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1 TÓPICOS ESPECIAIS EM NEUROPSICOPEDAGOGIA 1 Sumário NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA ................................................................. 3 BASES NEUROLÓGICAS E APRENDIZAGEM ...................................... 6 Dimensão Interna do Desenvolvimento ................................................ 9 Educação dos Sentidos ...................................................................... 10 O cérebro e o sistema nervoso .............................................................. 15 O desenvolvimento da mente e do comportamento ........................... 21 Referências ............................................................................................ 26 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 NEUROCIÊNCIA COGNITIVA Caro(a) aluno(a), devido à grande elucidação dos conhecimentos inerentes ao cérebro e à aprendizagem, podemos iniciar de forma mais aprofundada o relacionamento desses temas dentro de bases neurológicas e de aprendizagem. Poderíamos falar um pouco mais sobre aspectos cognitivos ou da ciência que estuda essa condição, a neurociência. Não que já não tenhamos mencionado na primeira parte, mas falar de neurociência, como vimos, é falar de aprendizagem, e quando falamos de aprendizagem automaticamente devemos colocá-la do ponto de vista cognitivo, relacionando-a com todo o pensamento humano e memória. Neurociência cognitiva é o estudo do planejamento, do uso da linguagem e das diferenças entre memória para eventos específicos e memória para execução de habilidades motoras. Esses são exemplos da análise do nível cognitivo. Essa ciência atualmente é um misto de Neurofisiologia, Anatomia, Biologia Desenvolvimentista, Biologia Molecular e Celular e Psicologia Cognitiva. Pois bem, você precisa conhecer tudo isso para trabalhar no dia a dia? Evidente que não, mas relato aqui, apenas, para mostrar tamanho dessa ciência e como muitas profissões podem inferir no processo de ensino aprendizagem. Ou seja, ensinar ou aprender tem todo um aspecto de multidisciplinaridade, em que todos são importantes para o êxito do aprender. Pois bem, inicialmente posso apontar que o aprendizado é decorrente da sensação e percepção sensorial que são o ponto de partida para a pesquisa dos processos mentais. Você pode ter se assustado com esse início, mas aqui não teremos dificuldades, posso apostar. Quem nunca estudou, seja na infância, faculdade ou em outros momentos da sua formação, aqueles famosos órgãos dos sentidos? Isso mesmo, conhecimento é obtido por meio da experiência sensória, de tudo aquilo que nós vemos, ouvimos, cheiramos, tocamos, degustamos (e olha que nem estamos falando de Psicomotricidade), do nosso nascimento até nossa morte. Daí a concepção de que sempre podemos aprender desde que nascemos e só paramos quando morremos. As experiências pelas quais passamos em nossas vidas são informações que chegam ao sistema nervoso central na forma de estímulos sensoriais. O 4 encéfalo processa essas informações procurando compará-las com outras que foram previamente guardadas, reconhecendo-as ou não. Esse mecanismo não envolve apenas os aspectos físicos dessa informação (cor, forma, tamanho), mas também as relacionando com os aspectos diretamente ligados aos sentimentos e emoções. Após seu processamento, um conjunto de sensações é memorizado com a informação recebida que pode ser agradável ou não. Lembra-se da criança e da gaveta de facas exemplificada na unidade inicial desse material? Se cortarmos a mão na gaveta de facas, aprenderemos o que ela gera, normalmente dor, ou para que serve aquele objeto. Permita-me tentar explicar melhor imagine um cipó meio cheio ou meio vazio. Certamente obtivemos todos os tipos de resposta, uns disseram que está vazio, outros, cheio e para outros, ainda está no meio, pois bem, essas respostas emergiram da sua cabeça por todas as experiências já vividas até aqui, e é dependente sim do ponto de vista individual. Tem sido dito que a beleza está nos olhos de quem a vê. Como hipótese, essa ideia indica claramente o problema central da cognição. O mundo da experiência é produzido pelo homem que a vivência. Vamos então supor que a mente pudesse ser, como se diz, um papel em branco sem quaisquer letras, sem quaisquer ideias. Como então ela poderia ser mobiliada? De onde vêm todos os materiais da razão e do pensamento? Para isso, eu respondo em uma palavra: Experiência. Experiência que fundamenta todo nosso conhecimento e, a partir dela, em última análise, ele se origina. Pegue um papel em branco, pegue um lápis e faça um risco bem fino e fraco. Agora ainda com o lápis, faça um traço mais forte. Agora tome uma borracha e apague esses riscos. Apagou? Analise o papel e veja se ele voltou a ser o mesmo papel que antes de riscar. Voltou? Analise bem, mesmo sem a marca de lápis, certamente uma marca ficou na folha em branco, mesmo aquele risco fraquinho. Quando você passou a borracha, descascou um pouco a folha e ela nunca mais voltará a ser como antes, correto? Poderia dar outros comandos, risque com uma caneta ou amasse esse papel. Teria como deixá-lo como antes? Impossível. Pois bem, nosso cérebro, quando nascemos, é uma 5 folha em branco. Devemos por meio de vários estímulos, marcar de forma positiva a cabeça desses indivíduos e posso afirmar a todos aqui que sempre deixamos nossa marca, para alguns, ela é muito forte e, para outros, ela influencia alguma coisa, mesmo que seja como um risco fininho na cabecinha desses que estão aprendendo. Se ainda não ficou claro, reflita: se falar um palavrão. Certamente a criança rapidamente irá gravar, não é? As coisas boas também podem ser gravadas, é você quem deve ser um dos mediadores disso. Os órgãos dos sentidos são canais de captação dessas novas informações, mas eles apresentam algumas limitações, por exemplo, nem todas as frequências sonoras que chegam ao nosso sistema auditivo são percebidas pelo nosso cérebro, isto é, nem todos os sons que chegam à região auditiva serão processados, assim, consequentemente não iremos percebê-los ou identificá-los de modo consciente. Nosso cérebro ignora 99% das informações que chegam até ele. Nossas percepções diferem-se qualitativamente das propriedades físicas