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Características gerais dos instrumentos periodontais Patogênese da doença periodontal A palavra “patogênese” é definida como a origem e o desenvolvimento de uma doença. Em termos gerias, a patogênese de uma doença é o mecanismo pelo qual um ou mais fatores causadores produz a doença. O conhecimento da patogênese periodontal evoluiu ao longo dos anos. Logo, as filosofias de tratamento também mudaram em paralelo com o aumento da compreensão dos processos da doença. Ou seja, a patogênese das doenças periodontais está evoluindo a cada dia. E com isso, os instrumentos também evoluíram. Muitos materiais utilizados hoje em dia se parecem com os utilizados no início – quando se descobriu a doença periodontal – e outros evoluíram tanto ao ponto de nem parecer mais com os instrumentos iniciais. Ao descobrir que uma doença pode ser tratada removendo o cálculo e o biofilme que está sobre o cálculo, deve-se criar um instrumento que se adapte àquela região. Com o passar do tempo, o cálculo invade a região gengival. A partir daí, precisa pensar em um instrumental que consiga penetrar no sulco/bolsa para remover o cálculo subgengival. Depois que o instrumental penetra na bolsa, ele causa uma dilaceração tecidual – ele machuca o tecido. Por isso, os materiais usados para remover cálculo subgengival são modificados para que ele consiga entrar e sair da bolsa, removendo o cálculo sem lesar o tecido. Através da observação do uso desses instrumentos ao longo dos anos eles foram sendo modificados. E atualmente se tem um arsenal muito grande de instrumentos periodontais. O mundo clássico Entre os antigos gregos, Hipócrates de Cós (460 a.C.- 377 a.C.), o pai da Medicina moderna, discutiu a função e erupção dos dentes e a etiologia da doença periodontal. Ele acreditava que a inflamação das gengivas poderia ser causada pelo acúmulo de “pituíta” ou cálculo, com a hemorragia gengival ocorrendo em casos de enfermidades esplênicas persistentes. Entre os romanos, Aulo Cornélio Celso (25 a.C.-50 d.C) fez referências às doenças que afetam as partes moles da boca e seus tratamentos, incluindo a higiene bucal. Paulo de Égina (625 d.C-690 d.C) escreveu que os depósitos de tártaro deveriam ser removidos com raspadores ou com uma pequena lima e que os dentes deveriam ser cuidadosamente limpos após a última refeição do dia. A imagem mostrada anteriormente mostra o instrumento usado para realizar a cauterização gengival, era algo muito rudimentar. Idade média Albucasis (936-1013) nasceu e viveu na Espanha moura. Sua enciclopédia médica com 30 volumes, chamada al-Tasrif, foi traduzida para o latim durante o século XII e foi o texto médico utilizado por universidades europeias até o século XVII. As contribuições de Albucasis para a Odontologia e a Periodontia foram realizações espetaculares. Ele possuía uma clara compreensão do papel etiológico principal dos depósitos de cálculos e descreveu as técnicas de raspagem dos dentes com a utilização de um conjunto de instrumentos desenvolvido por ele, a esplintagem de dentes com mobilidade utilizando fios de ouro e o preenchimento de anormalidades oclusais grosseiras. Albucasis tinha uma clara do papel etiológico do depósito de cálculo na doença periodontal. Ele descreveu as técnicas de raspagem dos dentes. Além disso, ele desenvolveu um conjunto de instrumentos para remover os depósitos de cálculos. Estes instrumentos estão ilustrados na imagem anterior. Naquele tempo já era feita a esplintagem de dentes com mobilidade com fio de ouro – hoje isso é feito com fios ortodônticos e com resina. A Renascença Durante a Durante a Renascença – com o renascimento da escolarização clássica, o desenvolvimento do pensamento científico e do conhecimento médico e com o florescimento da arte, da música e da literatura – contribuições significativas foram dadas à anatomia e à cirurgia. O trabalho de Albucasis foi expandido durante o século XV