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PERFIL DO ALUNO INGRESSANTE NAUNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UMA ANÁLISE DESCRITIVA E DE TAXAS DE CRESCIMENTO DE INGRESSOS NAS MODALIDADES DE AMPLA CONCORRÊNCIA E AÇÕES AFIRMATIVAS ENTRE OS ANOS DE 2012 E 2015 Marcello Nascimento de Lima 1 , Júlio Cesar Menezes de Oliveira 1 , Tássia Ruiz 2 , Marcelino Alves Rosa de Pascoa 3 RESUMO O estudo analisa taxas de variação entre o ingresso e vagas ofertadas nas modali- dades de Ampla Concorrência e Ações Afirmativas na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), tendo como base a implementação da Lei nº 12.711/2012. O objetivo é verificar se há equilíbrio na porcentagem de ingresso em relação as vagas ofertadas pela Universidade e avaliar o impacto de critério como raça e ensino médio no ingresso por ações afirmativas conforme a lei de cotas propõe na instituição de ensino Superior. As categorias L1 (Estudantes de baixa renda e de escola pública) e L3 (Estudantes de escola pública) apresentam comportamento semelhante assim como a L2 (Estudantes de baixa renda, pretos, pardos e indígenas de escola pública) e L4 (Estudantes pretos, pardos e indígenas de escola pública). Em uma visão por campi da UFMT, verifica-se que a categoria L2 teve maior taxa de crescimento positivo durante o período de estudo. PALAVRAS-CHAVE: ações afirmativas, estatísticas públicas, ingresso, ensino superior. INTRODUÇÃO A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) é uma autarquia federal criada no ano de 1970 e, vinculada ao Ministério da Educação (MEC), possui atividades de en- sino, pesquisa e extensão, possibilitando aos docentes e discentes, investigações em diversas áreas. Conta atualmente com 111 cursos de graduação (incluindo as habilitações e EaD), 56 cursos de especialização e aproximadamente 20 mil estudantes matriculados [5]. Desde 2010, a UFMT regimentou o uso do Sistema de Seleção Unificada (SiSU) como método de ingresso e assim permite que o estudante consiga pleitear uma vaga nesta instituição de ensino superior – As categorias atuais de ingresso na instituição são por Ampla Concorrência (AC) e Ação Afirmativa (AA). Segundo a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR), (SEPPIR, 2016), as AA’s são medidas que visam atribuir direitos iguais aos grupos na sociedade que são considerados oprimidos ou sofrem com sequelas históricas opressivas. As próprias são consideradas políticas constitucionais e necessárias para corrigir as desigualdades existentes, como reverter a representação negativa de negros e pobres, e procuram partir do conceito de equidade já previsto no Art. 5º da Constituição 1 Graduando em Estatística, Universidade Federal de Mato Grosso. 2 Pró-Reitoria de Assistência Estudantil, Universidade Federal de Mato Grosso. 3 Professor no Departamento de Estatística, Universidade Federal de Mato Grosso. Federal de 1988. A SEPPIR afirma ainda que é preciso entender que as AA’s não são um benefício e que, para criar estas políticas, devemos possuir um conhecimento do contexto social vivido no cenário atual (país) e analisar dados estatísticos que comprovem diferenças da situação no cenário em relação à população. Após a análise estatística, os gestores governamentais encaminham a legislação, monitorando-a até sua devida aprovação [1,2]. No ambiente universitário, as AA’s possibilitam o ingresso do estudante que cursou o ensino médio integralmente em escolas públicas que se enquadram nas catego- rias de baixa renda, negros, pardos e indígenas. O ingresso dos estudantes de escola pú- blica é importantíssimo por estes possuírem menos oportunidades de acesso por diversos fatores, por exemplo, o nível da educação básica, que é distinta dos níveis superiores da educação privada [2]. Em vigência, a Lei nº 12.711/2012 (além da Portaria Normativa nº 18/MEC e do Decreto de Lei nº 7.824/2012), que dispõe do ingresso de estudantes nas Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), Ensino Médio técnico e Universidades Federais (UF’s) [4] foi sancionada em 30 de agosto de 2012 com o objetivo de garantir a reserva de pelo menos 50,00% de vagas ofertadas por curso para estudantes que cursaram o Ensino Médio em escolas públicas e, deve-se levar em consideração o percentual mínimo correspondente a soma de pretos, pardos e indígenas no estado, seguindo o último Censo Demográfico, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [2,4]. Atualmente, há quatro subcategorias que definem a classificação de ingresso dos estudantes. As modalidades estão separadas em: L1 – Estudantes de baixa renda e de escola pública; L2 – Estudantes de baixa renda, pretos, pardos ou indígenas e de escola pública; L3 – Estudantes de escola pública; L4 – Estudantes pretos, pardos ou indígenas e de escola pública. Até o fim de 2016, cada categoria deverá corresponder a 12,50% das vagas distribuídas aos ingressos em