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Barras tracionadas EC804 - Estruturas Metálicas I 1 Barras tracionadas Critérios tradicionais para dimensionamento de barras tracionadas, em geral baseados no método das tensões admissíveis, limitam a tensão média na seção transversal mais enfraquecida por furos ao valor da tensão de escoamento do aço. Critérios mais modernos fazem distinção entre o problema de limitação da deformabilidade excessiva ao longo da barra, utilizando a tensão de escoamento como limite, e o problema de ruptura do material em pontos de concentração de tensões, por exemplo junto a furos para conexões, em que a tensão correspondente à ruptura do aço é considerada como limite. Com isso chega-se a um dimensionamento mais lógico e geralmente mais econômico, sem sacrifício da segurança. O dimensionamento da seção transversal de barras tracionadas é abordado neste capítulo, introduzindo as prescrições da NBR 8800/86. Além dos fenômenos mencionados acima, discute-se a limitação de esbeltez da barra para garantir que efeitos não considerados no dimensionamento não sejam importantes, como por exemplo, cargas transversais à barra, vibrações, problemas de montagem, excentricidades nas conexões, etc. Problemas de redução de resistência devido a fadiga em peças submetidas a solicitação alternada são tratados em capítulo a parte. Perfis utilizados em barras tracionadas Barras tracionadas† são muito comuns em estruturas de aço. Aparecem como elementos estruturais principais em treliças de pontes e coberturas, em estruturas treliçadas de torres de transmissão e sistemas de contraventamentos em edifícios altos, entre outras aplicações. Barras tracionadas podem ter seções transversais formadas por perfis isolados ou compostos por vários perfis. A figura 1 apresenta algumas das seções típicas para barras tracionadas. barra redonda barra chata cantoneira dupla cantoneira seção em cruz seção U † Este texto foi baseado em Salmon, C. G., e Johnson, J. E., "Stell Structures - Design and Behavior," 3rd. edition, Harper Collins Publishers, 1990. seção duplo U seção composta treliçada perfil H perfil I seção caixão Figura 1 - Seções típicas de barras tracionadas Em geral o uso de perfis simples é mais econômico que o de seções compostas. Entretanto, barras de seção composta podem ser necessárias quando (a) a capacidade a tração de um perfil simples não é suficiente, (b) o índice de esbeltez (razão l/r entre o comprimento não contraventado l e raio de giração mínimo r) não garante rigidez suficiente, (c) o efeito de flexão combinada com tração requer maior rigidez lateral, (d) detalhes especiais de conexões requerem seções transversais particulares, ou (e) por razões estéticas. Barras tracionadas EC804 - Estruturas Metálicas I 2 Resistência nominal A resistência de uma barra tracionada pode ser descrita em termos dos "estados limites". O estado limite que controla a resistência para uma barra tracionada será (a) escoamento da seção transversal bruta da barra fora das ligações, ou (b) ruptura da área líquida efetiva (i. e., seções contendo furos) nas ligações. Quando o estado limite predominante é o de escoamento da seção bruta ao longo da barra, como por exemplo em uma barra com ligações soldadas (sem furos para colocação de parafusos) a resistência nominal Rn pode ser expressa por Rn = fy Ag onde fy : tensão de escoamento Ag : seção transversal bruta Para barras tracionadas com furos, a seção transversal reduzida é chamada seção líquida. Furos em uma barra causam concentrações de tensões, como indicado na figura 2, por exemplo. A teoria da Elasticidade mostra que a tensão na parede do furo, na seção transversal pelo centro do furo, é aproximadamente três vezes a tensão média na seção líquida (três vezes seria caso a placa tivesse largura infinita). Entretanto, como cada fibra atinge deformação de escoamento εy = fy / E, sua tensão se torna constante e igual a fy, com deformações crescentes com o aumento da força normal até que todas as fibras tenham atingido ou excedido a deformação εy. σmed ~3σmed FF σ=fy FF Figura 2 - Concentração de tensões na vizinhança de furos em placas Quando o estado limite é um escoamento localizado resultando em ruptura pela seção líquida efetiva de uma barra tracionada contendo furos, a resistência nominal Rn pode ser calculada por Rn = fu Ae onde fu : tensão de ruptura Ae : área líquida efetiva = Ct An An : área líquida Ct : fator de eficiência Devido ao aumento da resistência para valores elevados de deformação, fenômeno conhecido como encruamento, a resistência