Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
ESPECIALIZAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO HUMANO Sônia Bessa http://unar.info/ead2 APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO HUMANO Profª. Sônia Bessa 2 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA ............................................................................................................. 3 PROGRAMA DA DISCIPLINA ..................................................................................................................... 5 UNIDADE 01. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM - QUESTÕES FUNDAMENTAIS .... 7 UNIDADE 02. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA ....................................................................................................................................... 15 UNIDADE 03. PIAGET, VIGOTSKY: QUESTÕES DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO ................................................................................................................................. 22 UNIDADE 04. APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO - HENRI WALLON .......................... 30 UNIDADE 05. CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS ........................................................................................................................................... 36 UNIDADE 06. TEORIAS DA APRENDIZAGEM ................................................................................... 50 UNIDADE 07. FATORES DO DESENVOLVIMENTO ........................................................................ 57 UNIDADE 08. ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL ........................................... 67 UNIDADE 09. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM NA INFÂNCIA E IDADE ADULTA75 UNIDADE 10. CONSIDERAÇÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR ............................................ 93 3 APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA Adentrar ao universo do desenvolvimento humano é um estudo muito complexo, contudo, no último século essa área do conhecimento humano se desenvolveu muito e trouxe um novo olhar sobre o ser humano. A criança até então considerada um adulto em miniatura, começou a ser vista sob um aspecto individual e único. E nesses estudos não podemos deixar de considerar as relevantes contribuições de Piaget, Vigotsky e Wallon. Esses dois construtos teóricos contribuíram de forma significativa para a visão de infância que ora temos, como um ser ativo e integral dotado de uma forma peculiar de raciocinar. No mundo todo verificamos que tanto a construção teórico- metodológica quanto as práticas sociais e profissionais estão impregnadas de procedimentos que têm sua origem nessas teorias. A visão da criança depois dessas teorias não foi mais a mesma. Esta passou a ser vista como qualitativamente diferente do adulto, com características próprias nos campos da cognição, afetividade e moralidade. Essa disciplina tem como objetivos apresentar a visão e contribuição da psicologia do desenvolvimento para duas dimensões muito importante: a aprendizagem e o desenvolvimento, para tanto recorreu-se na primeira unidade a uma visão critico histórica da psicologia do desenvolvimento, na tentativa de contextualizar essas duas dimensões nas diferentes teorias. Na unidade 2 apresentar-se-á a importância do construtivismo de Piaget, com um modelo alternativo às teorias inatistas e empiristas até então dominantes nos cenários educacionais. Como o construtivismo não se restringe somente a Piaget considerou-se também as contribuições de Vigotsky e Wallon, as diferenças e similaridades entre esses três construtos teóricos, e como se complementam. 4 Na unidade 05 serão analisadas as concepções de ensino e como estas interferem na prática pedagógica. A importância dos métodos ativos na construção do conhecimento. Para complementar essa unidade, acrescentou-se a unidade 06, 07 e 08 caracterizando as principais teorias de aprendizagem os fatores e estágios do desenvolvimento humano. Na perspectiva do construtivismo foram ainda considerados os processos de aprendizagem da criança e do adulto na tentativa de apresentar ao estudante a possibilidade de identificar o fracasso escolar à luz das metodologias de ensino e aprendizagem. A disciplina apresenta muitas fontes de enriquecimento, tanto no espaço “ampliando os horizontes” como no “bebendo na fonte” são diagramas, vídeos e textos que muito pode acrescentar ao estudante. Espero que possa fazer bom uso desse material. 5 PROGRAMA DA DISCIPLINA Ementa Contexto histórico de desenvolvimento e aprendizagem; As teorias construtivistas de Piaget, Vigotsky e Wallon. Importância desses teóricos para a compreensão dos conceitos de desenvolvimento e aprendizagem. As teorias da aprendizagem e os fatores do desenvolvimento humano, concepções de aprendizagem e implicações educacionais, estágios do desenvolvimento, aprendizagem e desenvolvimento no contexto da criança e do adulto. Considerações sobre o fracasso escolar. Objetivos Conceituar aprendizagem e desenvolvimento à luz das teorias educacionais; Discutir a contribuição do construtivismo para a visão de aprendizagem e desenvolvimento; Relacionar desenvolvimento e aprendizagem com prática pedagógica; Analisar como as concepções de ensino acerca da aprendizagem e do desenvolvimento podem interferir na prática pedagógica; Caracterizar os estágios e os fatores do desenvolvimento; Diferenciar o desenvolvimento da criança e do adulto; Analisar fenômenos que podem interferir na aprendizagem e gerar fracasso escolar. Bibliografia Básica PIAGET, Jean. Para onde vai a educação. 26ª edição Editora JOSÉ Olympio. 2011. 6 Vigotski, L. S. (2000). A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes. DE LA TAILLE, KOLL,Marta. DANTAS H. Piaget Vigotsky e Wallon. Editora Summus. 1992. Bibliografia Complementar PIAGET, Jean e INELDER, Barber. A Psicologia da Criança. Summus Editora 2007. VIGOTSKY, Lev. A formação social da mente. Editora Martins Fontes. 1991. WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo:Editora Manole, 1989. MONTOYA, Adrian. O.D. Teoria da aprendizagem na obra de Jean Piaget. Editora da Unesp. 2009. MANTOVANI DE ASSIS. O. Z. Proepre: Fundamentos Teóricos da Educação Infantil. LPG/FE/UNICAMP, 2014. 7 UNIDADE 01. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM - QUESTÕES FUNDAMENTAIS Objetivos Estudar os processos históricos da psicologia do Desenvolvimento. Contextualizar a aprendizagem e o desenvolvimento no universo de teorias que discutem esses temas. Distinguir o enfoque da psicologia cognitiva, sócio cultural e epigenética identificando seus principais representantes. BEBENDO NA FONTE Quando iniciamos qualquer atividade profissional, algumas questões devem estar bem claras, como por exemplo, qual a matéria prima com a qual vou trabalhar? Que conhecimento tenho do meu principal ramo de trabalho? Os professores recém formados ao ingressar no mercado de trabalho devem também ter essas preocupações: quem é o meu aluno? Quem é ele intelectualmente? Do que ele é capaz? Como ele se desenvolve? Como acontece este processo de desenvolvimento? Sob que condições? Como é possível a ele a aquisição do conhecimento? O que é conhecer? O que é aprender? Muitas dessas questões são analisadas por Bessa, S. et.al. conforme descrição a seguir: O texto que se segue é um fragmento do original: BESSA, S. MOLINARI, A. ZAIA, L. RABIOGLIO, M e ORTIZ, M. Desenvolvimento e aprendizagem perspectiva crítica e histórica. Revista Cientifica UNAR – volume 8 número 1 ISSN 1982-4920 – julho 2014. Acesso em 8 http://revistaunar.com.br/cientifica/volumes-publicados/volume-8-no1-201409/09/2014. Desenvolvimento e aprendizagem perspectiva crítica e histórica Sonia BESSA Adriana M. Corder MOLINARI Lia Leme ZAIA Marta RABIOGLIO Mara Fernanda A. ORTIZ In: BESSA, S. MOLINARI, A. ZAIA, L. RABIOGLIO ,M e ORTIZ, M. Desenvolvimento e aprendizagem perspectiva crítica e histórica. Revista Cientifica UNAR – volume 8 número 1 ISSN 1982-4920 – julho 2014 Como o ser humano passa de um estado de dependência total no qual se encontra ao nascer, até o nível de capacidades intelectuais que lhe permitem assimilar as teorias cientificas mais sofisticadas produzidas pela ciência? Como se passa de um menor para um maior estado de conhecimento? E a aprendizagem? Como ocorre a aprendizagem? A inteligência é herdada ou adquirida? O que fazer para aprimorar os processos de aprendizagem? E a lógica é herdada ou adquirida? O que precisamos saber para ensinar a alguém alguma coisa? Essas são perguntas que muitas gerações ao longo da história humana vêm tentando responder e envolve as dimensões do desenvolvimento humano e os processos de ensino aprendizagem. Contudo não é possível pensar nas dimensões de aprendizagem e desenvolvimento implícitas nestes questionamentos, desconsiderando a questão do conhecimento. Ramozi Chiarottino (1995) diz que o problema da aprendizagem implica o problema do conhecimento, queiramos ou não, assim http://revistaunar.com.br/cientifica/volumes-publicados/volume-8-no1-2014%2009/09/2014 http://revistaunar.com.br/cientifica/volumes-publicados/volume-8-no1-2014%2009/09/2014 9 entendemos que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem é uma questão central para a prática pedagógica, sobretudo porque nos remete às questões relacionadas a o que ensinar (os conteúdos), como