Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A HORA DO PLANETA – OPINIÃO PÚBLICA YAGUI, Mirian Midori Peres Resumo Este trabalho tem como intuito identificar e compreender quais as estratégias utilizadas pela organização não-governamental WWF para atingir a opinião pública por meio da ação global por ela desenvolvida, denominada Hora do Planeta. Sua elaboração tem por objetivo apresentar uma discussão teórica embasada nos principais autores que tratam sobre as questões diretamente ligadas à formação da opinião pública e aplicar esses conceitos na análise desta ação implementada pela WWF. Para a elaboração deste trabalho, utilizou-se a bibliografia indicada no segundo módulo do curso de especialização lato sensu Gestão da Comunicação: Políticas, Educação e Cultura, além do conteúdo apresentado em sala de aula. A partir da análise, foi possível verificar que a Hora do Planeta apresenta outros interesses que vão além da mobilização da sociedade. Palavras-chave: Opinião Pública. WWF. Hora do Planeta. 3 Sumário 1. Introdução .................................................................................................................................. 4 2. Objeto de estudos: WWF .......................................................................................................... 5 2.1 A Hora do Planeta ................................................................................................................. 6 3. Referencial Teórico.................................................................................................................... 7 4. Estratégias ................................................................................................................................ 10 5. Considerações Finais ............................................................................................................... 14 6. Referências ............................................................................................................................... 15 6.1 Referências Bibliográficas .................................................................................................. 15 6.2 Referências Digitais ............................................................................................................ 15 4 1. Introdução Este trabalho tem como intuito analisar as estratégias utilizadas pela organização não- governamental WWF para atingir a opinião pública por meio da campanha de mudança social denominada Hora do Planeta. Segundo Kotler (1989, p.06), uma campanha de mudança social é um esforço organizado, conduzido por um grupo (o agente de mudança), o qual pretende persuadir outros (o público-alvo) a aceitar, modificar, ou abandonar certas idéias, atitudes, práticas e comportamentos. A Hora do Planeta constitui-se numa ação de mobilização da sociedade com o objetivo de envolvê-la no combate ao aquecimento global. Mas trata-se não apenas de uma mobilização social, mas também de uma grande estratégia publicitária para o reconhecimento do papel da WWF no mundo, o que numa análise mais profunda poderia gerar, conseqüentemente, uma maior adesão por parte dos indivíduos na filiação, nas doações e nas parcerias corporativas com esta organização. Ao mesmo tempo, as empresas que associam o seu nome a essa campanha, além de financiarem a causa da WWF, apresentam-se com empresas responsáveis social e ambientalmente, bem como divulgam o seu nome nacional e mundialmente. Para compreender todo esse contexto, este trabalho primeiramente apresentará um breve histórico sobre a WWF e a Hora do Planeta no Brasil e no Mundo. Posteriormente, realizará uma discussão teórica abordando alguns aspectos sobre opinião pública, como o seu conceito, quais fatores influem sua formação, o papel da tecnologia e das fontes de informação em sua constituição e o acesso a essas fontes de informação, discutindo sobre a inclusão digital. Este conteúdo servirá para o embasamento teórico da análise das estratégias utilizadas pela WWF na efetivação da Hora do Planeta e para atingir a opinião pública. 