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Disciplina de EMPREENDEDORISMO EMPREENDEDORISMO NO BRASIL E NO MUNDO: A REVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO Patricia Bellotti e Renata Rothenbuhler Todos os direitos desta edição reservados à Universidade Tuiuti do Paraná. Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida e transmitida sem prévia autorização. Divisão Acadêmica: Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica: Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Divisão Tecnológica: Flávio Taniguchi Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior Projeto Gráfico Neilor Pereira Stockler Junior Editoração Eletrônica Haydée Silva Guibor Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Biblioteca “Sydnei Antonio Rangel Santos” Universidade Tuiuti do Paraná Material de uso didático. Universidade Tuiuti do Paraná Reitoria Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitoria de Planejamento e Avaliação Afonso Celso Rangel dos Santos Pró-Reitoria Administrativa Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Carmen Luiza da Silva Disciplina de EMPREENDEDORISMO 1º Bimestre Unidade 1.2 EMPREENDEDORISMO NO BRASIL E NO MUNDO: A REVOLUÇÃO DO EMPREENDEDORISMO Patricia Bellotti e Renata Rothenbuhler NOTAS SOBRE A AUTORAS Patrícia Bellotti Graduação em Ciências Econômicas pela UPF/RS, Especialista em Didática do Ensino Superior - PUC/PR; Pós- Graduada em Planejamento e Gerenciamento Estratégico pela PUC/PR e Mestrado em Educação-PUC/PR . Atualmente é Professora da UTP e Bagozzi , Professora de Pós Graduação pelo IBPEX; Tem experiência nas áreas de Administração, com ênfase em Gestão de Pessoas, Planejamento e Gerenciamento Estratégico e Empreendedorismo. Consultora e Palestrante nas áreas : Gestão de Negócios e de Pessoas. Renata Rothenbühler Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Metodista de Piracicaba (1981), mestrado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2000) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006). Atualmente é professor adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná. Tem experiência em fisioterapia ortopedica e traumatologica e na área de Engenharia de Produção, com ênfase em empreendedorismo e gestão em saúde. Participa do projeto interdisciplinar promoção humana em saúde. ORIENTAÇÃO PARA LEITURA Citação Referencial Destaque Dica do Professor Explicação do Professor Material On-Line Para Reflexão SUMÁRIO INTRODUÇÃO AO ESTUDO ....................................................... OBJETIVOS DO ESTUDO ........................................................... PROBLEMATIZAÇÃO .................................................................. CONCEITUAÇÃO DO TEMA ....................................................... Processo Empreendedor. Conceituando Empreendedorismo ...... É possível ensinar Empreendedorismo? ...................................... O processo Empreendedor ........................................................... SISTEMATIZANDO ...................................................................... EXERCÍCIOS ................................................................................ PARA SABER MAIS ..................................................................... REFERÊNCIAS ............................................................................ 9 10 11 12 12 20 21 27 28 29 30 INTRODUÇÃO AO ESTUDO Empreender não é apenas arriscar-se no mundo dos negócios. Identificar uma oportunidade de negócios para então trabalhar a ideia é fundamental para o sucesso. Vamos entender mais sobre o assunto! OBJETIVOS DO ESTUDO Conduzir o acadêmico através do empreendedorismo a identificar e desenvolver uma oportunidade de negócios e a implementação do empreendimento. 11 PROBLEMATIZAÇÃO Quais os passos para se empreender no mundo dos negócios? 