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1 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 2 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 SUMÁRIO Aula.................................................................................................................................Página Introdução à fisiologia respiratória........................................................................................3 Mecânica respiratória............................................................................................................17 Ventilação alveolar................................................................................................................34 Difusão de gases....................................................................................................................49 Controle da respiração...........................................................................................................64 3 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 FISIOLOGIA II → INTRODUÇÃO À FISIOLOGIA RESPIRATÓRIA O sistema respiratório começa no nariz e termina no alvéolo mais distal. Assim, além do pulmão, a cavidade nasal, a faringe posterior, a glote e as pregas vocais, a traqueia e todas as divisões da árvore traqueobrônquica são inclusas no sistema respiratório. » Funções do sistema respiratório o Troca gasosa: A função principal do pulmão é a troca gasosa, que consiste em movimentar O2 para o interior do corpo e remover o CO2. o Equilíbrio ácido-base: A concentração dos íons H+ (pH) tem efeito dramático sobre muitos processos metabólicos celulares, e a regulação do pH é essencial para a homeostasia normal. Na clínica, determina- se o pH do sangue para avaliar a concentração de H+. O pH normal varia de 7,35 a 7,45 nos adultos e é mantido pelos pulmões, rins e sistemas químicos de tamponamento. No sistema respiratório, a conversão do CO2 a HCO3-, como ilustrada a seguir, consiste em mecanismo importante para o tamponamento e a regulação da concentração do íon H+ (pH): A equação de Henderson-Hasselbach (ao lado) é utilizada para calcular como as alterações do CO2 e do HCO3- afetam o pH. A hiperventilação aguda resultante de exercício físico ou ansiedade reduz a PCO2 e, como consequência, aumenta o pH (alcalose respiratória). De modo inverso, quando a PCO2 aumenta em resposta à hipoventilação causada por dose excessiva de depressor respiratório o pH diminui (acidose respiratória). As perturbações do balanceamento ácido-básico também são causadas por distúrbios metabólicos. o Fonação: A voz é produzida na laringe, através da vibração das pregas vocais (provocada pelo movimento de ar). o Mecanismos de defesa: O pulmão também desempenha papel na defesa imunológica, por funcionar como barreira primária entre o mundo exterior e o interior do corpo. o Reservatório de sangue: Como o pulmão recebe o débito cardíaco total, sua posição excepcional permite que atue como regulador metabólico do sangue venoso, antes que entre na circulação sistêmica. 4 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 Os vasos pulmonares são menos resistentes e mais complacentes, o que permite que recebam mais sangue sem que sua pressão se altere muito. Além disso, os vasos pulmonares possuem menos músculo liso se comparados aos vasos sistêmicos. o Regulação da temperatura: Ocorre através da expiração, porém esse mecanismo é pouco significante em humanos. O corpo humano possui regulação fisiológica mais eficiente pela sudorese o Metabolismo: O pulmão é um órgão metabólico que sintetiza e metaboliza numerosos compostos. Por exemplo, a angiotensina I inativada circulante é ativada por enzimas extracelulares localizadas na superfície das células endoteliais. A serotonina, uma vasoconstritora, liga-se a receptor específico localizado na superfície da célula endotelial e, em seguida, é internalizada e metabolizada por mecanismos intracelulares. Aproximadamente 80% da serotonina, que entra nos pulmões, é metabolizada em uma só passagem pelo leito capilar pulmonar. As funções sintéticas do pulmão incluem a síntese de fosfolipídeos como dipalmitoil-fosfatidilcolina, o qual constitui um componente do surfactante pulmonar. » Estruturas do sistema respiratório Macroscopicamente, o sistema respiratório é formado pelas vias aéreas superiores – nariz, seios paranasais, faringe e laringe – e pelas vias aéreas inferiores – traqueia, vias aéreas de condução e alvéolos. Vias aéreas superiores: A principal função das vias aéreas superiores é preparar o ar inspirado, de modo que no momento em que ele alcança a traqueia já esteja na temperatura corporal e completamente umidificado. O nariz também funciona como filtro, aprisionando e eliminando partículas maiores que 10 μm. Por fim, o nariz também provê o senso de olfação. Terminações nervosas no teto do nariz, acima da concha nasal superior, levam impulsos através da placa cribriforme para o bulbo olfatório. O volume do nariz do adulto é de cerca de 20 mL, mas sua área de superfície é muito aumentada pelas conchas nasais, que são uma série de três tiras contínuas de tecido com protrusão para o interior da cavidade nasal. 5 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 Os seios paranasais, incluindo os seios frontais, os seios maxilares, o seio esfenoide e o seio etmoide, são revestidos por epitélio ciliado e praticamente circundam as vias nasais. Os cílios facilitam o fluxo do muco, originado nas vias aéreas superiores, e limpam as principais vias nasais aproximadamente a cada 15 minutos. Os seios têm duas funções principais — eles deixam o crânio mais leve, o que facilita a postura ereta, e dão ressonância à voz. Eles também podem proteger o cérebro do trauma frontal. O fluído que recobre suas superfícies é continuamente propelido para o nariz. Em alguns seios (p. ex., no seio maxilar), a abertura (óstio) está na borda superior, o que os torna particularmente suscetíveis à retenção de muco. Os óstios são parcialmente obstruídos em presença de edema nasal, e isso pode resultar na retenção das secreções e em infecção secundária (sinusite). A faringe é comum aos aparelhos respiratório e digestivo, recebe ar da cavidade nasal e ar, alimentos e líquidos da boca. Esse órgão liga-se inferiormente ao aparelho respiratório com a laringe e ao aparelho digestivo com o esôfago. Consideram-se três regiões na faringe: a nasofaringe, a orofaringe e a laringofaringe. As principais estruturas da laringe incluem a epiglote, a aritenoide (também conhecida como tonsila ou amígdala faríngea) e as pregas vocais. Em circunstâncias normais, a epiglote e aritenoide atuam impedindo a aspiração da comida e de líquidos para o trato respiratório inferior. O ato de engolir o alimento após a mastigação ocorre, em geral, dentro de 2 segundos, e é muito sincronizado com reflexos musculares que coordenam a abertura e o fechamento da via aérea. Assim, é permitido ao ar penetrar as vias aéreas inferiores, e a comida e os líquidos são mantidos fora. Pacientes com alguma doença neuromuscular têm reflexos musculares alterados e podem perder esse mecanismo coordenado de deglutição. Vias aéreas inferiores: A principal função das vias aéreas inferiores é realizar a troca gasosa. O pulmão direito, localizado no hemitórax direito, é dividido em três lobos (superior, intermediário e inferior) por duas fissuras interlobulares (oblíqua, horizontal), enquanto o pulmão esquerdo, localizado no hemitórax esquerdo, é dividido em dois lobos (superior, incluindo a língula, e inferior) por uma fissura oblíqua. 6 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 Os pulmões direito e esquerdo são recobertos por uma delgada membrana, a pleura visceral, e são encapsulados por outra membrana, chamada de pleura parietal. A interface dessas duas pleuras permiteo deslizamento suave dos pulmões enquanto se expandem no tórax, e cria espaço em potencial. As forças de coesão do líquido intrapleural promovem a adesão dos pulmões à caixa torácica. Quando a caixa torácica se movimenta durante a respiração, os pulmões movem-se junto. A pressão intrapleural no fluido entre as membranas pleurais é normalmente subatmosférica (ou seja, negativa). As duas membranas pleurais são mantidas unidas pelo líquido pleural, de modo que os pulmões são forçados a se estirarem, a fim de se adaptarem ao maior volume da cavidade torácica. Ao mesmo tempo, no entanto, o recolhimento elástico dos pulmões cria uma força direcionada para dentro, que tenta puxar os pulmões para longe da caixa torácica. A combinação da caixa torácica puxando para fora e a retração elástica dos pulmões puxando para dentro cria uma pressão intrapleural subatmosférica de cerca de -3 mmHg. Agora, suponha que seja feita uma abertura entre a cavidade pleural, com a sua pressão subatmosférica, e a atmosfera. Na vida real, isso pode acontecer com uma faca perfurando as costelas, uma costela quebrada perfurando a membrana pleural, ou qualquer outro evento que perfure a cavidade pleural. O ar move-se para os locais de menor pressão, de modo que a abertura entre a cavidade pleural e a atmosfera permite que o ar flua para dentro da cavidade. O ar que entra na cavidade pleural desfaz as interações do líquido que mantêm o pulmão aderido à caixa torácica. A parede torácica expande-se, ao 7 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 passo que os pulmões elásticos colapsam para um estado não estirado, como um balão esvaziado. Esta condição, chamada de pneumotórax, resulta em um colapso pulmonar, que o torna incapaz de funcionar normalmente. A traqueia se bifurca (se ramifica) em dois brônquios principais. Esses brônquios principais (ou troncos) se ramificam (como os galhos de árvores) nos brônquios lobares (um para cada lobo) que, por sua vez, se dividem nos brônquios segmentares e, em seguida, em ramos cada vez menos calibrosos (bronquíolos), até chegarem aos alvéolos. A região pulmonar, com os brônquios segmentares, forma a unidade funcional do pulmão. A região do pulmão suprida por um brônquio segmentar é designada segmento broncopulmonar, e, como já dito, é a unidade funcional anatômica do pulmão. Devido à sua estrutura, segmentos do pulmão que ficaram irreversivelmente doentes podem com facilidade ser removidos cirurgicamente. Os brônquios e os bronquíolos diferem não apenas no tamanho, mas também pela presença de cartilagem, pelo tipo de epitélio e por sua vascularização (veja a tabela abaixo). As vias aéreas continuam a se dividir segundo um padrão de ramificação dicotômica ou assimétrica até formarem os bronquíolos terminais, distinguidos por serem as vias com menor tamanho sem alvéolos. Até aqui, temos a chamada zona condutora. Os bronquíolos terminais se dividem em bronquíolos respiratórios, os quais ocasionalmente possuem alvéolos nas suas paredes, e que compõem a zona de transição. Por fim, chegamos nos ductos alveolares, os quais são completamente recobertos por alvéolos. Essa região alveolar, onde ocorre a troca gasosa, é conhecida como zona respiratória. 