5 2. Objeto de estudos: WWF Evolução do logo. (Fonte: www.wwf.org.br) O WWF é uma organização não-governamental com atuação em mais de cem países e o apoio de cerca de cinco milhões de pessoas, incluindo associados e voluntários. Ela atua no Brasil desde a década de 1970, apoiando projetos de conservação da natureza e teve grande visibilidade no auxílio ao programa de conservação do mico-leão-dourado e ao projeto Tamar. Entre as décadas de 1980 e 1990, muitos projetos desenvolvidos por estudantes e pesquisadores brasileiros eram financiados por diferentes organizações sociais da rede WWF, como a WWF-EUA e a WWF-Reino Unido. Logo se tornou necessária a criação de um escritório de representação no Brasil, o que ocorreu em 1990. Essa unidade era mantida pelo WWF-EUA e, ao longo dos anos, foi crescendo continuamente, recebendo em 1994 uma autorização para criar sua estrutura própria. No ano de 1996, foi criada oficialmente a WWF-Brasil, sediada em Brasília e cujo objetivo é desenvolver atividades de apoio à pesquisa, legislação e políticas públicas, educação ambiental e comunicação, com a parceria de ONGs regionais, universidades e órgãos governamentais. Com a criação desta sede, a instituição passa a ser mantida também com o apoio de doadores, filiados e parcerias corporativas. 6 De modo geral, e de acordo com a sua missão, a WWF visa contribuir para que “a sociedade brasileira conserve a natureza, harmonizando a atividade humana com a conservação da biodiversidade e com o uso racional dos recursos naturais, para o benefício dos cidadãos de hoje e das futuras gerações” (WWF, 2010). Este trabalho tratará especificamente sobre a iniciativa global da WWF denominada Hora do Planeta (Earth Hour), que tem por intuito mobilizar pessoas, empresas e governo para mostrar seu apoio pelo combate ao aquecimento global. 2.1 A Hora do Planeta Campanha publicitária. (Fonte: www.earthhour.org) A Hora do Planeta é um ato simbólico no qual, governos, empresas e cidadãos são convidados a apagar as luzes pelo período de uma hora para mostrar seu apoio ao combate ao aquecimento global. É uma forma de comunicação entre os próprios manifestantes e entre estes e seus governos. Segundo a WWF, em nível global, a Hora do Planeta é uma das ações que serão desenvolvidas para que a população se manifeste de forma a influenciar as autoridades locais e mundiais para a redução das emissões globais de gases de efeito estufa. A Hora do Planeta teve início em 2007, em Sydney, quando 2,2 milhões de pessoas e mais de duas mil empresas apagaram as luzes por uma hora para mostrarem seu apoio ao combate ao aquecimento global. Só um ano depois a Hora do Planeta tornou-se um movimento com mais de cinquenta milhões de pessoas dentre os trinta países participantes. Marcos e monumentos importantes das cidades apagaram suas luzes durante essa mobilização. 7 Em março de 2009, centenas de milhares de pessoas participaram da terceira Hora do Planeta. Oficialmente foram quatro mil cidades em oitenta e oito países, o que tornou a Hora do Planeta 2009 a maior iniciativa no mundo relacionada às mudanças climáticas globais. Nesse ano, milhões de brasileiros apagaram as suas luzes e mostraram sua preocupação com o aquecimento global. No total cento e treze cidades brasileiras, incluindo treze capitais, participaram da Hora do Planeta 2009. Ícones como o Cristo Redentor, a Ponte Estaiada, o Congresso Nacional e o Teatro Amazonas ficaram no escuro por sessenta minutos. Em 2010, esse movimento ultrapassou os números de 2009, com cento e vinte e nove paísesparticipantes. Este trabalho irá analisar, com base no referencial teórico apresentado a seguir, as estratégias utilizadas pela WWF para atingir a opinião pública por meio da Hora do Planeta. 3. Referencial Teórico A opinião pública, segundo Glynn (et al, 1999), possui cinco diferentes definições. A primeira compreende a opinião pública como norma social, crença da maioria, ou seja, como elemento construído socialmente. A segunda entende que ela é constituída pela soma das opiniões individuais. A terceira e a quarta abordam a opinião pública como formada pela pressão dos grupos de interesse e como opinião da mídia e da elite respectivamente. Estas duas últimas definições estão ligadas diretamente com a questão da imposição e da hegemonia. E, finalmente, a quinta que a define como não existente. A autora afirma que para assumir uma dessas definições, há a influência de alguns fatores, tais como: “o tipo de pesquisa que está sendo realizada; as condições históricas [que] freqüentemente ditam o tipo de definição utilizada; o tipo de tecnologia existente em uma sociedade em particular, num