12 CONCEITUAÇÃO DO TEMA PROCESSO EMPREENDEDOR. CONCEITUANDO EMPREENDEDORISMO A humanidade tem passado por inúmeras transformações. As mudanças na sociedade exigem adaptações constantes no contexto organizacional e influenciam de forma significativa o comportamento do ser humano e suas relações de trabalho. O empreendedorismo vem influenciando positivamente o desenvolvimento econômico dos países; a decisão de tornar-se empreendedor pode ocorrer aparentemente por acaso, mas é influenciada por fatores externos, ambientais, sociais, aptidões pessoais ou um somatório de fatores que são críticos para o surgimento e o crescimento de uma empresa (DORNELAS, 2001). No Brasil, o movimento do empreendedorismo começou a tomar forma na década de 1990, quando foram criadas entidades como o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e SOFTEX (Sociedade Brasileira para Exportação de Software), apoiando as atividades de empreendedorismo em software. 13 A tarefa de estímulo e apoio à criação e consolidação de empresas não é atribuição isolada de um setor, mas de toda a sociedade. Os sistemas de suporte são constituídos por todas as forças sócio-políticas e econômicas, atuando quer sob a forma de ações concretas - tais como consultoria, incubação, financiamento - quer sob a forma de construção de um arcabouço legal e criando um meio ambiente em que o empreendedor e a pequena empresa possam receber o tratamento e as condições necessárias ao seu florescimento e consolidação (DOLABELA, 1999a, p. 135). Atualmente, as micro e pequenas empresas são responsáveis por 90% dos empreendimentos formais no Brasil, um país que, tradicionalmente, não teve um foco específico na cultura empreendedora. O que se começa a detectar agora é o potencial gerador de riqueza do empreendedorismo. A criação de novas empresas é vista, hoje, como um dos recursos capazes de criar novos postos de trabalho, aumentar a cadeia produtiva e minimizar as desigualdades regionais (CANAVARRO, 2004). Trata-se, sem dúvida, de referenciais importantes que caracterizam de forma inequívoca a importância do empreendedorismo no cenário sócio-econômico contemporâneo. Ainda que soe contemporâneo, o vocábulo “empreendedor” já fazia parte do repertório de Jean Baptiste Say, que definiu o empreendedor como o indivíduo responsável por reunir todos os fatores de produção e descobrir no valor dos produtos a reorganização de todo capital que emprega, o valor dos salários, A tarefa de estímulo e apoio à criação e consolidação de empresas não é atribuição isolada de um setor, mas de toda a sociedade. Os sistemas de suporte são constituídos por todas as forças sócio-políticas e econômicas, atuando quer sob a forma de ações concretas - tais como consultoria, incubação, financiamento - quer sob a forma de construção de um arcabouço legal e criando um meio ambiente em que o empreendedor e a pequena empresa possam receber o tratamento e as condições necessárias ao seu florescimento e consolidação (DOLABELA, 1999a, p. 135). 14 o juro, o aluguel que ele paga, bem como os lucros que lhe pertencem (LONGEN, 1997). Na definição de Filion (1999), o empreendedor é uma pessoa que imagina, desenvolve e realiza visões; visualiza uma imagem projetada no futuro, do lugar que se quer ver ocupado pelos seus produtos no mercado, assim com a imagem projetada do tipo de organização necessária para consegui-lo. Lezana define empreendedores como:w Dornelas (2001) caracteriza o empreendedor como o indivíduo que faz as coisas acontecerem, antecipa-se aos fatos e possui uma visão futura da organização e dos negócios. Para Gomes (2003), o empreendedor é aquele que destrói a ordem econômica existente pela introdução de novos produtos e serviços, pela criação de novas formas de organização ou pela exploração de novos recursos e matérias. Segundo Dolabela (1999b), o tema central do empreendedorismo é o desenvolvimento humano e seus reflexos sociais e econômicos. Para esse autor, o empreendedorismo (particularmente o brasileiro) deve ter como prioridade o combate à miséria,devendo ser um instrumento de geração e distribuição de renda, conhecimento e também de poder. Com o empreendedorismo, busca-se alcançar o desenvolvimento de uma sociedade também empreendedora. “É preciso libertar no brasileiro à sua