pelo autor turco Serefeddin Sabuncuoglu (1385- 1468), que incluiu ilustrações da remoção cirúrgica de gengiva hipertrófica e edemaciada e do freio lingual. A terapia medicamentosa deveria ser iniciada se as gengivas estivessem edemaciadas, os dentes com mobilidade e com formação de pus. Se não houvesse reposta, o tratamento cirúrgico deveria ser realizado. Um tubo era colocado nas gengivas e um cautério quente era inserido dentro da cânula para cauterizar o tecido gengival. Se isto fosse corretamente aplicado, os dentes adjacentes ficariam aquecidos. O século XVIII A odontologia moderna desenvolveu-se essencialmente na Europa do século XVIII, particularmente na França e Inglaterra. Pierre Fauchard, nascido na Bretanha em 1678, é amplamente considerado o pai da profissão de cirurgião-dentista como nós a conhecemos. Seu livro, O Cirurgião-Dentista, publicado em 1728, abrangia todos os aspectos da prática odontológica, incluindo Odontologia restauradora, prótese, cirurgia bucal, periodontia e ortodontia. Fauchard descreveu em detalhes seus instrumentos periodontais e a técnica de raspagem para o uso dos mesmos. A imagem anterior já mostra um jogo de 5 instrumentos utilizados em periodontia já modificados – com cabo mais grosso e haste mais fina. Os instrumentos foram se moficicando. A doença periodontal resulta de uma interação complexa entre o biofilme subgengival e os eventos imunoinflamatórios do hospedeiro que se desenvolvem nos tecidos gengivais e periodontais em resposta aos desafios apresentados pelas bactérias. Tem-se o hospedeiro, o biofilme e a doença periodontal acontecendo. O hospedeiro reage com eventos imunoinflamatórios. Se o hospedeiro continua com o biofilme, continua com doença periodontal e com uma cascata de eventos imunoinflamatórios. Só consegue controlar quando esse ciclo é interrompido, tirando o biofilme. A imagem anterior mostra o esquema mostra a bactéria P. gengivalis e as estratégias do sistema imune. O que existe no organismo é uma microbiota que vive em simbiose. Existe um nível de bactérias que o corpo consegue suportar e elas vivem em simbiose. Mas a partir do momento em que há um aumento muito grande no número de microrganismos, tem-se uma microbiota disbiótica – passando a ter eventos imunoinflamatórios para controlar a situação. Quando há uma microbiota disbiótiva, vai ter imflamação, perda óssea horizontal. O tratamento periodontal nada mais é do que pegar um paciente que está em situação disbiótica e levar para a microbiota simbiótica, onde há homeostase tecidual e saúde periodontal. Todos os mecanismos que foram desenvolvidos ao longo dos anos foram desenvolvidos para remover o biofilme e todo o cálculo do hospedeiro. Essas imagens mostram um paciente com doença periodontal, que é tratado e sai de uma microbiota disbiótica para uma simbiótica. Esse paciente tem o periodonto reduzido, apresenta cálculos em algumas regiões, apresenta recessões teciduais. Essa situação é diferente da situação mostrada anteriormente, mas ambas precisam de tratamento. Gengivite e periodontite É geralmente aceito que a gengivite precede a periodontite, mas está claro que nem todos os casos de gengivite evoluem para a periodontite. Com a gengivite, a lesão inflamatória fica confinada à gengiva; no entanto, com a periodontite, os processos inflamatórios se estendem e também o ligamento periodontal e o osso alveolar. O efeito dessas mudanças inflamatórias é o rompimento das fibras do ligamento periodontal, resultando na perda clínica de inserção e reabsorção do osso alveolar. Periodontite Durante os anos de 1970 e 1980, a placa bacteriana era considerada, de maneira geral, a causa principal da periodontite. Naquela época, aceitava-se que a higiene oral deficiente levava a maior acúmulo de placa,o que por sua vez resultava em doença periodontal. Havia muitos indivíduos com higiene oral deficiente que não desenvolviam doença periodontal avançada, e, por outro lado, havia