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Formação Econômica Brasileira Ciclos econômicos do Brasil Apresentação Estudaremos os ciclos econômicos fundantes da economia brasileira, como o ciclo do Pau-brasil, do açúcar, do ouro e do café. Objetivos MÓDULO 1 Relacionar os ciclos econômicos responsáveis pela formação econômica do Brasil; MÓDULO 2 Identi�car as estratégias portuguesas de ocupação do território brasileiro e os motivos da expansão do território para além do Tratado de Tordesilhas; MÓDULO 3 Analisar as mudanças na sociedade brasileira em virtude dos principais ciclos econômicos. MÓDULO1 Conhecer, ainda no período pré-colonial, a exploração do primeiro produto considerado pelos portugueses com grande potencial para o comércio europeu: o Pau-brasil. O ciclo do Pau-brasil (Fonte: Com o tempo Blogspot) Neste módulo, veremos um episódio posterior ao descobrimento. Grande parte dos historiadores chama esta fase (1500-1530) de período pré-colonial, pois a colonização, de fato, ainda não havia sido iniciada na chamada Terra de Santa Cruz. Apenas existia a exploração do primeiro item considerado pelos portugueses com grande potencial para o comércio europeu: o Pau-brasil. Conheceremos este produto, compreendendo a sua importância para a terra que acabou por receber o seu nome: Brasil. javascript:void(0); Antecedentes ao início da exploração A chegada dos portugueses ao Brasil ocorreu num momento da expansão marítima e comercial de Portugal. O comércio com a costa africana e com as Índias Orientais, realizado em grande parte pelo monopólio do Estado, exigia muitos navios e equipamentos, porém, não havia em Portugal mão de obra, processos técnicos, pessoal quali�cado e matéria-prima su�cientes para atender a tal demanda. Em 1500, de acordo com Simonsen (2005), quando Pedro Álvares Cabral retornou da segunda expedição portuguesa rumo às Índias — a mesma que acidentalmente chegou ao Brasil —, trouxe consigo uma grande quantidade de especiarias , louças, porcelanas, diamantes, pérolas e rubis; assim, mesmo com as perdas sofridas durante a viagem, a receita obtida com a expedição foi duas vezes maior que o seu custo. Por sua vez, o comércio com a costa africana proporcionava aos navegantes portugueses ouro, mar�m e escravos. (Fonte: Wikipedia). Atenção Vantagens semelhantes não foram encontradas na recém-descoberta Terra de Santa Cruz. Dessa forma, segundo Simonsen (2005), o Brasil era um problema novo em face da expansão comercial e marítima que os portugueses estavam iniciando. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html Vemos, então, que o comércio, tanto nas Índias como na costa da África, trazia inúmeras vantagens para Portugal. Com relação ao mais recente território descoberto, que tipo de vantagem ele poderia proporcionar aos portugueses? Após análise inicial, as primeiras potencialidades mercantis encontradas no Brasil foram o Pau-brasil, a canafístula , bugios (guariba ou macaco barbado), os papagaios e as demais aves exóticas que chamavam a atenção dos europeus, embora tal exploração tenha demorado pouco tempo. De acordo com Simonsen (2005), nem a mão de obra indígena chamou a atenção dos portugueses para eles obterem lucros com a escravidão. Dessa forma, nenhum produto encontrado na Terra de Santa Cruz poderia ser comparado ao imenso potencial daqueles que Portugal obtinha com o comércio com o Oriente. Vejamos as potencialidades mercantis encontradas por Portugal em outros territórios: Foi num contexto em que o mundo ainda não conhecia as anilinas arti�ciais que o Pau-brasil �gurou como a única mercadoria com potencial para o mercado e de fácil acesso aos portugueses, que também o utilizariam para a construção dos navios, tão necessários à expansão marítima ocorrida na época, também conhecida por Era Oceânica. Tal fato foi logo comunicado pela nau de Cabral ao rei D. Manuel, que também levou para Portugal as primeiras amostras do Pau-brasil. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html A exploração do Pau-brasil e seu potencial mercadológico O Pau-brasil, conhecido pelos índios tupis como arabutã ou ibirapitanga, tratava-se de um ativo biológico com o qual os portugueses já haviam tido contato na Ásia. Seu potencial estava na sua utilização como tintura de tecidos, e ele tinha uma demanda crescente na Europa, especialmente na França, onde era conhecido como bresil, e na Itália, sendo denominado bracire ou brazili. Usado como tintura, a partir dele poderia se obter, de acordo com a diluição, os tons rosa, castanho e púrpura. Na verdade, a busca pela cor púrpura era bem mais antiga que a própria descoberta do Pau-brasil como tintura. Por Marcus Schaefer (Fonte: Shutterstock). Por Leo Fernandes (Fonte: Shutterstock). Por visicou (Fonte: Shutterstock). The Department of Chemistry, The University of the West Indies. Comentário Ainda nos tempos antigos, os navegadores fenícios buscavam a concha púrpura nas costas do Mediterrâneo para tingir os panos �nos fabricados no Oriente, que tinha preferência especial pela cor rubra, para eles símbolo da dignidade e nobreza. Segundo Simonsen (2005), foi a partir dos cruzados que os europeus passaram a conhecer algumas substâncias tintoriais do Oriente como o verzino, o brasil e a urzela. A estimativa é que, na época do descobrimento, havia mais de 70 milhões de árvores desta espécie espalhadas por uma faixa de 18km do litoral do Rio Grande do Norte até a Guanabara. Pernambuco , Porto Seguro e Cabo Frio eram as regiões com as maiores concentrações da espécie. Os portugueses foram os primeiros a se ocupar com a atividade extrativa. No início, os espanhóis também se interessaram, mas logo desistiram em respeito ao Tratado de Tordesilhas assinado em 1494. Já os franceses pouco se importaram com o acordo, já que o rei da França, Francisco I, a�rmava, segundo Prado Junior (2015), desconhecer a cláusula do testamento de Adão que reservara o mundo unicamente a portugueses e a espanhóis. Logo, eles também entrariam numa disputa com os portugueses pela exploração do produto que só se resolveria com o emprego de armas. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html (Fonte: Jornal Valença Agora) O arrendamento das terras e a forma de exploração Em 1501, ao receber o carregamento da madeira trazida pela expedição que tinha passado pelas terras brasileiras, D. Manuel logo declarou o Pau-brasil como monopólio da Coroa, arrendando as novas terras descobertas a um rico mercador lisboeta chamado D. Fernando de Noronha (ou Fernando de Loronha, que mais tarde seria o donatário da ilha com o seu nome). Ele teve, mediante o pagamento pelos direitos à Coroa, exclusividade na exploração do produto até 1504. Após esta data, de acordo com Prado Junior (2012), sem motivos conhecidos, a concessão de exploração com exclusividade não foi concedida a mais ninguém, passando a ser feita por tra�cantes, estimulando a ação de aventureiros de outras nações em território brasileiro, especialmente os franceses. Atenção Uma característica importante da exploração do Pau-brasil é que ela só poderia ser feita por meio do estabelecimento de feitorias, onde as toras da madeira eram acumuladas e estocadas em pontos estratégicos até serem transportadas. O serviço de derrubada e transporte da madeira até os pontos de estocagem era feito de forma rudimentar com o auxílio da mão de obra indígena, que, por meio do escambo com os portugueses, trocava as toras por quinquilharias, como miçangas, tecidos, peças de vestuários, canivetes, facas, serras, machados, etc. (PRADO JUNIOR, 2012) De acordo com Braga e Silva (2016), essa transação econômica é um ponto controverso da história, em que geralmente estudiosos enxergam uma exploração do ameríndio pela entrega de um produto valioso em troca de quinquilharias. Por outro lado, considerando os ameríndios como agentes racionais e levando em conta os conceitos dos valoresde uso e de troca, eles também eram bene�ciados pela transação, uma vez que um machado, para eles, por exemplo, poderia ter mais utilidade que a árvore usada apenas para tingir penas festivas. Vale destacar aqui a importância da mão de obra indígena no processo de exploração do Pau-brasil, pois era ela que