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Seção 6 Fisiologia da Respiração CAPÍTULO 3 8 ORGANIZAÇÃO MORFOFUNCIONAL DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Falle PRINCIPAIS FUNÇÕES DO SISTEMA RESPIRATÓRIO A função básica do sistema respiratório é suprir o organismo com oxigênio (02) e dele remover o produto gasoso do meta bolismo celular, isto é, o gás carbônico (C02). Nos seres unice lulares, as trocas gasosas ocorrem diretamente entre a célula e o meio circunjacente por meio da difusão simples. Já nos orga nismos multicelulares a difusão entre o meio externo e o interior da massa celular faz-se lentamente, em decorrência da distância a ser percorrida pelos gases. Associando-se a isto, a alta velocidade de captação de O2 pelas células resulta em uma inadequação de oxigenação no interior da massa celular. Há diversas adaptações na natureza para contornar esse problema. Analisando direta mente os mamíferos, observa-se que os pulmões são os órgãos encarregados de fornecer O2 ao organismo e dele retirar o excesso de CO2. Para tanto, nos seres humanos a superfície pulmonar encarregada das trocas gasosas é de 70 a 1 00 m2 (sendo esta a maior área de contato do organismo com o meio ambiente). Essa enorme superfície fica contida no interior do tórax, distribuída por 480 milhões de alvéolos pulmonares, variando entre 270 e 790 milhões, com base na altura e no volume pulmonar do indi víduo. Para que as trocas gasosas entre o gás alveolar e o sangue se efetuem adequadamente, a circulação pulmonar é muito rica, sendo de apenas 0,5 micrômetro a espessura do tecido a separar o gás alveolar do sangue. Os pulmões, todavia, não são apenas órgãos respiratórios. Parti cipam do equilíbrio térmico, pois com o aumento da ventilação pulmonar há maior perda de calor e água. Auxiliam também na manutenção do pH plasmático dentro da faixa fisiológica, regu lando a eliminação de ácido carbônico (sob a forma de CO2). A circulação pulmonar desempenha também o papel importantís simo de filtrar eventuais êmbolos trazidos pela circulação venosa, evitando, assim, que provoquem obstrução da rede vascular arte rial de outros órgãos vitais ao organismo. ° endotélio da circu lação pulmonar contém enzimas que produzem, metabolizam ou modificam substâncias vasoativas. Finalmente, o homem também utiliza seu aparelho respiratório para outros fins, tendo funda mental destaque a defesa contra agentes agressores e a fonação. ORGANIZAÇÃO MORFOFUNCIONAL DO SISTEMA RESPIRATÓRIO ° sistema respiratório dos mamíferos é compreendido pela zona de transporte gasoso, formada pelas vias aéreas supe riores e árvore traqueobrônquica, encarregadas de acondicionar e conduzir o ar até a intimidade dos pulmões; pela zona respi ratória, onde efetivamente se realizam as trocas gasosas; e por uma zona de transição, interposta entre as duas primeiras, onde começam a ocorrer trocas gasosas, porém a níveis não-signifi cativos. Zona de Transporte ° ar inspirado passa pelo nariz ou pela boca indo para a orofaringe. Em seu trajeto pelas vias aéreas superiores, o ar é filtrado, umidificado e aquecido até entrar em equilíbrio com a temperatura corporal . Isto decorre de seu contato turbulento com a mucosa úmida que reveste as fossas nasais, faringe e laringe. Além disso, nessa região também são filtradas as partículas de maior tamanho em suspensão no ar. As vias aéreas superiores atuam, por conseguinte, acondicionando o ar, protegendo do ressecamento, do desequilíbrio térmico e da agressão por partí culas poluentes de grande tamanho as regiões mais internas do sistema. A respiração nasal é a mais comum e tem duas impor tantes vantagens sobre a respiração pela boca: filtração e umidi ficação do ar inspirado. Entretanto, o nariz pode apresentar uma resistência maior do que a boca, principalmente em situações onde há obstrução por pólipo, adenóides ou congestão da mucosa nasal. Nesse caso, freqüente em crianças e adultos, a respiração passa a ser feita principalmente pela boca. Outra situação onde a respiração pela boca pode ocorrer juntamente com a nasal é durante o exercício. A árvore traqueobrônquica ou zona de trans porte aéreo se estende da traquéia até os bronquíolos terminais. A traquéia se bifurca as simetricamente, com brônquio fonte direito com menor ângulo com a traquéia em relação ao esquerdo. Logo, a inalação de corpos estranhos vai preferencialmente para o brôn quio fonte direito. A partir da traquéia, a árvore traqueobrônquica 608 FISIOLOGIA se divide progressivamente, em geral por dicotomia, podendo ocorrer trifurcação a partir da sexta geração de vias aéreas. Os brônquios fonte (direito e esquerdo) são considerados como a primeira geração, ou subdivisão, da árvore traqueobrônquica. A segunda geração corresponde aos brônquios lobares, e assim sucessivamente até os bronquíolos terminais ( 1 6: geração), como mostra o diagrama na Fig. 38 . I . A remoção d e partículas poluentes, contudo, não s e faz somente nas vias aéreas superiores. A cada bifurcação do sistema de condução há geração de turbulência, com conse qüente impactação de partículas. Também com a progressiva bifurcação do sistema de condução ocorre um aumento da área de seção transversa total do sistema tubular, com conseqüente diminuição da velocidade do ar conduzido. Este fato leva à deposição de partículas em suspensão pela simples falta de sustentação aerodinâmica. As partículas removidas do ar por esses processos caem sobre a camada de muco que recobre o sistema de condução, e com o muco são removidas em direção à glote pelos batimentos ciliares das células que formam o epitélio dessa região. Zonas de Transição e Respiratória A zona de transição se inicia no nível do bronquíolo respi ratório, caracterizado pelo desaparecimento das células ciliadas do epitélio bronquiolar. Os bronquíolos respiratórios também se diferenciam por apresentarem, espaçadamente, sacos alveolares e também por se comunicarem diretamente com os alvéolos por meio de pequenos poros em suas paredes, denominados canais de Lambert. A partir do último ramo do bronquíolo respiratório surgem os ductos alveolares, que, por sua vez, terminam em um conjunto de alvéolos, os sacos alveolares. A zona respiratória, então, é constituída pelos ductos e sacos alveolares e alvéolos. A zona de transição estende-se da 17: à 19: geração (bronquíolos respira tórios), ao passo que a zona respiratória abrange da 20: à 23: geração (Fig. 38.2). A unidade alvéolo-capilar é o principal sítio de trocas gasosas a nível pulmonar, sendo composta pelo alvéolo, septo alveolar e pela rede capilar. Os alvéolos são pequenas dilatações reves tidas por uma camada de células, a maioria pavimentosas, com um diâmetro de aproximadamente 250 j.Lm. O septo alveolar é constituído por vasos sanguíneos e fibras elásticas, colágenas e terminações nervosas. Os septos alveolares possuem desconti nuidades denominadas poros de Kohn, que permitem a passagem de ar, líquido e macrófagos entre os alvéolos. A superfície alve olar é constituída por três tipos de células. O pneumócito tipo I ou célula alveolar escamosa é a célula mais freqüente, apresenta pouca organela citoplasmática, recobre a maior parte da super fície alveolar e não consegue se regenerar, isto é, não tem poten cial mitótico. O pneumócito tipo II ou célula alveolar granular é REGiÕES DAS VIAS AÉREAS SEGMENTAÇÃO ORDEM DE GERAÇÃO ZONA BRÕNQUIO FONTE BRÕNQU10 LOBAR BRÕNQUIO SEGMENTAR TRANSPORTES BRÕNQUIO SUBSEGMENTAR BRONQuíoLO BRONQuíoLO TERMINAL BRONQuíOLOS RESPIRATÓRIOS TRANSiÇÃO DUCTOS ALVEOLARES RESPIRATORIA SACOS ALVEOLARES Fig. 38.1_ Esquema simplificado das subdivisões do sistema respiratório a partir da traquéia. Desta até os sacos alveolares oconem em média 23 su�dlVJsoes, ou .gerações. A t�aquéia corresp?nde à �eracã� de número zero. Assim, há uma zona de transporte, que vai da traquéia até os bron qUl?�OSterrrunals: Os bronqulOlos resplratonos ( 1 7. a 1 9. gerações) correspondem à zona de transição. A partir daí encontra-se a zona respi ratona, onde efetIvamente se realIzam as trocas gasosas. (Modificada de Paes de Carvalho, A. e Fonseca-Costa, A. Circulação e Respiração. EdItora Cultura MédIca, 3." ed., 1 979.) EPIT É LIO - GL  NDULA MUCOSA - C É LULA CALICIFORME - -----:- . � -; • • • • • • • oe : . • : : : . • ' • : � : <; . -:.. - - -..: CARTILAGEM _ _ 0_' ':: ... '" .:7 .. '=:::J� � .... � ..::: . = · '9 \ '; : ' :� i I I I I ORGANIZAÇÃO MORFOFllNCIO AL DO SISTE�1f\ RESPIRATÓRIO 609 - I I I CAPILARES i I I I I I I I I I I I I I I L _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ � L _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ J VIA A É REA CENTRAL VIA A É REA PERIF É R ICA ALV É OLO Fig. 38.2 Representação esquemática da transição entre as vias aéreas centrais e as periféricas. Note que o epitélio que serve como o principal mecanismo de defesa das vias aéreas superiores se estreita, tomando-se uma membrana permeável em continuidade com uma rica rede vascular. Gradualmente a cartilagem e, finalmente, o músculo liso das vias aéreas desaparecem, tomando-se o alvéolo uma estrutura com excelente efici ência nas trocas gasosas. MB, membrana basal. esférica e apresenta muitos microvilos em sua superfície. Essa célula contém muitas organelas celulares com