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Introdução à Teoria Contábil Avançada

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TEORIA CONTÁBIL AVANÇADA 
AULA 1 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos
 
 
CONVERSA INICIAL 
 O objetivo desta aula é fazer uma introdução ao mundo teórico da 
contabilidade em seus aspectos mais avançados e que tem sido discutido 
extensivamente pela academia contábil. Portanto, esse conhecimento é 
fundamental para a formação do contador e para o desenvolvimento da própria 
contabilidade, que é uma ciência social aplicada e necessita que o 
desenvolvimento do seu corpo de conhecimento teórico seja disseminado e 
aplicado na prática profissional. 
 Nesta aula, iniciaremos pelos aspectos conceituais da Teoria contratual 
da firma, discorrendo sobre os conceitos primordiais. O tema 2 deste material 
versa sobre os fundamentos da Teoria da agência. Em seguida, o tema 3 irá 
descrever os elementos primordiais do conceito de conflito de agência. O tema 
4 discorrerá sobre os custos de agência. Por fim, o tema 5 explica a intersecção 
da Teoria da agência e a contabilidade. 
CONTEXTUALIZANDO 
Ao longo dos anos, a teoria da contabilidade tem avançado sempre na 
mesma direção das teorias econômicas. Desde o desenvolvimento teórico dessa 
disciplina, suas bases foram fundadas nas descobertas microeconômicas, em 
especial no que tange ao funcionamento do mercado financeiro. Assim, o 
primeiro aspecto relevante para a compreensão dessa disciplina teórica é a 
compreensão da base de desenvolvimento teórico: as ciências econômicas. 
Portanto, ao construirmos os tópicos aqui abordados, estaremos 
baseados nas teorias clássicas da microeconomia. A função desta aula é 
apresentar e discutir essas teorias microeconômicas, nomeadamente a Teoria 
contratual da firma e a Teoria da agência. A compreensão desses aspectos irá 
proporcionar a compreensão dos conflitos em que a contabilidade está inserida 
e como ela se relaciona com esse mundo retratado por ambas as teorias citadas. 
Para começarmos a aquecer as discussões sobre teoria avançada da 
contabilidade, vamos refletir sobre alguns aspectos relacionados ao dia a dia das 
empresas: como é a formação das empresas atualmente? Como os diferentes 
agentes econômicos fazem acordos nas organizações? Como é a relação entre 
o proprietário da empresa e a diretoria ou gerentes? É amistosa ou conflituosa? 
Quais são os problemas que existem nessa relação? Quais são os mecanismos 
 
 
3 
que existem para resolver esses problemas? Quem são os agentes que 
possuem o poder de decisão? 
Esses e outros questionamentos são importantes para o desenvolvimento 
desta aula. Reparem: ainda não estamos tratando diretamente da contabilidade, 
contudo a compreensão das relações econômicas e do comportamento dos 
diferentes agentes econômicos é essencial para o desenvolvimento da ciência 
contábil, em especial em meados do século XX. 
TEMA 1 – TEORIA CONTRATUAL DA FIRMA 
Neste primeiro tema, trataremos da Teoria contratual da firma, teoria muito 
importante para o desenvolvimento teórico da contabilidade, pois fundamenta as 
relações econômicas que ocorrem dentro da firma entre diferentes pessoas 
(agentes). 
A origem dessa teoria se deu com o nascimento das ciências econômicas 
no século XVIII, com a obra de Adam Smith sobre as riquezas das nações. A 
teoria microeconômica clássica pressupõe que o objetivo de uma empresa é 
maximizar o lucro e que os agentes são racionais e visam à maximização de sua 
utilidade (Boaventura et al., 2009). 
Para compreendermos melhor essa relação econômica da Teoria contratual 
da firma e seus desdobramentos em relação ao comportamento das pessoas 
dentro das empresas, vamos descrever os principais aspectos dessa teoria e 
como ela explica as relações entre os agentes. 
Sob os pressupostos teóricos dessa teoria, a empresa é vista como um 
conjunto de contratos, formais e informais, entre os diversos participantes das 
relações econômicas empresariais. Assim, podemos pensar que cada 
participante contribui com algo para a firma e, em troca, recebe uma 
contraprestação. Nisso consiste a relação contratual da firma: um agente 
contribui para a firma e, em troca, recebe uma bonificação, estabelecida por 
contrato de maneira formal ou informal (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Por exemplo, os empregados contribuem com sua força de trabalho e, em 
troca, recebem seus salários; os acionistas contribuem com capital e, em troca, 
recebem dividendos e ganhos de capital; os fornecedores contribuem com 
produtos e serviços e recebem dinheiro, enquanto o governo contribui com a 
estabilidade institucional e, para isso, recebe os impostos (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
 