infinita capacidade de sonhar e de transformar sonhos em realidade, ou seja, é preciso libertar o empreendedor que existe em cada um de nós” (DOLABELA, 2002). O termo “empreendedorismo”, dada a amplitude do conceito, define também uma forma de ser, independentemente da escolha profissional. Assim, podem estar contidos neste pessoas que perseguem o benefício, trabalham individual e coletivamente. Podem ser definidos como indivíduos que inovam, identificam e criam oportunidades de negócios, montam e coordenam novas combinações de recursos (funções de produção) para extrair os melhores benefícios de inovações num meio incerto. (2001, p.39) 15 termo o empregado-empreendedor (ou intra-empreendedor), o pesquisador-empreendedor, o empreendedor comunitário e o funcionário público-empreendedor, pois o empreendedorismo se fundamenta na maneira de se abordar o mundo, qualquer que seja a atividade abraçada. O empreendedor pode ser estudado sob diferentes enfoques e também por uma variedade de áreas de conhecimento e das ciências humanas, tais como Psicologia, Sociologia, Economia, Pedagogia, Administração, encontrando seus fundamentos na própria Filosofia e dentro da visão e entendimento dos mais diversos autores, como os apresentados no quadro 1: Quadro 1: Diversos enfoques sobre empreendedores DATA AUTOR CARACTERÍSTICAS 1848 Mills Tolerância ao risco 1917 Weber Origem da autoridade formal 1934 Schumpeter Inovação, iniciativa 1954 Sutton Busca de responsabilidade 1959 Hartman Busca de autoridade formal 1961 McClelland Corredor de risco e necessidade de realização. 1963 Davids Ambição, desejo de independência, responsabilidade e auto-confiança. 1964 Pickle Relacionamento humano, habilidade de comunicação, conhecimento técnico. 1971 Palmer Avaliador de riscos 1971 Hornaday e Aboud Necessidade de realização, autonomia, poder, reconhecimento, inovação, independência. 1973 Winter Necessidade de poder 16 1974 Borland Controle interno 1974 Liles Necessidade de realização 1977 Gasse Orientado por valores pessoais 1978 Timmons Auto confiança, orientado por metas, corredor de riscos moderados, centro de controle, criatividade, inovação 1980 Sexton Enérgico, ambicioso, revés positivo 1981 Welsh e White Necessidade de controle, visador de responsabilidade, auto-confiança, corredor de riscos moderados. 1982 Dunkelberg e Cooper Orientado ao crescimento, profissionalização e independência. 1999 Filion Imaginam, criam, desenvolvem e realizam visões. 2000 Lezana Inovam, identificam, e criam oportunidades de negócios. 2001 Dornelas Possuem uma visão futura da organização. 2003 Gomes Cria novas formas de organização. Fonte: Adaptado de Longen (1997) e pela autora. Em uma perspectiva mais ampla, percebe-se que embora cada teórico tenha abordado o empreendedor sob diferentes atributos, o enfoque geral parece ser estruturalmente o mesmo: desejo e capacidade de aproveitar oportunidades e de inovar e necessidade de autonomia e de realização. Para melhor esclarecer o conceito de empreendedorismo a ser adotado neste trabalho, recorre-se a Cuningham & Lischeron apud LIMA (2001), que estabeleceram seis escolas de pensamento, cada qual com um conjunto próprio de pressupostos subjacentes. Estas escolas estão relacionadas às características pessoais e oportunidades, aqui denominadas ênfase, gestão ou adaptação organizacional, definidas pelo autor nessa classificação como categorias. 17 • Escola Clássica do Empreendedorismo - Categoria: reconhecimento de oportunidades. - Ênfase: criatividade; tomada de decisão; identificação de oportunidades; fundação do negócio. • Escola da “Pessoa Especial” - Categoria: avaliação de características pessoais. - Ênfase: biografias; histórias de sucesso; características e atributos individuais. • Escola das Características Psicológicas - Categoria: avaliação de características pessoais. - Ênfase: necessidades, valores e comportamentos. • Escola do Gerenciamento - Categoria: ação e gerência. - Ênfase: conhecimento e formação técnica. • Escola da Liderança - Categoria: ação e gerência. - Ênfase: liderança; visão e motivação. • Escola do Intrapreneurship - Categoria: reavaliação e adaptação. - Ênfase: criatividade; inovação e trabalho em equipe. Este trabalho está fundamentado a partir das premissas básicas da Escola do Gerenciamento e da Escola das Características Psicológicas, cujos princípios consideram que as necessidades, tendências, crenças e valores são primariamente determinantes do comportamento. Os comportamentos resultam da tentativa de satisfazer necessidades, sejam elas o poder, o reconhecimento, a realização, a aceitação ou o amor (LIMA, 2001). Os adeptos dessa linha de pensamento acreditam que o empreendedor não pode ser desenvolvido em situações de aprendizagem formal. Seus valores pessoais e necessidades são resultados das experiências pessoais (LIMA, 2001). Vários estudos foram realizados envolvendo as teorias comportamentais e a motivação. Pode-se destacar os trabalhos de Maslow, com sua Teoria da Hierarquia das Necessidades (necessidades fisiológicas, de segurança, de pertencimento, de estima e de auto-realização), entre tantos outros que abordaram o tema. 18 Merece, porém, especial destaque neste estudo, a teoria proposta por David McClelland, psicólogo da Universidade de Harvard, com a Teoria das Necessidades Adquiridas, por ser esta a base teórica sobre motivação mais diretamente relacionada com o tema empreendedor. McClelland apud COELHO (2004) identificou três necessidades secundárias adquiridas socialmente: realização, afiliação e poder. Para este estudioso, cada indivíduo apresenta níveis diferentes destas necessidades, porém uma delas sempre predomina, denotando um padrão de comportamento. Pessoas motivadas por realização são orientadas para tarefas, buscam continuamente a excelência, gostam de enfrentar desafios e satisfazem-se ao completá-los, determinam metas realistas e monitoram seu progresso em direção a elas. Indivíduos motivados por afiliação, por sua vez, priorizam o desenvolvimento de relações pessoais próximas e o pertencimento a grupos, apreciando muito mais o trabalho em grupo do que o individual. Por fim, sujeitos motivados pelo poder buscam exercer influência sobre as decisões e comportamentos dos outros, conduzindo as pessoas a adotarem formas de atuação inovadoras, utilizando-se, para isso, do poder institucional ou do poder pessoal (carisma). Essencialmente, são indivíduos que gostam de competir e vencer e de estar no controle das situações. Morales (2004, p. 40) refere que, em seus estudos, McClelland descobriu, também, que: Alguns estudos de campo realizados apresentam, no entanto, uma configuração mais próxima daquela sugerida pelos estudos de Maslow. Um deles, realizado por Birley & Westhead [...] a presença de alta necessidade de realização faz com que sejam observáveis algumas características como: desejo de assumir a responsabilidade pessoal pelas decisões; preferir decisões envolvendo níveis moderados de risco; interesse em feedback imediato sobre o resultado das decisões tomadas; e desinteresse por trabalhos repetitivos, rotineiros. 19 apud LEzANA (1997), que teve como sujeitos da amostra 1000 empresários de 11 diferentes países, buscou identificar quais seriam as razões determinantes para a abertura de novos negócios por estes empreendedores. Foram consideradas, para efeito do estudo, as seguintes necessidades: Aprovação: relacionada à conquista de novas posições sociais, respeito, ampliação do nível de status familiar, prestígio e reconhecimento; Independência: referente ao controle de seu tempo, liberdade e autonomia para definir suas ações e atividades profissionais; Desenvolvimento Pessoal: a criação de um negócio que propicie ao indivíduo o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos; Segurança: esta variável abriga diversas situações, dentre elas a de sentir-se seguro em relação ao desemprego, garantindo- lhe as possibilidades de sobrevivência; Auto-realização: presume a empresa como um local que oportunizaria a ampliação dos potenciais dos indivíduos, permitindo o aprimoramento de habilidades e a superação de