derrubava as árvores, cortava as toras e as transportava para o navio, o que era um trabalho árduo por conta do tamanho e do peso do produto. Tanto de Lisboa quanto do Porto, comerciantes enviavam embarcações a �m de contrabandear o Pau-brasil e outros produtos nativos da Terra de Santa Cruz, propiciando, dessa maneira, o surgimento das primeiras feitorias. Não demorou muito para que outras nações, em especial a França, também passassem a frequentar a costa brasileira com o objetivo de explorar o Pau-brasil – e capturar os índios. A concorrência francesa Com uma população maior que a portuguesa e uma indústria nascente, a França possuía um mercado promissor tanto para a tintura oriunda do Pau-brasil como para as especiarias. Com grandes habilidades em comunicação, os franceses ganharam a simpatia dos indígenas, especi�camente dos tamoios, que a eles se aliaram contra os portugueses. Segundo Simonsen (2005), o comércio português sofria dois tipos de prejuízos resultantes da ação francesa: Mercadores franceses que vinham explorar o Pau-brasil Corsários franceses que atacavam os navios portugueses Vejamos algumas consequências da disputa territorial entre França e Portugal: Clique nos botões para ver as informações. Os prejuízos foram de tal ordem que D. João III, o então rei de Portugal, precisou agir com muita diplomacia perante a Corte Francesa para que tal abuso cessasse, o que ocasionou o abrandamento das ações dos franceses por determinado período. Todavia, com o aumento do comércio e a di�culdade dos franceses em negociar com outras partes da Europa em virtude do constante estado de guerra, sua exploração da costa brasileira foi retomada. Exploração da costa brasileira pelos franceses Para combatê-la, D. João III precisou agir com violência, decidindo enviar guarnições militares chamadas de expedições guarda- costas. As mais importantes foram as duas expedições comandadas por Cristóvão Jacques (1516-1519 e 1526-1528) e a de Martim Afonso de Sousa (1530). As lideradas por Cristóvão Jacques tinham um caráter estritamente militar, cumprindo o objetivo principal de aprisionar os navios franceses que exploravam o Pau-brasil sem pagar tributos à Coroa Portuguesa. Diferentemente, a de Martim Afonso de Sousa não tinha apenas a função de expulsar os franceses, mas também de estabelecer núcleos de colonização, sendo conhecida como a primeira expedição colonizadora no Brasil, fundando, em 22 de janeiro de 1532, a Vila de São Vicente, primeira vila e município do Brasil. Envio de expedições militares portuguesas O ponto máximo do revide português em relação aos franceses foi o aprisionamento da nau Pelerine (ou A peregrina), na costa da Espanha, em 1532. Meses antes, ela havia aportado em território brasileiro e tomado a feitoria de Igarassu, em Pernambuco, forti�cando-a com vários canhões e deixando-a sob o domínio de um francês chamado La Motte. No mesmo momento em que a Pelerine foi apreendida pelos portugueses no Mar Mediterrâneo sob o comando de Antônio Correia, os soldados franceses foram expulsos no Brasil. La Motte foi enforcado pelo capitão português Pero Lopes de Sousa, irmão de Martim Afonso de Sousa. Expulsão de soldados franceses Comentário O barão St. Blancard, dono do navio francês Pelerine, alegou, nas suas reclamações sobre o aprisionamento da nau, que nela havia 5.000 quintais de Pau-brasil, 3.000 peles de leopardos e outros animais, 600 papagaios, 300 bugios e saguis, 300 quintais de algodão, 300 quintais de caroço de algodão, minérios de ouro e óleos medicinais. Tais dados nos revelam sobre a quantidade e a diversidade dos produtos que eram daqui levados (SIMONSEN, 2005). Você já ouviu falar na frase Nem todas as tempestades vêm para atrapalhar a sua vida, algumas vêm para limpar o seu caminho? Ou mesmo aquele velho ditado popular, Há males que vêm para o bem? Houve um saldo positivo na exploração da costa brasileira pela nau francesa Pelerine: Ao saber do ocorrido, D. João III concluiu que a única forma de deter o trá�co das riquezas do país seria a colonização efetiva de seu território, dando início, mais tarde (1534), à divisão do território em capitanias hereditárias. O desmatamento da floresta Simonsen (2005) faz referência ao texto de Paul Gaffarel intitulado Histoire du Brésil Français, em que o interesse dos franceses pelo território brasileiro é marcadamente demonstrado. De acordo com o documento, os paus de tinturaria custavam muito caro na França; além disso, eles não serviam apenas para dar a cor púrpura aos tecidos, mas também para a fabricação de móveis preciosos. O mesmo texto a�rma que os indígenas, incentivados pela procura dos comerciantes, amontoavam enormes quantidades da madeira sobre a costa, abatendo, sem a menor noção sobre a necessidade de poupar os recursos naturais, as árvores aleatoriamente. Muitas vezes, para não ter o trabalho de cortá-las, punham fogo em sua parte inferior e o incêndio acabava se espalhando pela �oresta. Tal desperdício, ocorrido durante anos, foi o su�ciente para extinguir muitas essências valiosas. Muito triste, não acha? Ainda seriam necessários séculos de história até que o homem passasse a ter ideia dos prejuízos causados pela ampla exploração do produto. Fonte: Acervo Museu Paulista da Universidade de São Paulo, São Paulo. Giovanni Battista Ramusio. Brasil, 1557. O saldo da exploração Vejamos o saldo da exploração: Clique nos botões para ver as informações. A atividade comercial com a tintura do Pau-brasil manteve-se até quase o término do Período Colonial, em 1889, perdendo espaço para a indústria química de corantes sintéticos que se formou com a Revolução Industrial. Perda comercial para a indústria química O saldo de quase 400 anos de extração foi uma grande devastação da �ora brasileira, deixando a espécie com risco de extinção; por isso, ela atualmente é protegida por lei, não podendo mais ser extraída. Alguns autores argumentam que, na verdade, a exploração feita pelos portugueses foi sustentável, pois perdurou por quase 400 anos sem extinguir totalmente a espécie. (BRAGA E SILVA, 2016) Grande devastação e risco de extinção De forma indireta, a exploração do Pau-brasil originou alguns estabelecimentos coloniais, tanto de portugueses quanto de franceses, que serviam de base para armazenar o produto à espera do transporte e para proteção contra os ataques de índios e nações rivais. No entanto, tais estabelecimentos militares não vingaram. Por se tratar de uma atividade nômade, ao término da exploração de uma área, buscava-se uma nova a ser explorada, abandonando o estabelecimento anterior. Estabelecimentos abandonados Segundo Prado Junior (2012), a atividade de extração do Pau-brasil não foi capaz de estabelecer um povoamento regular e estável. Foi somente com a intimidante presença dos franceses, ameaçando a tomada do território, que, em 1530, Portugal se viu obrigado, a �m de protegê-lo, a colonizá-lo por meio de uma atividade econômica que exigisse a permanência das famílias portuguesas no Brasil. Por conseguinte, com a experiência de produção do açúcar nas ilhas do Atlântico, os colonizadores deram início à produção açucareira. Início na produção açucareira Verificando o aprendizado Atividade 1. Leia atentamente as a�rmativas a seguir e assinale a única incorreta: a) À primeira vista, não foi encontrado na Terra de Santa Cruz algum produto com real valor de mercado que proporcionasse à Coroa Portuguesa lucros semelhantes aos obtidos com o comércio das Índias Orientais. b) Se, para os portugueses, a descoberta do novo território não causava grande euforia, uma vez que possuíam outros comércios mais lucrativos,para os franceses, destituídos de opções, a exploração da costa brasileira poderia lhes trazer grandes vantagens. c) A troca das toras do Pau-brasil por quinquilharias entre os nativos e os portugueses é vista unanimemente como uma forma de exploração dos indígenas, pois eles entregavam um produto com alto valor de mercado, recebendo em troca mercadorias de baixo valor. d) A ação da nau Pelerine na costa brasileira foi um ponto importante para a tomada de decisão da efetiva colonização das terras brasileiras por Portugal. 