dos estímulos, visto que o sistema nervoso extrai somente determinadas partes da informação de cada estímulo, enquanto ignora outras, e assim interpreta está informação no contexto das estruturas encefálicas e das experiências prévias. Dessa forma, recebemos ondas eletromagnéticas de diferentes frequências, mas as percebemos como as cores vermelho, azul e verde. Recebemos ondasde pressão dos objetos vibrando em diferentes frequências, mas ouvimos sons, palavras e músicas. Cores, sons, sabores e odores são criações mentais construídas pelo encéfalo a partir da experiência sensória. Elas não existem, como tal, fora do encéfalo. Para explicar melhor, nesse momento, ao ler esse material, inúmeros outros sons estão ao seu entorno, sejam eles, barulho de carro, de portas, do vento, de passarinhos, da televisão, do rádio, de pessoas conversando. Simplificando, inúmeros sons estão acontecendo e seu cérebro não os percebes, uma vez que sua atenção está somente nas palavras escritas nesse documento. Por exemplo, identifique os sons que estão acontecendo agora ao seu entorno. Agora os que mais gosto, você percebe a roupa em contato com a sua pele? Agora que voltou sua atenção para isso, certamente. Você percebe a pressão que seu glúteo exerce sobre a cadeira? Agora, certamente, pois voltou sua 6 atenção para isso. É claro que quando viajamos durante horas na posição sentada, iremos perceber essa pressão, mas que quero mostrar a você é que nosso cérebro escolhe e ordena aquilo que é mais importante em dado momento de nosso cotidiano, assim ele descarta muitos estímulos sensoriais que chegam a ele, com o intuito de priorizar tudo que julga ser mais importante naquele momento, agora, por exemplo, a leitura desse texto. Em outras palavras, tudo que sabemos sobre a realidade é medida não somente pelos órgãos dos sentidos, mas também por complexos sistemas que interpretam e reinterpretam as informações sensoriais. BASES NEUROLÓGICAS E APRENDIZAGEM O que é aprender? O que é Neurociência? Como ensinar da melhor maneira que os cérebros possam aprender? Como funciona o cérebro? Quais suas potencialidades e limitações? Como conhecimento sobre esses assuntos abordados podem ser aliados do professor? Quanta pergunta não é mesmo? Tentarei, ao longo dessas páginas, respondê-las e esclarecer dúvidas inerentes à aprendizagem humana, e a partir de então, proporcionar um conhecimento mais palpável e interventivo a todos vocês. Começamos a responder a primeira pergunta, aprendizagem é um processo magnífico que ativa e fortalece sinapses, deixando-as cada vez mais intensas, a cada estímulo novo, a cada repetição de algo que queremos consolidar, circuitos neurais processam as informações que deverão ser firmadas e guardadas em nosso cérebro. O que é Neurociência já foi explicado no item anterior, e chegamos ao seguinte questionamento: como o cérebro funciona? Bastante complexa essa questão, levaríamos uns dois anos para compreender e ter uma base de conhecimento ótima sobre o cérebro. Então partiremos de questões gerais que servirão de base para um aprofundamento maior. Todos somos únicos, correto? Pelo menos aos olhos de nossos pais somos perfeitos, brincadeira pessoal. Falamos há pouco que, devido a nossa experiência de vida, e àquilo que percebemos do meio que nos rodeia, redes 7 neuronais serão moldadas e firmadas e isso dependerá da história de cada um. Alguns crescem em metrópoles gigantescas, outros brincaram muito quando crianças, subindo em árvores, jogando pedras etc., parece pouco, mas acreditem, nos dias de hoje a falta de segurança e as condições sociais fazem que a nova geração tenha um repertório motor limitado, o que torna a subir em árvore ou jogar uma pedra atividades complexas. Pois bem, se nascemos e crescemos em lugares diferentes, nosso cérebro é moldado de uma forma diferente. Isso ocorre até mesmo para irmãos gêmeos que foram criados na mesma casa e educados pelos mesmos pais e professores, eles podem ser diferentes, pois as motivações e influências ambientais os marcaram diferentemente, ou seja, o cérebro é sempre igual para meninos e meninas do ponto de vista de uma estrutura anatômica, físico-química, mas somos diferentes, pois temos redes neuronais que nos tornam únicos. Dependendo da área do cérebro, os neurônios processam coisas específicas, por exemplo, as inteligências múltiplas conforme aponta Gardner em sua obra em 1983: 1. Inteligências Linguísticas: característica dos poetas, a capacidade mais completa; Localização no Cérebro: Área de Broca. 2. Inteligências Lógico-Matemática: a Capacidade lógica e matemática, assim como capacidades científicas; Localização no Cérebro: Área de Broca. 3. Inteligência Espacial: a capacidade de formar um mundo espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo (Marinheiros, Engenheiros, cirurgiões, etc.); Localização: hemisfério direito do cérebro. 4. Inteligência Musical: possuir o dom da música como Mozart; Localização: hemisfério direito do cérebro. 5. Inteligência Corporal Cinestésica: capacidade de resolver problemas ou elaborar produtos utilizando o corpo (Dançarinos, Atletas, artistas, etc.); Localização: hemisfério esquerdo do cérebro. 6. Inteligência Interpessoal: capacidade de compreender outras pessoas (Vendedores, Políticos, Professores, etc.); Localização: Lobos Frontais. 8 7. Inteligência Intrapessoal: capacidade correlativa, voltada para dentro. Capacidade de formar um modelo acurado e verídico de si mesmo e de utilizar esse modelo para operar efetivamente na vida. Localização: Lobos Frontais. O cérebro humano funciona integralmente (desconsiderando patologias neurológicas), essa história que escutamos há tempos que utilizamos apenas uma parte do cérebro humano e que, quando formos capazes de controlar 100% dele, poderemos até nos comunicar por telepatia não é verdade pessoal, nosso cérebro é sim algo a ser desvendado, mas o usamos integralmente. O cérebro não só aprende, como também se reorganiza. Imagine uma pessoa cega e responda a seguinte indagação: ela nasce com uma capacidade tátil mais aguçada ou desenvolve? Aprimora essa condição pela necessidade? Isso mesmo pessoal, uma criança que nasce cega, terá de adaptar outro órgão do sentido para minimizar os prejuízos da aprendizagem e da experiência, assim são