 
4 
É importante perceber que as relações entre os agentes, conhecidas como 
contrato, podem ser estabelecidas de maneira formal, como no caso dos 
empregados e acionistas, ou de maneira informal, como no caso do governo e 
em alguns tipos de contrato com clientes e fornecedores. Em todos os casos, as 
relações econômicas entre os agentes são estabelecidas por um outro tipo de 
contrato (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Na prática, essas relações contratuais geram alguns problemas devido a 
duas situações que podem ser encontradas: informação imperfeita e informação 
incompleta. Os casos caracterizados como de informação imperfeita são aqueles 
em que as regras do jogo são claramente definidas e todos os agentes as 
conhecem, contudo os agentes não conhecem as ações dos outros agentes. Um 
exemplo disso é um jogo de pôquer, no qual as regras são claras, mas nenhum 
jogador conhece as cartas e intenções dos outros jogadores (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
Informação incompleta é o caso em que nem mesmo as regras do jogo são 
totalmente claras. Por exemplo, podemos citar uma partida de futebol. Nesse 
caso, existem regras do jogo, contudo a aplicação mais rigorosa ou menos 
rigorosa depende do árbitro da partida (Iudícibus; Lopes, 2004). 
Quando as relações contratuais não funcionam de forma adequada, a firma 
pode ter graves problemas para seu equilíbrio e funcionamento e até mesmo 
quebrar, como no caso da empresa Enron, como descrito por Iudícibus e Lopes 
(2004): 
Essa empresa conseguiu durante muito tempo esconder do mercado 
e, principalmente, de seus acionistas sua real situação financeira. 
Nesse caso, tem-se uma clara quebra de contratos entre os acionistas 
e os executivos da empresa. Por outro lado, os auditores que deveriam 
contribuir para reduzir o conflito também não cumpriram com suas 
obrigações. 
 Assim, podemos sumarizar a Teoria contratual da firma como uma teoria 
econômica amplamente utilizada para explicar as relações econômicas que 
afetam a firma e a própria contabilidade. Dentro desse cenário, os diferentes 
contratos da firma irão determinar as relações econômicas existentes, de 
maneira formal ou informal. Enquanto essas relações são idealmente uma troca 
entre os agentes e a firma, de recursos, capitais ou força de trabalho, por uma 
remuneração, problemas de dois tipos são comumente encontrados nessas 
relações contratuais: informação imperfeita e informação incompleta. Dessa 
maneira, com base na compreensão da Teoria contratual da firma, iremos 
 
 
5 
abordar nos próximos temas desta aula, aspectos primordiais da Teoria da 
agência, que pode ser compreendida como uma extensão dos conceitos teóricos 
da teoria que acabamos de estudar. 
TEMA 2 – TEORIA DA AGÊNCIA 
Agora iremos tratar dos fundamentos da Teoria da agência. Em primeiro 
lugar, é preciso compreender que uma empresa é formada por dois tipos de 
agentes: os que possuem o capital e os meios de produção, que são os 
proprietários da firma, e os que possuem sua força de trabalho, os demais 
agentes. Contudo, quando um proprietário delega a administração a um agente 
(que não possui a propriedade da firma), passa a existir uma relação econômica 
entre o principal (proprietário da firma) e um agente (administrador). Dessa 
forma, iniciamos a discussãosobre os elementos fundamentais da Teoria da 
agência. 
Como explicitado no parágrafo acima, a Teoria da agência surge da 
separação entre o proprietário dos meios de produção e do capital e o 
administrador do negócio. Esse fato histórico surge com a profissionalização da 
gestão e a delegação de trabalho para um administrador. Antes, a administração 
da firma era de responsabilidade do proprietário, ou seja, administrador e dono 
da empresa eram a mesma pessoa (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
 Mas com essa separação entre proprietário e administrador surgiram 
conflitos e relações econômicas que foram explicadas pela Teoria da agência. 
Um desses problemas que surgiu com a separação entre o principal (proprietário 
da empresa) e o agente (administrador) foi a assimetria de informação. Os 
agentes, que tinham a responsabilidade de administrar o negócio do principal e 
assegurar o melhor resultado econômico para a firma, possuíam informações 
que o principal não tinha acesso. Mas por quê? 
É importante salientar que, ao delegar a administração da empresa para 
um terceiro (o agente), o proprietário perde acesso a todas as informações da 
empresa porque não está diretamente envolvido com o negócio, não está 
diariamente na empresa e não acompanha o dia a dia operacional de seu 
negócio. Esse fato gera a assimetria de informação, ou seja, o proprietário tem 
menos informações sobre sua firma do que o administrador que ele escolheu 
para gerir o seu negócio (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
 
