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Direito do Consumidor Professora Flora de O. Souza E-MAIL: FLORA.SOUZA@UNINILTONLINS.EDU.BR 1. Evolução histórica do Direito do Consumidor • Babilônia, Índia, Roma – Código de Hamurabi, Massu, Manu, Lei das XII Tábuas. • Formas primitivas de produção manual e consumo reduzido - escambo, troca de mercadorias entre pessoas • A compra e venda, aos poucos, vai sendo incorporada às sociedades. • Ocorre a expansão do mercado de consumo. 1.1. Origens remotas da proteção do consumidor: As primeiras ondas de globalização a) Roma - Expansão do Império Romano no Mar Mediterrâneo, após a Guerras Púnicas; - Maior império em toda Antiguidade - Europa, África e Ásia Menor formaram um único modelo quanto à economia, política, direitos. b) Grandes navegações: - Europeus: Portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, etc. - Invasões de territórios na Ásia, Américas e África. c) Após anos 90 1.2. Origens remotas da proteção do consumidor: Principais fatores que levaram o surgimento do Direito do consumidor 1.2.1. Revolução Industrial 1.2.2. Liberalismo econômico → Dogma da autonomia da vontade, liberdade de contratação e igualdade jurídica formal entre os contratantes. 1.2.3. Surgimento da sociedade de consumo em massa → Expansão do comércio, proibição da escravidão e desenvolvimento da publicidade. - Configura-se no séc. XVIII na Europa e, de forma mais organizada, nos EUA. - No final do séc. XVIII, surgiu nos EUA um movimento organizado para o surgimento de normas protetivas do consumidor (inclusive já se utilizando desta nomenclatura; movimento este que começou a se consolidar ao final do séc. XIX, passando por sua normatização completa na segunda metade do séc. XX. - Portanto, pode-se dizer que os pioneiros do Direito do Consumidor foram os EUA. - Na Europa, a organização de normas desta natureza surge no séc. XIX, embora sua consolidação somente tenha ocorrido após ao final da 2ª Guerra Mundial ‒ completando seu ciclo nas últimas décadas do séc. XX. - A partir dos Tratados de Roma, de 1957, houve uma unificação de normas voltadas para o consumo. Os tratados foram assinados na capital italiana, criando a Comunidade Econômica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom), considerados o marco inicial da União Europeia. 1.2.4. Necessidade de proteção do consumidor em razão de riscos inerentes à produção, práticas abusivas, insuficiência da responsabilidade civil subjetiva publicidade ilícita vícios e acidentes de consumo, falta de informação. 1.3. A evolução da proteção do consumidor: 1.3.1. Estados Unidos: - Surge, simultaneamente, com o movimento sindicalista, que na segunda metade do séc. XIX lutava por melhores condições de salário, principalmente em relação aos frigoríficos de Chicago. - A cisão com o movimento trabalhista ocorre a partir da criação, em 1989, da National Consumer League (NCL), um grupo privado, sem fins lucrativos, que representa consumidores em questões de mercado e local de trabalho. - Também há a Consumer Union, atualmente Consumer Reports, uma organização sem fins lucrativos, fundada em 1936, cujo objetivo é realizar testes e pesquisas de produtos independentes, visando orientar e educar o público consumerista. - Com o início do séc. XX, com a alta da inflação, problemas éticos com medicamentos e denúncias das condições da indústria da carne, fizeram o Congresso americano aprovar regulamentação para a indústria da carne (Meat Inspection Act) e a Lei de Alimentos e Medicamentos Puros (Pure Food and Drug Act). - Em 1914 foi criado o Federal Trading Comission, órgão encarregado da aplicação de leis antitruste e da proteção dos interesses do consumidor. - Após a Crise de 29, há expansão destas garantias com a atualização de leis já existentes. - Na década de 60, John Kennedy profere discurso reconhecendo os direitos dos consumidor. A mensagem do Presidente apontou quatro direitos fundamentais. São eles: a) Segurança b) Informação c) Escolha d) De ser ouvido 1.3.2. Europa: - Somente no século XIX surgem dispositivos específicos de proteção ao consumidor ‒ inicialmente penalizando condutas nocivas à produção e ao consumo, como nos casos dos Códigos Penais de Portugal de 1852 e 1866. - No século XX, leis francesas promulgadas desde 1905 penalizavam fraudes e falsificações em relação a alimentos fabricados para consumo. consumidor - A partir dos anos 70 os países da Europa Ocidental começam a adotar legislações especificas voltadas para o direito do consumidor ‒ na França, a Lei de Royer de 1973. - Surgem as primeiras constituições contendo proteção expressa ao consumidor ‒ Portugal em 1976 e Espanha em 1978. 1.3.3. Brasil: histórico da legislação anterior à 1988 - Lei de Usura → Decreto-lei 22.626/1933; - Decreto-lei 869/1938 → crimes contra a economia popular; - Lei Delegada nº 4/1962 → intervenção estatal no domínio econômico para distribuição de produtos de primeira necessidade à população; - Lei 4.137/1962 → Lei de repressão do poder econômico – que criou o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE). 1.3.4. Brasil – Evolução da legislação consumerista - CF/88 → Consagrou a proteção do consumidor como direito fundamental e princípio da ordem econômica (arts. 5º, XXXII, e 170, V). - Art. 48 do ADCT → Impôs ao CN a criação do CDC. - Lei 8.078/90 → Código de Defesa do Consumidor, em vigor desde março de 1991. - Lei 12.291/2010 → Disposição do CDC ao público em todos os estabelecimentos comerciais do país. - Lei 13.455/2017 → Autorizou a diferenciação de preço de bens e serviços oferecidos ao público em função do prazo ou do instrumento de pagamento utilizado. - Lei 13. 