grânulos osmofí licos (corpúsculos lamelares), que armazenam e secretam surfac tante. O surfactante recobre a superfície alveolar reduzindo a tensão superficial. O pneumócito tipo II tem a capacidade de se regenerar e se transformar em pneumócito tipo I quando ele é lesado. Os macrófagos alveolares constituem uma pequena percentagem de células alveolares. Eles passam livremente da circulação para o espaço intersticial e, a seguir, passam pelos espaços entre as células epiteliais e se localizam na superfície alveolar. Os macrófagos têm função de fagocitar corpos estra nhos, partículas poluentes e bactérias. Partindo da traquéia, o calibre de cada subdivisão da árvore respiratória é menor do que o ramo que :!le deu origem. No entanto, a área total da seção tranSlI'" ,<.1 diminui da traquéia (2,5 cm2) até a quarta geração (brônquios subsegmentares, 2,0 cm 2), aumentando daí até a 23: geração (alvéolos). Por outro lado, o comprimento de cada subdivisão se torna menor, sendo inicial mente de 12 cm na traquéia e alcançando 2 mm nos bronquíolos respiratórios (Fig. 38 .3) . Tendo em vista que não há trocas gasosas importantes entre o sangue capilar pulmonar e o ar até ser atingida a zona respiratória (quatro últimas subdivisões), o volume acumulado da traquéia até a 1 9." geração corresponde a cerca de 1 50 mI. Tal volume, somado ao das vias aéreas superiores, representa o espaço morto anatômico, que será estudado posteriormente. A inervação do sistema respiratório é basicamente autônoma. Não existe inervação motora ou sensitiva para dor, quer nas vias aéreas, quer no parênquima pulmonar. O local onde existe inervação sensitiva dolorosa é a pleura. Quatro são os compo nentes do sistema nervoso autônomo: sistemas paras simpático, simpático, não-adrenérgico não-colinérgico (NANC) inibitório e NANC excitatório. A atividade basal paras simpática parece ser a responsável pelo tônus broncomotor, que é mais impor tante nas vias aéreas mais centrais, sendo praticamente inexis tente na periferia. As respostas simpáticas são mais difusas e generalizadas. Os nervos adrenérgicos inervam diretamente as glândulas mucosas, vasos sanguíneos e gânglios nervosos das vias aéreas. O sistema NANe foi assim denominado para designar um conjunto de fibras do sistema nervoso autônomo em que os neurotransmissores da junção neuroefetora não são a noradrenalina ou a acetilcolina. Trata-se de um conjunto hete rogêneo e numeroso de fibras nervosas, com um grande número de neurotransmissores já identificados e de função ainda não completamente estabelecida, e que está presente em todos os órgãos estudados até o momento. O sistema NANC inibitório é responsável pelo relaxamento dos músculos lisos das vias aéreas, sendo o neurotransmissor responsável por esse efeito o óxido FISIOLOGIA 10.COO '[ .2- « CIl lCOO cc l1J > CIl Z � � O 1 00 . « (.> l1J CIl l1J o 11í 1 0 CC 6 . « 4 2 L-...J 10 mm • • • • o o o o o o o o o • • • • • • • Fig. 38.3 Área de seção transversa da árvore respiratória. Embora o calibre de cada via aérea seja menor do que o ramo que lhe deu origem, a área total de seção transversa aumenta devido ao maior número de vias aéreas. nítrico, apesar de durante muito tempo creditarem essa função ao peptídeo vasoativo intestinal (VIP). O sistema NANe exci tatório tem como mediadores a neurocinina A, substância P e o peptídeo relacionado ao gene da calcitonina, que acarretam broncoconstrição. BIBLIOGRAFIA CHERNIACK NS & WIDDICOMBE JG (eds.). Handbook of Physio logy. The Respiratory System. Control of Breathing. Bethesda. American Physiological Society, 1986. COMROE Jr JR. Fisiologia da Respiração. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2 ." ed., 1 977. FISHMAN AP & FISHER AB (eds .) . Handbook of Physiology. The Respiratory System. Circulation and Nonrespiratory Functions. Bethesda. American Physiological Society, 1985. GRIPPI MA. Pulmonary Pathophysiology. Philadelphia. J .B. Lippin cott Company, 1 995. LEFF AR & SCHUMACKER PT (eds.). Respiratory Physiology. Basics and Applications. W.B. Saunders Company, l ." ed., 1993. LEVITZKY MG (ed.). Pulmonary Physiology. McGraw-Hill, Inc., 6." ed ., 2003 . LUMB AB. NUNN'S Applied Respiratory Physiology. Elsevier, 6th ed., 2005. HLASTALA MP & BERGER AJ. Physiology of Respiration. Oxford University Press, 1 " ed., 1 996. PATTON HD, FUCHS A, HILLE B, SCHER AM, STEINER R (eds.). Textbook of Physiology. Philadelphia. W.B . Saunders Company, 2 1 st ed., 1989. RUCH TC & PATTON HD (eds.). Physiology and Biophysics. Circu lation, Respiration and Fluid Balance. Philadelphia. W.B. Saunders Company, 20th ed., 1974. WEST JB . Respiratory Physiology. The Essentials. Baltimore. Williams and Wilkins, 7th ed., 2005 . CAPÍTULO 3 9 MOVIMENTOS RESPIRATÓRIOS Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Faffe INTRODUÇÃO A renovação constante do gás alveolar é assegurada pelos movimentos do tórax . Durante a inspiração a cavidade torácica aumenta de volume e os pulmões se expandem para preencher o espaço deixado. Com o aumento da capacidade pulmonar e queda da pressão no interior do sistema, o ar ambiente é sugado para dentro dos pulmões. A inspiração é seguida imediatamente pela expiração, que provoca diminuição do volume pulmonar e expulsão de gás. A expiração normalmente �em uma duração cor respondente a 1 ,3 a 1 ,4 vez a da inspiração. A expiração segue-se, normalmente sem pausa, a inspiração. Esta se faz pela contração da musculatura inspiratória, enquanto a expiração em condições de repouso é passiva, isto é, não há contração da musculatura expiratória. No entanto, ao longo da expiração ocorre uma desa tivação paulatina da musculatura inspiratória, que contribui para que a expulsão do gás dos pulmões seja suave. A contração dos músculos respiratórios depende de impulsos nervosos origina dos dos centros respiratórios (localizados no tronco cerebral), às vezes diretamente de áreas corticais superiores e também da medula (em resposta a estímulos reflexos originados nos fusos musculares). O automatismo do centro respiratório mantém o rit mo normal da respiração, que pode ser modificado por estímulos de outros locais do sistema nervoso, bem como por alterações químicas no sangue e/ou no líquido cefalorraquidiano. Portanto, os movimentos respiratórios estão, até certo ponto, sob o controle volitivo, embora normalmente se processem de forma automática, sem a participação consciente do indivíduo.Durante um certo tempo, a respiração pode ser intencionalmente acelerada, lenti ficada ou mesmo interrompida. Essas modificações, entretanto, não se manterão por um longo tempo, posto que induzirão um distúrbio da homeostase, e o centro respiratório comandará res postas compensatórias, que suplantarão os estímulos corticais. MÚSCULOS RESPIRATÓRIOS Os músculos respiratórios são músculos esqueléticos estriados que, quando comparados com os músculos esqueléticos da peri feria, apresentam as seguintes características: maior resistência à fadiga, fluxo sanguíneo elevado, maior capacidade oxidativa e densidade capilar. Inspiração DIAFRAGMA O mais importante músculo da inspiração é \} diafragma. J?i vide-se em hemidiafragma direito e esquerdo. E um septo mus culo-fibrinoso, em forma de cúpula voltada cranialmente, que separa a cavidade torácica da abdominal. A cúpula diafragmática corresponde ao tendão central e a porção cilíndrica corresponde ao músculo inserido na borda interna da costela, também chama do de zona de aposição do diafragma (Fig. 39. 1 ) . Na realidade, o diafragma é constituído por dois músculos: o costal e o crural, inseridos em um tendão central não-cont:rátil. O diafragma crural se origina na vértebra lombar e ligamentos arqueados, enquanto o diafragma costal tem origem nas margens superiores das seis últimas costelas e apêndice xifóide. Muitos autores acreditam, com base em sua inervação segmentar diferenciada, origem ana- ABDÔMEN ZONA DE APOSiÇÃO Fig. 39.1 Representação da anatomia funcional do diafragma. Seção frontal da parede torácica na capacidade residual funcional. Note a orientação das fibras costais diafragmáticas e sua inserção nas costelas (zona de aposição). 