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Aula 02 Viviana Gondim de Carvalho Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Diretora Editorial ANDRÉA CÉSAR PEDROSA Projeto Gráfico MANUELA CÉSAR ARRUDA Autor EDUARDO NASCIMENTO DE ARRUDA Desenvolvedor CAIO BENTO GOMES DOS SANTOS VIVIANA GONDIM DE CARVALHO Olá. Meu nome é VIVIANA GONDIM DE CARVALHO. Sou Doutoranda em Humanidades, Culturas e Artes, Mestre em Letras e Ciências Humanas, Pós Graduada em Psicopedagogia e Docência do Ensino Superior. Sou Especialista em Informática Educativa e Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Autora de artigos e livros didáticos. Atuo na área Educacional, com ênfase em Educação a Distância, Psicopedagogia, Comunicação, Recursos Humanos e Neuroeducação. Atuei em grandes empresas Nacionais e Multinacionais consolidando a educação virtual, desenvolvendo materiais didáticos, preparando ambientes multimidiáticos. Coordenei Fábricas de Conteúdos, desenvolvendo produtos para educação a distância como apostilas, games, simuladores, vídeos etc. Atualmente atuo na Educação a Distância e desenvolvo pesquisas sobre a utilização de tecnologia a fim de melhorar o desempenho dos alunos através das ferramentas tecnológicas. A Autora INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimen- to de uma nova competência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser prioriza- das para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e inda- gações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofun- damento do seu conhecimento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou discutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últimas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma ativi- dade de autoapren- dizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; Iconográficos Olá. Meu nome é Manuela César de Arruda. Sou a responsável pelo pro- jeto gráfico de seu material. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: SUMÁRIO O significado do lúdico como prática cultural 10 Cultura Corporal e Cultura lúdica 10 Como o brincar ocorre em diversas culturas 13 O brincar na cultura brasileira 14 O lúdico como fonte de compreensão do mundo 16 O lúdico e o papel na educação 19 O papel dos jogos na educação 19 O papel dos brinquedos na educação 23 Conclusão 24 Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.Psicofarmacologia Clínica 7 UNIDADE 02 Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.8 A brincadeira existe desde o início da civilização. O brincar e o jogar é um ato intrínseco e natural que faz parte do cotidiano infantil e pode auxiliar no desenvolvimento desde a primeira infância. A criança estabelece uma relação natural com os jogos e as brincadeiras permitindo que extravasem suas tristezas e alegrias, angústias, entusiasmos, passividades e agressividades. Além disso, é por meio da brincadeira que a criança envolve-se no jogo e partilha com o outro, se conhece e conhece o outro. Vamos mergulhar nesse mundo de jogos e brincadeiras e aprofundar os conhecimentos. INTRODUÇÃO 9Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Compreender o significado do lúdico como prática cultural. 2. Entender como o brincar ocorre em diversas culturas. 3. Reconhecer o lúdico como fonte de compreensão do mundo 4. Conhecer o papel do lúdico na educação Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conheci- mento? Ao trabalho! OBJETIVOS Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.10 O significado do lúdico como prática cultural INTRODUÇÃO: A palavra cultural é relativa a cultura, ao conjunto de comportamentos, crenças, instituições, valores espirituais e materiais de uma sociedade. A ação cultural de um país ou estado se caracterizam por uma sociedade civilizada. Ao término deste capítulo você será capaz de entender a ludicidade em diversas culturas e como ela pode ser uma perfeita aliada do desenvolvimento da aprendizagem. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então vamos lá. Avante! Cultura Corporal e Cultura lúdica A expressão cultura corporal surgiu há muito tempo e é um dos principais conceitos sendo passiva de diversas interpretações realizadas sobre distintas abordagens. Figura 1: A cultura acompanha o surgimento da humanidade. Fonte: freepik Desde o surgimento da humanidade até os dias de hoje, a cultura se manifesta de diversas maneiras e agrega significados próprios no contexto de grupos culturais específicos. Para definir o termo cultura, veremos a opinião de alguns autores estudiosos no assunto: 11Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. � Clifford Geertz O Antropólogo Social considera “cultura como sistemas simbólicos”. O autor rompe com algumas visões sobre cultura entre elas a do iluminismo que vê a dimensão cultural sobreposta a uma natureza boa do ser humano; a concepção evolucionista no qual cultura era produto do estágio evolutivo dos grupos humanos, utilizando-se como critério para classificação do homem em primitivo ou civilizado; e por último a concepção psicológica em que considerava a cultura como somatória das mentes e produções individuais. Geertz aborda uma concepção chamada de “estratigráfica”, na qual afirma que o homem é um composto de níveis, cada um deles superposto aos inferiores e reforçando os que estão acima deles. Tendo o nível biológico como núcleo, superposto pelos estratos psicológico, social e cultural. Segundo essa visão, o componente biológico humano teria sido formado primeiramente, sendo complementado ao longo da evolução pelos componentes psicológico, social e cultural. Tem-se, nessa perspectiva, a cultura como secundária e complementar à formação do cérebro humano, como se fosse originária e conseqüente dele. � Marcel Mauss O antropólogo francês aborda um conceito de fato “social total”, que propõem que o ser humano deve ser tratado a partir dos aspectos fisiológicos, psicológicos e sociológicos, logo, estas possuiriam uma ligação entre si de modo que não poderiam ser compreendidas de forma separada. Outro conceito abordado pelo estudioso é dirigido as “técnicas corporais” que seriam as maneiras que o homem utiliza seus corpos sejam de forma específica ou tradicional. O autor entende que um gesto corporal pode ser compreendido como uma técnica, já que atende aos princípios tradição e eficácia. � Fera Go Tani Para o educador físico, professor da USP a cultura é caracterizada pela abordagem desenvolvimentista que privilegia a aprendizagem do movimento, tendo o indivíduo como um ser motor. A dimensão cultural é vista como secundária, pois o indivíduo precisa passar pelos pré-requisitos estabelecidos biologicamente, para depois atingir o nível cultural, ou seja, a criança passará pelos movimentos básicos, que serão transformados (refinados) em habilidades motoras, que proporcionará então formas demovimentos específicos e amplos que será a cultura do movimento. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.12 � Paulo Freire Para o educador a cultura é embasada na abordagem construtivista- interacionista, e o princípio desta está centrado no desenvolvimento cognitivo e afetivo o que faz a criança ser tratado como um ser psicológico. Freire, propõem uma educação de corpo inteiro, no qual a relação da criança com o brinquedo, pois enquanto joga ou brinca, aprende em um ambiente lúdico e prazeroso. A cultura infantil seria a ordem natural humana e a escola tradicional a ordem social que impediria a criança de desenvolver seu potencial natural (brincar, jogar e fantasiar). � Gilles Brougère O Cientista e professor da Universidade de Paris afirma que o brincar é um espaço de criação cultural por excelência. Segundo o autor é no brincar que a criança encontra uma distância com o mundo real, ao citar a concepção de Freud, entendemos que o brincar seria uma forma de prazer oposta a realidade. O brincar segundo Brougére, não é uma dinâmica interna do indivíduo, mais sim uma atividade repleta de significados sociais e que precisa de aprendizagem, desse modo podemos dizer que a criança não nasce sabendo brincar. Ao afirmar que o “ludus” latino não é idêntico ao brincar francês, Brougére, explica que diferentes culturas, em função de suas analogias é que irão definir e construir um sentido daquilo que segundo as determinações de sua cultura é ou não entendido como jogo. Deste modo, é correto afirmar que existem estruturas já pré- existentes que definem a atividade lúdica em geral e cada brincadeira, e a criança as aprende antes de utilizá-las em outros espaços, seja sozinha ou mesmo com outras crianças. Porém, ela não atrela a gênese do jogo a criança e sim de existir uma cultura pré-existente que define o jogo e faz sua existência possível, mesmo em atividades solitárias. Portanto uma atividade cultural supõe estruturas de aprendizagem que a criança assimila em cada nova atividade lúdica. 13Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. Figura 2: Crianças asiáticas brincando com elementos típicos de sua cultura. Fonte: freepik O jogo com bolas pode ter o mesmo significado recreativo em várias aprtes do mundo porém, em cada cultura terá um significado distinto. No Brasil o futebol é caracterizado como o esporte popular mais importante do país no qual o objetivo dos jogadores é acertar a bola no gol. Já nos Estados Unidos o jogo de futebol americano, apesar de ter o emsmo sentido com bola e jogadores, possui objetivos diferentes na marcação dos pontos. É possível concluir que a cultura lúdica é produzida pelo indivíduo que dela participa. Além disso, ela é produzida a partir do momento em que a criança acumula toda sua experiência lúdica que é adquirida pela participação em jogos com os companheiros, pela observação de outras crianças, pela manipulação cada vez maior de objetos de jogo. Pode-se dizer que a cultura lúdica é formada por esquemas que permitem começar a brincadeira e separá-la da realidade cotidiana. Como o brincar ocorre em diversas culturas INTRODUÇÃO: A palavra “brincar” provém da ação que se desenvolve no ato de jogar. É um aprendizado cultural que se expressa de diversas formas. A brincadeira é um estado existencial das pessoas em diversas situações das suas vidas. O brincar manifesta-se nos jogos, brinquedos em forma de objetos, cultura popular, reuniões de amigos, montagem ou confecção de brinquedos entre outros. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.14 As crianças entram em contato o tempo todo, durante a brincadeira, com signos produzidos pela cultura à qual pertencem. Vejamos a seguir, historicamente alguns exemplos de brincadeiras nos mais diversos países, culturas e momentos: Pré história O jogo do osso de origem pré-histórica também é bastante passado aos netos pelos avós. Consiste em jogar um objeto para o alto e pegar outro em seu lugar fazendo um jogo de malabarismo. China mais de 5.000 Antes de Cristo A pipa era utilizada como forma de sinalização. Ela voa através da força dos ventos e é controlada por uma corda que permite ao condutor deixá-la cada vez mais alta ou mais baixa. França Do país Europeu surgiu a amarelinha. A brincadeira consiste em um desenho formado por blocos numerados de 1 a 9, com semicírculos nas extremidades que são jogados com uma pedrinha que deve obedecer as paredes de cada bloco. Portugal A ciranda surgiu como uma dança adulta, mas logo sofreu transformações e passou a alegrar as brincadeiras infantis. É bastante utilizada ainda hoje em escolas, parques e espaços que prezam as brincadeiras antigas, passando-as às novas gerações, mostrando sua importância folclórica e cultural. Japão As crianças brasileiras conhecem bem esta brincadeira. Depois de gritar “jan”, “ken” e “pon”, se deve fazer um gesto que represente papel, pedra ou tesoura. Essa brincadeira é original da ásia. O brincar na cultura brasileira No Brasil, os termos jogo, brinquedo e brincadeira são termos utilizados sem diferenciação o que aparenta pouca referência e estudo sobre o assunto. De acordo com Friedman(1992, p. 28): a brincadeira refere-se basicamente ao ato de brincar, ao comportamento espontâneo que resulta de uma atividade não estruturada. Jogo seria uma brincadeira que envolve regras. Brinquedo é o objeto de brincar e atividade lúdica abrange de forma mais ampla os conceitos anteriores. 15Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. As brincadeiras, ainda que sejam as mesmas podem ter significados distintos em cada cultura devido ao fato do sujeito social ser visto como um co-construtor da cultura lúdica, pois a partir das interações (indivíduos, ações, objetos materiais) cada um dá diferentes significados a um mesmo objeto que será também interpretado por outro. Os índios que viviam no Brasil antes do seu período de desco- brimento utilizavam uma trouxa de folha cheia de pedras que eram amarradas numa espiga de milho e brincavam de jogar esta trouxa de um lado para outro, chamavam-na de Pe’teka, que em tupi significa bater. Daí surgiu a peteca que conhecemos hoje em dia. A seguir, você confere algumas brincadeiras que tem relação com a cultura brasileira e como são empregadas em culturas específicas: 1. Balanço de embira O balanço é um brinquedo super conhecido e popular em praças e escolas. Porém, na Comunidade Indígena Panará, localizada no Pará, por exemplo, as crianças usam a embira, que é uma tira ou casca de árvore, para balançar ao ar livre. 