aprimorados outros sentidos, como o tátil e auditivo, por exemplo. O cérebro humano passa por um longo processo de maturação biológica durante 20 anos, ou seja, até o início da fase adulta nossas estruturas cerebrais estão sendo amadurecidas, então não caiam no erro de comparar uma criança com um adulto, pois essa história de adulto em miniatura não é correta. O desenvolvimento humano é marcado por mudanças físicas no cérebro e por aquisições biológico-culturais específicas, que são possíveis graças à configuração físico-química do cérebro naquele determinado momento. A aprendizagem se efetua pela criação de novas memórias, ampliação e transformação das redes neuronais que guardam os conteúdos trabalhados anteriormente. Em síntese, a prática pedagógica que for planejada e executada sem levar em consideração os processos internos mentais da espécie humana terá grande possibilidade de conduzir o aluno a uma situação de não aprendizagem. Posto isso, os conhecimentos relacionados a esse magnífico órgão, devem ser esclarecedores para os profissionais que trabalham com a educação, uma vez que devem ser o alicerce na elaboração de métodos durante todo processo de ensino-aprendizagem. 9 Assim, a escola ideal deve estar focada no indivíduo e voltada ao entendimento e desenvolvimento do perfil cognitivo do aluno, sem esquecer que todos somos diferentes. Nem todos aprendem da mesma maneira, uma vez que temos interesses e habilidades diferenciadas, então nos motivamos e mantemos a nossa atenção de forma distinta um dos outros. É impossível do ponto de vista humano, aprender tudo o que há para ser aprendido. É verdade que aprendemos até momento de nossa morte, mas conhecer tudo, é impossível. Muito se fala em mudança de currículo escolar, contudo não quero aqui discutir todos esses pontos, assim devemos considerar esse perfil cognitivo individual,pois não adianta mudar nada sem que se leve em consideração os objetivos e interesses desses discentes, permitindo, além de vários estilos de aprendizagem, uma ligação entre escola e comunidade, não apenas para alunos ditos “normais”, mas também para aqueles com perfis cognitivos incomuns. Esse papel também é do educador, que deve construir e transformar essas visões em realidade. Caro(a) aluno(a), nunca se esqueça de que todos têm algum talento, todos podem brilhar e para isso não há um modelo padrão. Dimensão Interna do Desenvolvimento Quando a criança começa a falar, ela realiza uma série de aquisições que a levaram à fala, e da mesma maneira a levarão a escrever e a ler. O simples brincar, não vou aqui defender a brincadeira, uma vez que é algo natural inerente à criança em pleno desenvolvimento, de maneira despreocupada já mobiliza áreas do cérebro que fazem parte da aquisição de conhecimentos formais. Quando a criança brinca, redes neuronais são firmadas no córtex motor (área do cérebro onde boa parte dos movimentos aprendidos ficam guardados). Quando se repete movimentos várias vezes, se desenvolve a perícia que será utilizada para o processo da escrita, por exemplo, advinhas, cantigas, podem servir de elementos que enriquecerão esse processo de escrever, além do poder de educar a atenção tão importante no processo de aprendizagem. Outro exemplo poderia ser o de desenhar, processo que antecede a alfabetização, ou em outras palavras, já faz parte da alfabetização. Então não precisamos “forçar” a criança, não há necessidade de saber escrever aos 3 anos, isso acontecerá naturalmente. Lembre-se que o cérebro tem tempo para amadurecer. Escola boa não é aquela que alfabetiza mais rápido, mas sim aquela que desenvolve a 10 criança no tempo correto e leva em consideração as fases de amadurecimento neural e motor. Quem dera os pais pudessem ler isso, não é?! Educação dos Sentidos Falamos há pouco dos órgãos dos sentidos, muito estudados no componente curricular de Psicomotricidade, mas todo aquele processo de experiencia é parte de um desenvolvimento perceptivo que é a condição para a atenção e, consequentemente, formação de memórias. Essa educação dos sentidos é a base para a aprendizagem humana os quais se combinam, interagem, efetivando possibilidades de comportamento que são essenciais à espécie. Toda a percepção se dá no cérebro, ou seja, quando sofremos por amor, por exemplo, e aquela dor no peito aflora, na verdade a percepção de dor ocorreu em nosso cérebro. Permita-me apresentar de outra maneira, imagine que você está na praia, olha que coisa boa, está tomando sol na areia e acaba dormindo, certamente o sol começará a queimar sua pele, mas, enquanto você dorme, seu corpo (receptores) está quase implorando ao seu cérebro (lembre-se ele é o chefe) para que saia do sol, pois está se queimando, mas dormindo você não percebe ou não gera uma ação resposta para aquela situação e acaba por permanecer ali. Quando acorda, seu cérebro decodifica as informações e percebe a dor, nesse momento, você já está queimado e nada mais poderá ser feito. Assim, acontece em uma anestesia, se cérebro percebe a informação que chega a ele pelos órgãos dos sentidos, uma resposta será processada com base nas informações previamente guardadas em nossa memória. Em suma, depois que vivenciamos algo que é explorado pelos órgãos dos sentidos, uma informação fica gravada em nossa memória e sempre que passarmos por algo similar, nosso cérebro perceberá e informará todas as outras partes corporais envolvidas ou necessárias naquele momento. O professor depende dessa capacidade em promover experiências ou de formar novas memórias (pelos órgãos dos sentidos) para garantir que o conteúdo escolhido se efetive em conhecimento. 