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Disciplina: Cinética Química Prática n° 1 Aspectos cinéticos da reação de decomposição do peróxido de hidrogênio catalisada por cloreto de ferro (III) 09 de maio de 2022 1- INTRODUÇÃO O peróxido de hidrogênio em solução aquosa é conhecido comercialmente como água oxigenada. É um líquido claro e um poderoso oxidante que libera gás oxigênio, um comburente. Por esta razão essa substância oferece risco se manuseada próxima a compostos inflamáveis. Sua fórmula química é H2O2. A água oxigenada foi usada no início do século XX com o objetivo de minimizar os problemas de infecções em soldados na frente de batalha. Durante a Segunda Guerra Mundial, a redução no número de mortos e amputações foi tremenda, graças ao uso da água oxigenada. Quantidades pequenas de peróxido de hidrogênio gasoso ocorrem naturalmente na atmosfera e esta molécula rapidamente se decompõe (através da enzima catalase), formando água e gás oxigênio com liberação de calor. Este processo, que libera gás oxigênio acaba por matar bactérias e vírus anaeróbicos, que não sobrevivem na presença de oxigênio. O peróxido de hidrogênio é encontrado em baixas concentrações em muitos produtos domésticos para uso medicinal ou como clareador. Na indústria, ele é usado em concentrações mais elevadas para clarear tecidos e pasta de papel. Na área medicinal é usada como esterilizante. A água oxigenada é comercializada em 10, 20, 30 “volumes” que indica a quantidade de gás oxigênio liberada na decomposição completa de um litro de solução. A seguinte relação pode ser utilizada para se converter concentrações de peróxido de hidrogênio expressas em volumes em porcentagem: %𝐻2𝑂2 = (0,3037 ∗ 𝑉) Equação (1) Onde “V” representa a concentração de uma solução expressa em “volumes”. A reação de decomposição do peróxido de hidrogênio em solução aquosa é de primeira ordem: 2𝐻2𝑂2(𝑎𝑞) → 2𝐻2𝑂(𝑙) + 𝑂2(𝑔) Reação (1) Esta reação é bastante lenta e para aumentar a velocidade, utiliza-se um ácido de Lewis, o cloreto de Fe (III) FeCl3 como catalisador. O catalisador aumenta a velocidade da reação porque participa de etapas cuja energia de ativação é bem menor que a reação não catalisada. Ao final do processo o catalisador é recuperado com a mesma concentração original. O seguinte mecanismo de 2 etapas é proposto para a decomposição catalisada do peróxido de hidrogênio: 𝐻2𝑂2(𝑎𝑞,𝑖𝑛𝑐𝑜𝑙𝑜𝑟) + 𝐹𝑒𝐶𝑙3(𝑎𝑞,𝑎𝑚𝑎𝑟𝑒𝑙𝑜) ⇆ {𝐻2𝑂2 … 𝐹𝑒𝐶𝑙3 }(𝑎𝑞,𝑚𝑎𝑟𝑟𝑜𝑚) (Etapa 1) {𝐻2𝑂2 … 𝐹𝑒𝐶𝑙3 }(𝑎𝑞,𝑚𝑎𝑟𝑟𝑜𝑚) → 𝐻2𝑂(𝑙) + 1 2⁄ 𝑂2(𝑔) + 𝐹𝑒𝐶𝑙3(𝑎𝑞,𝑎𝑚𝑎𝑟𝑒𝑙𝑜) (Etapa 2) Como o processo apresenta lei de velocidade de primeira ordem, então podemos escrever a equação de velocidade como: ln[𝐻2𝑂2] = −𝑘𝑡 + ln [𝐻2𝑂2]0 Equação (2) O experimento de acompanhamento cinético desta reação consiste em determinar em diferentes intervalor de tempo a concentração remanescente de água oxigenada através da titulação em meio ácido com solução aquosa de permanganato de potássio. A titulação de alíquotas da mistura reacional em intervalos de tempo deve ser conduzida em meio ácido, pois, este quebra o complexo formado pelo peróxido de hidrogênio com o cloreto de ferro (III) parando a reação de decomposição além de manter o pH adequado para que a seguinte reação de oxirredução ocorra: 2𝑀𝑛𝑂4 (𝑎𝑞) 2− + 5𝐻2𝑂2(𝑎𝑞) + 6𝐻(𝑎𝑞) + → 2𝑀𝑛(𝑎𝑞) 2+ + 8𝐻2𝑂(𝑙) + 5𝑂2(𝑔) Reação (2) Como o volume de permanganato de potássio gasto na titulação é proporcional à concentração de peróxido de hidrogênio na alíquota então a equação 2 pode ser utilizada