6 1 2 FISIOLOGlA tômica e desenvolvimento embriológico, que as porções costal e crural diafragmáticas, na realidade, são dois músculos separa dos. O diafragma é inervado pelos nervos frênicos direito e es querdo, originados nos segmentos cervicais 3, 4 e 5 (Fig. 39.2). O suprimento sanguíneo é feito pelas artérias mamária interna, intercostal, frênica inferior e superior, que produzem uma rede de anastomoses diminuindo o risco de infarto em presença de redu ção de fluxo sanguíneo. Durante a respiração basal a inspiração depende, principalmente, da contração do diafragma. Estudos iniciais relatavam que a contração diafragmática não acanetava mudança em sua forma, entretanto, atualmente, acredita-se que o diafragma se torna esférico durante sua contração. Quando o diafragma se contrai, o conteúdo abdominal é forçado para baixo e para a frente, aumentando, por conseguinte, o diâmetro céfalo-caudal do tórax. Além disso, as margens das costelas são levantadas para cima e para fora, ocasionando o incremento do diâmetro ântero-posterior e látero-Iateral torácico (Fig. 39.3) . A força contrátil produzida pelo diafragma é representada pela pressão diafragmática (Pdi), que é a diferença entre a pressão abdominal (Pab) e pleural (Ppl). Na respiração de repouso, o nível do diafragma se move cerca de 1 cm. Entretanto, na inspi ração e expiração forçadas, a excursão total pode ser maior que 1 0 cm. Quando o diafragma é paralisado, ele se move para cima, ao invés de descender, durante a inspiração. Tal fenômeno é de nominado movimento paradoxal e decone da queda da pressão intratorácica. Ademais, o diafragma apresenta importante reserva funcional, sendo que a frenicotomia unilateral acaneta pequena redução da capacidade ventilatória. Entretanto, a frenicotornia bilateral compromete significativamente a ventilação. MÚSCULOS INTERCOSTAIS OS músculos intercostais subdividem-se, na sua porção inter condral ou paraesternal (será detalhado a seguir), em intercostal CÉREBRO -------\- PONTE -------\_ BULBO -------+_ externo e intercostal interósseo interno. Os músculos intercos tais são inervados pelos nervos intercostais que emergem do primeiro ao décimo-primeiro segmentos torácicos da medula espinhal (Fig. 39.2). A ação mecânica desses músculos, apesar de extensamente debatida, persiste controversa. Inicialmente, acreditava-se, com base na análise da orientação de suas fibras e de seus pontos de inserção, que o intercostal superficial externo era inspiratório, já que elevava a costela na qual ele estava inserido (inspiratório), enquanto o intercostal interno abaixaria a costela (expiratório). Estudos eletromiográficos em humanos confirmam a atividade fásica dos músculos externos durante a inspiração e dos internos durante a expiração. Músculos Paraesternais e Esterno Triangular Os músculos intercostais paraesternais (intercondral) são músculos primários da inspiração. Estudos eletromiográfi cos demonstraram que humanos normais sempre ativam seus músculos paraesternais durante a respiração basal (Fig. 39.4). Esses músculos se originam nas margens do esterno e se in serem na porção superior das costelas. A contração desses músculos auxilia no levantamento do gradil costal superior. Quando esses músculos estão paralisados, a inspiração ocor re principalmente através da expansão abdominal, já que o gradil costal se move paradoxalmente para dentro. Contra riamente ao que ocorre com o diafragma, o comprimento ótimo dos músculos paraesternais (e escalenos) ocorre mais próximo da capacidade pulmonar total do que da capaci dade residual funcional. Tal fato permite que os músculos inspiratórios, trabalhando de maneira coordenada, possam gerar pressão em presença de uma ampla margem de volumes pulmonares. GÂNGLIO JUGULAR C1 GÂNGLIO NODOSO 2-+-"'--+-- GÂNGLIO CERVICAL SUPERIOR 3 4 NERVO VAGO N ERVO FRÊNICO ----�-I- 5 6 7 8 N ERVOS INTERCOSTAIS ._--+-T1 2 __ --t- 3 __ --I- 4 __ ----1� 5 __ --t_ 6 ._----1� 7 ___ -_t_ 8 __ --I- 9 __ --t-1 0 ._--1-1' 1 2 CADEIA SIMPÁTICA Fig. 39.2 Inervação do diafragma e dos músculos intercostais. - - - - - INSPIRAÇÃO EXPIRAÇÃO Fig. 39.3 Movimentos respiratórios . A posição de repouso do sistema respiratório (final da expiração basal) é representada pelas linhas con tínuas, ao passo que as linhas tracejadas indicam a situação encontrada ao final de uma inspiração normal. (Modificada de Selkurt, E.E. Fisio logia. Editora Guanabara Koogan, 4: ed., 1 979.) Os músculos intercostais paraesternais são cobertos em sua superfície interna por um fino músculo chamado esterno triangu lar ou transverso torácico. Esse músculo não é usualmente con siderado entre os músculos intercostais, entretanto, suas fibras GRADIL COSTAL ABD Ô MEN EMG PARAESTERNAL EMG ESCALENO - ... - MOVI�lEi\'TOS RESPIRATÓRIOS 6 1 3 estão orientadas perpendicularmente àquelas dos intercostais paraesternais e paralela aos intercostais externos. Dessa forma, esses músculos são considerados expiratórios. Em resumo, os músculos intercostais externos e paraesternais são inspiratórios, enquanto os intercostais interósseos internos e o esterno triangular têm função expiratória. MÚSCULOS ESCALENOS OS músculos escalenos (anterior, médio e posterior) se ori ginam nos processos transversos das cinco vértebras cervicais inferiores e se inserem na porção superior da primeira e segunda costelas. Estudos eletromiográficos mostram claramente que es ses músculos são sempre ati vos na inspiração basal. A atividade dos músculos escalenos começa no início da inspiração, junta mente com o diafragma e a musculatura paraesternal, e atingem sua atividade máxima no final da inspiração. A contração do músculo escaleno eleva o esterno e as duas primeiras costelas, acarretando expansão para cima e para fora do gradil costal su perior (Fig. 39.4). MÚSCULOS ACESSÓRIOS Músculo Esternocleidomastóideo O músculo esternoc1eidomastóideo vai do processo mastói deo e do osso occipital em direção ao manúbrio do esterno e porção medial da clavícula. Ele é o principal músculo acessório da inspiração. É inervado principalmente pelo 1 1 .0 par craniano e por alguns nervos da coluna cervical superior,funcionando mesmo em lesões cervicais altas. Esse músculo é o primário da inspiração em tetraplégicos com lesão em C I -C2. Uma vez contraído, o esternoc1eidomastóideo eleva o esterno e expande o gradil costal superior. Em pessoas normais, esse músculo é ativo em condições de hiperventilação (exercício) e altos volu mes pulmonares (recrutado após a inspiração de três quartos da capacidade vital) . 2 5 I Fig. 39.4 Eletromiografia dos músculos intercostal paraesternal e escaleno em indivíduos normais sentados. I con-esponde à fase inspiratória. Note a desativação lenta e gradual dos músculos inspiratórios durante a expiração. 6 1 4 FISIOLOGIA Outros Músculos Acessórios Quando a demanda ventilatória exceder a capacidade dos músculos respiratórios primários da inspiração, ou quando hou ver disfunção de algum deles, músculos que usualmente são utilizados para manter a postura assumem o papel de múscu los acessórios. A maioria desses músculos é oriunda do gradil costal e tem uma inserção extratorácica. Dentre esses músculos podemos citar: o trapézio, o grande dorsal, o peitoral maior e o elevador da espinha. Estudos em tetraplégicos com lesão al ta demonstraram a participação de vários músculos do pescoço (platisma, mio-hióide, esterno-hióide) na inspiração, elevando o esterno e expandindo a porção superior do gradil costal. Os músculos abdominais podem funcionar como músculos acessó rios da inspiração durante hiperventilação, exercício e na para lisia diafragmática. MÚSCULOS DAS VIAS AÉREAS SUPERIORES A ventilação efetiva depende da atividade coordenada entre os músculos primários da inspiração e os músculos das vias aé reas superiores. A ativação elétrica dos músculos adutores da laringe (cricoaritenóide posterior) ocone imediatamente antes da ativação do diafragma e persiste durante toda a inspiração. A ativação desses músculos mantém a estabilidade das vias aé reas superiores, reduz a resistência das vias aéreas e diminui o trabalho respiratório . A insuficiência desses músculos acane ta colapso das vias aéreas superiores durante a inspiração. O estreitamento das vias aéreas em combinação com a fraqueza de músculos inspiratórios levam a hipoventilação e hipoxemia, principalmente durante o sono REM. Expiração Durante a respiração basal, a expiração é comumente passi va. A contração ativa dos músculos inspiratórios leva à disten são dos tecidos elásticos dos pulmões e da parede torácica, com conseqüente armazenamento de energia potencial nesses tecidos. A retração dos tecidos distendidos e a liberação de energia ar mazenada promovem a expiração. Esse processo é lentificado e suavizado pela desativação lenta e gradual dos músculos inspi ratórios previamente contraídos (Fig. 39.4). Os músculos expi ratórios contraem-se ativamente durante exercício, altos níveis de ventilação, na obstrução moderada a grave das vias aéreas e na fadiga. MÚSCULOS ABDOMINAIS OS músculos reto abdominal, oblíquos externo e interno e o transverso abdominal são os músculos expiratórios mais im portantes. Esses músculos são inervados pelos segmentos infe riores da medula torácica. A camada superficial, formada pelo músculos oblíquo externo e reto abdominal, origina-se no gradil costal lateral e anterior e se insere na pelve, enquanto a camada profunda, formada pelos músculos oblíquo interno e transver so abdominal, circunda o abdômen. A contração concomitante desses músculos acaneta movimentação do gradil costal para baixo e para dentro, flexão do tronco e compressão do conteú do abdominal para cima, deslocando o diafragma para dentro do tórax e reduzindo o volume pulmonar. Esses músculos tam bém se contraem fisiologicamente durante a tosse, o vômito e a defecação. MÚSCULO PEITORAL MAIOR E TRANSVERSO DO TÓRAX A parte clavicular do músculo peitoral maior se origina na porção medial da clavícula e no manúbrio do esterno e se di reciona lateral e caudalmente para o úmero. A contração desse músculo desloca o manúbrio e as costelas superiores para baixo, comprimindo o gradil costal superior e aumentando a pressão intratorácica. Simultaneamente, o gradil costal inferior e o ab dômen se movem para fora. O músculo transverso do tórax se localiza abaixo dos músculos paraesternais, origina-se na metade inferior do esterno e se insere nas cartilagens da 3 ." e 7." coste las. Durante a expiração, esse músculo puxa as costelas caudal mente, desinsuflando o gradil costal. O músculo transverso do tórax em repouso é inativo, sendo ativado durante expirações forçadas, fonação e tosse. BIBLIOGRAFIA CHERNIACK NS & WIDDICOMBE JG (eds.). Handbook of Physiolo gy. The Respiratory System. Control of Breathing. Bethesda. American Physiological Society, 1986. COMROE Jr JH. Fisiologia da Respiração. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2: ed., 1977. CRYSTAL RG, WEST JB, WEIBEL ER, BARNES PJ. The Lung. Seientifie Foundations. Philadelphia, New York. Lippincott-Raven Publishers, 1997. DE TROYER A & ESTENNE M . Coordination between rib cage muscles and diaphragm during quite breathing in humans. 1. Appl. Physiol., 57:899-906, 1984. 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CAPÍTULO 40 VOLUMES E CAPACIDADESPULMONARES Walter Araujo Zin • Patricia Rieken Macêdo Rocco • Debora Souza Falle ESPIROMETRIA Os movimentos fásicos de entrada e saída de gás dos pulmões constituem a ventilação. Esses movimentos cíclicos de inspiração expiração ocorrem, no repouso, com umafreqüência de 1 2 a 1 8 ciclos por minuto. Denomina-se volume corrente a quantidade de gás mobilizada a cada ciclo respiratório. O volume de gás ventilado por minuto é o volume minuto ou ventilação global por minuto. COlTes ponde ao produto do volume corrente pela freqüência respiratória. Diversos fatores modificam a ventilação, seja por alterações na freqüência, no volume corrente ou no ritmo. As emoções, a dor, o sono, o choro, a fonação, a tosse, as necessidades metabó licas, bem como várias entidades mórbidas, podem modificar o padrão ventilatório. Naturalmente, essas modificações recebem denominações especiais: EUPNÉIA. É a respiração normal, sem qualquer sensação subjetiva de desconforto. TAQUIPNÉIA. Aumento da freqüência respiratória. BRADIPNÉIA. Diminuição da freqüência respiratória. HIPERPNÉIA. Aumento do volume corrente. HIPOPNÉIA. Diminuição do volume corrente. HIPERVENTILAÇÃO. Aumento da ventilação global . Mais acertadamente, aumento da ventilação alveolar além das necessidades metabólicas. HIPOVENTILAÇÃO. Diminuição da ventilação global. Com maior precisão, diminuição da ventilação dos alvéolos aquém das necessidades metabólicas. APNÉIA. Parada dos movimentos respiratórios ao final de uma expiração basal. APNEUSE. Interrupção dos movimentos respiratórios ao final da inspiração. DISPNÉIA. Respiração laboriosa, sensação subjetiva de dificuldade respiratória. ESPIRÓGRAFO O volume corrente pode ser facilmente medido por meio de um aparelho chamado espirógrafo, esquematizado na Fig. 40. 1 . Este é mais comumente constituído por uma campânula cilín drica, contendo ar. A parede da campânula fica parcialmente submersa entre as duas paredes de um recipiente também cilín drico, entre as quais existe água. Assim, o gás no interior do espirógrafo fica, portanto, isolado do ar ambiente. CAMPÂNULA_ \ C-PACIENTE QUIMÓGRAFO Fig. 40.1 Esquema didático de um espirógrafo simples. O indivíduo estudado é conectado ao espirógrafo através de uma peça bucal e tem seus orifícios nasais ocluídos por uma pinça apropriada. Sua inspiração remove gás do sistema, resultando em um abaixamento da campânula, que está submersa em água para isolamento do ar ambiente. Como resultado deste movimento, a pena inscritora se move para cima no quimógrafo. Durante a expiração o gás exalado é conduzido através de um recipiente contendo cal sodada (que absorve o gás carbônico produzido pelo organismo) e eleva a campânula, movendo para baixo a pena. Uma vez que o oxigênio vai sendo removido do sistema pelo indivíduo, faz-se necessária sua repo sição, que é medida pelo fluxômetro. A ventoinha auxilia o direcio namento do gás no circuito espirográfico, além de contribuir para a homogenização da mistura gasosa. (Modificada de Paes de Carvalho, A. e Fonseca-Costa, A. Circulação e Respiração. Editora Cultura Médica 3 ." ed. , 1 979.) o indivíduo a ser estudado é ligado ao aparelho por meio de uma peça bucal e uma válvula, em conexão com dois tubos flexí veis : um traz o ar do interior do espirógrafo para o paciente e o outro retorna o gás expirado em sentido contrário. O gás expirado passa por um recipiente contendo cal sodada, que dele retira o gás carbônico. No circuito há geralmente uma ventoinha, que ajuda a manter o sentido do fluxo no interior do aparelho. Tendo em vista que parte do oxigênio inspirado é consumida a cada inspiração, a mistura gasosa no interior do espirógrafo ficaria cada vez mais pobre em O2, A fim de evitar tal inconveniente, adiciona-se esse gás ao circuito, à medida que for sendo consumido. VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES Os volumes pulmonares são convencionalmente divididos em quatro volumes primários e quatro capacidades. A Fig. 40.2 ilustra esses volumes e capacidades. Note que os volumes primá rios não se sobrepõem, ao passo que as capacidades são formadas por dois ou mais volumes primários. Esses volumes e capacidades recebem denominações próprias : VOLUME CORRENTE. É a quantidade de ar inspirada ou expirada espontaneamente em cada ciclo respiratório. No repouso o volume corrente humano oscila entre 350 e 500 mI . VOLUME DE RESERVA INSPIRATÓRIO. É o volume máximo que pode ser inspirado voluntariamente a partir do final de uma inspiração espontânea. VOLUME DE RESERVA EXPIRA TÓRIO. É o volume máximo que pode ser expirado voluntariamente a partir do final de uma expiração espontânea. VOLUME RESIDUAL. É o volume de gás que permanece no interior dos pulmões após a expiração máxima. Assim, este volume não pode ser medido pelo espirógrafo simples descrito anteriormente. REPOUSO LU � 0 0:: « '0 LU º � o U o:: o:: � ;;! ;{ iL « « C/) z U r U � o 8: > ::;; -' « ;:} ...J U 0. « LU r VOLUME DE 0 0 « r RESE RVA o Ü � ....J .....J EXPI RATÓRIO ct « « « * « º l:l 6 U U - ü t « C/) z o. LU :::> (5 0:: u.. VOLUME RESIDUAL O f VOL W;S E CAPACIDADES PULMONARES 6 1 7 CAPACIDADE VITAL. É a quantidade de gás mobilizada entre uma inspiração e uma expiração máximas. Veja, na Fig. 40.2, que a capacidade vital é a soma de três volumes primários: corrente, de reserva inspiratório e de reserva expiratório. CAPACIDADE INSPIRATÓRIA. É o volume máximo inspirado a partir do final de uma expiração espontânea. Corres ponde à soma dos volumes corrente e de reserva inspiratório. CAPA CIDADE RESIDUAL FUNCIONAL. É a quantidade de gás contida nos pulmões no final de uma expiração espon tânea. Corresponde à soma dos volumes de reserva expira tório e residual. CAPACIDADE PULMONAR TOTAL. É a quantidade de gás contida nos pulmões ao final de uma inspiração máxima e equivale à adição dos quatro volumes primários. Fisiologicamente, os volumes e capacidades pulmonares variam em função de vários fatores, tais como: sexo, idade, superfície corporal, atividade física, postura. Visto que tais volumes podem ser alterados por diversas doenças, faz-se neces sário conhecer se estão normais em um determinado indivíduo. Para tanto, são comparados a valores padrões médios obtidos em vários indivíduos do mesmo sexo, idade e altura, medidos em repouso. A Fig. 40.3 apresenta um traçado real, obtido em um indivíduo normal. Observe que podem ser medidos: o volume corrente, a freqüência respiratória, os volumes de reserva inspiratório e expi ratório e calculados: a capacidade inspiratória, a capacidade vital e o volume minuto. Como os gases estão contidos no pulmão a 37°C e são inspirados e expirados para e do espirógrafo, que se encontra à temperatura ambiente, faz-se necessária uma correção. Se o ambiente estiver mais frio do que o organismo, os gases se contrairão dentro do espirógrafo e o volume será subestimado. Por outro lado, se o meio ambiente se encontrar mais quente do que o organismo, os gases exalados para o espirógrafo se expan dirão e, conseqüentemente, resultará uma superestimação do volume. Assim, em Fisiologia Respiratória volumes pulmonares e fluxos aéreos são padronizados em relação à pressão baromé- EXERCíCIO i VOLUME DE RESERVA INSPIRATÓRIO . � - --m-I .... - VOLUME CORRENTE (QUALQUER NíVEL DE ATIVIDADE) -LV- VOLUME DE RESERVA EXPIRATÓRIO i i I i t VOLUME RESIDUAL l O Fig. 40.2 Traçado espirográfico esquematizado, mostrando os volumes e capacidades pulmonares. O espirógrafo simples não é capaz de medir o volume residual e, conseqüentemente, as capacidades residual funcional e pulmonar total. 6 1 8 FISIOLOGIA /1 min CV I s litros f = 1 81min � wm MAmJ WmJ lAAMM WJJN l�JJ.M�1 I�HAu WAM� 'V�"�I/' �C = I�SO mi . . I I I V = 450 )( 18 = 8, 1 litros/mm � VRE - :2,4 litros � â t \ \ I I ... - \ Fig. 40.3 Traçado espirográfico obtido em um indivíduo normal. O teste se iniciapor uma série de ciclos respiratórios basais seguidos por uma expiração máxima e uma inspiração máxima, que se repetiram quatro vezes. Note que podem ser medidos: o volume corrente (450 mi), a freqüência respiratória ( 1 8 incursões respiratórias por minuto), os volumes de reserva inspiratório e expiratório (2,4 litros) e calculados: a capa cidade inspiratória (2,9 litros), a capacidade vital (5 litros) e o volume minuto (8 , 1 litros por minuto). (Traçado gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Ayres da Fonseca-Costa.) trica ao nível do mar, temperatura corporal e saturação completa por vapor d' água (em inglês: body temperature and pressure, saturated = BTPS). Por fim, ressalte-se que os dados obtidos de um determinado indivíduo são comparados a padrões encon trados na literatura científica, obtidos da análise de milhares de curvas de sujeitos nonnais. MEDIDA DO CONSUMO DE OXIGÊNIO O espirógrafo simples também permite a medida do consumo de oxigênio (V02). A Fig. 40.4 mostra, no traçado inferior, um registro de inspirações e expirações em repouso. Neste caso, o cilindro de oxigênio mostrado na Fig. 40. 