2. Para grande parte dos historiadores, é comum, ao se falar da exploração do Pau-Brasil, mencionar o abuso sofrido pelos indígenas que realizavam escambo com os europeus, trocando uma mercadoria considerada de alto valor de mercado por quinquilharias europeias. No entanto, de acordo com Braga e Silva (2016), este é um ponto controverso da história, pois: a) As quinquilharias europeias, na verdade, tinham valor semelhante ao do Pau-brasil. b) Os indígenas pouco contribuíram para a exploração do Pau-brasil, já que preferiam preservar a natureza. c) O Pau-brasil, de fato, tinha pouco valor no mercado. d) As quinquilharias recebidas pelos índios, como um machado, por exemplo, tinham mais utilidade que um pau de tingir penas. MÓDULO2 Analisar o ciclo econômico que trouxe muita prosperidade ao Brasil, colocando �m ao seu histórico de�citário enquanto colônia: o ciclo do açúcar. Engenho de Pernambuco. (Fonte: Wikipedia). O ciclo do açúcar Neste módulo, vamos estudar as capitanias hereditárias, a economia açucareira, o potencial do açúcar no mercado, a transição da mão de obra nativa para a escrava africana, o funcionamento da produção açucareira, os resultados do ciclo do açúcar e o declínio da economia açucareira. (Fonte: Wikipedia). Antes mesmo de iniciar qualquer atividade agrícola no Brasil, por volta de 1530, o rei de Portugal, preocupado com a presença dos franceses em território americano, cogitou defendê-lo por meio de ocupação efetiva com povoamento e colonização. Esta era uma difícil tarefa, pois quem gostaria de morar num lugar tão distante e desprovido do conforto da Metrópole? A exceção eram os tra�cantes de madeira que se aventuraram no novo território, mas já começavam a abandoná-lo em virtude do declínio da economia em torno do Pau-brasil. Além do mais, Portugal ainda não tinha um contingente populacional su�ciente para promover grandes emigrações. Segundo Prado Junior (2012), estima-se que a população portuguesa não alcançava os dois milhões de habitantes. Assim, a forma encontrada para incentivar a ida de portugueses ao novo território foi a concessão de poderes de soberanos aos súditos que se dispusessem a se arriscar. Entretanto, a recompensa atraiu a poucos interessados, nenhum deles pertencente à nobreza ou ao alto comércio do reino. De acordo com Prado Junior (2012), apenas doze indivíduos de pouca expressão social e econômica se propuseram a encarar tal desa�o. A estratégia, então, era dividir a costa brasileira (área pertencente a Portugal no período) em 12 partes, com extensões entre 30 e 100 léguas, que seriam chamadas de capitanias. Em troca da povoação e de seus respectivos custos de transportes, seus titulares gozariam de grandes regalias e poderes soberanos aos moldes de feudos. Nomeariam autoridades administrativas e juízes, receberiam taxas e impostos, distribuiriam terras etc. O negócio principal a ser empreendido era o cultivo da cana-de-açúcar. Para esse alto investimento, seus donatários tiveram de levantar fundos em Portugal e na Holanda, principalmente com banqueiros e negociantes judeus. Comentário Segundo Simonsen (2005), dos doze donatários que receberam os quinze lotes, apenas três não eram homens de recursos. Oito deles aplicaram praticamente tudo o que tinham no empreendimento, enquanto vários outros tiveram de tomar emprestado os capitais necessários. Divisão do Brasil em capitanias hereditárias Tal sistema, que combinava elementos feudais e capitalistas, já havia sido implantado com êxito nas ilhas da Madeira e dos Açores, obtendo menos sucesso no Cabo Verde e, num breve espaço de tempo, em Angola. Entretanto, no Brasil, a maior parte dos donatários fracassou, perdendo suas posses a até mesmo a vida, não conseguindo �xar o povoamento. Somente duas capitanias prosperaram: A capitania de Pernambuco, comandada por Duarte Coelho, introduziu o cultivo da cana-de-açúcar. A capitania de São Vicente, sob o comando de Martin Afonso de Souza, realizava o trá�co de indígenas. A economia açucareira 1. O potencial do produto no mercado Vejamos dois pontos de vista que se complementam sobre o potencial açucareiro: Clique nos botões para ver as informações. Segundo Simonsen (2005), o açúcar já era conhecido na Europa graças aos cruzados e aos árabes, sendo primitivamente produzido e utilizado na Ásia. Na Idade Média, possuía um valor tão alto que era escolhido como presente pelos reis e até fazia parte dos inventários monárquicos. Era objeto de comércio nas repúblicas italianas, fazendo com que o plantio da cana-de-açúcar fosse implementado nas ilhas de Rodes e Sicília, sendo mais tarde introduzido na Espanha pelos árabes. Os portugueses adquiriam experiência com o produto ao produzi-lo em grande escala nas ilhas do Atlântico. Devido ao restrito consumo na Europa (era vendido como gênero medicinal nas farmácias), não demorou muito para que o preço do produto começasse a cair, fazendo com que a produção portuguesa destruísse as culturas do Mediterrâneo, causando, portanto, um desequilíbrio no comércio. Na América, os espanhóis também tinham iniciado sua indústria nas Ilhas Canárias e em Espanhola (hoje em dia, Haiti). Provavelmente, o primeiro engenho americano funcionou na Antilha espanhola em 1506. A partir de 1553, o México também passou a exportar açúcar para a metrópole, porém o surto dos metais preciosos e as lutas revolucionárias ocorridas nas ilhas do mediterrâneo americano mudaram o foco dos produtores, ocasionando um desaquecimento na produção. Ela só voltou a aumentar na segunda metade do século posterior com o retorno da alta do preço do açúcar. Perceba que, nos primeiros momentos do descobrimento do Brasil, o cultivo do açúcar não fazia sentido, pois Portugal já tinha uma superprodução em outros territórios. Dessa forma, a oportunidade de iniciar seu cultivo no país somente foi considerada a partir da segunda década do século XVI, quando os preços voltaram a subir. Simonsen (2005) Segundo Furtado (2007), contribuíram fortemente para a expansão desse mercado os �amengos — especialmente os holandeses, que compravam o açúcar em Lisboa, re�nando e o distribuindo por toda Europa, principalmente no Báltico, na França e na Inglaterra. Mas a contribuição dos holandeses não parava por aí: Grande parte dos capitais necessários para a indústria açucareira veio dos Países Baixos, �nanciando as instalações produtivas no Brasil e a aquisição de mão de obra escrava. A experiência de Portugal com o produto já havia lhe proporcionado o desenvolvimento da indústria de equipamentos para os engenhos. Agregado ao capital holandês, tal fato proporcionaria à nascente atividade agrícola grandes chances de sucesso. Entretanto, só faltava um obstáculo a ser vencido para que a produção desse certo: A mão de obra. Furtado (2007) 2. A transição da mão de obra Você lembra que, desde que os portugueses chegaram ao Brasil, a mão de obra indígena foi explorada, especialmente durante o ciclo do Pau-brasil? Ela também foi utilizada no início do cultivo do açúcar. No entanto, esta não foi uma escolha feliz, principalmente por conta de dois motivos: Mão de obra escrava africana na produção do açúcar. (Fonte: Portal do professor). javascript:void(0); Comentário Alguns historiadores inclusive a�rmam que a principal responsável pela eliminação da população indígena brasileira não foi o emprego das armas, mas as doenças que os colonizadores trouxeram daEuropa. Desse modo, a solução para o problema da escassez de mão de obra foi o início, na segunda metade do século XVI, do trá�co de negros africanos, pois eles eram mais resistentes às doenças do velho continente. De acordo com Braga e Silva (2016), em 1650 a população indígena do litoral brasileiro correspondia a apenas 5% da estimada em 1500. Engenho de açúcar. (Fonte: Portal do professor). Segundo Abreu (2014) apud Braga e Silva (2016), somados às vantagens naturais da região com seu clima e solo, a experiência portuguesa, o capital holandês e a mão de obra escrava africana tornariam a nova atividade um sucesso, fazendo com que, em 1580, a colônia alcançasse o patamar de principal fornecedora de açúcar, status esse mantido por quase todo o século XVII. javascript:void(0); 3. O funcionamento da produção açucareira Braga e Silva (2016), com dados de