ensinar (o modo de organizar o ensino) e porque ensinar (a finalidade da educação escolar), ou seja, as concepções de ensino. Para Montoya (2009, p.20) toda teoria da aprendizagem depende, das concepções acerca da natureza da inteligência e do conhecimento e das hipóteses sobre seus mecanismos de aquisição e desenvolvimento. Ele diz que: Apesar de o estudo cientifico da aprendizagem e da inteligência ter sido intenso e profícuo no século XX, o impasse entre as teorias da aprendizagem e as da inteligência foi uma realidade constante: a aprendizagem obedecendo a leis associativas, e as teorias da inteligência a leis de totalidade; a aprendizagem privilegiando a repetição e ação do meio, e as teorias da inteligência os processos internos de invenção e criatividade. Em outros termos, a aprendizagem identificada com o empirismo e a inteligência com o apriorismo e o pré-formismo. (MONTOYA, 2009, p.20). As Práticas pedagógicas que verificamos em diferentes ambientes de ensino da Educação Infantil ao Ensino Superior remontam sempre a uma visão de mundo. Daí a importância do estudo sobre a psicologia do desenvolvimento humano. Uma das importâncias em se estudar o processo de desenvolvimento humano está justamente em sua relação com a aprendizagem. As teorias sobre o desenvolvimento humano, através de suas explicações sobre o que se desenvolve no homem e como se desenvolve, delimitam as possibilidades da aprendizagem, ou seja, avaliam se ela pode ou não interferir nesse desenvolvimento e – sobretudo – como ela pode nele interferir. Pode-se afirmar que a relação entre psicologia do desenvolvimento e educação, sobretudo em suas mediações com as teorias de conhecimento, é algo que acompanha a própria história do pensamento humano e constitui-se 10 como complexo e extenso campo de estudo nas três dimensões: desenvolvimento/ aprendizagem/ conhecimento. A importância concedida ao conhecimento do Desenvolvimento Humano é uma ocorrência relativamente recente na história do pensamento científico. Em suas origens, a Psicologia do Desenvolvimento esteve mais limitada ao desenvolvimento da criança, no sentido de descrever e explicar o indivíduo humano do nascimento até a adolescência. Na atualidade a Psicologia do Desenvolvimento abrange o estudo das mudanças psicológicas ao longo da vida. Cabe lembrar dois filósofos cujos escritos tiveram enorme influência sobre a história do desenvolvimento da criança, pois ambos desafiaram a visão dominante segundo a qual as diferenças humanas e as desigualdades sociais seriam determinadas primariamente pelo nascimento. Locke (1632-1704), que propôs que a mente da criança é uma espécie de tábula rasa na qual tudo pode ser gravado e o francês Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que formulou teses vigorosas, afirmando a bondade natural da criança e a influência exercida sobre ela pela sociedade. Outra grande influencia já na metade do século XIX foi de Darwin (1809- 1882) com sua tese da “seleção natural” segundo a qual a adaptação é sempre o resultado de um equilíbrio dinâmico entre as necessidades de um organismo e os recursos disponíveis no meio. O que levou os psicólogos à preocupação com a análise dos processos de adaptação funcional da criança ao meio. O contexto histórico, social e econômico do final do século XIX e inicio do século XX, a industrialização da Europa e da América do norte transformou a organização social da vida das pessoas e o papel das crianças na sociedade. As crianças passaram a ser mais um recurso de mão de obra, e as escolas públicas recém-criadas se expandiram, visando o ensino e o controle social dessas 11 crianças. Foi nesse contexto que surgiram os autores, as teorias e os métodos que dariam origem à moderna psicologia do desenvolvimento. Alguns pioneiros da Psicologia do Desenvolvimento são: Mark Baldwin (1861-1924), que foi considerado um dos fundadores da Psicologia do Desenvolvimento e exerceu grande influencia nos trabalhos de Piaget, Wallon e Gesel (1880-1961); foi o que deu origem à chamada orientação maturacionista, que considera o desenvolvimento psicológico como uma questão de maturação e de atualização do potencial genético do indivíduo. Wolfgang Kohler (1887- 1967) que lançou as bases da Gestalt e contribuiu para a compreensão do desenvolvimento da criança. Charlotte Buhler (1893-1974) que estudou o desenvolvimento mental da criança e do adulto. Lev Vigotsky (1896-1934) que construiu as bases do enfoque sociocultural do desenvolvimento. Henry Wallon (1896-1962), com suas contribuições sobre a relação natural, necessária e vital entre a criança e a sociedade. Heins Werner (1890-1964) com sua conceituação do principio ortogenético para explicação do desenvolvimento psicológico. Esses nomes juntamente com Sigmund Freud (1856-1939), John Watson (1878- 1958) e Jean Piaget (1896-1980) fazem parte do grupo de precursores das teorias: Psicanálise, Aprendizagem Social e Teoria Cognitiva respectivamente. A psicanálise de Freud conceitualizou os estágios de desenvolvimento psicossexuais e mais tarde Erik Erikson introduziu modificações, conceitualizando os estágios de desenvolvimento psicossocial que cobrem todo o ciclo de vida. A Psicanálise, entre outros aspectos, convenceu-nos de que os motivos inconscientes afetam nosso comportamento. Mostrou-nos que os primeiros anos de vida da criança são um período formador da maior importância no desenvolvimento da personalidade. Deu origem a várias mini- teorias atuais sobre tópicos de relevância social. A aprendizagem social lançada por Watson foi modificada por Skinner que é considerado o mais importante proponente da teoria da aprendizagem, 12 desenvolvida depois como aprendizagem social da criança por Staats, Bandura e outros. A Teoria da Aprendizagem Social mostrou-nos o efeito que o ambiente imediato pode ter sobre o comportamento. Contribuiu para o estudo das causas e consequências do comportamento observado, levando a perceberque muitos padrões de comportamento considerados inatos ou resultado de problemas emocionais profundamente enraizados, podem ser na verdade “comportamentos aprendidos que podem ser desaprendidos”. Essa compreensão permitiu que alguns problemas de comportamento específicos fossem analisados com vistas à mudança dos padrões de E-R que os vinculam (acessos de raiva, fobias, adições danosas). Ajudados pela Teoria da Aprendizagem Social pais e professores muitas vezes descobrem que eles estão reforçando exatamente o oposto do comportamento que eles desejam obter e aprendem formas de conduta mais apropriadas aos seus objetivos. É uma teoria muito criticada pelo seu modelo mecanicista e sua incapacidade de explicar as dimensões mais complexas do desenvolvimento. O enfoque da psicologia cognitiva piagetiana permitiu a compreensão dos diferentes tipos de pensamento que são possíveis às várias idades. Nele a criança é vista como eminentemente ativa, iniciadora da ação e movida pela curiosidade intelectual. A psicologia cognitiva abriu maiores possibilidades de compreensão de nossos processos de pensamento e do modo como eles afetam nossas ações. Foi com o pioneirismo de Piaget que a teoria cognitiva faz avançar enormemente a compreensão da cognição humana. Piaget é criticado por ter subestimado a importância da instrução e consequentemente o papel da sociedade, da escola e da família no favorecimento do desenvolvimento cognitivo. No Brasil Piaget ficou muito conhecido em especial através do trabalho de Emilia Ferreiro com a psicogênese da alfabetização. Piaget, Vigotsky e Wallon são conhecidos pelas suas propostas interacionistas. 13 Vigotsky, por várias razões de caráter social, histórico e político, não foi objeto de grandes elaborações na primeira metade do século e não se transformou em um grande sistema de explicação teórica, como aconteceu com Freud, Piaget e Watson. Foi nas últimas décadas que ocorreu a retomada das teses de Vigotsky. O enfoque Epigenético é de outra natureza e se apoia em pesquisas provenientes da Biologia, Genética, Etologia, Neurociências. Enfatiza as forças biológicas que afetam cada pessoa e toda a humanidade. Suas origens podem ser encontradas nos estudos etológicos de K. Lorenz (1903-1989) e de H. F. Harlow (1905-1995). De modo geral, admite-se que a convergência das pesquisas em Etologia e em Psicologia do Desenvolvimento ocorreu por volta dos anos 60, com o surgimento da Etologia Humana, destacando-se como seu grande representante o inglês J. Bowlby (1907-1990), enfatizando a interação entre os genes e o meio. Essa interação é vista pelos pesquisadores como dinâmica e recíproca e vem sendo considerada como a mais nova explicação do desenvolvimento humano. Referências RAMOZI CHIAROTTINO, Zélia. Em busca do sentido da obra de Jean Piaget. EDUSP. 1995. MONTOYA, Adrian O. D. Teoria da Aprendizagem na obra de Jean Piaget. Editora Unesp. 2009. AMPLIANDO HORIZONTES A seguir indicamos a leitura do texto: MEIRA, Marisa Eugênia Melillo. Desenvolvimento e aprendizagem: reflexões sobre suas relações e implicações para a prática docente. Ciênc. educ. (Bauru), Bauru , v. 5, n. 2, 1998 . Disponível em 14 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516- 73131998000200006&lng=pt&nrm=iso acesso em 27/08/2014. Esse texto apresenta questões sobre o conceito de maturidade e as proposta de Lev Vigotsky para as questões de aprendizagem e desenvolvimento. Proponho a leitura do texto, lembrando-se que essa é a perspectiva de um autor e que veremos outros autores ao longo do curso. Após a leitura, concentre-se nas seguintes questões: 1) Defina o conceito de maturidade e a relação deste com a aprendizagem e o desenvolvimento; 2) Qual a proposta de Lev Vigotsky para a questão da aprendizagem e o desenvolvimento e como essas duas dimensões se inter-relacionam na prática pedagógica; 3) Qual o papel das relações sociais no processo de construção do conhecimento na perspectiva de Vigotsky. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73131998000200006&lng=pt&nrm=iso http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-73131998000200006&lng=pt&nrm=iso 15 UNIDADE 02. DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: PERSPECTIVA CONSTRUTIVISTA Objetivos Avaliar a importância do construtivismo piagetiano para a visão de aprendizagem e desenvolvimento. Identificar a psicologia genética como uma alternativa as teorias empiristas e inatistas. Analisar o conceito de inteligência proposto por Jean Piaget. BEBENDO NA FONTE O construtivismo é uma teoria que emergiu dos avanços da ciência e da filosofia. Surgiu em meados do século 19 e início do século 20. Um dos pioneiros foi o suíço Jean Piaget. Esse é um modelo teórico que nos permite interpretar o mundo a nossa volta. Segundo Becker (2009) o construtivismo significa que nada está pronto e acabado e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do Indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento. Construtivismo não é uma prática ou um método; não é uma técnica de ensino nem uma forma de aprendizagem; não é um projeto escolar; é, sim, uma teoria que permite reinterpretar todas essas coisas. Piaget, contrário às visões empiristas e inatistas reinantes até então, alega que o conhecimento é um processo de construção entre o sujeito e o meio, mediado pela ação. É um processo de interação sujeito/objeto do 16 conhecimento. Piaget concluiu que as trocas que os indivíduos realizam com o meio são responsáveis pelas mudanças nas estruturas mentais. Esta visão é a mesma das teorias sociointeracionistas, elaboradas por Vigotsky e Wallon, e que entendem o conhecimento como algo que é construído pelo sujeito, em interação com o mundo dos objetos e das pessoas, por isso esses autores são denominados construtivistas. Na perspectiva de Piaget o ser humano possui três tipos de estruturas: Estruturas Programadas: Estruturas orgânicas em geral, que constituem os diferentes sistemas do organismo; Estruturas Parcialmente Programadas: Estruturas do sistema nervoso em geral; Estruturas Não Programadas: Estruturas da inteligência, específicas para conhecer. A possibilidade de conhecer segundo o construtivismo não é pré- formada no psiquismo humano, nem proveniente da realidade exterior. É o diálogo entre as estruturas do sujeito e o meio. Ao tratar do conhecimento e das relações com a aprendizagem e desenvolvimento nos deparamos com questões epistemológicas. Piaget chamou a sua teoria de epistemologia genética. Epistemologia porque epistemologia é filosofia da ciência, a parte que estuda o fenômeno do conhecimento e genética – é uma epistemologia da construção do conhecimento trata da gênese da evolução do conhecimento (estudo da gênese do conhecimento). Piaget propunha que para compreender a aprendizagem, é indispensável entender a relação com as estruturas lógicas do sujeito, ou seja, com a gênese e o desenvolvimento dessas estruturas. Como biólogo, ele foi bastante inspirado pelas observações das influências que os organismos sofrem do meio em que vivem. Analogamente, no âmbito do conhecimento, ele concluiu que as trocas que os indivíduos 17 realizam com o meio são responsáveis pelas mudanças nas estruturas mentais. Esta visão deu origem às teorias sociointeracionistas, elaboradas por diferentes autores como Freire (1970), Vigotsky (1991), Wallon (1989), e que entendemo conhecimento como algo que é construído pelo sujeito, em interação com o mundo dos objetos e das pessoas. Mantovani de Assis (2013), explicando a teoria piagetiana, diz que um dos princípios da teoria piagetiana está relacionada às representações da realidade que a pessoa tem. Essas representações dependem dos instrumentos lógicos que eles têm a sua disposição, que são as operações lógicas. Segundo Piaget, esses instrumentos não estão no genoma nem a título de programa. O que o ser humano herda é a possibilidade de vir a ser inteligente. Para Delval (2008) a inteligência não é uma capacidade que está determinada geneticamente desde o nascimento e que se desenvolve ao longo do tempo com o passar dos anos, mas sim uma capacidade que exige participação ativa do indivíduo. Os determinantes genéticos na inteligência se referem mais a forma de funcionamento e às disposições gerais do que às capacidades concretas. O desenvolvimento é sempre o produto de uma interação entre as capacidades herdadas e a influência do ambiente, que se estabelece por meio da atividade do sujeito. A construção é fruto de uma reestruturação que se perpetua pelas trocas que estabelecemos com o meio: tanto físico, como humano. Essa construção também não é explicada pelas aquisições que fazemos durante a vida. Ela é resultado da interação do sujeito com o meio. Essa troca permite a construção dos instrumentos lógicos, por isso que o a teoria de Piaget é conhecida como uma teoria interacionista. Ao contrário dos animais, os humanos ao nascerem não trazem consigo mecanismos hereditários complementares montados que são ativados ao contato com a experiência, os comportamentos que possibilitam sua adaptação ao mundo são adquiridos a partir das trocas que o 18 bebê começa a estabelecer com o meio físico e social desde seu nascimento. Nessas trocas a educação exerce um papel fundamental. O bebê que nasceu com todas as possibilidades biológicas necessárias para vir a ser inteligente, só conseguirá chegar às fases finais de seu desenvolvimento intelectual, dependendo das solicitações que o meio social lhe oferecer, ou seja, da qualidade da educação que receber. O desenvolvimento é um processo pelo qual as estruturas se processam e se constrói pelas trocas com o meio. Para Mantovani de Assis (2004, 2007, 2013) isso inclui ainda a afetividade e a moralidade. Cada etapa do processo de desenvolvimento supõe também novos processos de assimilação e uma acomodação, mudanças na estrutura. O gráfico a seguir apresenta a ação como desencadeador dos processos de assimilação e acomodação. Fonte:http://4.bp.blogspot.com/_s0SSjgqiXPs/R_IE_US2cjI/AAAAAAAAAO4/U2dwCaecFbM/s400/ esquema_piaget.png acesso em 28/08/2014 O desenvolvimento intelectual resulta de um processo de equilibração e com a possibilidade de autorregulação dessa equilibração. Os piagetianos chamam esses processos de fatores endógenos, comuns a todos os humanos. São as possibilidades de construção com que nascemos. Já os fatores exógenos http://4.bp.blogspot.com/_s0SSjgqiXPs/R_IE_US2cjI/AAAAAAAAAO4/U2dwCaecFbM/s400/esquema_piaget.png http://4.bp.blogspot.com/_s0SSjgqiXPs/R_IE_US2cjI/AAAAAAAAAO4/U2dwCaecFbM/s400/esquema_piaget.png http://4.bp.blogspot.com/_s0SSjgqiXPs/R_IE_US2cjI/AAAAAAAAAO4/U2dwCaecFbM/s400/esquema_piaget.png 19 são as solicitações do meio. O mapa conceitual a seguir permite verificar as diferentes relações a partir do processo de equilibração. Fonte:http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD- X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg - acesso em 28/08/2014. O sujeito não conhece o objeto tal qual ele é, mas conforme as estruturas o permitem. Becker (2009) diz que o desenvolvimento, ativado pela ação do sujeito, abre novos caminhos para a aprendizagem e como as aprendizagens http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg http://cursa.ihmc.us/rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G/Equilibra%C3%A7%C3%A3o.cmap?rid=1JB8L66D0-1S66FTD-X1G&partName=htmljpeg 20 desafiam o desenvolvimento a construir novos patamares que, por sua vez, possibilitam aprendizagens mais complexas do que aquelas que eram possíveis no patamar anterior, assim a capacidade de aprender não é inata, é construída e, inumeráveis vezes, reconstruída ao longo da vida em estrita dependência das condições objetivas que a sociedade puser à disposição dos indivíduos. Referências DELVAL, Juan. A Escola Possível. Editora Mercado das Letras. 2008. BECKER, Fernando. Prefácio. MONTOYA, Adrian, O. D. Teoria da Aprendizagem na obra de Jean Piaget. Editora da Unesp. 2009. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro. Edições Paz e Terra. 1970. VIGOTSKY, Lev. A formação social da mente. Editora Martins Fontes. 1991. WALLON, H. As origens do pensamento na criança. São Paulo:Editora Manole, 1989. MANTOVANI DE ASSIS. Orly Z. Proepre Fundamentos Teóricos para o Ensino Fundamental. LPG/FE/Unicamp. 2013. ________________Proepre Fundamentos Teoricos da Educação Infantil LPG/FE/UNICAMP. 2007. ________________Proepre: Prática Pedagógica. LPG/FE/UNICAMP. 2004. AMPLIANDO HORIZONTES Intentando propor ao estudante uma visão complementar sobre o tema do construtivismo piagetiano, recomendo a leitura do texto: PAULETTI, F. ROSA, M. FENNER, R. O sujeito epistêmico e a aprendizagem. Revista Scheme. Volume 6 Número 1 – Jan-Jul/2014 acesso em www.marilia.unesp.br/scheme. 2014. http://www.marilia.unesp.br/scheme.