da seguinte maneira: ln 𝑉(𝐾𝑀𝑛𝑂4(𝑎𝑞)) = −𝑘𝑡 + 𝑙𝑛𝑉0(𝐾𝑀𝑛𝑂4(𝑎𝑞)) Equação (3) Construindo-se o gráfico do ln V(KMnO4(aq)) em função do tempo pode-se calcular a inclinação da reta y versus x que é exatamente a constante de velocidade da reação, k. O tempo de meia vida da reação catalisada (t1/2), por se tratar de um processo de primeira ordem, é determinado pela equação 4: 𝑡1 2⁄ = 𝑙𝑛2 𝑘 Equação (4) 2- OBJETIVO Determinar os aspectos cinéticos da reação de decomposição do peróxido de hidrogênio catalisada por cloreto de ferro (III). Calcular a constante de velocidade da reação e o tempo de meia vida da reação catalisada. 3- PROCEDIMENTO EXPERIMENTAL Com uma proveta de 250 mL, transferiu-se 100 mL da solução de peróxido de hidrogênio (0,16 mol/L) para um erlenmeyer de 250 mL. Pipetou-se 10 mL da solução de cloreto de ferro (III). Adicionou-se os primeiros 5 mL de FeCl3 na solução de peróxido de hidrogênio e acionou-se o cronômetro imediatamente após a adição do catalisador. Adicionou-se os 5 mL restantes e manteve-se o cronômetro ligado durante todo o experimento. Manteve-se a solução de peróxido de hidrogênio na presença do catalisador em agitação por aproximadamente 8 minutos. Completou-se uma bureta de 50 mL, presa adequadamente em um suporte, com uma solução 0,008 mol/L de permanganato de potássio. Foi certificado que não havia bolhas no interior e na ponteira da bureta cheia dessa solução. Foi adicionado 5 mL de solução 5:1 de ácido sulfúrico em cada um de seis erlenmeyers de 250 mL. Este conjunto foi reservado. Após 8 minutos pipetou-se uma alíquota de 5 mL da solução reacional em um dos erlenmeyers de 250 mL contendo a solução diluída de ácido sulfúrico. O tempo em segundos foi lido e anotado. Em seguida titulou-se a alíquota com a solução de permanganato de potássio, o volume gasto foi lido e anotado. Repetiu-se cinco vezes este procedimento em intervalos de 3 minutos, sempre anotando o tempo e o volume de titulante gasto. 4- APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS Os dados obtidos no experimento estão apresentados na tabela a seguir. Tabela 1 – Valores de volume de permanganato de potássio gasto na titulação de alíquotas da mistura reacional coletadas em diferentes intervalos de tempo (t). Erlenmeyer Tempo (s) VKMnO4 (mL) ln V KMnO4 1 500 10,0 2,30258 2 771 5,7 1,74047 3 1026 3,6 1,28093 4 1357 2,3 0,83291 5 1588 1,7 0,53063 6 1762 1,4 0,33647 Os dados apresentados na tabela 1 foram usados para se fazer o gráfico 1. Através de uma regressão linear foi possível obter a inclinação da reta y versus x que é exatamente a constante de velocidade da reação, k. Gráfico 1 – ln V(KMnO4(aq)) em função do tempo Partindo dos valores apresentados no gráfico podemos obter a constante de velocidade k da reação. Pela equação 3, temos que o coeficiente angular da reta é exatamente igual a constante k. ln 𝑉(𝐾𝑀𝑛𝑂4(𝑎𝑞)) = −𝑘𝑡 + 𝑙𝑛𝑉0(𝐾𝑀𝑛𝑂4(𝑎𝑞)) 𝑦 = 𝐴𝑥 + 𝐵 𝑦 = −0,00154𝑡 + 3 𝐴 (𝑖𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎çã𝑜) = −𝑘 𝐴(𝑖𝑛𝑐𝑙𝑖𝑛𝑎çã𝑜) = (−0,00154 ± 0,00008)𝑠−1 𝑘 = (0,00154 ± 0,00008)𝑠−1 Ainda com a equação da reta obtida podemos calcular a concentração inicial de peróxido de hidrogênio. Temos que: 2𝑀𝑛𝑂4 (𝑎𝑞) 2− + 5𝐻2𝑂2(𝑎𝑞) + 6𝐻(𝑎𝑞) + → 2𝑀𝑛(𝑎𝑞) 2+ + 8𝐻2𝑂(𝑙) + 5𝑂2(𝑔) 𝜂𝐻2𝑂2 = 5 2 𝜂𝑀𝑛𝑂42− 𝜂𝐻2𝑂2 = 5 2 [𝑀𝑛𝑂4 2−] ∗ 𝑉𝑀𝑛𝑂42− [𝐻2𝑂2] ∗ 𝑉𝐻2𝑂2 = 5 2 [𝑀𝑛𝑂4 2−] ∗ 𝑉𝑀𝑛𝑂42− [𝐻2𝑂2] = 5 2 [𝑀𝑛𝑂4 2−] ∗ 𝑉 𝑀𝑛𝑂4 2− 𝑉𝐻2𝑂2 Equação (5) 𝑙𝑛𝑉0(𝐾𝑀𝑛𝑂4(𝑎𝑞)) = 𝐵 = 3 𝑉0(𝐾𝑀𝑛𝑂4) = 𝑒 3 𝑉0(𝐾𝑀𝑛𝑂4) = 20,1 𝑚𝐿 [𝐻2𝑂2]0 = 5 2 [0,008] ∗ 20,1 5,0 [𝐻2𝑂2]0 = 0,0804 