limites. Morales (2004, p. 41) citando McClelland, considera que, em termos motivacionais, um empreendedor necessita de motivação pelo poder. Ressalta, porém, que esta necessidade deve ser disciplinada e direcionada em benefício da organização e não “para o engrandecimento pessoal” do indivíduo. Estas considerações de McClleland, na concepção de Morales (op. cit.), justificariam porque alguns empreendedores não superam a fase em que precisam passar a delegar – ou, conforme cita este autor, a chamada “crise de delegação” – conduzindo a iniciativa empresarial ao fracasso. Nas definições de Lezana (1999, p. 17-20), a motivação “é o impulso fundamental para gerar um comportamento; é responsável pela energia que o indivíduo dispensará para a ação e, portanto, da disposição que terá para aproveitar o evento”. Outros estudos, como os realizados pelo BID – Banco Internacional de Desenvolvimento, sobre Economias Emergentes, analisam o processo de criação de uma empresa 20 desde a inspiração do empreendedor potencial até o início do empreendimento. No que diz respeito à motivação que leva o indivíduo a se tornar um empreendedor, detecta que não há um foco específico na busca da riqueza. O desejo de auto-realização surge como a principal motivação do empreendedor, seguida pela contribuição para a sociedade (SOLIMEO, 2003). Neste sentido, Uriarte (1999, p. 126) refere que os estudos realizados por David McClelland identificaram um elemento psicológico crítico nos empreendedores, ao qual denominou “motivação de realização”. O trabalho mostrou que os empreendedores de sucesso são motivados pela realização, isto é, motivam-se cada vez que atingem um objetivo. Pessoas empreendedoras são capazes de auto- motivação relacionada com desafios e tarefas em que acreditam. Não necessitam de prêmios externos, como compensação financeira. Igualmente, por sua motivação, são entusiasmados e entusiasmadores, com suas ideias e projetos. É POSSÍVEL ENSINAR EMPREENDEDORISMO? Até alguns anos atrás, acreditava-se que o empreendedorismo era inato, que o empreendedor nascia com um diferencial e era predestinado ao sucesso nos negócios. Pessoas sem essas características eram desencorajadas a empreender. Como já se viu, isto é um mito. Hoje em dia, esse discurso mudou e, cada vez mais, acredita-se que o processo empreendedor pode ser ensinado e entendido por qualquer pessoa e que o sucesso é decorrente de uma gama de fatores internos e externos ao negócio, do perfil do empreendedor e de como ele administra as adversidades que encontra no dia a dia de seu empreendimento. Os empreendedores inatos continuam existindo e continuam sendo referências de sucesso, mas muitos outros podem ser capacitados para a criação de empresas duradouras. Isso não garante que apenas pelo ensino do empreendedorismo serão gerados novos mitos como Bill Gates, Sílvio Santos, Olavo Setúbal e Antônio Ermírio de Moraes. No entanto, com certeza o ensino de empreendedorismo ajudará na formação de melhores empresários, melhores empresas e na maior geração de riqueza ao país. 21 Deve-se entender quais são os objetivos do ensino de empreendedorismo, pois os cursos podem diferir de universidade para universidade ou de escola técnica para escola técnica. Qualquer curso de empreendedorismo deveria focar: As habilidades requeridas de um empreendedor podem ser classificadas em três áreas: técnicas, gerenciais e características pessoais. As habilidades técnicas envolvem saber escrever, saber ouvir as pessoas e captar informações, ser um bom orador, ser organizado, saber liderar e trabalhar em equipe e possuir know- how técnico na sua área de atuação. As habilidades gerenciais incluem as áreas envolvidas na criação, desenvolvimento e gerenciamento de uma nova empresa: marketing, administração, finanças, operacional, produção, tomada de decisão, controle das ações da empresa e ser um bom negociador. Algumas características pessoais já foram abordadas anteriormente e incluem: ser disciplinado, assumir riscos, ser inovador, ser orientado a mudanças, ser persistente e ser um líder visionário. O PROCESSO EMPREENDEDOR O processo empreendedor envolve todas as funções, atividades e ações associadas com a criação de novas empresas. Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve o processo de geração de algo novo, de valor. Em segundo, requer a devoção, o comprometimento de tempo e o esforço necessário para fazer • na identificação e no entendimento das habilidades do empreendedor; • na identificação e análise de oportunidades; • em como ocorre a inovação e o processo empreendedor; • na importância do empreendedorismo para o desenvolvimento econômico; • em como preparar e utilizar um plano de negócios; • em como identificar fontes e obter financiamento para o novo negócio; e • em como gerenciar e fazer a empresa crescer. 22 a empresa crescer. E, em terceiro, que riscos calculados sejam assumidos e decisões críticas tomadas: é preciso ousadia e ânimo apesar de falhas e erros. Segundo Dolabela (2005), a decisão de tornar-se empreendedor pode ocorrer aparentemente por acaso. Isso pode ser testado fazendo-se uma pergunta básica a qualquer empreendedor que você conhece: o que o levou a criar sua empresa? Não se surpreenda se a resposta for: não sei, foi por acaso... Na verdade, essa decisão ocorre devido a fatores externos, ambientais e sociais, a aptidões pessoais ou a um somatório de todos esses fatores, que são críticos para o surgimento e o crescimento de uma nova empresa. O processo empreendedor inicia-se quando um evento gerador desses fatores possibilita o início de um novo negócio. Quando se fala em inovação, a semente do processo empreendedor, remete-se naturalmente ao termo inovação tecnológica. Nesse caso, existem algumas peculiaridades que devem ser entendidas para que se interprete o processo empreendedor ligado a empresas de base tecnológica. As inovações tecnológicas têm sido o diferencial do desenvolvimento econômico mundial (DOLABELA, 2005). FONTE: DOLABELA, 2005. p.41 (adaptado de Moore, 1986). 23 E o desenvolvimento econômico é dependente de quatro fatores críticos, que devem ser analisados para então se entender o processo empreendedor. Fatores críticos para o desenvolvimento econômico (Smilor & Gill, 1986): O talento empreendedor resulta da percepção, direção, dedicação e de muito trabalho dessas pessoas especiais, que fazem acontecer. Onde existe esse talento, há a oportunidade de crescer, diversificar e desenvolver novos negócios. Mas talento sem ideias é como uma semente sem água. Quando o talento é somado à tecnologia e as pessoas têm boas idéias, viáveis, o processo empreendedor está na iminência de ocorrer. Mas existe ainda a necessidade de um combustível essencial para que finalmente o negócio saia do papel: o capital. O componente final é o know-how, ou seja, o conhecimento e a habilidade de fazer convergir para um mesmo ambiente o talento, a tecnologia e o capital que fazem a empresa crescer (Tornatzky et al.,1996). Segundo Dertouzos (1999), a inovação tecnológica possui quatro pilares, os quais estão de acordo com os fatores anteriormente apresentados: Ainda segundo Dertouzos, esses quatro ingredientes são raros, pois em sua concepção, primeiro vem a paixão pelo negócio e depois o dinheiro, o que contradiz a corrente de análise econômica, a qual pressupõe que deve haver um 1. Investimento de capital de risco; 2. Infraestrutura de alta tecnologia;3. Ideias criativas; e 4. Cultura empreendedora focada na paixão pelo negócio. 1. Talento – Pessoas 2. Tecnologia – Ideias → Negócios de Sucesso 3. Capital – Recursos 4. Know-how – Conhecimento 24 mercado consumidor e consequentemente possibilidades de lucro com o negócio. Dertouzos conclui afirmando que as invenções tecnológicas não ocorrem assim. Na verdade, o que acontece é um meio-termo: tanto as empresas buscam nos centros de pesquisa tecnologias inovadoras que, agregadas ao seu processo ou produto, promovam uma inovação tecnológica, como os centros de pesquisa desenvolvem tecnologias sem o comprometimento econômico, mas que posteriormente poderão ser aplicadas nas empresas. Feitas as