 
6 
Diante da assimetria de informação, que acabamos de discorrer, e da 
teoria microeconômica clássica, existe um problema que fundamenta a Teoria 
da agência: o ser humano é maximizador da sua utilidade individual e, portanto, 
age em benefício próprio. Isso significa que, dentro da organização, o 
administrador irá priorizar seus próprios benefícios em vez da maximização do 
lucro empresarial, desejado pelo proprietário. 
Como exemplo desse comportamento do agente, vamos citar o caso de 
participação nos resultados da empresa. Em muitas companhias, é comum os 
gestores receberem incentivos para maximizarem o lucro do proprietário; assim, 
como um prêmio pelo alcance de um resultado desejado pelo dono da empresa, 
o gestor recebe uma fatia do lucro da empresa em valores monetários. Portanto, 
o gestor só irá se esforçar para alcançar os lucros desejados pelo empresário 
quando for receber uma parcela do mesmo, como forma de remuneração 
variável (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
De forma similar ocorre com as punições. Os agentes irão desempenhar 
um resultado positivo e alcançarão as metas estabelecidas, se sua posição na 
companhia depender disso. Assim, se houver uma regra clara sobre a 
permanência do gestor na empresa estar atrelada aos resultados econômicos 
desejados, então os agentes irão se esforçar para atingir esses resultados 
(Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Um dos pressupostos da Teoria da Agência é que, à medida que o direito 
pela propriedade do administrador diminui, o seu incentivo a dedicar esforços 
significativos também diminui consideravelmente. Isto é, quando o administrador 
é também o dono da empresa, ele terá maiores incentivos para se esforçar em 
direção à maximização dos resultados da empresa. Agora, à medida que o 
administrador não tem tanto direito sobre a propriedade ou não possui nenhum 
direito, seus esforços serão direcionados cada vez mais para o aspecto individual 
em vez do empresarial. Os teóricos da teoria econômica afirmam que esse 
problema pode ser resolvido via remuneração, em especial a remuneração 
variável, como é o caso da participação nos resultados da empresa. Quanto 
maior o resultado da empresa, maior a compensação que o gestor receberá, 
portanto esse agente se esforçará para alcançar o melhor resultado possível 
(Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Assim, surge o questionamento em relação a como corrigir as 
divergências de interesse entre o agente e o principal. Ainda, monitoramento, 
 