1 repõe no espirógrafo uma quantidade desse gás igual àquela consumida pelo paciente. Para tanto, ajusta-se a válvula do cilindro até que o traçado fique horizontal. Já no traçado superior da Fig. 40.4, observa-se que, a partir do tempo O, quando a válvula do cilindro é fechada e não se admite O2 para o circuito, o traçado desloca-se para cima, pois a cada ciclo respiratório uma dada quantidade de O2 fica retida no pulmão do indivíduo para ser transportada até as células, que utilizarão o gás na respiração celular. Não se pode esquecer que o CO2 eliminado fica retido na cal sodada. Assim, ao fim de 2 minutos o traçado se deslocou 620 mI para cima; então, podemos calcular o V02 = 620 ml/2 min = 3 1 0 mI/mino Esse valor já foi corrigido, considerando que o consumo de oxigênio e a produção de CO2 são padronizados para temperatura padrão (O°C), pressão barométrica ao nível do mar (760 mmHg ou 1 0 1 ,3 kPa) e gás seco (em inglês: standard temperature and pressure, dry = STPD). Uma vez que o volume residual não pode ser medido pelo espirógrafo simples, as capacidades residual funcional e pulmonar total, que englobam aquele volume, também não o serão. Todavia, há métodos para detenniná-lo, como será abordado adiante. DETERMINAÇÃO DO VOLUME RESIDUAL o volume residual e, conseqüentemente, as capacidades resi dual funcional e pulmonar total não podem ser medidos direta mente no registro espirográfico convencional. No entanto, há duas técnicas diferentes para medi-los. A primeira se baseia na diluição de gases. O gás mais corri queiramente empregado é o hélio, visto que é inerte, pouco solúvel no sangue, o organismo não o produz e é de concen tração desprezível no ar ambiente. O princípio físico da medida é muito simples, como apresentado na Fig. 40.5 . Coloca-se em um espirógrafo de determinado volume V I uma concentração conhecida de hélio, C I ' A seguir, conecta-se o paciente ao circuito espirográfico ao final de uma expiração espontânea (ao nível da capacidade residual funcional) . Quando o paciente respira a mistura ar-hélio por alguns minutos, este gás se distribui unifor memente pelos pulmões e o espirógrafo, alcançando a concen tração de equilíbrio, C2. Novamente, a nível da capacidade resi dual funcional, o indivíduo é desconectado do circuito. Consi derando-se que não houve perda ou ganho de hélio, a quantidade total de moléculas desse gás pennanece a mesma, e tem-se: CI X VI = C2 X V2 , onde V2 corresponde ao volume dos pulmões na capacidade residual funcional somado ao volume do espirógrafo (VI) ' Assim, V2 - VI corresponde a essa capacidade pulmonar. Sendo o volume de reserva expiratório facilmente medido, e de posse do valor da capacidade residual funcional, obtém-se o volume residual por simples subtração. Conseqüentemente, pode ser calculada a capacidade pulmonar total. VOLUMES E CAPACIDADES PULMONARES 6 1 9 VC = 450 mi Fig. 40.4 Medida do consumo de oxigênio pelo espirógrafo simples. Enquanto no painel inferior complementa-se o volume gasoso do espirô metro com quantidade de O2 idêntica àquela retirada pelo metabolismo, no traçado superior esse fornecimento é interrompido a partir do tempo O. Observa-se, a partir de então, uma ascensão do traçado espirográfico progressiva e constante, representando a remoção do oxigênio da mistura pelas trocas gasosas. Ao final de 2 minutos 620 rnJ de O2 foram consumidos, resultando em um consumo de oxigênio ('�I02) correspondente a 3 1 0 mUmin. (Traçado gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Ayres da Fonseca-Costa.) É importante observar que este método não é capaz de iden tificar coleções gasosas no pulmão (bolha enfisematosa, por exemplo) que não estejam em contato com a via aérea, pois neste caso o hélio não se dilui nesses volumes. Resulta uma subesti mação do volume residual, da capacidade residual funcional e da capacidade pulmonar total. A outra técnica para determinar o volume residual emprega um aparelho chamado pletismógrafo de corpo inteiro. Esse método apresenta um grau de dificuldade muito maior em relação à (J ) ... I , I \ I \ , ' t t \, _ - -.J ANTES DO EQUILíBRIO C, X V, = C2 X V2 Fig. 40.5 Esquema da medida da capacidade residual funcional pelo método da diluição do hélio. diluição de gases e se baseia na compressão e descompressão do volume de gás no interior da caixa pletismográfica, onde o indi víduo examinado fica trancado, isolado do ar ambiente. A Fig. 40.6 apresenta, esquemática e simplificadamente, esse método. Inicial mente, coloca-se o indivíduo com uma pinça nasal sentado no inte rior da caixa. A porta é fechada e solicita-se ao paciente que respire normalmente o gás do intelior do pletismógrafo através de uma peça bucal (Fig. 40.6 A). Ao final de uma expiração espontânea basal, as vias aéreas são ocluídas por uma válvula e o paciente é instruído a realizar esforços inspiratórios (Fig. 40.6 B) . Por conseguinte, o gás contido em seus pulmões sofre descompressão, aumentando o volume pulmonar e elevando a pressão no interior do pletismógrafo, visto que o volume gasoso em seu interior é comprimido pela expansão da parede torácica. Segundo a lei de Boyle, o produto de pressão por volume é constante (se mantidas inalteradas as outras variáveis das leis dos gases) e, portanto, se forem conhecidos a variação de pressão (LlPc) e o volume da caixa pletismográfica (Vc), a vmiação de volume pulmonar durante a manobra, Ll V, pode ser calculada [V c X P 2 = (V C - Ll V)( PI + LlPc)]. A seguir, aplica-se a lei de Boyle ao volume gasoso no inte rior do pulmão. Neste caso, PI X V = P2 (V + Ll V), onde PI e P2 representam, respectivamente, as pressões nas vias aéreas antes e após a manobra e V é a capacidade residual funcional. Conhe cendo-se o volume de reserva expiratório, o volume residual pode ser computado por simples subtração. Por meio da pletismografia todos os volumes gasosos no inte rior do pulmão podem ser medidos, inclusive aqueles sem contato com as vias aéreas, pois sofrem compressão e descompressão, fenômenos sobre os quais se baseia a medida. FISIOLOGIA A B �Pc P1 lSP P2 nJ + + Vc + Vc - �V Fig. 40.6 Esquema da medida da capacidade residual funcional pelo método da pletismografia de corpo inteiro. A, Respiração normal. B, Esforço inspiratório contra vias aéreas ocluídas. O retângulo representa uma caixa absolutamente rígida isolada hermeticamente do ar ambiente. O indi víduo analisado respira ar do interior do pletismógrafo. Os dois círculos com setas representam transdutores de pressão (utilizados para medida de pressão), PI e P2 sendo as pressões nas vias aéreas e .ó.Pc a variação de pressão no interior do pletismógrafo. Vc é o volume do pletismógrafo, V o volume pulmonar a ser medido e .ó. V a variação de volume observada durante esforço inspiratório contra vias aéreas ocluídas.(Modificada de Comroe Jr. , J.H. Fisiologia da Respiração. Editora Guanabara Koogan, 2." ed., J 977.) MANOBRAS EXPIRATÓRIAS FORÇADAS Solicita-se ao indivíduo que, após inspirar até a capacidade pulmonar total (CPT), expire tão rápida e intensamente quanto possível em um espirógrafo, sendo o volume expirado lido em um traçado volume-tempo. Com base nesse traçado é possível computar a capacidade vital forçada (CVF) e o volume expira tório forçado no primeiro segundo (VEFl.o)' Esquematicamente, na Fig. 40.7 A observamos um traçado de um indivíduo normal. O volume expirado no primeiro segundo é de 4,0 litros, enquanto o volume total expirado [capacidade vital forçada (CVF)] é de 5 ,0 litros. A partir desses dois parâmetros podemos computar a razão VEFI . (y'CVF, cujo limite inferior normal é de aproxima damente 8.0%. A Fig. 40.7 B representa um padrão obstrutivo, onde o ar é exalado com maior lentidão, acarretando um VEF),o e a razão VEF) c!CVF reduzidos. Esta, quando inferior a 80%, indica fortemente um padrão obstrutivo. Nota-se que a obstrução das vias aéreas acarreta um achatamento na curva volume-tempo. Na Fig. 40.7 C observa-se um padrão restritivo. Nessa situação a CVF e o VEFl.o encontram-se reduzidos em valores absolutos, quando comparados com os padrões de normalidade, mas a razão VEF) .c!CVF supera os 80%. A configuração do traçado não difere muito do normal. A NORMAL B OBSTRUTIVA C RESTRITIVA (f) O a: I :J VEF1•0 CVF % 4,0 5,0 80 VEF1,o CVF % 1 ,3 3,1 42 VEF1 0 CVF % 2,8 3,1 90 Fig. 40.7 Padrões normal (A), obstrutivo (B) e restritivo (C) de uma expiração forçada. Mensuração do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEFI .o), capacidade vital forçada (CVF) e relação VEFl.clCVF. 1\ \ ---�--- -;----- ------ I VEf;õ=-3-;8-litro \ \\\ N. \ , \ , t---. \ � I'--"+ � 1 s .