devidas considerações a respeito do processo de inovação tecnológica e sua importância para o desenvolvimento econômico, segundo DOLABELA (2005), pode-se então entender as fases do processo empreendedor: Embora as fases sejam apresentadas de forma sequencial, nenhuma delas precisa ser completamente concluída para que se inicie a seguinte. Por exemplo, ao se identificar e avaliar uma oportunidade (fase 1), o empreendedor deve ter em mente o tipo de negócio que deseja criar (fase 4). Muitas vezes ocorre ainda outro ciclo de fases antes de se concluir o processo completo. É o caso em que o empreendedor elabora o seu primeiro plano FONTE: DOLABELA, 2005, p.43 (adaptado de Hisrich, 1998): 1. identificar e avaliar a oportunidade; 2. desenvolver o plano de negócios; 3. determinar e captar os recursos necessários; e 4. gerenciar a empresa criada. 25 de negócios e, em seguida, apresenta-o para um capitalista de risco, que faz várias críticas e sugere ao empreendedor mudar toda a concepção da empresa antes de vir procurá-lo de novo. Nesse caso, o processo chegou até a fase 3 e voltou para a fase 1, recomeçando um novo ciclo sem ter concluído o anterior. O empreendedor não deve desanimar diante dessa situação, que é muito frequente. Para Dolabela (2005), identificar e avaliar uma oportunidade é a parte mais difícil: Quantas vezes você não sentiu que deixou o velho passar? Realmente não é fácil, mas os empreendedores de sucesso “agarram o velho” com as duas mãos logo no primeiro instante, usufruindo o máximo que podem de sua sabedoria. Mas como se distingue o velho sábio daquele que não traz algo de valor? É nesse momento que entra o talento, o conhecimento, a percepção e o feeling do empreendedor. Muitos dizem que isso ocorre por sorte. No entanto, muitos também dizem que sorte é o encontro da competência com a oportunidade! A segunda fase do processo empreendedor — desenvolver o plano de negócios — talvez seja a que mais dê trabalho para os empreendedores de primeira viagem. Ela envolve vários conceitos que devem ser entendidos e expressos de forma escrita, em poucas páginas, dando forma a um documento que sintetiza toda a essência da empresa, sua estratégia de negócio, seu mercado e competidores, como vai gerar receitas e crescer etc. (DOLABELA, 2005). Existe uma lenda segundo a qual a oportunidade é como um velho sábio barbudo, baixinho e careca, que passa ao seu lado. Normalmente você não o nota... Quando percebe que ele pode ajudar você, tenta desesperadamente correr atrás do velho e, com as mãos, tenta tocá-lo na cabeça para abordá-lo. Mas quando finalmente você toca na cabeça do velho, ela está toda cheia de óleo e seus dedos escorregam, sem conseguir segurar o velho, que vai embora... 26 Segundo Dolabela (2005), determinar os recursos necessários é consequência do que foi feito e planejado no plano de negócios. Já a captação dos recursos pode ser feita de várias formas e por meio de várias fontes distintas. Há alguns anos, as únicas possibilidades de obter financiamento ou recursos no Brasil, era recorrer aos bancos e a economias pessoais, à família e aos amigos. Atualmente, com a globalização das economias, os mercados mundiais e com a estabilização econômica do país, o Brasil passou a ser visto como um celeiro de oportunidades a serem exploradas pelos capitalistas, ainda mais com a elevação do país ao status de grau de investimento pelas agências internacionais que avaliam os riscos de investir nos mais variados países. Esses mesmos capitalistas preferiam aplicar suas divisas no mercado financeiro que lhes proporcionava retornos imbatíveis. Começa a ser comum encontrar a figura do capitalista de risco no país e, principalmente, do angel ou anjo — investidor pessoa física — que prefere arriscar em novos negócios a deixar todo seu dinheiro aplicado nos bancos. Isso vem ocorrendo nos setores onde as empresas podem crescer rapidamente, como o de empresas de tecnologia e já está mudando todo um paradigma de investimentos no Brasil, o que é saudável para o país e para os novos empreendedores que