 
7 
vigilância e garantias: compensam? Esses questionamentos têm sido objeto de 
estudo dos pesquisadores, que tentam desenvolver regras de conduta para que 
o agente maximize o interesse do principal. Esse seria o mundo ideal. 
TEMA 3 – CONFLITOS DE AGÊNCIA 
No tema anterior, discorremos sobre os aspectos gerais da Teoria da 
agência. Como vimos, a relação de agência gera um conflito entre agente e 
principal, decorrente da divergência de interesses entre eles, fato explicado pela 
teoria microeconômica clássica (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). Neste 
tópico, com o intuito de compreender essa questão e os efeitos para a 
organização, iremos aprofundar a discussão acerca desse conflito de agência. 
Segundo a teoria microeconômica clássica, o ser humano irá sempre 
maximizar sua utilidade individual. Portanto, o proprietário e o agente terão 
sempre interesses conflitantes dentro da empresa, cada qual objetivando 
maximizar sua utilidade individual (Akerlof, 1970; Watts; Zimmerman, 1978). 
Os administradores (agentes) irão procurar por situações vantajosas para 
si, de maneira geral, com o intuito de obter cada vez mais recursos econômicos 
e financeiros. Como exemplo, podemos citar situações que podem 
eventualmente acontecer das relações econômicas envolvendo os gestores, que 
tomarão decisões que tragam benefícios diretos ou indiretos para si: ao negociar 
com fornecedores ou clientes, os gestores podem tomar decisões prejudiciais 
para a empresa, mas que tragam benefícios para si, monetários ou não; os 
gestores podem contratar funcionários que são membros de sua família para 
trabalharem em sua equipe, mas estes podem não ser os melhores candidatos 
para a vaga de emprego; nesse caso, a decisão do gestor não foi em benefício 
da empresa, mas em benefício próprio, direta ou indiretamente etc. 
E os proprietários também estão procurando oportunidades de aumentar 
suas riquezas. Portanto, eles desejam que os administradores tomem decisões 
para maximizar o lucro da empresa. Por exemplo, o principal pode dar ordem 
para a retirada do bônus dos gestores; essa decisão irá desagradar os 
administradores e demonstra um interesse de maximizar sua utilidade individual, 
ou seja, a riqueza da organização. Outro exemplo é quando a empresa decide 
diminuir a qualidade de determinado produto para ter um lucro maior. Essa 
decisão visa maximizar sua utilidade, contudo irá afetar aos clientes, que obterão 
produtos com qualidade inferior. 
 
 
8 
Dentro das organizações, a princípio, o administrador está na posição de 
atender aos interesses da firma, ou seja, do proprietário da empresa. Deveria, 
portanto, se comportar de maneira a tomar as melhores decisões para aqueles 
que representam: os proprietários. Contudo, ao objetivar maximizar sua 
utilidade, ou seja, atingir seus próprios interesses, os agentes vão procurar tomar 
decisões que aumentem seu poder dentro da organização. Dessa forma, suas 
decisões tendem a aumentar mais ainda a assimetria informacional entre os 
agentes. 
Ao tomar decisões que tendem a aumentar seu poder dentro da 
organização, os agentes irão aumentar a assimetria informacional com o 
principal, visto que é a assimetria informacional, ou seja, a falta de conhecimento 
do principal, que gera o poder do agente (administrador). Dessa maneira, o 
proprietário terá que encontrar mecanismos para diminuir essa assimetria de 
informação, uma vez que esse comportamento do agente pode levar a 
organização para caminhos diferentes daqueles desejados pelo dono da 
empresa. 
Ainda, esses conflitos de agência podem ser prejudiciais para a empresa, 
levando a companhia, por vezes, ao caminho do fracasso. O caso da empresa 
Enron é um exemplo desse tipo, gerado pela presença de conflito de agência. 
Os executivos da empresa (agente) conseguiram por muito tempo esconder do 
mercado e, principalmente,dos seus próprios acionistas (principal) sua real 
situação financeira, fato que levou à falência da empresa (Iudícibus; Lopes, 
2004). 
 O tema 3 desta aula tratou do aprofundamento dos conflitos de agência 
existentes na empresa. O que é importante gravar desse tópico é o fato de que 
os conflitos de agência surgem da necessidade do ser humano de maximizar 
sua utilidade individual e da separação entre principal e agente dentro das 
empresas, dois aspectos que foram tratados no tema 2 desta aula. 
Dessa natureza econômica dos agentes, surge, também, a assimetria de 
informação. O executivo da empresa possui maior nível de informação de 
qualidade e menor incerteza, comparado ao principal; esse fato acarreta em 
conflitos de agência, que são as tomadas de decisão, por parte do agente, 
divergentes dos interesses do principal. Como o proprietário pode tratar esses 
conflitos de agência? 
 