Abreu (2014), resumem como funcionava a estrutura da produção açucareira: Duas outras características que marcam o início da colonização de exploração ocorrida no território brasileiro são o chamado pacto colonial e a agricultura do tipo plantation. O pacto colonial fazia parte dos princípios da doutrina econômica mercantilista vigente na época. Basicamente, ele refere-se ao exclusivismo comercial entre a metrópole e suas colônias, que �cavam subordinadas a um conjunto de medidas econômicas e políticas. De acordo com Braga e Silva (2016), segundo o acordo, o Brasil não deveria produzir produtos que pudessem concorrer com a atividade da metrópole nem estabelecer relações comerciais com outros países. Para qualquer artigo entrar ou sair da colônia, ele deveria passar por transações intermediadas comercialmente por Portugal. Por sua vez, o termo plantation refere-se a um tipo de sistema agrícola de grandes proporções na Era Colonial, período em que se praticava a monocultura com o auxílio da mão de obra escrava tendo como principal objetivo a exportação. De acordo com Rego e Marques (2010), este sistema era um dos elos que sustentava a empresa mercantil, colonial e escravocrata. Por mais de um século e meio, a produção açucareira foi a única base de sustentação da economia brasileira. Internacionalmente, até a metade do século XVII, o Brasil manteve o posto de maior produtor do mundo; a partir daí, surgiram seus concorrentes potenciais: América Central e Antilhas. Bahia e Pernambuco eram os principais centros de produção brasileiros; mais tarde, São Vicente foi incluído nesta lista. Num segundo plano, mas também com certo grau de importância, surge a produção do tabaco no Brasil, principalmente na Bahia, Sergipe e Alagoas. Apesar de proporcionalmente bem menor que a do açúcar, o tabaco tem sua relevância, pois, além de obter uma crescente aceitação na Europa, era utilizado no trá�co de escravos, servindo para a sua aquisição por meio de escambo na costa africana. Entretanto, com as restrições ao trá�co estabelecidas no início do século XIX, esta produção também entrou em crise. Além do tabaco, as unidades produtoras de açúcar também tinham atividades acessórias essenciais à sua autossu�ciência: A pecuária, o cultivo da mandioca, o algodão e a fabricação de artigos de vestuário para atender a suas necessidades básicas. Porém, em consequência do pacto colonial, as transações comerciais internas no território brasileiro ocorriam em pouquíssimo volume se comparadas às atividades comerciais com a metrópole. Essa situação se manteve até o período do ciclo do ouro. Resultados do ciclo do açúcar Simonsen (2005) elenca alguns resultados econômicos e �nanceiros da produção açucareira: 1 Formação de rápidas fortunas a partir do século XVI e luxo (constatado por vários historiadores) nas capitanias do Norte em detrimento da pobreza no Sul. 2 Em 1600, havia 100.000 habitantes no Brasil, sendo 30.000 de raça branca. 3 Em 1700, a população de colonos e homens livres não somava 200.000 habitantes. Nunca houve em qualquer país maior produção e exportação per capita. 4 Da renda auferida pela Coroa Portuguesa, cerca de 25% deviam-se às exportações. 5 Término do período de�citário da Terra de Santa Cruz. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html Mapa que mostra o cerco a Olinda e Recife pelos holandeses. (Fonte: Wikipedia). Entretanto, como nem tudo são �ores, durante o ciclo do açúcar, Portugal também sofreu com as invasões holandesas na Região Nordeste. Elas foram consideradas o maior con�ito político-militar da colônia. Foi uma luta não só pelo controle do açúcar, mas também pelo abastecimento da mão de obra escrava africana, base da economia açucareira. E o que motivou essas invasões? No século XVII, período em que houve a União Ibérica , a Holanda, antes �nanciadora dos engenhos brasileiros, dada a sua luta pela emancipação em relação à Espanha, havia sido proibida de comercializar com os portos espanhóis. A reação deles foi invadir a costa brasileira (primeiramente, a cidade de Salvador, em 1624; mais tarde, a região de Pernambuco), conseguindo se estabelecer em 1637 com o governo do príncipe Maurício de Nassau. Somente após muitas guerras e con�itos, em 1654, os portugueses, com o auxílio dos ingleses, conseguiram expulsar totalmente os holandeses da costa brasileira. No entanto, as consequências disso eclodiriam mais tarde, culminando no declínio de uma economia que havia trazido tanta prosperidade à colônia. O declínio da economia açucareira Dentre os principais motivos que levaram à decadência da produção açucareira no Brasil Colônia, Rego e Marques (2010) citam: https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html 1 A proibição do trá�co negreiro no século XIX. 2 As invasões holandesas ocorridas no Nordeste. 3 A produção concorrente dos holandeses nas Antilhas, que conseguiam produzir um açúcar de melhor qualidade e mais barato que o produto brasileiro. Ao �nal, mesmo com a crise da economia do açúcar, podemos citar como resultado positivo o alargamento do território brasileiro, haja vista que, com a União Ibérica, os portugueses, especi�camente os bandeirantes , foram incentivados a adentrar o território que �cava além dos limites do Tratado de Tordesilhas em busca das drogas do sertão, um produto alternativo ao açúcar. Tais expedições geraram o povoamento de outras faixas de terras, incluindo a região amazônica, além de levarem à descoberta do ouro, dando início a um novo ciclo econômico no país. Verificando o aprendizado Atividade 1. Com relação à decisão de Portugal em dividir o território brasileiro em capitanias, assinale a alternativa incorreta: a) O principal motivo da decisão do rei de Portugal em dividir o território brasileiro em capitanias foi a proteção contra invasores estrangeiros, especialmente os franceses, que já atuavam na exploração do Pau-brasil na costa brasileira. b) Para aqueles que se arriscassem a ocupar as terras brasileiras, o rei de Portugal concederia poderes de soberanos, podendo, inclusive, nomear autoridades administrativas e juízes e cobrar impostos e taxas. c) O produto escolhido para produzir nas capitanias foi o açúcar, haja vista que Portugal já tinha experiência na sua produção em outros territórios. d) Para dar início ao cultivo da cana-de-açúcar, os donatários precisaram usar recursos próprios; por isso, as terras foram distribuídas entre os nobres portugueses, pois somente eles teriam os recursos suficientes à disposição. e) Apesar de ter dado certo em outras colônias portuguesas, o sistema que combinava elementos feudais e capitalistas fracassou no Brasil. As únicas capitanias que tiveram êxito foram as de Pernambuco e São Vicente. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html 2. Alguns fatores foram fundamentais para o declínio da economia açucareira no Brasil, como: a) A alta do preço do açúcar no mercado internacional. b) A presença de africanos nos canaviais brasileiros. c) A experiência dos portugueses com a produção do açúcar em outros territórios. d) As doenças europeiasque assolaram a população indígena. e) As invasões holandesas no Nordeste brasileiro. MÓDULO3 Estudar a descoberta do ouro no Brasil, a economia aurífera, as formas de exploração do ouro, o declínio e os resultados desta atividade econômica, a ocupação da Amazônia e a chegada dos portugueses à sua Bacia, as reformas pombalinas e os resultados da conquista do território amazônico. O ciclo do ouro (Fonte: Wikipedia). Na segunda metade do século XVII, logo após a expulsão dos holandeses da costa brasileira, a economia açucareira começou a declinar. A crise se aprofundou em meados do século XVIII, quando a economia da colônia buscou uma nova atividade para obter riquezas: A extração do ouro. Mesmo atualmente, ele é um metal que atrai a atenção de muitas pessoas devido ao seu valor de mercado. Naquela época, isso não era diferente. O ouro atraiu milhares de pessoas para o Brasil, principalmente devido à facilidade de sua exploração. A�nal, o tipo aluvião era extraído dos rios. Portugal, por sua vez, com sérios problemas �nanceiros decorrentes principalmente da queda do preço do açúcar no comércio internacional e dos