2. Bicudas As crianças de Acupe, na Bahia, encontraram uma alternativa mais simples para as tão famosas pipas. Conhecidas como bicudas, as “pipas” são feitas usando apenas uma folha de caderno e linha de pipa. 3. Ciranda A dança trazida pelos Portugueses, transformou em brincadeira nas escolas da Ilha de Itamaracá, Pernambuco e é conhecida por diferentes nomes: ciranda-cirandinha, roda-roda ou brincadeira de roda. 4. Pião de babaçú, tucumã ou cabaça Acredita-se que jogar pião é uma das brincadeiras mais antigas que existem. No Brasil, algumas regiões adaptaram o brinquedo para os recursos naturais disponíveis no território. As crianças de Entre Rios, Maranhão, aproveitam as sementes de babaçú para esculpir o pião. Já as ACESSE: Para saber mais sobre o universo lúdico infantil de Norte a Sul do Brasil, assista ao trailer do documentário “Território do Brincar”. Disponível em: http://bit.ly/38mnZk9 Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.16 crianças da comunidade indígena de Panará, no Pará, fazem o brinquedo com uma cabaça pequena ou com semente detucumã. O lúdico como fonte de compreensão do mundo INTRODUÇÃO: A criança faz e refaz sua concepção de mundo através da brincadeira onde podem consolidar a socialização através da interação, da experimentação e do uso de regras e papéis no brincar. Através do lúdico é possível desenvolver competências de aprender a ser, aprender a conviver, aprender a conhecer e aprender a fazer; desenvolvendo o companheirismo; aprendendo a aceitar as perdas, testar hipóteses, explorar sua espontaneidade criativa, o que possibilita melhorar a concentração, atenção e a socialização. Figura 3: o lúdico proporciona compreensão do mundo. Fonte: freepik O jogo é um elemento lúdico que potencializa a manifestação da criatividade e das habilidades do indivíduo. Durante a brincadeira, a criança pode consolidar sua identidade, conquistar sua autonomia, 17Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. aprender a enfrentar medos e descobrir suas limitações. Além disso, o lúdico permite que a criança expresse seus sentimentos e melhore seu convívio com os demais. Permite também, que a criança aprenda a agir no mundo em que vive com situações do brincar relacionadas ao seu cotidiano, compreendendo, aprendendo a respeitando regras, limites e os papéis de cada um na vida real. A ludicidade é um importante componente da construção do conhecimento pois, enquanto as crianças trabalham com objetos concretos como jogos e tudo que ela possa manusear a a reflexão está sendo estimulada, permitindo que o aprendizado ocorra com maior facilidade enquanto brincam. A brincadeira é capaz de colaborar para a dinâmica das relações sociais melhorando o convívio entre crianças e entre educadores e alunos. As brincadeiras e os jogos, permitem que a criança seja um ser ativo e construa sua autonomia, seu conhecimento e progrida frente ao ambiente com estímulos. Na busca por soluções e nos movimentos corporais, as brincadeiras são inventadas pelas crianças de forma estratégica, de forma que lhes permita construir pensamentos e desenvolver a imaginação. Quanto mais envolvida a criança estiver na atividade lúdica maior poderá ser seu desenvolvimento cognitivo. Entretanto, muitas crianças acabam impedidas de se desenvolverem neste sentido, pois, os adultos acabam por limitar os movimentos em função de acreditarem ser apenas atividades de lazer sem muita importância, o que acarreta na escassez de brincadeiras por parte das crianças que estão amadurecendo precocemente devido à redução do espaço e tempo para brincar e exercer atividades lúdicas. BROUGÈRE(2000, p. 98) faz uma crítica aqueles que consideram o brinquedo uma futilidade: Se o brinquedo é um objeto menor do ponto de vista das ciências sociais, é um objeto de profunda riqueza. A sua sombra, a sociedade se mostra duplamente naquilo que é mais, sobretudo naquilo que se dá a conceber as suas crianças. Assim sendo, mostra a imagem que faz da infância. O brinquedo é um dos reveladores de nossa cultura, incorpora nossos conhecimentos sobre a criança ou, ao menos, as representações largamente difundidas que circulam as imagens que nossa sociedade é capaz de segregar. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.18 Figura 4: Menino brinca em sua cama com bonecos soldados. A brincadeira reflete a cultura de cada um. Fonte: freepik Os jogos estão presentes em todas as fases da vida do indivíduo e como já vimos nesta unidade surgiram junto com a civilização e possuem tal influência a ponto de definir a organização cultural da sociedade. Ainda que faça parte da essência humana, o brincar ocorre quando há um contexto social. Sabe-se que a brincadeira é diferente de acordo com a sociedade onde mora e hábitos que são a base que as caracterizam em cada lugar. Facilmente encontramos sociedades que ainda consideram o brincar como oposição ao trabalho, designando-o