486/2017 → Alterou o art. 8º do CDC para dispor sobre os deveres do fornecedor de higienizar os equipamentos e utensílios no fornecimento de produtos ou serviços e de informar, quando for o caso, sobre o risco de contaminação. - Lei 13. 543/2017 → Dispõe sobre a oferta e as formas de fixação de preços de produtos e serviços para o consumidor em comércio eletrônico – divulgação ostensiva do preço à vista, junto à imagem do produto ou descrição do serviço, caracteres facilmente legíveis com tamanho de fonte não inferior a doze. - Lei 13. 786/2018 → Disciplina a resolução do contrato por inadimplemento do adquirente de unidade imobiliária em incorporação imobiliária e em parcelamento de solo urbano – aumenta valores de multas por inadimplemento do contratante e garante prazo de 6 meses de atraso, não indenizável, às empresas responsáveis pela construção e entrega do imóvel. - LC 166/2019 → Dispõe sobre os cadastros positivos de crédito e regula a responsabilidade civil dos operadores. - Lei 13.828/19 → Incluiu como direito dos assinantes a possibilidade de cancelamento dos serviços de TV por assinatura, pessoalmente ou pela internet. - Decreto 9.882/19 → Alterou o Decreto nº 8.573/15, que dispõe sobre o Consumidor.gov - Decreto 9.960/19 → Instituiu a Comissão de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo - Lei 13.874/19 → Declaração de direitos de liberdade econômica - Decreto 10.051/19 → Instituiu o Colégio de Ouvidores do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor - Decreto 10.388/20 → Instituiu o sistema de logística reversa de medicamento domiciliares vencidos ou em desuso, de uso humano, industrializados e manipulados, e de suas embalagens após o descarte pelos consumidores. - Lei 14.010/20 → Dispõe sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no período da pandemia de Covid-19. - Decreto 10.417/20 → Instituiu o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor - Lei 14.027/20 → Estabeleceu regras sobra a distribuição gratuita de prêmios mediante sorteio, vale-brinde, concurso ou operação assemelhada, realizada por concessionárias ou permissionárias de serviço de radiodifusão ou por organizações da sociedade civil. - Portaria 414 de 22 de julho de 2020 → Estabelece a suspensão temporária e excepcionalmente, do tempo máximopara o contato direto com o atendente no Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), previsto na Portaria MJ nº 2.014 de 13 de Outubro de 2008. - Lei 14.028, de 27 de julho de 2020 → Garante que o receituário médico ou odontológico de medicamentos sujeitos a prescrição e de uso contínuo tenha validade pelo menos enquanto perdurarem as medidas de isolamento em virtude da Covid-19. - Lei 14.174, de 17 de junho de 2021 → Alterou a Lei 14.034/20, prorrogando o prazo de medidas emergenciais para a aviação civil brasileira em virtude da pandemia de Covid-19. - Lei 14.186, de 15 de julho de 2021 → Alterou a Lei 14.046/20, que regulamentou a MP 948/2020 → Dispõe sobre medidas emergenciais para atenuar os efeitos da crise decorrente da pandemia da covid-19 nos setores de turismo e de cultura – prazos prorrogados até 31/12/22. 2. O Direito do Consumidor na Constituição Federal de 88 • 2.1. Dispositivos–base: Art. 5º, XXXII – O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor. Art. 170 - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor; Art. 48 do ADCT - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. 2.2. Processo Legislativo do CDC: - Baseado no art. 48 do ADCT; - A iniciativa para o PL foi do então senador Jutahy Magalhães; - O relator do projeto do CDC foi o então deputado federal Geraldo Alckmin; - Foi criada comissão especial presidida pela jurista Ada Pellegrini Grinover; - O CDC foi elaborado a partir de uma postura ideológica voltada à necessidade de ampliação da intervenção do Estado nas relações jurídicas de direito privado, visando defender a parte mais vulnerável na relação contratual de consumo; - O CDC surgiu como verdadeiro microssistema normativo baseado na proteção do consumidor frente a possíveis práticas ilícitas, de cunho enganoso ou abusivo do fornecedor, bem como em relação a práticas lícitas, mas que viessem a provocar prejuízos de ordem material ou moral aos consumidores. 2.3. CDC como influência para os direitos do consumidor dos países sul-americanos: Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile. 2.4. Principais inovações do CDC: Igualdade formal e material → reconhecimento da desigualdade jurídica entre os contratantes para estabelecer, por meio de regras de atribuição de maior proteção a uma das partes contratantes a busca pela igualdade material nas relações de consumo. Responsabilidade objetiva como regra geral → unificando as noções de responsabilidade extracontratual e contratual e estabelecendo responsabilidade ampla a todos aqueles envolvidos direta e indiretamente no fornecimento do produto ou serviço ao consumidor. Noção ampla de fornecedor, consumidor, produto e serviço → tal como previsto nos arts. 2º e 3º. Proteção ampla ao consumidor → desde a oferta até mesmo após o fim do contrato – da responsabilidade pré-contratual e pós-contratual. Por fim, o Direito do Consumidor está assim representado na Constituição Federal: DIREITO FUNDAMENTAL - Art. 5º, XXXII, CF PRINCÍPIO DA ORDEM ECONÔMICA - Art. 170, V, CF PRAZO DE 120 PARA CODIFICAR - Art. 48, ADCT.