8 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 Os alvéolos, de forma poligonal, constituem a maior parte do tecido pulmonar. A sua função primária é a troca gasosa entre eles e o sangue. Cada pequeno alvéolo é composto de uma única camada de epitélio. Dois tipos de células epiteliais são encontrados nos alvéolos: as células alveolares do tipo I e as células alveolares do tipo II. A troca gasosa ocorre nos alvéolos por meio de densa malha de rede de capilares e alvéolos chamada de rede alvéolo-capilar. A barreira entre o gás nos alvéolos e os eritrócitos tem somente 1 a 2 μm de espessura e consiste em células epiteliais alveolares tipo I, células endoteliais dos capilares e suas respectivas membranas basais. O O2 e CO2 se difundem passivamente através dessa barreira para o interior do plasma e das células vermelhas do sangue. As hemácias passam através da rede, em menos de 1 segundo, o que é tempo suficiente para a troca gasosa de CO2 e O2. Além disso, o diâmetro médio dos capilares pulmonares é de apenas 5 μm, o que significa que as hemácias (que tem 7,8 μm de diâmetro) passam apertadas por dentro deles. A proporção de capilares por alvéolos é muito grande: há praticamente 1.000 capilares para cada alvéolo. 9 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 # SUPRIMENTO SANGUÍNEO PARA O PULMÃO: Circulação pulmonar e circulação brônquica O pulmão tem dois suprimentos sanguíneos separados. A circulação pulmonar traz sangue desoxigenado do ventrículo direito para as unidades de troca gasosa, para a remoção de CO2 e oxigenação, antes que o sangue seja retornado ao átrio esquerdo e distribuído para o restante do corpo. A circulação brônquica se origina na aorta e provê nutrição para o parênquima pulmonar (vias aéreas condutoras). A circulação para o pulmão é singular em sua dualidade e capacidade em acomodar grandes volumes de sangue sob baixa pressão. O retorno da circulação brônquica mistura-se com o retorno da pulmonar, resultando no shunt fisiológico - diluição de CO2 (circulação brônquica) em O2 (circulação pulmonar), que serão levados para os tecidos. A porcentagem de CO2 diluído em O2 é cerca de 2%. » Músculos da respiração Os pulmões estão posicionados dentro da cavidade torácica, a qual é definida pelo gradil costal e pela coluna vertebral. Os pulmões são rodeados por vários músculos que contribuem para a respiração. Músculos inspiratórios: A movimentação do diafragma é responsável por 75% da mudança no volume torácico durante a inspiração tranquila. Preso ao redor do fundo da caixa torácica, esse músculo se arqueia sobre o fígado e se 10 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 move para baixo como um pistão, quando se contrai. A distância em que ele se move varia de 1,5 cm até 7 cm com a inspiração profunda. O diafragma é constituído por três partes: a porção costal, composta de fibras musculares que estão presas às costelas em volta do fundo da caixa torácica; a porção crural, feita de fibras que se prendem aos ligamentos ao longo das vértebras; e o tendão central, no qual se inserem as fibras costais e crurais. O tendão central também é a parte inferior do pericárdio. As fibras crurais passam em cada lado do esôfago, e podem comprimi-lo quando se contraem. As porções costal e crural são inervadas por partes diferentes do nervo frênico e podem se contrair separadamente. Por exemplo, durante vômito e eructação, a pressão intra- abdominal é aumentada por contração das fibras costais, mas as fibras crurais permanecem relaxadas, permitindo que material passe do estômago para o esôfago. Os músculos intercostais externos conectam as costelas adjacentes e inclinam-se para baixo e para frente (veja na figura). Quando se contraem, as costelas são tracionadas para cima e para frente, promovendo o aumento dos diâmetros lateral e anteroposterior do tórax. A dimensão lateral aumenta em função do movimento de “alça de balde” das costelas. Os músculos intercostais são supridos pelos nervos intercostais provenientes da medula espinal no mesmo nível. A paralisia dos músculos intercostais por si só não afeta gravemente a respiração, pois o diafragma é muito eficiente. Existem também os músculos escalenos, os quais elevam as duas primeiras costelas. Os músculos acessórios da inspiração incluem o músculo esternomastóideo, que realiza a elevação do esterno, e o músculo peitoral menor. A atividade desses músculos é pequena, se é que existe alguma, durante a respiração tranquila, entretanto, com o exercício, eles podem se contrair com vigor. Outros músculos que desempenham mínima função são os da asa do nariz, que promovema abertura das narinas, e os pequenos músculos da cabeça e do pescoço. Músculos expiratórios: A expiração durante a respiração normal é passiva, mas ela passa a ser ativa durante o exercício e a hiperventilação. Os músculos mais importantes na expiração são os da parede abdominal (reto abdominal, oblíquo interno e externo e transverso do abdome) e os músculos intercostais internos, que se opõem aos intercostais externos (i. e., eles puxam as costelas para baixo e para dentro). » Células das vias aéreas As vias aéreas condutoras são compostas por uma variedade de células especializadas que fornecem mais do que simplesmente um conduto para que o ar alcance o pulmão. O epitélio da mucosa está preso a 11 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 uma membrana basal fina, e, abaixo desta, está a lâmina própria. Em conjunto, eles são referidos como a "mucosa das vias aéreas”. Células musculares lisas são encontradas embaixo do epitélio, e um tecido conectivo envolvente é, de modo semelhante, entremeado com cartilagem, que é mais predominante nas porções de maior calibre das vias aéreas condutoras (vai da traqueia até os brônquios). O epitélio é organizado como um epitélio pseudoestratificado e contém vários tipos de células, inclusive células ciliadas e células secretoras (p. ex., células caliciformes e ácinos glandulares) que fornecem componentes fundamentais para a imunidade inata das vias aéreas. Para cada célula caliciforme, há de 5 a 6 células ciliadas. Esses cílios são banhados em um líquido periciliar (solução salina) no qual, caracteristicamente, eles batem em frequências de 10 a 15 Hz. A solução salina é produzida pelas células epiteliais quando o Cl- é secretado para o lúmen por canais de ânions apicais que atraem Na+ para o lúmen através da via paracelular (veja a figura ao lado). O movimento de soluto do LEC para o lúmen cria um gradiente osmótico, e, assim, a água segue os íons em direção à via aérea. O canal CFTR, cujo mau funcionamento provoca a fibrose cística, é um dos canais iônicos encontrados na superfície apical desse epitélio. Uma camada viscosa de muco flutua sobre os cílios para prender a maior parte das partículas inaladas e com tamanho superior a 2 μm. A camada de muco é secretada pelas células caliciformes no epitélio. Os cílios batem com um movimento ascendente que move o muco continuamente em direção à faringe, criando o que é chamado de movimento mucociliar (“escada rolante” mucociliar). O muco contém imunoglobulinas que podem atuar sobre muitos patógenos. Uma vez que o muco chega até a faringe, ele pode ser expelido (expectorado) ou deglutido. No muco deglutido, o ácido do estômago e as enzimas destroem os microrganismos restantes. A secreção da camada salina aquosa sob o muco é essencial para o movimento mucociliar funcional. Assim, quando a motilidade ciliar é defeituosa, como pode ocorrer em fumantes, ou em consequência de outras condições ambientais ou deficiências genéticas (como a fibrose cística*), o transporte de muco é praticamente ausente. Isto pode levar a sinusite crônica, infecções pulmonares recorrentes e bronquiectasia. 