indivíduos desafortunados que, apesar da boa higiene oral e adesão aos protocolos de tratamento periodontal, continuavam a sofrer destruição periodontal progressiva. A partir daí foi observado que existiam alguns pacientes que se mantinham com gengivite por um longo período e que eles não desenvolviam a periodontite. E outros pacientes tinham a gengivite e evoluíam para a periodontite. Toda periodontite já foi uma gengivite, mas nem toda gengivite evolui para uma periodontite. Isso depende da resposta imune do hospedeiro. Todos esses casos, de gengivite e periodontite, devem ser tratados. E antes de serem tratados, eles devem ser diagnosticados. Aí é que entram os instrumentos periodontais. Instrumentos periodontais Os instrumentos periodontais foram desenvolvidos para o diagnostico e tratamento das doenças periodontais. O tratamento inicial é o tratamento periodontal básico. E, se for necessário, tem a terapia cirúrgica. No diagnóstico se utiliza os instrumentos para diagnóstico, como sonda exploratória, sonda milimetrada. No tratamento periodontal básico utiliza-se instrumentos manuais ou ultrassônicos. Nos instrumentos manuais tem sondas, curetas, foices, enxadas – esses instrumentos são usados para remover o cálculo. E nos instrumentos ultrassonicos tem as pontas de ultrassom. Já na terapia cirúrgica tem-se limas, cinzéis, gengivótomos, lâmina e cabo de bisturi, entre outros. Os instrumentais vão ser divididos em 3 partes: lâmina, haste e cabo – como mostra a ilustração anterior. O cabo é a parte que o operador segura, a haste vai conectar a parte ativa (lâmina) do instrumento ao cabo e a lâmina que vai efetuar o trabalho – remover o cálculo. A haste vai possuir várias angulações diferentes. Na imagem anterior, a haste da esquerda é mais curta e tem uma curva, já a haste da direita é mais longa e tem duas curvaturas. O tamanho da haste vai depender do dente que será acessado por esse instrumento – em dentes anteriores geralmente as hastes são mais curtas, enquanto são mais longas para dentes posteriores. A angulação também muda. Quanto mais angulada uma haste é, mais específico é o instrumento para se encaixar em um determinado lugar. As maiores angulações de haste são das curetas Gracey 11-12 e 13-14 porque elas são bem específicas para mesial e distal de dentes posteriores. Figura 1 Lâmina A ponta ativa (lâmina) dos instrumentos vai ter algumas características. Há a face da lâmina, as bordas cortantes A e B, e o dorso – como mostra o esquema anterior. As curetas Gracey vão ter a angulação mostrada na ilustração anterior, o que permite que o instrumento entre na bolsa periodontal. A cureta universal (Mccal) tem a segunda ilustração, apresentando duas lâminas, por isso ela não pode entrar na bolsa periodontal – para não dilacerar o tecido. As curetas têm uma borda cortante e as foices têm duas bordas cortantes. Exame clínico periodontal Em alguns pacientes, ao começar a avalia-los, é possível perceber alguns sinais da doença periodontal, como: edema, eritema, sangramento. Com isso, consegue-se desconfiar de que existe doença periodontal. Mas para diagnosticar, é preciso examinar. O único método preciso para detectar e medir as bolsas periodontais é a exploração cuidadosa com uma sonda periodontal. Com isso, se determina os parâmetros de sondagem do paciente. No periograma, vai ter a profundidade de sondagem, o nível da margem gengival, a perda de inserção clínica, o nível de inserção clínico. Sonda periodontal A imagem anterior mostra uma sonda periodontal, com seu cabo, haste e ponta ativa. Na ponta ativa das curetas e foices, há uma lâmina. Já nesse caso, há uma sonda. Essa sonda tem uns tracejados, em que uma ponta ativa é diferente da outra. De um lado essa sonda periodontal tem a milimetragem da OMS e do outro lado tem a milimetragem UNC-15 (Universidade Carolina do Norte). Esses nomes estão ligados à criação de cada ponta ativa. Cada sonda foi criada com um propósito. A sonda OMS