11 A Leitura Como você sabe que cadeira é cadeira, ou mesa é uma mesa? Porque aprendi. Correto, mas poderia a palavra cadeira ser imaginada como uma mesa ou um ventilador? Nesse momento, não, pois alguém nos ensinou o significado de cada um dos objetos. Por exemplo, ao ler a palavra fogueira, uma imagem relacionada à fogueira apareceu na sua cabeça. Alguém, algum dia, te ensinou isso. Pois bem. Já perceberam uma criança em processo de aprendizagem por volta dos 2 anos? Passa na televisão uma imagem de um cavalo e a criança aprende a chama -ló de “cabalo”, depois passa um cachorro, e a criança o chama de “cabalo”, depois um gato, o qual é também chamado de “cabalo”, ou seja, ela associa um animal que fica sob quatro patas a “cabalo”. Lentamente começamos a intervir e ensinar nome de todos os animais e também lentamente a criança aprende e assimila essa informação na memória. Quando se começa a ler e a escrever, o processo de significação do que está escrito em um papel é compreendido com base no conhecimento que está na memória. Um grande erro do passado, foi a escola tentar nos ensinar o verbo to be sem que conhecêssemos o significado das palavras? Lembrem-se de que ordem natural é aprender a gerar significado aos sons, depois reproduzi-los (fala) e só no fim escrever. A leitura envolve percepção visual, auditiva e a memória, nesses mesmos componentes. A palavra é sonora, tanto na oralidade quanto no pensamento. Em outras palavras, parece que tem alguém falando dentro da nossa cabeça. Preste atenção, ao ler uma frase, parece que tem um homenzinho ou mulherzinha falando dentro da sua cabeça. Envolvendo também a memória visual e auditiva. A omissão desses componentes declina em problemas de leitura. Emoção A emoção tem obviamente um papel fundamental na função adaptativa e de sobrevivência da espécie, ou ninguém tem medo de alguma coisa? Alguns chegam a ter síndromes do pânico, por exemplo, talvez você tenha medo de aranha porque há anos você assistiu àquele filme e desde então pensa que 12 aranhas irão aparecer de todos os lugares. Esse medo é bom, auxilia na proteção da espécie. O sistema límbico, parte do cérebro onde se originam nossas emoções, participa dos processos de aprendizagem do ser humano, inclusive da aprendizagem dos conhecimentos escolares. Nossos processos de memória também são moldados pela emoção, algumas boas outras nem tanto. Desse modo, toda ação de ensino deve considerar as emoções. Mas pergunto a você: será que o currículo escolar está restrito apenas à escrita, leitura e aritmética? Onde devemos treinar ou ensinar apenas parte do potencial individual do ponto de vista cerebral? Ou o sistema educacional tem problemas em formar alguns talentos? Diante disso, é fundamental educar a emoção, aquela habilidade de motivar a si mesmo a persistir mediante os acertos e frustrações, controlar impulsos, centralizar emoções para situações específicas, motivar pessoas e fazê-las desenvolver seus melhores talentos (RELVAS, 2010). Será então que nem todos são capazes de aprender? Como já estudamos até o momento, vimos que isso não é verdade, todos podemos evoluir e alcançar o conhecimento geral. Para tanto, torna-se fundamental que todo o sistema educacional atenda às exigências mínimas da atualidade oferecendo um ensino amplo apoiado nas novas tecnologias e sobretudo compreendendo o mínimo possível do funcionamento cerebral e suas respostas a diversas situações, sem que esqueçamos das diferentes emoções que todos podemos sentir dado um momento específico. Como visto anteriormente, nosso cérebro trabalha integralmente, e poderíamos, quem sabe, trabalhar com a ideia de propor a reprodução de desenhos partindo de uma cópia em que o desenho base estaria de cabeça para baixo. Segundo a professora de arte da Califórnia Betty Edwards, citada por Relvas (2010, p. 114), esse método permitiria uma maior utilização do hemisfério direito do cérebro, havendo uma participação bem menor do hemisfério esquerdo, aquele dito que trabalha sempre quando osaspectos cognitivos estão mais evidentes. O problema é que reproduzir um desenho não deixa de ser um 13 ato cognitivo, e o lado esquerdo do cérebro, por ser analítico e verbal, classificaria a figura e a cena antes de iniciar a cópia (detalhamento). A diferença é que, segundo a Edwards, esse método de virar desenho de ponta cabeça deixaria a transcrição muito difícil, permitindo assim uma maior atuação do hemisfério direito, principalmente nas noções de posição, dimensionalidade e orientação. Outro ponto que chama muito a atenção é a educação emocional comparando os diferentes gêneros. Pois bem, são muito evidentes as influências que recebemos de “casa”. O meio social nos mostra que o homem é mais bruto e desleixado, já a mulher é mais meiga, dócil e organizada. O interessante é que isso acaba por se refletir no contexto escolar, criando modelos de desempenho ou rendimento dentro da sala de aula, e essa realidade vem, cada vez mais, chamando a atenção de pais e profissionais. Diante desse contexto, muitos professores criam o seguinte modelo para bons alunos, o caderno deve ser limpo e caprichado, normalmente coisa de menina, interpretado muitas vezes como submissão, e aquele material oposto a isso é coisa de menino, normalmente considerado como desleixo. Segundo Relvas (2010), as professoras preferem ter, em suas salas de aula, alunas mais curiosas, que demonstre iniciativa, mas ainda com aquele velho padrão feminino de ser dóceis, meigas e tranquilas, tendo inúmeros desenhos coloridos em seu caderno., Por outro lado, as meninas em idade escolar já não se satisfazem com esse modelo de comportamento feminino, e apresentam no dia a dia uma condição de independência que pode assustar os docentes, fazendo com que muitos de nós não nos sentamos preparados para trabalhar com as atuais tendências da sexualidade, respeitando os diferentes ritmos de desenvolvimento na infância e na adolescência. A autora citada no parágrafo anterior também ressalta que professoras normalmente preferem alunos indisciplinados, desconsiderando o sexo, e se incomodam mais com alunos totalmente dependentes. Argumentam que mais vale um indisciplinado com boas notas e ótimo rendimento em sala, do que um que vai mal nas notas e com baixo poder de concentração. 