12 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 * Na doença fibrose cística, por exemplo, a secreção inadequada de íons diminui o transporte de líquido nas vias aéreas. Sem a camada de solução salina, os cílios ficam presos no muco espesso e viscoso, perdendo a capacidade de movimentar-se. O muco não pode ser eliminado, e as bactérias colonizam as vias aéreas, resultando em infecções pulmonares recorrentes. As paredes dos brônquios e bronquíolos são inervadas pelo sistema nervoso autônomo. Células nervosas nas vias aéreas são sensíveis a estímulos mecânicos ou à presença de substâncias indesejáveis, como poeiras inaladas, ar frio, gases nocivos e fumaça de cigarro. Esses neurônios podem sinalizar aos centros respiratórios para contrair os músculos respiratórios e iniciar reflexos de espirro e tosse. À medida que as vias aéreas condutoras fazem a transição para bronquíolos terminais e transicionais, o aspecto histológico dos tubos condutores muda. Glândulas secretoras estão ausentes do epitélio dos bronquíolos e bronquíolos terminais, a musculatura lisa desempenha um papel mais importante e a cartilagem está largamente ausente do tecido subjacente. As células de Clara, células epiteliais cuboides não ciliadas que secretam importantes marcadores de defesa e servem como células progenitoras após lesão (pois podem se diferenciar em células alveolares do tipo II), constituem uma grande parte do revestimento epitelial nas porções finais das vias aéreas condutoras. Já nos alvéolos, como já comentado, existem dois tipos celulares: as células alveolares do tipo I e as células alveolares do tipo II. Sob condições normais as células tipo I e tipo II ocorrem na proporção 1:1. A célula alveolar do tipo I é pequena e ocupa 96% a 98% da área de superfície do alvéolo. É o sítio primário para a troca gasosa. O fino citoplasma das células tipo I é ideal para a difusão gasosa. Adicionalmente, a membrana basal das células tipo I e o endotélio capilar se fundem, o que minimiza a distância para a difusão dos gases e facilita muito a troca gasosa. A célula alveolar tipo II é maior e cuboide, e geralmente é encontrada nos “cantos” dos alvéolos, onde ocupa de 2% a 4% de sua área de superfície. As células do tipo II sintetizam o surfactante pulmonar, que reduz a tensão superficial no fluido alveolar, e são responsável pela regeneração da estrutura alveolar subsequente à lesão (pois podem se proliferar e assumir a função da célula alveolar do tipo I). » Tensão superficial e surfactante Durante anos, os fisiologistas assumiram que a elastina e outras fibras elásticas eram a fonte primária da resistência ao estiramento no pulmão. Contudo, estudos comparando o trabalho necessário para 13 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 expandir pulmões cheios de ar e pulmões cheios de solução salina mostraram que os cheios de ar são mais difíceis de se inflar. A partir desse resultado, os pesquisadores concluíram que o tecido pulmonar contribui menos para a resistência do que se pensava. Alguma outra propriedade do pulmão normal cheio de ar, uma propriedade não presente no pulmão cheio com solução salina, deve criar a maior parte da resistência ao estiramento. Essa propriedade é a tensão superficial criada pela fina camada de fluido entre as células alveolares e o ar. Em qualquer interface ar-líquido, a superfície do líquido está sob tensão, como uma fina membrana sendo esticada. Quando o líquido é a água, a tensão superficial ocorre devido às ligações de hidrogênio entre as moléculas de água. As moléculas de água da superfície do líquido são atraídas por outras moléculas de água, localizadas abaixo e ao lado delas, porém não são atraídas para os gases do ar na interface ar-líquido. A tensão superficial alveolar é semelhante à tensão superficial que existe em uma bolha esférica, embora os alvéolos não sejam esferas perfeitas. A tensão superficial criada pelo fino filme de líquido é direcionada para o centro da bolha e cria pressão no interior dela. A lei de LaPlace é uma expressão dessa pressão. Ela estabelece que a pressão (P) dentro de uma bolha formada por uma fina película de líquido é uma função de dois fatores: a tensão superficial do líquido (T) e o raio da bolha (r). Essa relação é expressa pela equação: Observe, na figura abaixo, que se duas bolhas tiverem diâmetros diferentes, mas forem formadas por fluidos com a mesma tensão superficial, a pressão no interior da bolha menor é maior do que a pressão no interior da bolha maior. Como isso se aplica aos pulmões? Em fisiologia, podemos comparar a bolha ao alvéolo revestido por líquido (embora o alvéolo não seja uma esfera perfeita). O líquido que reveste todos os alvéolos gera tensão superficial. Se a tensãosuperficial (T) do líquido fosse a mesma nos alvéolos pequenos e nos grandes, os alvéolos pequenos teriam uma pressão maior dirigida para o interior do alvéolo do que os alvéolos maiores, e maior resistência ao estiramento. Como resultado, mais trabalho seria necessário para expandir os alvéolos menores. Normalmente, contudo, nossos pulmões secretam um surfactante que reduz a tensão superficial. Os surfactantes (do inglês, “surface active agents”, “agentes ativos de superfície”) são moléculas que rompem as forças coesivas entre as moléculas de água ao se substituírem por água junto à superfície. Nos pulmões, o surfactante diminui a tensão superficial do líquido alveolar e, assim, diminui a resistência do pulmão ao estiramento. O surfactante é mais concentrado em alvéolos menores, tornando a sua tensão superficial menor do que nos alvéolos maiores. A menor tensão superficial ajuda a igualar a pressão entre alvéolos de diferentes tamanhos e torna mais fácil inflar os alvéolos menores. Com uma tensão superficial menor, o trabalho necessário para expandir os alvéolos em cada ciclo ventilatório é bastante reduzido. 14 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 O surfactante humano é uma mistura que contém proteínas e fosfolipídeos, como dipalmitoilfosfatidilcolina, que são secretados para o espaço de ar alveolar pelas células alveolares tipo II. Os corpúsculos lamelares típicos, organelas ligadas à membrana contendo espirais de fosfolipídeos, são formados nessas células e secretados para dentro do lúmen alveolar por exocitose. Tubos de lipídeo chamados de mielina tubular se formam a partir dos corpos extrusos, e a mielina tubular, por sua vez, forma uma película fosfolipídica. Após a secreção, os fosfolipídeos do surfactante se alinham nos alvéolos com suas caudas hidrofóbicas de ácido graxo voltadas para o lúmen alveolar. Quatro proteínas específicas do surfactante são as: SP-A, SP-B, SP-C e SP-D. A SP-A está envolvida na regulação da renovação do surfactante, na regulação imunológica no pulmão e na formação da mielina tubular. Duas proteínas hidrofóbicas específicas do surfactante são SP-B e SP-C. A SP-B pode estar envolvida na formação da mielina tubular e na atividade de superfície (i. e., tensão superficial, capacidade de dispersão) do surfactante, e ela pode aumentar a ordenação intermolecular e intramolecular da bicamada fosfolipídica. A SP-C pode estar envolvida na capacidade de dispersão e na atividade da tensão superficial do surfactante. A função da SP-D atualmente é desconhecida (mas acredita-se que ela tenha uma função imunológica). Alguns dos complexos proteicolipídicos no surfactante são captados por endocitose nas células alveolares tipo II e reciclados. Em geral, a síntese de surfactante inicia na 25ª semana de desenvolvimento fetal sob a influência de vários hormônios. A produção normalmente atinge níveis adequados na 34ª semana (cerca de 6 semanas Interdependência dos alvéolos: Somado ao surfactante há outro mecanismo, chamado de interdependência, que contribui para estabilizar os alvéolos. Os alvéolos, exceto aqueles da superfície pleural, estão cercados por outros alvéolos. A tendência do alvéolo para se colapsar é oposta pela tração exercida pelos alvéolos a seu redor. Assim, o colapso de um só alvéolo distende e distorce os alvéolos ao redor que, por sua vez, estão conectados a outros alvéolos. 15 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 antes do parto normal). Os bebês que nascem prematuramente sem concentrações adequadas de surfactante em seus alvéolos desenvolvem a síndrome da angústia respiratória do recém-nascido (SARRN). Além do “endurecimento” (baixa complacência) dos pulmões, bebês com SARRN também possuem alvéolos que colapsam cada vez que eles expiram. O líquido amniótico pode ser coletado para verificar se os pulmões do feto estão ou não produzindo quantidades adequadas de surfactante. Se eles não estão, e se o parto não pode ser adiado, os bebês com SARRN podem ser tratados com a administração em aerossol de um surfactante artificial até os pulmões amadurecerem o suficiente para produzirem o seu próprio surfactante. O tratamento atual também inclui a ventilação artificial, que força o ar para os pulmões (ventilação com pressão positiva) e mantém os alvéolos abertos. » Histerese pulmonar Vamos imaginar que pegamos um pulmão animal excisado, canulamos a traqueia e o colocamos dentro de um recipiente. Quando reduzimos a pressão dentro do recipiente até que fique inferior à pressão atmosférica, o pulmão se expande, e um espirômetro é capaz de medir sua mudança de volume. A pressão é mantida em cada nível, conforme indicada pelos pontos, por alguns segundos, para permitir que o pulmão entre em repouso. Dessa maneira, podemos ilustrar a curva pressão-volume do pulmão. Na figura ao lado, a pressão de expansão ao redor do pulmão é gerada por uma bomba, porém, em humanos, é desenvolvida pelo aumento de volume da caixa torácica. Assim, a figura mostra que as curvas que o pulmão determina durante a insuflação e a desinsuflação são diferentes. Esse comportamento é conhecido como histerese. Observe que o volume pulmonar em qualquer pressão durante a desinsuflação é maior do que durante a insuflação. A inclinação da curva pressão-volume, ou a modificação de volume por unidade de pressão alterada, é conhecida como 16 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 complacência. Na faixa normal (pressão de expansão de cerca de 5 a 10 cm de água), o pulmão é notavelmente distensível ou muito complacente. » Inervação do sistema respiratório A respiração é automática e está sob o controle do sistema nervoso central (SNC). O sistema nervoso periférico (SNP) inclui componentes sensoriais e motores. O SNP conduz e integra sinais do ambiente para o SNC. Neurônios sensoriais e motores do SNP transmitem sinais entre a periferia e o SNC. Neurônios motores somáticos inervam músculos esqueléticos e neurônios autônomos inervam músculos lisos, cardíacos e glândulas. O pulmão é inervado pelo sistema nervoso autônomo do SNP, que está sob controle do SNC. A estimulação do sistema parassimpático leva à constrição das vias aéreas (broncoconstrição), à dilatação de vasos sanguíneos (vasodilatação) e ao aumento da secreção glandular. A estimulação do sistema simpático causa relaxamento das vias aéreas (broncodilatação), constrição dos vasos sanguíneos (vasoconstrição) e inibição da secreção glandular. A primeira evidência de que a tensão superficial pode contribuir para o comportamento de pressão-volume do pulmão foi obtida quando descobriu-se que os pulmões insuflados com solução salina possuem complacência muito maior (são mais fáceis de serem distendidos) do que quando cheios de ar. Uma vez que a solução salina abole as forças da tensão superficial, porém presumivelmente não afeta as forças teciduais do pulmão, essa observação significa que a tensão superficial contribuiu com grande parte da força de retração estática do pulmão. 