� r---a ------- ------ -- - - I VOLU�IES �; CAPACIDADES PUL�IONARES 62 1 ----1-- -- CVF 4, litros I I i Fig. 40.8 Três traçados do teste da capacidade vital forçada (CVF) em um indivíduo normal. Inicialmente o indivíduo inspira até atingir a capaci dade pulmonar total, mantém esse volume por um certo tempo e expira com força máxima. A CVF corresponde à distância vertical entre o final da inspiração máxima e o ponto mais baixo da curva. No primeiro segundo após o início da expiração mede-se o volume de gás expirado, que corres ponde ao volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1•O) ' (Traçado gentilmente cedido pelo Prof. Dr. Ayres da Fonseca-Costa.) A Fig. 40.8 apresenta três curvas de capacidade vital forçada geradas por um indivíduo normal. O indivíduo inspira até atingir a capacidade pulmonar total, mantém esse volume por um certo tempo (note os platôs subseqüentes ao ténnino das inspirações) e é instigado a soprar o mais forte e rápido que puder até serem atin gidos 6 segundos de expiração. O volume total da expiração é a capacidade vital forçada (CVF). Determinando-se no traçado um segundo após o início bem marcado da expiração e nele medindo-se o volume de gás expirado, obtém-se o volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF10)' Note que as três curvas apresentadas praticamente se sobrepõem, apontando para a normalidade. Outro parâmetro passível de ser computado com a manobra de expiração forçada é o fluxo expiratório forçado entre 25 e 75% da CVF (FEF25.75%). A Fig. 40.9 mostra o cálculo do FEF25•75%. Esse parâmetro é utilizado quando restam dúvidas diagnósticas após o cálculo da razão VEFujCVF. Se registrarmos o fluxo aéreo e o volume durante uma manobra de expiração forçada, é possível contruirmos as curvas fluxo volume. Para tal solicita-se ao indivíduo que ele inspire até a capacidade pulmonar total e então expire tão rapidamente quanto possível até o volume residual. Para completar a alça o indivíduo deverá inspirar tão rapidamente quanto possível do volume resi- A NORMAL B OBSTRUTIVO C RESTRITIVO (/) O tI: I ::::i FEF25•7S% = ª b = 3,5 Us a i a i �I -------- \1- 2 L __ --- --b b 3 4 FEF25.75%= 3,7 Us Fig. 40.9 Cálculo do fluxo expiratório forçado entre 25 e 75% da capacidade vital forçada em traçados esquemáticos de pacientes normal (A), obstrutivo (B) e restritivo (C) a partir de uma manobra de expira�ão for�ada. 622 FISIOLOGIA 8 8 6 6 FLUXO , (Us) 4 4 I OBSTRUTIVO , 2 2 , 6 4 2 O 8 6 4 2 O VOLUME (L) VOLUME (L) Fig. 40.10 Curvas fluxo-volume em pacientes normal, obstrutivo e restritivo. dual até a capacidade pulmonar total . O volume é registrado na abscissa e o fluxo na ordenada. A Fig. 40. 1 0 mostra os padrões das curvas fluxo-volume em indivíduos normais, pneumopatas obstrutivos e restritivos. Nota-se que nas pneumopatias obstru tivas a expiração máxima começa e termina em volumes pulmo nares anormalmente elevados, sendo os fluxos muito menores do que o normal. Contrariamente, em pacientes com pneumo patias restritivas o volume mobilizado é menor. O fluxo aéreo está normal em relação ao volume pulmonar, já que o calibre das vias aéreas encontra-se normal. BIBLIOGRAFIA COMROE Jr JH. Fisiologia da Respiração. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2." ed. , 1977. CRYSTAL RG, WEST JB, WEIBEL ER, BARNES PJ. The Lung. Scientific Foundations. PhyJadelphia, New York. Lippincott-Raven PubJishers, 1997. FORSTER II RE, DUBOIS AB, BRlSCOE WA, FISHERAB. The Lung. Chicago. Year Book Medical Publishers, 3rd ed., 1986. GRIPPI MA. Pulmonary Pathophysiology. Philade1phia. J .B. Lippin cott Company, 1995. 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Um indivíduo sadio em repouso respira sem realizar um esforço consciente, mas se os músculos forem levados a aumentar o trabalho, ele imedia tamente toma conhecimento de sua respiração. A pressão motriz do sistema respiratório, que em condições normais é aquela gera da pela contração muscular durante a inspiração, precisa vencer forças elásticas e resistivas para conseguir encher os pulmões. Em condições basais a inércia do sistema é desprezível. O sistema respiratório é formado por dois componentes: opulmão e a parede torácica. Como parede torácica subentendem se todas as estruturas que se movem durante o ciclo respiratório, à exceção do pulmão. Como já foi visto, a parede abdominal se move para fora durante a inspiração, retornando ao seu ponto de repouso ao longo da expiração. Portanto, o abdômen faz parte da parede torácica. A decomposição do sistema respiratório em seus componentes pulmonar e de parede é importante, v isto que não só têm propriedades mecânicas diferentes, mas também há doenças com capacidade de comprometer um ou outro, resul tando em disfunção do sistema respiratório. Os pulmões são separados da parede torácica pelo espaço pleural. De fato, cada pulmão tem acolada a si a pleura visceral, que ao nível dos hilos pulmonares se reflete, recobrindo o me dias tino, o diafragma e a face interna da caixa torácica (pleura parietal). Dentro dessa cavidade virtual há alguns mililitros de líquido, de modo a permitir que uma pleura deslize sobre a outra durante os movimentos respiratórios. PROPRIEDADES ELÁSTICAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO A elasticidade é uma propriedade da matéria que permite ao corpo retornar à sua forma original após ter sido deforma do por uma força sobre ele aplicada. Um corpo perfeitamente elástico, como uma mola, obedecerá à lei de Hooke, isto é, a variação de comprimento (ou volume) é diretamente propor- cional à força (ou pressão) aplicada até que seu limite elástico seja atingido. Os tecidos dos pulmões e do tórax são constituídos por fibras elásticas, cartilagens, células, glândulas, nervos, vasos sanguí neos e linfáticos que apresentam propriedades elásticas e obede cem à lei de Hooke, de modo que quanto mais intensa a pressão gerada pelos músculos inspiratórios, maior o volume inspira do. Como as molas, os tecidos devem ser distendidos por meio de uma força externa (esforço muscular) durante a inspiração. Quando essa força cessa, os tecidos retraem-se para sua posição original. Quanto maior a pressão aplicada, maior a variação de volume durante a inspiração. Essa relação entre volume e pres são depende apenas de medidas em condições estáticas, isto é, quando não há fluxo de ar na árvore traqueobrônquica, e não da velocidade com que o volume é alcançado. Na Fig. 4 1 . 1 pode ser vista a relação entre volume pulmonar e pressão elástica do sistema respiratório. A inclinação da curva volume-pressão ou a relação entre a variação do volume gasoso mobilizado (Ll V) e a pressão motriz necessária para mantê-lo insuflado é conhecida por complacência do sistema respiratório (Crs). A pressão motriz é representada pela diferença entre as pressões na abertura das vias aéreas e no ar ambiente. Logo, Crs = Ll VlPel,rs, onde Pel,rs corresponde à pressão elástica do sistema respiratório. Quanto maior a Crs, mais distensível será o tecido; quanto menor, mais rígido ele será. Nota-se que a complacência do sistema respira tório é constante na faixa de volumes pulmonares compreendi dos entre 25 e 75% da capacidade vital. Abaixo e acima dessa faixa, a complacência tende a cair progressivamente, indicando que o sistema respiratório deixa de se comportar como um cor po quase perfeitamente elástico. Deve ser observado também na Fig. 4 1 . 1 (linha C) que ao nível da capacidade residual funcio nal o sistema entra em equilíbrio elástico e sua pressão elástica é igual a zero. Há várias formas de medir a complacência do sistema res piratório: 1 - As medidas da complacência estática (Cst) devem ser realiza das na ausência de fluxo, sendo de difícil execução, pois a mus- 624 FISIOLOGIA 1 00 1 00 80 O fi�/. _ _ _ �_ :::J - - - - - 80 � « o I- ,p (") :> Ot:f lo UJ UJ 60 " -c lo I � O ::J c:( si ! -.J g , u 9:-� Q." / O C; . � / � 60 Q o O u � / lo 0 < > c:( 40 C E / a. c:( - - - - T.,�'f' U � � ,,� o <?-<v'> 4'" 20 «?' / t:f :3' L � _ _ �_ �APACIDADE I - .. RESIDUAL I FUNCIONAL 40 m o -c ' c C r � � m O z ./ I » B .....::: :o � / VOLUME RESIDUAL 20 --l O - - - - - - - - - - - - - - O --l A VOLUME MíNIMO » - - - - - .!:: O - 20 - 1 0 O 1 0 20 30 P R ESSÃO E LÁSTICA (cmH2O) Fig. 41.1 Relações volume versus pressões elásticas do sistema respiratório, pulmão e parede torácica. Linha A: volume mínimo, i . é, volume de gás que permanece no pulmão quando isolado da parede torácica. Linha B: volume residual. Linha C: capacidade residual funcional. Neste volume o sistema respiratório está em seu ponto de equilíbrio elástico, ou seja, as forças elásticas do pulmão e da parede torácica são exatamente iguais, porém têm sentidos opostos. Linha D: a partir deste ponto a parede torácica também tende a se retrair. culatura dos pacientes deve estar relaxada (indivíduos sedados, paralisados ou altamente cooperativos), e devem ser realizadas uma ou mais pausas ao longo do ciclo respiratório. 2 - Na prática clínica, por motivos de maior facilidade de reali zação da medida, aferem-se as complacências dinâmicas (Cdyn). Neste caso o indivíduo respira espontaneamente e são registra dos o volume mobilizado e a pressão utilizada. Para o cálculo da complacência dinâmica, tomam-se pontos nos traçados de volu me e pressão nos quais o fluxo aéreo é nulo (finais da inspiração e expiração) para calcular tl. V e tl.P. A complacência dinâmica pode variar de um ciclo para outro, por vezes não representando a complacência real. Em indivíduos hígidos respirando espon taneamente não há diferença apreciável entre as complacências estática e dinâmica. 