14 Cruzar esses estereótipos sociais no contexto educacional é injusto com os meninos, uma vez que essa subjetividade entra em cena e acaba por receber avaliações sempre negativas quando comparados às meninas. Essa competição entre os gêneros ocorre muito fortemente, no entanto, meninos normalmente rendem mais que meninas em atividades de exploração, que requerem iniciativa, seja para manipular experimentos em laboratório, trabalhar com mapas ou utilizar gráficos e tabelas. Mas se o menino apresenta um padrão negativo quando comparado às meninas, por que isso acontece? Lembre-se, todos chegaram à sala de aula com padrões sociais preestabelecidos, aquela educação trazida de casa, e se não fizermos nada, não daremos oportunidades para que as habilidades individuais apareçam. Sugiro que tente “inverter papéis”, em que todos os meninos e as meninas realizam atividades como cozinhar, consertar, jogar bola, organizar caixas de insetos etc. Proponha aos alunos que realizem tarefas “incomuns” para aquele tipo de gênero. Atenção Para que possamos aprender algo, devemos estar com nossa atenção voltada para aquele momento, objetivo ou situação. A aprendizagem depende da intensidade da atenção, sendo assim, é fundamental que esta seja educada. A formação de memórias de longa duração depende da retomada sucessiva do conteúdo para que fortaleçam as conexões que garantem a formação do conceito. O cérebro humano está sujeito a estímulos externos através dos sentidos, a estímulos internos advindos do organismo e a estímulos de ordem emocional. Com a atenção e o poder de concentração, não é diferente. Assim, há fatores externos e internos que facilitam ou dificultam a atenção. Cada um aprende de um jeito, estudamos de maneiras diferentes, correto? Na verdade, temos capacidades diferentes de manter nosso foco, nossa atenção. Alguns são facilmente distraídos por sons externos que dificultam a leitura, por exemplo, outros, ao estudar para uma prova, necessitam de uma televisão ou rádio ligados. Tudo isso é treinado. 15 Fonseca (2013) cita um modelo subdividindo o cérebro humano em três unidades básicas: a primeira é a unidade de alerta e atenção; a segunda de recepção, integração, codificação e processamento sensorial; e a terceira de execução motora, planificação e avaliação. Para o momento, manteremos brevemente nosso foco apenas na primeira unidade básica de alerta e atenção. Para o autor, elas são interdependentes, selecionam, filtram, alocam e refinam a integração de estímulos. Sua disfunção pode gerar hiperatividade, implicando em problemas de processamento (percepção + memória) e de planificação. Caro(a) colega, apenas cuide para não rotular um indivíduo que não segue um padrão aceitável dizendo que aquele aluno tem Síndrome de Déficit de Atenção, Hiperatividade etc. A escola do futuro deve atender às diversidades, aos diferentes estilos de aprendizagem (cada um aprende de um jeito). Esse é o grande desafio do profissional: conhecer, perceber e identificar como cada aluno aprende para intervir com eficiência. O cérebro e o sistema nervoso Caros(as) colegas, não é querendo criticar, mas já criticando currículo não só escolar, mas também o universitário, pergunto a vocês, quem aqui já aprendeu algo sobre o desenvolvimento humano? Desenvolvimento motor? Aprendizagem humana? Nada? Alguns certamente responderam que já, e aí vai outra indagação, aprendeu tudo em quanto tempo, um ou dois semestres? Pois bem, se nos propomos a trabalhar com pessoas, deveríamos conhecer as fases evolutivas humanas, não apenas em idade infantil, mas também na adolescência, na fase adulta e também durante o envelhecimento. Caso contrário, a probabilidade de nossas intervenções não surtirem efeitos, ou pelo menos não de forma tão satisfatória, é grande. Para iniciar, já posso colocar a seguinte informação: quando um bebê nasce já estão desenvolvidos o mesencéfalo e a medula, que são responsáveis pela frequência cardíaca (FC), respiração, funções vitais etc., ou alguém aqui já ensinou um bebê a respirar ou controlar os batimentos cardíacos? O córtex 16 cerebral ainda é pouco desenvolvido, aquele responsável pela percepção de movimentos corporais, pensamento e linguagem. Por isso um bebê ao nascer parece uma “maria-mole”, ainda há de ser desenvolvida muita coisa pelos próximos meses de vida. E por fim, o córtex pré-frontal, que é a última coisa a ser desenvolvida, localizada logo atrás da testa, responsável pelo processamento executivo (BEE, 2011). Um dos princípios do desenvolvimento neurológico, é que o cérebro cresce em surtos mais do que de maneira suave. Já perceberam que o bebê de “maria-mole” logo passa a explorar o ambiente, aí ninguém mais segura essa criança, não é verdade? Toda fase de desenvolvimento é acompanhada por uma fase de estabilização, em outras palavras, evolui, aprende algo, firma bem essa nova fase e somente depois desenvolve outra coisa. Na infância, os intervalos de crescimento e estabilidade são curtos, daí uma evolução tão rápida. Até os 5 meses de um bebê, os intervalos de evolução de uma fase para outra são de 1 mês, de passar a maior parte do tempo dormindo ou chorando, de acompanhar movimentos com olhos, responder a carinhos com sorrisos e sons, brincar com os cabelos de quem o segura, reconhecer as mãos e brincar com elas, sustentar a própria cabeça, pegar e manipular objetos e já reconhecer visualmente as pessoas que ficam com ele etc. Em pouco tempo, o bebê evolui consideravelmente em seu desenvolvimento. À medida queo bebê envelhece, seus períodos de crescimento e estabilização também passam a ser mais longos, ocorrendo em torno dos 8, 12 e 20 meses, processos de se arrastar, engatinhar, tentar pegar os objetos, sentir a ausência dos pais, gostar de jogar coisas no chão para aprender os barulhos que elas farão, gostar de passear, começar a ficar em pé e aprender a andar, adorar brincar com diversas coisas, e explorar o ambiente, mesmo que para isso tenha de abrir gavetas e explorá- las, tudo isso permite o início do processo de aquisição da linguagem, em que lentamente a criança irá nomear e apontar os objetos. O período entre os 2 e 4 anos, ocorre muito lentamente, nele se dá o desenvolvimento da fala (muito rica por sinal), no qual a criança aprende a significação de inúmeros objetos. Após os 4 anos, há um outro surto importante, como a fluência da linguagem, tanto para entendimento quanto para a fala. 17 Todos esses surtos de crescimento citados anteriormente no cérebro infantil ocorrem de forma restrita para algumas partes específicas, por exemplo, aos 20 meses, os marcos de desenvolvimento cognitivo, onde a maioria dos bebês evidenciam o planejamento dirigido ao objetivo em seu comportamento. Nesse momento, a criança já pode arrastar uma cadeira para ficar alto o suficiente para alcançar algo proibido que esteja em um local mais alto, ou nunca ninguém viu uma criança elaborar um plano de ação para chegar à janela escalando