%202014 21 Após a leitura responda as seguintes questões: Explique os processos de assimilação/acomodação/adaptação à luz da aprendizagem escolar. Como, onde e quando ocorre o favorecimento da aprendizagem? Porque é tão importante que o professor tome conhecimento como ocorre o desenvolvimento e a aprendizagem? Será esse aspecto mais importante que o próprio domínio do conteúdo? Por quê? 22 UNIDADE 03. PIAGET, VIGOTSKY: QUESTÕES DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO Objetivos Relacionar diferenças e semelhanças dos conceitos de aprendizagem e desenvolvimento nos construtos teóricos de Piaget e Vigotsky. Comparar a contribuições dos dois autores para a psicologia do desenvolvimento humano. BEBENDO NA FONTE Nesse módulo escolhemos como tema de discussão a visão de Piaget e Vigotsky quanto a questão do desenvolvimento e da aprendizagem. Jean Piaget (1896-1980) foi bastante inspirado pelas observações das influências que os organismos sofrem do meio em que vivem. Analogamente, no âmbito do conhecimento, ele concluiu que as trocas que os indivíduos realizam com o meio são responsáveis pelas mudanças nas estruturas mentais. Esta visão é a mesma da teoria sociointeracionista, elaborada por Vigotsky, e que entende o conhecimento como algo que é construído pelo sujeito, em interação com o mundodos objetos e das pessoas. Mantovani de Assis (2013) explicando a teoria piagetiana diz que um dos princípios dessa teoria está relacionada às representações da realidade que a pessoa tem. Essas representações dependem dos instrumentos lógicos que eles têm a sua disposição, que são as operações lógicas. Esses instrumentos não estão no genoma nem a título de programa. O desenvolvimento é um processo pelo qual as estruturas se processam e se constrói pelas trocas com o meio. Para Mantovani de Assis (2007) isso inclui ainda a afetividade e a moralidade. Cada etapa do processo de desenvolvimento supõe também novos processos de assimilação e acomodação 23 e mudanças na estrutura. O desenvolvimento intelectual resulta de um processo de equilibração e com a possibilidade de autorregulação da equilibração. Os piagetianos chamam esse processo de fatores endógenos, comuns a todos os humanos. São as possibilidades de construção com que nascemos. Já os fatores exógenos são as solicitações do meio. O sujeito não conhece o objeto tal qual ele é, mas conforme as estruturas o permitem. Vasconcelos (1996) fala que Piaget difundiu a ideia de que o processo que leva a criança a conhecer o mundo é um processo de criação ativa, em que toda a aprendizagem se dá a partir da ação do sujeito sobre os objetos. Um sujeito intelectualmente ativo, que constrói seu conhecimento sobre a ação, não é um sujeito que tem apenas uma atividade observável, mas um sujeito que compara, exclui, categoriza, coopera, formula hipóteses e as reorganiza, também em ação interiorizada (VASCONCELOS, 1996, p.21). Piaget diferencia os processos de aprendizagem e desenvolvimento, e subordina um ao outro, mas numa relação interdependente. Ele diz que o desenvolvimento não pode ser reduzido a um conjunto de habilidades ou comportamentos aprendidos, por que a aprendizagem está sujeita as leis da lógica. O termo aprendizagem está restrito as aquisições em função da experiência. Por outro lado o processo de desenvolvimento é espontâneo, mas acontece apesar da escola, contudo Piaget (2011) responsabiliza a escola quando ele fala de direito a educação. O direito a educação não é só frequentar a escola, mas encontrar nessa escola tudo que ele precisa para construir as operações da lógica e uma consciência moral desperta. Pensamento partilhado por Saviani (2005) ao afirmar que a escola tem o papel de possibilitar o acesso das novas gerações ao mundo do saber sistematizado, do saber metódico, científico. 24 Libâneo (1996, p. 26 e 27) deixa claro que a função social da escola é a “construção do conhecimento”, o educador deve desempenhar bem o seu papel contribuindo com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Rego (1995) afirma que a escola não deve se restringir apenas à transmissão de conteúdos, mas principalmente, ensinar formas de acesso e apropriação do conhecimento elaborado. O segundo autor que nos deteremos é Lev Vigotsky (1896-1934). Embora Piaget e Vigotsky tenha feito a mesma pergunta: “como se passa de um menor para um maior conhecimento?”, as respostas de ambos tem algumas diferenças. Ambos consideram a relação de interdependência entre aprendizagem e desenvolvimento, contudo, diferentemente de Piaget, para Vigotsky e seus colaboradores a aprendizagem promove o desenvolvimento. Os seres humanos apropriam-se da cultura para se desenvolverem e para que ocorra o desenvolvimento da sociedade como um todo. Educação e desenvolvimento humano caminham juntos. Tessaro Leonardo e Silva (2013) dizem que Vigotsky caracteriza o processo de aprendizagem pelo surgimento de novas estruturas e aperfeiçoamento das antigas. A aprendizagem promove e desencadeia permanentemente o desenvolvimento de uma série de funções que se encontravam em fase de amadurecimento. Assim a aprendizagem e o desenvolvimento não coincidem inteiramente, mas são dois processos que estão em complexas inter-relações. Em Vigotsky (2000, p.322), o autor diz que “a aprendizagem está sempre adiante do desenvolvimento, que a criança adquire certos hábitos e habilidades numa área específica antes de aprender a aplicá-los de modo consciente e arbitrário”. Em outro texto à p. 303. Vigotsky diz que “um passo de aprendizagem pode significar cem passos de desenvolvimento” criando assim a zona de desenvolvimento próximo. Fino (2001) afirma que o conceito de zona de desenvolvimento próximo traz um novo sentido à relação professor-aluno, 25 pois devolve ao primeiro a importância de condutor do processo de aprendizagem e elucida seu papel no desenvolvimento psicológico dos alunos. Para Tessaro Leonardo e Silva (2013) a educação, quando organizada tendo em vista a zona de desenvolvimento próximo, promove desenvolvimento intelectual, à medida que propicia uma série de amadurecimentos de processos que sem a educação seriam impossíveis de desenvolver. Desta forma, a educação revela-se fundamental para o processo de desenvolvimento e aqui- sição das características históricas do homem. As funções psicológicas superiores, por serem culturais, desenvolvem-se principalmente pelo ensino formal, sistematizado nos conteúdos escolares. Vigotski (1977, p.47) afirma: [...] “aprendizado não é desenvolvimento, entretanto, o aprendizado adequadamente organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos de desenvolvimento que de outra forma seriam impossíveis de acontecer”. Assim o aprendizado é um aspecto necessário e universal do processo de desenvolvimento das funções psicológicas culturalmente organizadas e especificamente humanas. Como verificamos, tanto Piaget quanto Vigotsky tem como tema central de seus estudos as questões de desenvolvimento e aprendizagem. Segundo Kelssging (2008) nenhum dos dois psicólogos se defronta. Nem Piaget entende a sociedade meramente como um conjunto de individualistas que cultivam contato uns com os outros, nem Vigotsky descreve a sociedade com uma totalidade difusa, na qual o individuo teria simplesmente de se enquadrar. Os dois concebem a sociedade como estrutura de relações inter- humanas. Vigotsky explica o aprendizado individual através da troca social, e Piaget integra a ideia de relação social como uma relação de troca com o ambiente. Assim, segundo Lepre (2008), as teorias de Piaget e Vigotsky apresentam afinidades e divergências sobre determinados temas, mas comungam de uma 26 visão interacionista de desenvolvimento humano e aprendizagem. O interacionismo entende que o desenvolvimento e a aprendizagem humanos acontecem por meio da interação entre o indivíduo (questões internas) e o meio (dados externos) onde está inserido. Dessa forma, o ser humano é visto como um ser ativo que ao interagir com o mundo se desenvolve e aprende. A cultura e o momento histórico nos quais o sujeito está situado também influenciam o desenvolvimento das possibilidades cognoscentes. Enfim, esses dois construtos teóricos contribuíram de forma significativa para a visão de infância que ora temos, como um ser ativo e integral dotado de uma forma peculiar de raciocinar. No mundo todo verificamos que tanto a construção teórico-metodológica quanto as práticas sociais e profissionais estão impregnadas de procedimentos que têm sua origem nessas teorias. A visão da criança depois dessas teorias não foi mais a mesma. Segundo Lepre (2008), “essa passou a ser vista como qualitativamente diferente do adulto, com características próprias nos campos da cognição, afetividade e moralidade”. Referências FINO, C. N. Vygotky e a zona de desenvolvimento proximal (ZDP): três implicações pedagógicas. Revista Portuguesa de Educação, 14 (2) p. 273-291. 2001. KESSELRING. Thomas. Jean Piaget. 3ª edição EDUCS. 2008. LEPRE, Rita Melissa. Contribuições das teorias psicogenéticas à construção doconceito de infância: implicações pedagógicas. Rev. Teoria e Prática da Educação, v.11, n.3, p.309-318, set./dez. 2008. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia, Ciência da Educação? Selma G. Pimenta (Org.). São Paulo; Cortez, 1996, p. 127. MANTOVANI DE ASSIS. Orly Z. Proepre Fundamentos Teóricos para o Ensino Fundamental. LPG/FE/Unicamp. 2013. 27 ________________Proepre Fundamentos Teóricos da Educação Infantil LPG/FE/UNICAMP. 2007. PIAGET, Jean. Para onde vai a educação. 2ª edição Editora JOSÉ Olympio. 2011. REGO, T. C. Vigotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995. SAVIANI, D. Pedagogia Histórico-Crítica: Primeiras aproximações. 