gastos com a expulsão dos invasores holandeses, também viu na extração do metal a possibilidade de obter recursos a partir de sua tributação, salvando, assim, a sua economia. Neste módulo, falaremos sobre essa fascinante parte da história econômica do Brasil, que, além de proporcionar riquezas, transformou profundamente a sociedade na colônia, deslocou o centro econômico do Nordeste para o Sudeste e possibilitou um avanço no território brasileiro até a chegada à Amazônia. A descoberta do ouro no Brasil Desde o episódio do descobrimento das terras brasileiras, ou melhor, desde a chegada dos portugueses à terra que hoje chamamos de Brasil, a busca pelo ouro era marcadamente o principal motivador das expedições exploradoras. Os espanhóis tiveram mais sorte, pois logo encontram o metal nas terras hoje pertencentes ao México e ao Peru. Tratava-se dos tesouros guardados das antigas civilizações que lá viviam. Já os portugueses tiveram de esperar mais um pouco até que fossem encontrados sinais da presença de ouro na parte que lhes cabia no Tratado de Tordesilhas. Segundo Prado Junior (2012), somente por volta de 1696, quase dois séculos depois, as bandeiras paulistas começaram a topar com os primeiros indícios do metal: suas primeiras descobertas ocorreram no centro do que hoje é o estado de Minas Gerais, atualmente Ouro Preto. Monumento às bandeiras paulistas. (Fonte: Wikipedia). Com certeza, você já ouviu a expressão O mundo dá voltas! Lembra quando falamos que a ocupação da Terra de Santa Cruz era uma difícil tarefa para Portugal, pois os portugueses não tinham interesse em morar em lugares tão distantes e desprovidos do conforto da metrópole? A notícia da descoberta do ouro chamou a atenção tanto no cenário nacional quanto no internacional, atraindo para o Brasil um contingente populacional com o deslumbramento de um rápido enriquecimento. A nova atividade, então, tornara-se o centro das atenções no Brasil Colonial, fazendo declinar totalmente a primeira fase do açúcar e provocando grandes mudanças na economia e na sociedade. No entanto, de acordo com Rego e Marques (2010), a atividade em torno do metal não superou, em cifras de produção global, o montante de recursos que o açúcar forneceu ao longo da história colonial. O �uxo emigratório de Portugal para a sua colônia neste período era tão grande que precisou ser controlado via lei, criada por D. João V em 1720. Assim, enquanto, em 1690, estimava-se uma população de 300.000 habitantes no Brasil Colônia, este número, em �ns do século XVIII, já era dez vezes maior: 3.000.000. Isso acabou substituindo o tupi pelo português como língua o�cial, fazendo surgir a necessidade de uma produção interna de alimentos que suprisse as necessidades dos novos habitantes, consolidando, assim, o mercado interno no Brasil Colonial. Atenção Essa explosão demográ�ca acabou por alterar o per�l populacional, fazendo surgir uma classe média, composta por artesãos, pro�ssionais das minas, comerciantes, militares, artistas, músicos, poetas e intelectuais, que contribuiu para o desenvolvimento cultural do Brasil na época. A nova sociedade emergida em torno da febre do ouro, segundo Narloch (2011) apud Braga e Silva (2016), era bem mais complexa que a açucareira. Nela, existiriam tanto brancos ricos e pobres quanto negros escravos e livres (e, neste grupo, também havia pobres e ricos. Alguns deles até tinham escravos negros). Quem primeiramente descobriu o ouro no Brasil foram as bandeiras paulistas; por isso, os bandeirantes achavam-se no direito de explorá-lo com exclusividade. No entanto, mais tarde, um contingente composto principalmente por portugueses e nordestinos – chamados pejorativamente de emboabas pelos paulistas – foi atraído para as áreas de exploração, iniciando uma série de con�itos armados que só tiveram �m em 1709. Eles deixaram como consequências: Regularização da distribuição das áreas de exploração entre bandeirantes e emboabas; Regulamentação da cobrança de imposto sobre o ouro (quinto); Cisão das capitanias de São Vicente, São Paulo, Minas de Ouro e Rio de Janeiro, ligadas diretamente à Coroa; Elevação de São Paulo à categoria de cidade; Descoberta do ouro em Mato Grosso e Goiás. (Fonte: Wikipedia). A economia aurífera 1. As formas de exploração Figueirôa (2006), Braga e Silva (2016) sintetizam a estrutura colonial do ciclo aurífero da seguinte forma: Fonte: Figueirôa (2006) apud Braga e Silva (2016). (Fonte: Lavras). Inicialmente, o ouro brasileiro foi extraído em aluviões, atividade que necessitava de pouco capital. Isso atraiu homens livres tanto de Portugal quanto de outras partes do território para as áreas onde o metal estava sendo explorado (Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso). Produzindo isoladamente, eles eram chamados de faiscadores. Mais tarde, surgiram as lavras, uma forma de extração de ouro em larga escala com o auxílio de máquinas e um grande volume de trabalhadores, sendo a maioria escrava. Apesar da grande riqueza gerada pela extração do metal, a renda era extremamente concentrada, principalmente devido à alta in�ação em torno das regiões de mineração . Desse modo, conseguiam auferir grandes quantidades de recursos somente aqueles que encontravam muito ouro ou comercializavam produtos a preços altíssimos para a população. Outra particularidade da atividade aurífera era que ela exigia um controle maior da Coroa em virtude da sua importância como fonte de riqueza. Dessa forma, inicialmente ela estabeleceu a cobrança do quinto, um imposto de 20% em cima de todo ouro extraído na colônia. Mais tarde, foram instituídas a capitação, quando o imposto passou a se estender sobre escravos e pessoas livres que trabalhassem com as próprias mãos, e, por último, a derrama, cobrada de forma espontânea ou compulsória por meio do con�sco de bens quando o quinto não era pago integralmente. Credita-se à derrama a principal responsabilidade pela eclosão da Incon�dência Mineira, que, segundo Marques e Rego (2010), apesar de todos os percalços, conseguiu pôr um �m nesses atos predatórios para a colônia. Saiba mais https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html Assista ao vídeo que traz um resumo sobre as principais revoltas ocorridas no Brasil Colônia, com ênfase na Incon�dência Mineira, um movimento importante para o início do processo de independência em relação à metrópole. 2. Declínio e resultados da economia aurífera Vejamos alguns fatores que contribuíram para o declínio do ouro: 1 Excessiva tributação da Coroa; 2 Baixo nível de tecnologia empregado na produção; 3 Baixos investimentos; 4 Rápido esgotamento do ouro encontrado às margens dos rios. Decadência da mineração brasileira no século XVIII Atenção Durante o século XVIII, a produção brasileira chegou a representar cerca de 40% do volume de ouro no mundo.No entanto, de acordo com Braga e Silva (2016), grande parte dessa riqueza não �cou no Brasil nem em Portugal, indo parar na Inglaterra devido às transações entre portugueses e ingleses. A Inglaterra, que já produzia produtos manufaturados, encontrou no ouro brasileiro, recebido como pagamento pelos produtos comprados pelos portugueses, um grande �nanciador da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra. Vejamos algumas consequências: A exploração de diamantes , que ocorreu de forma paralela ao ouro; A ocupação do Centro-Oeste brasileiro com a mudança do eixo econômico antes localizado na região açucareira; O desenvolvimento de atividades acessórias, como a agricultura e a pecuária, e a transferência da capital, em 1763, da Bahia para o Rio de Janeiro, mais próximo das regiões mineradoras. javascript:void(0); https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html A ocupação da Amazônia 1. A chegada dos portugueses à Bacia Amazônica Um capítulo paralelo na descoberta e corrida do ouro no Brasil é a colonização do Vale Amazônico. Se você parou para analisar o Tratado de Tordesilhas no mapa, possivelmente já se perguntou: Se a Portugal pertencia somente a área do Nordeste e Sudeste brasileiro, além de pequenas faixas do Norte e Centro-Oeste, como os portugueses conseguiram dominar as demais partes que atualmente pertencem ao território brasileiro? Isso