17 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 FISIOLOGIA II → MECÂNICA RESPIRATÓRIA Mecânica pulmonar é o estudo das propriedades mecânicas do pulmão e da caixa torácica (que inclui as costelas, o diafragma, a cavidade abdominal e os músculos abdominais anteriores). A função primária dos pulmões é a troca gasosa. Para realizar essa função primária, o ar deve ser movido para dentro e para fora do pulmão. As propriedades mecânicas do pulmão e da caixa torácica determinam a facilidade, ou dificuldade, desse movimento do ar. A compreensão da mecânica pulmonar é importante para entender como o pulmão trabalha normalmente e na presença de doenças, porque quase todas as doenças pulmonares afetam as propriedades mecânicas do pulmão. » Ventilação A troca da massa de ar entre a atmosfera e os alvéolos é denominada ventilação ou respiração.Um único ciclo respiratório consiste em uma inspiração seguida por uma expiração. O ar flui pelas vias aéreas quando existe diferença de pressão entre os dois extremos da via. Assim, quando a pressão em P1 é maior do que em P2, o ar move-se de P1 para P2. O movimento do ar para os pulmões e para fora destes é resultado das modificações do volume torácico. As modificações no volume alveolar produzem alterações na pressão alveolar. A diferença de pressões entre a pressão atmosférica e a pressão alveolar produz movimento do ar. Durante a respiração em repouso este processo decorre da seguinte forma (acompanhe pela imagem): 1. No final da expiração: No final da expiração, a pressão atmosférica e a pressão alveolar são iguais. Logo, não existe movimento de ar de e para os pulmões. 2. Durante a inspiração: Quando se inicia a inspiração, a contração dos músculos inspiratórios aumenta o volume torácico, determinando a expansão pulmonar e o aumento do volume alveolar. O volume alveolar aumentado causa uma diminuição na pressão alveolar para valores inferiores aos da pressão atmosférica em cerca de 1 cmH2O. O ar flui para os pulmões porque a pressão atmosférica é maior do que a pressão alveolar. 3. No final da inspiração: No final da inspiração o tórax deixa de se expandir, bem como os alvéolos, e a pressão alveolar iguala a pressão atmosférica; mas o volume pulmonar é maior do que no final da expiração. Não existe movimento de ar após as pressões alveolar e atmosférica se igualarem, mas o volume dos pulmões é maior do que no final da expiração. 4. Durante a expiração: Durante a expiração, o volume do tórax diminui à medida que o diafragma relaxa e os pulmões e o tórax se retraem. A diminuição do volume torácico determina uma diminuição do volume alveolar e uma elevação na pressão alveolar, para valores superiores aos da pressão 18 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 atmosférica em cerca de 1 cm de H2O. O ar flui dos pulmões porque a pressão alveolar é maior que a pressão atmosférica. Na fase final da expiração, a diminuição do volume torácico termina e o volume alveolar estabiliza. O processo repete-se a partir do ponto 1. » Volumes e capacidades Os fisiologistas e médicos avaliam a função pulmonar de uma pessoa medindo quanto ar ela move durante a respiração em repouso, e depois em esforço máximo. Estes testes de função pulmonar usam um espirômetro, um instrumento que mede o volume de ar movido a cada respiração. Atualmente, a maioria dos espirômetros em uso clínico são pequenas máquinas computadorizadas, em vez do espirômetro tradicional ilustrado aqui. Quando uma pessoa é conectada ao espirômetro tradicional por um bocal, e seu nariz é fechado com um grampo, o trato respiratório da pessoa e o espirômetro formam um sistema fechado. Quando a pessoa inspira, o ar move-se do espirômetro para dentro dos pulmões, e a pena de registro, a qual traça um gráfico em um cilindro que gira, move-se para cima. Quando a pessoa expira, o ar move-se dos pulmões de volta para o espirômetro, e a pena de registro move-se para baixo. Volumes pulmonares: O ar movido durante a respiração pode ser dividido em quatro volumes pulmonares: (1) volume corrente, (2) volume de reserva inspiratório, (3) volume de reserva expiratório e (4) volume residual. Os 19 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 valores numéricos usados no gráfico abaixo representam volumes médios para um homem de 70 kg. Os volumes para as mulheres são geralmente menores. Os volumes pulmonares variam consideravelmente com a idade, o sexo, a altura e o peso, e, assim, os médicos usam algoritmos com base nesses parâmetros para calcular os volumes pulmonares. Cada um dos parágrafos seguintes inicia com instruções que seriam dadas se você estivesse sendo testado para estes volumes. ▪ “Respire calmamente.” O volume de ar que se move durante uma única inspiração ou expiração é denominado volume corrente (VC). O volume corrente médio durante uma respiração espontânea (ventilação basal) é de cerca de 500 mL. (É difícil respirar normalmente quando a pessoa está pensando sobre a sua respiração, por isso o médico pode não dar essa instrução.) ▪ “Agora, no final de uma inspiração tranquila, você deve inspirar o máximo de ar adicional que for possível.” O volume adicional inspirado, acima do volume corrente, representa o seu volume de reserva inspiratório (VRI). Em um homem de 70 kg, este volume é de cerca de 3.000 mL, aproximadamente seis vezes mais do que o volume corrente normal. ▪ “Agora, pare no final de uma expiração normal e, em seguida, expire tanto ar quanto for possível.” Essa quantidade de ar expirado vigorosamente após o final de uma expiração espontânea é o volume de reserva expiratório (VRE), que é, em média, cerca de 1.100 mL. ▪ O quarto volume não pode ser medido diretamente. Mesmo se você soprar o máximo de ar que puder, ainda restará ar nos pulmões e nas vias aéreas. O volume de ar presente no sistema respiratório após a expiração máxima – cerca de 1.200 mL – é chamado de volume residual (VR). A maior parte desse volume residual existe porque os pulmões são mantidos estirados aderidos pelo líquido pleural às costelas. Capacidades pulmonares: O somatório de dois ou mais volumes pulmonares é chamado de capacidade. A capacidade vital (CV) é a soma do volume de reserva inspiratório, volume de reserva expiratório e volume corrente. A capacidade vital representa a quantidade máxima de ar que pode ser voluntariamente movida para dentro ou para fora do sistema respiratório a cada respiração (ciclo ventilatório). Ela diminui com a idade, quando os músculos enfraquecem e os pulmões se tornam menos elásticos. A capacidade vital somada ao volume residual é a capacidade pulmonar total (CPT). Outra capacidade importante na medicina pulmonar é a capacidade inspiratória (volume corrente + volume de reserva inspiratório). A capacidade residual funcional (CRF) é o volume de ar no pulmão, ao fim de uma expiração, durante respiração calma, e é também chamada de volume de repouso do pulmão. A CRF é composta pelo 20 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 volume residual e pelo volume de reserva expiratório. Logo, a CRF é determinada pelo balanço entre a pressão de retração gerada pelo parênquima pulmonar (retração interna) e a pressão gerada pela caixa torácica para aumentar (retração externa) (i. e., respectivamente retração para dentro e retração para fora). 21 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 A proporção entre VR e CPT (proporção VR/CPT) é usada para distinguir entre diferentes tipos de doenças pulmonares. Em indivíduos normais essa proporção é geralmente menor do que 0,25. Então, em pessoa hígida aproximadamente 25% do volume total de ar do pulmão está retido. → Doenças pulmonares obstrutivas: Proporção VR/CPT elevada, secundária a aumento em VR fora de proporção com qualquer aumento na CPT, é vista em doenças associadas à obstrução das vias aéreas conhecidas como doenças pulmonares obstrutivas. Ex.: Enfisema, bronquite, asma, DPOC. → Doenças pulmonares restritivas: Proporção VR/CPT elevada também pode ser causada por redução na CPT (na verdade, todos os volumes e capacidades diminuem), que ocorre em indivíduos com doenças pulmonares restritivas. Ex.: Fibrose, obesidade e 3º trimestre da gestação. » Mensuração dos volumes pulmonares não mensuráveis pela espirometria Os volumes pulmonares não mensuráveis pela espirometria podem ser determinados pela técnica da diluição do hélio e pela pletismografia corporal. Esses métodos geralmente determinam a CRF, e o VR (que é igual à CRF menos o VRE) e a CPT (que é igual à CV mais o VR) são, então, calculados a partir dos volumes obtidos pela espirometria. 