 
9 
No próximo tema da nossa aula, iremos abordar os custos de agência, os 
quais são consequência dos conflitos de agência, uma vez que o principal irá 
objetivar implementar mecanismos para diminuir a assimetria de informação. 
TEMA 4 – CUSTOS DE AGÊNCIA 
Nos tópicos anteriores, introduzimos alguns problemas decorrentes da 
relação de agência e o surgimento de questionamentos em relação a como 
corrigir as divergências de interesse entre o agente e o principal, ou seja, o 
conflito de agência. Relembrando, conforme Niyama (2014): 
Uma relação de agência pode ser definida como um contrato sob o 
qual uma ou mais pessoa (o principal) designam uma outra (o agente) 
para executar algum serviço em seu benefício que envolve a delegação 
de alguma autoridade decisória para o agente. O ponto central da 
Teoria da Agência é o fato de que o agente busca maximizar a sua 
utilidade e, portanto, nem sempre age no melhor interesse do principal. 
É desse conflito que surgem os custos de agência, que representam a 
soma dos seguintes custos: monitoramento, vinculação e perda 
residual. 
Assim, podemos assegurar que os custos de agência são decorrentes dos 
conflitos que surgem naturalmente entre o agente e o principal, e que estão 
relacionados ao desalinhamento de seus interesses individuais e da assimetria 
informacional. 
A assimetria de informação existente entre o agente e o principal prejudica 
a conduta racional e estratégica dos indivíduos. Ao não ter acesso a todas as 
informações para a tomada de decisões, os indivíduos podem ser direcionados 
para decisões que não irão, necessariamente, implicar uma maximização da 
utilidade individual. 
É claro que essa diferença existe naturalmente, e é conhecida pelos 
agentes, entretanto isso gera uma diferença nos níveis de qualidade da 
informação e na incerteza existente entre os diferentes agentes. Como 
consequência, há um aumento dos custos de transação existentes nas relações 
econômicas. Mas o que são esses custos de agência? 
Como discutimos no tema anterior, os agentes têm interesses que muitas 
vezes conflitam com o objetivo do principal. Desses conflitos surgem o 
questionamento, por parte do proprietário, de como alinhar o comportamento dos 
agentes aos seus interesses. Os seguintes custos de agência representam os 
principais mecanismos de alinhamento entre principal e agente, conforme 
Niyama (2014): 
 
 
10 
 
 Monitoramento: representam os custos decorrentes do monitoramento 
do comportamento dos agentes, tais como: auditorias periódicas, 
restrições orçamentárias, controle de atividades, estabelecimento de 
programas de compensação, etc. 
 Vinculação: são os custos relacionados aos mecanismos que visam 
garantir que os gerentes atuem de acordo com os interesses do principal, 
ou garantir que eles compensem o principal, caso atuem de maneira 
contrária a esses interesses. Tais mecanismos podem ser instituídos 
pelos próprios gerentes (agentes) que, nesse caso, também arcam com 
tais custos. São exemplos: divulgações voluntárias de informações 
contábeis adicionais, garantia de submeter as demonstrações contábeis 
a auditorias, limitação do poder de decisão do agente, metas e indicadores 
de desempenho organizacional. 
 Perda residual: é fruto da impossibilidade de garantir que ações do 
agente sempre serão no melhor interesse do principal. Trata-se de um 
custo residual, que reduz o valor da firma, cuja extensão dependerá da 
eficiência dos contratos que estabelecem o monitoramento e a vinculação. 
Consiste na redução da riqueza do principal, em razão de divergências 
entre as decisões que maximização e aquelas tomadas pelo agente. 
Como exemplo, tem-se a situação de price protection, em que os credores 
impõem uma maior taxa de juros à firma, em razão da ausência de 
mecanismos de vinculação ou que controlem a atuação do agente. 
Em suma, os custos de agência são decorrentes da implementação de 
mecanismos para diminuir a assimetria informacional decorrente do 
desalinhamento entre agente e principal, aspecto natural do ser humano, que 
visa maximizar a utilidade individual. Em decorrência desse desalinhamento 
natural, surgem três tipos de custos de agência: os custos de monitoramento, os 
custos de vinculação e os custos relacionados a perdas residuais. 
TEMA 5 – TEORIA DA AGÊNCIA E CONTABILIDADE 
 O último tópico desta aula tratará da intersecção entre a Teoria da agência 
e a contabilidade. Dentro desse contexto, a contabilidade é um mecanismo de 
diminuição da assimetria de informação, que visa divulgar as informações 
 