determinado momento”. (GLYNN et al, 1999) Nesse contexto, Augras (1978) expõe mais alguns fatores que não só influenciam na adoção de uma daquelas definições, mas também influem na formação da opinião. Dentre eles estão os fatores psicológicos, que abrangem o nível interpessoal, ou seja, a formação de atitudes e opiniões, motivações e mecanismos de defesa; os fatores sociológicos que tratam sobre o nível 8 social e o espaço onde são constituídas as atitudes do grupo; e os fatores circunstanciais que abordam o nível histórico, como acontecimentos que levam a conscientização da opinião pública. É possível citar algumas características que ajudam a compreender a opinião pública de uma forma mais ampla e generalizada. Primeiramente, a opinião pública é dinâmica, muda de acordo com as situações. Essa mudança pode ocorrer por meio da consistência e repetição de uma determinada informação, bem como pela intensidade das ações. Outro ponto a ser mencionado é que uma maneira de pensar pode ganhar o coletivo, pois, como reflete Augras (1978, p.12), “a existência da opinião não aparece independente da de líderes de opinião”. De modo geral, segundo a autora (ibidem, p.16), “a opinião é consciente, carrega em si uma intenção de racionalidade, se situa no plano emocional e é um fenômeno social”. Sua expressão se torna mais relevante na medida em que os meios de comunicação se desenvolvem, mas também, a partir das estratégias de comunicação pode ocorrer a manipulação da opinião por meio do discurso. Nesse contexto, nota-se a importância do papel da imprensa na formação da opinião pública e na disseminação de informações e opiniões. A liberdade de imprensa, ou seja, esse livre fluxo de informações, permite que o regime democrático funcione, como expõe Bucci A democracia guarda, nos seus fundamentos, o princípio de que o poder emana do povo e em seu nome é exercido. Disso resulta que, sem o livre fluxo de informações e opiniões, o regime democrático não funciona, a roda não gira. A delegação do poder e o exercício do poder delegado dependem do compartilhamento dos temas de interesse público entre os cidadãos. Quanto mais inclusiva, mais a democracia se empenha em expandir o universo dos que têm acesso à informação e garante transparência na gestão da coisa pública. [...]. (BUCCI, 2008, p. 46) Nesse sentido, ainda segundo o mesmo autor, para que a imprensa cumpra o papel de informar, é necessário que ela fiscalize o poder, pois só a partir desta fiscalização será possível limitar o exercício do poder na democracia. Esse poder não se caracteriza apenas pelos governos e partidos políticos, mas também “a essas novas formas de poder que se armam no âmbito do mercado, formalmente fora do Estado” (ibidem, p.48), como os meios de comunicação. Outro autor que trata sobre a questão da democracia vinculada ao livre acesso às informações é Ferrari (2000). Segundo o autor 9 Se democracia significa liberdade e igualdade no gozo de direitos e de oportunidades, parece claro que a informação livre, como acentuado no início, dela constitui um fundamento essencial. A palavra que nos interessa deve ser lida, antes de mais nada, separando-se o seu prefixo inicial: in-formação. Compreende-se assim que “informação” não é somente “o ato de informar” como diz o vocabulário, mas em geral é parte essencial do processo de formação de conhecimentos, de opiniões e, portanto, da própria personalidade do indivíduo: a parte que age mediante a interação do sujeito com o mundo externo (ibidem, p.165) A liberdade de informação muitas vezes é compreendida apenas sob o ponto de vista da gestão sem censura das informações. No entanto, ela vai além disso também abrangendo a liberdade de aceder as fontes de informação. Decerto, as tecnologias de informação e comunicação (TICs) permitem o exercício da democracia, no entanto, o acesso a essas tecnologias ainda é restrito. Este fato suscita a questão da inclusão digital, que não se resume apenas ao acesso a computadores e conexões da internet, pois abrange um complexo conjunto de fatores, como “recursos e relacionamentos físicos, digitais, humanos e sociais. Para proporcionar acesso significativo a novas tecnologias, o conteúdo, a língua, o letramento, a educação e as estruturas comunitárias e institucionais devem todos ser levados em consideração”. (WARSCHAUER, 2006, p.21) Segundo o autor, as tecnologias de