3 - Uma simples medida da complacência do sistema respiratório tem valor limitado, uma vez que depende do volume pulmonar total, isto é, pessoas com grandes volumes pulmonares terão maior complacência para um mesmo volume inspirado do que aquelas com pequenos volumes pulmonares, mesmo que ambos os pulmões sejam normais e tenham a mesma distensibilidade. Para contornar esse fenômeno, é determinada a complacência específica (Ceff), ou complacência dividida pelo volume pulmo nar em que se faz a medida, usualmente a CRF. A complacência específica é muito utilizada para comparar distensibilidades de ' pulmões de diferentes tamanhos, como crianças e adultos. Finalmente, cabe aqui ressaltar que, em vez de complacência, é freqüentemente utilizado o termo elastância. Esta corresponde ao inverso da complacência (Ers = lICrs), ou seja, é a relação entre a variação de pressão e o volume mobilizado resultante. o cálculo da elastância do sistema respiratório apresenta vanta gens para o uso clínico. As elastâncias do pulmão (EL) e pare de torácica (Ew) são adicionadas diretamente: Ers = EL + Ew, ao passo que se somam os inversos das complacências: l ICrs = l/CL + l /Cw. Propriedades Elásticas do Pulmão A força de retração elástica dos pulmões (Pel,L) tende a tra zê-los para seu volume mínimo, ou seja, os pulmões tendem sempre a se retrair e colabar (Fig. 4 1 . 1 ) . Caso os pulmões fos sem retirados do tórax, observar-se-ia que restaria em seu inte rior um volume de ar mínimo (Fig. 4 1 . 1 , linha A) . Existem dois fatores responsáveis pelo comportamento elástico do pulmão. Um deles é representado pelos componentes elásticos do tecido pulmonar (fibras elásticas e colágenas, por exemplo). Acredi ta-se que o comportamento elástico do pulmão não depende do simples alongamento das fibras elásticas, mas principalmente de seu arranjo geométrico. Todas as estruturas do pulmão (vasos, bronquíolos, alvéolos, etc.) encontram-se interligadas pela trama de tecido conjuntivo pulmonar, de sorte que, quando há insufla ção, todos esses componentes se distendem. Esse fenômeno é denominado "interdependência", que contribui para manter todos os alvéolos abertos, posto que caso alguns se fechassem, seus vizinhos puxariam suas paredes e tenderiam a reabri-los. Além das propriedades elásticas dos tecidos pulmonares, os pulmões ainda apresentam um importante fator que contribui para suas características elásticas: a tensão superficialdo líquido que re cobre a zona de trocas, denominado sU/factante. Há tensão superficial em uma interface ar-líquido porque as moléculas do líquido são atraídas com maior força para o interior do líquido do que para dentro da fase gasosa. O resultado final é equivalente a uma tensão na superfície, que tenta diminuir sua área. A Fig. 4 1 .2 demonstra o conceito de tensão superficial. A unidade da tensão superficial é força aplicada por unidade de comprimento. Para líquidos puros e soluções verdadeiras a grandeza dessa tensão de superfície é uma constante, que depende da natureza química do líquido e do gás envolvido, bem como da tempera tura. Considerando-se uma esfera oca, a pressão em seu interior (P) pode ser predeterminada pela lei de Laplace, onde a pres são relaciona-se com o raio (R) e com a tensão superficial (T) da seguinte forma: P = 4TIR, onde o número 4 representa du as interfaces ar-líquido (interna e externa) . Entretanto, quando somente uma superfície encontra-se envolvida, como em um alvéolo esférico revestido de líquido na sua face interna, o nu merador tem o número 2 em lugar de 4. Considerando-se dois alvéolos de diferentes tamanhos conectados através de uma via aérea comum, e com tensão superficial semelhante em ambos, pode-se depreender, com base na lei de Laplace, que a pressão nos alvéolos menores seria maior do que a dos alvéolos maiores (Fig. 4 1 .3) . Conseqüentemente, os alvéolos menores se esva ziariam nos maiores, acarretando alvéolos colapsados e outros hiperinsuflados. Contudo, tal fato não ocorre nos pulmões nor mais, pois a tensão superficial do surfactante alveolar é consi deravelmente menor do que a da solução salina que recobre as mucosas pulmonares. A tensão superficial do surfactante alveolar MECÂNICA RESPIRATÓRIA. ESPAÇO MORTO E VENTILAÇÃO ALVEOLAR 625 diminui acentuadamente com a aproximação entre as suas molécu las, o que acontece provavelmente durante a expiração, quando os alvéolos se tornam menores. Ademais, a tensão superficial cresce com o afastamento de suas moléculas, ou seja, é grande em alvéolos maiores. Observou-se que o surfactante pulmonar, agindo sinergicamente com os elementos elásticos dos tecidos, é suficiente para assegurar a estabilidade e prevenir o colapso dos pequenos alvéolos durante a expiração. Assim, concorre para que haja um equilíbrio estável entre alvéolos grandes e peque nos, podendo coexistir 300 milhões de alvéolos com a mesma pressão interior. Uma outra função do surfactante pulmonar, freqüentemente esquecida, é colaborar para evitar o edema intersticial. Se au mentasse muito a tensão superficial na parede dos alvéolos, eles tenderiam a se fechar, aumentando a tração sobre o interstício, onde se encontram os vasos. Este fato facilitaria a filtração pe la diminuição da pressão intersticial e conseqüente aumento do diâmetro dos vasos. Dessa forma, estaria aumentada a passagem de líquido do interior dos vasos para o interstício. O surfactante pulmonar é secretado por células epiteliais al veolares especializadas chamadas de pneumócitos granulares ou tipo II. Tais células se localizam nos alvéolos, armazenam surfactante em corpos lamelares osmofílicos e secretam seu con teúdo na luz alveolar através de um processo de exocitose, es timulada por mecanismos f3-adrenérgicos. Os fosfolipídeos são os principais componentes do surfactante, sendo os principais constituintes a dipalmitoilfosfatidi1colina (40%), a fosfatidi1co lina monoenóica (25%) e o fosfatidilglicerol ( 1 0%). A função Atração mútua em todas as direções Tensão superficial Ad ição de detergente: quebra a tensão superficial e interrompe a atração polar entre as moléculas de água * • Moléculas de detergentes Fig. 41.2 Efeito do detergente na tensão superficial. Círculos vazios, moléculas de água. Losangos, moléculas de detergentes. Em um recipiente como o tubo teste A, as forças intermoleculares que atuam sobre uma molécula de líquido (água) em A serão iguais em todas as direções; forças moleculares atraem para baixo, para a esquerda, para a direita e para cima. Entretanto, a molécula de água em B, situada na superfície do líquido em contato com o ar, não sofre atração de forças iguais em todas as direções. Será atraída por moléculas de água que se encontram justo abaixo dela e lateralmente, havendo, no entanto, relativamente poucas moléculas de gás acima dela, de modo a exercer força de atração. Por conseguin te, maior número de moléculas atraem-na para baixo do que para cima, e, como resultado desse desequilíbrio entre forças intermoleculares, a superfície diminui até atingir a menor área possível. A força resultante na superfície recebe o nome de tensão superficial. Em C adiciona-se um detergente, que apresenta uma terminação polar e outra não-polar. A terminação polar é atraída pelas moléculas de água, e a não-polar intelTom pe a atração polar de outras moléculas de água, reduzindo a tensão superficial. (Modificada de Leef, A.R. & Schumacker, PT. Respiratory Phy siology. Basics and Applications, 1993 .) 626 FISIOLOGIA Fig. 41.3 Representação esquemática de dois alvéolos de diferentes ta manhos com uma via aérea comum. Se a tensão superficial for a mesma em ambos, o alvéolo menor terá maior pressão interna e tenderá a se esvaziar no alvéolo maior. A tensão superficial (T) do alvéolo tende a reduzir sua área e gera uma pressão (P). biológica, bem como a atividade de superfície do surfactante, é atribuída aos fosfolipídeos, especialmente à fosfatidilcolina (Fig. 4 1 .4). O surfactante está em constante estado de renovação. Al gumas moléculas deixam a superfície da película, enquanto se COMPOSIÇÃO DO SURFACTANTE PULMONAR 50 r-----------------------------------� 40 t -' « � O 30 � O Cl � UJ (!) « 20 I-z UJ ü a: O c.. 1 0 acrescentam outras, recentemente sintetizadas. Isso significa que, uma vez formado, o surfactante deve ser levado ao sítio onde vai atuar, devendo ser a taxa de formação e transporte normalmente igual à de perda pela superfície. O papel do surfactante pode ser mais bem apreciado por meio de uma experiência simples. Inicialmente, retiram-se os pulmões de um animal de experimentação devidamente anestesiado. A seguir, volumes conhecidos de ar são injetados através da tra quéia e medem-se as respectivas pressões nas vias aéreas. Após ser atingida a insuflação máxima, passam a ser retirados volumes conhecidos, continuando-se a medir a pressão nas vias aéreas. Dessa maneira é construída a curva número 2 da Fig. 4 1 .5 . Obser ve que os ramos inspiratório e expiratório não são