𝑚𝑜𝑙/𝐿 𝐶𝐻2𝑂2% = 0,0804 𝑚𝑜𝑙 𝐿 ∗ 34𝑔 𝑚𝑜𝑙 = 2,7336 𝑔/𝐿 𝐶𝐻2𝑂2% = 0,27 % %𝐻2𝑂2 = (0,3037 ∗ 𝑉) 0,27 = 0,3037 ∗ 𝑉 𝑉 = 0,9 𝑉 = 1 𝑣𝑜𝑙 Partindo aindado valor encontrado para a constante k de velocidade e da equação 4, podemos calcular o tempo de meia vida da reação catalisada, temos: 𝑡1 2⁄ = 𝑙𝑛2 𝑘 𝑡1 2⁄ = 𝑙𝑛2 0,00154 𝑡1 2⁄ = 450 𝑠 Partindo da equação 5 podemos calcular a concentração de peróxido de hidrogênio ao longo do processo, em cada uma das alíquotas, temos: [𝐻2𝑂2] = 5 2 (0,008) 𝑉𝑀𝑛𝑂4− 5 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− Erlenmeyer 1 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 10,0 [𝐻2𝑂2] = 0,04𝑚𝑜𝑙/𝐿 Erlenmeyer 2 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 5,7 [𝐻2𝑂2] = 0,0228𝑚𝑜𝑙/𝐿 Erlenmeyer 3 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 3,6 [𝐻2𝑂2] = 0,0144𝑚𝑜𝑙/𝐿 Erlenmeyer 4 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 2,3 [𝐻2𝑂2] = 0,0092𝑚𝑜𝑙/𝐿 Erlenmeyer 5 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 1,7 [𝐻2𝑂2] = 0,0068𝑚𝑜𝑙/𝐿 Erlenmeyer 6 [𝐻2𝑂2] = 0,004𝑉𝑀𝑛𝑂4− [𝐻2𝑂2] = 0,004 ∗ 1,4 [𝐻2𝑂2] = 0,0056𝑚𝑜𝑙/𝐿 5- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Analisando-se os dados obtidos experimentalmente e o seu devido tratamento por meio de análise gráfica é possível observar que a reação de decomposição do peróxido de hidrogênio catalisada por cloreto de ferro (III) trata-se de uma reação de primeira ordem. Neste tipo de reação a concentração do reagente diminui exponencialmente com o tempo, em uma velocidade determinada pela constante k. Com o processo de regressão linear foi possível obter o valor de k, que para esta reação é próximo de 1,54 * 10-3 s-1. Outra indicação útil da velocidade de uma reação química de primeira ordem encontrada no tratamento dos dados é a meia-vida (t1/2), de uma substância, isto é, o intervalo de tempo necessário para a concentração de um reagente cair à metade do seu valor inicial. Com base no valor da concentração inicial de peróxido de hidrogênio que foi de 0,08 mol/L, espera-se que no decorrer do tempo de meia-vida, que para esta reação é de 450 s, a concentração do reagente, ou seja, do peróxido, tenha caído pela metade. Isto se mostrou verdadeiro, no decorrer de 500 s, tempo próximo do valor da meia-vida, a concentração caiu a 0,04 mol/L, metade do valor inicial. Observando-se a concentração inicial de peróxido de hidrogênio obtida e comparando-a com a concentração apresentada no rótulo do reagente, nota-se evidente discrepância nos valores. O frasco trazia uma concentração de 0,16 mol/L, ao passo que o valor encontrado foi de 0,08 mol/L, metade do indicado. Esta diferença dos valores pode ter se dado em decorrência de uma prévia decomposição do reagente antes de seu uso no experimento, seja durante o armazenamento ou no decorrer do manuseio anterior ao procedimento. 6- CONCLUSÃO Com os dados obtidos foi possível determinar os aspectos cinéticos da reação de decomposição do peróxido de hidrogênio catalisada por cloreto de ferro (III). Partindo-se da análise gráfica dos dados foi possível constatar que a reação de fato tratava-se de uma reação de primeira ordem. Calculou-se a constante de velocidade da reação e o valor encontrado foi 1,54 * 10-3 s-1. Também foi possível calcular o tempo de meia-vida da reação catalisada, que foi de 450 s. REFERÊNCIAS 1. ATKINS, Peter. PAULA, Julio de, Físico-Química, vol.2, 10ª. Edição, LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, 2018.
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