 
11 
econômicas e financeiras aos usuários da informação contábil. Assim, 
investidores e credores, como acionistas e fornecedores, e ainda, clientes, 
funcionários, governo e a sociedade como um todo podem ter acesso às 
informações contábeis, fato esse que diminui a assimetria de informação entre 
os agentes e o principal. E, portanto, a informação contábil consiste em um custo 
de agência para a organização, mas também é um mecanismo de diminuição 
dos outros custos de agência dentro da empresa. 
Um dos tópicos mais estudados pela teoria da contabilidade são os 
mecanismos para diminuir o poder dos agentes para manipular o resultado 
contábil e, assim, obter melhores resultados, ou seja, diminuir a assimetria da 
informação. Dois fatos podem acontecer: primeiro, quando um resultado é 
positivo, o executivo tende a deixá-lo mais positivo para obter parcelas maiores 
de remuneração variável, assim irá gerenciar o resultado contábil para esse fim. 
Outro caso é quando o resultado da empresa é negativo, assim o 
executivo tende a deixá-lo mais negativo, uma vez que o impacto negativo no 
resultado contábil será sentido de uma só vez pela empresa. Portanto, o agente 
descarrega em apenas um período os valores que podem afetar o resultado 
contábil em outros períodos. Esse fato foi percebido nas demonstrações 
contábeis da Petrobrás, que, após os escândalos da Lava Jato e com um valor 
de mercado já abalado, resolveu lançar no resultado contábil um grande valor de 
impairment, aproveitando para “limpar” a contabilidade. Essas ações são 
decorrentes de assimetria de informação entre os diferentes agentes 
econômicas na relação da firma. 
Iudícibus e Lopes (2004) abordam cinco funções contábeis na 
coordenação dos vários contratos dentre agente e principal existente nas 
empresas: 
 Mensurar a contribuição de cada um dos participantes nos 
contratos: um exemplo está nos papéis da contabilidade na remuneração 
dos executivos. Para reduzir os impactos do conflito de agência, tem sido 
apresentada a chamada remuneração variável. A ideia consiste na 
remuneração atrelada aos resultados da empresa. Dessa forma, os 
executivos são avaliados de acordo com sua participação nos contratos 
com o principal. 
 Mensurar a fatia a que cada um dos participantes tem direito do 
resultado da empresa: para que o tópico anterior seja efetivamente 
 
 
12 
praticado, é necessário que se tenha uma métrica de avaliação dedesempenho do executivo, para que ele possa ser remunerado 
adequadamente. 
 Informar os participantes a respeito do grau de sucesso no 
cumprimento dos contratos: a contabilidade também é um instrumento 
de avaliação de desempenho e feedback para os executivos, visto que a 
informação contábil é reconhecida como neutra e, portanto, eficaz para 
medir o resultado da organização de maneira imparcial entre os diferentes 
agentes econômicos. 
 Distribuir informação para todos os potenciais participantes em 
contratos com a empresa para manter a liquidez de seus fatores de 
produção: a contabilidade também surge como um mecanismo de 
diminuição da assimetria da informação entre a empresa e outros 
agentes, como o governo, credores e a sociedade, mantendo assim a 
liquidez de seus ativos. 
 Distribuir algumas informações como conhecimento comum para 
reduzir o custo da negociação dos contratos: outro mecanismo 
contábil para diminuir os custos de transação entre os contratos é a 
divulgação voluntária de informação contábil. Esse mecanismo tem como 
intuito diminuir ainda mais os custos de agência, ao tornar os demais 
agentes ainda mais informados para a tomada de decisões. 
Em suma, a contabilidade surge como um mecanismo para mitigar a 
assimetria de informação entre os agentes econômicos. Ao divulgar as 
informações econômicas e financeiras das empresas, a contabilidade contribui 
para a diminuição da assimetria de informação entre os diferentes agentes 
econômicos e, consequente, dos custos de agência. 
TROCANDO IDEIAS 
 Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar 
uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta 
aula introdutória sobre as principais bases de desenvolvimento da teoria da 
contabilidade: as teorias microeconômicas clássicas, Teoria contratual da firma 
e Teoria da agência. Para tanto, elabore uma opinião, expondo os principais 
 