real da barra em tração pode exceder o valor dado por fy Ag. Entretanto, a deformação requerida para ativar esse acréscimo de resistência é elevada, muito acima daquela correspondente à tensão de escoamento, resultando em grandes variações no comprimento da barra. Com isso a distorção exagerada resultante para a estrutura pode fazer com que a mesma não mais atenda às funções às quais se destinava, constituindo-se assim um estado limite. Tradicionalmente, uma margem de segurança elevada tem sido utilizada em projetos quando se considera estado limite de ruptura que para estado limite de escoamento. No caso da NBR 8800, os valores considerados para barras em tração são 0.75 para ruptura em seções enfraquecidas e 0.90 para escoamento ao longo da barra. Área líquida Sempre que uma barra tracionada é ligada através de parafusos ou rebites é necessário executar furos nas peças a serem ligads. Como resultado, a seção transversal da barra na ligação é reduzida e a resistência da barra pode também ser reduzida, dependendo das dimensões e da localização dos furos. Vários métodos são empregados para realizar furos. O método mais comum e mais barato é puncionamento de furos com diâmetros aproximadamente 1,5 mm maiores que os diâmetros nominais dos parafusos. Em geral, a espessura da placa é menor que o diâmetro de puncionamento. Durante a operação de puncionamento o metal na borda do furo é danificado. Isso é considerado no cálculo assumindo que o dano é limitado à distância radial de 1 mm em torno do furo, a partir de sua borda. Portanto a largura total a ser deduzida será considerada como a dimensão nominal do furo normal à direção de aplicação da carga acrescida de 2 mm. Para parafusos em furos padrão isso é equivalente ao diâmetro nominal do parafuso mais 3,5 mm. Barras tracionadas EC804 - Estruturas Metálicas I 3 Um segundo método para realizar os furos consiste em subpuncionar com diâmetro 5 mm a menos e alargar os furos até a dimensão final após a montagem das peças. Esse método é mais caro que o anterior, mas oferece a vantagem da precisão na montagem. Esse método reduz danos nas paredes do furo, levando portanto a uma resistência maior, tanto para solicitações estáticas quanto para solicitações alternadas (fadiga). Entretanto isso não é levado em conta nos procedimentos de cálculo prescritos pela NBR 8800/86. Um terceiro método consiste em perfurar com broca rotativa para o diâmetro do parafuso mais 1 mm. Esse método é o mais caro dos métodos comuns e serve para unir peças espessas. Exemplo 1 Determinar a área líquida da barra tracionada abaixo na seção enfraquecida pelo furo: F chapa 100 x 8 furo: 16 mm F Ag = 10 x 0.8 = 8 cm2 largura a ser deduzida: 1.6 + 0.2 = 1.8 cm An = Ag - 1.8 x 0.8 = 6.56 cm2 Exemplo 2 Determinar a área líquida na seção a-a da barra tracionada abaixo FF 2L 50,8 x 50,8 x 7,94 ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� ����������������� furos:16 mm a a seção a-a Ag=2 × 742 = 1484 mm2 An=Ag-2 × (16+2) × 7,94 = 1198 mm2 Observe que devem ser descontados da área bruta apenas os furos que se encontram na seção a-a considerada, ou seja, apenas um furo em cada uma das cantoneiras que compõem a seção transversal composta Efeito de furos em ziguezague Sempre que há mais de um furo e os furos não estão alinhadostransversalmente em relação à direção do carregamento, pode existir mais de uma linha potencial de ruptura. A linha de ruptura é a que leva à menor seção líquida. Na figura 3a a linha de ruptura se dá pela seção A-B. Na figura 3b, que apresenta duas linhas de furos em ziguezague, a linha de ruptura pode estar passando por um furo (A-B), ou pode seguir em diagonal (A-C). Entretanto, por A-B apenas um furo seria deduzido, enquanto por A-C, dois furos seriam deduzidos. Para determinar qual a seção mais crítica ambas as seções devem ser investigadas. Um cálculo criterioso ´da resistência pela seção A-C é complexo. Um método simplificado foi proposto por Cochrane e tem sido largamente utilizado, para levar em conta a diferença entre A-C e B-C, expresso através de uma correção de comprimento da linha de ruptura s2/4g onde s é o espaçamento entre os furos, medido na direção do carregamento, e g é a distância medida na direção normal a do carregamento. FF A B (a) (b) g s g Figura 3 - Furos em ziguezague A mínima área líquida seria então determinada a partir do menor comprimento líquido multiplicado pela espessura da placa. Outras regras foram propostas por outros pesquisadores, porém nenhuma delas apresentou diferenças significativas em relação à fórmula simples de Cochrane. Área