estão surgindo. Gerenciar a empresa parece ser a parte mais fácil, pois as outras já foram feitas. Mas não é bem assim. Cada fase do processo empreendedor tem seus desafios e aprendizados. Às vezes, o empreendedor identifica uma excelente oportunidade, elabora um bom plano de negócios e “vende” a sua ideia para investidores que acreditam nela e concordam em financiar o novo empreendimento. Quando é hora de colocar as ações em prática, começam a surgir os problemas. Os clientes nem sempre aceitam tão bem o produto, surge um concorrente forte, um funcionário-chave pede demissão, uma máquina quebra e não existe outra para repor, enfim, problemas vão existir e terão que ser solucionados. Aí é que entra o estilo de gestão do empreendedor na prática, que deve reconhecer suas limitações e saber, antes de qualquer coisa, recrutar uma excelente equipe de profissionais para ajudá-lo a gerenciar a empresa, implementando ações que visem minimizar os problemas, identificando o que é prioridade e o que é crítico para o sucesso do empreendimento (DOLABELA, 2005). 27 SISTEMATIZANDO Vimos que Empreendedorismo é passível de ensinar/ aprender, pois a visão para o negócio e o estudo do que se percebeu é fundamental para o sucesso. Na próxima unidade, vamos perceber como identificar boas oportunidades de mercado. 28 EXERCÍCIOS Todos os exercícios estão disponíveis na página da disciplina no Ambiente Virtual de Aprendizagem em http://ead.utp.edu.br, para respondê-los é necessário fazer login. 29 PARA SABER MAIS LEITURA COMPLEMENTAR DEGEN; RONALD JEAN. O empreeendedor: empreender como opção de carreira. São Paulo: Pearson prentice Hall, 2009. MAXIMIANO; ANTONIO CESAR A MARU. Empreendedorismo. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2012. SUGESTÃO DE VIDEO Assista ao filme: Ratatouille – 1h30m e reflita a respeito da seguinte questão: Empreendedores são caracterizados por perceber oportunidades onde outros não são capazes de fazê-lo, sendo tolerantes a risco, capazes de lidar com incertezas e pró-ativos em tomar decisões. Quais são suas capacidades empreendedoras (seus pontos fortes), baseado no filme “Ratatouille¨. 30 REFERÊNCIAS DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo: transformando ideias em negócios. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005. CANAVARRO, M. Sonhos que viram realidade. Disponível em http://www.timaster.com.br/revista/materias/main_materia. asp?codigo=812,2004. COELHO, T. Conheça sua base motivacional. Disponível em: http://www.portaldomarketing.com.br/Artigos/Conheca%20 sua%20base%20motivacional.htm com acesso em 01.06.04 às 23:00hs,2004. CUNINGHAM, J. B; LISCHERON, J. Defining entrepreneurship. Journal of small business Management, vol 29, Issue 1, p.45-62, Jan. 2001. DERTOUzOS, M. O que será: como o novo mundo da informação transformará nossas vidas. São Paulo, Companhia das Letras, 1999. ______, DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo Corporativo. Rio de Janeiro: Campus: 2005. DOLABELA, Fernando. Oficina do empreendedor. São Paulo: Cultura Editora, 1999. 31 DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedores de sucesso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2001.LEzANA A. G. R., PEDRO M. A., VENTURA G. F., SANTOS M. F. A liderança, o poder e o intraempreendedorismo. 1997. LEzANA, A. G. R., TONELLI, A. “O comportamento do empreendedor”. In: DE MORI, F. (org.). Empreender: identificando, avaliando e planejando um novo negócio. Florianópolis: Escola de Novos Empreendedores, 1999. SIMILOR,R.W;GILL,M.D.Jr. The new business incubator: Lexington Books, 1986. ______. F. Pedagogia Empreendedora - O Ensino do Empreendedorismo na Educação Básica, voltado para o Desenvolvimento Sustentável. São Paulo : Editora de Cultura, 2002. Disciplina de EMPREENDEDORISMO Coordenadoria de Educação a Distância Coordenação Marlei Gomes da Silva Malinoski Divisão Pedagógica Analuce Barbosa Coelho Medeiros Margaret Maria Schroeder Editoração Haydée Silva Guibor Neilor Pereira Stockler Junior
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