relação ao total de vagas ofertadas em ação afirmativa aos estudantes de escolas públicas e com renda inferior a 1,5 salários mínimos, com proporção igual a estudantes com renda igual ou superior a 1,5 salários mínimos. A mesma proporção deverá valer aos estudantes pretos, pardos e indígenas, totalizando assim 50,00% para a soma de todas as categorias [3]. Neste contexto, o estudo ponderará as taxas de variação de crescimento entre o ingresso nas modalidades de AC e AA do estudante ingresso na Universidade Federal de Mato Grosso, através da implementação da Lei nº 12.711/2012, tendo como base dados de raça e ensino médio, critérios diretamente relacionados a modalidade de vagas ofertadas por AA’s, e verificar-se-á o equilíbrio na porcentagem de vagas ofertadas conforme a lei de cotas propõe. O estudo propõe-se a analisar um recorte específico e não traz intenção de esgotar tal assunto, logo, não há necessidade de aprofundamento nesta pesquisa, uma vez que utilizamos apenas uma quantidade pequena de dados, pois se acredita que a análise de alunos ingressantes é um assunto complexo e requer tempo e múltiplas variáveis de estudo. METODOLOGIA Os dados analisados são de origem do SiSU e são encaminhados para a Secretaria de Tecnologia da Informação (STI/UFMT) durante os processos seletivos. Realizou-se uma estratificação da base de dados da STI/UFMT nas variáveis raça, ensino médio e modalidade de ingresso. O software utilizado para o tratamento descritivo foi o Excel (2013), incluso no pacote Office, versão Standard da Microsoft. As análises realizadas possuem ferramentas descritivas amplamente aplicadas em pesquisas públicas e sociais, com a finalidade de explicar as variáveis de estudo e análise de variação de crescimento percentual para indicar ganhos e perdas. Os dados serão apresentados em tabelas de resumo geral e de variação, com grá- ficos de relevância coerente às categorias que estão em análise. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Na Tabela 1 é apresentado um cenário global de estudantes ingressantes em AC e AA na UFMT no período de 2012 e 2015.Tem-se um total de 19969 ingressantes, sendo 50,66% de AC e 49,34% de AA – sendo os dois maiores resultados percentuais em 2015 para AC, que conta com 50,57% (2753) e em 2012 para AA com 50,09% de ingressantes (2509). Entre os anos de 2013 a 2015, o número de ingressos cresceu em 12,78% (424) na modalidade de AA, e 10,08% (391) para estudantes de AC. Em um panorama geral, a UFMT está caminhando para uma consolidação das modalidades de AA’s implementadas desde 2012. Tabela 1. Total de ingressantes em AC e AA na UFMT no período de 2012 a 2015. Ano AC % AA % Total % 2012 2500 49,91 2509 50,09 5009 25,08 2013 2362 51,03 2267 48,97 4629 23,18 2014 2501 51,18 2386 48,82 4887 24,47 2015 2753 50,57 2691 49,43 5444 27,26 Total 10116 50,66 9853 49,34 19969 100,00 Fonte: Secretaria de Tecnologiada Informação e Comunicação (STI/UFMT). Tabela 2. Total de vagas ofertadas em AC e AA na UFMT no período de 2013 a 2015. Ano AC % AA % Total % 2012* 2574 47,46 2850 52,54 5424 24,78 2013 2544 49,66 2579 50,34 5123 23,40 2014 2687 49,69 2721 50,31 5408 24,71 2015 2941 49,57 2992 50,43 5933 21,11 Total 10746 49,10 11142 50,90 21888 100,00 *Em 2012, o número de sobrevagas foi incluso nas ações afirmativas por haver relação com as variáveis em análise. Fonte: Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI/UFMT). Conforme Tabela 2, se comparado o ingresso de estudantes com o número de vagas ofertadas pela Universidade, nota-se que a maioria das vagas ofertadas são de AA’s. Para melhor compreensão do leitor, no ano de 2012 foram inclusas as sobrevagas destinadas a negros e estudantes de baixa renda. Analisando os períodos intervalares de 2012-2013, 2013-2014 e 2014-2015, para cada intermitência tem-se três taxas de variação distintas em relação ao percentual de vagas para cada ano, sendo 2,20% para o primeiro intervalo, 0,03% para o segundo e 0,12% para o último (sendo estes dois últimos considerados pouco significativos). Avaliando as vagas de AC, tem-se taxas de variação de crescimento nos dois primeiros intervalos anuais, e declínio percentual no último. De modo contrário, ao avaliar as taxas de variação para as AA’s, compreende-se que os dois primeiros períodos intervalares são de variação negativa, implicando em declínio percentual, e crescimento no último período intervalar. Na Tabela 3, temos o número total de vagas e de ingressantes na Universidade e o percentual de vagas preenchidas. Note que, a partir de 2013 (considerando este ano, o período de implantação das categorias de ingresso), há uma variação positiva de crescimento em relação ao percentual de vagas preenchidas, sendo de 0,01% no período de 2013-2014, e de 1,39% em relação a 2014-2015. Isto implica que, a cada ano há um aumento de preenchimento de vagas, porém, não muito expressivos. Tabela 3. Taxa de preenchimento