9. ed. Campinas: Autores Associados, 2005. TESSARO LEONARDO e SILVA. A relação entre aprendizagem e desenvolvimento na compreensão de professores do Ensino Fundamental. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. Volume 17, Número 2, Julho/Dezembro de 309-317. 2013. VASCONCELOS, M.S. A difusão das idéias de Piaget no Brasil. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1996. Vigotski, L. S. (2000). A Construção do Pensamento e da Linguagem. São Paulo: Martins Fontes. Vigotski, L.S. (1977). Aprendizagem e desenvolvimento na idade escolar. Em A. R. Luria, A. Leontiev & L. S. Vigotski, Psicologia e pedagogia: bases psicológicas da aprendizagem e do desenvolvimento (pp. 31-50). Lisboa: Estampa. AMPLIANDO HORIZONTES Compare os dois diagramas a seguir assinalando as semelhanças e diferenças entre os modelos de Piaget e Vigotsky. 28 Fonte: http://cmapspublic3.ihmc.us/rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0- 5H/Jean%20Piaget.cmap?rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0-5H&partName=htmljpeg acesso em 01/09/2014 http://cmapspublic3.ihmc.us/rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0-5H/Jean%20Piaget.cmap?rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0-5H&partName=htmljpeg http://cmapspublic3.ihmc.us/rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0-5H/Jean%20Piaget.cmap?rid=1HX8VKM3R-2B6V4G0-5H&partName=htmljpeg 29 Fonte: http://4.bp.blogspot.com/_rFbk2GlKyqE/TO1YeJDlRgI/AAAAAAAAAAw/pSDpUIFwN70/s1600/de senvolvimentoinfantil.jpg acesso em 01/09/2014 Assista o vídeo narrado por Yves de La Taille que encontra-se no youtube no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=RuShcmUC-cc acesso em 03/09/2014, e o vídeo narrado por Martha Koll que encontra-se em https://www.youtube.com/watch?v=dd2u2GsASuA . O primeiro é a descrição da teoria de Piaget e suas contribuições para a educação, o segundo trata da teoria de Vigotsky. Faça uma relação entre os dois, verificando a contribuição dos dois construtos. http://4.bp.blogspot.com/_rFbk2GlKyqE/TO1YeJDlRgI/AAAAAAAAAAw/pSDpUIFwN70/s1600/desenvolvimentoinfantil.jpg%20acesso%20em%2001/09/2014 http://4.bp.blogspot.com/_rFbk2GlKyqE/TO1YeJDlRgI/AAAAAAAAAAw/pSDpUIFwN70/s1600/desenvolvimentoinfantil.jpg%20acesso%20em%2001/09/2014 https://www.youtube.com/watch?v=RuShcmUC-cc https://www.youtube.com/watch?v=dd2u2GsASuA 30 UNIDADE 04. APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO - HENRI WALLON Objetivos Relacionar o construtivismo de Piaget, Vigotsky e Wallon. Descrever como as teorias construtivistas de Piaget, Vigotsky e Wallon se complementam. BEBENDO NA FONTE A terceira teoria que nos deteremos é a teoria psicogenética de Henri Wallon. Sua psicogenética é marcada pela filosofia e medicina. Wallon tinha uma preocupação em reafirmar a base orgânica das funções psíquicas, por isso, segundo Lepre (2008), buscou elaborar uma teoria do desenvolvimento cognitivo que estivesse centrada na psicogênese da pessoa completa. Para Galvão (2005), é grande a importância que a psicogenética walloniana atribui ao meio no desenvolvimento infantil. O conceito de meio inclui a dimensão das relações humanas, e dos objetos físicos e dos objetos do conhecimento, todas elas incluídas no contexto das culturas específicas. Segundo essa autora, sua psicologia genética, se utilizada como instrumento a serviço da reflexão pedagógica, oferece recursos para a construção de uma prática mais adequada às necessidades e possibilidades de cada etapa do desenvolvimento infantil. Sugere ainda que a educação deve ter por meta não somente o desenvolvimento intelectual, mas a pessoa como um todo. Segundo Galvão (1995), esse autor buscou elaborar uma teoria do desenvolvimento cognitivo que estivesse centrada na psicogênese da pessoa completa. Ao definir a inteligência, Wallon a concebe como genética e organicamente social, ou seja, o ser humano tem a sua estrutura orgânica intimamente ligada aos fatores sociais e culturais para se atualizar. Buscando 31 compreender o psiquismo humano, Wallon volta sua atenção para a criança, pois através dela é possível ter acesso à gênese dos processos psíquicos. De uma perspectiva abrangente e global, investiga a criança nos vários campos de sua atividade e nos vários momentos de sua evolução psíquica. Enfoca o desenvolvimento em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nas diferentes etapas, os vínculos entre cada campo e suas implicações com o todo representado pela personalidade (GALVÃO, 1995). Movimento, emoção, inteligência e personalidade foram os grandes temas pesquisados por Wallon. “Mas o grande eixo é a questão da motricidade; os outros surgem porque Wallon não consegue dissociá-lo do conjunto do funcionamento da pessoa” (DANTAS, 1992, p. 37). Segundo Wallon, o desenvolvimento da inteligência vai do ato motor ao ato mental, por meio de processos de internalização ativa da criança, que é concebida como um ser inicialmente fisiológico que com as interferências do social e da cultura passará a ter seu desenvolvimento biológico e psíquico intimamente ligado à interação com o meio. “Construindo-se mutuamente, sujeito e objeto, afetividade e inteligência, alternam-se na preponderância do consumo da energia psicogenética” (DANTAS, 1992, p. 42). A partir dessa constatação, Wallon define fases da inteligência nas quais há predominância ora de fatores afetivos/emocionais, ora de fatores cognitivos. O desenvolvimento infantil é descontínuo e marcado por contradições e conflitos, gerados pela maturação fisiológica e pelas condições ambientais, o que gera alterações qualitativas no comportamento da criança. Um dos pontos em que as psicogenéticas de Wallon e de Piaget se confrontam é justamente esse: o modo como ocorre o processo de desenvolvimento. Para Piaget, que pretendia a gênese da inteligência, o desenvolvimento é um processo contínuo, sem retrocessos, em que estruturas 32 anteriores servem de base para construções posteriores. Para Wallon, que pretendi a gênese da pessoa completa, o desenvolvimento é um processo descontínuo, não linear, e a passagem de um estágio para o outro é marcada por crises que afetam a conduta da criança. Essas crises, ora têm predominância de fatores afetivos, ora de fatores cognitivos. Para Lepre (2008), Wallon propõe cinco estágios no desenvolvimento do ser humano: O impulsivo-emocional (1o. ano), com predominância dos aspectos afetivos, em que o bebê apresentará suas primeiras reações à pessoas, às quais são consideradas mediadoras da sua relação com o mundo físico. É um estágio de construção do sujeito, onde o trabalho cognitivo está latente e indiferenciado da atividade afetiva. Conflito de natureza endógena. O sensório-motor e projetivo (até por volta do 3o. ano), em que surge a inteligência prática e que a criança poderá dedicar-se à construção da realidade. Por meio da aquisição da marcha, a criança ganha maior autonomia para explorar objetos físicos e espaços. Também nesse estágio ocorre o desenvolvimento da linguagem, possibilitado pela construção da função simbólica que, inicialmente, projeta-se em atos, por isso a denominação de projetiva. Predominância funcional cognitiva. Conflito de natureza exógena. O personalismo (dos 3aos 6 anos), que se refere à formação da personalidade. Neste estágio desenvolve-se a consciência de si mesmo, mediante as interações sociais com os outros. Exploração de si mesmo. Início do emprego do pronome Eu. Predominância afetiva. Conflito de natureza endógena. O categorial (dos 6 aos 11 anos), no qual a diferenciação da personalidade, conquistada no estágio anterior, possibilita grandes progressos intelectuais. Cresce o interesse pelo conhecimento. Construção das capacidades de seriação, classificação e categorização. Predominância das relações cognitivas. Os sentimentos são elaborados no plano mental. Conflito de natureza exógena. 33 Da puberdade e adolescência (a partir dos 11 anos), que é um estágio fecundo em conflitos. Retomada do conflito eu-outro, próprio do personalismo, agora desencadeado pela crise pubertária. Exploração de si mesmo com uma identidade autônoma, mediante atividades de confronto, autoafirmação e questionamentos. Predominância afetiva. Conflito de natureza endógena. Apesar da proposição de estágios de desenvolvimento, Wallon afirma que há extrema dependência e estreita relação entre eles e que a criança é um ser integral. Para esse autor, estudar a criança, além de trazer compreensões sobre o psiquismo humano, contribui de forma significativa para a Educação. Ao contrário de Piaget, a preocupação pedagógica é presença forte na psicologia de Wallon. Piaget, Vigotsky e Wallon consideram o movimento do pensamento dialético, passando da ação para a conceituação, na construção de conhecimentos, assim as atividades propostas no ambiente escolar devem sempre partir da própria atividade do aluno, da interação com o objeto de aprendizagem. Enfim, esses três construtos teóricos contribuíram de forma significativa para a visão de infância que ora temos, como um ser ativo e integral dotado de uma forma peculiar de raciocinar. A visão da criança depois dessas teorias não foi mais o mesmo. Segundo Lepre (2008), “essa passou a ser vista como qualitativamente diferente do adulto, com características próprias nos campos da cognição, afetividade e moralidade”. Referências DANTAS, Heloísa. Henri Walon. In: DE LA TAILLE, KOLL,Marta. DANTAS H. Piaget Vigotsky e Walon. Editora Summus 1992. DE LA TAILLE, KOLL,Marta. DANTAS H. Piaget Vigotsky e Walon. Editora Summus. 