Buscar

TST E UBERIZAÇÃO

Prévia do material em texto

TST E UBERIZAÇÃO
A Uber é uma empresa de origem Estadunidense, fundada oficialmente em junho de 2010, na cidade de São Francisco com o intuito de facilitar o acesso ao transporte. Inicialmente focada em carros de luxo, esta logo diversificou seu atendimento para abranger diversas classes sociais, e que estas pudessem trabalhar e ter acessos aos seus serviços(BRANDÃO,2021). 
No Brasil, de forma similar, ao haver a popularização do aplicativo como meio de transporte vários decidiram por vincular-se à empresa como motoristas - tanto como um complemento de renda quanto emprego fixo. Com isso surge à problemática dos motoristas de aplicativo, no qual levanta-se o questionamento se realmente há um vínculo empregatício entre eles, e se estes possuem ou não os direitos garantidos por lei sobre o empregado comum.
Em relação a este questionamento, a Consolidação das Leis do Trabalho ou CLT dispõe em seu artigo 3º o conceito de empregado.
· Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário. 
Por meio deste artigo percebe-se que há 5 requisitos que caracterizam toda e qualquer relação de emprego, os quais são: pessoalidade, onerosidade, alteridade, habitualidade e subordinação. Um empregado precisa: receber salário pela atividade desenvolvida, estar presente pessoalmente e de forma não eventual em seu emprego precisará estar subordinado as ordens de seu empregador. Geralmente, o principal argumento utilizado pelas empresas e por críticos para afastar o vínculo empregatício entre motoristas e o aplicativo Uber, é afirmar a inexistência de subordinação. 
É importante salientar que o Direito do Trabalho reconhece várias facetas da subordinação, entre elas a subordinação psíquica e a algorítmica, as quais foram utilizadas pelo TRT da 11 Região para indicar a existência de vínculo empregatício entre um motorista e a Uber.
No voto da Desembargadora Relatora, esta constou que
[...]O controle sobre os motoristas é elevado. Apesar dos trabalhadores serem remunerados apenas quando realizam viagens demandadas pelo aplicativo, a Uber mantém a coleta de informações dos motoristas mesmo quando não estão em uma corrida. A partir desses elementos, a empresa consegue delinear padrões. (BRANDÃO,2021, on-line).
A Desembargadora Relatora afirmou ainda que “não podem (os motoristas) escolher o preço das viagens, trajetos a serem percorridos e quais clientes vão transportar (limite de cancelamentos de corridas)” (BRANDÃO,2021, on-line), destacando ainda que o percentual das viagens auferido pelo aplicativo é dinâmico, os recibos são emitidos pela própria plataforma, juntamente à fiscalização e controle por GPS e meios telemáticos, controle da forma da condução do veículo e velocidade.
A magistrada ainda ponderou 
[...]Tais fatos não condizem com a autonomia defendida pela reclamada”, destacando ainda a “subordinação psíquica” entre a empresa e os motoristas: “Nesse contexto, a subordinação psíquica é aquela em que o prestador de serviços (empregado, no caso) fica vinculado à prestação dos serviços pela necessidade de subsistência ou até mesmo para que não seja excluído daquela prestação por não ter realizado ativações suficientes para a permanência naquele vínculo ao alvedrio do algoritmo/organização. (BRANDÃO,2021, on-line).
E, com base nesses argumentos, foi reconhecido o vínculo de emprego entre o motorista e o aplicativo Uber (processo n. 0000416-06.2020.5.11.0011).
De forma contrária o TST ( Tribunal Superior do Trabalho) em 5 de fevereiro de 2020 decidiu por unanimidade a inexistência do vínculo empregatício entre um motorista de Guarulhos e a Uber do Brasil Tecnologia Ltda . Uma vez que, segundo o relator do processo, Ministro Breno Medeiros, o motorista tinha flexibilidade nos horários de trabalho e na prestação de serviço, o que descaracterizava o requisito da habitualidade (já que ele trabalhava na hora que quisesse de forma eventual) e subordinação ( já que claramente o empregador não estabelecia horários de trabalho e o empregado não dependia dele) (BRETTAS; MACHADO, 2020).