o sofá ou ainda colocar uma cadeira, subir na cadeira, e a partir dela subir no balcão da cozinha e somente depois alcançar o pote de balas talvez? Segundo Bee (2011), dois surtos do crescimento importantes ocorrem durante a meninice, onde por volta dos 6-8 anos, tornam-se evidentes melhoras nas habilidades motoras finas e na coordenação olho-mão, processo inicial importante para que exista qualidade na escrita, por exemplo. Já aos 10-12 anos os lobos frontais do cérebro, focos no processamento da memória, lógica e planejamento. Ainda em consonância com a autora citada acima, outros dois surtos de crescimento cerebrais importantes acontecem na adolescência. O primeiro deles ocorre entre os 13 e 15 anos e o segundo por volta dos 17 anos até a fase adulta. No primeiro deles, podemos perceber uma melhora significativa da percepção espacial e das funções motoras, mas alguns leitores certamente perguntarão: “mas se isso passa a ser bem desenvolvido, por quais razões adolescentes nessa faixa de idade são tão estabanados ou desastrados?“ A situação é a seguinte, normalmente no início da adolescência um surto de crescimento faz com que as estruturas corporais cresçam rápido demais, assim esses indivíduos acabam por não terem tempo suficiente para o cérebro perceber e calcular em pouco tempo a posição, a direção, a angulação para que os movimentos aconteçam. Em outras palavras, o cérebro está acostumado com uma mão menor, pé menor, cabeça, tronco de todas as outras estruturas corporais menores, assim o cérebro ainda imagina um indivíduo, por exemplo, com 1,50m de altura quando na verdade já se tem 1,62m. Certamente a percepção ainda defasada e que logo será percebida pelo cérebro acaba ocasionando quedas constantes, derrubam e quebram copos, pratos etc. Talvez pela necessidade de o cérebro perceber como está no espaço, esse novo corpo 18 que cresceu, e aprender sua nova posição, que adolescentes ficam tanto tempo na frente do espelho. Nesse primeiro momento da adolescência, por volta de 13 e 15 anos, existe uma diferenciação bastante grande em relação àqueles alunos com idades escolares menores, em que os adolescentes já não aceitam mais sequer com as “crianças mais novas” uma vez que já são bem “crescidinhas”, possuem pensamentos abstratos e refletem sobre seus processos cognitivos. Algumas mudanças profundas no córtex pré-frontal ocorrerão e já terão nessa idade a capacidade de controlar conscientemente seus pensamentos. Existe também nessa fase da evolução humana, do ponto de vista cerebral, uma rápida formação de novas sinapses em outras partes do cérebro, áreas que ainda necessitam de um melhor amadurecimento, esse excesso de sinapses é similar àquela que tínhamos no início da vida, em que éramos responsáveis por fortalecê-las aprimorando o processo de ensino-aprendizagem. Aqui cabe lembrá-lo(a) da importância de se fortalecer as sinapses da melhor maneira possível, assim como em um bebê, em que devemos estimular positivamente com o máximo de intensidade esse cérebro que está se reformulando. Ainda nessa fase, uma mudança significativa assusta pais e professores, porque aquele garotinho ou aquela garotinha que adorava a companhia dos pais deixa de acompanhá-lo? Por que não gosta mais das mesmas coisas e dos mesmos brinquedos? Na verdade, esses surtos de crescimento que ocorrem no cérebro são os responsáveis por isso. Não é que eles não “te amam mais”, apenas querem vivenciar e aprender novas coisas, ainda acima, disse que cérebro, assim como de um bebê, está cheio de sinapses que devem ser remoldadas. Desse modo eles querem vivenciar com suas próprias pernas, pelas suas próprias decisões. Essa mudança é natural, todos nós já passamos por isso e assim sempre será. O cérebro deles já não gostam mais das mesmas coisas, pois perderam o interesse. Estão desmotivados com aquelas vivências que tinham até esse momento. Ainda é nossa responsabilidade auxiliá-los para que façam as melhores escolhas, pois estão em um momento que não só querem, mas, precisam experimentar novas situações e aí que mora o perigo, sem nossa interferência positiva. Veja bem, não é proibindo e trancando dentro de casa ou amarrando em uma cadeira, mas sim, dialogando e permitindo que dúvidas boas fiquem na sua cabeça, que consigam diferenciar o certo do errado, 19 pois como já não querem mais estar com você 24 horas por dia, virá a necessidade de se incluir em um grupo social, terão a necessidade de ser testados e é aí que mora o perigo, o mundo das drogas, da sexualidade, das vivências perigosas. Por isso, defendo que não é amarrá-los, mas sim dialogar e fazer com que aprendam a diferenciar o que irá gerar interesses, que mudará as marcas cerebrais, mas sem riscos à saúde ou à integridade física dos adolescentes e de todos ao seu entorno. Fiquem tranquilos, eles ainda te amam e respeitam, apenas precisam de espaço para começar a viver e aprender com suas próprias pernas, mas como sabemos que eles ainda não estão prontos para isso (algumas mães e pais jamais estarão) devemos sim interferir da melhor maneira nessa evolução desses indivíduos. O segundo surto de crescimento da adolescência acontece em torno dos 17 anos e se estende até a fase adulta. Os lobos frontais do córtex são o foco do desenvolvimento, controlam a lógica e o planejamento. Já conseguem lidar melhor com as situações problemas que requerem funções cognitivas (BEE, 2011). Nessa idade não necessariamente cérebro está completamente maduro. Lembre-se, essa maturação pode ocorrer até os 20 anos de idade, é comum encontramos na mídia adolescentes ou quase adultos que se envolvem em diversos crimes ou acidentes de trânsito, por exemplo. Para muitos, já se imaginam adultos com total consciência de seus atos, mas na verdade, o cérebro ainda está finalizando sua maturação e talvez ainda não tenha a noção de consequência, ou seja, se pegar o carro e estiver dirigindo a 180 km/h, a adrenalina, a estimulação que o cérebro precisa, estará sem dúvida acontecendo, no entanto certamente ele não estará prevendo que nessa velocidade ele pode colidir com outro carro e, além de morrer, levar ao óbito outras pessoas. Vou além, essa noção de consequência, muitas vezes, passa pela condição de conseguir pensar ou se colocar no lugar do próximo e antecipar o que os