1992. 34 GALVÃO, Isabel. Henry Wallon: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Atica. 1995 LEPRE, Rita Melissa. Contribuições das teorias psicogenéticas à construção do conceito de infância: implicações pedagógicas. Rev. Teoria e Prática da Educação, v.11, n.3, p.309-318, set./dez. 2008. AMPLIANDO HORIZONTES Compare o diagrama de Henri Wallon com os já apresentados no módulo 3 comparando os pressupostos básicos das três teorias discutidas. Fonte: http://praticadepaalinemadrid.pbworks.com/f/1178066653/Henri%20Wallon.jpg acesso em 01/09/2014. Assista no youtube o vídeo da Atta Vídeo narrado por Isabel Galvão que se encontra no seguinte endereço: https://www.youtube.com/watch?v=Vf7B2QUHmU4 acesso em 03/09/2014. http://praticadepaalinemadrid.pbworks.com/f/1178066653/Henri%20Wallon.jpg https://www.youtube.com/watch?v=Vf7B2QUHmU4 35 O artigo indicado a seguir representa uma síntese das três teorias apresentadas nos módulos 2, 3 e 4. LEPRE, Rita Melissa. Contribuições das teorias psicogenéticas à construção do conceito de infância: implicações pedagógicas. Rev. Teoria e prática da educação, v.11, n.3, p.309-318, set./dez. 2008. Http://www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n3/007_rita-309-318.pdf. acesso em 01/09/2014. http://www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n3/007_rita-309-318.pdf.%20acesso%20em%2001/09/2014 http://www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n3/007_rita-309-318.pdf.%20acesso%20em%2001/09/2014 36 UNIDADE 05. CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS Objetivos Identificar as diferentes formas como as concepções de educação interferem nos processos educacionais. Destacar a importância dos métodos ativos na construção do conhecimento. BEBENDO NA FONTE Nos módulos anteriores foi visto e discutido os conceitos de aprendizagem na perspectiva de autores construtivistas como Piaget, Vigotsky e Wallon. Nesse módulo estudaremos algumas implicações educacionais da visão construtivista para a prática diária do professor. Analisando o diagrama a seguir verifica-se que compreender, aplicar, problematizar e refletir não são pressupostos só para os alunos. O professor faz isso constantemente à medida que relaciona prática e teoria. A forma como o professor consegue fazer eficazmente essa relação pode ou não permitir esse processo de construção do conhecimento. É necessária uma constante atividade de reflexão sobre a ação. A ação é importante, contudo não basta, é necessário coordenar essas ações. Compreender implica em aplicar, problematizar e refletir a prática com base na teoria. 37 Fonte:http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais15/Sem11/silvacoelho_arquivos/i mg08.jpg Acesso em 01/09/2014. Uma das implicações educacionais das teorias interacionistas diz respeito aos métodos de ensino. Segundo Piaget (2011), seria preciso proceder a uma revisão dos métodos de ensino e do espírito de todo o ensino, com uma formação mais científica em detrimento de uma formação literária. Segundo esse autor é comum considerar via de regra, a existência de diferenças individuais de aptidão entre os alunos, diferença cuja importância aumenta com a idade e de tal forma que alguns apresentam-se mais dotados para a matemática e física, por exemplo, enquanto outros só poderão apresentar resultados medíocres nessas matérias. Os mais aptos são encaminhados por pais e professores para profissões com maior status social como medicina, engenharia e os “menos aptos” para áreas consideradas mais “fáceis” como as licenciaturas. Os supostos “bons alunos” em matemática ou física estão em igual nível de inteligência dos demais, a vantagem sobre os demais está na adaptação ao tipo de ensino que lhe é fornecido e que estes estariam perfeitamente aptos a compreender os assuntos que parecem não compreender, contanto que estes lhes cheguem através de outros caminhos, ou http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem11/silvacoelho_arquivos/img08.jpg http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem11/silvacoelho_arquivos/img08.jpg http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais15/Sem11/silvacoelho_arquivos/img08.jpg 38 como diz Piaget (2011) “o recurso aos métodos ativos, conferindo-se especial relevo à pesquisa espontânea e exigindo-se que toda verdade a ser adquirida seja reinventada pelo aluno, ou pelo menos reconstruída e não simplesmente transmitida” (p.15). Nessa perspectiva as concepções de educação podem fazer toda a diferença. Piaget (2011) diz que muitos conteúdos atuais, interessantes e vibrantes são apresentados de forma arcaica fundamentados na simples transmissão de conhecimentos, é sobretudo levar o aluno a reinventar aquilo de que é capaz, ao invés de se limitar a ouvir e repetir. Negligenciar a formação dos alunos no tocante a experimentação pode causar prejuízos para toda a sociedade. Piaget (2011) diz que se existe um setor no qual os métodos ativos se deverão impor no mais amplo sentido da palavra, é sem dúvida o da aquisição das técnicas de experimentação, pois uma experiência que não seja realizada pela própria pessoa, com plena liberdade de iniciativa, deixa de ser, por definição, uma experiência, transformando-se em simples adestramento, destituído de valor formador por falta da compreensão suficiente dos pormenores das etapas sucessivas. O progresso científico depende de espíritos inovadores de preferência a espíritos conformistas.Para Piaget os conhecimentos derivam da ação, não no sentido de meras respostas associativas, como as propostas por Skinner, mas no sentido muito mais profundo da associação do real com as coordenações gerais da ação. Conhecer um objeto nessa perspectiva é agir sobre ele e transformá-lo, apreendendo os mecanismos dessa transformação vinculados com as ações transformadoras. A demonstração favorece apenas a percepção, e os aspectos figurativos do pensamento e limita o aluno de fazer suas próprias experiências. Cabe a escola promover uma “educação do espírito experimental e um ensino das ciências físicas que insista mais sobre a pesquisa e a descoberta do que sobre a repetição” (PIAGET, 2006, p. 60). 39 Para Piaget somente num ambiente de métodos ativos pode o aluno dar seu pleno rendimento, e só se compreende realmente os fatos e as interpretações quando se está dedicado pessoalmente a uma pesquisa. Tais métodos são os que levam em conta a natureza própria de quem aprende e apela para as leis da constituição psicológica do indivíduo e de seu desenvolvimento, isso implica passividade ou atividade. Outros grandes educadores além de Piaget já tinham essa percepção da atividade de quem aprende. Rousseau percebeu que cada idade tem suas capacidades e que não se aprende nada a não ser por uma conquista ativa, e que o aluno deve reinventar a ciência em vez de repetir suas fórmulas verbais. Pestalozzi, discípulo de Rousseau e Froebel, são precursores dos métodos ativos. Para Montessori a criança aprende mais pela ação do que pelo pensamento; um material conveniente, que sirva para alimentar essa ação, conduz mais rapidamente ao conhecimento do que os melhores livros e do que a própria linguagem. Decroly criou o método global e os centros de interesse a partir da perspectiva do trabalho ativo. Outros nomes como Dewey e Claparede também são precursores dos métodos ativos. Segundo Piaget (2006), é na pesquisa e através dela que a profissão de professor deixa de ser uma simples profissão e ultrapassa mesmo o nível de uma vocação efetiva para adquirir a dignidade de toda profissão ligada ao mesmo tempo à arte e à ciência, porque a educação só poderia ser compreendida em seus métodos e suas aplicações tomando-se o cuidado de analisar em detalhes seus princípios e de controlar o seu valor psicológico quanto a significação da infância, a estrutura do pensamento da criança, as leis de desenvolvimento e o mecanismo da vida social. Freire (2011) diz que não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. O educando pesquisador é um aprendiz que confirmará ou não a hipótese levantada diante da investigação, considerando uma determinada metodologia de estudo. 40 Para uma melhoria qualitativa da educação requer-se uma melhor preparação do professor, isso é primordial, sem isso é inútil organizar belos programas ou ainda construir teorias a respeito do que deve ser feito. É importante ser levado em conta a questão da valorização ou revalorização do professor, e a formação intelectual e moral, para tanto propõe-se uma estreita união do ensino e da pesquisa e pesquisas de grupos dirigidas por representantes de especialidades complementares, trabalhando em constante cooperação. É necessário que o professor abra mão da transmissão, mas com o cuidado de não cair no outro extremo, apenas da demonstração, cofundindo demonstração com experimentação. Alguns incorrem nesse erro e insistem que o aluno deve sempre começar pelo “concreto”. A demonstração favorece apenas a percepção, e os aspectos figurativos do pensamento, limita o aluno de fazer suas próprias experiências. Tais métodos são os que levam em conta a natureza própria de quem aprende e apela para as leis da constituição psicológica do indivíduo e de seu desenvolvimento, isso implica passividade ou atividade. Mas a pesquisa não cabe somente ao aluno, em especial o professor precisa se tornar um pesquisador da natureza humana, conhecer a criança com a qual trabalha saber como ela aprende naquele período específico da vida, qual o conteúdo apropriado para sua fase de desenvolvimento, etc. Referências FREIRE, P. Educação e Mudança. 34. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2011. PIAGET, Jean. Para onde vai a educação. 26. Ed. Editora José Olympio. 2011. PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Editora Forense universitária. São Paulo 2006. 41 AMPLIANDO HORIZONTES O texto que se segue é um fragmento do original, de Sueli de Fátima cuja fonte original está em: http://www.slmb.ueg.br/iconeletras/artigos/volume6/aprendizagem-e-suas- implicacoes.pdf acesso em 02/09/2014. Após a leitura do texto descreva as implicações que a autora apresenta. Justifique a razoabilidade destas implicações. Aprendizagem e suas implicações no processo educativo Sueli de Fátima Alexandre Alguns teóricos consideram a aprendizagem como um processo mútuo, em que o aprendiz utiliza-se de inúmeras maneiras e diferentes mecanismos para aprender. Ao aprender algo novo tem seu comportamento modificado em vários aspectos, lhe proporcionado um novo olhar sobre a realidade empírica. A sociedade atual por estar em um contexto que sofre constantes modificações estruturais exige do sistema educacional adaptações capazes de preparar o educando para assumir uma vida profissional satisfatória as exigências do mercado de trabalho, bem como ainda saber lidar com diferentes situações e emoções. Assim, cabe ao educador estar inteirado destas transformações e conduzir o educando a um bom aprendizado. Para auxiliar nessa jornada educacional, existem várias teorias, como o Inatismo, o Empirismo, o Behaviorismo, o Construtivismo, o Intercionismo, entre outras, que ao longo do percurso escolar servem de apoio no processo de aprendizagem. A necessidade da aprendizagem é algo inerente em qualquer indivíduo desde o nascimento, não importando o grau de capacidade ou de dificuldade http://www.slmb.ueg.br/iconeletras/artigos/volume6/aprendizagem-e-suas-implicacoes.pdf http://www.slmb.ueg.br/iconeletras/artigos/volume6/aprendizagem-e-suas-implicacoes.pdf 42 que apresenta, portanto, essa necessidade deve ser estimulada com precisão e sabedoria, e o ambiente escolar, familiar e social são, sem dúvida, o lugar onde essa aprendizagem ocorre com mais satisfação, pois a criança constrói seu saber diário ao observar as pequenas coisas com as quais convive nesses ambientes. Assim, tem-se no educador um dos principais responsáveis pelo sucesso ou insucesso do aprendiz, a peça chave, que tem em mãos o poder de trabalhar não apenas o aprendizado de conhecimentos teóricos, mas também a afetividade dos alunos, pois quando a criança aprende a lidar com as diferentes emoções aprenderá a superar as diferentes dificuldades que enfrentará durante o percurso não só escolar, mas também na vida profissional e social (FERNANDÉZ, 2001 e INOUE, 1999). Nos dias atuais a aprendizagem continua sendo o principal canal de transmissão de normas e valores, em que por meio de um processo dinâmico e progressivo tem facultado ao indivíduo múltiplas situações de aprendizagem, possibilitando-lhe a construção do conhecimento de maneira bem mais atraente. 1. Conceito de aprendizagem É praticamente impossível uma definição precisa e abrangente de um conceito tão amplo quanto o de aprendizagem, até o momento a ciência e as correntes teóricas levantaram pressupostos sobre esse processo, mas ainda não foram capazes de responder com total certeza sobre o que ocorre no cérebro de uma pessoa quando ela aprende alguma coisa. É suposto que durante o processo de aquisição do conhecimento ocorrem modificações no sistema nervoso, porém essas mudanças ainda não foram precisamente detectadas. Segundo Assunção (2004, p.12), 43[...] pela impossibilidade de observação direta, a aprendizagem é constatada e estudada de maneira indireta. Ela é estudada através dos efeitos que ela causa no comportamento. Para conceituar aprendizagem, portanto, é preciso analisar as suas consequências sobre a conduta. Dessa maneira, a aprendizagem é vista como um processo de mudança de comportamento obtido por meio da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais resultantes da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente em que se vive, levando em consideração os conceitos culturais que o grupo social conhece e considera correto. É, então, o resultado das experiências anteriormente adquiridas, visto que cada experiência acrescenta aos indivíduos novos saberes, e são justamente esses saberes que trazem mudanças de comportamento. Se antes de aprender o indivíduo agia de forma incorreta, agora, com a aprendizagem, irá agir de forma diferente, demonstrando que aprendeu. A busca pela aprendizagem é inata no ser humano, desde pequeno sente necessidade de demonstrar o que sabe fazer, ou seja, que é capaz de aprender. Para Alicia Fernandez (2001), todo sujeito tem a sua maneira própria de aprendizagem e os meios de construir o conhecimento, esse processo inicia- se desde o nascimento e constitui-se em molde ou esquema, sendo fruto do inconsciente simbólico. Assim, as mudanças que acontecem no comportamento da pessoa são resultados do vínculo entre as experiências anteriores e os novos conhecimentos adquiridos. Essas mudanças podem ser facilmente observadas em crianças, pois tudo que existe ao seu redor é novo e desperta curiosidades. É por meio dessas experiências que elas aprendem a falar, andar, comer, agradar as pessoas que as cercam. 44 2. Aprender: diferentes perspectivas Quando se faz uma investigação mais detalhada sobre o tema aprendizagem, algumas reflexões devem ser feitas, deve-se inicialmente questionar com muita ênfase alguns itens como: que tipo de aprendiz é o aluno de hoje? Quais tipos de aprendizagens são necessárias na atualidade? Quais são as diferentes perspectivas de aprendizagem? Quais perspectivas de aprendizagem são mais aceitas hoje em dia? A sociedade atual passa por diversas modificações estruturais, especialmente na forma de ver seu próprio desenvolvimento, hodiernamente o conhecimento tem se tornado primordial para o crescimento de indivíduos e de nações, dentro desta perspectiva o ato de aprender também passa a ser visto sob diferentes nuances. Fica cada vez mais evidente a necessidade de uma aprendizagem mais dinâmica e voltada para os desejos da sociedade ora intitulada sociedade do conhecimento. Nesse contexto o aluno ideal é aquele capaz de assimilar informações de maneira rápida e de diferentes formas, seria então: um aprendiz auditivo (aprende por meio de ondas sonoras), um aprendiz visual (aprende com os olhos), um aprendiz sinestésico (aprende com o tato). Assim, o aprendiz inserido dentro do contexto atual é aquele que possui as habilidades citadas acima, claro que com preponderância de uma sobre a outra, sabendo utilizá-las dentro dos padrões exigidos. Pensando nesse “aprendiz ideal” não há mais lugar para o aprendiz passivo, que apenas ouve a mensagem aceitando-a do jeito que lhe é transmitido, pois tanto individual quanto na coletividade, enquanto sujeito ensinante e aprendente, o homem constrói a própria vida fundamentado na eterna arte de aprender. Esse processo de aquisição de conhecimento pode ser agradável ou doloroso, depende, em fim, de como é adquirido. Em primeira instância é um processo cognitivo, e como processo, está inter-relacionado há inúmeros fatores que envolvem o homem em sua totalidade: emocional, físico e intelectualmente. É sempre um 45 processo subjetivo e individual, inerente a cada pessoa, uma vez que ele envolve aspectos da personalidade de cada um e está ligado às expectativas, experiências, anseios e receios, envolvendo, desta forma, toda a história pessoal. Assim, nem todas as pessoas aprendem as mesmas coisas da mesma maneira e com a mesma profundidade, cada indivíduo aprende coisas novas atribuindo- lhes significados ou valores diferentes de acordo com sua história pessoal e a história de seu grupo social, pois a aprendizagem está vinculada aos estímulos que se recebe do meio onde se vive. A busca pelo entendimento ao processo de aprendizagem é instigante e sempre despertou a curiosidade de correntes teóricas que buscam explicações relacionadas à natureza do ato de aprender (BEAUCLAIR, 2008), dentre elas destacamos: (1) Inatismo: uma corrente fundamentada na filosofia racionalista e idealista que considera os eventos pós-nascimento essenciais para o desenvolvimento do ser humano. (2) Empirismo: contrariamente aos inatistas, os empiristas afirmam que a razão, a verdade e os princípios racionais são adquiridos por meio da experiência, antes dela a razão é equiparada a uma “folha em branco”, onde nada foi escrito, uma “tábula rasa”, onde nada foi gravado, uma cera informe e sem nada impresso, até que a experiência escreva na folha, grave na tábula, dando forma à cera. Aqui os conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, em que as sensações, os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sentimos sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso, o quente e o frio, etc. (CHAUÍ, 2000; KARL POPPER apud DAMÁZIO, 2000). (3) Construtivismo: criado por Jean Piaget objetiva investigar a forma como ocorre a estruturação do conhecimento e como este se efetiva por meio da ação do sujeito sobre o meio (CHAUÍ, 2000). Aqui o processo de aquisição do conhecimento é construtivo, porque ocorre uma construção/estruturação contínua do saber que leva a passagem de 46 estados de menor conhecimento para estado de conhecimentos maiores, uma construção que ocorre por meio de um processo de desenvolvimento de estruturas cognitivas e linguísticas que a criança "possui naturalmente", sem depender de intervenções de ensino e de condições socioculturais. O conhecimento é construído a partir do momento em que a criança elabora a sua própria ideia a respeito do objeto do conhecimento, devendo haver uma relação de reciprocidade entre o sujeito e esse objeto. Dessa forma, o desenvolvimento ocorre de maneira gradual e crescente por meio da interação entre sujeito e objeto. (4) Interacionismo: defendido por Vigotsky , o interacionismo acredita na ação mútua, tanto do sujeito quanto do ambiente, em que o conhecimento acontece de forma dialética, a partir das interações com o meio onde se vive. Nesse sentido, o conhecimento não é determinado nem pelo meio nem no interior do próprio sujeito, mas na interação entre sujeito e meio. Aprender, dentro dessa concepção é, portanto, construir uma linguagem interna a partir da interação dialética com o meio sócio-histórico-cultural em que o indivíduo vive, sendo que o desenvolvimento é mediado por outros indivíduos, especialmente por meio da linguagem. 