ocorreu no século XVII: favorecidos pela União Ibérica, os portugueses adentraram o território considerado espanhol pelo Tratado de Tordesilhas. Esse movimento de expansão foi incentivado pela: Busca de metais preciosos; Captura de índios a serem utilizados como mão de obra escrava nos canaviais; Procura pelas drogas do sertão (cacau, cravo, castanha, salsaparrilha, guaraná etc.), isto é, especiarias do novo continente que tinham um valor crescente no mercado europeu. Na verdade, é na extração destes produtos que se formará a base econômica que tornará viável a colonização da Amazônia. A ocupação da maior parte da Bacia Amazônica nos séculos XVII e XVIII, segundo Simonsen (2005), representa uma das páginas mais impressionantes da história da expansão lusitana . Os espanhóis, até o �nal do século XVI, já haviam se empossado da maior parte das áreas que lhes caberiam, desde a Venezuela até o Rio da Prata. No entanto, ainda não haviam adentrado a Bacia Amazônica, nos sertões mato-grossenses e nas regiões à esquerda do Prata e do Paraguai, provavelmente porque se interessavam por civilizações mais avançadas que detinham alguma reserva de ouro. De fato, os primeiros espanhóis a chegarem à região eram mais conquistadores que colonos. Nesta região, a mão de obra indígena viria a ser mais adequada, pois o índio já possuía habilidades na caça, na pesca e no remo, além de conhecer os produtos da �oresta e os seus rios muito mais que o homem branco. https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html Os jesuítas foram os primeiros a extrair as drogas do sertão com o auxílio da mão de obra indígena a �m de arcar com os custos das missões empreendidas no interior do território. Os carmelitas, além de outras ordens religiosas, também ali chegaram. Quanto aos seus objetivos, especula-se que, principalmente no caso dos jesuítas, havia um plano de assentar na América um grande império da Igreja Católica sob a sua direção. Dessa forma, segundo Prado Junior (2012), em vez de buscarem um estreitamento das relações entre os indígenas e os colonos europeus, eles tentaram afastá-los, usando a força para manter sua hegemonia. Jesuítas. (Fonte: Mundo educação). De qualquer forma, os padres possuem grande importância para o Vale Amazônico, pois tiveram a iniciativa do desbravamento do extenso território. Tais missões constituíram importantes empresas comerciais. Eles conseguiam realizar com os índios o que os colonos foram incapazes de fazer, submetendo os nativos, com seu poder de persuasão, a um regime de vida e de trabalho disciplinado e rigoroso. (Fonte: Wikipedia). Com a mão de obra indígena, os jesuítas conseguiram construir as instalações da missão, colocando-os depois para trabalhar no cultivo de alimentos necessários à subsistência da comunidade e na coleta das drogas do sertão a serem exportadas. Isso pagava não somente a manutenção das missões, mas também gerava grandes lucros que enriqueceriam as ordens religiosas, dando-lhes grande poder e importância �nanceira na primeira metade do século XVIII. javascript:void(0); Luiz Eduardo Geoffroy 2. As reformas pombalinas Vejamos algumas reformas efetuadas sob o comando do Marquês de Pombal: Clique nos botões para ver as informações. No entanto, na segunda metade do século XVIII, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, tornou-se Secretário de Estado no reino de D. José I. Com a in�uência dos princípios iluministas, empreendeu diversas reformas na administração pública portuguesa para modernizá-la, maximizando os lucros obtidos com as colônias, sobretudo com o Brasil. Reformas na administração pública portuguesa Uma das medidas adotadas por Pombal foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias. Assim, em 1755, o poder eclesiástico foi abolido das missões indígenas, �cando os leigos responsáveis pela administração das aldeias. Os padres permaneceram no local apenas com sua autoridade espiritual. Mais tarde, em 1759, os jesuítas tentaram resistir, mas acabaram sendo expulsos dos domínios portugueses, à exceção dos carmelitas e das outras ordens que se mostravam mais conformadas com a situação. Expulsão dos jesuítas e abolição do poder eclesiástico 3. Resultados da conquista do território amazônico Em suma, a principal característica da colonização do Vale Amazônico foi sua base na coleta de produtos naturais, constituindo mais uma aventura que a formação de uma sociedade estável e organizada. Contrariando as expectativas dos europeus, os resultados econômicos da exploração do território foram ín�mos; além disso, ao longo da sua história, produtos nativos com os maiores potenciais ser-lhe-iam subtraídos: Primeiramente, o cacau, cuja hegemonia foi transferida para a Bahia; em seguida, a borracha. Luiz Eduardo Geoffroy Seringueiro extraindo borracha. A borracha trouxe grande prosperidade para a região, especialmente durante o período de 1879 a 1912, proporcionando expansão da colonização, atração de riqueza e grandes transformações culturais, além de dar um impulso ao crescimento das cidades de Manaus, Belém e Porto Velho e possibilitar os recursos �nanceiros para a aquisição de parte da Bolívia, território onde atualmente �ca o Acre. As sementes da Hevea brasiliensis (nome cientí�co da seringueira) foram levadas para a Malásia pelos ingleses, que passaram a realizar uma produção racional (e não extrativa, como a realizada na Amazônia), o que levou ao �m da economia gomífera brasileira. Para Prado Junior (2012), a colonização do Vale Amazônico ainda hoje é uma incógnita. Verificando o aprendizado Atividade 1. A sociedade formada em torno da economia do ciclo do ouro era bem diferente da que havia se formado na economia açucareira. Qual era a principal diferença entre ambas? a) Na sociedade aurífera, as mulheres e as crianças tinham participação no mercado de trabalho. b) A sociedade açucareira era extremamente patriarcal, enquanto a economia do ouro era predominantemente matriarcal. c) A mão de obra escrava era a base da economia do açúcar, ao passo que, na exploração do ouro, era utilizado apenas o trabalho assalariado. d) Durante o ciclo do ouro, surgiram a classe média e uma sociedade bem mais complexa que a da economia do açúcar. e) No período da exploração do ouro, havia apenas homens livres, pois todos os escravos da colônia já haviam sido libertos. 2. Alguns fatores foram fundamentais para o declínio da economia aurífera no Brasil. Dentre eles, podemos citar: a) A larga escala na utilização do ouro no mercado internacional. b) A excessiva tributação da Coroa em torno daatividade. c) A inexperiência dos portugueses na exploração do metal. d) A grande quantidade de ouro encontrada no território brasileiro. e) A localização das minas, que ficava longe das áreas litorâneas. MÓDULO4 Estudaremos o ciclo cafeeiro, entendendo os aspectos envolvidos em seu apogeu e declínio, bem como os agentes políticos envolvidos, a mão de obra utilizada e a importância deste produto da formação da economia brasileira. O ciclo do Café (Fonte: Unsplash). Mesmo não sendo natural do Brasil, o café se adaptou ao nosso clima e ao nosso solo, transformando o país em referência na produção cafeeira internacional desde o século XIX até os dias de hoje. Atualmente, ele está apenas entre nossos dez produtos mais exportados, porém, no período do Segundo Reinado, ele constituía o principal item das exportações brasileiras, tornando-se a base de toda a nossa economia. Estudaremos o período em que o café �nalmente atingiu seu apogeu, bem como seus sistemas de �nanciamento e comércio, cujos pontos fracos foram evidenciados já no início de sua crise de superprodução. Além disso, destacaremos um ponto relevante da produção cafeeira: a mão de obra. Inicialmente escrava, ela se tornou assalariada, embora não contasse com trabalhadores brasileiros, e sim com imigrantes. História do café 1. Origem Apesar de nosso país possuir uma forte tradição na produção do café, ele, conforme destacamos, não é um de nossos produtos naturais. Por isso, a história de sua chegada às terras brasileiras é bastante interessante. Vamos conferi-la! O produto, na verdade, origina-se da Etiópia (antiga Abissínia), ganhando sua fama ainda no século