informação e comunicação não consistem numa variável externa a ser inserida, como são vistas pela concepção usual da inclusão digital, mas sim, se entrelaçam de maneira complexa nos sistemas e processos sociais. A partir desse ponto de vista, nota-se a importância de não dar apenas um enfoque ao acesso à tecnologia, mas ver a utilização da TIC como um processo de inclusão social. Portanto, é necessário criar políticas para expandir o acesso e o uso da TIC para promover inclusão social. Essas políticas, segundo Warschauer, podem abranger desde a disponibilização de recursos para as pesquisas voltadas ao desenvolvimento de computadores e acesso à internet de baixo custo, até o incentivo para a realização de pesquisas para compreender melhor o que pode acarretar o acesso restrito a TIC. De modo similar, como defensores sociais, podemos trabalhar para distribuir equipamento de informática, mas também como um passo na direção de um propósito maior de ajudar as pessoas a participar plenamente da economia da informação e da sociedade de rede. Essa participação, além de requerer acesso físico a computadores e à conectividade, também exige acesso a habilidades e ao conhecimento, ao conteúdo e à língua, e à comunidade a ao apoio social precisos, para ser capaz de utilizar a TIC para finalidades significativas. As tarefas são imensas, assim como o desafio: reduzir a marginalização, a pobreza e a desigualdade, e estender a inclusão social e econômica para todos. (WARSCHAUER, 2006, p.289) 10 Todo esse processo para a inclusão digital e conseqüente inclusão social não será completo, democrático, se o acesso às informações provindas das TICs vierem de uma única fonte, ou seja, se houver a monopolização das fontes informativas. A informação unilateral “direciona a personalidade para canais preestabelecidos, limitando objetivamente a oportunidade de escolha e a capacidade crítica do indivíduo, prejudicando desta forma a sua participação nos processos democráticos” (FERRARI, 2000, p.165), além de contaminar o processo de formação das opiniões. Dentro dessa perspectiva encontra-se a questão do direito de informar e ser informado. O direito de informar consiste no direito de constituir e gerir fontes de informação, enquanto que o direito de ser informado é o direito a aceder às fontes de informação, a umapluralidade de fontes informativas diferenciadas entre elas. É na efetivação destes direitos que se constitui a democracia. Aliás, não só a constitui, mas também é funcional aos seus propósitos, como descreve Ferrari (2000, p.171) Quanto mais o poder é concentrado, mais se restringe a área “privada” na qual não se admitem interferências dos detentores do poder “público”. Quanto mais o poder é concentrado, mais seus detentores procuram, com específicos instrumentos normativos, definir como “público” seu interesse pessoal e protegê-lo como tal. Uma democracia é tão mais sólida quanto mais o poder seja subdividido, fragmentado em uma gama de centros capazes de se controlarem reciprocamente. A multiplicação das fontes de informação é, portanto, funcional à própria democracia. Portanto, multiplicar as fontes de informação, bem como ampliar o seu acesso é garantir o direito do cidadão, possibilitar que este construa conhecimentos e opiniões, e permitir que o regime democrático funcione. 4. Estratégias Para atingir a opinião pública, a WWF utilizou diversas estratégias na viabilização da Hora do Planeta. Primeiramente, se aproveitaram do momento histórico em que as questões sobre o aquecimento global estavam em alta. Momento este em que houve o lançamento do filme An Inconvenient Truth produzido por Al Gore, o qual tratava sobre o aquecimento global; a 11 publicação do relatório Stern sobre os efeitos da mudança climática; e a divulgação do relatório sobre os riscos do aumento das temperaturas elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC). Nesse contexto, pode-se fazer um paralelo com o fator circunstancial abordado por Augras (1978), no qual os acontecimentos históricos podem levar a conscientização da opinião pública. Portanto, já existia um princípio de mobilização mundial com relação às questões voltadas ao aquecimento global, que poderia ser alavancado por meio de uma grande campanha publicitária denominada Hora do Planeta. O início do planejamento e elaboração dessa ação de mobilização foi feito em