22 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM24/1 Técnica da diluição do hélio: A técnica da diluição do hélio baseia-se na seguinte relação: Se a quantidade total de uma substância dissolvida em um volume é conhecida, e sua concentração pode ser mensurada, o volume no qual a substância é dissolvida pode ser determinado. O hélio é utilizado para esse teste porque ele não é captado pelos capilares sanguíneos pulmonares, e, assim, a quantidade total de hélio usada não muda durante o teste. A pessoa respira em um espirômetro preenchido por uma mistura de hélio e oxigénio. Quando o equilíbrio é atingido, a concentração de hélio é a mesma nos pulmões e no espirômetro, e o teste é interrompido no final de uma expiração corrente normal (em outras palavras, na CRF). O aumento calculado no volume da distribuição do hélio representa, portanto, o volume pulmonar. NO ENTANTO, essa técnica não funciona para pacientes com doença pulmonar obstrutiva. Pletismógrafo corporal: Um problema comum no método descrito acima é que ele não pode medir o gás aprisionado, pois o hélio não pode entrar nos alvéolos supridos pelas vias aéreas fechadas. Além disso, se os pulmões possuem muitos alvéolos supridos pelas vias aéreas com alta resistência ao fluxo aéreo, pode ser necessário um longo tempo para que as concentrações de hélio inspiradas e expiradas se equilibrem. Em tais pacientes, a mensuração dos volumes pulmonares com um pletismógrafo corporal é muito mais acurada, pois estes apresentam aprisionamento de ar. O pletismógrafo corporal faz uso da lei de Boyle: para um recipiente fechado em uma temperatura constante, a pressão multiplicada pelo volume de uma mistura de gases é constante. O pletismógrafo corporal é uma câmara hermética suficientemente grande, na qual o paciente senta em seu interior e respira por meio de um bucal ligado a um sistema de tubos. O paciente respira no bucal contra uma via aérea fechada por alguns instantes, e as pressões na boca e no pletismógrafo são monitoradas. À medida que o paciente inspira contra a via aérea fechada, o tórax expande, e a pressão mensurada no pletismógrafo aumenta, já que o volume de ar no pletismógrafo reduz devido ao aumento do volume torácico. A pressão medida na boca diminui à medida que o paciente inspira contra a via aérea fechada. A lei de Boyle é utilizada para se calcularem as mudanças nos volumes do pletismógrafo corporal e, nos pulmões, para se determinar a CRF. 23 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 » Determinantes do volume pulmonar A interação entre os pulmões e a caixa torácica determina o volume pulmonar. Os pulmões têm uma tendência a colapsar devido a sua retração elástica (consequência das fibras elásticas e da tensão superficial do pulmão), uma propriedade estática representada pelas setas voltadas para dentro na figura abaixo. A parede torácica também tem uma retração elástica. No entanto, esta tende a puxar a caixa torácica para fora. O palco fica dessa forma preparado para uma interação entre os pulmões e a parede torácica: no equilíbrio, a retração elástica dos pulmões – voltada para dentro – equilibra-se exatamente com a retração elástica da parede torácica – voltada para fora. Essa interação entre pulmões e parede torácica não ocorre por meio de uma ligação direta, mas através do espaço intrapleural entre a pleura visceral e a pleura parietal. Este espaço, extremamente fino, é preenchido por uma pequena quantidade de líquido pleural. Como os pulmões e a parede torácica exercem pressão para afastar–se um do outro em lados opostos do espaço intrapleural, a pressão intrapleural é menor que a pressão barométrica, e então é dita “negativa”. Agora, analisaremos os seguintes gráficos: A relação entre a retração elástica do pulmão e a expansão elástica externa da parede torácica é ilustrada nas curvas de volume-pressão estáticas (ou “de relaxamento”). A pressão medida a seguir na altura do nariz ou da boca (que é igual à pressão alveolar nesse ponto quando não está ocorrendo nenhum 24 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 fluxo de ar) é a soma da pressão de retração tanto dos pulmões como da parede torácica. Ela é representada pela linha tracejada rotulada como “sistema” (sistema respiratório) na Figura 2.14. As pressões de retração individuais do pulmão e da parede torácica poderão ser calculadas, pois a pressão intrapleural é conhecida. A pressão de retração pulmonar é rotulada como “pulmões” nos gráficos; a pressão de retração da parede torácica é rotulada de “parede torácica” nos gráficos. O gráfico à esquerda foi desenhado com base em dados obtidos quando os participantes estavam sentados, com o tronco na vertical; o gráfico à direita foi desenhado com base nos dados obtidos quando os participantes estavam deitados, em decúbito dorsal. À medida que a pessoa aumenta seu volume pulmonar, a pressão de retração total do sistema torna-se positiva, por causa de dois fatores: a retração elástica aumentada do pulmão por causa dos alvéolos distendidos e a tendência à expansão elástica da parede torácica estar reduzida. Na verdade, para volumes pulmonares altos, a pressão de retração da parede torácica também é positiva (observe o ponto em que a linha da parede torácica cruza a linha da pressão positiva 0). Isso ocorre porque, para volumes pulmonares altos, acima de aproximadamente 70% da capacidade pulmonar total (CPT), quando alguém fica na posição ortostática, a parede torácica também tem uma retração elástica. Assim, para volumes pulmonares altos, a pressão na altura da boca é altamente positiva, visto que há retração elástica tanto do pulmão como da parede torácica. Para volumes pulmonares abaixo da CRF, a pressão de relaxamento medida na boca é negativa, pois a tendência à expansão da parede torácica é maior que a retração reduzida dos pulmões. O ponto principal dessa discussão pode ser constatado no gráfico à direita da Figura 2.14, em que os dados coletados vieram de indivíduos na posição de decúbito dorsal. Embora a curva de retração elástica para o pulmão esteja relativamente inalterada, as curvas de retração para a parede torácica estão desviadas para a direita. A razão desse desvio é o efeito da gravidade sobre a mecânica da parede torácica, em especial o diafragma. Quando se está de pé ou sentado, o conteúdo abdominal está sendo empurrado para longe do diafragma pela gravidade. Quando se está deitado, o conteúdo abdominal está sendo empurrado contra o diafragma relaxado. Essa ocorrência reduz a tendência de expansão global da parede torácica e desloca para a direita a curva da retração elástica da parede torácica. Visto que a curva do sistema respiratório é a soma das curvas do pulmão e da parede torácica, ela também é desviada para a direita. O volume pulmonar no qual a tendência de expansão da parede torácica é igual à retração elástica do pulmão é muito menor no indivíduo na posição de decúbito dorsal, como se pode ver no ponto em que a linha do sistema cruza a linha da pressão de retração 0. Em outras palavras, a CRF diminuiu consideravelmente apenas porque a pessoa passou da posição sentada para a de decúbito dorsal. A Figura 2.15 mostra o efeito da posição sobre a CRF. Se a CRF é reduzida, o VRE também é diminuído, e o VRI será aumentado. 25 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 » Ciclo respiratório → A dinâmica da respiração Os alvéolos não são capazes de se expandir por conta própria. Eles expandem passivamente em resposta a aumentos da pressão de distensão através da parede alveolar. Esse gradiente de pressão transpulmonar (também chamada de transmural) aumentado, gerado pelos músculos da inspiração, abre ainda mais os alvéolos altamente distensíveis e, assim, diminui a pressão alveolar. Ou seja, é a pressão transpulmonar que mantém o pulmão aberto. O gradiente de pressão transmural é convencionalmente calculado assim: . AO FINAL DA EXPIRAÇÃO:A pressão no estreito espaço preenchido por líquido entre as pleuras visceral e parietal é normalmente um pouco menor do que a pressão atmosférica, mesmo quando os músculos inspiratórios não estão em contração. Essa pressão intrapleural negativa é causada sobretudo pela interação mecânica entre os pulmões e a parede torácica. No final da expiração, quando todos os músculos respiratórios estão relaxados, os pulmões e a parede torácica estão agindo um sobre o outro em direções opostas. Como já explicado, os pulmões tendem a diminuir seu volume devido à retração elástica (para dentro) das paredes alveolares distendidas; a parede torácica tende a aumentar seu volume devido à retração elástica (para fora). Devido a essa interação, a pressão é negativa na superfície do estreito espaço pleural preenchido por líquido. Inicialmente, antes de ocorrer qualquer fluxo de ar, a pressão no interior dos alvéolos é igual à pressão atmosférica — por convenção, 0 cmH2O. A pressão alveolar é maior do que a pressão intrapleural. DURANTE A INSPIRAÇÃO: Os músculos da inspiração atuam para aumentar o volume da cavidade torácica. À medida que os músculos respiratórios contraem, o volume torácico expande, aumentando o estresse de distensão sobre os pulmões, e a pressão intrapleural torna-se mais negativa. Portanto, o gradiente de pressão transpulmonar aumenta, tendendo a distender a parede alveolar, e, assim, os alvéolos expandem passivamente. O aumento do volume alveolar diminui a pressão alveolar e estabelece o gradiente de pressão para o fluxo de ar ao interior dos pulmões. Na realidade, apenas um pequeno percentual do número total de alvéolos está diretamente exposto à pressão intrapleural de superfície, e, portanto, de início é difícil ver como os alvéolos localizados centralmente nos pulmões poderiam ser expandidos por uma pressão intrapleural mais negativa. Entretanto, uma análise cuidadosa tem demonstrado que a pressão na superfície pleural é transmitida