demais sentirão em virtude dos seus atos. Voltamos ao carro, dirigiu em altavelocidade, colidiu com o veículo e matou algumas pessoas. A noção de consequência não deve ser apenas “nossa que besteira que fiz, matei algumas pessoas”, mas sim, pensar “matei pessoas inocentes e estou fazendo os familiares sobreviventes sofrerem muito, que besteira que fiz”, isso leva tempo 20 para ser alcançado. Isso vem com a maturidade: “se eu tivesse escutado mais meus pais e professores, certamente teria tido uma vida mais fácil”, não é assim? Maturidade pessoal, só o tempo traz, mas devemos sim interferir e influenciar positivamente esses indivíduos. Assisti a um vídeo interessantíssimo na internet que exemplificava isso de forma magnífica. Dizia basicamente o seguinte: se um filho com 18 anos pedir o carro para ir a uma festa e você autorizar, mas mandá-lo passar em um posto e abastecer o veículo, certamente ele não passará e ficará parado sem combustível. Lembra que disse a pouco que devemos influenciar, mas eles devem decidir por conta própria (aspectos cerebrais). Pois bem, adolescente é medroso, mesmo acreditando que é machão, se ficar de madrugada em uma rua escura ele morrerá de medo, não é verdade? Então plante a dúvida na cabeça dele, coloque talvez dessa forma “você já pensou que quando voltar da festa pode não ter mais nenhum posto de combustível aberto e pode ficar sem gasolina de madrugada? Não é melhor verificar e se necessário passar no posto antes de ir?”, semeou a dúvida, aí para seu filho o resultado provavelmente será o seguinte “eu decidi passar no posto e abastecer o carro”. Não é difícil, é apenas compreender a importância das fases de desenvolvimento cerebral e criar métodos diferenciados. Como disse o ex-jogador de futebol Ronaldo “fenômeno” em comentário para a rede Globo de televisão durante o jogo do Brasil x Camarões, realizado no dia 23/06/2014 pela Copa do Mundo de Futebol da FIFA (Federação Internacional de Futebol), o jogador Neymar, com o gesto de cumprimentar todos os demais atletas da seleção brasileira antes da partida, chamando a responsabilidade para si, mesmo tendo somente 22 anos de idade, sendo mais novo que muitos outros jogadores, talvez ainda não tenha noção do quão grandioso é esse gesto, do quão importante está sendo para aquele grupo de jogadores, “Neymar ainda não tem noção do quanto representa para esse grupo. Isso só a idade fará perceber”, em outras palavras, logo o cérebro, com o passar da idade, perceberá o tamanho da pressão e responsabilidade que esse momento gerou para esses jogadores, principalmente para um dos líderes da seleção brasileira de futebol. 21 O desenvolvimento da mente e do comportamento O desenvolvimento da mente, na verdade, é resultado da maturação do Sistema Nervoso, em outras palavras, é a possibilidade de realizar atos motores e cognitivos à medida que a área que controla sua respectiva função, localizada no Sistema Nervoso, se desenvolve. A complexidade de nosso comportamento inicia por volta dos 2 meses de vida. Ainda no período gestacional, algumas células já podem disparar potências de ação que irão ativar outras células nervosas e musculares. O feto já é capaz de realizar movimentos como: piscar os olhos, abrir e fechar a boca, deglutir ou alguém aí já ensinou um bebê a movimentar os olhos ou as mãos? Claro que não, ele já nasce com os músculos responsáveis pelo movimento dos olhos maduros. O bebê acompanha diversos movimentos ao seu redor sem a intenção sensorial. Ele apenas está conhecendo o ambiente que o cerca, certamente busca olhar para outras pessoas que se movimentam, gosta de visualizar cores vivas ou qualquer outra coisa que se movimente ainda mais se mexer e emitir sons, um animal por exemplo. Posteriormente, além de acompanhar com os olhos, irá segurar e manipular objetos. Tudo isso está relacionado com modificações biológicas que ocorrem de maneira intrínseca e que modificam o funcionamento do Sistema Nervoso. As progressões dessas mudanças vêm de dentro do próprio organismo e são moduladas pelo ambiente. Não quero aqui abordar teorias Piagetianas ou Vigotskianas, apenas representar que nossas funções cerebrais são modificadas conforme o meio em que vivemos. Nosso cérebro se adapta, em outras palavras, os neurônios realizaram sinapses diferenciadas de acordo com a necessidade ou estimulação ambiental. A criança é como uma planta, ela revela-se por si só, mas os fatores ambientais podem modificar sua progressão do desenvolvimento. A existência de estímulos como de adultos, brinquedos, luz etc. faz com que tudo seja mais intenso. Para trabalhar com criança devemos saber que as conexões existem, mas elas precisam ser estabilizadas e as sinapses reforçadas para um desenvolvimento pleno de todas as funções. 22 Bee (2011) aponta que os sistemas visual e auditivo de um bebê são imaturos ao nascimento, onde tudo é um misto desfocado, com sons ouvidos em um silêncio neutro, sem nenhum significado, apenas barulho. Com a progressão no desenvolvimento, com manuseio de objetos serão adquiridas informações sobre formas e lugares. O mais importante é que a criança aprende pouco a pouco, no sentido de espaço e tempo, cada uma no seu ritmo. Com a maturação do cérebro ocorrendo em seu tempo natural, alguns aspectos desenvolvimentistas ficam muito evidentes apenas pela observação. Ao final do 1º mês de vida, a musculatura do bebê já não é tão flácida, e a inervação motora já é muito mais eficiente (capaz de segurar objetos, mas não de manipulá-los, aos 10 meses é capaz de sentar e até de ficar em pé muitas vezes), possui grande habilidade com as mãos. Alguns meses depois é capaz de ficar em pé sem auxílio nenhum, aí ninguém mais segura esse bebê. Só permita aqui apontar minha indignação com aqueles andadores, vulgo “disquinho”, em algumas localidades, se alguém tem isso em casa, quebre. Não tenho condições aqui de afirmar se ocorrerão prejuízos e em qual magnitude para essa criança, mas não é a ordem natural do desenvolvimento humano. Assim, existe a possibilidade do bebê se desenvolver de maneira frágil, uma queda e já ocorre uma fratura, talvez não aprenda que se cair deve se levantar sozinho etc., na sequência, pouco a pouco surgem as tentativas de se comunicar e as primeiras palavras (meninas normalmente