como algo fútil e irrelevante. A existência de regras ou não pode variar de acordo com a cultura lúdica de cada sociedade e as regras conhecidas por cada indivíduo são frutos da sua própria cultura lúdica. Quando brincam com carrinhos, panelinhas, bonecas e blocos de construir, entre outros, as crianças ganham a chance de explorar a realidade, conhecer valores diferentes dos seus e inventar o próprio universo. Figura 5: Cozinhar pode ser um ato real ou considerado uma brincadeira. Fonte: freepik 19Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. O lúdico e o papel na educação INTRODUÇÃO: A brincadeira, seja ela qual for, é muito importante na infância. Os pais devem vê-la como forma de entreteimento e lazer para as crianças porém, precisa ser vista também como um meio de desenvolvimento dos hábitos infantis e de atitudes que possibilitam o amadurecimento e a responsabilidade. Conciliar atividades lúdicas ao processo de ensino e aprendizagem é muito importante para o desenvolvimento educacional. A necessidade de brincar vem logo em seguida da necessidade de afeto, de ser aceita. Ou seja, tem um alto grau de importância para o universo infantil. Através do brincar é possível desenvolver a espontaneidade, a inteligência, a linguagem, a coordenação, o autocontrole, o prazer de realizar algo, a autoconfiança. É o meio que a criança possui para criar, experimentar, organizar suas experiências, estruturar a inteligência para construir, aos poucos, a sua personalidade. O papel dos jogos na educação Os jogos podem ser consideradas atividades espontâneas e voluntárias, que fazem parte do dia a dia infantil e que colabora para o desenvolvimento físico, social e afetivo. De acordo com a forma como são conduzidos, os jogos e brincadeiras ativam e desenvolvem os esquemas de conhecimento, colaborando na aprendizagem de qualquer novo conhecimento, como observar e identificar, comparar e classificar, conceituar e relacionar. Os jogos tornam-se mais significativos à medida que a criança se desenvolve, porque através da manipulação de materiais variados, ela poderá reinventar coisas, reconstruir objetos. Os jogos são uma ótima proposta pedagógica na sala de aula, porque proporcionam a relação entre parceiros e grupos, o que é um fator de avanço cognitivo, pois durante os jogos a criança estabelece decisões, conflitua-se com seus adversários e reexamina seus conceitos. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.20 Figura 6: Os jogos permitem o desenvolvimento intelectual infantil. Fonte: freepik Enquanto está jogando a criança pode experienciar grande prazer ao descobrir suas possibilidade de invenção. Os jogos podem ser grandes aliados dos educadores e ter significados muito positivos proporcionando a cooperação, a comunicação e a socialização entre as crianças. Os jogos também constituem uma maneira de estimular a critaividade e a vida social da criança. Os jogos, por exemplo, são atividades que despertam interesse dos alunos e podem ser considerados meios de enriquedimento e desenvolvimento intelectual. Para que a criança mantenha seu equilíbrio com o mundo ao seu redor, ela necessita brincar, jogar, criar e inventar. Figura 7: Legenda: Os jogos estimulam atividades espontâneas das crianças. Fonte: freepik Vejamos a seguir o que alguns grandes estudiosos da educação e sua relação com jogos pensam sobre o assunto: 21Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. Lev Vygotsky Para o autor a imaginação em ação ou brinquedo é a primeira possibilidade de ação da criança numa esfera cognitiva permitindo ultrapassar a dimensão perceptiva motora do comportamento, através do jogo simbólico. Na criança a imaginação criadora, nasce em forma de jogo, instrumento de pensamento no enfrentamento da realidade,ampliando suas possibilidades de ação e compreensão de mundo. Tania Mara Grassi Para a psicóloga, a utilização dos jogos e brincadeiras na educação, no trabalho pedagógico e psicopedagógico com sujeitos que apresentam ou não dificuldades de aprendizagem apresenta-se como uma alternativa interessante, pois pode despertar o interesse e o desejo de aprender e, ao mesmo tempo, pode possibilitar o desenvolvimento de estruturas de pensamento mais elaboradas, a apropriação e a construção de conhecimentos, enfim a aprendizagem. Tizuko Kishimoto Para o autor uma das tarefas centrais do desenvolvimento nos primeiros anos de vida é a construção dos sistemas de representação, tendo papel-chave neste processo a capacidade de “jogar” com a realidade. É neste sentido que podemos dizer que o jogo simbólico