O que se consegue perceber é que os tribunais regionais têm uma determinada posição e o TST possui outra. E os motoristas? Será que preferem continuar sem o reconhecimento do vínculo empregatício ou preferem ser reconhecidos como empregados e receber os direitos garantidos como o 13º salário e férias remuneradas?
Em uma das notícias lidas pela nossa equipe o comentário de um motorista de aplicativo nos chamou atenção, uma vez que ele afirmava que não queria ser protegido pela CLT, e nem ser subordinado a nenhum empregador que se acharia na condição de “ser seu pai”.
Eu sou motorista de app, e se eu quisesse trabalhar com CLT emprego não me faltaria, mas também eu não ganharia o que ganho dirigindo, sem precisar trabalhar para os outros, receber ordens, assédio moral e no fim do mês receber migalhas e um tapinha nas costas!!! Tenho certeza que o TST tem mais o que fazer do que querer prejudicar a vida dos outros achando que está ajudando! Trabalho dirigindo, ganho o triplo do que ganharia com CLT, fazendo meu horário, podendo folgar o dia que EU quiser e não ter nenhum CHEFE se achando meu pai pra mandar em mim e dizer o que eu tenho que fazer! Em suma, dirigindo eu sou feliz e tenho liberdade coisa que nunca teria trabalhando para os outros e só de me imaginar a voltar pra esse pesadelo que é CLT me sinto enojado! Sai dessa prisão e pretendo nunca mais voltar! (LEMOS, 2021, on-line).
O desabafo do motorista é de dezembro de 2021 quando a 3º Turma o TST se reuniu novamente, dessa vez com a maioria a favor do reconhecimento do vínculo empregatício entre os motoristas e a Uber por reconhecer que estão presentes os 5 requisitos que caracterizam a relação de emprego. 
A advogada Camila Correa Ribeiro, co-coordenadora da área trabalhista e sócia da SGMP Advogados, explica que esse julgamento é importante por apresentar uma inovação ao entendimento da matéria no âmbito do TST. Esta afirma "Até então, outras turmas do TST vinham decidindo em sentido contrário, afastando o vínculo pretendido entre motoristas e os aplicativos de transporte" (SANTOS, 2021).
Camila sustenta que ao mesmo tempo que o reconhecimento de vínculo vem acompanhado de benefícios, este também traz limitações para a atividade e obrigações aos motoristas. "Isso porque, liberdade de horário, escolha de corridas e remuneração diferenciadas que são vistas como bons olhos nesta relação não se encaixam no modelo celetista", diz (SANTOS,2021).
REFERÊNCIAS
BRANDÃO, T.. Motoristas da Uber têm direito a carteira assinada? Novas decisões agitam a Justiça do Trabalho ao reconhecer o vínculo de emprego! 18. 2021. Disponível em: https://thiagobrandaojf.jusbrasil.com.br/artigos/1303399943/motoristas-da-uber-tem-direito-a-carteira-assinada-novas-decisoes-agitam-a-justica-do-trabalho-ao-reconhecer-o-vinculo-de-emprego. Acesso em: 05 abr. 2022.
BRETTAS, Y.; MACHADO, T.. TST rejeita vínculo de emprego de motorista com a Uber. 2020. Disponível em: https://machadoebrettas.jusbrasil.com.br/artigos/824559704/tst-rejeita-vinculo-de-emprego-de-motorista-com-a-uber. Acesso em: 05 abr. 2022.
LEMOS, R.. SÓ PODE SER BRINCADEIRA. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-dez-18/tst-uniformizar-jurisprudencia-vinculo-entre-uber-motorista. Acesso em: 05 abr. 2022.
SANTOS, R.. TST precisa uniformizar jurisprudência sobre vínculo entre Uber e motorista. 2021. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2021-dez-18/tst-uniformizar-jurisprudencia-vinculo-entre-uber-motorista. Acesso em: 05 abr. 2022.

Continue navegando