na seção 6.1, são elementos que dizem respeito ao comportamento do trabalhador.
A disciplina e a gerência científica tayloristas passaram a atuar não apenas na conduta do trabalhador, mas também no processo de trabalho em si. É o controle sobre o trabalho e não somente sobre o trabalhador (Braverman, 1987).
Taylor elevou o conceito de controle quando apresentou a necessidade de a gerência impor ao trabalhador a maneira pela qual o trabalho deve ser executado. Para Taylor, o controle não deveria ser feito apenas sobre disciplinas e normas gerais do trabalhador; seus processos de trabalho também deveriam ser controlados. E o controle do trabalho se dá pelo controle das decisões tomadas no curso do processo de produção pela gerência (Braverman, 1987).
Por estudos de tempo e movimentos, Taylor define uma maneira ótima de trabalhar, ou melhor, uma maneira ótima de executar cada movimento da tarefa. Esse movimento é definido não pelo trabalhador, mas pela gerência científica (Rago; Moreira, 1984). Taylor estabelece as bases do taylorismo em sua obra de 1911, Os princípios de administração científica. O primeiro princípio refere-se à separação entre quem planeja o trabalho ou a tarefa e aquele que a executa. Quem deve planejar o trabalho é a gerência científica, o trabalhador deve apenas cumprir as ordens estabelecidas. O segundo princípio diz respeito à seleção dos trabalhadores mais adequados para as tarefas especificadas. O termo “adequados” aqui remete também àqueles trabalhadores que não questionam as regras estabelecidas (Gounet, 1999). Taylor fala mesmo em um trabalhador do tipo “bovino” para certas tarefas, ou seja, um trabalhador forte, dócil e com pouca inteligência. O terceiro princípio do taylorismo é o controle sobre o tempo e os movimentos dos trabalhadores. Tudo deve estar calculado pela gerência e o trabalhador deve executar aquilo que está determinado nos procedimentos e nos manuais (Rago; Moreira, 1984).
O sistema taylorista procurou racionalizar a produção, por meio do estudo dos tempos de execução dos processos, com o intuito de suprimir gestos desnecessários, estabelecendo a melhor forma de execução das atividades. Com isso, aperfeiçoou a divisão do trabalho introduzida pelo sistema de fábricas, assegurando o controle do tempo de trabalho (Rago; Moreira, 1984).
Assim, sobra pouco espaço para a criatividade e individualidade do trabalhador. Ele não é mais autônomo, mas alguém que obedece a ordens. A situação é bem diferente do mestre artesão nas corporações de ofício.
Outra forma de organizar a produção que revolucionou o mundo do trabalho foi o fordismo (Gounet, 1999; Harvey, 1998). Esse modelo, idealizado por Henry Ford (1863-1947), foi aplicado primeiramente nas suas fábricas de automóveis. Com o fordismo, os métodos tayloristas foram aperfeiçoados, e configura-se não apenas um princípio organizador da produção, mas um regime de acumulação, expresso no pacto social fordista. Ford aperfeiçoou e transformou os princípios tayloristas, pois entendeu que produção em massa significava consumo em massa e, ainda, que, ao fazer o trabalho chegar ao trabalhador pela esteira fordista, seria possível obter notáveis ganhos de produtividade.
Segundo Gounet (1999, p. 45), o fordismo a fundamentou em cinco transformações essenciais a partir do taylorismo:
1) produzir em massa significava racionalizar as operações dos operários e combater os desperdícios, principalmente de tempo; 2) com o parcelamento das tarefas na tradição taylorista, o trabalhador não precisa mais ser um especialista; 3) criação da esteira fordista, controlável pela direção da empresa; 4) padronização das peças, que implicava a integração vertical; 5) automatização das fábricas.
O que havia de especial em Ford (e que, em última análise, distingue o fordismo do taylorismo) era a sua visão, seu reconhecimento explícito de que produção de massa significava consumo de massa, um novo sistema de reprodução da força de trabalho, uma nova política de controle e gerência do trabalho, uma nova estética e uma nova psicologia, em suma, um novo tipo de sociedade democrática, racionalizada, modernista e populista. (Harvey, 1998, p. 121)
Fordismo é uma forma de organizar baseada na produção em massa de produtos padronizados, com cada operário executando uma função específica ao longo da esteira fordista. Além da produção em massa e padronizada, o fordismo prevê também o consumo em massa. Assim como o taylorismo, no fordismoexiste a separação entre o planejamento e a execução das tarefas, o controle sobre o tempo e os movimentos, além de o trabalhador acompanhar o ritmo da máquina (Gounet, 1999; Harvey, 1998).
Pós-fordismo e a globalização
O modelo de produção fordista vigorou até o final da década de 1960 e início da década de 1970 na Europa. A crise dos princípios fordistas inaugurou uma conjuntura de alterações e rearranjos capitalistas – e não apenas de um sistema organizador da produção –, desencadeando um processo de reorganização por parte do capital, com o intuito de recuperar seus níveis de acumulação. A forma de organizar a produção foi mudada. Assim se constituiu o processo de reestruturação produtiva (Antunes, 2002; Harvey, 1998).
A crise do fordismo se deveu a alguns fatores, como a saturação do mercado europeu e a crescente competição do mercado asiático, a crise do petróleo a partir dos anos 1960 e o aumento dos custos com a produção. Em outras palavras, era necessário mudar a forma de produzir. A grande fábrica de Ford, com um batalhão de trabalhadores produzindo em massa, já não era mais tão lucrativa (Harvey, 1998).