líquida efetiva A área líquida computada nas seções anteriores fornece a seção reduzida que resiste à tração mas ainda pode não refletir corretamente a resistência da peça. Isso é Barras tracionadas EC804 - Estruturas Metálicas I 4 particularmente verdade quando a barra tracionada tem seção composta por elementos que não tem um plano em comum ou quando a carga de tração é transmitida nas extremidades da barra pela conexão de alguns elementos e não todos. Por exemplo, uma cantoneira ligada por apenas uma das abas. Nesses casos a força de tração não é distribuída uniformemente pela seção líquida. Para levar em consideração essa não-uniformidade computa-se a area líquida efetiva Ae através de Ct An, on Ct é um coeficiente de redução. Empregando a área líquida efetiva a não uniformidade das tensões é levada em conta de uma maneira simples. A NBR 8800 considera a área líquida efetiva através da fórmula: Ae = Ct An onde Ae : área líquida efetiva An : área líquida Ct : fator de eficiência Essa equação se aplica tanto para ligações parafusadas ou parafusadas quanto para ligações soldadas. Para ligações soldadas a área líquida correesponde à área bruta Ag, uma vez que não existem furos. Quando a força de tração é transmitida por apenas alguns dos elementos que compoem a seção transversal da barra,o coeficiente Ct é menor que a unidade. Esses valores são dados pela NBR 8800 para os casos mais comuns. Limitação de esbeltez Embora estabilidade não determine um critério para o dimensionamento de barras tracionadas, é ainda necessário limitar seu comprimento para evitar que a barra seja muito flexível tanto durante a montagem quanto durante a utilização normal da estrutura. Barras tracionadas muito longas podem apresentar flecha exagerada devido ao peso próprio e podem vibrar excessivamente quando submetidas à ação direta do vento ou quando estiver suportando equipamento vibratório. Para limitar esses problemas um critério de limitação de esbeltez é estabelecido. Esse critério estabelece que o índice de esbeltez l/r (comprimento dividido pelo raio de giração) seja limitado, para barras tracionadas, em (a) 240 para barras principais; (b) 300 para barras secundárias. Estes limites não se aplicam a tirantes de barras redondas pré-tracionadas. O raio de giração deve ser o mínimo para a seção transversal em questão. Transferência de carga em ligações Normalmente os furos a ser considerados em barras tracionadas correspondem a parafusos para transferência de cargas de uma barra à outra. Embora se possa fazer um tratamento mais preciso sobre o comportamento da ligação, a hipótese básica é que parafusos de iguais dimensões transferem uma parcela igual da carga, sempre que os parafusos sejam dispostos de forma simétrica em relação ao centróide da ligação. Esse fato é importante quando se procura definir qual é a linha de ruptura dentre as várias linhas possíveis em uma ligação com parafusos em ziguezague. 1 3 1 2 24 4 placa A placa B C AB C AB F A força total F age na seção a-1-3-1-a. Qualquer outra seção a esquerda dessa envolvem força de tração inferior a 100% de F, uma vez que parte da força já terá sido transmitida da placa A para a placa B. Na seção 4-4 apenas 20% de F age na placa A, enquanto a placa B deve suportar 100% da carga. Assim sendo, a decisão de qual a máxima carga a ser suportada pela barra deve levar em conta não apenas a seção líquida efetiva, mas também qual a parcela da carga total que está atuando efetivamente em cada seção. Na figura acima, a placa A deve ser verificada para: seção A-1-3-1-A para 100% de F seção A-1-2-2-1-A para 90% de F seção B-2-2-Bpara 70% de F . . . seção C-4-4-C para 20% de F Obviamente não é necessário fazer todas as verificações possíveis visto que muitas são facilmente descartadas em uma primeira análise. Exemplo 3 Determinar a área líquida da barra tracionada abaixo nas seções relevantes para o dimensionamento a tração. Barras tracionadas EC804 - Estruturas Metálicas I 5 ����������� ����������� ����������� ����������� ����������� 6060 U 254 × 29.8 kg/m furos: 20 mm 70 70 25 4 F 1 1’ 2 2’ a b b’ Neste caso é importante pesquisar Exercício extra-classe a) compute a máxima carga que pode ser suportada pela barra indicada na figura abaixo: 51 51 51 51 51 chapa 10 x 254 766351 furos: diâmetro 21 N d b) idem para a barra indicada na nova figura, em que os furos correspondem a parafusos para ligação a uma chapa de nó: 51 51 51 51 51 chapa 10 x 254 766351 furos: diâmetro 21 N d dimensões em mm (fy=250MPa, fu=400MPa)
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