Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 UNIP - UNIVERSIDADE PAULISTA Instituto de Ciências Humanas Curso de Psicologia REFLEXÃO DO FILME ´´A CAÇA´´ Disciplina: Psicologia do Cotidiano Campus Assis – São Paulo 2022 4 1. SINOPSE “Lucas (Mads Mikkelsen) trabalha em uma creche. Simpático e amigo de todos, ele tenta reconstruir a vida após um divórcio complicado, no qual perdeu a guarda do filho. Tudo corre bem até que, um dia, a pequena Klara (Annika Wedderkopp), de apenas cinco anos, diz à diretora da creche que Lucas lhe mostrou suas partes íntimas. Klara na verdade não tem noção do que está dizendo, apenas quer se vingar por se sentir rejeitada em uma paixão infantil que nutre por Lucas. A acusação logo faz com que ele seja afastado do trabalho e, mesmo sem que haja algum tipo de comprovação, seja perseguido pelos habitantes da cidade em que vive. ” 1.1 FICHA TÉCNICA Direção: Thomas Vinterberg Elenco: Mads Mikkelsen, Thomas Bo Larsen e Annika Wedderkopp Gênero: Drama País: Dinamarca Ano: 2012 Classificação: 14 anos 4 De antemão, é possível estabelecer um paralelo entre o longa-metragem dinamarquês e primorosa palestra da escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie: ´´ O perigo de uma história única´´, na qual a temática se desenrola em torno da centralidade de uma sociedade onde é normalizado ouvir histórias únicas, ou seja, narradas por um ponto de vista uníssono, sobre um indivíduo ou um grupo de pessoas que, pela repetição, acabam por parecer definitivas. Ambas as obras apontam a primazia da execução do papel do psicólogo, que é, antes de tudo, observar o homem e os aspectos da sua subjetividade, afim de entender o funcionamento da sua psique - grego psykhé – e as várias versões do seu comportamento. O filme “A Caça”, de Thomas Vinterberg, articula uma visão clara e verdadeira de como a caça e o personagem caçador – Lucas participa dos grupos de caça (uma tradição local), se desdobram de uma forma que a sociedade deseja punição, mesmo sem ter certeza se ocorreu um crime, neste caso a pedofilia. Ao procurar o significado da palavra observação no dicionário, encontramos a seguinte definição: 1.ato ou efeito de observar (-se). 2.ação de considerar com atenção as coisas, os seres, os eventos. Do latim observatĭo, a observação é a ação ou efeito de examinar com atenção, olhar com pormenor, constatar. Ou seja, observar os fatos não é, e nunca foi, o equivalente a expor suas opiniões pessoais, sua conduta moral e crenças particulares! É uma atividade realizada com a finalidade de detectar e assimilar informação, também fazendo referência ao registo de certas ocorrências através da utilização de instrumentos. A observação faz parte complementar do método científico, e, como uma ciência, a psicologia apodera-se deste instrumento na realização de suas práticas. Ignorá-la como cientista é abraçar a natureza do censo comum, colocando a ´´ lente do juízo de valor ́ ´ diante dos fatos, cegando-se para realidades que não comtemplem o observador – psicólogo. A diretora da escola onde Klara (Annika Wedderkopp), antes de tomar providências cabíveis neste tipo de acusação, tenta averiguar a veracidade da declaração da criança. Para isso, chama um psicólogo para entrevistar a garota. Tal cena demonstra com perfeição como não deve ser a conduta do profissional – observador – com uma criança com suspeita de ter sido abusada. São realizadas 4 perguntas que agradem o entrevistador, por exemplo "É verdade que você viu o pipi de Lucas? ”. Estranhamente, ao ouvir essa pergunta, Klara balançou a cabeça em negativa, mas, diante da insistência do profissional, a menina finalmente confirma. Ou seja, cedeu e reproduziu o que o entrevistador gostaria de ouvir. É por equívocos como esse que é recomendada a realização de perguntas abertas, que não deem abertura para vias de interpretação subjetiva e que não induzam a uma resposta - do tipo "como tal coisa aconteceu?" Ou "descreva como foi aquele dia"). O filme não tem a intenção de mostrar o professor no viés de vítima diante das pessoas que o ´´caçam´´, propriamente dito, e nem de fazer com que essas pessoas sejam vistas como monstros cruéis. Os espectadores também têm o potencial de entender o ponto de vista de uma comunidade indignada com um possível abuso infantil, pondo-se papel de observador, e não de críticos de uma história única. O crítico de cinema Érico Borgo, expõe que: ´´Vinterberg, sabiamente, evita todos os clichês possíveis desse tipo de filme, concentrando sua história nos espaços vazios, em que pouco acontece, favorecendo a introspecção, a sutileza e valorizando a catarse. ´´
Compartilhar