3. O processo de aprendizagem O vocábulo aprendizagem deriva da raiz latina apreender, que significa aproximar-se para tomar posse de algo, ou ainda, apropriar-se de algo. Assim, aprender é a necessidade mais imperativa na vida da criança em sua fase inicial, na maioria das vezes elas aprendem brincando, de forma espontânea e alegre com outras crianças de sua faixa etária ou até mesmo com idade superior a sua. Para elas, o importante é adquirir conhecimento em tudo o que fazem. O processo de aprendizagem é extremamente complexo, pois envolve aspectos cognitivos, emocionais, orgânicos, psicossociais e culturais. Tal 47 processo é desencadeado a partir da motivação que ocorre no interior doindivíduo. Ensinar e aprender andam juntos, são fatores interligados e interdependentes. Nesse sentido, não há como entender o processo de aprendizagem em sua totalidade, principalmente em sala de aula, pois cada educando possui uma forma pessoal de aprender (isso ocorre devido às situações e características psicológicas, genéticas e culturais) pode-se afirmar que todos conhecem o mundo por meio do convívio, da adaptação com o meio social, portanto, o indivíduo inicialmente aprende pela convivência, fator primordial para que a criança demonstre toda sua espontaneidade. Dentro do processo de aprendizagem deve-se considerar a construção do conhecimento e a construção de si próprio como ser pensante e criativo. Assim, a criança no ato de aprendizagem além de aprender coisas novas, constrói sua própria imagem, suas características básicas. 4. Relevância da aprendizagem A aprendizagem é fator decisivo para a vida e sobrevivência do indivíduo, é por meio dela que o homem se afirma como ser racional, constitui sua personalidade e se prepara para cumprir o papel que lhe é reservado na sociedade a qual pertence (PAIN, 1985). Portanto, aprender a lidar com o desconhecido, com o conflito, com o inusitado, com o erro, com as dificuldades, transformar informação em conhecimento, ser seletivo e buscar na pesquisa as alternativas para resolver os problemas que surgem, são tarefas que farão parte do cotidiano das pessoas. Assim, o ambiente onde a criança vive é fundamental para seu desenvolvimento enquanto cidadão, pois influencia em seu aprendizado, na interação com outras pessoas, especialmente com outras crianças, pois estão em fase de mudanças intensas, além, ainda, da apropriação dos costumes, tradições e valores que seu grupo social conhece e julga como necessários para 48 sua vida em sociedade. Nesse sentido, quando se trata de aprendizagem escolar precisa-se considerar tudo que influencia na aprendizagem do educando, para que ele adquira efetivamente uma aprendizagem sólida e duradoura. Considerações finais A aprendizagem é um processo cognitivo, mas também um processo bastante complexo que envolve o ser humano na sua totalidade, emocionalmente, intelectualmente e fisicamente, sendo sempre um processo individual e subjetivo inerente a cada indivíduo, uma vez que envolve a personalidade de cada um, as suas expectativas e experiências pessoais, envolvendo, por isso, toda a sua história pessoal e a sua componente psíquica e mental. Por isso nem todas as pessoas aprendem as mesmas coisas a partir da interação com o meio físico, social e cultural que nos rodeia e nem todas as pessoas conseguem aprender as mesmas coisas da mesma maneira. Cada um aprende novas coisas apropriando essas aprendizagens à sua mente, à sua personalidade, ao seu próprio EU físico e psíquico, criando significados diferentes para essas mesmas aprendizagens. É efetuada uma síntese entre aquilo que somos e que já sabemos e aquilo que aprendemos de novo. O processo de aprendizagem ocorre tanto de maneira planejada, como de maneira natural, espontânea, mas, ele é um processo constante e inacabado, pois acompanha o homem desde seu nascimento até o fim dos seus dias. É importante compreender que a aprendizagem anda junto com o crescimento, é o adquirimento gradativo da independência pessoal. Nesse processo educativo a criança aprende a transferir os afetos para o grupo familiar e a busca identificação em colegas e professores. Assim, o principal desafio dos pais e professores é ajudar a criança a adquirir confiança em si mesma, a acreditar na própria capacidade. É importante 49 saber que as pessoas aprendem de diferentes maneiras e que sua energia pode ser encaminhada para encontrar estratégias adequadas para a aprendizagem, ao invés de procurar maneiras de esconder suas dificuldades. Por isso os educadores têm grande responsabilidade em detectar tais dificuldades e procurar saná-las. As crianças precisam de um ambiente estimulador, seguro, onde sejam motivadas a enfrentarem suas limitações. As crianças precisam conhecer seus pontos fortes, precisam receber incentivos e elogios quando produzem algo, pois aprendem pela imagem de si mesmas que recebem do outro. Assim, pais e professores são os principais responsáveis por instigar na criança o conhecimento de suas capacidades e dificuldades. Referências BEAUCLAIR, João. Ensinar é acreditar. Coleção Ensinantes do Presente, volume I. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2008. CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo, Ática, 2000. FERNANDÉZ, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamento. Porto Alegre, Editora Artmed, 2001. INOUE, Ana Amélia et al. Temas transversais e educação em valores humanos. Editora Fundação Peirópolis, São Paulo, 1999. PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médias, 1985. 50 UNIDADE 06. TEORIAS DA APRENDIZAGEM Objetivos Caracterizar e discutir os principais modelos e teorias da aprendizagem humana; Analisar as concepções da aprendizagem, identificando quais fatores determinantes; Verificar como as teorias da aprendizagem influenciam o processo educacional. BEBENDO NA FONTE Teoria é uma construção humana e que serve para interpretar uma determinada área do conhecimento. Geralmente elas preveem e explicam alguns fenômenos a partir de conceitos e princípios. Os conceitos são usados para pensar e dar respostas, já os princípios são relações mais ou menos significativas entre os conceitos. Geralmente as teorias são bem mais amplas que os princípios, contudo subjacente às teorias, estão sistemas de valores, crenças, cosmovisão que de uma forma ou de outra se correlacionam. Nos sistemas educacionais desde a antiguidade até os dias atuais, surgiram muitos modelos que explicam as questões do conhecimento, do desenvolvimento e da aprendizagem. Nessa unidade iremos nos deter nas questões relacionadas às teorias da aprendizagem. O conceito de aprendizagem vai depender da concepção de educação. Uma definição de aprendizagem bem aceita é a de que a aprendizagem é condicionamento, mudança de comportamento, aquisição de informação. Outra definição de aprendizagem também aceita por muitos é que aprendizagem é capacidade de resolução de problemas, e construção de novos significados. Esses dois conceitos apresentados tem concepções bem diferentes 51 e são oriundo das teorias de aprendizagem comportamentalista e cognitivista respectivamente. Existem ainda os significados não compartilhados que permeia o senso comum da prática escolar. Para Montoya (2009) toda teoria da aprendizagem depende das concepções acerca da natureza da inteligência, do conhecimento e das hipóteses sobre seus mecanismos de aquisição e desenvolvimento. Outro autor que apresenta uma visão semelhante é Luckesi (2001). Ele diz que todo sistema Pedagógico, toda forma de ensinar carregam implícitos, queiramos ou não uma prática educativa que se apoia nas ideias que o professor tem sobre como se aprende, como funciona a inteligência e qual o desenvolvimento intelectual dos alunos. A maneira de ensinar revela qual o sistema teórico, a filosofia aceita pelo professor. Paulo Freire afirma que a educação, qualquer que seja ela, é sempre uma teoria do conhecimento posto em prática. As teorias de aprendizagem não devem ser confundidas com os modelos de ensino, porque são construídas para interpretar a aprendizagem, e geralmente representa o ponto de vista de um autor, de vários autores ou os seguidores desses autores. Com o passar do tempo algumas teorias vão se modificando influenciadas por fatores sociais, políticos, culturais e econômicos daquele período vivido. Vejamos um exemplo do
Compartilhar