do total de vagas em relação ao total de ingressantes na UFMT, de 2012 a 2015. Ano Vagas Ingressantes (%) de vagas preenchidas 2012 5424 5009 92,35 2013 5123 4629 90,36 2014 5408 4887 90,37 2015 5933 5444 91,76 Total 21888 19969 91,23 Fonte: Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI/UFMT). A Figura 1 mostra as informações de raça em relação ao percentual total de ingressantes na UFMT (AC e AA) no período de estudo de 2012-2015. A maioria destes ingressantes é representada pela raça de preto-pardos e raça branca. Entretanto, se analisado apenas o ingresso por ampla concorrência nota-se majoritariamente o percentual de estudantes autodeclarados brancos, o que resulta em aproximadamente 54,90%. Figura 1. Percentual de ingressantes na UFMT, por raça, de 2012 a 2015. Fonte: Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI/UFMT). AA Pardo/Mulato Branca Negro Amarela Indígena Não informado AC Branca Pardo/Mulato Negro Amarela Não informado Indígena Total Pardo/Mulato Branca Negro Amarela Não informado Indígena Na figura 2, tem-se a evolução do número de estudantes ingressantes por ações afirmativas em cada modalidade de ingresso na UFMT, de 2012 a 2015, incluindo as sobrevagas. As sobrevagas são restritas apenas para o ano de 2012, isto possui um reflexo no início dos estudos relacionados com as ações afirmativas em cada modalidade de ingresso, quando existiam as modalidades de ingresso “AF1 (Candidatos negros que tenham cursado integralmente a educação básica em escolas públicas), AF2 (Candidatos que tenham cursado integralmente a educação básica em escolas públicas) e AF/Negros (Sobrevagas Destinadas a Estudantes Negros de Família de Baixa Renda)”. As categorias L1 (Estudantes de baixa renda e de escola pública) e L2 obtiveram um crescimento acentuado no período de estudo, tendo a L2 (Estudantes de baixa renda, pretos, pardos e indígenas de escola pública) o maior crescimento em cerca 434,31% entre os anos de 2012 e 2013. Por outro lado, a categoria L3 (Estudantes de escola pública) teve um declínio de aproximadamente 73,00% entre os anos de 2012 e 2013. A partir de 2013, todas as categorias mantiveram aproximadamente a mesma taxa de variação de crescimento. Figura 2. Número de ingressantes de ação afirmativa em cada modalidade de ingresso incluindo as sobrevagas de 2012, por ano. Fonte: Secretaria de Tecnologia da Informação e Comunicação (STI/UFMT). Sabemos que as categorias L1 e L3 são categorias de ingresso que independem de raça, e as categorias L2 e L4 dependem desta. No período de 2013 a 2015, verifica-se que há uma similaridade entre L1 e L3, denotando que as variáveis “renda” e “escola pública” possuem um fator análogo de impacto. Isso também se aplica as categorias L2 e L4 que dependem de renda e raça, sendo que o ingressante negro, pardo/mulato ou indígena oriundo de escola pública tem semelhança com os ingressantes de baixa renda. CONCLUSÃO Acredita-se que a Universidade Federal de Mato Grosso tem cumprido a lei nº 12.711/2012, o decreto e a portaria normativa do MEC em prol do equilíbrio de ingressantes, ampliando progressivamente o número de vagas. Sabendo que até o fim de 2016 esta lei deve ser adaptada, conclui-se que a partir de 2013, o número de ingressantes vem aumentando gradativamente, porém com um crescimento muito pequeno, possibilitando a afirmação de que a Universidade está buscando cumprir com a moderação de vagas e ingressos, especialmente nas AA’s, a qual suas modalidades de ingresso aumentam a cada ano, entretanto, mantendo ainda um crescimento muito pequeno de modo paralelo. Em estudos futuros será relevante investigar variáveis 0 366 369 469 137 732 784 882 1492 403 422 467 880 766 796 871 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 2012 2013 2014 2015 L1 L2 L3 L4 relacionadas ao ingresso no ensino superior, bem como, fatores que interferem no acesso dos estudantes as vagas ofertadas pela Universidade Federal de Mato Grosso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] ARAÚJO, C.M.M.; POLIDORI, M.M. Análise dos Sistemas de Educação Superior no Brasil e Portugal o que apontam as políticas educacionais. Editora EdiPUCRS. Porto Alegre, 2012. [2] Políticas de Promoção da Igualdade Racial, O que são ações afirmativas? Disponível em: <http://www.seppir.gov.br/assuntos/o-que-sao-acoes-afirmativas>. Acesso em: 14 mar. 2016. [3] SANTOS, J. T. O impacto das cotas nas universidades brasileiras (2004-2012). Salvador: CEAO, 2013. 280 p. [4] BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas uni- versidades federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, 30ago. 2012. Disponível em: <http://www.in.gov.br>. Acesso em: 30 mar. 2016. [5] UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO. Relatório de Gestão 2014/2015. Cuiabá, 2015. 106 p. Disponível em: <http://www.ufmt.br>. Acesso em: 30 mar. 2016.
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