constitui a gênese da metáfora, possibilitando a própria construção do pensamento e a aquisição do conhecimento. Maria Montessori A médica e educadora, desenvolveu um método educativo baseado em materiais lúdicos, onde utilizou jogos e brincadeiras para exercitar e desenvolver cada um dos sentidos. Friedrich Frobel O educador pregava uma pedagogia da ação. Ele dizia que a criança para se desenvolver não devia apenas olhar e escutar, mas agir e produzir. Froebel foi o primeiro pedagogo a incluir o jogo no sistema educativo por acreditar que as crianças aprendem através do brincar e que sua personalidade pode ser aperfeiçoada e enriquecida pelo brinquedo. Jean Piaget Para o estudioso, há uma estreita relação entre os jogos e a construção da inteligência. O jogo espontâneo influencia o processo de aprendizagem uma vez que faz a criança utilizar sua inteligência de modo significativo e a estimula a investigar e a explorar. Os educadores devem pensar os jogos, a fim de auxiliar as crianaçs a melhor escolhê-los, modificá-los e mesmo inventar novos jogos. Também é de suma importância que no decorrer do jogo ocorra Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.22 a intenção social da criança e seus colegas a fim de construir sua lógica, seus valores sociais e morais. As crianças aprendem com mais facilidade através de jogos em grupos do que em muitos exercícios e livros. De acordo com Piaget, o jogo é classificado de três maneiras em função das fases do desenvolvimento em que aparecem: 1. Jogo de exercício – Ocorre entre 0 e 2 anos e refere-se às primeiras atividades realizadas pelas crianças e está presente no período sensório-motor do desenvolvimento. É através dele que a criança repete gestos, assimila ações, incorporando novo fazeres. O principio é de exploração e repetição. O jogo consiste em manipulação de objetos em função dos desejos e hábitos motores das crianças. 2. Jogo simbólico – Refere-se ao período de dois aos sete anos aproximadamente. A ludicidade nesse estágio adquire o caráter simbólico. É a aplicação do que foi assimilado anteriormente. É a substituição do real por símbolos. Nesta fase o faz de conta ganha destaque. Os jogos simbólicos têm características próprias: liberdade de regras, ausências de objetivos, ausência de uma lógica da realidade, adaptações da realidade aos desejos. A função do jogo simbólico é transformar o real para satisfazer as necessidades do eu em função dos desejos. 3. Jogo de regras – Em geral ocorre a aprtir dos 8 anos a partir do momento que a criança começa a se interessar pelas regras. Permite a relação entre ideia e pensamento, antecipa jogadas, planeja estratégias, utiliza o raciocínio operatório. Trabalha acima de tudo, respeito e ética, pois apesar da estratégia, é necessário observar regras, esperar sua vez de jogar e lidar com o imprevisto, lidar com perdas e ganhos, são importantes para o desenvolvimento das estruturas cognitivas. Nesse estágio o jogo provoca muitos conflitos internos, a necessidade de buscar saída, é desses conflitos que o pensamento sai enriquecido. Os jogos em grupos exigem identificação do aluno com o grupo, geram direitos e deveres, ensinado-o a conviver e a participar mantendo sua individualidade. Para Piaget os jogos de regras são: atividade lúdica do ser socializado. Ou seja, através dos jogos de regras, a criança assimila a necessidade de cumprimento das leis da sociedade e das leis morais. 23Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. O papel dos brinquedos na educação O brinquedo pode ser considerado a essência da infância e seu uso permite um trabalho pedagógico que possibilita a produção do conhecimento e também a estimulação da afetividade na criança. A criança estabelece com o brinquedo uma relação natural e consegue extravasar suas angustias e paixões, suas alegrias e tristezas, suas agressividades e passividades. O brinquedo revela uma relação de muita proximidade com o sujeito, uma indeterminação quanto ao uso, ausência de regras. Diferente do jogo que pode ser visto como um sistema lingüístico que funciona dentro de um contexto social, um sistema de regras, um objeto. Vejamos a seguir o que os estudiosos em jogos esclarecem sobre a relação com o processo de ensino e aprendizagem: Tizuko Kishimoto Para o autor independente de época, cultura e classe social, os jogos e os brinquedos fazem parte da vida criança, pois elas vivem num mundo de fantasia, de encantamento, de alegria, se sonhos, onde realidade e faz-de- conta se confundem. Henri Wallon Para o estudioso, a criança aprende muito ao