por meio das paredes alveolares para os alvéolos localizados mais centralmente e para as pequenas vias aéreas. Essa interdependência estrutural das unidades alveolares está ilustrada na figura ao lado. 26 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 » Complacência A complacência pulmonar é a medida das propriedades elásticas do pulmão. É a medida do quão facilmente o pulmão se distende. A complacência é definida como a mudança do volume pulmonar que resulta de mudança de 1 cm H2O na pressão de distensão do pulmão. As unidades de complacência são em mL (ou L)/cm H2O. Complacência pulmonar elevada refere-se a pulmão prontamente distensível. A baixa complacência de um pulmão, ou pulmão “rígido”, define o pulmão que não é facilmente distensível. A complacência do pulmão é então , onde ΔV é a variação do volume e ΔP é a variação da pressão. Graficamente, a complacência é a inclinação da reta entre dois pontos quaisquer na região de desinsuflação da curva pressão-volume. Note que o pulmão é menos distensível nos volumes pulmonares elevados. Por essa razão a complacência é corrigida para o volume pulmonar no qual é medida (complacência específica). Alterações da complacência pulmonar estão associadas a certos tipos de doenças pulmonares (p. ex., doenças pulmonares restritivas) e têm grande importância clínica. No enfisema, doença pulmonar obstrutiva de fumantes em geral e associada à destruição dos septos alveolares e do leito capilar sanguíneo, o pulmão está mais complacente; isto é, para cada 1 cm H2O de aumento da pressão o aumento do volume é maior do que em pulmões normais. Em contraste, na fibrose pulmonar, doença pulmonar restritiva associada ao aumento da deposição de fibras colágenas no espaço intersticial, o pulmão fica não-complacente; isto é, para cada 1 cm H2O de mudança na pressão o volume pulmonar varia menos. 27 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 * A elastância é o inverso da complacência. » Fluxo aéreo nas vias aéreas A árvore brônquica compõe-se de um complicado sistema de tubos, com seus diversos ramos, variações de calibre, e superfície das paredes irregulares. Se o ar flui através de um tubo, há diferença de pressão entre as extremidades. A diferença de pressão depende da velocidade e do padrão do fluxo. FLUXO LAMINAR: Em velocidades de fluxo baixas, as linhas de fluxo são paralelas às laterais do tubo, o que é conhecido como fluxo laminar. É um fluxo organizado. Devido a sua viscosidade, fluidos reais movem-se mais rapidamente ao longo do eixo central do tubo, e a velocidade cai até zero ao se aproximar das paredes do tubo. FLUXO TURBULENTO: Se a velocidade média do fluido passando pelo tubo ultrapassa um valor crítico, o fluxo se torna turbulento; correntes irregulares locais, chamadas de vórtices, surgem aleatoriamente, aumentando em muito a resistência ao fluxo. FLUXO TRANSICIONAL: As vias aéreas pulmonares são curtas, curvadas, irregulares e bifurcadas. Assim, os ramos são particularmente problemáticos porque criam pequenos redemoinhos. Embora estes redemoinhos se desfaçam mais adiante nas vias aéreas, o ar logo encontra outras bifurcações, criando novos redemoinhos. Este tipo de fluxo de ar é chamado transicional. Em um sistema que se ramifica rapidamente, como o pulmão, o fluxo laminar ocorre somente nas pequenas vias respiratórias. Na maior parte da árvore brônquica, o fluxo tem característica transicional, podendo acontecer turbulência na traqueia, especialmente durante o exercício, quando as velocidades de fluxo são grandes. » Resistência nas vias aéreas A resistência ao fluxo é um dos fatores importantes que determinam as intensidades do fluxo de ar nas vias aéreas. A resistência ao fluxo de ar na vias aéreas (Rva) difere segundo o calibre das vias. Ao se mover da traqueia em direção aos alvéolos as vias aéreas individuais ficam menores, enquanto o número de ramificações aumenta de forma acentuada. A Rva é igual à soma das resistências de cada uma dessas vias (i. e., Rva = Rgrande + Rmédia + Rfina). Pela equação de Poiseuille, poder-se-ia concluir que o principal local de resistência das vias aéreas fica nas vias estreitas. De fato, no entanto, o principal local de resistência ao longo da árvore brônquica está nos brônquios mais calibrosos. As vias mais estreitas contribuem muito pouco para a resistência total da árvore brônquica. Há duas razões para isso. Primeiro, a velocidade do fluxo de ar se reduz substancialmente à medida em que a área da secção transversa aumenta (i. e., o fluxo passa a ser laminar). Segundo, e mais importante, as gerações das vias aéreas são em paralelo, e não em 28 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 série. A resistência das vias aéreas, em paralelo, é o inverso da soma das resistências individuais; por conseguinte, a resistência geral das finas vias aéreas é muito pequena. Um dos mais importantes fatores que afetam a resistência é o volume pulmonar. Aumentando o volume pulmonar aumenta-se o calibre das vias aéreas. Uma razão para este efeito é óbvia: todas as vias aéreas pulmonares – incluindo as vias aéreas de condução, responsáveis por praticamente a totalidade de Rva – expandem-se em altos valores de volume pulmonar, e a resistência cai rapidamente com o aumento do raio. Uma segunda razão é o princípio da interdependência – os alvéolos tendem a manter seus vizinhos abertos exercendo uma tração radial. Este princípio é particularmente importante para as vias condutoras, que têm paredes mais espessas que os alvéolos e, assim, menor complacência. Em altos volumes pulmonares, os alvéolos dilatam-se mais que os bronquíolos adjacentes, abrindo os bronquíolos ainda mais por meio da tração radial. Como resultado, a resistência ao fluxo de ar diminui com o aumento do volume pulmonar, e ela aumenta com a redução do volume pulmonar. Se a recíproca da resistência (i. e., condutância) é grafada contra ovolume pulmonar, a relação entre o volume pulmonar e a condutância é linear. Pacientes com doença pulmonar obstrutiva, por definição, têm resistência das vias aéreas mais alta para um determinado volume pulmonar. Durante as crises asmáticas, por exemplo, o raio das vias aéreas diminuirá (devido ao broncoespasmo) e, assim, a resistência aumentará. Na inspiração, o raio das vias 29 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 aumenta e o fluxo é facilitado, mas, na expiração, o raio diminui e, dessa forma, expirar fica mais difícil do que inspirar. » Compressão dinâmica Um novo modo de se medir a função pulmonar na clínica é a curva ou alça fluxo-volume. Essa alça, ou curva, é criada pelo registro das velocidades instantâneas de fluxo durante manobra forçada, em função do volume do gás. Essa velocidade instantânea de volume pode ser grafada durante a expiração (curva fluxo-volume expiratório) e durante a inspiração (curva fluxo-volume inspiratório). As velocidades de fluxo expiratório são apresentadas acima da linha horizontal, e as velocidades de fluxo inspiratório abaixo da linha horizontal. O comportamento da alça inspiratória é completamente dependente do esforço. No entanto, a alça expiratória não se comporta assim. Para altos volumes pulmonares, a velocidade do fluxo de ar depende do esforço, o que pode ser visto na porção de curvas à esquerda. Para baixos volumes pulmonares, porém, os esforços expiratórios de intensidades iniciais diferentes se fundem na mesma curva independente do esforço, como se pode ver na porção à direita da curva. Isso acontece devido ao fenômeno da compressão dinâmica. Para entender esse conceito, vamos analisar a situação da figura abaixo, comparando uma expiração passiva com uma expiração forçada. 30 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 A situação observada durante uma expiração passiva normal é mostrada à esquerda da figura. Nesse exemplo, a pressão intrapleural é de -8 cmH2O; a pressão de retração elástica alveolar é de +10 cmH2O; e a pressão alveolar é de +2 cmH2O. Assim, o gradiente de pressão transmural através das vias aéreas menores é +1 cmH2O – (–8) cmH2O = +9 cmH2O, que tende a manter abertas as vias aéreas. Durante o curso de uma expiração forçada, os músculos da expiração estão gerando uma pressão intrapleural positiva de +25 cmH2O. A pressão no alvéolo é mais alta que a pressão intrapleural, por causa da pressão da retração elástica alveolar de +10 cmH2O que, junto à pressão intrapleural, produz uma pressão alveolar de +35 cmH2O. Durante a expiração forçada à direita, o gradiente de pressão transmural é de 30 cmH2O – 25 cmH2O, ou seja, de apenas 5 cmH2O para manter abertas as vias aéreas. Assim, a via aérea pode ser comprimida levemente e sua resistência ao fluxo aéreo será ainda maior do que durante a expiração passiva. A resistência aumentada durante uma expiração forçada é denominada COMPRESSÃO DINÂMICA DAS VIAS AÉREAS. Uma maneira de interpretar esse processo é por meio da hipótese do ponto de igual pressão. A qualquer momento durante uma expiração forçada, existe um ponto ao longo das vias aéreas em que a pressão dentro da via aérea é exatamente igual à pressão fora dela. Nesse ponto, o gradiente de pressão transmural é igual a 0 (observe as setas na figura). Após esse ponto, o gradiente da pressão transmural é negativo: a pressão fora da via aérea é maior que a pressão em seu interior, e a via aérea entrará em colapso se o apoio cartilaginoso ou a tração exercida pelos septos alveolares forem insuficientes para mantê- la aberta. Assim, por essa razão nenhuma quantidade de esforço aumentará mais o fluxo, ou seja, o fluxo expiratório é independente do esforço. Na ausência de doença pulmonar o ponto de igual pressão ocorre nas vias aéreas que contêm cartilagem, e então elas resistem ao colapso. O que acontece em indivíduos com doença pulmonar