conjunto com a agência de publicidade Leo Burnett em Sydney, com o intuito de envolver os australianos sobre a questão das alterações climáticas. Eles já tinham a intenção de desenvolver o conceito de grande escala “desligar”, o qual inicialmente teve o título de The Big Flick. Posteriormente, verificaram que o nome se restringia muito ao “apagar as luzes”, o que distanciava o projeto do propósito inicial de mobilização para as mudanças climáticas. A agência Leo Burnett, então, criou o nome Earth Hour permitindo ampliar o foco da campanha do simples apagar de luzes para a questão da sustentabilidade. O conceito do Earth Hour foi levado para a maior companhia de media da Austrália e Nova Zelândia, Fairfax Media, com o pedido de que apoiassem o evento, o qual foi aceito. Portanto, esse evento foi anunciado em jornais, revistas, rádio e websites influentes nesses dois países. Em sua obra, Kotler (1989, p.11) abordou a questão de que quanto mais a campanha de mudança social se assemelha a campanha comercial de um produto, mais sucesso ela obterá. É o que ocorre com a Hora do Planeta, que foi elaborada como uma grande campanha comercial, com o auxílio de publicitários, além de sua veiculação nas grandes mídias. O autor também aborda alguns pontos identificados por Lazarsfeld e Merton para que uma campanha de informação de massa orientada pela media seja bem sucedida. O primeiro ponto trata sobre a monopolização, ou seja, uma campanha deve constituir um monopólio na mídia e não possuir mensagens contrárias ao objetivo da campanha. Este ponto é evidenciado na campanha Hora do Planeta, por se tratar de um assunto que diz respeito e atinge a vida de todos, portanto, não há mensagens contrárias sendo veiculadas. Inclusive, aqueles que veicularem 12 mensagens contrárias estarão sujeitos a uma rejeição grande por parte da sociedade como um todo. O segundo aborda que tais campanhas dependem de uma atitude do público favorável. E por fim, expõe que campanhas sociais funcionam melhor quando a comunicação de media orientada é suplementada pela comunicação cara-a-cara. Quando as pessoas discutem entre si o que ouviram de outras, elas processam melhor as informações e tornam-se mais dispostas a aceitar as mudanças. Uma das características que auxiliaram no bem sucedido resultado desta campanha é a facilidade para aderir a ela. A adesão para participação efetiva da Hora do Planeta é feita por meio de um cadastro na internet. A partir daí, o cadastrado possui a sua disposição ferramentas para a divulgação desta ação, enviando e-mails padronizados aos seus contatos, além dos seus e- mails comuns possuírem um informativo sobre a Hora do Planeta na “nota de rodapé”. Os cadastrados também são convidados a divulgar esta ação por meio do “boca-a-boca”, como pôde ser visto durante alguns dias na avenida Paulista jovens conversando com os pedestres na tentativa de mobilizá-los para a campanha da WWF, bem como para se filiarem a esta instituição, enquadrando esse aspecto dentre os pontos citados por Lazarsfeld e Merton. Àqueles que não querem se cadastrar, basta desligar a luz de sua casa, escritório, no horário e dia agendados. A WWF utiliza os meios de informação e comunicação para mobilizar instituições, empresas, órgãos governamentais, enviando convites para que eles participem da campanha. Utilizam desses meios para veicular chamadas para a participação nesta ação, criar ambientes de discussão, divulgar as Horas do Planeta realizadas nos anos anteriores. No caso do Brasil, o espaço dedicado à Hora do Planeta no site da WWF justifica porque os brasileiros deveriam aderir a esta campanha, utilizando o discurso do Brasil como país rico em biodiversidade que deve ser preservada. Já no site da Hora do Planeta brasileiro, é possível visualizar quais instituições e empresas já aderiam a campanha, bem como as empresas que apóiam e patrocinam essa iniciativa. Dentre elas estão grandes empresas como a Coca-Cola Brasil, a Tim, o HSBC e o Walmart Brasil. O fato dessa campanha ter adquirido proporções mundiais deve-se a globalização e aos meios de comunicação, bem como a influência da atuação da WWF em vários países. Desde o princípio, essa campanha foi configurada como uma grande estratégia publicitária, de forma a consolidar o papel da WWF no mundo. A consolidação de sua imagem poderia, por um lado, 13 gerar uma maior adesão por parte