A grande fábrica integrada e verticalizada de Ford cedeu espaço para a fábrica enxuta: a fábrica pós-fordista que terceiriza determinadas etapas de sua produção e serviços. A fábrica enxuta não executa mais serviços de limpeza, manutenção, alimentação, entre outros, mas contrata empresas responsáveis por essas atividades. e flexível da reestruturação produtiva. A empresa reestruturada externaliza e terceiriza as várias fases do seu processo produtivo, criando uma complexa cadeia de fornecimento de peças e serviços. Com as novas tecnologias da comunicação, a conectividade entre as empresas é otimizada, facilitando as relações da cadeia produtiva e entre as filiais e as várias matrizes localizadas em países diferentes. O fluxo de produção também é sintonizado mais facilmente com a demanda, cada vez mais variável, do mercado globalizado (Castells, 1999).
Na análise das tabelas com base nas características do pós-fordismo, é importante ter em mente que as tendências dessa forma de organizar o trabalho só chegaram ao Brasil a partir da década de 1990. Elas se consolidaram na Europa e nos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980 e, assim como o fordismo, se disseminaram em nível mundial.
Agora imagine que essa queda no número de empregos diretos aconteça com muitos outros setores da indústria e em várias empresas. Quais são as consequências? Primeiramente, o desemprego, mas também a disseminação de formas de trabalho precárias e informais.
A palavra de ordem passa a ser flexibilização: dos processos de trabalho com o uso da tecnologia, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos processos.
A flexibilização dos processos de trabalho se dá principalmente pelo uso de novas tecnologias para produzir. As empresas não precisam mais de tantas pessoas para produzir, pois os robôs e a automação são os responsáveis por parte do trabalho. Um trabalhador pode controlar várias máquinas por meio de um computador. Da mesma forma, os mercados de trabalho também são flexibilizados. Passam a existir novos tipos de contrato de trabalho: o trabalho temporário, o trabalho autônomo, a prestação de serviços, a terceirização de alguns segmentos das empresas. As mudanças na legislação trabalhista permitem que a mão de obra apresente uma alta rotatividade, pois se torna mais fácil contratar um novo trabalhador e também dispensá-lo.
Bibliografia comentada
1. Filme: ADEUS, Lenin. Direção: Wolfganger Becker. Produção: Stefan Arndt. Alemanha: Sony Pictures Classics, 1993. 118 min. Esse filme relata a história de uma família que entra em um novo mundo após a queda do Muro de Berlim e o avanço do capitalismo na antiga Alemanha Oriental. As questões do consumo, do trabalho e de novos padrões culturais surgidas ao longo do filme mostram de maneira engraçada os efeitos da globalização na vida de uma mulher que julgava ainda viver numa sociedade livre da influência do capitalismo.
2. ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: M. Fontes, 2003. (Coleção Tópicos). É uma obra clássica da sociologia, em que o autor estuda a fundo as principais obras do pensamento sociológico. Além da análise, traz o contexto histórico de sua construção e a biografia dos autores.
3. FORACCHI, M. M.; MARTINS, J. S. (Org.). Sociologia e sociedade: leituras de introdução à sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1977. A obra traz uma coletânea de textos de autores clássicos da sociologia, abordando temas importantes da disciplina, e não fica restrita a apenas uma linha explicativa.
4. GIDDENS, A. Sociologia. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2005. Trata-se de uma obra enciclopédica. Apesar de ficar restrita ao meio social e cultural europeu nos exemplos e nas problematizações, é uma obra abrangente e ao mesmo tempo específica. Apresenta temas básicos, autores clássicos e abordagens de gênero, sexualidade, família, vida urbana, mídia e comunicação de massa, entre outras.
5. MARTINS, C. B. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006. (Coleção Primeiros Passos, v. 57). Apresenta o contexto histórico do surgimento da sociologia e também as contribuições de alguns dos principais autores para o referencial teórico da disciplina. É um livro de introdução, com um bom panorama geral para iniciantes.
6. LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro: J. Zahar, 1993. O livro apresenta um tema bem específico: a cultura. Faz uma abordagem antropológica do conceito de cultura, apresentando o desenvolvimento teórico e prático desse conceito. Apesar de tratar apenas de um único tema, sua leitura é prazerosa e instigante.
7. QUINTANEIRO, T.; BARBOSA, M. L. de O.; OLIVEIRA, M. G. M. Um toque de clássicos: Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Ed. da UFMG, 2002. O livro apresenta uma leitura dos três clássicos da sociologia – Durkheim, Marx e Weber –, abordando conceitos centrais das obras dos autores.
8. MARX, K. Manuscritos econômico-filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
9. RODRIGUES, J. A. (Org.); FERNANDES, F. (Coord.). Émile Durkheim: sociologia. São Paulo: Ática, 1988. (Coleção Grandes Cientistas Sociais, v. 1).
10. WEBER, M. A ética protestante e o espírito do capitalismo. 14. ed. São Paulo, Pioneira, 1999.
11. São três obras clássicas da sociologia, de leitura imprescindível para aqueles que almejam um conhecimento mais profundo da disciplina e um contato mais aproximado com as leituras clássicas da sociologia.

Continue navegando