obstrutiva? Imagine um indivíduo com obstrução de vias aéreas secundária à combinação de acúmulo de muco e inflamação das vias aéreas. Enquanto ocorre a expiração, a queda resistiva da pressão é maior do que em indivíduos normais, por causa da redução do raio das vias aéreas secundária ao acúmulo de muco e inflamação. Como resultado, o ponto de igual pressão, agora, ocorre nas vias aéreas estreitas desprovidas de cartilagem. Essas vias aéreas colapsam. Esse colapso é conhecido como fechamento prematuro de vias aéreas. O fechamento prematuro de vias aéreas provoca expiração menor que a máxima, conhecida como sequestro de ar, produzindo aumento do volume pulmonar. » Avaliando a resistência das vias aéreas Uma maneira de determinar a resistência das vias aéreas expiratórias consiste em analisar os resultados de uma expiração forçada dentro de um espirômetro, como mostra a figura ao lado. Essa medida é realizada por meio da manobra da capacidade vital forçada (CVF). A capacidade vital (CV) é o volume de ar que um indivíduo é capaz de expirar após uma inspiração máxima, ou seja, a partir da capacidade pulmonar total (CPT). Uma CVF 31 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 significa que um esforço expiratório máximo foi realizado durante esse procedimento. A parte da curva mais sensível a mudanças na resistência das vias aéreas expiratórias é o primeiro segundo da expiração. O volume de ar expirado no primeiro segundo da expiração (o VEF1, ou volume expiratório forçado em 1 segundo), especialmente quando enunciado como uma relação com a quantidade total de ar expirado durante a CVF, é um bom indicador da resistência das vias aéreas expiratórias. Em indivíduos normais e jovens, a relação VEF1/CVF é maior que 0,80; ou seja, pelo menos 80% da CVF são expirados durante o primeiro segundo. Em condições de doença, podem ser diferenciados dois padrões gerais. Em doenças restritivas, como a fibrose pulmonar, tanto o VEF quanto a CVF estão reduzidos, mas a VEF1/CVF costuma estar normal ou aumentada. Em doenças obstrutivas, como a doença pulmonar obstrutiva crônica ou a asma brônquica, o VEF1 reduz muito mais do que a CVF, resultando em uma VEF1/CVF baixa. Com frequência, são vistos padrões mistos de restrição e obstrução. No caso de resultados suspeitos, com relação VEF1/CVF menor que 70%, deve-se realizar a espirometria mais uma vez após a administração de broncodilatador (isso é a chamada prova broncodilatadora) para determinar a responsividade da via aérea. Caso a relação aumente, após o uso do broncodilatador, diz-se que a prova foi positiva e a pessoa poderá ser diagnosticada com asma. No caso da prova negativa, a pessoa poderia ter alguma doença como enfisema, que não responde a broncodilatação. » Trabalho respiratório Trabalho é realizado pelos músculos respiratórios para distender os tecidos elásticos da parede torácica e dos pulmões (trabalho elástico; aproximadamente 65% do trabalho total), mover tecidos 32 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 inelásticos (resistência viscosa; 7% do total), e mover o ar pelas vias aéreas (resistência das vias aéreas; 28% do total). Assim, didaticamente divide-se o trabalho respiratório em trabalho elástico e trabalho não- elástico (ou resistivo). Embora não existam métodos disponíveis para medir a quantidade total de trabalho envolvido na respiração, pode-se estimar o trabalho mecânico medindo as variações do volume e da pressão durante um ciclo respiratório. A análise da curva pressão-volume pode ser usada para ilustrar esses pontos. A figura abaixo representa o ciclo respiratório de pulmão normal. A curva estática insuflar-desinsuflar é representada pela linha ABC. A carga de trabalho mecânica total é representada pela área trapezóide OAECD. A análise da área trapezóide da figura permite que se apreciem os aspectos individuais da carga mecânica, que incluem os seguintes: Nas doenças pulmonares restritivas,a complacência pulmonar fica reduzida e a curva pressão- volume é deslocada para a direita. Isso resulta em aumento significativo do trabalho para vencer as forças elásticas, como mostrado no gráfico ao lado. Indivíduos com doenças pulmonares adotam padrões pulmonares que minimizam o trabalho da respiração. Por essa razão, indivíduos com fibrose pulmonar (trabalho elástico aumentado) respiram mais superficial e rapidamente (↑ frequência respiratória e ↓ volume corrente). Nas doenças pulmonares obstrutivas, asma e bronquite crônica, a resistência das vias aéreas fica elevada (aumenta o trabalho para vencer as forças resistivas), e uma grande pressão pleural negativa é necessária para manter a velocidade do fluxo inspiratório normal. Além do aumento do trabalho inspiratório total (OAECD), indivíduos com doença obstrutiva pulmonar apresentam aumento da pressão pleural positiva durante a expiração devido ao aumento da resistência e à aumentada carga de trabalho expiratória, que é visualizada como a área DFO. A energia elástica armazenada não é suficiente, e energia adicional é necessária para a expiração. Com o tempo ou com a progressão da doença esses músculos respiratórios podem se fatigar, levando à falência respiratória. Indivíduos com doenças pulmonares adotam padrões pulmonares que minimizam o trabalho da respiração. Por essa razão, indivíduos com doença obstrutiva pulmonar (trabalho elástico normal) respiram mais lenta e profundamente (↓ frequência respiratória e ↑ volume corrente). 33 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 34 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 FISIOLOGIA II → VENTILAÇÃO ALVEOLAR Ventilação é o processo no qual o ar é movido para dentro e para fora do pulmão. » Ventilação-minuto x Ventilação alveolar O volume de ar que entra e sai pelo nariz ou pela boca por minuto, que é a ventilação-minuto, não é igual ao volume de ar que entra e sai dos alvéolos a cada minuto. A ventilação alveolar é menor que a ventilação-minuto, pois a última parte de cada inspiração permanece nas vias aéreas condutoras e não alcança os alvéolos. De forma semelhante, a última parte de cada expiração permanece nas vias aéreas condutoras e não será expelida do corpo. Nenhuma troca de gás ocorre nas vias condutoras, por motivos anatômicos. As paredes das vias aéreas condutoras são muito espessas para que possa ocorrer um grau significativo de difusão: o sangue venoso misto não entra em contato com o ar. Portanto, as vias aéreas condutoras recebem a designação de espaço morto anatômico. O espaço morto anatômico é ilustrado na figura ao lado. O indivíduo inspira a partir de um balão preenchido com 500 mL de um gás-teste, como o hélio, que não é captado nem liberado pelo sangue dos capilares pulmonares. Inicialmente, nenhuma quantidade do gás-teste estará presente nas vias aéreas ou nos pulmões do indivíduo, o qual em seguida inspira os 500 mL de gás. Entretanto, nem todo o gás alcança os alvéolos. A porção final do gás inspirado permanece nas vias aéreas condutoras, enchendo-as completamente. O volume do gás-teste que alcança os alvéolos é igual ao volume inspirado do balão menos o volume do espaço morto anatômico, neste caso de 500 mL menos 150 mL, ou 350 mL. Os 350 mL de gás-teste misturam-se ao ar existente nos alvéolos e serão diluídos. Durante a expiração, o primeiro gás expirado para dentro do balão é o gás-teste sem qualquer diluição que permaneceu no espaço morto anatômico. Em seguida, o gás-teste não diluído passa a fazer parte do gás que alcançou os alvéolos e que foi diluído pelo ar alveolar. Os últimos 150 mL de gás alveolar expirados permanecem no espaço morto anatômico. A concentração do gás-teste coletado no balão após a expiração é mais baixa que antes da incursão respiratória, embora mais alta que a concentração deixada nos alvéolos e nas vias condutoras, pois esse ar é constituído pelo gás-teste puro proveniente do espaço morto anatômico e pelo gás-teste diluído proveniente dos alvéolos. # Espaço morto alveolar: Além do espaço morto anatômico, outra forma de ventilação desperdiçada no pulmão é o espaço morto alveolar, que é o volume de gás que penetra nos alvéolos que não são perfundidos a cada incursão respiratória. Portanto, o espaço morto alveolar é ventilado, porém, sem ser perfundido. Nenhuma troca gasosa ocorre nesses alvéolos por motivos muito mais “fisiológicos” que anatômicos. » Propriedades físico-químicas dos gases A inspiração traz o ar atmosférico para os alvéolos, onde o O2 é captado e o CO2 excretado. Assim, a ventilação alveolar se inicia com o ar ambiente. Este é uma mistura de gases composta de N2 e O2, com 35 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 quantidades mínimas de CO2 e gases nobres. A composição da mistura gasosa pode ser descrita em termos das frações gasosas ou das pressões parciais correspondentes. Como o ar atmosférico é um gás, ele obedece às leis dos gases. Quando essas leis são aplicadas ao ar ambiente, surgem dois importantes princípios. O primeiro é que quando os componentes são considerados em termos de frações gasosas (F) a soma das frações gasosas individuais deve ser igual a um. Segue-se, então, que a soma das pressões parciais (em mmHg) dos gases deve ser igual à pressão total. O segundo princípio importante é que a pressão parcial de um gás (Pgás) é igual à fração desse gás na mistura gasosa (Fgás) vezes a pressão total ou atmosférica (barométrica). A pressão total diminui com elevação da altitude acima do nível do mar, assim como as pressões dos gases (pressões parciais), porém a fração inspirada de um determinado gás continua a mesma. Como podemos ver na imagem ao lado, existem diferenças entre o gás atmosférico e o gás alveolar. Quando se inicia a inspiração o ar atmosférico é trazido para o interior das vias aéreas, onde ele é aquecido até a temperatura