dos indivíduos na filiação, nas doações e nas parcerias corporativas com esta organização. Por outro, disseminar o seu discurso ambientalista e de conscientização que, na visão da autora deste trabalho, parece vazia, pois não se configura como uma ação educativa, onde a mobilização transcenderia as paredes da casa dos indivíduos, realizando desde ações pequenas como separação do lixo para reciclagem, não jogar lixo e entulho nas ruas, até a reivindicação junto às empresas para que reduzam a poluição, etc. Aparentemente, tornou-se uma forma de angariar fundos para a Ong por meio do patrocínio das empresas e, ao mesmo tempo trazer benefícios para as empresas associando o seu nome à essa campanha e à WWF, apresentando-as como responsáveis social e ambientalmente, bem como divulgando o seu nome nacional e mundialmente. Talvez caiba aqui a afirmação exposta por Ferrari, na qual os detentores do poder (grandes instituições e corporações) procuram definir como “público” o seu interesse pessoal e defendê-lo com tal. Decerto, pelas proporções em que hoje se configura a Hora do Planeta, e também devido a todas as estratégias e ferramentas utilizadas para a sua consolidação, a campanha conseguiu atingir a opinião pública. Uma opinião formada pela pressão dos grupos de interesse e também imposta pela mídia, como foi definida por Glynn (et al, 1999). Mas isso não querdizer que as atitudes, práticas e comportamentos foram modificados. 14 5. Considerações Finais Ao longo deste trabalho foi possível refletir um pouco sobre questões como a formação da opinião pública, o direito de informar e ser informado, abordando pontos referentes à inclusão digital e social e à democracia. Além de aplicar esses conceitos na identificação e compreensão das estratégias utilizadas pela WWF na ação de mobilização por ela empreendida denominada Hora do Planeta. Alguns pontos para reflexão podem ser levantados a partir da análise realizada nesse trabalho. Primeiramente, será que o objetivo da Hora do Planeta é ajudar a conscientizar a sociedade com relação ao aquecimento global ou trata-se apenas de uma forma da WWF angariar fundos, criar um fato político, uma grande propaganda, vinculando o nome de grandes empresas e marcas a este evento mundial? Desde sua formação, com a utilização de um assunto que estava em alta – aquecimento global –, bem como as estratégias criadas pela agência de publicidade durante sua criação e a utilização de grandes corporações de mídia para a sua divulgação, a WWF já demonstrava o seu objetivo de atingir a opinião pública. Opinião esta que se formou, portanto, a partir da pressão dos grupos de interesse e da mídia. Mas, como dito anteriormente, trata-se apenas da mobilização para uma causa comum, podendo mudar um pensamento, uma crença do indivíduo, mas não sua atitude. Uma ação mais voltada à publicidade do que à ação educativa. Talvez um trabalho educativo não tivesse tamanho impacto e não gerasse tamanho interesse como gerou esta ação. No entanto, o trabalho educativo se aproximaria mais do processo democrático, tanto no que diz respeito ao acesso às informações, quanto à inclusão social, permitindo o efetivo exercício do poder que emana do povo. 15 6. Referências 6.1 Referências Bibliográficas AUGRAS, Monique. Opinião Pública, teoria e pesquisa. Petrópolis: Editora vozes, 1978. BUCCI, Eugênio. A imprensa e o dever da liberdade: a responsabilidade social do jornalismo em nossos dias. In: CANELA, Guilherme (org). Políticas públicas sociais e os desafios para o jornalismo. São Paulo: ANDI/Cortez editora, 2008. GLYNN, Carroll et al. Public opinion. Boulder: Westview Press, 1999. FERRARI, Vincenzo. Democracia e informação no final do século XX. In: GUIMARÃES, César (org). Informação e democracia. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2000. KOTLER, Philip and ROBERTO, Eduardo. Social marketing, strategies for changing public behavior. New York: The free press, 1989. WARSCHAUER, Mark. Tecnologia e inclusão social: a exclusão social em debate. São Paulo: Editora Senac, 2006. 6.2 Referências Digitais Earth Hour. Disponível em <http://www.earthhour.org/History.aspx> . Acesso em: 20 jul. 2010. Hora do Planeta. Disponível em <http://www.horadoplaneta.org.br/patrocinadores.php>. Acesso em: 20 jul. 2010. 16 WWF-Brasil. Disponível em: <http://www.wwf.org.br> Acesso em: 20 jul. 2010.
Compartilhar