brincar. O que aparentemente ela faz apenas para distrair-se ou gastar energia é na realidade uma importante ferramenta para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional, social, psicológico. Vera Oliveira Para a educadora, no brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades na vida real e também aprende; objeto e significado. A função educativa do jogo oportuniza a aprendizagem do individuo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. Através do brinquedo a criança instiga a sua imaginação, adquire sociabilidade, experimenta novas sensações, começa a conhecer o mundo, trava desafios e busca satisfazer sua curiosidade de tudo conhecer. O brinquedo como suporte da brincadeira tem papel estimulante para a criança no momento da ação lúdica. Tanto brinquedo, quanto à brincadeira, permitem a exploração do seu potencial criativo de numa seqüência de ações libertas e naturais em que a imaginação se apresenta como atração principal. Por meio do brinquedo a criança reinventa o mundo e libera suas atividades e fantasias. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.24 Frente a estas reflexões podemos afirmar que o processo de construção do aprendizagem será efetivado mediante a participação da criança no brincar. O prazer, não é suficiente para justificar a importância do brincar. Possui, porém um relevante justamente com outros fatores, uma vez que leva a criança a ter iniciativa. A criança é incapaz de separar a principio, a realidade da fantasia, o brincar para a criança e muito séria. Devemos conhecer de fato esse instrumento (brinquedo) para compreendermos seu real valor na vida criança. Se, como educadores e pais, desconhecemos as necessidades das crianças e os incentivos capazes de levá-las a atuar, estaremos prejudicando seu processo de desenvolvimento. O brinquedo é a riqueza do imaginário infantil, através ele a criança libera seus sentidos, em todas as ocasiões, fazendo assim com que a criança tenha mais segurança no aprender, algo, onde o brinquedo e sem duvida um instrumento capaz de ajudar a criança a se desenvolver, intelectual, socialmente e cognitivamente. Conclusão A ludicidade é de suma importância para o desenvolvimento integral dos indivíduos, pois enquanto brinca, a criança está pensandoe desenvolvendo o pensamento crítico, logo a brincadeira pode ser vista como uma linguagem natural da criança e é importante que se faça presente desde a primeira infância de modo que seja possível se expressar através dos jogos, brincadeiras, brinquedos e outros elementos que contemplem o universo lúdico. Os brinquedos e os jogos, são elementos que fazem parte da cultura da humanidade e permite várias interpretações. A brincadeira é uma necessidade básica das crianças e auxilia no desenvolvimento físico, afetivo, cognitivo e social, pois, é através das atividades lúdicas que a criança adquire novos conceitos, relaciona idéias, desenvolve a expressão oral e corporal, aumenta seu ciclo de relações sociais, por fim a através de uma simples brincadeira a criança constrói e amplia seus conhecimentos. 25Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação. Uma das primeiras atividades que o bebê realiza é brincar e é através dessa ação que será estimulado para o mundo, sendo essa a primeira etapa de uma série de atividades que irão desenvolver ao passo que se tornam ação, levando-a a reconhecer novas formas de aprendizagem, numa dialética permanente entre o eu e o mundo. A criança vai adquirindo prazer em brincar com o corpo vai desenvolvendo uma aprendizagem progressiva de domínio do corpo. Os jogos podem contribuir no processo de construção do conhecimento, atuando como mediador das aprendizagens significa- tivas, ao mesmo tempo em que contribui para as atividades didático- pedagógicas durante qualquer aula. O jogo tem o papel de despertar na criança a descoberta e o prazer, refletindo sua cultura. Neurociências e as práticas pedagógicas: jogos, brincadeiras e didática aplicadas a neuroeducação.26 BIBLIOGRAFIA ALVES, Fernanda Gomes. Brincar e Aprender: a Função do Jogo na Educação Infantil em Ipatinga. In Revista on line unileste vol 2 jul/dez 2004. Consultado em http://bit.ly/3cuPWJF no dia 29/09/2019 ANDRADE, Cyrce. Brincar é a Forma de Expressão das Crianças. In Revista nova escola. Edição especial nº 33. Hora de Brincar. Ed. Abril. São Paulo, setembro de 2010. BAQUERO, Ricardo. Vygotsky e a aprendizagem escolar. Trad. Ernani F. da Fonseca Rosa. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. 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