XII, quando passou a ser transportado pelos mouros para o Egito e a Europa. Diz a lenda que um pastor observara que suas cabras �cavam mais espertas ao se alimentarem dos frutos do cafeeiro. Então ele mesmo os experimentou e sentiu uma maior vivacidade. Sabendo disso, um monge decidiu fazer uma infusão dos frutos a �m de se manter acordado para fazer suas orações. Não importa se a história é verídica ou não: o fato é que a fama do café como bebida energética de�nitivamente se espalhou por toda a Europa. Local de origem da espécie Coffea arábica (café arábica). (Fonte: Cafepoint javascript:void(0); Inicialmente proibido para os cristãos por ser considerado uma bebida maometana , o café foi liberado pelo papa Clemente VIII depois de experimentá-lo. Chegando aos Países Baixos, os holandeses o introduziram no Novo Mundo, trazendo suas sementes para serem plantadas em suas colônias: Guianas, Martinica, São Domingos, Porto Rico e Cuba. Conhecendo a fama e a importância econômica do produto, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta, em 1727, foi incumbido pelo então governador do Estado do Grão-Pará a viajar até a Guiana Francesa a �m de trazer clandestinamente as sementes para o Brasil. Isso pôde ser realizado após ele se aproximar da esposa do governador de Caiena, ganhando a sua con�ança. A senhora D’Orvilliers entrega mudas de café para Francisco de Melo Palheta. (Fonte: Botucatuonline). 2. O início do cultivo do café no Brasil A primeira tentativa de plantio das mudas foi no Pará. Depois, foi a vez do Maranhão e da Região Nordeste. No entanto, ele não conseguiu obter êxito nestes lugares em virtude de suas condições climáticas. Somente na primeira metade do século XIX as sementes foram levadas para a Região Sudeste, sendo plantadas primeiramente no Rio de Janeiro e, em seguida, em São Paulo e Minas Gerais, locais onde seu plantio en�m obteve um grande sucesso. Contudo, a região do Vale do Paraíba foi a que mais se destacou nessa produção em virtude de: Clima; Qualidade do solo; Mão de obra; Recursos �nanceiros disponíveis para que fosse dado um início à plantação. Comentário https://stecine.azureedge.net/webaula/estacio/go0258/tema2.html javascript:void(0); Além das sementes contrabandeadas da Guiana Francesa, vale comentar que a transferência da corte real portuguesa para o Brasil também foi um elemento incentivador da economia cafeeira, já que D. João VI, sabendo da potencialidade do produto, mandou trazer da África sementes de novas espécies de café, distribuindo-as entre os fazendeiros próximos à corte. Entretanto, apenas no reinado de D. Pedro II (1840-1889), o café se torna a principal fonte de riqueza do país, constituindo seu produto de exportação mais proeminente durante quase cem anos. Em 1830, ele já havia desbancado o ouro e o açúcar. A produção do café. Fonte: Instituto Brasileiro de Museus. A economia cafeeira O grá�co a seguir pode nos ajudar a entender a importância da produção cafeeira no montante dos principais produtos brasileiros (café, açúcar, algodão, borracha couro e peles) exportados em três períodos diferentes do século XIX: Fonte: (BRAGA; SILVA, 2016 apud ABREU, 2014). Nota-se que, em 1820, o café �gurava em terceiro lugar nesta lista. Mais tarde, em 1841, ele passa para a primeira posição, se tornando responsável por 48,1% das exportações dos principais produtos brasileiros. Em seguida, em 1889, sua produção corresponde a 61,50% do montante. 1. Os tipos de produção Segundo Braga e Silva (2016), na época do reinado de D. Pedro II, havia dois segmentos distintos de produção cafeeira no Brasil: o da região �uminense e o do oeste paulista. Vale destacar que os cafeicultores do oeste paulista, muitas décadas depois, foram os responsáveis pelos surtos de industrialização ocorridos no �m do Império e na Velha República. 2. O sistema de financiamento Rego e Marques (2010) fazem uma breve análise da economia cafeeira no Brasil, abordando dois importantes aspectos a ela inerentes: Sistemas de �nanciamento e de comércio do café; Questão da mão de obra. Primeiramente, para o fazendeiro o cultivar, havia a necessidade de dois tipos de capital: um �xo inicial e outro de giro. A�nal, era necessário um período relativamente longo para a sua lavoura operar em plena produção, algo que ocorria cinco ou seis anos após o início do plantio. Além disso, havia o pagamento da mão de obra (em princípio, escrava; depois, assalariada), tópico fundamental para a manutenção dos cafezais e a colheita do café. Como não havia bancos voltados para a produção cafeeira, quem acabou assumindo esse papel foi o próprio comerciante do produto, também conhecido como comissário. Assim, criou-se uma interessante relação entre o fazendeiro e o comerciante de café na qual um precisava do outro: O comissário. (Fonte: Brasil café). COMERCIANTES: Dependiam, em grande medida, dos fazendeiros de café para realizar seus lucros com a venda do produto. FAZENDEIROS Precisavam dos comerciantes de café para obter recursos �nanceiros necessários à produção. Fonte: (REGO; MARQUES, 2010) javascript:void(0); Vemos então que este comerciante funcionava como um banqueiro da lavoura, fornecendo recursos necessários à produção. Em contrapartida, ele exigia uma reciprocidade do fazendeiro, devendo a produção ser entregue aos seus cuidados. Ele preparava e vendia o produto com uma comissão de 3% sobre o valor da venda. Por ser informal, tal sistema de crédito revelava-se �exível e adequado ao fazendeiro, apresentando vantagens para as duas partes. Para o fazendeiro, elas residiam no acesso a um crédito com juros razoáveis (9% a 12% ao ano) e na �exibilidade nos prazos de pagamento. Já o comissário, mesmo não auferindo lucros com o empréstimo, conseguia assegurar a colheita do fazendeiro responsável pelos lucros da sua atividade. Um ponto fraco desse sistema consistia no caráter pessoal do crédito, pois, com a expansão da lavoura e o aumento do volume de negócios, as somas emprestadas cresceram, passando a exigir garantias mais sólidas. Entretanto, uma solução para tal questão surgiu com o aumento do número de casas comissárias, fazendo com que os riscos fossem diluídos. 3. O sistema de comércio No período anterior à República, havia três classes distintas no sistema de comércio do café: Comissário; Ensacador;Exportador. Fonte: (REGO; MARQUES, 2010). Apesar da compatibilidade de interesses inicial entre os elementos desse sistema, alguns detalhes foram fundamentais para ele �nalmente entrar em colapso: Clique nos botões para ver as informações. Geralmente, os comissários e ensacadores eram brasileiros ou portugueses, enquanto os exportadores eram estrangeiros. Isso era comum tanto em Santos como no Rio de Janeiro: os maiores exportadores de café eram de outros países. Dessa forma, uma parcela considerável da renda gerada pela economia cafeeira era apropriada pelo capital estrangeiro e canalizada para o exterior. Nacionalidade dos envolvidos Para comissários e fazendeiros, havia o interesse por preços altos, pois seus lucros e comissões dependiam do valor da venda. Os exportadores, por outro lado, desejavam justamente o contrário: se os valores internos fossem baixos, eles ganhariam na diferença entre os preços cobrados em solo brasileiro e os usados para a exportação. Dessa maneira, “à medida que crescia a área de atuação das casas exportadoras em detrimento das casas comissárias, maior era a capacidade baixista do exportador e, portanto, maior a importância da renda apropriada e transferida para o estrangeiro”. (REGO; MARQUES, 2010, p. 40, grifos nossos) O funcionamento da dinâmica do preço do café está ilustrado na �gura a seguir: Dinâmica de preço do produto Fonte: (REGO; MARQUES, 2010). Embora, em princípio, a relação entre ambos fosse amistosa e gerasse benefícios mútuos, havia algumas práticas comissárias que desagradavam os proprietários dos cafezais. Uma delas era a manipulação do produto feita por eles para empurrar todo o café consignado com os fazendeiros, misturando o de baixa e alta qualidade. Isso fazia com que, no �nal, o preço dele caísse. Problemas entre comissários e fazendeiros Luiz Eduardo Geoffroy Outro motivo de queixa entre os fazendeiros, a conta de