 
13 
conceitos supracitados das duas teorias no fórum, no qual o objetivo é debater 
com seus colegas. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. 
NA PRÁTICA 
 Caros alunos, chegamos à última tarefa da nossa primeira aula. Essa 
atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver essas 
habilidades durante o curso. Embora esta aula tenha envolvido basicamente 
questões conceituais, iremos sempre fazer exercícios de abstração e reflexão de 
questões do mundo econômico. 
Pense, reflita, aplique os conceitos estudados sobre assimetria da 
informação nesta aula e elabore uma resposta para a seguinte questão: 
 Você já se perguntou o porquê de o preço de um carro diminuir só de sair 
da concessionária? 
Em questões de minutos, um bem durável chega a perder quase um 
quinto de seu preço. Isso significa que, ao comprar um veículo zero quilômetro, 
após minutos da retira do bem da concessionária, ele já não possui o mesmo 
valor de mercado e sofre uma grande desvalorização. 
Resolução: esta aula tratou das teorias clássicas da microeconomia. O 
aluno deverá relacionar o ponto central de ambas as teorias, Teoria contratual 
da firma e Teoria da agência, que se refere à assimetria de informação presente 
nas relações econômicas dos diversos agentes econômicos. Nesse caso prático, 
tratamos do clássico problema do Marktet for Lemons, no qual a assimetria de 
informação entre os diferentes agentes econômicos gera um efeito denominado 
seleção adversa. Assim, podemos explicar por que um carro tem seu valor de 
mercado desvalorizado apenas uma fração de tempo após a saída da 
concessionária. 
 No caso prático apresentado, um comprador de um veículo zero 
quilômetro decide vender o bem pouco tempo depois da aquisição. Ao adentrar 
ao mercado de veículos seminovos, vê o valor do bem ser muito desvalorizado, 
mesmo estando em estado praticamente novo. Por que isso acontece? Esse é 
o típico exemplo do Market for Lemons, gerado pela assimetria da informação. 
O comprador do veículo novo sabe exatamente o estado de seu bem uma fração 
de tempo após a sua aquisição. Contudo, ao se tornar vendedor no mercado de 
automóveis usados, o novo comprador não tem informações acerca do estado e 
motivos que levaram à transação econômica. Geralmente, no mercado de 
 
 
14 
automóveis usados, existem carros de má qualidade e boa qualidade, mas o 
comprador não possui essa informação. Por esse motivo, o valor dos carros de 
boa qualidade, como no nosso caso prático, é excessivamente desvalorizado, 
assim eventualmente carros de má qualidade têm seu valor de mercado 
superavaliado. Nos dois casos, de má e boa qualidade, a assimetria de 
informação entre os agentes econômicos, comprador e vendedor, gera um valor 
médio para os veículos. Isso acarreta em desvalorização maior de carros que 
deveriam ser considerados como “quase novos”. 
FINALIZANDO 
Esta aula tratou dos aspectos teóricos da economia que impactam 
diretamente a visão das ciências contábeis. A Teoria contratual da firma e a 
Teoria da agência são duas bases fundamentais para compreender o papel da 
contabilidade dentro do mercado financeiro. Como vimos nesta aula, a 
contabilidade é um importante mecanismo de diminuição da assimetria de 
informação e dos custos de agência dentro das relações econômicas. 
No primeiro tema desta aula, foram apresentados os principais conceitos 
da Teoria contratual da firma, em especial como foi o seu surgimento e seus 
elementos fundamentais. Após compreender a relação contratual da firma, os 
temas 2, 3 e 4 trataram da Teoria da agência, que surge da separação entre 
administrador e proprietário da firma. 
 O tema 2 versou sobre as bases fundamentais da Teoria da agência. O 
tema 3 discorreu sobre o conflito de agência. O tema 4 explicitou os custos de 
agência. Por fim, o tema 5 concluiu esta aula demonstrando o papel da 
contabilidade dentro desse cenário da Teoria da agência, como um mecanismo 
de diminuição da assimetria informacional entre os agentes econômicos. 
 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
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mechanism. The Quarterly Journal of Economics, v. 84, n. 3, p. 488-500, 1970. 
BOAVENTURA, J. M. G. et al. Teoria dos stakeholders e Teoria da firma: um 
estudo sobre a hierarquização das funções-objetivo em empresas brasileiras. 
Revista Brasileia de Gestão de Negócios, v. 11, n. 32, p. 289-307, 2009. 
IUDÍCIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: 
Atlas, 2004. 
NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014. 
WATTS, R. L.; ZIMMERMAN, J. L. Towards a positive theory of the determination 
of accounting standards. The Accounting Review, v. 53, p. 112-134, 1978.

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