foi criada para realização de levantamentos epidemiológicos. Se vai ser feito um levantamento epidemiológico e não há muito tempo disponível, precisa-se de uma sonda com marcações mais práticas. Há várias sondas no mercado, com vários nomes. Cada uma tem uma finalidade ou foi criada com um propósito. A UNC-15 vai até 15mm. Já a Williams vai até 10mm e tem algumas marcações de uns números apagados (4mm, 6mm), enquanto a UNC-15 não tem esses números apagados. Essa é uma sonda periodontal digital. As marcações são feitas em um computador, que vai marcando quanto tem em cada dente. A sonda deve ser inserida paralela ao longo eixo do dente e ela deve caminhar circunferencialmente em torno de cada superfície, a fim de detectar áreas de penetração mais profundas. Em um paciente com saúde periodontal, a sonda vai penetrar pouco. Já um paciente com cálculo e inflamação, a profundidade é maior. O segundo caso da ilustração anterior mostra um caso em que já houve perda de inserção. As imagens seguintes mostram a doença ainda mais avançada. O resultado da penetração da sonda deve ser anotado. Sondagem Na sondagem deve ser identificado onde está a junção cemento-esmalte, onde está a margem gengival e onde é o fundo do sulco/bolsa. A partir disso, tem-se: • Profundidade de sondagem (distância da margem gengival ao fundo de sulco ou bolsa); • Margem gengival (distância da margem à junção cemento-esmalte); • Nível de inserção clínica (distância da junção cemento-esmalte ao fundo de sulco ou bolsa). Essa sondagem pode ser feita com a sonda milimetrada periodontal ou com a sonda de Nabers (para sondar a furca) A sonda de Nabers tem essa curvatura que é justamente para encaixar. Caso tenha uma lesão de furca, ela irá penetrar. Se essa lesão for grande, ela irá penetrar cada vez mais. Há 3 graus de envolvimento de furca. No grau 1, ao penetrar a sonda, ela chega ao início, mas não chega à metade do dente. O grau 2 é quando essa sonda penetra e chega à metade do dente. E o grau 3 é quando a perda óssea está tão elevada que a sonda passa de um lado ao outro. Curetas de Gracey Figura 2 Curetas específicas Ao falar todas as faces, fala-se em vestibular, lingual, mesial e distal. Para fazer raspagem de canino a canino, utiliza-se somente a cureta de Gracey 5-6 – em todas as faces. Essas curetas de Gracey entram tanto supra quanto subgengivalmente. A 7 e a 8 são usadas para vestibular e lingual/palatina de dentes posteriores (faces livres). Os dentes posteriores tem curetas específicas para cada face porque eles são mais posteriores e necessitam de instrumentos com diferentes angulações. Na mesial dos dentes posteriores utiliza-se a cureta 11- 12 e 13-14 na distal. Quanto mais posterior vai ficando, mais angulada é a haste. A 1-2 e a 3-4 fazem a mesma função da 5-6. Essas curetas foram feitas para fazer instrumentação de bolsas amplas e moderadas. Em algumas situações há bolsas extremamente estreiras, aí nessas situações pode- se usar curetas minis, uma vez que elas terão uma ponta ativa menor e irão penetrar com maior facilidade naquela região. Foices Dá para perceber que a ilustração anterior é uma foice porque ao fazer um corte tem-se um aspecto triangular. Usaremos as foices 00 (ponta morse) e a Mccal 11-12. Na foice, dois bordos cortantes convergem para uma ponta afiada. Tem uma face coronal, o dorso e as faces externas. A foice 00 é para faces mesial e distal de dentes anteriores e pré-molares. E a mccal 11-12 é para face mesial e distal de dentes posteriores.Vale salientar que elas só são usadas supragengivalmente. Curetas Mccal Essas curetas são universais – uma cureta só abrange um grande número de faces. Essas curetas não podem ser colocadas subgengivalmente. A cureta Mccal 13-14 é usada em todas as faces de dentes anteriores e pré-molares. E a cureta 17-18 é sada em todas as faces de dentes posteriores. Essas curetas têm dois bordos cortantes.
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