venda era feita quando o café era vendido do comissário para o exportador. O produto vinha com esta conta do comissário em que eram demonstradas as condições de venda e o crédito que o fazendeiro possuía junto à casa comissionada. Em alguns casos, a conta de venda era emitida com a data da transação posterior à de sua realização. No entanto, a reação de descontentamento com essa prática só eclodiu no momento mais difícil da economia cafeeira, com a oferta do produto alta e os seus preços em baixa. É exatamente neste momento que o mecanismo de comercialização e �nanciamento do café não se mostra mais conveniente. A insu�ciência de um sistema de �nanciamento baseado no comissário acabou gerando re�exos na mão de obra utilizada nas lavouras: com o início do trabalho livre, ela se expandiu como nunca, faltando-lhe o �nanciamento necessário para isso. Conta de venda A mão de obra no ciclo do café Os trabalhadores assalariados empregados na produção do café representaram a primeira fase do desenvolvimento do Capitalismo no Brasil. A maior parte da mão de obra recrutada para o trabalho nos cafezais era composta por imigrantes e brasileiros natos. Composto por um total de 5 milhões de pessoas com idades entre 13 e 45 anos, o per�l da mão de obra das maiores províncias do país (Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará) em 1882 está descrito no grá�co a seguir: Fonte: (REGO; MARQUES, 2010). Alguns eventos ocasionaram um aumento no número de pessoas sem renda ou teto, gerando o surgimento das primeiras favelas no Rio de Janeiro e em outras cidades. Verificando o aprendizado Atividade 1. No que diz respeito à origem e ao início do cultivo do café no Brasil, assinale a alternativa incorreta: a) Apesar da forte tradição na produção do café, ele não é um produto natural do Brasil. b) Inicialmente, o café foi proibido para os cristãos, mas depois foi liberado pelo papa Clemente VIII após experimentá-lo. c) As primeiras sementes de café que chegaram ao Brasil foram contrabandeadas da Guiana Francesa. d) A primeira tentativa de plantio das mudas de café foi no Pará, obtendo muito sucesso. e) A região do Vale do Paraíba foi a que mais se destacou na produção em virtude do clima. 2. Antes da República, o sistema de comércio do café era composto por três classes distintas: o comissário, o ensacador e o exportador. Com relação a este sistema, analise as a�rmativas a seguir a assinale a incorreta: a) A compatibilidade de interesses dos comissários, ensacadores e exportadores era perfeita mesmo na primeira crise de baixa produção do café. b) Além de receber o café do interior, o comissário era responsável por fornecer crédito ao fazendeiro. c) Geralmente, os comissários e ensacadores eram portugueses e brasileiros, enquanto os exportadores eram, em sua maioria, estrangeiros. d) Aos comissários e ensacadores interessava a alta nos preços do café, enquanto, para os exportadores, os preços internos baixos do produto eram mais interessantes. e) A maior atuação das casas exportadoras em detrimento das comissárias favoreceu a capacidade baixista do exportador e, consequentemente, a canalização da maior parte da renda auferida com o comércio do produto para o exterior. Considerações finais Considerações finais Vimos, ainda no período pré-colonial, a exploração do primeiro produto considerado pelos portugueses com grande potencial para o comércio europeu: o Pau-brasil. Abordamos um ciclo econômico que trouxe muita prosperidade ao Brasil, colocando �m ao seu histórico de�citário enquanto colônia: o ciclo do açúcar. Estudamos também a descoberta do ouro no Brasil, a economia aurífera, as formas de exploração do ouro, o declínio e os resultados dessa atividade econômica, observando a ocupação da Amazônia e a chegada dos portugueses à sua Bacia, além das reformas pombalinas e dos resultados da conquista do território amazônico. Vimos como o período cafeeiro atingiu seu apogeu, bem como seus sistemas de �nanciamento e comércio, cujos pontos fracos foram evidenciados já no início de sua crise de superprodução. Além disso, destacamos um ponto relevante da produção cafeeira: a mão de obra. Inicialmente escrava, ela se tornou assalariada, embora não contasse com trabalhadores brasileiros, e sim com imigrantes. Especiarias Pimenta, gengibre, noz-moscada, almíscar, açafrão, canafístula, almarega, sândalo, aloés, âmbar e cana índica (SIMONSEN, 2005). Canafístula É uma árvore. A canafístula (Peltophorum dubium (Sprengel) Taubert), ou angico amarelo, pertence à família das leguminosas (Fabaceae) e à subfamília Caesalpinioideae. Trata-se de uma espécie nativa, frequentemente encontrada na Floresta Estacional Semidecidual, com ampla ocorrência (CARVALHO, 2003) desde o estado da Bahia até o Rio Grande do Sul, além dos países vizinhos Argentina e Paraguai (REITZ et al., 1978). Bugios Os bugios, conhecidos popularmente como guaribas, barbudos e roncadores, são primatas da família Alouatta que possuem a maior distribuição geográ�ca da região neotropical. Pernambuco O Pau-brasil também é conhecido como pau de Pernambuco devido à sua abundância na região; inclusive, nos idiomas francês e italiano, ele é chamado por “Pernambuco”. Mercantilista Mercantilismo é o nome dado a um conjunto de práticas econômicas desenvolvido na Europa, na Idade Moderna, entre o século XV e o �nal do XVIII, que originou uma série de medidas econômicas diversas de acordo com os Estados, sendo principalmente caracterizado por uma forte intervenção do Estado na economia. União Ibérica Foi a união das dinastias de Portugal e Espanha ocorrida no período de 1580-1640 após a Guerra da Sucessão Portuguesa, �cando Portugal sob o controle da monarquia espanhola durante a dinastia �lipina. Bandeirantes Os bandeirantes eram os sertanistas do período colonial que, a partir do século XIV, penetraram no interior da América do Sul em busca de riquezas minerais – sobretudo ouro e prata, abundantes na América espanhola – e de indígenas para a escravização ou o extermínio de quilombolas.Mineração Geralmente, em áreas de mineração todas as atividades acabam voltando-se exclusivamente para a extração do metal, fazendo com que a região �casse dependente de outras para a compra de produtos, como alimentos e vestuário. A diminuição da oferta desses itens e a desvalorização do ouro, já que ele é tido como abundante na região, ocasionavam a alta in�ação. (BRAGA & SILVA, 2016) Diamantes O Brasil tomou o lugar antes ocupado pela Índia como o principal produtor de diamante, perdendo-o depois para a África do Sul. (REGO; MARQUES, 2010) Lusitana A a�rmação é oriunda da frase de Joaquim Nabuco: “Nada, nas conquistas de Portugal, é mais extraordinário que a conquista do Amazonas” (A Bacia do Amazonas, 1ª Memória sobre o Litígio Anglo-Brasileiro). Maometana Proveniente do Islamismo, faz referência a Maomé. Referências ABREU, M. de P. (org.). A ordem do progresso: Dois séculos de política econômica no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. BRAGA, B. P. M.; SILVA, E. J. Uma re�exão introdutória sobre o Brasil e sua formação econômica. Curitiba: Intersaberes, 2016. FIGUEIRÔA, S. F. de M. Metais aos pés do trono: Exploração mineral e o início da investigação da terra no Brasil. In: Revista USP. n. 71. São Paulo, set./nov. 2006. p. 10-19. FURTADO, C. Formação Econômica do Brasil. 34. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. NARLOCH, L. Guia politicamente incorreto da História do Brasil. São Paulo: LeYa, 2011. PRADO JUNIOR, C. História Econômica do Brasil. 43. ed. São Paulo: Brasiliense, 2012. REGO, J. M.; MARQUES, R. M. (org.). Economia Brasileira. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. SIMONSEN, R. C. História Econômica do Brasil. 1500–1820. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005. Próxima aula TEXTO Explore mais Assista ao �lme A Sociedade Açucareira no Brasil Colonial e re�ita sobre esse importante ciclo da formação econômica do Brasil. Clique aqui e con�ra. Leia um texto sobre a importância dos cristãos-novos para a formação do Brasil . Raposo Tavares: A vingança de um judeu. Clique aqui e con�ra. javascript:void(0); javascript:void(0);
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