do corpo e umidificado. Os gases inspirados são saturados com vapor de água, que exerce pressão parcial e dilui a pressão total dos outros gases. A pressão do vapor de água, na temperatura corporal, é de 47 mmHg. Para calcular a pressão parcial de um gás em mistura umidificada, a pressão parcial do vapor de água deve ser subtraída da pressão barométrica total. Consequentemente, nas vias de condução aérea a pressão parcial de O2 é e a pressão parcial de N2 é 36 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 Note que a pressão total permaneceu em 760 mmHg (153 + 563 + 47 mmHg). No entanto, a pressão do vapor de água reduziu as pressões parciais de O2 e N2. Quando o gás inspirado atinge o alvéolo, o O2 é transportado através da membrana alveolar e o CO2 se move do leito capilar para o interior dos alvéolos. Ao final da inspiração e com a glote aberta a pressão total do alvéolo é atmosférica; então, as pressões parciais dos gases, no alvéolo, devem se igualar à pressão total, que, no caso, é a atmosférica. A composição da mistura gasosa, no entanto, é alterada. Como consequência da troca gasosa, a fração de O2 no alvéolo diminui e a fração de CO2 no alvéolo aumenta. Como ocorrem variações das frações de O2 e CO2, a pressão parcial exercida por esses gases também varia. Além disso, como pode ser observado na tabela abaixo, há uma diferença entra pressão alveolar e a pressão arterial de O2. A queda de cerca de 5 mmHg entre essas duas pressões deve-se a 3 fatores: (1) contaminação do sangue do ventrículo esquerdo pelo sangue venoso das veias mínimas do coração; (2) shunt entre as circulações brônquicas (pressão sistêmica) e pulmonar (baixa pressão); e (3) efeito shunt, quando sangue venoso atravessa capilares pulmonares de alvéolos não ventilados. Depois, a queda da pressão arterial de O2 para a pressão venosa mista reflete a quantidade de oxigênio cedida pelo sangue arterial para ostecidos. Por fim, a diferença entre a pressão arterial e a pressão parcial do CO2 no sangue venoso misto representa o adicional de pressão parcial determinado pelo CO2 transportado dos tecidos periféricos para o sangue capilar. ALÉM DE TUDO ISSO, o nosso metabolismo também pode modificar a composição dos gases. Para analisar isso, utilizamos o conceito de quociente respiratório. O quociente respiratório é a proporção entre o CO2 excretado e o O2 captado pelos pulmões. Esse quociente é a quantidade de CO2 produzida, em relação à quantidade de O2 consumida pelo metabolismo, e é dependente da ingestão calórica. O quociente respiratório varia entre 0,7 e 1,0, e é de 0,7 nos estados de metabolismo exclusivo de ácidos graxos e 1,0 nos estados de metabolismo exclusivo de carboidratos. Sob condições normais de dieta, o quociente respiratório é assumido como sendo de 0,8. Então, a quantidade de O2 captada excede a quantidade de CO2 que é liberada nos alvéolos. # Padrões de ventilação também podem alterar a composição dos gases: É evidente que, à medida que a ventilação alveolar aumenta, a PO2 alveolar também aumentará. A duplicação da ventilação alveolar, 37 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 porém, não será capaz de duplicar a PaO2 em uma pessoa cuja PO2 alveolar já é de aproximadamente 104 mmHg, uma vez que a PaO2 mais alta que poderia ser alcançada (respirando ar ao nível do mar) seria a PO2 inspirada de aproximadamente 149 mmHg. A PO2 alveolar pode ser calculada por meio da equação do ar alveolar. À medida que a ventilação alveolar aumenta, a PCO2 alveolar diminui, trazendo a PO2 alveolar para mais perto da PO2 inspirada, como se pode ver na parte da direita da figura abaixo. » Distribuição regional da ventilação alveolar Embora seja razoável pressupor que a ventilação alveolar se distribui de maneira bastante uniforme nos alvéolos espalhados pelos pulmões, na verdade isso não ocorre. Estudos realizados em indivíduos normais sentados com o tronco ereto mostraram que os alvéolos nas regiões inferiores dos pulmões recebem mais ventilação por unidade de volume que aqueles localizados nas regiões superiores do pulmão. Por que isso acontece? Anteriormente, a pressão superficial intrapleural foi discutida como se fosse uniforme em todo o tórax. Medidas precisas feitas para determinar as pressões superficiais intrapleurais de tórax intactos na posição ereta mostraram que isso não ocorre: a pressão superficial intrapleural é menos negativa nas regiões inferiores do tórax que nas regiões superiores. Existe um gradiente de pressão superficial intrapleural, de modo que, para cada centímetro de deslocamento descendente vertical sobre o pulmão (das regiões superiores para as regiões inferiores), a pressão superficial intrapleural aumenta em cerca de +0,2 a 0,5 cmH2O. Esse gradiente é causado aparentemente pela gravidade e pelas interações mecânicas entre o pulmão e a parede torácica. A influência desse gradiente da pressão superficial intrapleural sobre a ventilação alveolar regional pode ser explicada pela previsão de seu efeito sobre os gradientes de pressão transpulmonar nas regiões superiores e inferiores do pulmão. O lado esquerdo da figura ao lado mostra que a pressão alveolar é igual a zero em ambas as regiões do pulmão para a CRF. Já que a pressão intrapleural é mais negativa nas regiões superiores do pulmão que nas regiões inferiores, a pressão transpulmonar (alveolar menos intrapleural) é maior nas regiões superiores do pulmão que nas regiões inferiores. Considerando-se que os alvéolos nas regiões superiores do pulmão estão sujeitos a maiores pressões de distensão que aqueles localizados nas regiões mais inferiores do pulmão, eles têm volumes maiores que os alvéolos localizados nas regiões mais inferiores e, assim, são menos complacentes. 38 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 » Circulação pulmonar x Circulação sistêmica A artéria pulmonar e seus ramos têm paredes muito mais finas que as partes correspondentes da circulação sistêmica. A artéria pulmonar subdivide-se rapidamente em ramos terminais que têm paredes mais finas e de diâmetro interno maior que os ramos correspondentes da circulação arterial sistêmica. Existe muito menos músculo liso vascular nas paredes dos vasos da circulação arterial pulmonar e não existem vasos altamente musculares que correspondam às arteríolas sistêmicas. A circulação arterial pulmonar subdivide-se rapidamente ao longo de uma curta distância, acabando por ramificar-se nos aproximadamente 280 bilhões de capilares pulmonares, onde se processa a troca gasosa. As paredes finas e a pequena quantidade de músculo liso encontrado nas artérias pulmonares possuem importantes consequências fisiológicas. Os vasos pulmonares oferecem muito menos resistência ao fluxo sanguíneo que os vasos arteriais sistêmicos. São também muito mais distensíveis que os vasos arteriais sistêmicos. Esses fatores geram pressões intravasculares muito mais baixas que as observadas nas artérias sistêmicas, o que torna os vasos muito mais compressíveis. Os vasos pulmonares estão localizados no tórax e estão sujeitos às pressões alveolar e intrapleural que podem sofrer grandes modificações. Portanto, outros fatores, além do tônus do músculo liso vascular pulmonar, podem exercer profundos efeitos sobre a resistência vascular pulmonar (RVP). » Resistência vascular pulmonar (RVP) As quantidades relativamente pequenas de músculo liso vascular, as baixas pressões intravasculares e a alta distensibilidade da circulação pulmonar são os fatores ativos que influenciam a RVP. Gravidade, posição corporal, volume pulmonar, pressões alveolar e intra-pleural, pressões intravasculares e débito ventricular direito – são fatores passivos, ou seja, todos podem exercer profundos efeitos sobre a RVP sem qualquer alteração no tônus do músculo liso vascular pulmonar. São mais importantes que os fatores ativos e por isso alguns deles serão aqui explicados. 39 Gabriela Figueiredo Güntzel – ATM 24/1 # Fatores passivos ou extravasculares ➔ Volume pulmonar: Dois grupos diferentes de vasos pulmonares devem ser considerados na análise dos efeitos das alterações do volume pulmonar sobre a RVP: os vasos expostos à influência mecânica dos alvéolos - vasos alveolares - e os vasos maiores que não o são – vasos extra-alveolares. Para vasos alveolares: À medida que o volume pulmonar aumenta durante uma inspiração normal com pressão negativa, os alvéolos aumentam de volume. Enquanto os alvéolos se expandem, os vasos localizados entre eles, principalmente os capilares pulmonares, ficam alongados. Quando esses vasos são distendidos, seus diâmetros diminuem e a resistência ao fluxo sanguíneo através dos vasos alveolares aumenta. Para altos volumes pulmonares, a resistência ao fluxo sanguíneo oferecida pelos vasos alveolares aumenta acentuadamente; para baixos volumes pulmonares, a resistência ao fluxo sanguíneo oferecida pelos vasos alveolares diminui. Isso pode ser testemunhado na curva “alveolar”, na figura ao lado. Para vasos extra-alveolares: Um grupo de vasos extra- alveolares, as artérias e veias mais calibrosas, fica exposto à pressão intrapleural. À medida que o volume pulmonar aumenta ao tornar a pressão intrapleural mais negativa, o gradiente de pressão transpulmonar das artérias e veias mais calibrosas aumenta, esses vasos se distendem e a resistência ao fluxo sanguíneo diminui. Assim, para altos volumes pulmonares (alcançados pela respiração normal com pressão negativa), a resistência ao fluxo sanguíneo oferecida pelos vasos extra-alveolares diminui. Durante a expiração forçada para baixos volumes pulmonares, porém, a pressão intrapleural torna-se muito positiva, os vasos extra-alveolares são comprimidos e a resistência ao fluxo sanguíneo oferecida pelos vasos extra-alveolares
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