andam e falam mais rápido que os meninos, se passarem dos dois anos e não houver nem a tentativa de se comunicar procure um especialista). Ainda não consegue se socializar, mas o convívio social favorece o desenvolvimento das emoções e da organização de suas ideias. Após os dois anos, então, o que é dele é dele. Dificilmente quer compartilhar com o próximo, diferentemente dos primeiros meses. Aos 2 anos já deixa de ser bebê. A compreensão das palavras ainda é restrita e ele precisa organizar sua experiência mexendo, manuseando e apertando. Em outras palavras, explorando o ambiente, cuide das gavetas ou se tudo estiver quieto e silencioso, corra porque ele está aprontando. De 2 para 3 anos as mudanças são visíveis com aumento da coordenação motora, e aos 3 anos já corre e pula demonstrando bastante equilíbrio. Nessa fase, ocorre o amadurecimento das funções cognitivas e a criança torna-se capaz de prestar atenção e repetir 23 sequências de números e histórias, tendo ela o hábito de ler e contar histórias, mesmo que elas já as conheçam. Mude algum personagem ou permita que elas façam isso, e que acima de tudo, elas percebam as mudanças, você também pode iniciar a história e para que ela termine, entre outras possibilidades. As mudanças nesses três primeiros anos de vida, quando abordamos o desenvolvimento do comportamento, são, sem dúvida, marcantes e sujeitas à intensa investigação. Já o desenvolvimento do corpo e da mente continua por muitos anos. No outro extremo, temos aspectos do desenvolvimento relacionados ao envelhecimento, que é inevitável, e os maisvelhos também devem aprender, e da mesma forma podemos e devemos intervir, como já foi citado anteriormente, sobre a estimulação cognitiva de idosos, mas em termos simplistas, assim, como todos os nossos sistemas orgânicos, o nosso Sistema Nervoso também envelhece. Difícil delimitar quando isso se inicia, já que até a terceira década de vida os processos de mielinização estão acontecendo, mas provavelmente o envelhecimento começa antes disso. Na verdade, envelhecimento é um processo extenso do desenvolvimento. Existem programas para conter ou retardar o envelhecimento, além da estimulação cognitiva, poderia apontar a reposição hormonal. Acredita-se que mutações e anomalias cromossômicas se acumulem ao longo da idade, assim como erros na duplicação do DNA que ocorrem de maneira aleatória se acumulam ao longo do tempo. Como os erros genéticos passam a ser grandes, a formação de proteínas aberrantes nos leva à senilidade (BEE, 2011). Apesar de muitos idosos terem suas capacidades intelectuais intactas, outros apresentam perda de memória e de funções cognitivas. O peso, os giros do córtex cerebral têm sulcos mais profundos apontando a atrofia do córtex, associada à perda neuronal (BEE, 2011). Até em virtude dessa condição de que quando utilizamos nossa memória ou o cérebro com frequência nos mantemos mais saudáveis do ponto de vista 24 neurológico, para tanto atualmente está sendo bastante difundido o trabalho de estimulação cognitiva para idosos, que pode ser entendido como atividades que buscam estimular as funções cognitivas superiores como memória, velocidade de processamento, linguagem, função executiva, dentre outras. O objetivo é amenizar ou mesmo sanar as possíveis dificuldades em uma ou mais dessas funções. Idosos que recebem estimulação, demoram mais para começar a sofrer pré-juízos na memória ou em outras funções cognitivas superiores quando comparados a idosos que não recebem nenhuma estimulação, além de gerar inúmeros benefícios para a qualidade de vida na velhice. Do nascimento até a nossa morte aprendemos coisas novas ou adaptamos informações antigas. Todo esse conhecimento é obtido por meio da experiência sensorial de tudo aquilo que nós vemos, ouvimos, sentimos, degustamos e cheiramos. A partir desse ponto, fica claro para todos nós que muitas vezes adultos podem atrapalhar o desenvolvimento natural de um indivíduo saudável em constante evolução, pois “boicotamos” e impossibilitamos as experiências que consequentemente marcam o cérebro infantil nos momentos evolutivos adequados. Foi apresentado que a influência do ambiente é fundamental para moldar nossas conexões neurais e assim aprendermos. É como a história contada para uma criança da Educação Infantil, a literatura nesse caso é uma atividade de exploração do imaginário, onde desenvolverá a percepção visual pelas figuras do livro, observando personagens e até se tornando o ator principal, desenvolvendo a atenção, despertando o interesse, trabalhando as emoções, possibilitando a aplicação de regras e tudo isso já fazendo parte do processo de aprendizagem sem que necessariamente ela tenha de ler ou escrever. Entendemos assim, que o “cantinho do castigo” para crianças de 3 anos é perda de tempo, uma vez que eles não têm capacidade cognitiva para compreender as consequências de seus atos e ações, que a criança deve mexer, manipular, sentir as mais variadas possibilidades para adquirir conhecimentos diversos. Percebemos nessa discussão que adolescentes devem ser 25 direcionados por meio de dúvidas plantadas na cabeça deles, já que para essas pessoas o importante é descobrir pelas próprias pernas. Nosso direcionamento é fundamental, mas não podemos obrigar o cérebro a ter atenção ou interesse em aprender tal informação que desejamos passar. 26 Referências BEE, H.; BOYD, D. A Criança em Desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011. FONSECA, V. Cognição, Neuropsicologia e Aprendizagem: abordagem neuropsicológica e psicopedagógica. 6. ed. Editora Vozes Ltda., 2007. FOSS, M. L; KETEYIAN, S. J. FOX: Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. GARDNER, Howard. Estruturas da Mente: a teoria das múltiplas inteligências. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. Publicado originalmente em inglês com o título: The framsof the mind: the Theory of Multiple Intelligences, em 1983. GUYTON, A. C.; HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. 12. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2006. LENT, R. Neurociência da Mente ao Comportamento. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. MAGILL, Richard. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. 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