coincidentes, configurando a histerese pulmonar. A seguir os pulmões são preenchidos com solução salina fisiológica (NaCl a 0,9%) aque cida a 37°C e repetem-se as medidas descritas acima. Neste caso a histerese é praticamente desprezível. Ademais, uma pressão menor basta para insuflar totalmente os pulmões (Fig. 4 1 .5 , cur va 1 ) . Note que, quando os pulmões são insuflados com líquido, desaparece a tensão superficial, pois acaba a interface ar-líquido. Algumas conclusões podem ser tiradas desses resultados: (a) a complacência do pulmão sem tensão superficial é maior do que a daquele preenchido com ar; eb) a histerese pulmonar deve-se, em quase sua totalidade, à tensão superficial da interface ar-lí quido; (c) a pressão necessária para vencer a tensão dos tecidos em qualquer volume pulmonar corresponde à distância entre a ordenada e a curva I ; e (d) em qualquer volume pulmonar há um gasto energético adicional para vencer a tensão superficial (distância entre as curvas 1 e 2). A fim de ressaltar o papel do surfactante pulmonar, a curva 3 da Fig. 4 1 .5 representa uma con- 200 1 50 I w � 100 ::J -.J O > 50 4 3 GÁS (TS AUMENTADA) 8 1 2 1 6 PRESSÃO (cmHp) 20 24 Fig. 41.5 Relação volume versus pressão elástica do pulm- . I d As cu f b 'd ao ISO a o. . . rvas oram o tI as : partir do volume mínimo até a insuflaçãomaXIma. Quando os pulmoes com tensão superficial (TS) normal são msuflados com ar e a seguir desinsuflados, resulta a curva 2. Já quando a TS encontra- . se elevada, para a mesma pressão de insuflação o volume �lcançado e. mUlto menor (curva 3). Por outro lado, quando não há tensao �uperficlal pelo enchimento do pulmão com líquido (curva 1 ) a pressao necessána para insuflar o pulmão toma-se menor e pratica� mente desaparece a hIsterese. dição na qual o pulmão é preenchido com ar, porém não contém surfactante. Pelo que foi antes discutido, pode ser observado que o volume pulmonar máximo é, nesse caso, bem menor do que o obtido em situação normal, posto que um enorme número de alvéolos se encontra colabado. Estudando o ramo inspiratório da curva volume-pressão, no ta-se que, após a pressão de abertura ser alcançada, o pulmão insufla-se rapidamente, mas não de forma homogênea. Essa ex pansão inomogênea é caracterizada por áreas pulmonares que estão pouco insufladas, especialmente nas bases (em um indi víduo em posição ereta), ao passo que os ápices encontram-se mais cheios. Finalmente, a expansão máxima é alcançada e to dos os alvéolos insuflados. As diferentes pressões de abertura decorrem da presença de alvéolos de vários tamanhos e, pos sivelmente, de diferenças na tensão superficial das respectivas unidades alveolares. A elevação da pressão durante a insuflação decorre do aumento progressivo dos pequenos espaços aéreos. Cumpre ressaltar a importância das forças elásticas teci duais em presença de altos volumes pulmonares, prevenindo a hiper distensão alveolar. O ramo expiratório da curva volume-pressão pulmonar é des locado para a esquerda em relação ao ramo inspiratório, isto é, para uma dada pressão o volume pulmonar é maior na expira ção do que durante a inspiração. Essa separação, como já rela tado anteriormente, é denominada histerese pulmonar, e para explicá-Ia comentaremos duas hipóteses: a) a da disposição das moléculas de surfactante durante a insuflação e desinsuflação pulmonar e b) a morfologia do alvéolo. Na Fig. 4 l .6 observa-se que no estágio 1 as moléculas estão dispostas umas ao lado das outras. Com o início da expiração a distância entre as moléculas MECÂNICA RESPIRATÓRIA, ESPAÇO MORTO E VENTILAÇÂO ALVEOLAR 627 de surfactante se reduz (estágio 2), diminuindo a tensão super ficial e, conseqüentemente, a pressão para um mesmo volume pulmonar. Ao término da expiração as moléculas do surfactante tornam-se mais comprimidas, saindo da superfície e formando uma camada bimolecular. As moléculas de superfície provavel mente continuam viáveis, reduzindo a tensão superficial, mas as outras moléculas formam um filme de surfactante que não tem utilidade (estágio 3) . No início da inspiração a água ou os íons hidratados, ou ambos, se movem para a superfície mais rapida mente do que as moléculas de surfactante, diluindo a superfície e aumentando a tensão superficial (estágio 4). À medida que a superfície do alvéolo retorna à sua área original (estágio 5) , a concentração do surfactante na superfície e a tensão superficial são restauradas. A outra hipótese baseia-se na morfologia alveolar. Utilizan do-se um microscópio eletrônico observa-se que o alvéolo não é uma estrutura esférica, porém apresenta várias pregas (Fig. 4 l .7). Essas pregas tornam-se mais numerosas e profundas ao término da expiração. Não se sabe exatamente qual é a pressão necessária para desfazer essas pregas, mas acredita-se que, du rante a inspiração, a pressão necessária para desfazer as pregas da parede alveolar é maior do que durante a expiração, quando as pregas facilmente se refazem por acolamento, contribuindo para a histerese pulmonar. A perda de surfactante leva à redução da complacência pul monar, áreas de atelectasia e alvéolos cheios de transudato. Este é o quadro patológico da Síndrome do Desconforto Respira tório do Recém-nato, que é particularmente passível de surgir em crianças prematuras, cujo sistema de produção do surfac tante não se encontra ainda bem desenvolvido ou funcionante. ESTÁG IO 1 200 - - '?' - - ;' ,. - ;' I 6666666ó6666666666666666666666i 1 50 � I w :2 1 00 => -l O > 50 O / / / 3 / / / ,. ", // ", ; ", ,/ / ,/ / ", 2 / 5 / ", ,( ",/ / / / / / / I 4 ,/ - - " ....... ,..""r 4 8 1 2 1 6 20 PRESSÃO (cmHp) 24 ESTÁGIO 3 t ESTÁGIO 4 ESTÁG IO 5 1666ó6666666b666661J6666666� 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 T Fig. 41.6 Relação volume versus pressão elástica do pulmão isolado. As curvas foram obtidas a partir do volume mínimo até a insuflação máxima. A curva 2 ocorre quando os pulmões com tensão superficial (TS) normal são insuflados com ar e a seguir desinsuflados. Lateralmente, nota-se uma representação esquemática do fluxo de surfactante durante a inspiração e a expiração. A concentação máxima de surfactante na superfície é obtida no estágio 2. No término da expiração o fluxo de moléculas deixa a superfície (estágio 3). No início da inspiração há um rápido movi mento das moléculas para a superfície e incremento da tensão superficial (estágio 4). O surfactante se move de volta à superfície mais lentamente (estágio 5), retomando à tensão superficial original (estágio 1) . As setas pequenas indicam a direção do fluxo do surfactante. FISIOLOGli\ Fig. 41.7 Fotomicrografia eletrônica da superfície alveolar recober ta com surfactante. Na ponta das setas note o pregueamento alveolar. (Modificada de Weibel, E.R., 1 979.) A hipóxia, ou hipoxemia, pode acarretar redução da produção de surfactante ou aumento de sua destruição, contribuindo para o desenvolvimento da Síndrome do Desconforto Respirató rio Agudo. Vistos os dois componentes individuais da elasticidade pul monar, é preciso estudar as propriedades do pulmão como um todo. Como antes dito, a complacência pulmonar é obtida dividindo-se a variação de volume do pulmão pela pressão transpulmonar, que é definida como a diferença entre a pres são na abertura das vias aéreas (Pao) e a pressão intrapleural (ou intra-esofagiana, Pes). Enquanto o pulmão apresentar um comportamento semelhante ao de uma mola, sua complacên cia é constante. Todavia, em volumes pulmonares muito ele vados (acima de 75% da capacidade vital) algumas regiões do pulmão já atingiram seu ponto máximo de distensão elás tica perfeita e, conseqüentemente, será necessária maior va riação de pressão para fazer variar o volume, isto é, o pulmão torna-se menos complacente, como pode ser visto na porção mais horizontalizada da curva (Fig. 4 1 . 1 ) . A complacência do pulmão é de cerca de 200 ml/cmH20. Obviamente, todos os cuidados descritos para a medida da Crs são aplicados na de terminação da CL. A complacência pulmonar aumenta com a idade e no enfi sema. Em ambas as condições, a alteração do tecido elástico pulmonar é a responsável pela elevação da complacência. Para gerar um mesmo volume, o paciente com fibrose necessita de maior pressão do que o indivíduo normal e o paciente enfise matoso. Conseqüentemente, o doente com fibrose apresenta uma complacência menor do que o enfisematoso e o normal . O aumento da pressão venosa pulmonar, o pneumotórax, o edema alveolar e a atelectasia também levam à redução da complacência. Propriedades Elásticas da Parede Torácica Assim como o pulmão, a parede torácica também exibe pro priedades elásticas próprias. A pa�ede torácica inclui, além do tórax, o diafragma, a parede abdommal e o m:d�astJI1o. Do ponto de vista elástico observa-se que a parede toraclca tende sempre à expansão, exceto em volumes pulmonares , superio!'es a cerca de 75% da capacidade vital, quando tende a retraçao, co�o .o pulmão (Fig. 4 1 . 1 , linha D). Para o :álculo da ��mplacen�la da parede torácica, utiliza-se a pressao transtoraClca, ou seja, a diferença entre a pressão intrapleural e a pressão ao re , dor do tórax, em geral a pressão barométrica. Em contraponto a com placência pulmonar, que se torna
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